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Revista Polis e Psique

On-line version ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.9 no.spe Porto Alegre  2019

 

ARTIGOS

 

Inquietações éticas: sobre a possibilidade de (des)encontros

 

Ethical Concerns: about the possibility of (dis) encounters

 

Preocupaciones éticas: sobre la posibilidad de (des) encuentros

 

 

Daniela Dalbosco Dell'Aglio; Edson Pilger Dias Sbeghen; Rossana Bogorny Heinze

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil

 

 


RESUMO

No lugar de pesquisador e pesquisadoras no campo da Psicologia Social, partimos do sentimento de angústia para pensar o processo do fazer pesquisa. Problematizamos como as inquietações, dúvidas e incertezas ao longo da experiência de pesquisar produz o sujeito pesquisadora. Sujeito, esse, que não estará sozinho, uma vez que se relaciona constantemente com o campo de pesquisa em que se insere. Como tornar essa prática reflexiva e ética no modo de fazer pesquisa? Para isso, buscamos compreender a ética diferentemente dos protocolos, pensando essa enquanto uma atitude que borra as fronteiras de quem pesquisa e de quem é “pesquisado”. A partir do exercício da escrita e do diário de campo, podemos pensar como se constrói a todo tempo esse sujeito que se inquieta, se angustia e que possibilita uma reflexão ética frente às suas prácticas.

Palavras-chave: ética, implicação, diário de campo, subjetividade, pesquisa.


ABSTRACT

As researchers in the Social Psychology Field, we start from considering the distressing feeling of thinking about the process of carrying out research. We problematize how concerns, doubts and uncertainties along the researching experience build the researching individual. Such subject is not alone, since he is constantly related to the research field where he is inserted. How can this reflexive and ethical practice influence on the act of carrying out research? Therefore, we focused on understanding ethics, differently from protocols, considering ethics as an attitude which blurs the boundaries of researchers and “the ones who are researched”. By considering the writing practice and the use of a field diary, we can reflect on how this subject is built throughout the time, an individual who feels concerned and distressed and who enables an ethical reflection about his practices.

Keywords: ethic, implication, field diary, subjectivity, research.


RESUMEN

En lugar de investigador e investigadoras en el campo de la psicología social, partimos del sentimiento de angustia para pensar en el proceso de investigación. Nos preguntamos cómo las preocupaciones, dudas e incertidumbres a lo largo de la experiencia de investigación producen el tema de esta. Sujeto, este, que no estará solo, ya que se relaciona constantemente con el campo de investigación al que inserta. ¿Cómo volverse esa práctica reflexiva y ética en una manera de hacer investigación. Por esto, buscamos entender la ética de manera diferente a los protocolos, pensando en esto como una actitud que desdibuja los límites de quienes investigan y quienes son "investigados". A partir del ejercicio de la escritura y el diario de campo, podemos pensar como se construye todo el tiempo ese sujeto que se inquieta, se angustia y que posibilita una reflexión ética ante sus prácticas.

Palabras clave: ética, implicación, diario de campo, subjetividad, investigación.


 

 

Entre práticas brancas e caixas pretas

Em um laboratório, de uma região privilegiada do Brasil, visualizamos uma sala branca. Todos que circulam por ela utilizam jalecos também brancos. Explicamos que para muitos, o branco é entendido como a cor da pureza e da transparência, onde “nada passa”, onde tudo fica visível. Em um caderno em branco, uma pessoa branca, anota os passos para que seus colegas entendam exatamente como ela chegou onde chegou com seu grupo controle. Controladamente, ela escolheu quem preenche os mesmos requisitos a fim de garantir a assepsia do seu estudo.

Temos então um check-list de protocolos e um check-list de atitudes esperadas. Os inesperados, como aquela pessoa do grupo controle que disse que vinha e não veio; o rato que morreu durante o estudo e não se sabe bem o porquê; a colega que se apropriou dos dados que não eram dela; o hormônio que precisava ser injetado no animal às 10 horas da manhã de um domingo, mas a universidade estava fechada; as folhas do teste psicológico que foram entregues antes da pessoa responsável fazer o rapport, pulando uma etapa; os dados que foram duplicados discretamente para ter um (n) significativo a fim de comprovar as hipóteses. Ou seja, tudo aquilo que não é registrado, mas acontece, ficando na tal de “caixa preta”. A caixa poderia ter cores variadas, mas não é por acaso que aqui se estabelece um binarismo entre o branco/preto. Entre aquilo que é norma e o que não é, entre o que é considerado ciência e o que não é.

 

Angústia

Angústia. Inquietude. Tormento. Sensações que decorrem de um processo de pesquisa intenso, onde a implicação com o campo faz borrar as barreiras e as fronteiras entre a pesquisadora e os pesquisados. Contradições, dúvidas e incertezas. A experiência no campo leva-nos a questionar sobre a própria inserção, oportunizando refletir constantemente sobre qual lugar ocupamos enquanto pesquisador e pesquisadoras, e ainda, sobre as afetações decorrentes desse processo.

