SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.9 issue2Autonomous Medication Management: knowledge and visibilities of mental health users at universities in the countryside of RS/BrazilYouth okkupying politics: a case study at Belo Horizonte author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Polis e Psique

On-line version ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.9 no.2 Porto Alegre May/Aug. 2019

 

ARTIGOS

 

Cidade e Racionalização da Subjetividade: implicações das ciências da saúde e educação

 

City and Rationalization of Subjectivity: implications of health sciences and education

 

Ciudad y Racionalización de la Subjetividad: implicaciones de las ciencias de la salud y educación

 

 

José Sterza Justo; Carolina Villanova Heguedush

Universidade Estadual Paulista (UNESP), Assis, São Paulo, SP, Brasil

 

 


RESUMO

A maioria da população mundial já vive nas cidades. No Brasil, 83% dos seus habitantes estão distribuídos pelas suas 5.564 urbes. A cidade é um desses artefatos criados pelo homem que se manteve ao longo da história e acabou se tornando seu habitat até hoje. É na vida urbana que o homem se produz e produz seu mundo. Partindo do reconhecimento da importância da cidade para o homem atual, a presente pesquisa pretendeu investigar os processos de racionalização/objetivação deflagrados numa pequena cidade. Para tanto, tomou como objeto de estudo o centro urbano do menor município do Estado de São Paulo, em número de habitantes. Foram realizadas observações do cotidiano da cidade mediante a participação em acontecimentos, festas, eventos e reuniões públicas. Como principal conclusão foi possível constatar que a saúde e educação são as principais vias de entrada dos processos de racionalização na vida urbana, enfraquecedores da produção de subjetividade.

Palavras Chave: Cidade; Racionalidade; Subjetividade


ABSTRACT

Most of the world's population already lives in cities. In Brazil, 83% of its inhabitants are distributed by its 5,564 cities. The city is one of those artifacts created by man that has remained throughout history and became its habitat today. The man produces and produces his world in urban. Recognizing the importance of the city to the modern man, the present study sought to investigate the processes of rationalization / objectification triggered a small town. Therefore, it is taken as an object of study the urban center of the smallest municipality of São Paulo in number of inhabitants. Observations were made of the city's daily life through participation in events, parties, public events and meetings. As main conclusion it was found that health and education are the main routes of entry into the rationalization of processes in urban life, subjectivity production of disempowering.

Keywords: City; Rationality; Subjectivity.


RESUMEN

La mayoría de la población mundial ya vive en las ciudades. En Brasil, el 83% de sus habitantes están distribuidos por sus 5.564 urbes. La ciudad es uno de esos artefactos creados por el hombre que se ha mantenido a lo largo de la historia y se ha convertido en su hábitat hasta hoy. Es en la vida urbana que el hombre se produce y produce su mundo. A partir del reconocimiento de la importancia de la ciudad para el hombre actual, la presente investigación pretendió examinar los procesos de racionalización / objetivación desencadenados en una pequeña ciudad. Para ello, tomó como objeto de estudio el centro urbano del menor municipio del Estado de São Paulo, en número de habitantes. Se realizaron observaciones del cotidiano de la ciudad mediante la participación en acontecimientos, fiestas, eventos y reuniones públicas. Como principal conclusión fue posible constatar que la salud y educación son las principales vías de entrada de los procesos de racionalización en la vida urbana, debilitantes de la producción de subjetividad.

Palabras clave: Ciudad; racionalidad; subjetividad


 

 

Introdução

A importância da cidade, no mundo atual, a coloca como objeto inevitável da ciência e não apenas da geografia humana, que a tem como objeto preferencial. A psicologia, particularmente, tem uma contribuição a dar ao conhecimento da dinâmica da cidade, tomando-a como lugar da produção de subjetividade. A saúde mental, o sofrimento psíquico, os processos psicológicos, as figuras e modelos de produção de subjetividade são constituintes fundamentais do universo citadino. O planejamento e gestão das cidades não é objeto apenas das ciências da administração, das engenharias, da arquitetura e urbanismo, mas também da psicologia, da sociologia, da antropologia e demais ciências da área de humanidades que deveriam ser parte ativa da produção de conhecimentos e de intervenções no cenário urbano, como um todo (Ramírez e Moranta, 2013).

A cidade possui uma longa história junto à caminhada da humanidade, tendo assumido feições e funções distintas em diferentes momentos e espaços do planeta. A modernidade é um importante marco recente dessa história, fazendo dela o espaço primordial da vida, da habitação humana e de suas produções, tal como enfatizam Berman (1986) e Harvey (1992). O urbanismo moderno, segundo esses autores, inaugura a planificação, organização e distribuição detalhada das atividades humanas por espaços especializados. A preocupação com a circulação será outro foco do urbanismo moderno e, por isso, provocará grandes transformações nas cidades européias da época, principalmente, com a destruição de bairros inteiros para a abertura de grandes avenidas, facilitadoras da mobilidade e do acesso aos seus diversos compartimentos.

Indubitavelmente, a modernidade fez com que a cidade fosse objeto de uma grande revolução, dirigindo para ela seus ímpetos de ruptura com tudo que representava o antigo regime, inspirados na visão de um novo mundo e na idealização do progresso material e tecnológico, comandados pela ciência. As antigas muralhas que cercavam as cidades medievais foram destruídas, as ruelas estreitas e tortuosas deram lugar a grandes avenidas retas, as casas amontoadas foram devidamente separadas por distâncias mínimas e divisões territoriais foram estabelecidas por medições precisas e funcionais. De espaço fechado passou a ser um espaço aberto, um lugar de entrada e saída, de movimentação, de pulsação, crescimento e assentamento de populações cada vez maiores.

Como espaço existencial, a cidade moderna trará profundas transformações na subjetividade. A associatividade se torna mais intensa; os vínculos se tornam mais elásticos e diversificados; as experiências sensoriais, cognitivas e emocionais se multiplicam e expandem; as mudanças se aceleram; as tecnologias invadem o cotidiano com facilidade; há maiores oportunidades para a manifestação do sujeito, enfim, o mundo citadino é cinético e largo, propiciando ao sujeito uma presença intensa (Apodaka e Villarreal, 2011).

Em contraste com o mundo estacionário e territorializado da vida no campo, a vida na cidade se entrega à mobilidade e a experiências vertiginosas do tempo e do espaço. Se no campo o cotidiano é simples, repetitivo, assentado em espaços geográficos, sociais e psicológicos bem delimitados, na cidade, ainda que pequena, há uma complexidade dos espaços habitados: a casa e a rua, por exemplo, possibilitam um trânsito diário por lugares distintos e práticas (atividades, relacionamentos e vivências) bastante diversificadas.

 

A Cidade pequena e a subjetividade: teorizações de George Simmel e desdobramentos atuais.

Pode parecer um paradoxo, mas visualizamos em Simmel (1912/2009) as principais referências de nossas análises sobre a pequena cidade, que é o objeto desta pesquisa. Paradoxal porque esse texto que selecionamos de sua obra (As grandes cidades e a vida do espírito), trata justamente das metrópoles e não das pequenas urbes e porque também ele trata das cidades que estavam emergindo na virada do século XIX para o século XX.

