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Analytica: Revista de Psicanálise

versão On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.3 no.5 São João del Rei dez. 2014

 

ARTIGOS

 

Aproximações e distinções entre os autismos e as psicoses em crianças: condições da alienação à linguagem

 

Approximations and distinctions between autisms and infantile psychosis: conditions to the alienation to language

 

Approximations et distinctions entre autismes et psychoses infantile: conditions de l'alienation au langage

 

Aproximaciones y distinciones entre los autismos y las psicosis en niños: condiciones de alienación en el lenguaje

 

 

Vanessa Gama Pozzato*; Angela Maria Resende Vorcaro I**

I Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo se propõe a melhor compreender essa diversidade clínica por vezes nomeada como psicose e noutras vezes como autismo, pontuando algumas aproximações e distinções existentes entre os dois quadros. Para isso, nos valeremos da noção lacaniana de alienação, que se refere a uma operação constitutiva do sujeito, e veremos como diversos psicanalistas teorizam sobre essas psicopatologias a partir desse referencial. Concluiremos reafirmando a importância de distinguir os autismos das psicoses para a direção do tratamento.

Palavras-chave: Psicanálise; psicoses; autismos; alienação; tratamento.


ABSTRACT

This article proposes a better understanding of the clinical diversity often named as psychosis and, at times, as autism, punctuating some approximations and distinctions between the two categories. In order to do so, we will make use of the Lacanian notion of alienation, which is referred to an operation that is constitutive of the subject. In addition, we will review the theoretical elaborations of many psychoanalysts who deal with psychopathologies from this standpoint. We will conclude by reasserting the importance of distinguishing autisms and psychosis in treatment's direction.

Keywords: Psychoanalysis; psychosis; autisms; treatment.


RÉSUMÉ

Cet article propose une meilleure compréhension de la diversité clinique souvent nommée comme psychose et, parfois, comme autisme, en ponctuant certaines approximations et distinctions entre les deux catégories. Pour ce faire, nous utiliseront la notion lacanienne d'aliénation, qui fait référence à une opération constitutive du sujet. En outre, nous passerons en revue les élaborations théoriques de nombreux psychanalystes qui s'occupent de ces psychopathologies dans cette perspective. Nous conclurons en réaffirmant l'importance de distinguer les autismes de les psychoses au cours de la direction du traitement.

Mots-clé: Psychanalyse; psychose; autisme; traitement.


RESUMEN

Este artigo propone mejor entender la diversidad clínica a veces nombrada como psicosis, otras veces como autismo, puntuando algunas aproximaciones y distinciones existentes entre los dos cuadros. Para tanto, tomaremos la noción lacaniana de alienación, que se refiere a una operación constitutiva del sujeto. Revisaremos la elaboración teórica de diversos psicoanalistas sobre las patologías con base en ese referencial. En conclusión, reafirmamos la importancia de distinguir los autismos de las psicosis para la dirección del tratamiento.

Palabras claves: Psicoanálisis; psicosis; autismos; alienación; tratamiento.


 

 

Na tentativa de melhor compreender essa diversidade clínica por vezes nomeada como psicose e noutras vezes como autismo, pontuamos algumas aproximações e distinções existentes entre os dois quadros, particularmente em relação à maneira como se dá a alienação - operação constitutiva do sujeito - em cada um deles, partindo dos trabalhos de diversos psicanalistas relativos ao tema que têm como orientação a teoria lacaniana.

As denominações de psicoses e de autismos em crianças, na psicanálise, têm como via prévia um longo caminho percorrido pela psiquiatria clássica, seja na tentativa de abarcar em um mesmo quadro de retardo mental todas as condições subjetivas em crianças, seja estabelecendo correspondência unívoca com os quadros de adultos, ou seja, tentando cernir especificidades de quadros psicopatológicos na infância a partir da influência da psicanálise (Bercherie, 2001). A trajetória traçada pela determinação diagnóstica orientou as primeiras diferenciações até culminar com a descrição feita por Kanner (1943/1997) a respeito da síndrome do autismo, num texto intitulado "Distúrbios autísticos de contato afetivo", que diferenciaria os autismos da esquizofrenia infantil.