Por si só, essa postura já se encontra num campo de problematização ética. Partirmos de uma perspectiva localizada e situada, que se atravessa constantemente com o corpo de quem pesquisa. A neutralidade e o afastamento do contexto, suposto ideal cientificista, estão longe de ser a perspectiva teórica, prática e metodológica que nos dá pistas para a construção dessa escrita. Desse modo, perguntamos: como fazer ciência que não se reproduza a lógica da “sala branca”? Ou ainda, como perceber a “sala branca” dentro das pesquisas que compõem o campo em que pesquisamos?

Partimos, também, da angústia decorrente da possível sensação de liberdade que o campo de pesquisa produz. Ou seja, a possibilidade de percorrer caminhos ou deixar de percorrer outros, ao mesmo tempo em que se exercita a análise sobre a conduta que envolve a relação com os outros. Relação essa, sobre a qual, não é possível fazer qualquer previsão ou hipótese, uma vez que está sujeita à imprevisibilidade do fazer pesquisa.

A ética enquanto estética de existência é o que, proposto por Michel Foucault, podemos pensar enquanto prática de vida. Essa, que segundo o autor, trata-se das relações entre os sujeitos e das relações consigo, vai estar atravessada, também, pelas relações de poder. Essas relações envolvem marcadores sociais, tais como raça, gênero, geração, classe e posições hierárquicas. Assim, ao nos relacionarmos, esses jogos estão constantemente presentes em nosso fazer. Como pensar em uma atitude ética, que leve em conta um exercício de reflexão sobre esse modo de existir no mundo, que possa colocar em cheque os privilégios sociais e o lugar que se ocupa na sociedade?

Problematizar o nosso fazer e nossas ações cotidianas se atravessa ao que entendemos enquanto práticas éticas. Sendo assim, não é à toa que vivenciamos inquietações, portanto, angústias, pois quando se trata de fazer escolhas metodológicas, sobretudo no campo das ciências humanas a partir de referências questionadoras, precisamos levar em conta não só as práticas reflexivas sobre o nosso fazer, mas também o quanto essas intervêm nos campos que nos dispomos a pesquisar. O processo de pesquisa, portanto, é um espaço de confronto entre movimentos instituídos e instituintes, que oportunizam colocarmos em análise nossas práticas cotidianas.

A nossa proposta é pensar ética atravessada aos jogos de poder, que fixam regimes de verdades e podem se tornar espaços de resistência. Dessa forma, a experiência da pesquisa passa a ser vivenciada enquanto uma atitude (Foucault, 2005), que irá se refletir no constante processo de angústia que percorre o caminho desse texto e, consequentemente, uma expressão daquilo que costuma ser “escondido” ou deixado em uma caixa preta -que aqui ressignifica-se e torna-se a potência da resistência nos modos de fazer pesquisa.

Ressaltamos o quão importante é nos perguntarmos de que forma a nossa inserção dialoga com o desejo das pessoas com quem buscamos construir o percurso de pesquisa. Exigências acadêmicas, como o preparo do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) ou a submissão do projeto ao comitê de ética, são alguns exemplos da institucionalização de protocolos que pesquisadores/as seguem com a justificativa de “fazer uma pesquisa ética”, em que as pessoas envolvidas estejam supostamente cientes e desejantes de contribuir para o estudo.

Porém, por mais que se procure garantir, minimamente, alguns cuidados do ponto de vista protocolar, é preciso reconhecer a importância da crítica feita sobre suas limitações. Aqui não nos referimos ao conteúdo formal do termo de consentimento, apenas, uma vez que a nova regulamentação de pesquisa em ciências humanas (resolução 510/2016) já garante que o consentimento pode ser feito também através da oralidade. Todavia, o que questionamos é que esse consentimento, em sua maioria das vezes, está atravessado em relações de poder que posicionam o/a pesquisador/a em um lugar social, além de não dialogar com possíveis imprevisibilidades do fazer pesquisa.

Se partirmos do entendimento que a pesquisa se dá no processo, até que ponto seria possível “prever” supostos princípios éticos anteriores ao próprio desenrolar da pesquisa? Se entendermos que muitas das ações ou condutas ao longo do percurso, ou mesmo após seu término, podem ser questionadas, repensadas e problematizadas, conceber a ética enquanto norma pressuposta pode ser um tanto incompatível com uma postura atravessada pela reflexão do próprio fazer.

