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Revista Polis e Psique

On-line version ISSN 2238-152X

Rev. Polis Psique vol.11 no.2 Porto Alegre May/Aug. 2021

 

ARTIGOS

 

Da loucura aos devires: pequenos paradoxos

 

From madness to becoming: small paradoxes

 

De la locura al devenir: pequeñas paradojas

 

 

Vatsi Meneghel Danilevicz; Marcelo de Almeida Ferreri

Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, SE, Brasil

 

 


RESUMO

Este artigo é um ensaio teórico que navega entre a loucura, em sua faceta macropolítica, e os devires, em suas manifestações desviantes, imperceptíveis e paradoxais. Para tanto, situamos a loucura para, então, fractalizá-la em devires loucos, virtualidades dobradas que levam a reservas de futuro. Concebemos os devires enquanto potências que compõem realidades, por isso, levam à propulsão de forças, aos desvios de rota, aos reencontros entre ficções e não-ficções. Este ensaio apresenta a discussão teórica e conceitual, parte de uma pesquisa cartográfica, na qual priorizamos o percurso em relação às metas preestabelecidas. Apostamos na relação da poética com o conceitual, enquanto possibilidade de romper o uníssono do tempo, despedaçando sua unidade. O texto se movimenta em duas linhas articuladas, quais sejam: loucura e macropolítica; devires loucos e temporalidades. Por fim, colocamos os desafios e contribuições para este campo e lançamos questionamentos ancorados no que foi desenvolvido.

Palavras chave: loucura; devires; ensaio cartográfico; políticas de subjetivação


ABSTRACT

This article is a theoretical essay that navigates between madness, in its macropolitical facet, and becoming, in its deviant, imperceptible and paradoxical manifestations. To do so, we situate madness and then fractalize it into crazy becoming, doubled virtualities that lead to reservations for the future. We conceive the becoming as powers, which make up realities, for this reason, they lead to the propulsion of forces, to deviations in the route, to the reunions between fictions and non-fictions. This essay presents the theoretical and conceptual discussion, part of a cartographic research, in which we prioritize the path in relation to the pre-established finality. We bet on the relationship of the poetic with the conceptual, as a possibility to break the unison of time, shattering its unity. The text moves in two articulated lines, namely: madness and macropolitics; crazy becoming and virtualities. Finally, we present the challenges and contributions to this field and launch questions based on what has been developed.

Keywords: madness; becoming; cartographic essay; political subjectivity


RESUMEN

Este artículo es un ensayo teórico que navega entre la locura, en su faceta macropolítica, y el devenir, en sus manifestaciones desviadas, imperceptibles y paradójicas. Para ello, situamos la locura y luego la fractalizamos en un devenir loco, virtualidades duplicadas que nos llevan a reservas para el futuro. Concebimos los devenires, que componen realidades, por esta razón, conducen a la propulsión de fuerzas, a desvíos en la ruta, a las reuniones entre ficciones y no ficciones. Este ensayo presenta la discusión teórica y conceptual, parte de una investigación cartográfica, en la que priorizamos el camino en relación con los objetivos preestablecidos. Apostamos por la relación de lo poético con lo conceptual, como una posibilidad de romper el unísono del tiempo, rompiendo su unidad. El texto se mueve en dos líneas articuladas, a saber: locura y macropolítica; devenires locos y virtualidades. Finalmente, presentamos los desafíos y aportes en este campo y lanzamos preguntas en base a lo desarrollado.

Palabras clave: locura; devenires; ensayo cartográfico; políticas de subjetivación


 

 

Introdução

A proposta deste trabalho é multiplicar linhas desejantes, em potências de futuro, no limiar do pensamento e da loucura ali onde vivem os conceitos. Por este motivo, optamos por uma linguagem poética. Poética, de sua origem poiesis, é fazer, é inventar, é, portanto, a possibilidade da palavra plural, que abarca a alteridade em sua criação. "Poesia é a arte de fraturar a linguagem, de quebrar as aparências, de desunir a unidade do tempo" (Didi-Huberman, 2011, p.70).

