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Analytica: Revista de Psicanálise

versión On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.4 no.6 São João del Rei enero/jun. 2015

 

A contribuição ética da psicanálise ao mundo da globalização: apoiar-se no sintoma1

 

The psychoanalysis ethical contribution to a globalized world: to be relied on symptom

 

La contribution éthique de la psychanalyse au monde de la globalisation: faire fond sur le symptôme

 

La contribuición ética del psicoanálisis al mundo de la globalización: apoyarse al sintoma

 

 

Sidi AskofaréI; Marie-Jean SauretII

IProfessor universitário, responsável pelo eixo «Clínica psicanalítica do sujeito e do laço social» do Laboratório de Clínicas Psicopatológica e Intercultural (Laboratoire de Cliniques Psychopathologique et Intercuturelle) da Université de Toulouse - Jean Jaurès. Psicanalista (Fóruns do Campo Lacaniano)
IIProfessor emérito, membro do Laboratório de Clínicas Psicopatológica da Université de Toulouse e Intercultural (Laboratoire de Cliniques Psychopathologique et Intercuturelle) da Université de Toulouse - Jean Jaurès. Psicanalista (Associação de Psicanálise Jacques Lacan)

 

 


RESUMO

Trata-se de situar a hostilidade do atual discurso dirigido à psicanálise no contexto do laço social contemporâneo, procurando evidenciar que esse discurso ataca não somente o saber psicanalítico, mas, mais além, o real do sujeito e de seu sintoma. Por que nossa época tornou-se surda à psicanálise, quais são as teorias que se lhe opõem? Desde que escapemos de suas sugestões (de sua formatação), os impasses dessas teorias contêm, designam o real sobre o qual a psicanálise poderia se renovar: colocando o gozo em questão, o sintoma oferece a solução negada pela modernidade...Apenas uma posição ética é suscetível de optar pelo desejo (o sujeito que se apoia em seu sintoma) contra o serviço dos bens invocado de todas as partes... A batalha não está perdida. No entanto, ela está longe de ser vencida.

Palavras-chave: política, ética, sujeito, sintoma, globalização


ABSTRACT

The aim of this article is to situate the hostility of the current discourse expressed towards psychoanalysis in the context of contemporary "social link" so as to foresee how this discourse is not only attacking the psychoanalytic knowledge, but also, beyond that, the Real of the subject and his symptom. Why has time become deaf to psychoanalysis? What are the theories defended? Provided that we escape from suggestion (their conditionning) these theories impose, we can consider their impasses contain or designate the Real on which psychoanalysis could renew itself: in question jouissance, the symptom and its dimension as a solution denied by modernity Only an ethical position is likely to opt for desire (the subject whose symptom serves as his foundation) against the service of goods called from all sides The battle is not lost but it is far from being won.

Keywords: politics, ethics, subject, symptom, globalization


RÉSUMÉ

Il s'agit de situer le discours actuel hostile à la psychanalyse dans le contexte du « lien social » contemporain pour entrevoir comment il s'en prend non seulement au savoir de la psychanalyse, mais au-delà, au réel du sujet et de son symptôme. Pourquoi l'époque est-elle devenue sourde à la psychanalyse, quelles sont les théories qu'elle lui oppose ? A condition d'échapper à leur suggestion (leur formatage), les impasses de ces théories contiennent, désignent, le réel sur lequel la psychanalyse pourrait se renouveler : en cause la jouissance, le symptôme dans ce qu'il recèle de solution déniée par la modernité... Seule une position éthique est susceptible d'opter pour le désir (le sujet qui fait fond sur son symptôme) contre le service des biens appelé de toute part La bataille n'est pas perdue. Elle n'est pas pour autant gagnée.

Mots-clés: politique, éthique, sujet, symptôme, globalisation


RESUMEN

Se trata de situar la hostilidad del actual discurso hacia al psicoanálisis en el contexto del vínculo social contemporâneo, buscando evidenciar como ese discurso no ataca solamente al saber psicoanalítico, sinon más bien, el real del sujeto y su síntoma. ¿Por qué nuestra época se há vuelto sorda al psicoanálisis? ¿Cuáles son las teorías que les son opuestas? Desde que escapemos a la sugestión de esas teorias, sus impasses contienem, indicam el real acerca de onde el psicoanálisis podría renovarse: cuestionando el goce, el síntoma ofrece la solución negada por la modernidad... Solamente uma posición ética es susceptible de elegir por el deseo (el sujeto que se apoya em su síntoma) contra el servicio de los bienes citados de todas las partes... La batalla no está perdida. Sin embargo, todavia está lejos de ser ganada.