Lacan nos deixou algumas menções feitas sobre a psicose e o autismo, ao construir sua hipótese sobre a linguagem como condição do inconsciente, considerando a clínica de seus alunos (Dolto, Manonni e Lefort) e de seus contemporâneos (Winnicott e Klein). Entre elas citamos o texto "Os complexos familiares" (Lacan, 1938/2003), no qual o autor aponta que a ausência do pai implica num grupo familiar desfalcado, que se torna favorável à eclosão das psicoses. A análise do caso Roberto, descrito por Rosine Lefort no Seminário 1 (Lacan, 1953-54/1986), por meio do qual Lacan aborda a questão do diagnóstico da esquizofrenia na criança. A discussão do caso Dick, analisado por Melanie Klein, na qual Lacan (1953-54/1986) critica a analista por ter negligenciado o significante ao tratar do simbolismo, pois considera que a função do simbólico no sujeito não se reduz à significação, mas está organizada a partir dos significantes. Questiona, ainda, o diagnóstico de esquizofrenia feito por Klein a respeito de Dick, limitando-se a nomeá-lo como o estado de um ego não constituído. No Seminário 2, Lacan (1954-55/1985) problematiza a psicose infantil a partir dos problemas levantados pelo estabelecimento de um diagnóstico, dizendo da indefinição a respeito da psicose na criança e, ainda, da importância de distingui-la da psicose do adulto. Em seu Seminário 10, Lacan (1962-63/2005) aborda a psicose infantil, dizendo que "A mãe do esquizofrênico articula sobre o que seu filho era para ela no momento em que estava em seu ventre - nada além de um corpo, inversamente cômodo ou incômodo, a subjetivação do a como puro real" (p. 133). No Seminário 11 (Lacan, 1964/1998), o autor explicita que a solidificação da primeira dupla de significantes implicará em especificidades para a condição subjetiva, em que "temos o modelo de toda uma série de casos, ainda que, em cada um, o sujeito não ocupe o mesmo lugar" (p. 225). Lacan faz ainda referência a um trabalho de Maud Mannoni, destinado a retirar o psicótico do lugar do débil. Em 1969, no texto "Nota sobre a criança", Lacan (2003) diz que a família exerce importante influência na constituição subjetiva da criança, na medida em que a relaciona com um desejo que não seja anônimo. Articula o sintoma da criança ao que há de sintomático na estrutura familiar, nos casos em que ele representa a verdade do casal familiar. Numa conferência intitulada "O sintoma", Lacan (1975/1998) faz uma aproximação entre o autista e o esquizofrênico quando denomina a criança de esquizofrênico ou autista. Essa vizinhança entre as duas patologias também foi mencionada na série enumerada pelo autor e destacada por um de seus interlocutores nesse debate: o autista, o obsessivo, o psicossomático e a mulher. Entre as pontuações de Lacan a respeito da psicose, destacamos o Seminário 3, em que o autor retoma o caso analisado por Freud (1911/1988) a partir do livro escrito pelo próprio "doente dos nervos", Schreber (1895).

Embora não tenha estabelecido uma clínica com crianças, as orientações de Lacan fomentaram as elaborações de alguns clínicos, dentre os quais aqueles de que trataremos aqui, como Maleval (2012), Jerusalinsky (2012), Azevedo (2009), Laurent (2012), Soler (2007) e Vorcaro (2003).

Hoje em dia persistem diferenças significativas nas concepções e práticas de autores lacanianos em relação às aproximações e às distinções existentes nos quadros de autismos e de psicoses em crianças, que nem sempre chegam a ser explicitadas. Tendo em vista um interesse crescente em compreender essas diferenças, pretendemos neste trabalho dar início a um debate das ideias desses autores com vistas a situar seus pontos de divergência e convergência. Consideramos que o eixo teórico capaz de esclarecer tais pontos é relativo às modalizações da operação de alienação nos autismos e nas psicoses, operação geralmente considerada como ponto de aglutinação das vacilações paralisantes que conduzem a esses quadros.

Em primeiro lugar, abordaremos a relação estabelecida entre o autista e o psicótico com o Outro, por meio do qual um sujeito se constitui. Vale lembrar que o Outro é a referência ao lugar no qual se constitui o Eu que fala com o ouvinte. Sendo o lugar a que todos se endereçam, está situado além da relação de correspondência estabelecida com o semelhante (Lacan, 1955-56/2002), mesmo que este possa representá-lo, como é o caso da experiência da criança com a primeira configuração do Outro, ou seja, o chamado Outro materno. A partir desse encontro é que o sujeito se constituirá. O movimento das operações de alienação e separação, verificadas na cadeia significante, permitirão o advento do sujeito na linguagem.

Podemos localizar a condição psicopatológica da criança na maneira como ela se aliena e se separa do Outro. Dessa perspectiva, psicoses e autismos se aproximam ao evidenciarem que houve embaraços na operação de alienação, que são, no entanto, de ordens diferentes em cada uma dessas patologias, implicando numa distinção entre elas.