Sentir o entorno nos constitui, assim como nossas ciências, artes e filosofias são matérias a se considerar na criação desse entorno. Considerare é a palavra que designa fitar com atenção os astros e mapear suas trajetórias siderais, em português, considerar. Acontece que a palavra ganhou tempo e extensão; assim como o astrônomo considerava os astros, nós consideramos nossos mundos. Deste movimento astral no universo, surge outra palavra, desiderare, que pode ser entendida como aquilo que foge do movimento previsto, provoca desvios na rota, é a raiz etimológica de desejar. O desejo aqui é concebido como movimento, devir, desvio, política.

A esquizoanálise, segundo Guattari e Rolnik (2007), propõe que o desejo está em múltiplas encruzilhadas de fluxos, descolonizando a psicanálise clássica que tem foco em suas interrupções, transferências e interpretações. Pois então, desejantes, somos furtados do traçado repetido e determinado, desviantes, pervertemos os fluxos e movimentos previsíveis. Criamos novas rotas quando desejamos. Aqui escrevemos pensando em considerar e desejar devires em territórios movediços, entornos efêmeros atravessados por linhas de força que devém no corpo em movimentos inesperados, desviantes e polissêmicos.

O ensaio teórico nasceu de um projeto cartográfico sobre o desenho dos territórios da loucura enquanto experiência em serviços de saúde mental. Buscávamos praticar uma clínica sem controle sobre os corpos, uma clínica desviante, ou melhor, uma clínica-desvio. A gênese disso era democratizar informações e ampliar a autonomia das pessoas em sua ipseidade, isto é, em sua singularidade concreta. A oportunidade que se evidenciava era o reconhecimento da alteridade enquanto potência para propulsão de vida reorientando modelos macropolíticos, para resistir à perspectiva individualista em um contexto de restrição de direitos, que levavam à rigidez de pensamento e ao adoecimento psíquico. Neste contexto, não apenas a racionalidade biomédica exercia tensões para gestão populacional, mas também se operava no poder sobre existências invisíveis, que só apareciam em pequenos fragmentos de vida.

Seguindo a mesma lógica, percebíamos que as capturas de subjetividades também propulsionavam resistências necessariamente ativas na criação de novas subjetividades, possibilitando a invenção de outras maneiras de ser no mundo enquanto exercício ético-político da liberdade. Restos de desejo de caráter relacional, pragmático e reconstrutivo das intersubjetividades micropolíticas foram pensados como uma perspectiva etológica que teria foco no invisível, inaudível, nas tensões entre o humano e o não-humano em ressonâncias de afetos, atuando em afirmação de pulsões paradoxais.

Foi assim, nessa afirmação do desejo-desvio, que a busca conceitual para delinear um percurso da loucura na clínica nos levou aos devires. Devir, pois é a latência do desejo em infinitos sentidos, por isso, é necessariamente sutil, sensível, outro, tudo que produz múltiplas linhas de fuga ou linhas imperceptíveis, moleculares, que escapam das "organizações binárias" e da centralização totalitária (Deleuze & Guattari, 2012, p. 103) sem se cristalizar em uma identidade, sem importar quais características, mas seus modos de expansão e contágio (Deleuze & Guattari, 2012). Devires são, portanto, infinitos desvios de rota. O inesperado que conduz a desvios no limite do dizível, nas fronteiras entre filosofia e arte, ali onde nos perguntamos se o que pensamos ainda é psicologia. Este movimento seria o que Deleuze descreve, no texto a Ilha deserta, nas seguintes palavras: "O movimento mais desterritorializado chama-se vetor louco. É o roxo. O inconsciente é roxo, ou o será." (Deleuze, 2004, p. 208). Uma certa tonalidade de roxo é o azul e é o vermelho, sem ser azul nem vermelho. A cor da mistura é o fluxo do rizoma, assim o rizoma é múltiplo, o vetor louco é múltiplo, é devir. Rizoma é a imagem do pensamento, um sistema de derivações infinitas em conexões transversais e horizontalizadas. Diferentemente dos sistemas estruturais arborescentes, que se estruturam em caule e segmentos verticalizados, a imagem do rizoma se assemelha à imagem de rede, da grama e da teia não concêntrica (Deleuze & Guattari, 2012)