A partir dos referenciais teóricos e metodológicos que trabalhamos, dentro do campo dos estudos pós-estruturalistas, é comum fazer o uso do diário de campo. O diário de campo pode funcionar enquanto um dispositivo pelo qual se evidenciam atravessamentos éticos, políticos, econômicos, afetivos e libidinais e permite que seja possível ampliar as direções do pensamento, aumentando a capacidade de agir mediante circunstâncias que podem ser encontradas,potencializando a instrumentalização para atuar em casos diversos (Martins, 2016). Salientamos que na “sala branca” o diário também poderá ser uma ferramenta, mas diferente de ser um espaço de registro repleto de cores e afetações, ele tem a finalidade de registrar apenas aquilo que o/a pesquisador/a pensa ser viável para fundamentação de suas pesquisas. Nos escritos implicados de um diário de campo fundamentando por um posicionamento crítico de pesquisa, há o diferencial da escrita de narrativas sem pensar previamente na finalidade da mesma, ou se ela vai ou não compor o trabalho produzido. Esse momento se torna um espaço de inquietação, em que nos encontramos com nosso fazer e nos permitimos escrever sobre questões que estão sendo operacionalizadas no processo, mas também sobre tudo que está na ordem do impossível e dos desencontros.

A partir dessa prática registramos as vivências a fim de explicitar sensações de angústias para que, posteriormente, se reflita sobre tais. A própria leitura e reflexão sobre esses registros, entendemos enquanto um procedimento ético, que dialoga com o que estamos problematizando. Desse modo, como é possível garantir uma ética “anterior”, se entendemos que os dilemas se constroem ao longo do próprio processo do fazer pesquisa e que essas incertezas, à medida que enfrentadas, constituem ponto fundamental da pesquisa em si?

 

Experiência enquanto processo

Problematizar a ética como exercício de escrita conjunta significa assumir o risco de se deixar interpelar não só pela definição de um conceito: o que é ética? Significa, mais que tudo, deixar-se impactar pela múltipla diversidade de suas implicações críticas: sobre qual ética vamos falar? Logo, somos conduzidos a pensar, no processo de fazer pesquisa, em uma ética que se refere à reflexão sobre o próprio exercício de pesquisar, que não se limite a tomá-la enquanto avaliação de uma boa ou má conduta. E que, ainda, vá além de reproduzir binarismos de certo e errado, e que seja capaz de provocar a crítica de práticas dadas como modelares ou protocolares.

Para isso, permitam-nos que nos apresentemos. Somos um grupo de pesquisadoras e pesquisador que já passaram por experiências de trabalhos de conclusão de curso, mestrado e nos encontramos no momento acadêmico do doutorado. Nessa trajetória, circulamos por espaços diversos entre nós e também dentro dos caminhos percorridos por cada um. Ou seja, passamos por experiências singulares, em programas e pesquisas das mais diversas perspectivas da Psicologia. Experienciamos pesquisas tanto qualitativas quanto quantitativas dos mais distintos formatos. Estivemos presentes em apresentações em congressos, seminários, salões, que sempre contribuíram para o nosso olhar em relação ao modo de fazer pesquisa.

Produzimos textos individuais, mas também textos coletivos, o que muitas vezes evidencia tais diferenças nessa maneira de fazer, mostrando a importância que essa problematização tem no meio acadêmico. Entendemos que esse não é um tensionamento óbvio ou comum aos diferentes modos de fazer pesquisa em Psicologia. Muitas das pesquisas pelas quais participamos, a questão se centrava em relação ao termo de consentimento, garantindo que isso seria o procedimento "ético" suficiente a ser seguido. Pesquisas quantitativas com questionários vindos de diversos lugares, com preenchimentos duvidosos, não colocavam em questão se aquela pesquisa estava sendo conduzida de maneira ética. Em muitos momentos, parece que o importante é cumprir a meta numérica.

Nessa trajetória deparamo-nos, portanto, com experiências que envolvem trocas, contato, convivência, mas que também envolvem processos burocráticos, como protocolos, fichas, termos. Essas múltiplas experiências permitiram que repensássemos as próprias práticas, a fim de escolher caminhos que nos parecessem mais coerentes em relação à nossa visão de mundo. O exercício de reflexão a respeito das práticas ao longo da trajetória deve ser constante, não só em pesquisas que podemos considerar finalizadas, mas principalmente nos processos que estão em curso, o que garante o entendimento da pesquisa enquanto um processo vivo.

James Clifford (1998, p. 38), ao falar da etnografia, entende que o termo experiência “evoca uma presença participativa, um contato sensível com o mundo a ser compreendido, uma relação de afinidade emocional, uma concretude de percepção”, além de sugerir “um conhecimento cumulativo, que vai se aprofundando”. Por isso, não se deve tomar o campo de pesquisa enquanto algo anterior ao contato. O campo é, portanto, a própria experiência.

Experiência que, segundo Joan Scott (1999), produz o sujeito. Para a autora, não existe um sujeito anterior à experiência. A partir dessas reflexões, podemos interpretar que o próprio campo de pesquisa produz o sujeito pesquisadora ou pesquisador. Nesse sentido, se assumirmos que a imprevisibilidade do processo tende a ser justamente o que há de mais potente no fazer pesquisa, seria um contrassenso confundir a aplicação de cuidados éticos com a sujeição a protocolos anteriores à própria experiência de se colocar em campo.

