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Revista Polis e Psique

versão On-line ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.9 no.spe Porto Alegre  2019

 

ARTIGOS

 

A atenção cartográfica e o gosto pelos problemas

 

The cartographic attention and the taste for problems

 

La atención cartográfica y el gusto por los problemas

 

 

Virgínia Kastrup

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil

 

 


RESUMO

O artigo dá continuidade e amplia a discussão sobre o funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo, colocando o problema da possibilidade de ensinar a atenção cartográfica e a política cognitiva da invenção. Baseado nas ideias de Gilles Deleuze e Félix Guattari, aponta a necessidade de uma aprendizagem inventiva para chegar a uma atenção concentrada e aberta ao plano coletivo de forças. Sugere que as condições de possibilidade de tal aprendizagem podem ser criadas pela prática de contato direto com as forças da matéria que habitam os obj etos do mundo e também pela prática mediada por um professor. Recorrendo ao trabalho de Antoine Hennion sobre a pragmática do gosto, aponta que o professor pode acompanhar o processo do aprendiz, despertando nele o curioso gosto pela experiência de problematização que caracteriza o trabalho do cartógrafo. Em lugar de centrar o ensino na linguagem, trata-se de cultivar e compartilhar processos de problematização, envolvidos na atenção ao mundo e na atenção a si.

Palavras-chave: atenção; Método da Cartografia; experiência de problematização


ABSTRACT

The article continues and broadens the discussion about the functioning of attention in the cartographer's work, posing the problem of the possibility of teaching cartographic attention and the invention's cognitive politics. Based on the ideas of Gilles Deleuze and Félix Guattari, it points out the need of an inventive learning to reach a concentrated and open attention to the collective plan of forces. It suggests that the possibility conditions of such learning can be created by the practice of direct contact with the forces of matter that inhabit the objects of the world and also by the practice mediated by a teacher. Using Antoine Hennion's work on the pragmatics of taste, it points out that the teacher can follow the learner's process, arousing in him the curious taste for the experience of problematization that characterizes the cartographer's work. Instead of focusing the teaching on language, it is about cultivating and sharing problematization processes involved in attention to the world and attention to oneself.

Key words: attention; Cartography Method; problematization experience


RESUMÉN

El artículo continúa y amplía la discusión sobre el funcionamiento de la atención en el trabajo del cartógrafo, planteando el problema de la posibilidad de enseñar la atención cartográfica y la política cognitiva de la invención. Basado en las ideas de Gilles Deleuze y Félix Guattari, el artículo señala la necesidad de un aprendizaje inventivo para alcanzar una atención concentrada y abierta al plano colectivo de fuerzas. Sugiere que las condiciones de posibilidad de tal aprendizaje pueden ser creadas por la práctica del contacto directo con las fuerzas de la materia que habitan los objetos del mundo y también por la práctica mediada por un maestro. Usando el trabajo de Antoine Hennion sobre la pragmática del gusto, señalamos que el maestro puede seguir el proceso del alumno, despertando en él el curioso gusto por la experiencia de problematización que caracteriza el trabajo del cartógrafo. En lugar de centrarse la enseñanza en el lenguaje, se trata de cultivar y compartir procesos de problematización envueltos en la atención al mundo y la atención a si mismo.

Palabras clave: atención; Método de Cartografía; experiencia de problematización


 

 

