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Analytica: Revista de Psicanálise

On-line version ISSN 2316-5197

Analytica vol.4 no.7 São João del Rei July/Dec. 2015

 

subjetivação e engajamento: as relações entre a militância e a angústia

 

Subjectivity and engagement: the relationship between militancy and anguish

 

Subjectivité et l'engagement: la relation entre le militantisme et l'angoisse

 

Subjetividad y compromiso: la relación entre la militancia y la angustia

 

 

Rodrigo Gonsalves

Formado em filosofia, em psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, membro do FCL-SP e mestrando pela European Graduate School (Suíça). rodrigoluizcg@gmail.com

 

 


RESUMO

O presente texto toma a filosofia de Badiou e Žižek, para discutir a conjuntura do cenário político nacional e contrapô-lo, diante da proposta política que os autores promovem. Valendo-se da discussão da teoria critica da sociedade, da problematização da ideologia e da idéia, bem como a proposta de retomar a hipótese comunista; o presente texto, encontra as suas bases de discussão em quatro termos principais, à saber: Subjetivação, Engajamento, Militância e Angústia. Por meio da discussão dos termos, de suas contraposições, o texto aponta para uma consideração acerca da superação e criticas aos modelos do engajamento advindo do relativismo cultural.

Palavras-chave: Teoria Critica da Sociedade, Psicanálise, Žižek, Badiou, Engajamento, angústia.


ABSTRACT

This paper takes the philosophy of Badiou and Žižek, to discuss the situation of the national political scene and to align it before the policy proposal which the authors promote. Drawing on the discussion of critical theory of society, questioning the ideology and the idea and the proposal to resume the communist hypothesis; the present text, finds its discussion of bases in four key terms to know: Subjectivity, Engagement, Advocacy and distress. Through the discussion of the terms of its oppositions, the text points to a consideration of the resilience and criticisms of models arising from the engagement of cultural relativism.

Keywords: Critical Theory of Society, Psychoanalysis, Žižek, Badiou, Engagement, anguish.


RÉSUMÉ

Ce document prend la philosophie de BadiouetZizek, pour discuter de la situation de la scène politiquenationale et à l'aligneravant la proposition de politique qui favorisent les auteurs. Dessinsurladiscussion de lathéorie critique de lasociété, lequestionnement de l'idéologie et de l'idée et laproposition de reprendrel'hypothèsecommuniste; leprésenttexte, trouvesadiscussion de bases dansquatretermesclés à savoir: lasubjectivité, de fiançailles, de plaidoyer et de détresse. Grâce à ladiscussionsurlestermes de sesoppositions, letexte indique une étude de larésilience et critiques de modèlesdécoulant de l'engagementdurelativismeculturel.

Mots-clés: Théorie critique de lasociété, lapsychanalyse, Žižek, Badiou, l'engagement, l'angoisse.


RESUMEN

En este trabajo se lleva a lafilosofía de Badiou y Žižek, para discutir lasituación de laescena política nacional y para alinearla antes de lapropuesta de política que los autores promueven. Sobre la base de ladiscusión de lateoría crítica de lasociedad, cuestionandolaideología y laidea y lapropuesta de reanudarlahipótesis comunista; el presente texto, encuentrasudiscusión de las bases encuatro términos clave que debe saber: La subjetividad, de compromiso, de promoción y de socorro. A través de ladiscusión de los términos de sus oposiciones, el texto apunta a laconsideración de lacapacidad de resistencia y críticas a los modelos derivados de laparticipacióndel relativismo cultural.

Palabras clave: Teoría Crítica de laSociedad, Psicoanálisis, Zizek, Badiou, de compromiso, de la angustia.


 

 

Antes de mais nada, há uma necessidade quase que "prática" de filtrar desta discussão o caráter já "batido" das leituras binárias quetentam discutir o engajamento político.Não por menosprezar ou por se furtar desta mesma discussão, mas sim pela questão prática de que outros já apontaram com maior destreza tal tema, tomo aqui como exemplo, o embate aberto entre Dunker e Constantino (vide os artigos presentes na página de internet daBoitempo editorial, em meados de junho de 2015) ou os inúmeros artigos em mídia aberta onde conhecidos autores já trataram do tema (tomo aqui Boulos e Safatle, em inúmeros artigos pela página virtual da Folha) e desta forma, tomo estepressuposto "atalho"aome endereçar ao atual cenário da esquerda hoje. Obviamente surge a questão então da pressuposição deste atalho, que logo se explica nas claras dificuldades do endereçamento de qualquer um que se diz de "esquerda" diante do cenário atual. Questão esta que já para além do seu primeiro desconforto, da afirmação de uma esquerda, já parte para um segundo nível de complexidade, o de discutir a militância, engajamento, subjetivação e angústia. Tanto o público geral, quanto o leitor dito douto, pode facilmente localizar que hoje nos encontramos mais do nunca num complexo emaranhado ideológico, donde poucos lugares pacíficos são localizados como pontos pacíficos.