Simmel escreve o texto "As grandes cidades e a vida do espírito" em 1902. Vivendo pessoalmente o disparado crescimento e a modernização de Berlim, na virada do século XIX, ele passa a compreender e escrever a respeito das inúmeras consequências desse acontecimento sobre a organização da sociedade e da vida humana. Nessa época, as cidades estavam assumindo radicalmente as feições do urbanismo moderno, se remodelando de acordo com os ideários estéticos, políticos e econômicos da modernidade.

Ao falar da metrópole o autor se reporta todo momento à vida mental constituída nas pequenas cidades, fazendo comparações, de modo que acaba por analisar tão bem a produção de subjetividade nessas diferentes dimensões de espaço-tempo. Sua tese é a de que a socialidade caminha de círculos restritos e fechados, onde predominam relações informais e reconhecimento pessoal, mas pouca liberdade individual, para círculos maiores e abertos organizados por relações formais, anônimas e impessoais, porém, com maior liberdade individual. Isso seria válido para tipo de agrupamento humano em processo de expansão, incluindo, a transformação das pequenas urbes e metrópoles. Nos círculos menores predominaria a sensibilidade enquanto nos maiores predominaria o intelecto.

Simmel (1912/2009, p.02) enfatiza que a cidade grande produz um bombardeio de estímulos e sensações que aguçam a consciência, a cognição, mas que, em contrapartida, embotam a sensibilidade e as emoções. Nesse sentido, segundo ele, a metrópole favorece o desenvolvimento da intelectualidade e a cidade pequena ou o campo, onde a vida é mais lenta, favorece a sensibilidade.

A vida na cidade grande exigiria maior capacidade de abstração, por ser complexa, por comportar uma variedade de estimulações e tecnologias sofisticadas e por ser fortemente regulada pelo mercado e pelo dinheiro. Na grande cidade, o dinheiro funcionaria como peça chave na abstração das relações nela estabelecidas. Ele substitui as relações pessoais e diretas de troca, pelas relações impessoais e indiretas expressas no valor da moeda.

Ainda segundo Simmel (1912/2009), esse complexo organismo que vai se configurando na metrópole, com agregação de tantas diferenças pessoais e sob a égide do dinheiro, passa exigir maior disciplina e organização. A vida se torna cada vez mais regulamentada, racionalizada e administrada, fortemente apoiada nas camadas superiores da mente, mais adaptáveis e educáveis.

Diferentemente do que se passa nas grandes cidades, segundo o mesmo autor, a sensorialidade e a afetividade campeiam na pequena cidade. Todos se conhecem e estabelecem vínculos afetivos e sociais diretos ou indiretos. Todos estão conectados de forma mais próxima ou distante na pequena rede de relacionamentos. Nesse sentido, a pequena urbe é extremamente subjetivante. Exige a presença e a ação diretas, abre espaço para saberes e práticas locais, deixando aparecer o sujeito concretamente constituído. Contudo, essa pessoalidade nas relações e a atitude de implicação com o outro, diferentemente da atitude de indiferença - a atitude Blasée - comum nas metrópoles, tem como contrapartida uma tendência à vigilância mútua entre os citadinos e a constrição da liberdade individual e das conexões com os exteriores e os estranhos (Simmel, 1912/2009).

Os trabalhos de Simmel foram fundamentais para a sociologia urbana e representaram um avanço do conhecimento na compreensão do urbanismo moderno e de suas consequências na transição dos pequenos agrupamentos, típicos das pequenas cidades ou das sociedades rurais, para os grandes agrupamentos expressos nas multidões que passaram a habitar as metrópoles. Entretanto, o desenrolar do processo da urbanização, no bojo das transformações históricas que prosseguiram o advento da modernidade, foram colocando novas questões que exigiram atualizações e acréscimos às suas contribuições seminais.

Conforme assinala Kapp ( 2011), o avanço da modernidade e do capitalismo demonstraram com maior clareza que a vida mental ou as subjetivações, emergentes nas metrópoles, não decorriam de uma concentração demográfica per si, mas sim da lógica do sistema capitalista que, além de produzir grandes aglomerações humanas, expandia cada vez mais o mercado e o dinheiro como mediadores das relações. O próprio avanço do capitalismo no campo e nas pequenas cidades reduziu drasticamente a oposição, antes tão nítida, entre a mentalidade campesina e urbana ou entre os citadinos das pequenas e das grandes cidades. Ainda segundo a mesma autora, tal mesclagem entre o rural e o urbano, levado a cabo pelos indivíduos que transitam de um ambiente a outro dificulta, em alguns casos, a classificação de uma socialidade ou de uma cidade numa ou noutra categoria - rural ou urbana. Dessa forma, seria possível se falar numa diluição das fronteiras entre o rural e o urbano ou de uma fusão que poderia ser chamada de "rurubanidade" ou "pós-urbanidade" (Kapp, 2011, p. 447).

Outro fenômeno que alterou a relação entre as cidades, incluindo a relação entre as grandes e pequenas urbes, é o fenômeno da globalização. A expansão do capitalismo e das instituições modernas, interligou as urbes, produzindo hibridizações das socialidades, das subjetividades e reposicionando a relação entre o local e o global. Para o geógrafo brasileiro, Milton Santos (1994), o local mantém a força da união que o global tenta separar. Porém, esses processos de unificação e de fragmentação estão sempre em convivência, movimentando continuamente as fronteiras espaciais e fazendo com o que a percepção do entorno seja nebulosa. "Como me identifico, assim, com o meu entorno? [...] Ontem, o homem se comunicava com o seu pedaço da natureza praticamente sem mediação, hoje, a própria definição do que é esse entorno, próximo ou distante, o Local ou o Mundo, é cheia de mistérios" (Santos,1998, p.22).

É possível relacionar a profusão de estimulações nas metrópoles, entorpecedora da sensibilidade, com a profusão de objetos e das técnicas que, segundo Santos (2006, p. 171 ), se disseminam pelas metrópoles, criando o que ele chama de "tecnosfera" na qual circulam os "fluxos" de relacionamentos. Segundo ele, "fixos" (sistema de objetos) e "fluxos" (sistema de ações) configuram as espacialidades criadas pela humanidade. Na relação entre sujeitos, mediadas pelos objetos e técnicas, se produz uma "psicosfera" formada por sentimentos, afetos, cognições, desejos que nelas eclodem.

Objetos e técnicas, assim como os fluxos e as subjetivações que resultam da ação dos sujeitos, circulam amplamente no mundo globalizado caracterizando o que Giddens (1991) chama de "desencaixes", ou seja, a transposição de relações sociais de um lugar a outro, mediadas pelo dinheiro e asseguradas pelos "sistemas peritos". O dinheiro estabelece as equivalências das relações sociais que migram de um lugar a outro e os sistemas peritos asseguram a confiabilidade daquilo que é transferido. Ambos, dinheiro e sistemas peritos, constituem poderosas "fichas simbólicas" e ampliam consideravelmente a abstração do mundo e da vida, ao longo do avanço da modernidade e do capitalismo. Os sistemas peritos, enquanto fichas simbólicas, são constituídos por saberes técnicos especializados e seus peritos, instrumentos e produtos que asseguram a confiabilidade naquilo que é proveniente de lugares ou de sujeitos distantes. Um diploma profissional, conferido por uma instituição reconhecida, ou a marca de um produto podem ser tomados como alguns exemplos. Tais fichas simbólicas e sistemas tecno-peritos são outros meios pelos quais as pequenas e grandes cidades se conectam e fazem transitar entre elas processos de subjetivação originários de uma ou de outra.