Vou procurar desenvolver aqui algumas ideias discutidas num texto anterior, onde abordei o funcionamento da atenção no trabalho do cartógrafo (Kastrup, 2009). Naquela ocasião, busquei trazer à cena um problema ainda pouco discutido no domínio da metodologia de pesquisa: a atenção. Em grandes linhas, naquela ocasião foram destacados 4 gestos atencionais que marcam seu funcionamento: o rastreio, o toque, o pouso e o reconhecimento atento. Baseados nas ideias de Deleuze, Bergson, Freud e da pragmática fenomenológica de Depraz, Varela e Vermersch, buscamos apontar que a atenção do cartógrafo não é caracterizada pela busca de solução para problemas dados e tampouco é orientada pelo interesse. É uma atenção ao mesmo tempo concentrada e aberta, que faz inicialmente uma varredura no campo, um rastreio sem alvo pré-definido. Podemos chama-la de flutuante, como sugeriu Freud ao descrever a atenção do analista, ou de uma atenção espalhada e distraída, que vagueia sem ponto de ancoragem fixo. Sem piloto, comando ou controle, ela varre o campo até encontrar algo que, em função do estranhamento gerado, toque a atenção do cartógrafo e coloque um problema. O reconhecimento automático dá então lugar à experiência de problematização. Ele então se detém, pousa a atenção e o tempo cronológico é suspenso - vamos ver o que está acontecendo. Tal gesto constitui um pouso no movimento, e não uma pausa do movimento. Segue-se um processo de reconhecimento atento que, como ressaltou Bergson (1990), opera por circuitos inventivos, que vão produzindo sentidos num movimento sucessivo de retomada dom problema, que fecha sem se esgotar num único sentido ou solução.

Os 4 gestos da atenção - rastreio, toque, pouso e reconhecimento atento -possuem uma única diretriz: o acesso ao plano dos processos de produção de subjetividade e de objetividade, que Deleuze e Guattari (1995) denominam de plano coletivo de forças moventes. Este é entendido como uma dimensão de virtualidade que coexiste com o plano das formas atualizadas e momentaneamente estabilizadas. Estamos aqui no coração da cartografia. Frente a outros métodos de pesquisa-intervenção, a singularidade da cartografia é considerar a existência de uma ontologia das forças e dos processos de produção, que são reiteradamente buscados pela investigação. Daí a formulação de que cartografar é acompanhar processos, e não representar objetos e solucionar problemas (Pozzana e Kastrup, 2009).

Entretanto, conforme apontamos (Kastrup, Tedesco e Passos, 2008) uma investigação que não se baseia na política cognitiva da representação e sim na política cognitiva da invenção não é algo natural ou mesmo trivial. Isto requer aprendizagem. Frente a isto, escolhi discutir aqui hoje alguns aspectos do processo de aprendizagem da atenção que precisa ser corporificada pelo cartógrafo. Como veremos, trata-se aqui de aprendizagem inventiva. As condições de possibilidade podem ser criadas pela prática de contato direto com as forças da matéria que habitam os objetos do mundo e também pela prática mediada por um professor. Sem garantias ou determinismo, daí pode advir uma atenção concentrada e aberta e, enfim, o curioso gosto pela experiência de problematização que caracteriza o trabalho do cartógrafo. Quero falar um pouco dele hoje.

A questão que se coloca é: É possível ensinar a atenção cartográfica? Por onde começar? Como produzir um corpo sensível e atento, necessário ao trabalho do cartógrafo?

Sabemos que colocar o problema da atenção como o de um sujeito que presta atenção a um objeto ou situação é uma posição limitada e mesmo equivocada. Yves Citton (2010), pensando a ecologia da atenção inspirado nas ideias de Félix Guattari, Gilbert Simondon e Daniel Stern, recusa o modelo individualista e aponta que nunca estamos sozinhos quando mobilizamos nossa atenção ou prestamos atenção a alguma coisa. A atenção é sempre constituída por vetores heterogêneos e coletivos - materiais, midiáticos, tecnológicos, políticos, econômicos e estéticos. A atenção não cabe no modelo da representação, que supõe a relação de duas realidades ou polos pré-existentes: o sujeito e o objeto. Ao invés de concebê-la como um processo individual, Citton coloca o problema da potência individuante da atenção e de sua participação nos processos de subjetivação.

Devemos reconhecer que não é possível ensinar teoricamente alguém a ter uma atenção cartográfica - atenção concentrada e aberta, sintonizada no plano de forças e afetos. Por certo a concentração não deve ser confundida com a focalização, com o investimento atencional num foco pré-definido e a abertura tampouco se aproxima da pura dispersão. Há um tônus atencional a ser permanentemente calibrado, evitando os extremos de tensão e de relaxamento. Embora façamos um esforço para descreve-la, tais sutilezas não podem efetivamente ser ensinadas por um professor que transmite informações. O professor pode, todavia, atuar como um mediador, acompanhando a prática do aprendiz de cartógrafo.

