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Revista Polis e Psique

versão On-line ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.9 no.spe Porto Alegre  2019

 

EDITORIAL

 

EDITORIAL

 

 

Ao comemorarmos os 20 anos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional (PPGPSI) da UFRGS, reunimos, neste número especial, os artigos e conferências do evento Temas em Debate 2018: Psicologia, Direitos Sociais e Políticas Públicas, que teve o apoio financeiro da chamada pública para eventos técnicos e científicos do Conselho Federal de Psicologia.

O evento deste ano contou com a participação de convidados e convidadas muito especiais para nós: os professores Pedro Paulo Bicalho, Gustavo Zambenedetti, Virgínia Kastrup, Eduardo Passos, Luis Antonio Baptista, Cleci Maraschin, Carolina dos Reis e Tania Mara Galli Fonseca, além dos psicólogos José Mário Neves e Priscila Detoni e dos alunos e alunas da turma de 2017 do curso de doutorado do PPGPSI.

O Temas em Debate apresenta uma peculiaridade em sua organização: ele emerge de um agenciamento coletivo que envolve professora e doutorandos da disciplina Teorias e Métodos em Psicologia Social III, sendo gestado por uma maquinaria na qual os temas vão se delineando a partir de questões transversais aos projetos de pesquisa dos doutorandos e movimentando o pensamento na criação de novas tramas possíveis. Assim, mais do que buscar uma pretensa unidade, os temas funcionam como disparadores de outros devires, apostando na transversalidade produzida pelo grau de abertura a heterogeneidades, desequilíbrios, variações e deslocamentos que, compartilhados na prática do pesquisar, promovem a experiência de um plano comum no processo de formação de pesquisadores. Comum que sintetiza um convite à experimentação e que é o meio no qual se engendram resistência e criação.

As temáticas disparadoras do evento deste ano envolvem questões relacionadas à ética no pesquisar, às políticas de narratividade e à descolonialidade nas relações saber-poder. Temas caros aos pesquisadores e pesquisadoras deste Programa e que, no atual momento político de nosso País, ganham nuances da maior importância.

Enfrentando diariamente no exercício de nosso ofício a análise dos modos e dos processos de subjetivação na sua relação com as políticas públicas e com as questões éticas e políticas que envolvem as intervenções da psicologia no campo social, vivemos agora um momento crucial no que se refere à colocação de nossas problemáticas de pesquisa e de nossas metodologias de pesquisa e intervenção. Nossos corpos precisam acolher mais do que nunca aquilo que Benjamin indica em suas teses sobre o conceito de História: é preciso “apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Será necessário, como diz Didi-Huberman, tomar a história a contrapelo, já que só assim será efetivamente possível revelar “a pele subjacente, a carne oculta das coisas”.

Sabemos da gravidade do momento. Já podemos sentir na pele os ares do medo, da insegurança, da fragilização das solidariedades. Mas também já podemos sentir correr por nossas veias a força que nos faz resistir, que nos faz revirar a terra para fazer germinar a criação de possíveis.

Sim, o PPGPSI tem muita história ainda por fazer e aqueles e aquelas que constituem essa história encontrarão as forças necessárias para, em uma política dos afetos ético-expansiva, desenvolverem seu ofício e alimentarem modos de vida não-fascista. Os tempos andam brutos, os dias são de apreensão, mas estamos seguras de que todas e todos nós que fazemos andar a história do PPGPSI, seremos dignas e dignos do que nos acontece.

Os dois textos finais deste Número Especial se referem às conferências de Luis Antônio Baptista e Tania Mara Galli Fonseca. Sob o título A Psicologia em Tempos Extremos, o professor e a professora nos brindam com textos sensíveis que nos instigam a responder, também com sensibilidade, às demandas de nosso presente: falam de resistência. Recorrendo à imagem dos Ibejis que driblaram a morte brincando e revezando a percussão dos tambores ou à convocação para que tomemos parte do acontecimento do presente como estratégia de enfrentamento do cansaço e da desesperança, o conferencista e a conferencista encerram esta edição da Revista Polis e Psique.

Nesta ocasião, Tania Mara Galli Fonseca fez sua última participação em eventos de nosso PPG: nossa colega, amiga e inspiração partiu em setembro passado. Com ela aprendemos muito sobre a contração do tempo, sobre os fios que ligam passado no presente, lançando ao futuro e ensejando, assim, uma nova história. Sua voz delicada e suave ecoará sempre entre nós enquanto estivermos revezando os tambores.

Boa leitura!

Fernanda Amador e Rosane Neves da Silva

 

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter. “Sobre o conceito de história”. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas, tomo I, 222-232. São Paulo: Brasiliense, 1987.

HUBERMANN, Didi. “La imagen-malicia. Historia del arte y rompecabezas del tempo”. In: Ante el tiempo. Historia del arte y anacronismo de las imágenes, 137-237. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2011.

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