O desenvolvimento das mídias, impulsionado pelas tecnologias digitais, é mais um acontecimento que deflagrou, na atualidade, mudanças radicais na produção de subjetividade e na relação entre as pequenas e as grandes cidades ou entre as cidades e o campo. As cidades modernas primevas já emergiram com a imprensa em função da necessidade de se criar meios para difusão da informação em massa e de forma acelerada. Rádio e televisão acompanharão a expansão, diversificação e celeridade da informação no cenário urbano e as tecnologias digitais utilizadas na comunicação praticamente eliminarão barreiras espaciais e temporais, além de permitirem a diversificação de fontes, interatividades, conexões infindáveis e a formação de redes que interligam localidades e indivíduos numa dimensão global. A crescente importância das mídias e o avanço das tecnologias de comunicação caminham junto com o aumento da complexidade da cidade cuja característica principal não será mais seu porte medido pelo número de habitantes, densidade populacional ou importância regional, mas sim pelo grau de tecnologia que utiliza na sua gestão, dando origem às chamadas Smart cities ou cidades inteligentes, cujo conceito começa a aflorar e ganhar corpo na década de 1990 ( Rizzon e cols., 2017).

Diferentemente das cidades modernas emergentes na virada do século XIX para o século XX, objeto da sociologia urbana de Simmel, as cidades atuais, de grande, médio ou pequeno portes, assim como a zona rural, foram profundamente afetadas pelas mudanças econômicas, tecnológicas, políticas, sociais, culturais e demais dimensões da vida, ocorridas no percurso da modernidade até os dias atuais. Dentre os desdobramentos de tais mudanças nas cidades importa, destacar, para os propósitos deste artigo, a interpenetração dos fenômenos gerados pelas pequenas e grandes cidades, sobretudo aqueles impulsionados pela racionalidade técnica. Mesmo que a relação entre as pequenas e grandes cidades não seja mais de oposição, conforme Simmel flagrou em seu tempo, faz sentido recolocar essa questão na atualidade, tanto para apreender sutilezas das diferenças que ainda possam persistir, quanto para compreender processos de transição ou de mixagem que possam acontecer em casos específicos. Afinal, seja pequena ou grande, a cidade expande as possibilidades de o homem existir e se realizar no mundo e é exatamente essa subjetivação que faz a cidade deixar de ser um amontoado de concreto armado, uma materialidade silenciosa, árida e muda para explodir nas tagarelices humanas que a põe em movimento e a torna polifônica e viva.

 

Objetivos

A presente pesquisa teve como objetivo geral examinar os meios pelos quais a racionalidade tecno-científica penetra numa pequena urbe, modelando a gestão e a produção de subjetividade, sob a lógica da modernização da cidade. Trata-se de buscar compreender como a racionalidade baseada em procedimentos técnico-científicos, que se pretendem impessoais e objetivos, substitui a informalidade, a pessoalidade, a afetividade e sensorialidade, típicas das pequenas cidades.

 

Método

Fundamentação

Metodologicamente a presente pesquisa se caracterizou como uma pesquisa qualitativa de inspiração etnográfica (Gonzáles Rey, 2002; Sato e Souza, 2007). Trata-se de inserir o pesquisador na situação, colocá-lo em contato direto com a realidade do lugar, fazê-lo circular pela cidade, como um flâneur, para tateá-la, conhecê-la, decifrar seus códigos, apreender os sentidos que emergem da presença e das interações humanas. Uma pesquisa dialógica, fundada nas orientações recentes das ciências que rompe com a clássica cisão sujeito-objeto e entende o conhecimento como resultado de uma interação entre sujeito-sujeito no processo de investigação, pressupondo que o investigador seja parte inalienável do processo de pesquisa (Freitas, 2002).

O trabalho de campo foi realizado por três pesquisadores: um pós-graduando, médico pediatra, que trabalhava na Unidade Básica de Saúde da cidade havia dezoito anos e duas alunas da graduação que realizavam estágio profissionalizante na escola local. Como eram pessoas conhecidas, principalmente o médico pediatra, não houve maiores dificuldades para a realização de entrevistas, conversas informais, participações em festividades e presença no cotidiano.

A atitude que se procurou manter em relação à cidade foi a de olhar atentamente, procurar compreender o que se passava, abstendo-se de julgamentos, no entanto, exercendo um papel ativo no diálogo com as paisagens e pessoas. Uma atitude ativa que incita a fala do outro e posiciona o pesquisador na escuta, uma escuta, também ela, que não é passiva, mas que procura compreender os sentidos da fala do outro O campo empírico: descrição da cidade de Borá

A cidade que foi tomada como objeto da pesquisa é sede do menor município do Estado de São Paulo (Brasil), em número de habitantes e está localizada na região oeste desse estado, distante 496 km de sua capital. Seu nome é Borá, derivado de um tipo de abelha então comum no lugar.

A origem da cidade de Borá data de 1918, quando os primeiros colonos ali se instalaram dentro do processo de expansão das fronteiras agrícolas que, nessa época, avançava pelo oeste do Estado de São Paulo com o cultivo de café, de cereais e com a criação de gado. Os primeiros fazendeiros logo trataram de abrir trilhas e picadas de acesso às localidades mais próximas, como a cidade de Paraguaçu Paulista e seu distrito de Sapezal, para a realização de trocas comerciais. Em agosto de 1934, a localidade foi alçada à condição de distrito administrativo do Município de Paraguaçu Paulista e, em fevereiro de 1964, foi transformada em município, conquistando sua autonomia administrativa.

Pelo censo demográfico de 2010 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2016) Borá, contava com 805 habitantes, com estimativa de 836 habitantes para o ano de 2018. Foi detentora do título de menor município do Brasil até 2013 perdendo esse posto para Serra da Saudade, no Estado de Minas Gerais (MG), que contava com 815 habitantes, no censo de 2010, porém não tinha estimativa de crescimento. Ambas são únicas cidades brasileiras com menos de mil habitantes, sendo também os menores colégios eleitorais, segundo dados do Superior Tribunal Eleitoral.

Procedimentos

Foram realizadas observações do espaço urbano por dois pesquisadores, conjuntamente, que visitaram a cidade em diferentes períodos, dias e meses, circularam por ela e participaram de acontecimentos, festas, eventos e reuniões públicas. Os registros de tais observações foram realizados como um diário de campo. Além das observações em campo aberto, foram realizadas entrevistas sistemáticas com os principais atores da cidade: o prefeito e profissionais da educação e da saúde.

As observações e entrevistas foram registradas cursivamente e tratadas mediante a análise de conteúdo, de acordo com a proposta de Bardin (2009). Portanto, o material foi submetido, inicialmente, a uma leitura flutuante e, posteriormente, foram criadas categorias para a classificação das unidades de sentido que emergiram de uma primeira leitura do material empírico. A partir de uma primeira categoria geral - Bora e a racionalidade técnica - foram criadas as seguintes subcategorias: segurança pública; educação e racionalidade técnica; saúde e racionalidade técnica; Bora e as estatísticas.

A pesquisa de campo transcorreu de 2014 a 2017, num momento em que a cidade passava por transformações políticas e econômicas significativas, dentre as quais cabe destacar: a) a eleição de um prefeito, de oposição ao anterior, que representava uma modernização da gestão pública; b) a reativação de uma usina de produção de açúcar e álcool que dava novo impulso à economia local; c) a instalação de equipamentos e serviços públicos que estreitavam as conexões da cidade com a lógica de funcionamento das urbes modernas.