Os termos alienação e separação passam a ser utilizados por Lacan para se referir às operações constituintes do sujeito a partir do Seminário 11 (1964/1998), que passam, então, a ser utilizados para se referir às operações constituintes do sujeito, fruto de uma elaboração iniciada no Seminário 6 (Lacan, 1958-59/2013). O autor formaliza a ideia da constituição do sujeito utilizando a teoria dos conjuntos e suas operações de união e intersecção, bem como se valendo do termo latino vel (e/ou). Proposto por Lacan para explicar a alienação, o vel1, que, na lógica simbólica, comporta modalidades distintas de conexão, é, nessa operação, compreendido no sentido da reunião: o sujeito ainda não constituído aparece primeiro com o sentido do Outro, reunido ao Outro e, nessa reunião, o ser (não-senso) fica eclipsado pelo sentido do Outro (cf. Lacan, 1964/1998, p. 200). Na alienação, o sujeito nasce subordinado ao efeito do significante devido à ação retroativa da cadeia falada pelo Outro materno na produção do seu sentido.

Entretanto, toda a relação constitutiva entre o sujeito e o Outro está marcada por hiâncias, faltas, cortes na linguagem que podem ser compreendidos por meio da dimensão do inconsciente. Lacan (1964/1998b) explicita sua concepção da conjunção entre o sujeito e o Outro, localizando o inconsciente nesses cortes (suspensões, hesitações, repetições, etc.) da cadeia significante, contrapostos à intencionalidade do falante, capazes de produzir significados a posteriori. A partir da alienação, esses cortes comandarão a orientação do sujeito rumo à operação de separação.

Lacan (1964/1998) aponta para o aspecto circular, sem reciprocidade e dissimétrico na relação entre o sujeito e o Outro: "do sujeito chamado ao Outro, ao sujeito pelo que ele viu a si mesmo aparecer no campo do Outro, do Outro que lá retorna" (p. 196). O sujeito será sempre um efeito do significante. Ao produzir-se no campo do Outro, o significante permite advir o sujeito de sua significação, que só funciona como significante reduzindo o sujeito ao próprio significante. A constituição do sujeito se dá, portanto, no campo do Outro, pois ela depende do significante. A linguagem aguarda o sujeito, que será inscrito no Outro. Não se trata, nessa alienação, de um sujeito como consciência de si. Segundo Lacan (1964/1998b):

Não é o fato de essa operação se iniciar no Outro que a faz qualificar de alienação. Que o Outro seja, para o sujeito, o lugar de sua causa significante, só faz explicar, aqui, a razão porque nenhum sujeito pode ser causa de si mesmo (p. 855).

O ser ingressa na cadeia de significantes identificado pelo Outro, localizado no significante que o representa. Assim, referido ao significante que lhe é conferido pelo Outro, por isso mesmo, no mesmo golpe, algo de seu ser é elidido, apagado, perdido. No momento em que seu ser é eclipsado, ele se petrifica, ou seja, está alienado ao Outro. Instaura-se, então, a primeira operação da constituição do sujeito.

A alienação condena o sujeito a só aparecer numa dimensão em que, se ele aparece de um lado como sentido, produzido pelo significante, de outro ele aparece como afânise (Lacan, 1964/1998). Nessa lógica, a escolha é a de saber qual parte será guardada, pois a outra desaparecerá. Essa reunião se dá de tal maneira, diz Lacan (1964/1998), que a alienação só impõe uma escolha entre seus termos ao eliminar um deles, que sempre será o mesmo. O autor ilustra essa disjunção com o pedido de "a bolsa ou a vida" ou "a liberdade ou a morte". Nesse exemplo, trata-se de saber se a pessoa quer conservar a vida ou recusar a morte e, na outra questão, se quer conservar a vida ou a liberdade. De toda forma, a escolha será sempre decepcionante. Ou seja, o sujeito ficará sempre desfalcado, pois terá a vida sem a bolsa e, por ter recusado a morte, terá uma vida sem liberdade. O vel da reunião funciona dialeticamente, pois, ao considerarmos um prazo mais longo, o sujeito terá que abandonar a vida depois da bolsa e, no final, terá apenas a liberdade de morrer (Lacan, 1964/1998b). Vejamos:

nosso sujeito é colocado no vel de um sentido a ser recebido ou da petrificação. Mas, se ele preserva o sentido, é esse campo (do sentido) que será mordido pelo não-sentido que se produz por sua mudança em significante. E é justamente do campo do Outro que provém esse não-sentido, apesar de produzido como eclipse do sujeito (p. 855-856).

O ser do sujeito está posto sob o sentido do Outro. Se escolher o ser, o sujeito desaparece, cai no não-senso. Se escolher o sentido, o sentido só subsiste cortado dessa parte do não-senso, essa que constitui o inconsciente. O sentido que emerge no campo do Outro é, em uma de suas partes, eclipsado pelo desaparecimento do ser, induzido pela função do significante (Lacan, 1964/1998).