Jorge Larrosa (2002) diz que podemos cair na armadilha de confundir a experiência com experimento, existindo uma longa distância entre essas duas palavras. Experimento seria uma prática comum das ciências positivistas, enquanto experiência está presente naquilo que nos afeta, não sendo possível pressupor práticas anteriores da vivência, ou seja, fora do contexto do campo de pesquisa. Ele propõe que o sujeito da experiência é um "território de passagem (p.19)" marcado por sua passividade. Salienta, porém, que essa passividade não é estar preso ao binarismo passivo/ativo, mas a possibilidade de sermos passionais, receptivos e estarmos abertos integralmente para as vivências do campo. A experiência está, para esse autor, intimamente interligada com a paixão e só pode ser vivida a partir de uma reflexão sobre si de forma passional, ou seja, dando espaço para os afetos. Entre eles, a angústia, que se torna uma pista em nossas inquietações éticas.

Perante escolhas epistemológicas e metodológicas que pressupõem o exercício da pesquisa como prática de intervenção, o que fazemos é alinhar o conhecer do fazer em nossa experiência de campo de maneira tal que se tornem inseparáveis, “impedindo qualquer pretensão à neutralidade ou mesmo à suposição de um sujeito e de um objeto cognoscente prévios à relação que os liga” (Barros, & Passos, 2009, p. 30). Dessa forma, a análise de implicação em nossas práticas torna-se orientação para uma pesquisa reflexiva e comprometida com o campo de intervenção.

Sem dúvida, a problematização que aqui levantamos está longe de ser consensual no horizonte da pesquisa em ciências humanas, uma vez que, para muitas abordagens, cumpre observar, sem ressalvas, o termo de consentimento e os protocolos exigidos pelos comitês de ética, reproduzindo a lógica da “sala branca”. No entanto, à medida que apostamos em uma pesquisa crítica, implicada e posicionada em relação ao espaço que se ocupa e ao lugar de onde se fala, cujas distinções binárias entre “sujeito e objeto”, “pesquisadora e pesquisada”, merecem ser borradas, faz-se necessário pensar: seria possível a experiência de uma pesquisa suficientemente “ética”?

 

Responsabilidade

Ao longo desta escrita damos pistas que mostram nossa visão de mundo e de sujeito no percurso da pesquisa. Deixamos evidente que, para nós, não se trata de ir a campo para descobrir “verdades” e assim propor uma “inovação científica”. Ao trazermos a ética para discussão a partir do nosso trabalho enquanto pesquisador e pesquisadoras, localizamos a nossa fala como sendo da ordem de um ethos menor. Ou seja, de uma pesquisa que se constrói naquilo que escapa, naquilo que por ora se invisibiliza, naquilo que se mostra resistência diante de um instituído cristalizado - naquilo que parte da angústia. Sendo assim, estamos implicados na construção desta pesquisa juntamente com as pessoas e com o campo que nos debruçamos, apostando na potência da transformação, de nós, enquanto pesquisadoras e das pessoas, enquanto sujeitos de suas vidas.

Não vamos a campo para comprovar nossas hipóteses, como na “sala branca”, ciência dita positivista/tradicional. Pelo contrário, essas, entendemos como pressupostos e lutamos através da análise de implicação para abandoná-las, para então, de fato, pesquisarmos no caminho de um não-saber e só assim, sermos surpreendidos pelos encontros passionais e a experiência enquanto transformação. Pesquisar, se torna um modo de viver e, portanto, uma estética de vida (Foucault, 2012).

Ao entendermos que a pesquisa opera na relação, deslocamos o sujeito da pesquisa do lugar de objeto e passamos a compor com ele e entender que a imprevisibilidade desse encontro faz com que o pesquisar aconteça. Jeane Favret-Saada (2005), sugere que, justamente, através da imprevisibilidade, o que “escapava ao meu controle”, era quando percebia que estava sendo afetada pelo campo de pesquisa. Sermos afetadas pelo campo, portanto, é o que a autora sugere para que seja possível uma comunhão afetiva com o contexto de modo a construir uma “fusão” com o outro. A autora ainda critica o modelo de “observação participante”, apontando que “participar” - estar lá - seria o mínimo necessário para uma observação ser possível, soando, portanto, enquanto uma redundância.

Assim, questionamos, quem é esse sujeito que escreve e pesquisa? Se assumirmos, com Joan Scott (1999), que o sujeito se constrói através da experiência, entendemos que a experiência da pesquisa produz o sujeito pesquisadora. Esse sujeito que, ao ser afetado, vai carregar consigo responsabilidades. Em outras palavras, frente à constante produção de subjetividades que permeiam o processo de pesquisa, seria o caso de interpretar a angústia como um sinal da responsabilização da pesquisadora?