Foi por tomar as complexas manifestações que começaram a emergir desde 2008, e que tiveram repercussões grandes no Brasil (os episódios de junho de 2013),que este texto encontrou seu início. Hoje, já com certa poeira baixa, há uma possibilidade de lermos alguns posicionamentos e certas situações com outros olhos. Este retrato mais específico da esquerda atual, pensando justamente nessas quatrograndes vertentes, ao qual o presente texto tem como objetivo investigar, o fazemospor pensarmos que investigaçãodestas matrizes e de suasconseqüências,poderiaapontar para indícios que nos auxiliem na problematização de velhas questões da ordem do:o que e o como fazer? Ao invés de tecer o desenvolvimento do texto por meio de grandes blocos temáticos que iriam apresentando os termos (subjetivação, engajamento, militância e angústia) do qual o artigo pretende tratar, o fio condutor do artigo será justamente as inquietações que este temas nos permitem pensar. Por sua vez, o referencial teórico do artigo toma a filosofia badiouiana e as inquietações žižekianas, somadoao seu pano de fundo, queé o cenário político atual e a articulação das propostas destes autores neste possível diálogo.

Bem, as problematizações referidasacima convergem com o apontamentodo filósofo francês Badiou (2012), na seguinte passagem:

"Vemos em tudo isso como "fracassar" está sempre muito perto de "vencer". Uma grande palavra de ordem maoista dos anos vermelhos dizia: "Ousar lutar, ousar vencer". Mas sabemos que, se não é fácil obedecer a essa palavra de ordem, se a subjetividade receia não tanto lutar, mas vencer, é porque a luta expõe à forma simples do fracasso (o ataque não deu certo), enquanto a vitóriaexpõe a sua forma mais temível: perceber que vencemos em vão, que a vitória prepara a repetição, a restauração. Que uma revolução nunca é mais do que um entremeio do Estado. Daí a tentação sacrifical do nada. O inimigo mais temível da política de emancipaçãonão é a repressão pela ordem estabelecida. É a interioridade do niilismo, e a crueldade sem limites que pode acompanhar seu vazio" (Badiou, 2012, p.14).

E não menos, essa problemática do que se evidencia do que está em jogo no fracasso e no vencer, diz tanto da repetição,quantoda possibilidade de algo que viabilize sua superação. Esta passagem de Badiou, parece sustentar um diálogo com a perspicaz leitura de Losurdo, onde:

"O fato é tanto mais singular que a categoria de "falência" continua ativa também na esquerda. Justamente neste ambiente, a historieta edificante, contada a partir da ideologia e da historiografia dominantes, conhece às vezes uma pequena variante. Se também se fazia passar pelo senhor Comunismo, o bruto que primeiro agride a senhorita Democracia era na realidade o senhor Stalinismo, um vulgar impostor ou, na melhor das hipóteses, um rude ignorante que nada havia compreendido da teoria de Marx. Eis então o discurso sobre a "falência" que tende à ceder lugar ao discurso sobre a "traição" (ou então, na melhor das hipóteses, do mal-entendido) (Losurdo, 2004, p.105-6).

Conseqüentemente, há uma critica necessária e que esta precisa ser feita pela própria esquerda, não apenas em tom de auto-crítica, mas para além disto, para o exame dos risco frente ao cinismo e à falência, da qual hoje, vemosexaurindo os posicionamentos ideológicos mais contundentes. E ao invés de abrirmos mão desta dificuldade, partamos dela,é mister que não há consenso filosófico, tão menos político, acerca do posicionamento dos autores ao qual este artigo versa. Porém, o que gostaríamos de apontar é o que há algo materialmente interessante no "rejuvenecimento" teóricopropostopelos autores (em suas convergências e divergências) que convida a pensar.Justamente,pensandonestas derivações e na coragem de sua radicalidade, quese encontra a aposta deestarmos vislumbrando nesta discussão, algo que seria da ordem de um "novo" dentro deste campo de discussões. - mas não se engane, não se trata necessariamente disto, o primeiro momento é praticamente um resgate de memória, é um saber olhar para trás que nos apontará para outro por-vir.De certa forma, e ainda praticamente, como acusara Horkheimer (2014): "Não acredito que as coisas irão acabar bem, mas a idéia de que elas irão é de vital importância" (p. 32).