Navegamos da loucura ao devir, pois foi justo a pluralidade de ambos que durou e segue reverberando no corpo deste texto. Esse movimento de desinstitucionalizar a loucura em si, quebrar os cristais que se sedimentaram no percurso de psicóloga proporcionou multiplicar caminhos despatologizantes. Em outras palavras, reencontramos naquele encanto pelo desvio, o que lhe é incapturável: o vetor louco que também é rizoma, o delírio que também é pensamento, a imagem que também é devir. Foi neste momento que percebemos que não necessariamente existe uma loucura. Mas, então, o que se devém quando louco? Por que não a paradoxal experiência daquilo que chamamos de normalidade que desvia da rota prevista como os astros desviam inexplicavelmente? Os anormais, então, são paradoxos, devires-loucos reverberando em eternos instantes. Assim seguimos, mais desterritorializados do que antes, sem pressupor terapêuticas, sem capturar a existência na face útil dos diagnósticos. E percebemos que existem devires imperceptíveis que se manifestam pelo mundo em múltiplas composições coletivas entre os corpos, algo que grita através do corpo que escreve, algo sem direção, uma certa reserva de desejo ou de futuro.

Existem modos de (des)subjetivação que nos levam a coisas inventadas, e, justamente por isso, inventamos outras coisas, outras palavras, simplesmente mudando de rota. Pensamos em um devir-outro, sempre paradoxal, mutante, quase desconsiderado enquanto gérmen que rompe o concreto, e, inesperadamente, irradia em roxo. O acontecimento que a leitura-escrita proporciona não é, senão desvio. Do projeto embrionário, o desvio se manteve. Antes na clínica, etimologicamente klinamen, desvio que bifurca caminhos, para então o desvio em devires, aquilo que é incapturável e, por isso, arde em perguntas. Em outras palavras: "Quando uma constelação conceitual já parecia acomodar-se, de pronto nos vemos forçados a recuar como caranguejos, para retomar o conjunto a partir de um lugar que já se anunciava como central, porém ao modo de um ponto cego, enigmático" (Pelbart, 1998 p.122). Assim, o objetivo deste ensaio é propor uma travessia da loucura aos devires loucos, especificamente, atentar para os pequenos paradoxos deste percurso. Seguir ao modo da dessubjetivação para subjetivações outras que permitam escape de capturas, configurações no avesso das formas, dobras do pensamento que intensifiquem tentativas ético-políticas em favor da liberdade.

 

Na fronteira entre o filosófico e o poético, um ensaio cartográfico

A metodologia cartográfica permite, e só existe se, inventar-se. Assim, a errância inventiva é um dos instrumentos de pesquisa, pois não objetiva resolver problemas, porém criá-los na medida em que produz aberturas para percepção de mundos. Este ensaio, entendido como linha conceitual entre ficção e não ficção, faz parte do corpo da escrita de uma cartografia que compõe uma dissertação de mestrado.

O ensaio seria o ponto de passagem entre o não ficcional e o ficcional, e inversamente. Traz em si a proposta de escrita polifônica que intercala velocidades, densidades, fluxos e distâncias, que são compostas por uma antologia existencial. Enfim, "criemos palavras extraordinárias, com a condição de usá-las da maneira mais ordinária, e de fazer existir a entidade que elas designam do mesmo modo que o objeto mais comum", sinalizaram Deleuze & Parnet (1998, p.4). Feito rio, cores se misturam em tons de roxo, opostos se amalgamam, sem se desfazer, mas a compor o fluxo, a expandir suas margens. Assim criamos palavras para, simplesmente, desmanchá-las em vertentes de um riacho, onde "um devir se delineia, um bloco, que já não é de ninguém, mas está "entre" todo mundo, se põe em movimento como um barquinho que crianças largam e perdem e que outros roubam onde se rouba um barquinho de papel" (Deleuze & Parnet, 1998, p.9).

A opção pelo método cartográfico exprime a mescla fronteiriça entre escrita filosófica e poética: entre conceitos e agregados sensíveis. Em outras palavras, a escrita acontece em zonas intersticiais, produzindo desvios naquilo que contempla. Desta maneira, o campo problemático que se apresenta dialoga (in)diretamente com os modos de viver dos pesquisadores. Dois psicólogos que são propulsionados pelos desvios e pela invenção, da clínica aos campos de pesquisa, sem nem perceber como se passa de um ao outro, tendo em vista que a complexidade de mundos em que vivemos é infinitamente paradoxal.