A alienação faz com que o sujeito só possa aparecer como o sentido que lhe é atribuído, caso contrário nada aparece, ou seja, ele fica em afânise; enfim, ou tem o sentido atribuído pelo Outro ou nada aparece. A reunião do sujeito com o Outro deixará sempre uma perda. Portanto, o sujeito não está todo no Outro, há sempre um resto. Não-todo sujeito está presente no Outro, pois sempre há um resto que está tanto no sujeito quanto no Outro.

A partir dessa primeira operação de constituição do sujeito, trataremos, agora, das psicopatologias da criança. Tomamos Lacan (1969/2003), quando diz que o sintoma da criança decorre diretamente da subjetividade da mãe, sendo a criança implicada como correlata de sua fantasia:

A distância entre a identificação com o ideal do eu e o papel assumido pelo desejo da mãe, quando não tem mediação (aquela que é normalmente assegurada pela função do pai), deixa a criança exposta a todas as capturas fantasísticas. Ela se torna o "objeto" da mãe e não mais tem outra função senão a de revelar a verdade desse objeto. A criança realiza a presença do que Jacques Lacan designa como objeto a na fantasia. Ela satura, substituindo-se a esse objeto, a modalidade de falta em que se especifica o desejo (da mãe), seja qual for sua estrutura especial: neurótica, perversa ou psicótica (p. 369-370, grifos nossos).

Numa nota acrescentada em 1966 ao texto "De uma questão preliminar a todo início de tratamento" (1958/1998), Lacan explica que é a extração do que então denomina como objeto a que sustenta o campo da realidade. O objeto a seria extraído na operação de separação, a segunda das operações constituintes do sujeito, quando este localiza a falta que intersecciona a ambos e que o articula ao Outro. Nos autismos e nas psicoses, desde a passagem pela primeira das operações constituintes - a alienação -, essa extração se dará de forma diferente, de acordo com alguns autores (Soler, 2007; Vorcaro, 2003; Bastos, 2003; Maleval, 2012). Destacamos, a seguir, algumas pontuações feitas por eles a respeito de como a alienação ocorre nas psicoses e nos autismos.

Nos autismos, conforme Vorcaro e Rahme (2011), pode não acontecer a substituição do ser pelo sentido. O ser, mesmo sendo dado pelo significante, ficaria aquém da articulação significante, numa substituição que o transportaria entre significantes. Vejamos, nesse mesmo sentido, o que diz Bastos:

com a perda do ser, não se ganha automaticamente o sentido, pode-se ficar a meio caminho, hesitante entre um e o outro, vale dizer, congelado. Dito de outro modo, o gelamento não é exterior nem anterior à alienação (Bastos, 2003, p. 146).

A criança autista entra na alienação significante para, em seguida, recusar-se a ela, não chegando nem ao assujeitamento à linguagem nem à distinção das faltas (do ser e do Outro), que se sobreporiam, estabelecendo a interseção entre o campo do ser e o campo do Outro, em que se opera a separação (Vorcaro, 2003). Dessa forma, a criança permaneceria ou um puro ser vivo, organismo, ou pura máquina significante:

na maquinação significante em que se faz ventríloca, nada diz respeito ao funcionamento do corpo tomado pelo significante e, em suas funções orgânicas, nada diz respeito ao funcionamento significante. Há um funcionamento paralelo e exclusivo do ser e do significante, demonstrado por uma exclusão ativa (Vorcaro, 2003, p. 34-35).

Para Maleval (2012), o autista não se situa aquém da alienação, pois é afetado pela negatividade da linguagem. O psicanalista encontra uma evidência disso na descrição do "buraco negro", mencionado por autistas como Williams2, que diz: "Sempre tive o sentimento de um buraco negro entre mim e o mundo" (p. 49). Explicitando a primeira subtração do gozo como relativa à operação de alienação, o autor esclarece que "Tal buraco angustiante, bem diferente de uma falta dinâmica, é produzido pela primeira subtração do gozo, o que evidencia um traumatismo decorrente da intervenção da linguagem" (Maleval, 2012, p. 49).

Considerando os dados clínicos que atestam que alguns autistas fazem uso de vocalizações, nas quais frequentemente observamos pobreza do balbucio ou mesmo sua ausência, Maleval (2012) ressalta que essa contradição dos dados mostra que o autista ora está incluído na alienação significante, ora não está, o que lhe permite concluir que o autista está inserido em uma alienação parcial. Assim, na impossibilidade de se alienar completamente na linguagem, o autista criaria várias estratégias para contorná-la. Uma delas seria a preservação de uma voz centrífuga, situação na qual preferiria ouvir seus próprios ruídos àqueles do Outro, o que o autor exemplifica com o relato de um autista: "Se colocarmos a cabeça sobre o travesseiro, temos um zumbido na orelha, e é preciso ficar deitado tranquilamente, o que é muito bom" (Maleval, 2012, p. 66).