São questões desse tipo que se apresentam ao sujeito pesquisadora quando a pensamos em situação de experiência coletiva, para além de sua identificação imediata com um “eu” individualizado. Se a experiência produz os sujeitos que dela participam, então é possível admitir que esse “eu” da pesquisadora integra um “nós” da pesquisa, incluso em um campo social, dentro de um contexto compartilhado de múltiplas implicações. Durante o processo de pesquisa, esse “eu” tende a transcender os limites da autora em si mesma. Esse “eu” ultrapassa a autora, abrangendo seu grupo de pesquisa, professoras, orientadoras, leituras, referências, conversas informais, livros, filmes, entre tantos outros instituídos e instituintes que fazem determinada linha de escrita possível, além da pesquisa de campo em si.

Pode-se dizer, com Foucault (2008), que esse “eu” é atravessado por um amplo regime de verdades, sob forma de normas, prescrições e instituídos. Desse modo, esse “eu” em face dos regimes de verdades que o condicionam pode-se tornar quase que inexistente. Frente a isso, vale resgatar a relação que Judith Butler (2016, p. 34) faz entre decisões e normas que nos dão um respiro para ter em mente as possibilidades também de contestar, romper e transgredir:

Nossas decisões não são determinadas pelas normas, embora as normas apresentem o quadro e o ponto de referência para quaisquer decisões que venham a tomar. Isso não significa que dado regime de verdade estabeleça um quadro invariável para o reconhecimento, significa apenas que é em relação a esse quadro que o reconhecimento acontece, ou que as normas que governam o reconhecimento são contestadas e transformadas.

Desse modo, é possível encontrar uma brecha para esse “eu pesquisadora” inquieto com o “mais do mesmo” e com o que está dado. É possível encontrar caminhos de resistência dentre as tantas “verdades” instituídas no meio da ciência. Foucault (1990) defende que além da relação com as normas, existe a relação com os regimes de verdades e que essa relação será, ao mesmo tempo, uma relação consigo. Desse modo, romper com determinadas “verdades” instituídas está ligado ao modo de enxergar o mundo e, consequentemente, a ciência.

Desse modo, seria através da resistência a certos instituídos que se constitui de forma única e singular o “eu pesquisadora”. Sujeito esse, que corre, constantemente, o risco de não ser reconhecido à medida que se coloca a quebrar determinadas normas. “Mas isso é ciência?”, “Isso é pesquisa?” - questionamentos comuns vindo de uma “sala branca”. Portanto, como enfrentar a quebra de certos instituídos e, ao mesmo tempo, não correr o risco de deixar de sermos reconhecidas enquanto “sujeito pesquisadora”? Encontramo-nos num campo de desafio científico, que seria defender o “eu” que não está de acordo com as normas morais, de modo que essa reflexão faça parte de uma postura ética e, consequentemente, dialogue com a operação da crítica.

Desse modo, entendemos que questionar o que já está “dado”, o “mais do mesmo”, criticar os instituídos, faz parte, também, de uma postura ética e crítica. Porém, ao estar disposto a questionar certas normas podemos encontrar-nos em um campo de novos desafios a serem enfrentados. Butler (2016) nos ajuda a pensar, uma vez que coloca que, ao questionarmos certas normas, podemos estar correndo o risco de cometer uma violência, uma vez que a quebra da norma dependerá da relação com o outro. No caso da pesquisa, dependerá especialmente de considerar com quem pesquisamos, sejam colegas ou as pessoas que compõem o campo de pesquisa. Portanto, a pergunta: como, ao construir novas propostas, não correr o risco de ferir o outro?

Não ferir, portanto, aqueles com quem desejamos e nos propomos a pesquisar, respeitando-o integralmente, enxergamos enquanto um desafio ético. Para que seja possível desconstruir certas certezas é necessário construir condições possíveis para o surgimento de um encontro entre “eu pesquisadora” e o outro. É preciso que existam condições de possibilidades para que as fronteiras entre as pessoas que irão dialogar com a pesquisa sejam borradas e que possam se sentir, de fato, parte dela. Por isso, é necessário reconhecer a profundidade de nosso ser relacional, sabendo que, deste modo, não estaremos imunes às críticas em interrogações por parte dessas pessoas - interlocutoras/es.

Respondendo à pergunta sobre quem é o sujeito que escreve e pesquisa - podemos responder que é o sujeito que se encontra em constante relação com o outro, fazendo o exercício de pertencimento ao contexto em que se insere, cabendo aí a sua responsabilidade frente às pessoas pelo quais circundam o fazer pesquisa.