A escolha do método cartográfico se dá pela possibilidade de escrita como um intercessor, força externa que obriga o pensamento a sair de sua imobilidade, ou seja, provoca deslocamentos e encontros (Deleuze, 1988), sem início nem fim, uma experiência sui generis que permite captar o inexprimível e o inapreensível e deslocá-los, reterritorializando palavras. Enfim, se a ciência se constitui pela decantação de fantasias, a cartografia é justamente revolver o solo deixando-as flutuar como partículas em águas ora diáfanas, ora turvas. Marca-se aqui a perspectiva epistemológica circunscrita ao campo de discussão esquizoanalítico. Neste sentido, Deleuze & Guattari apontam que por incidir sobre a "análise do desejo, a esquizoanálise é imediatamente prática, imediatamente política, quer se trate de um indivíduo, de um grupo ou de uma sociedade" (Deleuze & Guattari, 2012, p.85).

O problema de pesquisa se coloca, não a priori, mas por sua duração (Deleuze, 1999), isto é, aquele que perdura ao longo da pesquisa não como hipótese prévia, mas por sua intensidade. Para Lapoujade, em relação à duração bergsoniana: "apenas através das emoções é que somos seres que duram" (Lapoujade, 2017, p.11). O problema que dura, então, é aquele capaz de emocionar. Precisamente aqui, nas emoções, duração e fluxo se transpassam. Sobre elas, conclui Didi-Huberman: "As emoções têm um poder - ou são um poder - de transformação. Transformação da memória em desejo, do passado em futuro" (Didi-Huberman, 2013, p. 44).

No contexto de pesquisa, Passos e Kastrup (2013) discorrem sobre a importância de redesenhar o problema ao longo da pesquisa em hodos-meta (ao invés de meta-hodos: métodos). Dessa maneira se prioriza o percurso (hodos) às metas preestabelecidas, trata-se daquilo que surge ao mover-se. Para Pelbart, esse espaço-tempo da pesquisa é um processo de criação em movimento, em suas palavras: "Não se trata de encontrar o que já existe, nem mesmo o que se procura, mas de criar através desse vagar aquilo que se encontra" (Pelbart, 2016, p. 300). Apostamos na relação da poética com o conceitual, sem fronteiras entre sujeito-objeto, enquanto possibilidade de romper o tempo, despedaçando sua linearidade em estilhaços de intensidades.

Então, não se trata de institucionalizar o saber, mas confluir saberes distintos sem separar forma e conteúdo pretendendo atingir determinada pureza ou perfeição. Ao invés disso, utilizar o ensaio como método é habitar um espaço que Adorno chamaria de "um lugar entre os despropósitos" (Adorno, 2003, p.17). O autor considera a duplicidade do ensaio, porque ele conjuga racionalidade científica com nuances de criação artística e de transformação do próprio autor do texto.

O ensaio como forma, deve conectar o pensamento conceitual e certa intuição estética. Assim, ele permanece entre arte e ciência. Além disso, ao explicitar um posicionamento crítico se constitui como um ato subversivo em relação ao status quo. Neste ensaio, seguimos o percurso de pensar loucuras plurais para chegar aos devires em enunciação apostando no devir-louco como uma potência para desfragmentar a unidade do futuro. Desse modo, este itinerário cartográfico é feito a partir de duas linhas principais: Loucura: da desrazão ao vetor louco, situando o leitor nos conceitos de loucura utilizados na macro e micropolítica, destacando a polifonia do conceito e desencapsulando a sua potência em devires; e em uma segunda linha, que parte dos conceitos e reflexões sobre devires para imaginar, fabular o devir-louco, enquanto uma dupla captura, isto é, a inflexão do encontro que desfaz o ser o levando a devir-outro. A aposta é que nessa dobra de virtualidade, encontramos uma reserva de futuro.