Lembramos daquilo que Lacan (1955-56/2002) diz sobre os ruídos dos quais os psicóticos se queixam, a partir das frases, murmúrios e comentários, que são os significantes que estão a falar sozinhos. Esses barulhos constantes são a infinidade dos pequenos caminhos que indicam vagamente uma direção. Schreber (1985) relata a experiência de ouvir um "zumbido incompreensível e contínuo localizado num ponto da parte superior da cabeça, por onde tem a sensação de ser puxado por um fio" (p. 16).

Nesse ponto percebemos uma coincidência entre manifestações constatáveis nos quadros de autismos e de psicoses, mas é importante esclarecermos como compreendemos esses ruídos em cada um deles. No caso da psicose, Lacan (1955-56/2002) diz que os zumbidos representam a ausência de enganchamentos entre as significações e os significantes, e cessarão quando a corrente contínua de significantes retomar seu caminho. No caso do autismo, Maleval (2012) atribui os zumbidos a uma dificuldade de a criança se colocar numa posição de enunciação3, isto é, de falante, estabelecendo estratégias para evitar que isso aconteça.

A insensibilidade à dor física observada em alguns autistas é explicada pelo déficit da marca do significante sobre o corpo. O autista não dispõe de elementos da linguagem que lhe permitam interpretar a sensação de dor, concatenando-a a uma representação. A sensação ficaria, portanto, incompreensível, isolada, não suscitando uma reação a ela articulada. A interjeição (representando o sentimento de dor) encarnaria o S1 sozinho (Maleval, 2012). O S1, significante unário capturado pela criança na rede da linguagem, surge no campo do Outro e representa o sujeito para um outro significante, S2, ao qual se articula (Lacan, 1964/1998, p. 207). Lembramos que Lacan (1958-59/2002) aproxima a interjeição da holófrase:

E que a Holófrase existe, não há dúvida, a holófrase tem um nome, é a interjeição. Se quiserem, para ilustrar ao nível da demanda o que representa a função da cadeia inferior, é "pão!", ou "socorro"! - falo no discurso universal, não falo do discurso da criança neste momento. Esta forma de frase existe, eu diria mesmo que em certos casos ela toma um valor absolutamente insistente e exigente. É disso que se trata, é a articulação da frase, é o sujeito na medida em que essa necessidade, que sem dúvida deve passar pelos desfiladeiros do significante enquanto necessidade, é expressa de uma maneira deformada, mas ao menos monolítica, ao ponto que o monólito de que se trata é o próprio sujeito nesse nível que o constitui (p. 84).

Na holófrase há uma solidificação do S1 com o S2 que impedirá que o sujeito seja representado por outro significante, impedindo que o S2 se constitua. Não há, portanto, a operação de separação, o que implica na inexistência da inscrição de um intervalo entre os significantes. Assim, a ausência de reação dos autistas à dor pode significar que, no autismo, o S1 não se conecta ao ser (Maleval, 2012).

Lacan (1975/1998) aproxima o autismo da esquizofrenia, dizendo que "Trata-se de saber porque há algo no autista ou no chamado esquizofrênico que se congela" (p. 13, grifos nossos).

Para Azevedo (2009), é justamente o S1 que se congela no autista e no esquizofrênico. Afinal, se o significante primeiro não representa o sujeito para outro significante, este significante simplesmente não representa. E, por isso, nesse caso, o sujeito não comparece.

Segundo Lacan (1955-56/2002), a Bejahung (afirmação) pode faltar em alguns casos, e a psicose é um deles. A Bejahung primordial é a noção freudiana que funda o juízo de atribuição e está presente no inconsciente antes do processo de verbalização (Freud, 1925/2007). Para Lacan (1955-56/2002), a falta da Bejahung implica numa Verwerfung (rejeição), mecanismo de defesa da psicose, que implica numa recusa da ordem simbólica e num reaparecimento daquele conteúdo no real. Assim, Lacan faz uma relação entre a ausência da Bejahung e a psicose.

Azevedo (2009) parte dessa associação lacaniana para reafirmar que a problemática dos autismos parece estar circunscrita à ausência da Bejahung, que não é feita pelos autistas e, por isso, o sujeito dividido não advém. A partir da primeira simbolização, salienta Azevedo (2009), a criança pode se alojar no lugar de falo para a mãe. Lembramos que essa posição, segundo Lacan (1957-58/1999), corresponde ao primeiro tempo do Édipo: "No primeiro tempo e na primeira etapa, portanto, trata-se disto: o sujeito se identifica especularmente com aquilo que é objeto do desejo de sua mãe. [...] Para agradar à mãe, [...] é necessário e suficiente ser o falo" (p. 198).