Palabras-clave: política, ética, sujeto, síntoma, globalización


 

 

1. Introdução

Em 1972, Donella, Denis Meadows e Jorgen Randers redigiam, a pedido do Clube de Roma2, um relatório intitulado The Limits to Growth, The 30-Years Update, regularmente atualizado e cuja última versão (2004) foi publicada em francês sob o título Os limites do crescimento (em um mundo finito) (2012). Os autores propõem e exploram aí um modelo de avaliação do impacto ecológico: a superfície de terra necessária para satisfazer um determinado modo de vida, incluindo o impacto conjugado de uma estimativa do consumo e da renovação dos recursos naturais, das produções industriais e agrícolas, das políticas possíveis, do crescimento, da estabilização ou da diminuição da população mundial, do mapa do consumo, sem se esquecer do custo e das hipóteses relativas ao maior ou menor sucesso no tratamento da poluição...

Esse modelo é construído em torno da noção de limites além dos quais uma renovação natural e automática dos equilíbrios necessários ao estado atual (físico, social, psicológico) da vida humana não mais é possível. A partir daí, impõe-se a hipótese de um colapso simultâneo da produção, da população e do nível de vida (mais exatamente do índice de bem-estar humano) - colapso que irá até um limite inferior globalmente viável. Algumas soluções eficazes existem não para adiar ou retardar o prazo previsto pelo modelo (há então quarenta anos, para os anos 2050-2100 - não se trata de uma profecia), mas para acompanhá-lo, organizá-lo no interesse de todos: o que os autores qualificam de "desenvolvimento durável", ou melhor, "sustentável". O realismo dessa proposição é atestado pelo exame detalhado da melhoria a longo prazo na camada de ozônio - passado o efeito retardado da poluição acumulada - devido à coordenação das políticas internacionais, da ação das indústrias, das práticas domésticas, e da ação militante.

Ora, permanece um fator que os autores são incapazes de modelar: aquele relativo às decisões dos próprios homens, ao fato de que o perigo do ultrapassamento dos limites não apenas não é suficiente para fazê-los reagir, mas às vezes os fascina. E alguns vão tentar tirar proveito disso. Qual é então esse sujeito que a política convoca e que não poderia escapar do sentido e do gozo? Estaria ele condenado a se fundir na massa gregária e religiosa?

A democracia está condenada a ceder diante de uma dupla ditadura soft - a obscurantista, dos "religiosos", e a "esclarecida", dos cientistas e dos experts, cujas recomendações respectivas bem poderiam ser adotadas por uma terceira, menos soft, totalitária, militar ou policial, pelo "bem de todos"? O presente artigo se empenha em interrogar e em discutir um momento dessa "tomada de consciência" do fato de que a política deve levar em conta o caráter singular, particular, dos sujeitos que compõem uma comunidade, obrigando à invenção de uma "lógica coletiva".

Nessa perspectiva, a psicanálise fornece uma (das) teoria(s)3 do real do sujeito, ou do ponto de apoio - o sintoma -, a partir do qual se poderia pensar a articulação do singular e do coletivo que nosso mundo invoca. Seria essa a razão pela qual a psicanálise se encontra, na França, mas não somente, no centro de ataques sem precedentes? Tal é o "fato clínico" que nos serve de ponto de partida

 

2. A desqualificação da psicanálise em nosso tempo

É difícil ignorar o movimento que tende a afastar a psicanálise do mundo da globalização: ela jamais foi politicamente correta, salvo talvez em certas instituições de saúde entre os anos 60/80, e continua a pagar por isso. Em nossa época, O Livro Negro da Psicanálise, as obras polêmicas de Onfray contra Freud (entre outras publicações relativas às "mentiras freudianas"4); as organizações profissionais e universitárias TCCistes5 ou comportamentalistas e as associações de famílias de autistas que elas orientam; as veleidades legislativas que se apoiam em concepções igualmente comportamentalistas e que pretendem decidir sobre os bons métodos de leitura na escola6, sobre a delinquência a partir da etiologia hereditária, sobre a perversão entendida como estado de natureza incurável e a ser isolado, sobre as terapias limitando o lugar do inconsciente; e, por último mas não menos importante, a proposição, pelo deputado Daniel Fasquelle, de uma lei que interditaria os psicanalistas no tratamento de sujeitos autistas, constituem iniciativas e atos que desenham os contornos de um mundo no qual a psicanálise seria considerada como "obsoleta", ou mesmo inútil e perigosa. Esse quadro foi amplamente preparado pela elaboração do DSM, que impôs, sob o pretexto de constituir uma língua comum, sua concepção a-teórica e "pragmática" dos problemas mentais (e do sofrimento psíquico), reduzidos a distúrbios ou deficiências que se trata de erradicar sem mais: em nome do direito à saúde psíquica, do lado do paciente, e da obrigação de resultado, do lado clínico.

A reação dos psicanalistas (que nós não confundimos aqui com aquela, oficial, de suas respectivas associações) foi quádrupla: uns, pragmáticos ou imprudentes, colaboraram com os poderes públicos e acadêmicos; outros, otimistas inveterados, agarraram-se à reafirmação de sua crença na irredutibilidade da psicanálise - não teria a psicanálise suscitado e superado essa resistência desde seu advento? -; os terceiros, "não-tolos"7 e políticos, tentaram negociar com as autoridades. Tentamos, talvez muito tarde, abrir uma quarta via (assim como outras estão sendo tentadas).