 

Resultados e discussão

Borá e a racionalidade técnica

No primeiro contato com Borá, já observamos as especificidades daquele lugar enquanto uma pequena urbe. A sensação, mesmo sendo em dia de semana, e em horário comercial, era de que o tempo passava preguiçoso, lentamente, como um dia de domingo. Ademais, mesmo permanecendo poucas horas na cidade, há de se concordar com os moradores quando dizem a respeito da tranquilidade e pacificidade do município.

Um primeiro dado sobre essa pequena cidade é surpreendente. Não existe nela, qualquer profissional liberal estabelecido: médicos, psicólogos, advogados, engenheiros e outros. Os profissionais de nível superior são todos funcionários públicos que trabalham nos serviços públicos: médicos, assistentes sociais, enfermeiras, psicólogos, professores e outros. Aliás, são esses os profissionais de nível superior que trabalham na cidade, vindos de cidades maiores vizinhas. Nenhum deles reside nela, sequer os professores da única escola, o diretor, o delegado de polícia, o pároco da igreja ou até mesmo os profissionais que trabalham no único posto bancário existente na cidade.

Isso já mostra uma fraca presença da racionalidade técnico-científica nessa urbe, embora esse assunto mereça maior cuidado e discussão. Evidentemente que em Borá o número de profissionais de nível superior ou de técnicos qualificados é bem baixo, mas também é notório que o reduzido número de habitantes não demanda um quadro maior de profissionais. Portanto, não significa que Borá esteja imune à racionalidade técnico-científica e aos sistemas peritos abstratos. Os poucos profissionais são suficientes para também estabelecer ali a gestão racional-técnica de muitos aspectos da vida, como a saúde e a educação, principalmente.

Segurança pública

Em Borá, diferentemente das grandes cidades, a segurança pública não representa qualquer problema. A delegacia de polícia funciona em horário comercial, assim mesmo com a presença de um escrivão, ele também vindo de outra cidade, que pouco ou nada tem a fazer no dia-a-dia. A polícia militar mantém dois policiais de plantão que, igualmente, pouco têm a fazer. O telefone de emergência policial nunca toca e alguma ocorrência que possa acontecer é, normalmente, de alguma desavença entre vizinhos ou algum caso de excesso de bebida, sempre resolvidos com uma conversa ou advertência. Não há, evidentemente, qualquer preso na delegacia. As celas permanecem vazias e já houve ocasião em que foram usadas para pernoites voluntários de moradores da zona rural que se alongaram pela noite em festas da cidade e decidiram dormir ali.

A saúde e a educação, estas sim, possuem uma presença diária na vida dos Boraenses. O posto de saúde local desenvolve programas de saúde básica e realiza consultas médicas e atendimentos psicológicos. Internações, exames laboratoriais e outras assistências no plano da atenção secundária e terciária são realizados nas cidades próximas, mediante encaminhamentos e transporte oferecido pela Prefeitura municipal.

Educação e a racionalidade técnica

Existe uma pré-escola, para crianças pequenas, e outra que oferece o ensino nos níveis básico e médio da educação. Todas as crianças e adolescentes estão matriculados e freqüentam a escola. As falas da diretora e da coordenadora pedagógica permitem visualizar melhor o papel da escola nessa cidade.

Foram entrevistadas a coordenadora e a diretora, no dia 04/11/2016. Ambas no cargo há um ano. A primeira pergunta foi sobre o índice de matrículas e a evasão escolar. A escola totalizava 116 alunos matriculados no ensino fundamental e médio, estudantes do período da manhã. No período da tarde funciona na escola a educação infantil, que não é de responsabilidade dessa diretora e coordenadora. Sobre a evasão escolar, a diretora relatou sobre dois adolescentes do primeiro e segundo anos do Ensino Médio que deixaram a escola para trabalhar na usina de açúcar instalada no município. Duas adolescentes do segundo e terceiro colegial abandonaram a escola porque engravidaram, e outros quatro porque foram estudar em outra cidade, em colégio particular. Com relação à repetência, no ano de 2008, três alunos ficaram retidos. Segundo a coordenadora, os índices de violência, indisciplina e suspensão são baixos. Não há funcionários estaduais, todos os vinte e sete funcionários da escola trabalham para a prefeitura.

Relataram também que a grande maioria dos professores vem de cidades vizinhas, como Paraguaçu Paulista e que antes delas se tornarem coordenadora e diretora, respectivamente, eram professoras naquela mesma escola. Perguntamos sobre os programas e projetos desenvolvidos, e disseram que, atualmente, até pela maioria dos professores não residirem na cidade, falta tempo e disposição para novos projetos. Mas relataram orgulhosas sobre desfiles e exposições que promoveram, na época em que eram professoras, sobre a história de Borá. Contam que, nessa ocasião, pediram aos alunos que montassem maquetes de como viam cidade e de como gostariam que ela fosse. Os alunos construíram suas maquetes com shoppings, aeroportos e outras edificações típicas de cidade grande

A coordenadora nos conta que já havia trabalhado em municípios maiores e, por isso, pôde fazer uma comparação dizendo que em Borá as pessoas são mais unidas, o que se reflete no trabalho dentro da escola, onde os professores, funcionários e alunos mantém relações de maior proximidade. Porém, como ponto negativo de se trabalhar em uma escola advinda de um município pequeno, ressaltou o paternalismo exacerbado. Relata que o uniforme e o material são dados pelo governo. Além do material já ganho, os alunos pedem ainda outros à prefeitura, dizendo que perderam os anteriores e que não possuem recursos financeiros para substituí-los. Segundo a coordenadora, isso cria uma falsa idéia de como é o mundo lá fora e discorda dessa postura do município e dos alunos, pois estes, apesar de afirmarem que não possuem o dinheiro para a compra do material escolar, frequentam academias de ginástica na cidade vizinha e possuem celulares de última geração. Por isso, a coordenadora citou também que prefere "ensinar a pescar, e não dar o peixe", e compara o seu trabalho ao de uma formiguinha, pois diz que é difícil conscientizar os alunos de que não é fácil conseguir as coisas no mundo lá fora, e que, para isso, é preciso batalhar.

Com relação às perspectivas dos jovens boraenses, afirma que, tempos atrás, era suficiente terminar o Ensino Médio e quase ninguém se interessava em ingressar numa faculdade ou universidade. Entretanto, declarou que as professoras atuais estão se empenhando em mostrar que "fora dos muros de Borá, tem outras coisas" (fala da própria diretora). Segundo ela, tem ocorrido aumentos significativos no número egressos do Ensino Médio que pretendem fazer um curso superior. Nas palavras da diretora: "uma sementinha foi plantada".

A violência escolar é praticamente nula, como nos revelou a diretora e coordenadora, assim como, a indisciplina e as suspensões são aplicadas esporadicamente, "para moralizar um pouco". As duas entrevistadas se lembraram de que a escola fora considerada a melhor da região no quesito de disciplina e controle da violência.