Não há um ponto de partida pré-definido para desenvolver uma micropolítica atencional cartográfica. Para aprender, é preciso praticar. Começar pela prática é começar pelo meio, num corpo a corpo com o campo, habitando o território da pesquisa. Segundo Depraz, Varela e Vermersch (2006) a atenção é como um músculo que se exercita. Ela se configura, encorpa e adquire tônus com a prática regular. A formulação dos autores advém da observação da prática de meditação, mas pode ser certamente ampliada para a prática da pesquisa cartográfica.

A pergunta insiste: É possível ensinar a atenção cartográfica? Uma política cognitiva? Sabemos bem que Deleuze (1988) afirma em Diferença e Repetição que nossos verdadeiros mestres não são aqueles que dizem “façam como eu”, mas aqueles que afirmam “faça comigo”. Quando praticado pelo professor, o exercício da atenção aberta à problematização pode ser propagado e, por contágio, chegar a ser compartilhado pelo aluno.

É oportuno lembrar também a comparação que Deleuze faz, ao longo de sua longa entrevista a Claire Parnet, entre dois professores de filosofia que conheceu no Liceu onde estudara: Merleau-Ponty e Monsieur Viale. Os alunos eram encaminhados aleatoriamente para as diferentes turmas e o professor de filosofia de Deleuze era Monsieur Viale. De Merleau-Ponty, Deleuze guarda a lembrança de seu olhar melancólico, olhando de longe os alunos barulhentos brincando no pátio da escola, durante o recreio. Talvez não tivesse interesse pelo seu trabalho, pelas aulas, pelos alunos, buscando se evadir para outro lugar. Talvez ele estivesse pensando: o que estou fazendo aqui, meu deus? De Viale, Deleuze lembra com emoção, gostava muito dele. Era mais velho, falava baixo, mas gostava muito de conversar. Ambos moravam perto, tomavam o mesmo caminho na saída da escola e iam conversando animados. Estabeleceram uma forte relação. Independente da formação intelectual de cada um dos dois, foi Viale que fez com que se confirmasse em Deleuze o desejo do pensamento e o interesse pela filosofia. Foi a atenção conjunta, ou seja, a partilha da atenção em presença, com as características de sintonia afetiva, de reciprocidade e no seio de práticas de improvisação - foi a atenção conjunta que, segundo Deleuze, efetivou condições de possibilidade para o surgimento do gosto pela filosofia.

Voltando à cartografia, não há um curso ou conjunto de disciplinas e textos que deem conta da formação do cartógrafo. Sua formação é o mundo (Pozzana, 2014). No entanto, o acompanhamento de um aprendiz, por meio de um professor mediador, se apresenta como uma estratégia possível, uma dobra promissora. A formação acompanhada surge então como uma espécie de cartografia da cartografia. Ensinar se torna aqui acompanhar um processo de aprendizagem cujo ponto de chegada é marcado pela imprevisibilidade. Colocar o problema, sustentar o problema, desenhar e redesenhar o campo problemático são os desafios.

 

O gosto pela problematização

Vale evocar o interessante trabalho de Antoine Hennion sobre a pragmática do gosto. No campo da aprendizagem, Hennion se dedica a investigar como viemos a gostar de alguma coisa, estudando atividades que não fazem diretamente parte de uma formação profissional - o gosto pela música, pelo vinho ou por um esporte, por exemplo. Sua posição se distingue frontalmente da abordagem sociológica, que enfatiza o caráter socialmente construído e passivo dos objetos do gosto - imitação dos próximos, jogos de identidade e diferenciação, instituições, ritos e crenças. Em seu lugar, propõe uma concepção pragmática do gosto, colocando relevo sobre as práticas concretas, que colocam repetidamente à prova o próprio gosto, por meio de análises sutis das propriedades dos objetos que, longe de serem dadas, devem ser desdobradas - diríamos atualizadas - para que possam ser percebidas.