 

3. A recusa do sintoma psicanalítico: em nome do humanismo

Para que fique registrado, e em vias de ilustrar o que foi a colaboração, assim como o próprio Lacan (2001) nomeia em "Televisão" quando ela é "estrutural" (p. 517), lembremos que psicanalistas participaram, no seio da Associação Americana de Psiquiatria, das duas primeiras propostas do DSM, antes de verem impor-se o postulado a-teórico que excluía suas hipóteses etiológicas e o saber testemunhado por sua experiência - em nome do projeto ao qual eles estavam associados e ao qual sua participação conferia certa legitimidade.

Quando alguns de nós tentaram alertar os colegas psicanalistas sobre as mutações do saber contemporâneo, a reação foi frequentemente a de afirmar que a rejeição da psicanálise não é uma atitude nova, e que Freud precisou batalhar para fazer existir e ser reconhecida sua descoberta e sua invenção. Certamente, mas a situação atual de declínio da psicanálise (nas mídias, na universidade, nas instituições, no campo político) é diferente daquela - de defesa, de desconfiança e de resistência - que viu nascer a psicanálise e as antipatias que ela teve de vencer para se instalar nas editoras, na universidade, na psiquiatria, na psicologia e, sobretudo, como recurso possível para aqueles que sofrem.

Passado esse advento, a rejeição adquiriu uma nova fisionomia ao se fixar como objetivo, dotando-se dos meios de erradicar o menor traço da psicanálise na universidade, no tratamento psíquico, na medicina, e logo mais em todos os setores da cultura em que isso for possível (ainda não chegamos a esse ponto, e ficamos até muito surpresos com a referência a Lacan, em particular por parte de artistas, por exemplo, de economistas, de biólogos, dos quais não esperávamos muito8). O novo, entretanto, é justamente que somos de um tempo em que, devido à dominação do paradigma a-teórico ou simplesmente do cientificismo, cada vez menos pessoas sabem da existência da psicanálise como perspectiva, embora reconhecendo sua obsolescência.

Nesse contexto, a negociação com os poderes públicos parece absurda, ao ponto de suscitar a suspeita de que a atribuição, concedida pelo Estado a tais associações, do rótulo de "utilidade pública", seja praticamente a recompensa por um tipo de "traição" do espírito da psicanálise. O advento de ortodoxias próprias a tal ou tal escola de psicanálise se associa por vezes, menos paradoxalmente do que parece tendo em vista o exposto acima, a uma mestiçagem teórica sem ética: promoção de psicoterapias de inspiração psicanalítica, contribuição ao ecletismo do modelo biopsicossocial, adoção de categorias psicopatológicas buscando fundá-las em outro lugar que não na experiência psicanalítica (estados limites, psicopatias, disfunções, distúrbios diversos, e, em parte talvez, autismo), concessões teóricas, busca de regulamentos administrativos (direito ao título e à formação de psicoterapeuta, proposição de uma ordem de psicanalistas, reembolso pela seguridade social, código de deontologia, criação de institutos privados de formação com ares falsamente universitários rivalizando com o mercado de competências).

Uma das acusações mais frequentes feitas aos psicanalistas que se esforçam para transformar a polêmica em debate diz respeito às suas modestas reivindicações de uma especificidade concernente ao sujeito - a saber, que ele é isso que fala no humano: responde-se-lhes, em um mal-entendido que beira a estupidez, que eles não têm o monopólio do humanismo (um de nós fez essa triste experiência após a publicação de uma crônica na Médiapart, com a qual acreditava ao menos tornar possível a discussão9). Esse termo, que Lacan interpretou como "humanitarice de encomenda"10 (humanitairerie de commande), permite ocultar o que chamamos de sujeito atrás de duas dimensões heterogêneas à psicanálise, mas constitutivas do "espírito de nossa época", "politicamente correto", as quais examinaremos aqui sucintamente.

A primeira concerne ao fato de que a responsabilidade do sujeito é confundida com seu "livre arbítrio". Ora, este último é reconhecido àquele que é são de corpo e de espírito: por pouco que sua biologia, sua psicologia e seu contexto social sejam perturbados, então seu pensamento também o será: o autista é deficiente de "pensamento", portanto seu livre arbítrio não pode ser alegado contra a educação que se sabe adequada para ele (apesar das tomadas de posição dos autistas serem ditas de alto nível)... E o psicanalista, quer dizer, aquele que insiste em querer oferecer-lhe a oportunidade de uma fala, poderia muito bem ser suspeito de, também ele, não raciocinar (de "não bater bem"). Eis-nos aqui capturados pelos mesmos mecanismos que acompanharam as ideologias mais sombrias da história. Retenhamos, por exemplo, que a psiquiatria soviética (da era stalinista e brejneviana) trancafiava o dissidente político em nome das suas "crises" de pensamento. Hoje, suspeita-se da mesma crise naqueles que se opõem ao discurso capitalista e ao mundo da globalização: "não se critica o real da economia, que não é mais contestável do que a água, o ar e a terra", assim como adiantava um cronista durante a campanha presidencial!11 No fundo, quase imperceptivelmente, as "leis da economia" (é preciso acrescentar: do mercado) substituíram as pretensas "leis da história"...