Há em Badiou(2012) uma preocupação em colocar em pauta as tendência das políticas identitárias que as esquerda passou a aderir tão fortemente. Em suas articulações é claro o posicionamento de que, algo fora alterado, no que diz da possibilidade de algo comum em nome do sectarismo de causas particulares. O que está sendo colocado aqui, não é nem de perto um posicionamento contra a militância destas frentes distintas, menos ainda da destituição de suas intenções, de questionar sua validade, mas apenas que a tentativa de sobrepujar causas sobre causas, apenas dissemina o mesmo cinismo e o narcisismo, que o mesmo autor, busca superar. Nas demarcações de sua hipótese comunista, vemos que o caráter de não deixar nada "de fora" ou de não se refutar à debater os aspectos da própria esquerda, o obriga a colocar em cheque as posturas acerca do comunismo e das tentativas socialistas até o presente momento. Entretanto, para além do forte criticismo, é vital marcar que o autor, justamente está apontando para algo que é da ordem de uma fidelidade em nome deste evento e que, apenas em nome do comum, revitalizado, que se pode buscar esta quebra.

Situação esta de posicionamento crítico que parte de dentro, do seio da própria esquerda, pode ser notado na seguinte passagem: "o que parece ser mais problemático, além de existir um inimigo externo, há também um inimigo interno, visto que nem todos estão livres de serem contra o estado socialista" (Badiou, 2012, p. 10). Algo que merece atenção, pois se tomarmos a postura crítica de autores da escola de Frankfurt, poderemos notar uma diferença fundamental, e valemo-nos aqui de uma possível ressalva à Marcuse (2004), mas todos os outros "grandes nomes" da aclamada escola se furtaram do debate e da problemática discussão do Stalinismo. Se encontrarmos mais de 5 parágrafos sobre as decorrências políticas da queda da USSR, será muito. Tomar este ponto é de vital importância, pois "obliterar" uma situação ou se furtar ao problematiza-la, ainda mais se sua ressalva for a "escolha científica" de um objeto, temos aqui uma situação ética extremamente delicada e mais ainda, uma questão de postura ideológica política que chega a ser mais ainda complicada. Não cabe, nem ao menos como pressuposto acadêmico, defender com todas as forças que Auschwitz não se repita (Adorno, 2004) e fechar os olhos para os gulags, os tribunais e as ademais situações tão próximas do acalorado momento histórico. Um aspecto este queBadiou e Žižek, não apenas denunciam mas também, não se furtam à problematização, não deixam de lado e nisto, não recaemno ávido silêncio sintomático (mas não menos comum em conhecidos autores da tradição marxista de esquerda) - mas sim, buscam o endereçamento de uma voz em nome da dissolução destes antigos sintomas e mais do que isto, que se encarem antigas fantasias.

Logo, a proposta da dupla, em sua retomada mais radical do comum, enquanto um problema, não enquanto solução. Lança à critica da situação dada, para um outro patamar filosófico.AIdéia do comunismo, deixaria de operar na vertente binária da oposição direta ao capitalismo, e passa à permitir a investigação de problemas que hoje surgem em nossa atual conjuntura. As marcas dos aspectos do reconhecimento e de sua falta, assim como sua implicação subjetivante, como as situações de ver-se imbuído de uma fidelidade para além de si mesmo, ou atado à um laço transferencial que parece advir de uma posição distinta da formação grupal freudiana, nos acena para a possibilidade de manifestações de ordem distinta que podem estar emergindo. Essa situação é chave, pois quando as manifestações que tomaram as ruas no Brasil, em meados de 2013, com seu pressupostoaspecto social declarado, com a defesade um afastamento necessário do que era advindo da forma-partido, tínhamos algo que poderia ser confundido com um evento. Poderia ser que algo do comum, estivesse de fato sendo colocado ali naquela situação. Mas com a prudência e a paciência de alguns meses depois, podemos notar que pela exorbitante força com que a direita hoje se organizou no cenário do país, pois fundamentalmente foi a única resposta que foi materialmente obtida destas manifestações, torna-se plausível afirmar que não havia ali um evento, propriamente dito, em jogo. Mas, por que essa situação é tão vital?