 

O sujeito na perspectiva ética da escrita

Tendo em vista que o “eu pesquisadora” está constantemente em relação, nunca é possível fazer uma escrita de todo modo só. Além de estarmos atravessados/as por todo o percurso que fazemos enquanto pesquisadoras e nos espaços que circulamos enquanto estudantes, estamos também marcados pelas vivências e narrativas presentes no campo em que intervimos. Sendo assim, a escrita, por mais que seja de responsabilidade da pesquisadora, ela é a sinfonia das mais diversas vozes que nos habitam e se torna, de alguma forma, uma restituição para aqueles com quem construímos esse processo.

Para René Lourau (1993), pensador da Análise Institucional, a restituição é um movimento fundamental da pesquisa, onde a pesquisadora “devolve” suas vivências do campo de intervenção para aquelas pessoas que construíram juntas o processo e oportunizaram a escrita e as análises advindas desses encontros. Essa devolução não significaria apenas “passar os dados” de uma maneira que imponha verdades sobre o campo, mas sim, levar para as pessoas que participaram desse processo reflexões produzidas em etapas mais solitárias de escrita. Restituição seria, portanto, um exercício ético de levar aquilo que a pesquisadora vivenciou, refletiu, escreveu e produziu junto com a comunidade, para que as pessoas possam se apropriar dessas reflexões, discordar se necessário, gerando, posteriormente, novas discussões.

Levando isso em consideração, a escrita passa a não ser um resultado, mas a narrativa de um processo e assim, de fato, uma estratégia para que não seja apenas um modo de produzir pesquisadoras passageiras da dispersão, mas que sejamos implicados com as vivências do processo de pesquisar.

Esse processo de escrita que se fez de encontros, desencontros e provocações nos colocam a inventar outras formas de ser e pensar o que podemos entender enquanto um cuidado ético no fazer pesquisa. A escrita opera um processo de transformação na vida dos sujeitos, uma vez que ela possibilita várias conjugações de leituras e reflexões. Como deixar se afetar, escutar e experimentar a diferença em nós, na elaboração de nossa escrita? Nesse sentido, somos provocados a pensar como nos constituímos sujeitos e somos subjetivados na escrita e nos processos acadêmicos.

Em um olhar retrospectivo sobre seu próprio trabalho, Foucault (2010), afirma que objetivou criar uma história dos modos pelos quais os seres humanos na cultura ocidental se tornam sujeitos. O que nos inspira a interrogar sobre o nosso próprio processo, de constituição de sujeitos nos espaços e produções acadêmicas. Foucault (2003) rejeita o sujeito como fundamento dado, considerando que desempenha papéis ativos e essenciais na construção de sua própria história, sendo a escrita uma possibilidade de exercitar a liberdade. Em uma escrita normativa não há espaço para reflexões sobre nós mesmos, o que nos convoca a produzir, não apenas desvios sobre as normas academicistas vigentes, mas também liberdade de estilização da nossa própria existência.

Olhar para a estética da existência acadêmica, resultante do trabalho sobre si estabelecido pelo sujeito, pode possibilitar constituir estilos diferenciados de vida, promovendo reflexões e resistências aos mecanismos de poder e dominação que têm como objetivo normalizar e padronizar os modos de vida dos sujeitos na academia.

Para Foucault (2003) a elaboração ética se dá numa perspectiva política de lutas contra a submissão da subjetividade, o que nos convoca para a batalha. Salientamos que essa não é necessariamente o ataque às instituições ou grupos dominantes, mas a possibilidade de questionar normas que produzem modos de ser e subjetividades, oportunizando a construção de resistências em busca de práticas de liberdade na escrita e nos modos de ser acadêmicas e pesquisadoras.

Foucault questiona uma forma de poder que subjuga ou que torna sujeito a algo ou a alguém, defendendo que é preciso “imaginar e construir o que poderiamos ser para nos livrarmos deste duplo constrangimento político, que é a simultânea individualização e totalização própria às estruturas do poder moderno” (2010b, p. 283).

Enquanto exercício ético do sujeito, Foucault dialoga com a questão do cuidado de si, que significa inquietar-se consigo, questionar-se, perguntar-se. Esse exercício torna-se importante, uma vez em que entendemos o quanto o saberes se instituem enquanto verdades, formando disciplinas e construindo formas instituídas e delimitadas de pensar a ética (Foucault, 2012). Ou seja, falar em pesquisa e ética, para muitos campos do conhecimento, será trazer a tona um aparato de normas e regras que irão garantir a neutralidade e segurança do processo. Porém, quando trazemos a ética enquanto espaço de problematização, estamos nos referindo a uma prática possível de um cuidado de si sobre si. Ou seja, como nos mostra Foucault (2004), a ética passa a ocupar um espaço de reflexão sobre nossas práticas.

Assim, a partir do constante exercício de reflexão, do lugar de fala e de como percebemos os jogos de poder e saber instituídos em nossa sociedade, a ética enquanto cuidado de si torna-se uma prática de colocar em análise os instituídos, buscando processos de desassujeitamento, descuidando-se, assim, do eu normatizado, preso a regras e normas, como nos mostra Candiotto (2010).