 

Loucura: da macropolítica à lembrança de uma molécula

Um traço intensivo começa a trabalhar por sua conta, uma percepção alucinatória, uma sinestesia, uma mutação perversa, um jogo de imagens se destacam e a hegemonia do significante é recolocada em questão. (...) Um acontecimento microscópico estremece o equilíbrio do poder local (Deleuze & Guattari, 2011, p. 33-34)

Historicamente, os paradigmas biomédicos encontraram nos corpos um lugar de política, coerção e desejo, simultaneamente. A essa rede de poder que se estabelece entre as pessoas e instituições, que se imprime nos corpos e se exprime em discursividade, Foucault (2008a) nomeia como biopoder. Embora o conceito tenha nascido das ciências humanas, houve uma migração para o campo da saúde, onde se ancorou no poder-saber do desenvolvimento humano e na prescrição de comportamentos (Silva, 2001). A loucura, assim como a saúde, seria certa latitude (Safatle, 2015). Um ponto inscrito no mapa. Acontece que este ponto se movimenta e se relaciona com outros pontos em movimento, formando linhas erráticas, linhas de força em um campo relacional. A proposta, aqui, é pensar a loucura rompendo a lógica de conceito-sintoma (Benevides & Passos, 2005), aquele que reproduz um sentido já dado e alheio a sua origem hermenêutica. Nessa perspectiva sintomática da palavra, a clínica se restringe aos procedimentos técnicos empregados em manter a vida ou atenuar o sofrimento dos desgastes existenciais.

Para Deleuze, durante muito tempo a psiquiatria foi uma disciplina normativa, falando em nome da razão, da autoridade e do direito, numa dupla relação com os asilos e os tribunais. (Deleuze, 2004, p.188). Se pensássemos dialeticamente, a loucura macropolítica poderia situar-se no polo da desrazão, contrapondo-se, evidentemente à razão externa, que lhe atribui verdades, realidades, diagnósticos. Este seria um dos paradoxos, o da verdade: "Existe na não-razão da loucura, a razão do retorno" (Foucault, 2008b, p.513), pois nenhuma razão jamais irá esgotar a desrazão dos insensatos, não há perda abstrata da razão, apenas sua implacável contradição. Mas há outro, o paradoxo da liberdade, como bem assinala Foucault: "O louco doravante está livre, e excluído da liberdade. Outrora ele era livre durante o momento em que começava a perder sua liberdade; é livre agora no amplo espaço em que já a perdeu" (Foucault, 2008b, p.508), em História da Loucura, o autor discorre sobre uma liberdade que não está no horizonte, mas manifesta nas determinações reais de um recomeçar absoluto, em certo lirismo do desatino, misturando o discurso delirante ao discurso onírico. Em suas palavras:

"Assim, no discurso comum ao delírio e ao sonho, são reunidas a possibilidade de um lirismo do desejo e a possibilidade de uma poesia do mundo; uma vez que a loucura e sonho são simultaneamente o momento da extrema subjetividade e o da irônica objetividade, não há aqui nenhuma contradição: a poesia do coração, na solidão final e exasperada de seu lirismo, se revela, através de uma imediata reviravolta, como o canto primitivo das coisas; e o mundo, durante tanto tempo silencioso face ao tumulto do coração, aí reencontra suas vozes." (Foucault, 2008b, p.510)

Sonho, razão, desrazão e delírio: como multiplicar dimensões? Como avaliar que rupturas foram causadas ao delirar o mundo? Como conceder à loucura o tempo que não dispomos? Como se aproximar de quem vive em instantaneidade, sem garantia da continuidade temporal? Para Pelbart, a psicose é como se estivesse em um tempo antes do tempo, sem contorno sequer para o vazio, em um lugar sem lembrar, esquecer ou surgir. Para o Pelbart, "há na loucura um sofrimento que é da ordem da desencarnação, da atemporalidade, de uma eternidade vazia, de uma a historicidade, de uma existência sem concretude (ou com um excesso de concretude), sem começo nem fim" (Pelbart, 1993, p. 20), eis outro pequeno paradoxo, a concretude demasiada e insuficiente.