Decorre daí a segunda dimensão: o recurso ao humanismo. É necessário ajudar aquele que não tem livre-arbítrio. É preciso intervir pelo seu bem e pelo da sociedade que o acolhe (de todas as formas). O humanismo quer o bem do outro. E o bem do outro se concentra na necessidade de livrar alguém de sua deficiência, de seu sofrimento, de seu distúrbio, de seu sintoma - no sentido médico do termo - ao mesmo tempo em que preservar a sociedade do deficiente e de seus males. Basta que essa concepção da "deficiência" se imponha para que, sem esforço, desembarace a referida sociedade da concepção (e não do fato) psicanalítica do sintoma (da mesma maneira que podemos nos interrogar sobre a existência das "coisas" antes de falarmos delas, deveríamos nos perguntar sobre onde se situa o sintoma quando não sabemos/ ou não conseguimos pensá-lo). O sintoma psicanalítico designa, com efeito, a maneira pela qual cada um retém, entre linguagem, corpo e gozo, o pouco de real (que ele é) ao qual tem acesso, e que se estabelece no "viver em conjunto", modo segundo o qual cada um eventualmente sofre; o sintoma subscreve a interrogação sobre o sentido da presença do sujeito no mundo e interroga a resposta que cada um traz à questão...A recusa dessa concepção acompanha o ataque ao próprio sintoma que essa recusa tende a tornar impensável.

 

4. A abordagem epidemiológica do sintoma como artifício do capital

A concepção DSMista nos desembaraça do sintoma e da singularidade que ele indexa ao torná-lo(s) ilegível(eis), ao desativá-lo(s), privando-o(s) de um eventual endereçamento, mesmo que o sujeito sofra com isso. Essa operação é o inverso daquela realizada por Freud, saudada por Sergueï Pankejev, vulgo Homem dos Lobos, em seu tempo:

Durante esses primeiros meses de análise com o professor Freud, um mundo completamente novo se abriu diante de mim, um mundo que só era então conhecido por poucas pessoas. Muitos acontecimentos da minha vida que me tinha permanecido incompreensíveis começaram a ganhar sentido, relações que permaneciam antes escondidas na obscuridade emergiram à minha consciência12.

Ele pode, com efeito, se livrar dos prazeres da interpretação (atribuir seu retorno a Kraepelin à busca de um substituto paternal) e se reapropriar dos estados que o levaram ao diagnóstico de psicose maníaco-depressiva. E isso não tem preço! É exatamente tudo o que se torna impossível em uma desvalorização sistemática e prematura do sentido em proveito de uma avaliação contábil binária - doença curável ou incurável, tratamento caro ou barato, útil ou inútil, eficaz ou ineficaz, etc. - que pretende medir os benefícios obtidos pelo avaliado (e que visa desde então uma economia da felicidade ensinada nas Ciências Sociais13!).

Antes de sugerir por quais caminhos o mundo da globalização chegou até aqui, sublinharemos uma dificuldade que nos afeta no momento mesmo em que procuramos conjuntamente uma maneira de reagir: poderíamos legitimamente ser acusados de reforçar a corrente que tenta nos fazer desaparecer. E não somente, como Lacan (2001) antecipa em Télevision, porque denunciar um discurso é reforçá-lo (p. 518) - esquecendo, aliás, que ele nos convida a explicar, desconstruir e extrair a lógica dos fenômenos.

É evidente e legítimo que as políticas nacionais ou continentais de saúde, por exemplo, tenham uma abordagem "global", epidemiológica: como se reconhece o que não vai bem, quais são as condições de aparição das patologias e outros distúrbios? E é não menos legítimo que os especialistas coloquem suas competências a serviço dessas políticas para aperfeiçoar o registro dos casos. Nesse sentido, a singularidade14 é escondida pela compatibilidade dos elementos com os quais, aliás, ela deve se compor. Há provavelmente um número significativamente mais elevado de psicóticos nas famílias cujos pais são psicóticos e, sem dúvida, a localização dessas famílias permitiria um tipo de cuidado e assistência particulares. Mas tratar todas as crianças dessas famílias a priori como psicóticos seria, de uma parte, negar as soluções viáveis adotadas por muitos psicóticos e, de outra parte, ocultar o fato de que muitos casos "examinados" encontram na estrutura familiar um meio não psicótico de se realizar. Por conseguinte, multiplicaria, de maneira culpada, inútil e contra-produtiva, do ponto de vista clínico e econômico, o número de potenciais psicóticos. Essa ótica contribuiria para tornar ainda mais difícil pensar, malgrado Rousseau, Artaud, Van Gogh, Cantor, Gödel, Lobatchevski, Nash, Schumann, etc, que a psicose permanece uma via humana de habitar e, às vezes, de "encantar" o mundo - sem que o sujeito tenha necessariamente, nem sempre, nem o tempo todo, que pagar o tributo das consequências de um surto, em todo caso de uma só vez (se nos fiamos em certos momentos da vida daqueles que figuram na lista não-exaustiva acima).