Nessas falas, destaca-se a notável diferença de Borá em relação às cidades maiores. Bullying aqui é completamente desconhecido a não ser pelas notícias que chegam de outros lugares. Quando a diretora e a coordenadora da escola se referiram às esporádicas punições aplicadas aos alunos soou como uma medida preventiva de ostentar o poder da autoridade escolar e não deixar a lei e os castigos caírem no ostracismo pelo desuso. A cidade toda foi apresentada a nós, por seus habitantes, como extremamente pacífica e isso, evidentemente, se reflete no ambiente escolar.

O relativo distanciamento que a escola mantém, quanto aos conteúdos do ensino, da localidade e da realidade imediata dos alunos, segundo foi relatado nas entrevistas com a diretora e a coordenadora, mostra um fato geral da educação, mas interessa destacar, no caso específico, o sentido disso no que diz respeito à invasão da racionalidade pela via da educação escolar. É a escola e seus profissionais que trazem os conhecimentos pelos quais se deve entender e agir no mundo. Por essa via que penetra na localidade os ensinamentos tecnológicos aplicáveis a toda esfera vida. Por ela se implantam valores e atitudes instruídos pelo conhecimento científico e pela cultura escolar. E talvez não haja outro lugar onde a escola tenha tanto sucesso, como mostram os índices baixíssimos, praticamente, nulos de evasão escolar. Dessa forma, o global e global e o local se interpenetram assim como saberes técnico-científicos com saberes oriundos das tradições locais.

Na visão da diretora e da coordenadora, a escola representa a "modernização" do Borá, conforme afirmaram textualmente. Traz para esse lugar o conhecimento, a cultura letrada, a inteligência e o progresso. No melhor espírito modernista, a escola é vista como alavanca do progresso e a esperança para os jovens. Por elas, os jovens Boraenses podem vislumbrar um futuro para além das estritas fronteiras locais. Podem almejar um futuro de sucesso e de maior desenvolvimento pessoal saindo dali, indo estudar e trabalhar fora da cidade. A escola é vista como a porta de saída da cidade, de libertação do "marasmo" e do "atraso" local. Indubitavelmente, Borá escancara essa função redentora que a escola tem assumido no Brasil. Escancara a pressão globalizante que exige fortes modelagens locais a modelos universais. Contudo o processo de desencaixe ocorre em mão dupla e desloca para outros centros urbanos, inclusive para as metrópoles, aquilo que originariamente se produz em Borá. No caso específico dos desencaixes realizados pela via da educação e cultura, os professores e os alunos, principalmente aqueles que migram para realizar um curso superior em outras cidades, são os veículos de transporte e de permeabilização de fronteiras urbanas. Deslocam, de um lugar a outro, objetos, fluxos de relacionamento e parcelas da psicosfera. Produzem hibridismos e conectividades, inclusive aqueles que interligam e mesclam produções de localidades distantes e distintas entre si.

Saúde e racionalidade técnica

Não é somente a escola que assume esse papel de modelar conhecimentos e práticas locais e produzir desencaixes e o papel de irradiar saberes e fazeres técnico-profissionais pelos quais a vida é administrada e domesticada sob uma racionalidade maior e estrangeira que diz como ser e existir.

A saúde é outra grande gestora da vida no Borá. A Unidade Básica de Saúde (UBS) é um lugar de referência na cidade. Segundo as informações que colhemos com os trabalhadores da UBS, passam por ali, de uma forma ou de outra, todos os habitantes do lugar. Se não estão "fichados" na polícia, seguramente possuem fichas e prontuários na Unidade Básica de Saúde. Ali recebem cuidados médicos e de enfermagem, são instruídos sobre cuidados básicos de saúde, alimentação, hábitos saudáveis e assim por diante. O atendimento e a medicação, quando é o caso, são totalmente gratuitos. A cobertura da assistência à saúde é integral e universal, conforme reza os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Seguramente o modelo do SUS não se realiza com tanto sucesso como em Borá. Como a cidade é diminuta funciona ali um verdadeiro Programa da Saúde da Família cobrindo efetivamente toda a cidade e a zona rural. A saúde se organiza capilarmente produzindo ramificações que articulam todos os habitantes como se fossem um único organismo.

As realizações na área da saúde são saudadas como grandes feitos e conquistas dessa cidade, inclusive, bastante destacadas pelas administrações do município, como pudemos perceber em entrevistas com o prefeito. Os índices de mortalidade infanto-juvenil são baixíssimos, os menores do país, beiram a zero. Epidemias são raras, a prevenção é bastante eficaz, as vacinações beiram a 100% e os encaminhamentos para procedimentos complexos e transporte dos doentes para outras cidades são feitos de maneira rápida e eficiente. Na Unidade Básica de Saúde também, com exceção de um recepcionista e secretário que, inclusive, é vereador da cidade e se candidatou a prefeito nas eleições de 2016, e das funcionárias da limpeza, todos os demais profissionais residem em outras cidades e se deslocam diariamente pra trabalhar em Borá. Assumem, tal como os profissionais da educação, essa função de estrangeiros que trazem para a localidade conhecimentos e domínio de técnicas, na área da saúde, imprescindíveis para a gestão da vida dos Boraenses. Novamente, a racionalidade técnico-científica entra em contato com saberes e práticas locais, produzindo diversos efeitos. Em algumas ocasiões se chocam, em outras se complementam. Às vezes, a racionalidade técnica desautoriza e desqualifica sujeitos e subjetividades do lugar, outras vezes, os fortalecem como tais.

Um acontecimento recente, no campo da saúde, demonstra o sentido das mudanças rumo à sofisticação da atuação da racionalidade científica nesse lugar. Nos contou o médico pediatra da UBS que uma enfermeira que trabalhava ali anteriormente teve que se afastar por problemas de saúde e foi substituída por uma nova profissional que assumiu seu posto de coordenação dos serviços. A enfermeira antiga, que também residia em outra cidade, era bastante conhecida da população e mantinha laços e relacionamentos bastante estreitos com a população local. Era comum ela almoçar ou tomar o tradicional cafezinho na casa de um e de outro, sendo muito bem recebida pelas famílias. Sua atitude parecia não assumir propriamente aquela profissional clássica que procura manter certa distância da sua clientela e que interpõe o "saber" especializado e objetivo na relação com seus clientes. Diferentemente, essa enfermeira, que tinha formação e qualificação profissional formal, agia como uma moradora do lugar. Suas ações profissionais mesclavam-se ou confundiam-se com as de uma pessoa que participava da socialidade cotidiana. Segundo pudemos interpretar das falas que colhemos ali, não havia uma cisão entre a sua postura profissional e sua relação vicinal, informal com as pessoas da cidade que também eram seus clientes. Esse tipo de ação, ao recordarmos as discussões que fazíamos anteriormente com Simmel (2009), parece não estar sob a competência restrita da razão técnica instrumental, mas também nos sugere estar atrelada ao campo dos afetos e dos sentimentos. Essa enfermeira trabalhava mais nas visitas que fazia às residências do que no seu gabinete da Unidade de Saúde. Preocupava-se mais com o estado de saúde das pessoas do que com estatísticas a serem encaminhadas aos órgãos superiores. Agia com seus conhecimentos técnicos; pautava-se nas orientações gerais vindas dos escalões superiores de planejamento e gestão da saúde, mas também agia com sua intuição, fazendo adaptações à realidade local.