Podemos considerar, até aqui, que a leitura paradoxal se faz em perspectivas majoritariamente macropolíticas, remetendo às tensões que o biopoder exerce nos corpos. Assim como as instituições de saber sobreimplicam as subjetividades que capturam em diferentes proporções. Foi assim a experiência de Foucault desenvolvida em História da Loucura, ou as digressões filosóficas de Pelbart sobre seus escritos da loucura institucionalizada. Existe uma elaboração crítica às instituições em caráter de denúncia destas organizações, ainda que nem sempre explícito, ambos partem delas para apontar caminhos micropolíticos, seja nos sonhos ou no borrar as bordas do tempo, anunciando, assim, mundos por vir.

Embora possamos fazer um exercício didático separando macro e micropolítica, elas são apenas dois planos de ser, inseparáveis porque "o que há nos corpos, na profundidade dos corpos, são misturas: um corpo penetra outro e coexiste com ele em todas as suas partes" (Deleuze, 2009, p.6). O plano dos fatos institucionais, digamos assim, se mistura à multiplicidade infinita de seres incorporais, de onde emergem devires. Temporalidades rizomáticas, modos de desistência, a lembrança de uma molécula, paradoxos temporais, devir-caótico. Cada vez mais a fronteira entre sujeito e objeto é transpassada e aqueles que eram compreendidos, até então, como objetos, reivindicam meios próprios de expressão (Pelbart, 2013). A escrita, sempre inacabada, almeja um devir-ilimitado. Porém, a vida esquiva em novas estilísticas da existência, tensiona o pensamento a se tornar matéria ética, exprime-se. Assim, o sentido nos ultrapassa, é preciso devir-outro, devir-mundo, devir-louco.

 

Devir-louco: paradoxo do tempo

Produzir novos infinitos a partir de um mergulho na finitude sensível, infinitos não apenas carregados de virtualidade, mas também de potencialidades atualizáveis em situação, se demarcando ou contornando os Universais repertoriados pelas artes, pela filosofia, pela psicanálise tradicionais... devires intensivos e processuais, um novo amor pelo desconhecido (Guattari, 1992, p. 147).

Há diversas maneiras de situar o devir, desde a filosofia clássica até o contemporâneo. Neste ensaio, não nos deteremos no trajeto ontológico dos devires, ainda que ontologia e devir estejam profundamente imbricados. Para Vasconcellos (2017), há, na filosofia da diferença uma ontologia do devir, que se lança em contraposição à filosofia platônica das representações, e se desenvolve em uma ontologia não-metafísica, fundamentada na repetição da diferença. Em suma, "A repetição da diferença é o próprio Ser. Um ser imanente e em permanente devir (Vasconcellos, 2017, p.151). Aqui esta relação entre devir e ontologia se coloca devido a sua potente conexão com os mundos desviantes e por vir. Portanto, não nos demoraremos na discussão ontológica em si, mas na diferença que se produz através de sua implicação no plano da imanência1 conjugando tempos. Trata-se de discorrer sobre a multiplicidade intrínseca do devir que é um conceito-chave no processo da pesquisa e de práxis. Se perceber é ver menos (Deleuze, 1996), assim, buscaremos moléculas imperceptíveis, "devires roxos", o vetor louco: a inflexão de um devir-louco. Em um processo de "substituir a anamnese pelo esquecimento, a interpretação pela experimentação" (Deleuze & Guattari, 2012, p.13).

A concepção de devir está imbricada às multiplicidades que engendra no plano de imanência. Devir é uma abertura ao desconhecido a partir do sensível, manifesta-se no corpo como força desejante, encontra-se com temporalidades "subdividindo o instante ao infinito" (PELBART, 1998, p. 71). A dupla enunciação proposta por Guattari (1992), finitude do território corporal e infinitude de virtualidade2 que o extrapola, indica que os devires são fluxos produzidos entre caos e acasos. Ainda, de outro modo, o eu é o contrário do fluxo, pois repele os movimentos paradoxais da existência, segmentando identidades. O eu individual consolida suas relações em dicotomias, pautado na linguagem binária: indivíduo ou sociedade, sujeito ou objeto, dentro ou fora, homem ou mulher, heterossexual ou homossexual, e assim sucessivamente. Dessa maneira, grupos identitários são criados aglutinando semelhanças e segmentando diferenças. Para Deleuze, em contrapartida, enunciações expressam as relações de forças inerentes ao processo de combate-entre que dá vazão ao viver conjugando sentidos plurais. Em suas palavras: "O combate-entre é o processo pelo qual uma força se enriquece ao se apossar de outras forças somando-se a elas num novo conjunto, num devir" (Deleuze, 1997, p. 170). Seria, então, a partir da despossessão do eu que se chegaria aos tremores e às vibrações de caminhos múltiplos e dos devires.