Para ilustrar o raciocínio há pouco "denunciado", consideremos a identificação do gene implicado no autismo (por exemplo, e sem pronunciarmo-nos sobre seu estatuto clínico psicanaliticamente falando): o dito gene poderia estar 500 vezes mais presente numa população em que não há autistas. De maneira que, se se tenta, a partir desse gene, prever ou contabilizar os autistas, aumenta-se sua proporção estatística (x500) sem que essa presença seja verificada clinicamente - acrescentando aí o problema colocado pelas consequências - sobre as crianças neuróticas, de se verem estigmatizadas como autistas (no sentido de deficientes)15. O pior é que se tais testes fossem organizados, tal como os lobbies fármaco-universitários gostariam, os mesmos atores poderiam se beneficiar da diferença entre o número presumido de autistas e o número de autistas verificados (500 vezes menos elevado, portanto) após alguns anos de tratamentos quaisquer (mas seguramente lucrativos), para reivindicar a pertinência de sua abordagem: ao passo que, no essencial, e do ponto de vista do sofrimento de cada um, famílias e crianças, nada terá mudado - o número de autistas no final não é diferente do número real no início! Elevam-se as vozes que se mobilizam em relação aos custos econômicos adicionais ligados a essa multiplicação artificial dos autistas, propondo modificar os critérios de inclusão à ocasião da próxima edição do DSM e, em todo caso, tirar os "Aspies" - ou seja, aqueles que falam e que poderiam nos ensinar16 - do grupo de beneficiários dos dispositivos reservados aos "verdadeiros" autistas.

 

5. A economia do gozo na lógica neoliberal: quem fala?

Uma eminente neurocientista, Nancy Andreasen, revelou que nos tornamos tão bons no conhecimento dos mecanismos da esquizofrenia (ou das características biológicas supostas no autismo), que se víssemos um esquizofrênico na rua, não o reconheceríamos. Escrevia ela já em 1998:

Um dia, no século XXI, quando o genoma e o cérebro humano tiverem sido completamente cartografados, talvez será necessário criar um Plano Marshall inverso, para que os europeus (graças às suas grandes tradições psicopatológicas) salvem a ciência americana permitindo-lhe compreender realmente quem é o esquizofrênico, ou mesmo o que é a esquizofrenia. Corremos o risco de não poder utilizar os resultados do projeto de decifração do genoma humano (...) pois não teremos mais pesquisadores na clínica. (...) Não seremos mais capazes de reconhecer um esquizofrênico (Andreasen citada por Ehrengerg & Lovell, 2001, pp. 29-30)

Infelizmente, Nancy Andreasen tinha razão no que concerne à psiquiatria americana, mas não pode dizer sobre a psiquiatria européia, que ela não tenha, desde então, seguido os mesmos passos.

A partir daí - e é esse o problema ao qual fizemos alusão acima - é possível que, refletindo as condições gerais (versus acolhimento da singularidade) que trazem dificuldades para a psicanálise, fomentamos a visada epidemiológica, ocultando a própria psicanálise: o fato de que ainda há curas. Como contornar esse problema? É uma questão que nosso laboratório se esforça em levar adiante, focando sua reflexão - com a de outros - sobre a articulação do singular e do comum. Pois, sem dúvida, corremos o risco, nesse lugar, do ponto de vista da ética, "da única coisa da qual se pode ser culpado, (...) ter cedido em seu desejo" (Lacan, 1986 [1959-60], p. 368).

A fórmula é preciosa. Muitos a usaram contra Lacan, vendo aí um convite a gozar sem limites: "se você deseja verdadeiramente alguma coisa, faça de tal maneira que nada te desvie dela" - isso que significa subsumir o desejo ao imperativo do gozo. Sob o cobertor da ética, veicula-se aqui nada mais nada menos do que o imperativo liberal: "esqueça a antiga maneira de regular a vida pelos ideais morais ou religiosos, entregue-se ao seu capricho, uma mão invisível equalizará os resultados se cada um fizer o mesmo"17. Cada um é convidado a procurar, entre os bens à sua disposição, aqueles dos quais espera, segundo seu fantasma, uma satisfação. Seguramente, trata-se de um contrassenso fundamental, já que não ceder no desejo exige precisamente que se renuncie ao serviço dos bens que, ao satisfazê-lo, supostamente o faria desaparecer, tal como Lacan o explicita claramente no mesmo lugar. O desejo tem uma causa, secundária à falta correlativa do sujeito desde que ele consente à linguagem (a qual só pode representá-lo), nós o sabemos bem. O desejo não dispõe de nenhum objeto que o satisfaça, salvo para angustiar o sujeito e consagrar sua morte psicológica - se ele viesse a perder o desejo porque saciado. Cabe, então, a cada um dotar-se de uma causa para seu desejo, de decidir o que fazer dele e, para aquele que toma o lugar do psicanalista, de questionar seu semelhante oferecendo-lhe o dispositivo para construir sua resposta: "O que fazes do teu desejo?"