Hennion reconhece a existência de vetores coletivos em sua produção, mas enfatiza o trabalho de cada um para se tornar sensível às coisas. Articulando aprendizagem e atenção, propõe entender o gosto como um trabalho em torno do vínculo, para se tornar sensível às coisas, a seu corpo e a si mesmo. Para isso, coloca a reflexividade no centro da discussão - reflexividade entendida aqui como atenção a si e atenção à matéria que compõe os objetos do mundo.

Embora Hennion aborde o gosto por atividades não profissionais, como o dos amadores, amantes ou apaixonados, creio que sua argumentação pode lançar luz sobre a circularidade entre a aprendizagem inventiva e a atenção do cartógrafo. Em ambos os casos, não se trata de seguir um plano e chegar a um ponto pré-definido, mas de experimentar o processo. O mais importante é a própria prática. Por isso importam os gestos, as conexões, as passagens, os acoplamentos do corpo com as sutilezas que se desdobram e emanam da matéria.

Outro ponto de aproximação é a importância da preparação, da obstinação, do exercício. Há em ambos um certo prazer no desmanchamento do si mesmo em proveito do gesto e a concentração é a palavra-chave. O gosto não se explica pelas pessoas ou pelas coisas. É a prática reiterada que faz surgir, simultaneamente, num movimento que gostamos de denominar de co-engendramento, as variações infinitas da matéria e a sensibilidade atenta do amante/pesquisador. Tudo depende dos procedimentos, das circunstâncias, de poder perder tempo e também do apoio incerto na observação feita pelos outros - no caso, o professor, o supervisor, ou o próprio grupo de supervisão, por exemplo.

Tudo isso concorre para uma experimentação aberta, para sentir e se sentir (reflexividade). Analisando o caso do vinho, Hennion observa que há uma pequena nuance, que faz toda diferença, entre servir uma taça para quem não dá importância e para quem é um apreciador da bebida. O primeiro toma a taça, dá um gole e continua a conversa. O segundo tem um tempo de parada, caracterizado por um leve movimento dos lábios. Este pequeno gesto introduz uma importante diferença, no sentido em que evidencia uma atenção concentrada e uma presença mais forte do vinho - cada qual reforça a outra, sem que haja uma causa primeira. Neste momento, se estabelece uma leve distância para com o objeto e para consigo mesmo. Abre-se então um parêntese, uma suspensão da ação automática. A atenção se abre e deixa que cheguem as forças da matéria. Trata-se de um contato aberto e interrogativo. Olha! Sente! Hennion denomina momento de reflexividade essa parada que muda tudo. O gosto é, neste sentido, uma atividade reflexiva - não no sentido de reflexão intelectual, mas de espaço e tempo de reverberação e ressonâncias.

Podemos dizer, tendo em conta a circularidade entre a aprendizagem e a atenção na pesquisa cartográfica, que a formaçãodo cartógrafodependedo exercíciocontinuadodesse momento especial e decisivo, por meio de um percurso que se apoia sobre a experiência passada,mas queédiferenciale diferenciante. A linguagem tem por certo um papel, mas de modo algum pode dominar o ensino e a aprendizagem. Não se trata também de defender a prática em detrimento da teoria. Dar aula é uma prática, ler um texto é uma prática. Todavia, a linguagem não pode jamais substituir o corpo a corpo com o campo. Cabe inventar, no trabalho de campo e no trabalho de formação, espaços abertos e um tempo com pausas para o cultivo da experiência atenta, para que a aprendizagem inventiva possa ganhar corpo e para que, em última análise, possa advir o gosto pela problematização. Enfim são algumas ideias para brindar os 20 anos do Programa de pós-graduação de Psicologia Social e Institucional da UFRGS, onde o gosto pela problematização sempre esteve na agenda de professores e estudantes.

 

REFERÊNCIAS

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Virgínia Kastrup é doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP), Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e bolsista PQ do CNPq na área de Psicologia Cognitiva.
E-mail: virginia.kastrup@gmail.com

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