Para Heráclito, nada é imóvel, tudo se encontra em devir como uma metamorfose perpétua, na qual, necessariamente, coexistem contradições situadas em um tempo não linear. Entre os filósofos inspirados em Heráclito, como Hegel, tem-se no devir o fundamento da história do ser como a síntese das contradições (Durozoi & Roussel, 1993). A escolha deste conceito se deve por sua riqueza de enunciações possíveis no campo da escrita e criação e no entendimento da loucura como experiência plural. Assim como a possibilidade de perceber fluxos ilimitados atravessando os corpos coletivos, ampliando territórios e modos de devir-mundo.

O devir-louco é intrinsecamente paradoxal: "É preciso ser dois para ser louco, somos sempre loucos em dupla, ambos se tornam loucos no dia em que massacraram o tempo, isto é, destruíram a medida, suprimiram as paradas e os repousos que referem a qualidade a alguma coisa de fixo" (Deleuze, 2009, p.110). Devir-louco é existir dobrado, pois inverte dentro em fora, passado em futuro, regras em fluxos, atualidades em virtualidades2. Talvez por isso, até mesmo a carta do tarot, o louco, é a primeira e a última, não é início nem fim, sendo ambos. Sua força é justamente a proximidade com a criação de novas semânticas, multiplicando os sentidos do informe.

Apresenta-se o paradoxo do tempo cronológico destituído pela loucura que subverte o instante por rupturas de Aion3. Aion era o presente que fazia jorrar de dentro de si o tempo enquanto linha de força, tempo da criação que, por sua intensidade, rompia Cronos. Aion é o tempo intempestivo, remete às virtualidades e devires-intensos, um ponto que irrompe em caos-germe sempre em suspensão (Pelbart, 1993, p.36), por isso: "Que diferença há entre este Aion e devir-louco das profundidades que derrubava já Cronos no seu próprio domínio?" (Deleuze, 2009, p.169). Além do tempo da duração e o da intensidade, há Kairós, o tempo do insight, a conjugação entre tempo-lugar, o tempo da oportunidade, que propicia inversão de Cronos em Aion, no momento decisivo do vínculo (Zambillo & Frichembruder, 2017). As temporalidades provocam rupturas e alongamentos, mas também configuram mundos e entremundos. Assim como o rizoma fica sempre no entre, assim Kairós permite esse agenciamento entre os tempos e os mundos.

Sobre o devir-louco, Pelbart (1989) escreve o quanto a relação do delírio e da sabedoria é surpreendente, na medida em que fissura a consciência irrompendo uma nova ordem. Questiona se seria, então, possível pensar sem enlouquecer. Esta é a relação fundamental, o limiar entre o pensamento e a loucura, produzindo linhas de fuga. Sobre essa relação pensamento e loucura, Pelbart cria um campo de saber de excesso e de falta simultâneas nesse lugar fora de lugar: o caos, lugar metafórico que organiza a desorganização. Esse devir-louco escancara a dobra4, tornando-se insular e, paradoxalmente, aproxima extremos: o devir-louco é o dentro do fora e fora do dentro.

Para Deleuze e Parnet (1998), "devires são geografias, orientações, dupla captura, futuro e passado, uma evolução a-paralela de dois seres que não têm absolutamente nada a ver um com o outro..." Assim, o devir-orquídea da vespa e o devir-vespa da orquídea são núpcias, sem imitação, sem fingimento, apenas um encontro de linhas. Assim, inumeráveis devires são possíveis em segmentos de universo, em antimemória que faz a linha se libertar do ponto, do corpo, a linha que prefere devir infinito entre tempos.