Lacan aproxima o imperativo supereuóico constitutivo da lógica neoliberal, "Goze!", tanto do imperativo categórico de Kant quanto da exortação de Sade18. Essa aproximação sugere que a solução aos riscos do discurso capitalista não consiste em lhe opor novamente a moral e a religião para incitar ao sacrifício do referido gozo. Nossos contemporâneos parecem confrontados com isso que o próprio perverso visa e que Sade revela: assegurar-se da angústia do Outro para fazer-se crer que o gozo que o ameaça, ele, o sujeito, o espera em alguma parte, e que ele estaria preservado dos efeitos deletérios (mortíferos) desse encontro. A advertência de Lacan vale para cada um: "Acreditamos que Sade não é suficientemente vizinho de sua própria maldade, para reencontrar aí seu próximo". Como Freud e São Paulo, Sade percebeu o ponto em que o desejo se perpetua na Lei: encontrou aí a ocasião de ser "desmesuradamente pecador" - de escolher transgredir (Sade peca ali onde Paulo se acusa). Mas isso não é nada mais do que reafirmar a Lei, "O Ser supremo é restaurado no Malefício" (Lacan, 1966 [1963], p. 789-790). O perverso é, nesse sentido, um ardente defensor da lei - que interdita e designa ao mesmo tempo a entrada no campo do gozo proibido. Ao invés de reconhecer aí (o real de) seu ser (de gozo), ele obedece à sugestão da estrutura: "o desejo do homem é o desejo do Outro" (Lacan, 1973 [1964], p. 247). Restaura-se o Outro como o Ser supremo, "deus obscuro"19. Sem dúvida, temos aqui uma das razões do sucesso das políticas securitárias, da generalização da teoria do complô, da banalização do assédio, do sucesso de certas narrativas (storytellings)20, mas talvez também do aumento das violências conjugais e de todos os tipos...

Cada uma dessas interrogações foi colocada em curso. Assim, a crítica nos obriga a constatar que, ao lado dos psicóticos que encantaram o mundo por suas obras, há aqueles que souberam tirar partido de sua estrutura e de sua conivência com os discursos capitalista e universitário, para entrar aí como um mestre tirânico - para o pior.

 

6. Questionar o humanismo, repensar o sintoma...

A rejeição à psicanálise não é somente uma recusa de uma prática clínica e de uma concepção teórica da clínica. É igualmente a recusa disso que permitiria ao sujeito responder sobre o que ele é - que uma cura acolhe: seja o que for que mantenha, no "comum", a própria consideração do laço social, do sujeito, do vazio do Outro, da relação ao gozo. Querer o bem do outro vale tanto quanto querer sua infelicidade, do ponto de vista do apagamento disso que lhe devolveria a responsabilidade de sua resposta, ainda que pelo motivo de sua incapacidade, de sua fraqueza, de sua miséria. Essas duas posições mantêm no centro de seus respectivos dispositivos o gozo "autista" do próximo assim como o fato de se gozar pelas costas do próximo que se "humaniza". É nesse sentido que o gozo do sujeito, tanto o seu quanto aquele, mantido cuidadosamente, do outro, impedem em todo caso de encontrar o próximo.

A angústia do sujeito face à gula dos que pretendem gozar dele de alguma maneira e o sintoma como protesto lógico contra essa formatação permanecem os pontos de apoio que a psicanálise saberia "tradicionalmente" usar. Mas são precisamente esses dois índices do real que as doutrinas atuais atacam, substituindo o primeiro, o estado de stress21, e naturalizando o segundo, por exemplo. É claro que o humano não muda e continua a ter que contar sua vida e inventar uma solução para viver sua singularidade no mundo. Com a diferença de que as novas ideologias exploram os meios dos quais dispõe o sujeito humano para se realizar e - sobretudo - a sublimação. A falsa ciência do sujeito, não o esqueçamos, é uma atividade de sublimação: a sublimação não tem virtude em si, ela não é uma virtude. A ciência é sublimação.

Com a nova metáfora civilizatória, que substitui o direito pelo cálculo e pela avaliação, como então encontrar uma outra via, implicada pela humanização, por nossa condição de parlêtre (de ser falante)? Pode-se propor a via do sintoma? Nada se oporia a isso em que nos apoiamos, portanto, ao referido sintoma: salvo, uma vez mais, que em virtude da operação em curso (a natureza cognitiva do "livro comido"), o sintoma é frequentemente lido como disfunção, acidente, e apela a um expert, a um técnico, a um engenheiro e não a um clínico, menos ainda a um psicanalista.