Partindo de Lacan, podemos supor uma estrutura psicótica nos casos em que a criança não se destaca do Outro, respondendo como o que falta ao Outro. Efetivamente, a criança pode assumir um funcionamento que a mantém alienada, sem interrogar ou distinguir a incompletude do Outro, no mesmo movimento em que tampona sua falta. Assumindo o lugar dessa falta, a criança preenche o intervalo entre os significantes, funcionando como objeto do Outro (Vorcaro, 2003).

É preciso haver um intervalo entre o objeto a e a mãe (que agencia o lugar do Outro) para que seja constituído o sujeito barrado, não-sabido (Lacan, 1962-63/2005). Esse intervalo não existiria na psicose, haja vista que a criança coincide com o próprio objeto para a mãe, ficando colada ao mandato em que ela é o que falta no Outro (Vorcaro, 2003, p. 36). A criança, assim, encarnaria a falta do Outro materno.

Vimos que, na psicose, a criança adere ao mandato em que ela é o que falta ao Outro. Portanto, podemos pensar que na psicose haveria uma afirmação primordial (Bejahung) que não chegaria a ser estabelecida no autismo?

A esse respeito, diz Azevedo (2009), a Bejahung se refere a uma primeira afirmação, a um "sim" ao simbólico. Na leitura lacaniana da Bejahung freudiana, esta implica na admissão de algo no simbólico, pois é uma afirmação que atribui uma existência: "A condição para que alguma coisa exista para o sujeito é que haja Bejahung" (Lacan, 1958-59/2002, p. 73). Desse ângulo, Azevedo (2009) compreende que os autistas não fazem a Bejahung, mantendo todos os significantes no real. A verbalização de autistas sem inversão da mensagem recebida é a constatação de que os autistas não fazem a Bejahung das palavras.

Essa assertiva é corroborada por Soler (2007), quando afirma que os autistas não fazem a inversão da mensagem recebida do Outro, pois não entram na alienação significante por conta própria, sendo capturados na alienação significante apenas no nível da fala e dos significantes do Outro. Assim, para a autora, os psicóticos e os autistas estão inseridos na linguagem, mas estão fora do discurso. O autista se encontra num aquém da alienação, recusando-se a entrar nela e detendo-se na borda. Isso faz com que o autista seja um sujeito, mas não um enunciador. Sua relação com o Outro se restringe a poucas demandas estereotipadas e repetitivas, evitando a dialética da fala. Ou seja, não há enunciação.

No Seminário 11, Lacan (1964/1998) retoma a diferença entre enunciado e enunciação, dizendo que é na enunciação que o sujeito advém pela linguagem, embora nela se perca. O sujeito do inconsciente, o sujeito do desejo, deve ser situado no nível do sujeito da enunciação.

Nos autismos há a enunciação técnica, que permite ao autista se comunicar a respeito de assuntos técnicos, como Grandin, uma autista que faz conferências sobre a sua cattle trap (máquina do abraço inventada por ela), utilizando a língua funcional, que está interligada a uma enunciação a respeito de assuntos técnicos, que não envolvem o sentimento do próprio autista (cf. Maleval, 2012).

A enunciação fugaz é um dos fenômenos considerados mais estranhos na fala dos autistas. Trata-se do surgimento de uma enunciação que irrompe em autistas mudos, como, por exemplo, "Devolve a minha bola", no caso de o objeto autístico ser tomado da criança. Esse tipo de enunciação ocorre nos momentos de contrariedade ou de urgência, em que o autista abandona sua recusa de apelar ao Outro e de empregar a voz na fala. Nesse tipo de enunciação, o sujeito toma a palavra em seu próprio nome (cf. Maleval, 2012).

Esses momentos raros em que o autista emprega sua voz enunciativa mostram que ele resiste à alienação ao Outro por meio da retenção de sua voz e, também, que no autismo não se trata de uma falha cognitiva, mas de uma escolha do sujeito para proteger-se da angústia (cf. Maleval, 2012).

Diferentemente dos autismos em que, a despeito de a criança sofrer os efeitos da linguagem, não se aliena completamente nela, a psicose permitiria localizar a operação de alienação, sendo que a criança se mantém nessa posição, sem dela se distinguir na operação de separação:

A criança seria um efeito purificado da linguagem, e, portanto, não encontraria, no intervalo entre significantes, o ponto de corte em que pode alojar sua perda no desejo do Outro. [...]. A criança fica colada ao mandato em que ela é o que falta ao Outro. Encarnando essa falta, ela preenche o intervalo entre significantes, na mesma função de qualquer significante: remete-se a outro significante. Na solidez em que a cadeia significante primitiva é apanhada, a abertura dialética está impedida, e o significante representa outro significante num deslizamento infinito (Vorcaro, 2003, p. 36).