Com a saída dessa enfermeira, a que a substituiu mudou completamente o estilo de trabalho. Segundo nos relatou a própria enfermeira substituta ela posicionou sua base de ação nas dependências do Posto de Saúde, passou a cobrar mais eficiência da equipe, colocou em funcionamento todos os programas de atenção estabelecidos pelos órgãos superiores, reorganizou os serviços administrativos dentro de parâmetros e procedimentos prescritos pelas instâncias maiores da administração pública, estreitou os laços com a administração municipal, enfim, produziu um choque de gestão da saúde naquela localidade. Impulsionou a "modernização" da saúde e a sofisticação dos serviços prestados aos munícipes.

Coincidentemente, essa virada na gestão da saúde ocorreu com o início do mandato de um novo prefeito, também ele eleito como representante de uma "nova mentalidade" no lugar do "conservadorismo" e de uma "mentalidade atrasada" atribuídos ao prefeito anterior.

Essa enfermeira modernizadora relatou, em entrevistas, suas ações como coordenadora da Unidade de Saúde e os rumos que estava tentando imprimir nessa área.

Se apresentou como uma profissional bastante experiente que trabalhou nesta área há 20 anos, em cidades vizinhas maiores e estava atuando em Borá. Ressaltou que as doenças mais comuns na cidade eram Diabetes e Hipertensão e, nas crianças, problemas nas vias aéreas superiores. Quando havia necessidade de consultas em otorrinolaringologistas e oftalmologistas eram feitos encaminhamentos para as cidades vizinhas que dispunham desses serviços na rede pública de saúde pois, naquela Unidade, havia apenas médicos das áreas da Pediatria, Ginecologia e Clínica Geral. Os outros profissionais que atuavam ali eram das áreas da Psicologia, Odontologia, Fisioterapia, Nutrição, Enfermagem e Auxiliar de Enfermagem. Na ocasião da pesquisa, estavam sendo desenvolvidos programas com mulheres grávidas, diabéticos e hipertensos. Futuramente, pretendia-se incluir programas voltados para o tabagismo, a gravidez na adolescência e Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST's.

Dizia, essa enfermeira, que uma das dificuldades de quando chegou para trabalhar na Unidade de Saúde era a questão do vínculo com os habitantes da cidade, pois a população tinha o hábito de centralizar tudo na figura do prefeito. Mesmo quando necessitavam de algo relacionado à saúde iam, primeiramente, conversar com ele ao invés de se dirigirem à Unidade de Saúde. Ela afirmou que estava empenhada em mudar esse hábito da população, tentando criar um vínculo entre a Unidade de Saúde e a população.

Borá tinha uma renda per capita alta e a prefeitura acabava pagando todas as despesas de saúde da população. A taxa de consulta média por pessoa era de 4 vezes por ano, considerada alta pois a média nacional era de 2 vezes ao ano. A Unidade de Saúde funcionava 24h por dia. Os atendimentos eram feitos em horários comerciais, assim, se alguém da cidade passasse mal durante a noite, havia uma ambulância à disposição que levava o paciente para ser atendido na cidade mais próxima, distante 40 km. A zonal rural era extensa e a Unidade acabava atendendo muitas pessoas de fazendas e campinhos. A demanda era considerada grande, em parte, atribuída à reativação de uma Usina de produção de açúcar e álcool, que contava com cerca de 2000 funcionários. O atendimento odontológico em Borá, basicamente centrado em tratamento de cáries e na realização de obturações, era considerado satisfatório pela enfermeira. Havia, inclusive, um programa de saúde bucal.

Embora Borá tivesse uma população diminuta possuía, segundo a enfermeira, características de qualquer município, como a presença de drogas e alcoolismo. Salientou que chegou a ocorrer cinco internações psiquiátricas em um mês. Por iniciativa dela foi elaborado um plano de saúde e aconteceu a primeira Conferência Municipal de Saúde com 50 participantes boraenses. Enquanto coordenadora, a enfermeira afirmou que tinha como objetivo uma tarefa árdua - agregar o conhecimento antigo com a inovação - uma vez que havia resistências ao novo por parte da população e dos próprios profissionais que trabalhavam ali há mais tempo do que ela.

Essa fala é bastante ilustrativa de uma localidade que convive com os dois espíritos distintos associados por Simmel (1912/2009) à pequena e à grande cidade. Por um lado, existe a socialidade produzida num pequeno círculo de relacionamentos, socialidade baseada no contato direto, na concretude dos encontros com poucas mediações racionalizadoras e abstratas; uma socialidade produtora de vínculos apoiados predominantemente na sensibilidade, em afetos, sentimentos e emoções; uma socialidade que aproxima e conecta as pessoas e lhes permite um mútuo reconhecimento. Por outro lado, há a presença, ainda que como um corpo estranho, de sistemas de racionalização baseados em conhecimentos especializados e procedimentos padrão que se instalam à revelia da realidade e da cultura local. Aliás, a cultura local, os hábitos, costumes, saberes, tradições são considerados como atrasos e freios ao progresso e que precisam ser erradicados ou, na melhor das hipóteses, "atualizados" em prol de mudanças e melhorias.

O episódio da mudança da coordenadora da Unidade Saúde é emblemático. Significou uma transformação paradigmática em curso na mentalidade geral da cidade. As dificuldades relatadas pela nova enfermeira, no início de sua gestão, revelam justamente o embate entre dois paradigmas distintos: um bastante assentado nas tradições locais e outro instruído pelo saber técnico científico. Tal embate não estava acontecendo apenas ali, na Unidade de Saúde, mas na localidade inteira se expressando, inclusive, no âmbito da administração pública municipal.

A afirmação da enfermeira de que Borá, mesmo sendo uma pequena cidade, possuía os problemas típicos de qualquer cidade, refletia também essa inevitável ligação, produzida no mundo contemporâneo, entre o local e o global como discutimos anteriormente. De fato, não tem como as realidades locais se manterem isoladas e imunes às realidades globais, comandadas pelas metrópoles e pelos grandes centros culturais, políticos e econômicos. Como enfatiza Bauman (1999), tal relação é tão estreita que em muitas situações as realidades locais são convocadas a solucionar problemas globais, como é o caso da própria Borá cercada por canaviais e tendo que assentar em seu território uma usina de produção de açúcar e álcool. Seguramente não é Borá que demanda tanto açúcar e álcool ou que optaria voluntariamente por uma monocultura agrícola.

Nessa linha de conexão do local com o global, se despeja sobre Borá diagnósticos e formas de tratamentos de problemas vários, como esses claramente expressos no campo da saúde: programas voltados para a hipertensão, diabetes, AIDS, gravidez na adolescência e tantos outros. É o global imposto ao local ou utilizado como parâmetro para diagnósticos e ações locais. Os tratamentos padrão e universalizante que tomam as realidades das grandes cidades como modelos, às vezes, são transpostos automaticamente, ignorando especificidades locais e a fazem se espelharem nos grandes centros urbanos. Seguramente, os problemas de saúde apontados estão presentes em Borá, mas talvez não na proporção ou nas dimensões preocupantes como aparecem nas grandes cidades. O fato é que a racionalidade moldada nos grandes centros se impõe dando feições estranhas à pequena localidade que acaba por incorporá-las.