Para Butler, esse exercício de autoquestionamento faz parte do que podemos chamar de “estética de si”. Isso, porque a autora entende que não “temos de assumir uma posição como aquela de um juiz pronunciando uma sentença” (2016, p. 163). Ou seja, podemos nos portar em relação a nós mesmos como um exercício constante de reflexão. Isso vale para as diferentes áreas do conhecimento, assim como para diversas práticas e técnicas, em que se torna interessante exercitar a análise das nossas implicações, através do exercício de pararmos, de tempos em tempos, para problematizarmos o andamento do processo e colocarmos em análise o que foi possível realizar até aquele momento.

Pensamos que através do movimento de inquietação frente a nossa escrita, torna-se possível construirmos um trabalho que dialogue com a responsabilidade que temos com os sujeitos que compõem conosco o ato de pesquisar. Desse modo, entendemos ser possível criar uma relação que borre a fronteira entre “pesquisadora” e “pesquisada”, saindo do lugar de único detentor do conhecimento, possibilitando transparência e aprendizado mútuo ao longo do processo.

 

Pistas

Sabemos que entre as dicotomias do cientificismo e do modo de fazer pesquisa implicado que estamos propondo existem todo um universo das mais variadas cores e singularidades possíveis. Mas na ciência da “sala branca”, os erros são fracasso e os fracassos são escondidos. Foucault já nos alertava sobre o quanto o poder cristaliza verdades e transforma essas em saberes. A maioria das revistas com respaldo científico publicam os estudos da “sala branca”. E nós, com nossos estudos contaminados, que construímos a partir das caixas pretas, ficamos um pouco a margem. Mas está tudo bem, a ciência positivista não foi feita para caixas pretas, a ciência, tal qual aprendemos nos bancos escolares, foi feita para encontrar a verdade e só tem verdade quem tem o privilégio de ser ouvido.

Mas precisamos seguir isso? Para ser considerado ciência, devemos seguir protocolos e normas? Podemos, por outro lado, nos inquietar com essa higienização na pesquisa? É, sim, podemos, mas de alguma forma o caminho que pode parecer mais simples é esquecer que somos assujeitados, voltar para “sala branca”, e encaixar os artigos renomados em vidas precárias e marginalizadas.

É importante salientarmos que não acreditamos que temos "a verdade" sobre fazer pesquisa. Tampouco estamos denunciando, apenas, a construção de verdades que se instituem como saberes. Estamos, para além disso, colocando em questão o modo normativo da nossa sociedade em fazer ciência e problematizando esse como a sua única forma legítima. Ressaltamos que a pureza só existe às custas da omissão daquilo que não se encaixa. E quando trazemos para nossas escritas o que não se encaixa, a ética se desloca do lugar de norma para se tornar inquietação.

Sendo assim, nos perguntamos: como ser ético no fazer ciência que não é asséptico? Quando se controla tudo - grupo controle, amostra, hipóteses - a “ética” é só mais um fator a ser controlado. A temática em relação à ética aparece em disciplinas quase que esquecidas nas graduações, em que professores/as de diferentes abordagens podem lecionar. Isso acontece porque partimos do princípio que ética é uma “moral” presente em todos os cidadãos de bem. Para lecionar ética, portanto, não é necessário um percurso de reflexão sobre essa palavra, sendo esperado de qualquer profissional a “ética” do protocolo.

A partir das diferentes reflexões que trouxemos, que se atravessam ao campo teórico, cabe agora pensarmos em pistas para o encontro do possível com uma atitude ética no modo de fazer pesquisa. Isso não significa criar novos protocolos do que seria, portanto, “uma pesquisa ética”, mas trazer elementos que contribuam para processos de indagações e questionamentos em diferentes trajetórias de pesquisa que se preocupam a enxergar a questão da ética de maneira problematizadora. Não enxergamos como algo protocolar, pois por mais que seja necessário esse exercício de avaliar ações, tratar aqueles que nos cercam de maneira cuidadosa, também é importante estarmos cientes do fracasso decorrente desse exercício, o que o torna ainda mais complexo e necessário.

Esse exercício requer atenção à multiplicidade, como às diferentes características e potencialidades que nos deparamos no universo de pesquisa. Por isso, requer criatividade, pois estamos tratando de assuntos singulares, não sendo possível criar regras universais. Desse modo, essa prática exige sensibilidade.

Partimos da angústia como sentimento que potencializa o questionamento ao longo do processo do fazer pesquisa, para pautarmos a experiência como o próprio processo que constrói o sujeito pesquisadora, entendendo a responsabilidade a partir de uma relação que não se dá sozinho, e como, a partir do processo de escrita decorrente da inserção ao campo é possível pensar em um sujeito que se inquieta, que se angustia e possibilita, portanto, uma reflexão ética frente às práticas.