Comparando o autismo e a psicose, Azevedo (2009) sustenta que na psicose não há uma Bejahung do Nome-do-Pai, que faria com que esse significante fosse admitido no simbólico. No autismo, no entanto, coloca-se uma questão anterior à foraclusão do Nome-do-Pai, que é a não inscrição, no simbólico, de uma simples cadeia de significantes. A questão do autismo se referiria, então, à falta da Bejahung do S1, que implicaria numa consequente expulsão do S2 para fora do simbólico.

Aproximando o autismo da esquizofrenia, Azevedo (2009) afirma ainda que no autismo há uma sequência de S1 que, entretanto, não faz série. Na esquizofrenia, também há um S1 que não intervém na cadeia significante. Sua hipótese sobre o estatuto do sujeito no autismo é que o objeto estaria presente o tempo todo, mas o sujeito só investiria no traço a partir da falta do objeto. A autora articula o autismo com a questão do significante unário, S1, que não intervém na cadeia, associando isso ao fato de o autista não fazer a Bejahung do significante, não havendo admissão do traço unário no simbólico. No autismo, não seria possível falar de inscrição do traço unário no simbólico, pois as palavras têm um peso muito sério.

A falta da Bejahung dos significantes vindos do Outro tem como consequência a presença excessiva do Outro. Os significantes que não sofreram a Bejahung se tornam muito potentes e invadem o sujeito, tornando as palavras verdadeiras "coisas", como diz Freud (1915b/1988) em relação à esquizofrenia:

Acontece que a catexia da apresentação da palavra não faz parte do ato de repressão, mas representa a primeira das tentativas de recuperação ou de cura que tão manifestamente dominam o quadro clínico da esquizofrenia. Essas tentativas são dirigidas para a recuperação do objeto perdido, e pode ser que, para alcançar esse propósito, enveredem por um caminho que conduz o objeto através de sua parte verbal, vendo-se então obrigadas a se contentar com palavras em vez de coisas (p. 208).

Se considerarmos que no autismo não há sequer a Bejahung do S1, as palavras se tornam ainda mais pesadas do que na psicose, invadindo o sujeito radicalmente. É por isso que, no autismo, o Outro, trama da linguagem, só pode ser visto como um invasor.

São bastante esclarecedoras as posições de Laurent (2012) sobre o tema. Para ele há, na psicose, um transtorno na cadeia entre dois significantes, S1 e S2. Há uma ruptura na transmissão da mensagem entre os dois, que é fundamental para implicar numa patologia alucinatória. No autismo, entretanto, não há essa ruptura, mas, sim, uma repetição do Um de forma separada do outro, não há um reenvio a um outro.

Tanto os autistas quanto os psicóticos sofrem o "peso" das palavras, que apresentam uma conotação literal e inflexível. Podemos encontrar relatos disso no texto de Kanner (1943/1997) e, também, em Freud (1915b/1988), quando retoma o caso clínico relatado por Victor Tausk, em que a paciente reclamava que seus olhos não estavam direitos, que estavam tortos. Ela explicou que o amante havia entortado os olhos dela, pois ele era um entortador de olhos (expressão que tem o sentido figurado de enganador, em alemão).

Lacan (1955-56/2002) também situou, na psicose, uma predominância das relações de contiguidade e um enfraquecimento da possibilidade de o sujeito utilizar as similaridades, as equivalências e a metáfora. Isso pode ser evidenciado pelo exemplo do efeito da frase interrompida ocorrida no fenômeno alucinatório. A frase que se impõe é justamente aquela imbuída de uma característica significante, em torno da qual se organiza todo o delírio. Vale ressaltar seu testemunho de que não encontrou nenhuma metáfora ao longo do texto de Schreber (1985).

Pelas hipóteses teóricas acima tratadas, constatamos que existem, sim, aproximações e distinções entre os quadros de autismos e de psicoses no que se refere à maneira como acontece a operação de alienação no Outro, ou seja, a alienação na linguagem. Essas aproximações podem dificultar o diagnóstico da criança, podendo, por vezes, levar o analista a uma condução equivocada do tratamento. O conhecimento das aproximações entre os dois quadros não é importante no sentido de englobá-los numa mesma estrutura, mas, ao contrário, está a serviço de nos ajudar a discernir entre os dois, permitindo ao analista encontrar a melhor via de tratamento para cada caso.