Assim como a vespa não é a orquídea quando devém orquídea, os corpos não são o louco quando devém loucos, não são o outro quando devém outros... Nesse contexto, o devir-louco se situa no encontro a-paralelo com a loucura, e, assim, a louco já não está lá, pois devém partícula, devém mulher, devém infinitos. Assim, movimenta-se a força de devir, como um traço que simplesmente vibra pelo mundo. No encontro com o louco, podemos experimentar um devir-louco irrompendo em Cronos, devindo Aion na finitude sensível, lá encontraremos um devir em desvios de norma, nesta medida, resta da loucura o traço que estremece o equilíbrio do poder local. O mesmo traço que inflexiona passado e futuro, irrompe caótico, desvia a rota, tensiona a memória a tornar-se matéria e a matéria a tornar-se futuro. Aí reside a potência de pensar o devir- louco pluralizando delírios, dobrando suas linhas categóricas, saindo de si mesmo para existir em cada um que encontra, deixando de estar lá, perdendo-se nas vertentes da chuva como um barquinho de papel.

 

Considerações finais

Fascina-nos o conceito de devir, porém, quando parece que o compreendemos, ele escapa por algum lugar. Nessa sensação mora sua potência de transformar, justamente por não permitir que seja plenamente capturado ou empregado como uma resposta pronta para questões complexas. Apostamos que com este ensaio tenhamos lançado algumas questões sobre a loucura macropolítica, experenciada enquanto convergência entre saúde mental e filosofia da diferença. O devir entra em cena como articulador dos paradoxos implícitos no que seria um delírio, um tempo, um sonho, um encontro. Devires imperceptíveis e devires loucos se encontram no paradoxo de um sonho-delírio como escreve Foucault, no qual subjetividade e objetividade se contemplam. Também se encontram, quando, por acasos, o tempo não dura, a intensidade tropeça, resta kairós, conjugação entre tempos entre lugares, uma rachadura oportuna por onde passam restos de luz. Não há certeza de que estes encontros tenham ocorrido, tampouco neste ensaio teórico temos a pretensão de ter certezas, ou dar conta dos infinitos entrecruzamentos possíveis entre os conceitos e seus respectivos campos teóricos, mas que, a partir desta aproximação, outros elementos se desloquem da rota prevista.

 

Notas de rodapé

1 Plano de imanência é um plano de forças ou um plano de consistência. Dir-se-ia que a pura imanência é uma vida. Assim sendo, este plano é essencialmente singular, está para além da moral, é onde tudo nasce, inclusive a transcendência (Deleuze, 2002).

2 Virtual e atual são conceitos que se engendram na filosofia, teoria das multiplicidades, para compor o plano de imanência. O atual estaria para o objeto como o virtual para as imagens, embora nenhum seja puramente uma dimensão, mas ambas em coexistência. Dessa maneira, o virtual se atualiza no presente e o atual se cristaliza em virtualidade de passado ou futuro ambos se atualizando em presente (Deleuze & Parnet, 1998).

3 Cronos e Aion: o primeiro é presente profundo que mede a ação dos corpos e das causas, no qual passado e futuro se referenciam. Cronos tem o presente enquanto medida de todas as coisas e de todos os corpos. Para subverter Cronos, apenas o inesperado Aion, puro instante transgressor, no qual o presente não existe senão em infinitas rupturas de passado e de futuro. (Pelbart, 1998)

4 Dobra é a forma dos processos de subjetivação. Para Deleuze (1988), os sujeitos são dobrados em relação a si, em relação a suas regras singulares, em relação a regimes de verdades e em relação ao mundo.

 

Referências

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Submissão: 19/05/2020
1° avaliação: 21/10/2020
1° avaliação: 25/11/2020
Aceite: 27/11/2020

 

 

Vatsi Meneghel Danilevicz é mestranda em Psicologia Social pela Universidade Federal de Sergipe. Além disso, é também bolsista Cnpq.
E-mail: vdanilevicz@gmail.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-0277-8353
Marcelo de Almeida Ferreri é professor associado do Departamento de Psicologia na Universidade Federal do Sergipe.
E-mail: marceloferreri@uol.com.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-7562-8124

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