Assim, a questão que Lacan coloca, sempre a propósito da mesma metáfora (que ele formula com João Evangelista, "comer o Livro"), retorna: "O importante não é saber se o homem é bom ou mau de uma maneira original (pouco importam as intenções dos TCCistas), mas saber para onde nos conduzirá o livro quando ele tiver sido inteiramente comido"! Lacan não se contenta em apostar na psicanálise. Ele temia, na verdade, o sucesso do liberalismo ou da religião e mesmo da psicanálise como sublimação - em detrimento do sintoma psicanalítico.

 

7. O lugar do discurso psicanalítico: ainda...

Convém medir o afastamento entre essa proposição de Lacan (1960) e aquela, esboçada por este artigo, que poderíamos fornecer à guisa de resposta (2012). Em comparação, a conclusão de Freud (2010 [1930]) em seu Mal estar na civilização passaria por otimista:

A questão crucial para o gênero humano parece-me ser a de saber se e em que medida a evolução da civilização resolve as perturbações da vida coletiva pela agressividade dos homens e suas pulsões de autodestruição. Com relação a isso precisamente, talvez a época atual [está-se em 1929] mereça um interesse particular. Os homens chegaram hoje a um tal grau de domínio das forças da natureza que, com a ajuda destas, lhes seria fácil exterminar uns aos outros até o último. Eles o sabem, donde uma boa parte de sua inquietude atual, de suas desgraças, de suas angústias. É preciso desde então esperar que a outra das duas potências celestes, o Eros eterno, faça um esforço para vencer o combate contra seu não menos imortal adversário. Mas quem pode predizer o sucesso e o resultado?" (p. 173)

Graças a Freud e a Lacan sabemos que a psicanálise poderia ainda incluir, com a oportunidade que ela restituiria pela via do sintoma, a promessa de uma resposta que torna nosso mundo ainda viável.

Quase como um Post Scriptum, mencionamos a presente hipótese que nos guia: levamos a sério a tese de Lacan segundo a qual o discurso capitalista recusa (no sentido em que Lacan traduz a Verwefung freudiana: foraclusão) a castração (operação pela qual o neurótico consegue simbolizar a falta que o constitui como um sujeito desejante e o torna apto às coisas do amor). Essa foraclusão faz seu retorno no real - mas por intermédio do advento do discurso analítico: é ele que reintroduz, pelo lugar dado à transferência, a consideração da castração no laço social22. Em resumo, o discurso analítico é um dos recursos que os humanos inventaram para sobreviver ao discurso capitalista. Atacar o sintoma é desativar o discurso analítico; dar uma oportunidade ao sintoma passa, entre outras coisas, pelo serviço prestado a esse mesmo discurso...

 

REFERÊNCIAS

Andreasen, Nancy. (2001). " Editorial ". American Journal of Psychiatry, décembre 1998, citado por Alain Ehrenberg et Anne M. Lovell, sous la direction de), La maladie mentale en mutation, psychiatrie et société, Paris, Odile Jacob, 2001, pp. 29-30.         [ Links ]

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Recebido/Received: 24.02.2015/05.24.2015
Aceito/Accepted: 23.04.2015/04.23.2015

 

 