Se os autismos e as psicoses em crianças apresentam pontos diferentes de interrupção no processo de constituição do sujeito, a intervenção do analista também deve ser localizada e diferenciada em cada um dos quadros. Assim, é imprescindível investigar mais detidamente os caminhos apontados por Lacan para a constituição do sujeito, a fim de construirmos as modalidades pelas quais o analista pode intervir nessa mesma constituição, ultrapassando os obstáculos encontrados na psicose e no autismo.

A localização do autismo como uma estrutura independente anunciou uma novidade em relação às estruturas propostas por Jacques Lacan de neurose, psicose e perversão. Jerusalinsky (2012) reconhece essa distinção e propõe considerarmos o autismo como uma quarta estrutura caracterizada pela função da exclusão, diferentemente dos mecanismos de defesa encontrados nas três estruturas propostas por Lacan: recalque, forclusão e denegação. Para o autor, a principal especificidade do autismo em relação às psicoses infantis está na elisão do outro no aspecto visual e auditivo, causada pela ruptura da correspondência entre corpo e objeto materno. A função materna não possibilita que a criança tenha acesso ao imaginário, portanto o falo não se constitui. Essa posição de Jerusalinsky fica melhor explicitada a partir do esclarecimento de Cabas (1980):

Sabemos que o sujeito se define por uma alienação fundamental. Sabemos que esta alienação fundamental supõe dois tempos: o acesso ao imaginário (estádio do espelho e relação egóica), por um lado, e o acesso ao simbólico (a ordem da função significante) por outro. Pois bem, é no primeiro tempo que pretendemos situar a etiologia das Psicoses de Ausência. Não há falo, porque não há acesso ao imaginário, na medida em que a função materna faz silencio a esse respeito (p. 104).

A hipótese dessa distinção representa o esforço de ultrapassar os impasses ensinados pela teoria por meio da observação clínica, significando a abertura de um novo parâmetro estrutural na teoria psicanalítica. Considerar o autismo como uma estrutura independente da psicose abre uma nova possibilidade de localização estrutural para o sujeito, o que implica numa investigação sobre modalizações de atendimento clínico para a estrutura que ele nos apresenta. Isso fomenta a continuidade da investigação aqui iniciada, que deve se aprofundar, também, na concepção de estrutura em Lacan, distinguindo os parâmetros importantes para defini-la como tal, a fim de também nos posicionarmos sobre as modalidades de diferenciação entre autismos e psicoses. Se tal discernimento nos permite localizar com maior precisão o que diferencia essas posições do sujeito em relação ao Outro, vale sublinhar que elas, entretanto, se mantêm sempre como hipóteses de trabalho que não adquirem qualquer supremacia sobre a unicidade de cada caso clínico. Afinal, é na interrogação do diagnóstico que, em psicanálise, podemos tomar a especificidade de cada caso para problematizar o que há de universal na teorização, reconhecendo, na tensão universal-singular, o saber insabido do inconsciente.

 

Referências

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Endereço para correspondência
Vanessa Gama Pozzato
E-mail: vanpozzato@gmail.com

Angela Maria Resende Vorcaro
E-mail: angelavorcaro@uol.com.br

Artigo recebido em: 3.6.2013/6.3.2013
Aprovado para publicação em: 19.10.2014/10.19.2014

 

 

* Psicóloga clínica. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais; área de concentração: Estudos Psicanalíticos.
** Psicanalista; Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC-SP. Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG.
1 A operação de alienação situa a divisão do sujeito em sua causa. Como vimos, sua estrutura é a de um vel, derivado de uma reunião do sujeito com o Outro que, entretanto, deixará necessariamente uma parte encoberta. Ressalta-se que a reunião não consiste numa adição. A reunião do conjunto A= x,y,z com o B = y,z,w, por exemplo, não resulta em 6 elementos, mas em 4 elementos que constituem o conjunto C = x, y, z, w. Afinal, os elementos em comum não são duplamente contados. Trata-se de uma escolha que se coloca em termos de "não... sem", não o um sem o outro, que tem como consequência nem um nem o outro.
2 Donna Williams é uma autista autora do livro "Meu mundo misterioso, testemunho excepcional de uma jovem autista" citada por Maleval (2012).
3 Enunciado e enunciação são termos da linguística que permitem distinguir o dito de seu autor, demonstrando a diferença entre o sujeito gramatical da frase emitida do sujeito que a sustenta. No Seminário 11, Lacan (1964/1998) explicita a diferença entre enunciado e enunciação, mostrando que é na enunciação que o sujeito advém pela linguagem, embora nela se perca. O sujeito do inconsciente, o sujeito do desejo, deve ser situado no nível do sujeito da enunciação.