Ficam então apenas pistas, ou ainda, talvez, prescrições de prudência, como nos diria Foucault (1994), quando tenta fugir de estabelecer um método que poderia ser seguido sem crítica. A principal pista para nós enquanto pesquisadoras é fazermos o exercício de reflexão a respeito do nosso local de fala e, para isso, analisarmos frequentemente as nossas implicações na relação com os outros e com nós mesmos. Cientes de que somos singulares no processo de construção da pesquisa, precisamos analisar nossas singularidades e nos questionarmos: Quem pode ser ouvido? De que lugar falo? Com quem me comunico? E como estando implicadas por essas diversas instituições que nos atravessam podemos nos relacionar no campo e mais, construir uma escrita sensível?

Ao partirmos apenas do lugar de pesquisadoras criamos a falsa ilusão de igualdade que não contempla o sujeito em sua diversidade. Existe uma diferença em ser uma pesquisadora branca falando sobre raça do que ser uma pesquisadora negra, falando sobre este assunto. A primeira deve partir do seu olhar frente à branquitude, enquanto a segunda tem corpo, experiência e trajetória para partir da categoria da negritude, o que diferencia fortemente as reflexões e análises. Djamila Ribeiro (2017) sugere para não confundirmos representatividade com lugar de fala. Todos podem falar? A autora diz que sim, mas só seremos sinceros com nosso trabalho se estivermos fazendo o exercício de reflexão a respeito dos diferentes locais de fala. Ou seja, uma pesquisa nunca é “neutra”, pois sempre estará atravessada com marcadores sociais que compõem os/as pesquisadores/as - raça, classe, gênero, etnia, geração, deficiência - assim como suas trajetórias. Dessa forma, análise de implicação e local de fala estão intimamente interligados e é para nós uma das pistas mais importantes para uma prática reflexiva na pesquisa.

Na nossa experiência, nos damos conta que quando começamos a analisar nosso local de fala, que está atrelado a lugares de poder, passamos a lidar com a angústia como uma constante. Mais do que compreendê-la apenas como um sofrimento, que podemos associar a um sentimento paralisante, propomos que a angústia seja pensada como um sinalizador de que é necessário parar e olhar para nosso percurso. Ela pode denunciar a responsabilidade que temos frente a liberdade de estarmos em relação com os outros, se tornando interessante voltar para o diário de campo, conversar com pessoas, colocar nossas angústias no mundo, para que elas possam tomar vida e então encontrarmos linhas de fuga para a escrita de um trabalho que dialogue com a constante análise de si.

Questionarmo-nos só será possível quando partirmos do pressuposto da pesquisa enquanto uma experiência de transformação, onde constantemente é possível mudarmos os rumos, pois não estamos presos a hipóteses, mas temos a liberdade de escolha de algumas ferramentas que vão nos auxiliar no caminho de ser pesquisadora.

Sugerimos ainda, o registro como uma pista para uma prática ética. Registre tudo aquilo que acontece e também aquilo que não acontece. Se permita ser sincero com você no ato de pesquisar e se deparar com os medos que sentimos cada vez que estamos em campo, mas também, quando estamos em casa escrevendo, ou ainda conversando com um amigo, ou mesmo quando acordamos no meio da noite com uma pergunta em mente. Ir para campo não se trata de buscar respostas, mas de ter perguntas. E somente com o registro de todos os acontecimentos podemos voltar a eles e colocarmos os mesmos em análise.

Essa escrita não se trata de aliviar o fardo do comprometimento ético. Também não se trata de acalmar os corações indicando alguns procedimentos, que no final, se replicados, irão garantir que todos saiam "inteiros" dessa caminhada. Essa escrita trata de afeto e esperamos que sirva para que você se inquiete sobre tudo que vem construindo junto ao seu campo, sobre os conceitos que escolhe operar, sobre aquilo que se propõe a escrever e compartilhar. Não terminamos com um ponto final e sensação de dever cumprido. Terminamos com inúmeras indagações de tudo que poderia estar aqui, mas porque fomos nós que escrevemos e não outras pessoas, foram essas as inquietações possíveis nesse momento. Agora cabe a você, que está lendo essas linhas, aproveitar um pouco do percurso ético que tentamos trilhar, ou/e abandonar essa leitura em busca da sua própria trilha. A beleza do pesquisar alinhado a uma postura ética está justamente nas infinitas condições de possibilidade de construirmos nossas próprias narrativas.

 

REFERÊNCIAS

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Edson Pilger Dias Sbeghen é docente na Universidade do Oeste de Santa Catarina. Doutorando no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional -UFRGS.
E-mail: psicologo.edsonpilger@gmail.com

Daniela Dalbosco Dell'Aglio é doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional - UFRGS.
E-mail: danieladellaglio@gmail.com

Rossana Bogorny Heinze é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e Institucional - UFRGS.
E-mail: rossanabheinze@gmail.com

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