Não deixa de ser curioso se ver caminhadas de idosos, pela manhã, comandadas pela enfermeira nesse lugar onde praticamente não se usa veículos automotores para deslocamentos; onde não há, evidentemente, transporte público - nem mesmo para a zona rural - aliás, a pequena rodoviária ali existente permanece completamente erma, com raríssimos horários de ônibus para outras localidades. Gravidez na adolescência e drogas? Seguramente existem casos, mas será que ao ponto de se tornarem problemas de saúde pública? O fato é que esse tipo de preocupação apareceu também na fala do prefeito e de outros citadinos. Muito provavelmente isso decorre da impregnação de um discurso dominante, irradiado pelos meios de comunicação e que até pode ser utilizado como uma famigerada valorização da cidade quando associada a uma grande urbe, ainda que por problemas bastante perturbadores. Entretanto, ainda que como uma retórica discursiva, indica a interpenetração de fenômenos originários de pequenas e grandes urbes nas atuais condições de permeabilidade de fronteiras e de conexões entre as cidades.

Borá e as estatísticas

Deve-se ter em vista que em Borá as tradicionais estatísticas e cálculos criam mais ilusões do que auxiliam em diagnósticos objetivos. A racionalidade instruída por análises quantitativas e modelos matemáticos tende a sucumbir em Borá, justamente por ser uma cidade de pequenas dimensões e tudo, consequentemente, acontecer em escalas bastante reduzidas. Quando um episódio atípico ocorre produz uma variação incomum na "curva normal" da distribuição probabilística das frequências da estatística que, no caso de Borá, nem é propriamente uma curva, mas uma reta, tamanha a homogeneidade e regularidade da freqüência da ocorrência dos eventos.

Uma análise estatística da violência, realizada por uma organização internacional, mostra bem a questão. Dados coletados entre os anos de 2000 e 2006, por uma pesquisa sobre violência nas cidades brasileiras, realizada Organização dos Estados Ibero-Americanos -OEI, colocaram Bora como a sexta cidade mais violenta do Estado de São Paulo, conforme informação da Secretaria da Segurança Pública desse Estado (2016). Surpreendentemente, Borá aparecia, dentre os 556 municípios do Estado, como sendo a sexta cidade em homicídios praticados com armas de fogo, entre os anos de 2002 e 2004. Ocorreu que, no período em questão, houve um homicídio, caso muito raro nesse local, talvez o único na história da cidade desde quando fora elevada à categoria município. Porém, dado o pequeno número de habitantes, esse único homicídio foi o suficiente para elevar o resultado do cálculo da taxa desse tipo de crime por habitante.

Por esse caminho, a cidade normalmente se destaca em pesquisas, comparecendo com indicadores bastante diferenciados. Por isso mesmo, embora pequena, acaba sendo objeto de atenção, nem sempre do agrado da população. Dentre os dados curiosos, recentemente, mais um foi objeto de notícia na grande imprensa: Borá foi a primeira cidade a concluir o recenseamento do IBGE, com um detalhe: em relação ao censo anterior houve o aumento de apenas um habitante.

A entrevista que realizamos com o prefeito da cidade parece muito bem demonstrar essa possibilidade de um conhecimento da realidade local sem a necessidade de se recorrer a cálculos complexos e a estatísticas.

No dia 11/11/2015 foi realizada uma entrevista com o prefeito do município de Borá que havia iniciado seu mandato nesse mesmo ano. Ele se mostrou disposto a provocar mudanças, visto que o antigo prefeito, que havia ocupado mandatos em quatro gestões anteriores era conhecido por sua postura coronelista e, conforme disse, "se acomodou por ser antigo". Destacou em sua fala várias realizações, tais como, a criação de uma escolinha de futebol e um time municipal; a instalação de internet a cabo gratuita para os boraenses e a distribuição de verduras e leite também gratuitamente para a população todas as terças e sextas-feiras.

Com relação à segurança, o prefeito disse que a cidade possuía cinco policiais. Segundo ele, passaram-se muitos anos sem nenhuma ocorrência e só mais recentemente é que foram registrados alguns furtos, no único banco da cidade e na escola e, em decorrência disso, contratou dois guardas para fazerem a ronda na cidade. Apareceram, também, abusos de drogas e casos de prostituição no Borá, e o prefeito atribuiu esses acontecimentos à reativação da usina de açúcar e álcool que havia sido paralisada por muito tempo. Com ela, continua informando o prefeito, teriam vindos muitos trabalhadores de fora. Esta usina oferece cerca de dois mil empregos, sendo que são poucos os ocupados por boraenses. Ademais, o prefeito diz que o município não tem estrutura para atender o pessoal que veio com a usina, tanto na educação, quanto na saúde.

A infraestrutura de Borá, segundo o prefeito, é "100%", pois é fornecido tratamento de água e esgoto para toda a população. A mortalidade infantil é praticamente nula. Também existem poucos analfabetos em Borá e, quando há casos, geralmente são parte dos moradores mais antigos da cidade. 80% da população possui telefone fixo e é "difícil achar quem não tenha celular", disse o prefeito. Com relação ao desemprego, o prefeito afirma que "só não trabalha no Borá, hoje, quem não quer". Como não há quase comércio, pois só existem dois mercados, dois açougues e uma farmácia, os maiores empregadores são a Usina de açúcar e álcool e a prefeitura. Segundo ele, muitas mulheres também trabalham na lavoura.

Quando questionado sobre algumas possíveis melhorias, o prefeito revelou que não está satisfeito com a saúde, pois infelizmente não há como contratar um médico para ficar 24h no município, uma vez que todos os médicos residem em outras cidades e não pretendem residir em Borá.

Retomando as reflexões de Simmel (1912/2009), quando este destaca a importância do cálculo nas grandes cidades, como forma de gestão de populações, em Borá, tal ferramenta não se mostra como sendo de grande utilidade. Não são necessárias medidas muito refinadas para se saber da realidade local como, por exemplo, a quantidade de ligações de água e luz, de esgoto, de ruas asfaltadas, déficit de habitação, coleta de lixo, desemprego e assim por diante. Todos sabem não apenas quantos, mas também quem está desempregado. Há um preço a pagar, evidentemente. Todos sabem da vida uns dos outros. Não há necessidade de câmeras de vigilância. Os olhos de todos os moradores funcionam como tais e são muito severos quando se dirigem a condutas e subjetivações que são objetos de condenações morais. Não é um paraíso. Subsiste aí um círculo de relações sociais muito restrito, conforme já assinalava Simmel (1912/2009).

Contudo, não se trata de um círculo completamente fechado e refratário ao relacionamento com outras realidades ou com o estranho. A menção do prefeito ao grande acesso a celulares e à disponibilidade de acesso gratuito à internet demonstram o quanto essa pequena urbe incorporou tecnologias atuais de comunicação, associadas às metrópoles, permitindo aos seus cidadãos se conectarem à rede de comunicação mundial, com isso, rompendo barreiras espaciais e temporais tradicionais, fortemente presentes nas antigas localidades.

 

Conclusão

É possível visualizar nesta cidade a convivência de uma socialidade contingente, dada na informalidade do cotidiano, com outra mediada por uma racionalidade técnica advinda, principalmente, dos serviços públicos de saúde e educação. Todos se conhecem e possuem apelidos que, inclusive, substituem os nomes até nas lápides do cemitério. Cria-se uma psicosfera fortemente impregnada por um sentimento de reconhecimento mútuo e de estar junto e próximo, fomentador de um gregarismo urbano calcado na afetividade, na sensibilidade, em emoções, em especificidades do uso da linguagem, - tal como no caso da atribuição de apelidos- e em produções cognitivas que produzem e transmitem saberes locais e sustentam discursos orientadores de pautas de conduta.