Justamente por colocar em cheque que o papel da militância hoje, ele atravessa a necessidade do pensar, e com urgência. Hoje, as manifestações ideológicas dominam cada vez mais o que é da ordem do comum, suas conseqüências parecem saídas da análise psicanalítica de um sonho: aquilo que parece uma manifestação, não se trata de uma manifestação. De certo modo, parece que o comum apenas tem espaço na realidade se o capitalismo, de alguma maneira, já está operando e comercializando este, para os seus consumidos ou trabalhadores. Há sim, uma luta do papel subjetivante e da qualidade em nome das condições de um evento político. E esta luta está no campo, talvez mais inusitado: o da organização.Esta no campo da burocracia, do institucional, a possibilidade de colocar nos eixos as capacidades emancipatórias do movimento de superação das auto-críticas. Provavelmente, a primeira lição para a esquerda conseguir tal superação, seja finalmente, enfrentar o temor totalitário que parece rondar à cada reunião onde um coletivo que se propõe de esquerda. Uma volta à problematização da forma-partido e não, a sua defenestração.

Este argumento da militância, do engajamento, da subjetivação tem como seu oposto, a pluralização das causas historicamente construídas à partir dos movimentos sociais e todas as suas muitas divisões, inúmeras divisões entre as causas das causas e toda a flora ideológica que se derivou disto. Temos hoje, conforme nos ilustra Badiou (1995) o cenário da:

"verdadeira perversão, cujo preço será historicamente terrível, que se acreditou poder agregar um "ética" ao relativismo cultural. Pois isso é pretender que um simples estado contingente de coisas possa estar no fundamento de uma Lei. Não há ética senão das verdades. Ou, mais precisamente: não há ética senão dos processos de verdade, do trabalho que faz advir a este mundo algumas verdades. A ética deve ser tomada no sentido suposto por Lacan quando ele fala - opondo-se assim a Kant e à temática de uma moral geral - de ética da psicanálise. A ética não existe. Não há senão ética-de (da política, do amor, da ciência, da arte)" (p. 39).

Desta maneira, se faz mister que o relativismo cultural apenas decentralizou as forças destes militantes, algo como se fora coptada a própria virtude subjetivante e que, espalhando por diversas lutas localizadas, que cada vez mais se subdividem em menores e mais particulares pontos de conflito, então mais específicas, praticamente como as formações profissionais atuais ou a classe dos especialistas e assim, afugentando num oceano de plurais aquilo que deveria ser da ordem da clareza: a briga central é em nome do comunismo.

E neste cenário da militância, engajamento e subjetivação, tomo a atenção para o aspecto vital dos desenvolvimento meta-psicológicos propostos por Lacan (2005) em seu seminário X (de 1962-63, intitulado A Angústia).Ao se afastar das colocações freudianas acerca da angustia em "Inibição, Sintoma e Angústia" (de 1926), temos a apresentação deste afeto, que possui "estreita relação de estrutura com o que é um sujeito" (p. 101) e que não engana. Seguindo com a apresentação detalhada da relação entre a angústia e o desejo do Outro, justamente oriunda da inscrição de um sujeito enquanto um quociente desta marca significante que deixa um resto em sua divisão. Esse "aceno" do Outro, tal enigma é o objeto a, esse resto, que é introduzido por Lacan, que vincula ao desejo do Outro e mobiliza a angustia para o sujeito. Neste sentido, diferente de Freud, Lacan consegue afirmar que a angustia não é sem objeto - trata-se da afirmação do objeto a.