1 Artigo publicado originalmente na revista Les Cahiers de Psychologie Politique, nº 22, janeiro de 2013. Disponível em http://lodel.irevues.inist.fr/cahierspsychologiepolitique/index.php?id=2282
2 Fundado em 1968, o Clube de Roma (The Club of Rome) é uma associação de políticos, empresários e cientistas de várias partes do mundo, cujos objetivos são, entre outros: identificar grandes questões e problemas determinantes do futuro da humanidade, avaliar cenários alternativos para o futuro e para a mitigação dos riscos examinados, desenvolver e propor soluções práticas para os desafios identificados, divulgar os novos conhecimentos advindos dessas análises com o intuito de subsidiar as tomadas de decisão no âmbito dos setores público e privado, bem como estimular o debate público e efetivo a respeito de ações voltadas à melhoria das perspectivas para o futuro. (Fonte: www.clubofrome.org). (N. do Tradutor).
3 Deixamos a outros o cuidado de trazer outras contribuições, provenientes da ciência (darwinismo biológico), da arte, etc.
4 Onfray, Michel. (2010) Le Crépuscule d'une idole . L'affabulation freudienne, Grasset, et LGF ; Apostille au Crépuscule. Pour une psychanalyse non freudienne, Grasset et LGF, 2010.
5 Terapias comportamentais e cognitivistas (N. do tradutor)
6 Cf. o artigo de Gilles de Robien, então Ministro Nacional da Educação e da Pesquisa, justificando a superioridade do método analítico de aprendizagem da leitura sobre o método global por funcionamento neurônico (Gilles de Robien, "Le cerveau, puits de science". Le Quotidien, mardi 28 février 2006.
7 Referência ao título do seminário de Lacan no ano de 1973-74, Les non-dupes errent ("Os não-enganados erram") (N. do tradutor)
8 Cf. Myriam Revault d'Allonnes Paris, Seuil 2010, et le compte-rendu de Fréderic Rousseau, «Pourquoi nous n'aimons pas la démocratie», Les cahiers psychologie politique [En ligne], numéro 18, Janvier 2011. URL : http://lodel.irevues.inist.fr/cahierspsychologiepolitique/index.php?id=1827
9 Sauret, Marie-Jean « A l'autiste qui a consenti à quitter son monde et a celui qui se méfie de nous
», Médiapart, 3 février 2012, http://blogs.mediapart.fr/edition/contes-de-la-folie-ordinaire/article/030212/lautiste-qui-consenti-quitter-son-monde-et-
10
« com as quais se vestiam nossas exações», Jacques Lacan « Télévision », op. cit., p. 534.
11 Eleições presidências de 2012 na França. (N. do Tradutor)
12 Gardiner, Muriel. (1981). L'Homme aux loups par ses psychanalystes et par lui-même, Paris, Gallimard, pp. 88, 100. Ao supor no Homem dos Lobos um paranoico, como dar conta da ausência de delírio sistemático pós-desencadeamento e desse alívio pelo sentido?
13 Gaucher, Renaud (2009) Bonheur et économie. Le capitalisme est-il soluble dans la recherche du bonheur ? L'Harmattan, collection L'esprit économique. Gaucher, Renaud (2012) Bonheur et politiques publiques. Une approche scientifique et un bout de programme pour l'élection présidentielle de 2012, L'Harmattan, ebook gratuito disponível no site desse mesmo autor. Sir Richard Layard (2006), Happiness: Lessons from a new science, Penguin, traduction française : Le prix du bonheur. Leçons d'une science nouvelle, trad. Christophe Jaquet. Paris : Armand Colin, 2007.
14 Sauret, Marie-Jean. (2008) « Singularité, indétermination : un enjeu politique », in Patrick Conrath et Delphine Goetgheluck, De la formation à la pratique, Tome 1, Les éditions du Journal des Psychologues, pp.67-78.
15 Corcos, Maurice. (2011) L'homme selon le DSM, le nouvel ordre psychiatrique, Paris, Albin Michel, novembre; Jordan, Bertrand. (2012) Autisme, le gène introuvable. De la science au business, Paris, Seuil; Gonon, François (2011) « La psychiatrie biologique, une bulle spéculative ? », Esprit, novembre.
16 Evidentemente, não há nada mais a discutir no que diz respeito à questão do "livre arbítrio".
17 Cf. Dufour, Dany-Robert. (2007) Le Divin marché, Paris, Denoël ; Laval, Christian. (2007) L'homme économique : Essai sur les racines du néolibéralisme, Gallimard, coll. « Nrf essais ».
18 «Seguramente, o cristianismo educou os homens a serem pouco atentos à dimensão do gozo de Deus, e nisso que Kant faz passar o voluntarismo da Lei-pela-Lei, o qual remete, podemos dizer, à ataraxia da experiência estóica. Pode-se pensar que Kant está aí sob a pressão disso que ouve de muito perto, não de Sade, mas de um tal místico de sua região, no suspiro que sufoca isso que ele entrevê mais-além, por ter visto que seu Deus é sem rosto: Grimmigkeit ? Sade diz : Ser-supremo-em-maldade » (Lacan, 1966, pp. 772-773). Seria necessário examinar outras figuras desse imperativo: « É impossível não obedecer ao comando que está aí, no lugar disto que é a verdade da ciência: continua, segue. Continua para saber sempre mais» (Lacan, 1991 [1960-70], p. 120)
19 Seria preciso um pouco mais de tempo para chegarmos ao Outro do capitalismo: « (
)a foraclusão da castração (e não « foraclusão do Nome-do-Pai », para evocar a expressão, (...), com a qual Lacan funda a distinção entre psicose e neurose), (...) reenviaria a esta flecha a - > $, o sujeito completável por seu mais-de-gozar, em uma incompatibilidade assintótica, ao termo da qual poderíamos esperar a epifania de um sujeito não-barrado (). O capitalismo realiza, através do dinheiro, a virtualização pela monetarização de tudo o que é vivo, por uma economia na qual mesmo o golpe da morte não seria gratuito () e que prepararia para um mundo sem-amor, com exceção do amor religioso por este Outro completamente abstrato, o sistema capitalista» (Bruno, 2010, p. 216).
20 Salmon, Christian, Storytelling, La machine à fabriquer des histoires et à formater les esprits , Paris, La Découverte , 2007 et Storytelling saison 1 : Chroniques du monde contemporain, Paris, Les prairies ordinaires , 2009
21 Em uma outra perspectiva, Allan Young mostrou o quanto a fabricação, a definição, a evolução da concepção da EPST (Escola preparatória às ciências e técnicas) é tributária das organizações de veteranos nos EUA, do sistema de seguridade e da situação da sociedade americana. (Young, A. (1995) The Harmony of Illusions: Inventing Posttraumatic Stress Disorder, Princeton: Princeton University Press).
22 Jacques Lacan, Je parle aux murs (4 novembre et 2 décembre 1971, 6 janvier 1972), Paris, Seuil, 2011, (sobretudo a lição de 6 de janeiro, pp. 96 et sq.).

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