O que permite a essa pequena cidade assumir e conduzir, até certo ponto, sua própria produção de subjetividade não é seu diminuto porte, simplesmente, mas podemos pensar que sejam também resistências e certo distanciamento que consegue manter da racionalidade que impera nas grandes cidades dominadas pela lógica capitalista, pelo processo de modernização e por estratégias políticas de gestão das populações (Moraes, 2013; Sanches e Moscoso-Flores, 2016). Apesar da existência da usina de açúcar e álcool, Borá não é uma cidade totalmente invadida por indústrias, comércio e pelo sistema bancário. Está longe de ser um grande mercado ou de uma Meca do consumo.

A pequenez de Borá se agiganta quando consegue manter certo distanciamento das vicissitudes impostas pelo mercado capitalista. Livre das grandes instituições e da racionalidade do capitalismo, consegue deixar fluir as produções subjetivas dadas nos encontros fortuitos de seus habitantes.

Contudo, é inevitável a presença cada vez maior da racionalidade tecno-científica na gestão dessa pequena urbe e na mediação das relações psicossociais entre seus habitantes. Saúde e educação são duas grandes portas de entrada de tal racionalidade e por elas se deslocam profissionais e saberes técnico-científicos que procuram avassalar as produções locais. Tais saberes se infiltram no cuidado com a saúde, na educação dos jovens, nos hábitos alimentares, nos hábitos de higiene, no modo de trabalhar, nas relações e afetos, nos projetos de vida e em todos os demais aspectos da vida e do cotidiano. A cultura local passa a ter que negociar com saberes de profissionais, provenientes de outros lugares, detentores de tecnologias científicas prometeicas.

Com isso, a pequena localidade é colocada em contato com o encantador sonho do progresso, bastante enfatizado pelo espírito da modernização. O problema maior de um processo de modernização quando ele assume um caráter colonizador da cultura local, mediante a imposição de saberes e práticas que lhe são estranhos, é que se enfraquece ou se anula a produção de subjetividade, tornando pessoas e sujeitos indivíduos passivos. Esse é um aspecto da modernização de Borá e de tantas outras localidades que passa desapercebido pela racionalidade técnico-científica e por muitos profissionais instruídos por uma ciência e profissão fáusticas (Martins, 2012), mas que é facilmente notável por um olhar que tenha sensibilidade e seja capaz de atentar-se e escutar o outro, abdicando de hierarquizações e poderes que o invalidam e o anulam.

Grau-Solés, Iñiguez-Rueda e Subirats (2012), enfatizam que os dispositivos técnicos são mediadores inevitáveis das relações na urbe e de que a apropriação desses dispositivos, a habitação e as práticas da cidade produzem heterogeneidades, portanto, exigindo uma perspectiva híbrida na abordagem dos fenômenos urbanos. No entanto, não podemos deixar de ressalvar que os aparatos técnicos que transitam pelas pequenas e grandes cidades, assim como pelos agrupamentos campestres, produzem um impacto maior nas pequenas urbes e no campo, sendo uma via privilegiada para o entendimento das transformações impetradas pela modernização e pelo avanço do capitalismo no cenário urbano e rural.

 

Referências

Apodaka, Eduardo, & Villarreal, Mikel. (2011). Los retos psicosociales de la ciudad. Em: Gónzalez, M.; Beascoechea I, J.Mª e Zarraga, K.( Orgs). Procesos detransición, cambio e innovación en la ciudad contemporánea. Bilbao: Servicio Editorial UPV/EHU.         [ Links ]

Bardin, Lawrence (2009). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70.         [ Links ]

Bauman, Zigmund (1999). Globalização: conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

Berman, Marshal. (1998). Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Freitas, Maria Tereza de Assunção (2002). A abordagem sócio-histórica como orientadora da pesquisa qualitativa. Caderno de Pesquisa. (116),21-39.         [ Links ]

Giddens, Anthony (1991). As conseqüências da modernidade. São Paulo: Ed. Unesp.         [ Links ]

Gonzáles - Rey, Luiz.Fernando (2002). Pesquisa qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. São Paulo: Pioneira.         [ Links ]

Grau-Solés, Marc ; Íñiguez-Rueda, Lupicinio; Subirats, Joan (2012). Una perspectiva híbrida y no-moderna para los estudios urbanos. Athenea Digital, 12(1):89-108.         [ Links ]

Harvey, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.         [ Links ]

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica -IBGE (2016). Recuperado em 09, junho,2018 de: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=350720&idtema=1&search=sao-paulo|bora|censo-demografico-2010:-sinopse-.         [ Links ]

Kapp, Silke. (2011). De Simmel ao cotidiano na metrópole pós-urbana. Cadernos Metrópole, 13(26):439-450. Recuperado em 15, maio, 2019 de: http://cadernosmetropole.net/system/artigos/arquivos/000/000/218/original/cm26_219.pdf?1474650654.         [ Links ]

Martins, Hermínio (2012). Experimentum humanum: civilização tecnológica e condição humana. Belo Horizonte: Fino Traço.         [ Links ]

Moraes, Carla Gisele Macedo S. M. (2013). Impressões da cidade moderna: a constelação de significados de Georg Simmel, entre a vida do espírito e a modernidade ininterrupta". RBSE - Revista Brasileira de Sociologia da Emoção. 12(36),860-872.         [ Links ]

Santos, Milton (1998). Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Hucitec.         [ Links ]

Santos, Milton (2006). A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: EDUSP.         [ Links ]

Sánchez, Nicolás Fuster, & Moscoso-Flores, Pedro (2016). "Poder" en la época de la Población. Foucault y la medicalización de la ciudad moderna. Athenea digital, 16(3),207-227.         [ Links ]

Sato, Leni., & Souza, Marilena Proença Rebello (2007). Contribuindo para desvelar a complexidade do cotidiano através da pesquisa etnográfica em psicologia. Em: Matias, M.C.M.; Abib, J.A.D. (Org.). Sociedade em transformação: estudo das relações entre trabalho, saúde e subjetividade. Londrina: Eduel.         [ Links ]

Secretaria da Segurança do Estado de São Paulo (2016). Recuperado em 12, setembro, 2018 de: http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=8038.         [ Links ]

Simmel, Georg. (1912/2009). As grandes cidades e a vida do espírito. Covilhã: Universidade da Beira Interior.         [ Links ]

Superior Tribunal Eleitoral (STE). Recuperado em 18, outubro, 2010 de: http://www.tse.jus.br/eleitor/estatisticas-de-eleitorado/estatisticas-de-eleitorado.         [ Links ]

GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.         [ Links ]

Rizzon, Fernanda; Bertelli, Janine; Matte, Juliana; Graebin, Rosani Elisabete; Macke, Janaina (2017). Smart city: um conceito em construção Revista Metropolitana de Sustentabilidade 7 (3): 123-142. Recuperado em 17, outubro, 2019 de: de http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/rms/article/view/1378/pdf        [ Links ]

 

 

Enviado em: 18/10/18
Aceito em: 10/07/19

 

 

José Sterza Justo é doutor em Psicologia Social. Atualmente é docente do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Campus de Assis).
E-mail: sterzajusto@yahoo.com.br
Carolina Villanova Heguedush
é doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Campus de Assis).
E-mail:
carol.vh@hotmail.com

Creative Commons License