Contamos com tal desenvolvimento, o da angústia, pois, justamente enquanto afeto que não engana, o que se abre no campo entre o sujeito e o objeto, há algo próprio do campo da coragem, algo de não ceder frente ao seu desejo ou extração da conseqüência radical de um ato ético, o mesmo risco que se nota na militância em busca de sua proposta. E não por menos, encontramos tais traços na seguinte defesa: "A política é uma construção, que, sem dúvida, separa-se daquilo que domina, mas que - pela violência, se necessário - protege essa separação apenas na medida em que, ao longo do tempo, ela esclarece que só ali se encontra um lugar habitável por todos, sob a norma da igualdade" (Badiou, 2012, p.12). A possibilidade do pensar deste fazer militante, coloca em jogo algo fundamental da própria angustia. Especialmente, quando sabemos que a relação "extima", gera conseqüências tanto para dentro quanto para fora, na relação entre o sujeito e o Outro, temos reflexos do que é gerado sobre o sujeito em sua dialética de reconhecimento (tanto positivamente quanto negativamente) e na própria realidade "lá fora". Entretanto, nas práticas de interpretar coletivamente alguns aspectos gerados pela própria experiência do comum, é também possível permitir uma possibilidade de dissolver coletivamente, aquilo que é oriundo deste mal-estar. Logo, o que é do campo da angustia, propiciada pelo coletivo, há sim um endereçamento e também, um modo de organização, para ser aplacado e acolhido.

Esta na possibilidade da construção de um lugar que não se furte ao endereçamento do mal-estar, diferente dascortesperformáticasstalinistas mas sim, enquanto dentro da disciplina do próprio pensar político. Algo da oxigenaçãodo espaçoda militância da esquerda em nome do comum, que pode realmente encontrar uma articulação política que esteja em dia com os nossos tempos. Hoje esse compromisso tímido e escasso, é o plano de vôo de poucos, mas que honestamente tomam a reabertura à discussão e à possibilidade da Idéia de Comunismo, de maneira critica e sem medo de encarar o que já ocorreu no passado histórico de suas tentativas de construção. Apenas o pensar político nestes termos, possui hoje as condições de desmascarar os efêmeros espetáculos que hoje vemos diante do que se propõe a esquerda.

Concluindo, muito embora o papel da filosofia seja o de iluminar os compromissos políticos, e sabendo que filosofia e política são coisas distintas, os compromissos filosóficos são marcados pela sua interna "estrangeiridade". Há nesta equaçãocom a psicanálise, a possibilidade de enfrentamento com este desconhecido tão familiar, as ferramentas de análise dosaspectos da angústia que o fazer militante nos implica,permite uma reflexão da implicaçãodasubjetivação nos muitos encontros e desencontros do engajamento.As ações política estão localizadas neste interstício subjetivante entre os sujeitos e o que é do campo social, hoje a psicanálise, justamente por ser um campo eclipsado pelo discurso vigente na realidade, ainda localiza saídas discursivas para além das dadas. Deste encontro entre os campos da filosofia e da psicanálise, encontramos as ferramentas necessárias para extrair as conseqüências radicais para o que advém do campo político e em todo o seu aspecto humano.As frustrações, inibições, angustias e mobilizações do próprio desejo, uma possibilidade de fazer laço em uma qualidade outra, e uma militância sob essa roupagem, apontariam para uma"sólida existência subjetiva" à hipótese comunista.E finalmente, é neste predicamento, o terceiro predicamento badiouiano (2012)que encontramos a solução para o enigma dos nossos quatro termos:

"O que importa é a sua existência e os termos de sua formulação. Em primeiro lugar, dar uma sólida existência subjetiva à hipótese comunista. Essa é a tarefa que nossa assembléia de hoje cumpre à sua maneira. E, eu quero dizer, é uma tarefa exaltante. Combinando as construções do pensamento, que são globais e universais, e as experimentações de fragmentos de verdades, que são locais e singulares, mas universalmente transmissíveis, podemos garantir a nova existência da hipótese comunista, ou melhor, da Idéia comunista, nas consciências individuais. Podemos inaugurar o terceiro período de existência dessa Idéia. Nós podemos, logo devemos" (BADIOU, 2010, p. 83).

 

Referencias

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Badiou, A. (2012). Hipótese Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial. (original publicada em 2009).         [ Links ]

Badiou, A. (1995).Ética: um ensaio sobre a consciência do mal. Rio de Janeiro: RelumeDumará(original publicada em 1993).         [ Links ]

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Losurdo, D. (2004) Fuga da história?Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004.         [ Links ]

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Žižek, S. (2013) Alguém disse totalitarismo? São Paulo: Editora Boitempo,.(original publicada em 2001).         [ Links ]

Žižek, S.(2009) Um mapa da ideologia.São Paulo: Editora Contraponto, (original publicada em 1994).         [ Links ]

 

 

Recebido/Received: 30.11.2015/11.30.2015
Aceito/Accepted: 21.12.2015/12.21.2015

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