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Analytica: Revista de Psicanálise

versión On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.7 no.13 São João del Rei jul./dic. 2018

 

ARTIGOS

 

O pensamento estrangeiro: a errância de Freud no Brasil

 

 

Luciana Cavalcante TorquatoI; Guilherme Massara RochaII

IPsicanalista. Professora do Curso de Psicologia da Facisa - Univiçosa. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Estudos Psicanalíticos) da UFMG. Autora do livro A recepção da Psicanálise no Brasil: o discurso freudiano e a questão da nacionalidade
IIPsicanalista. Professor do Departamento de Psicologia da UFMG e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Estudos Psicanalíticos) da mesma universidade. Membro da Fédération Européenne de Psychanalyse (FEDEPSY) e da International Society of Philosophy and Psychoanalysis (ISSP). Membro do GT Psicanálise, Política e Cultura da Anpepp. Pesquisador em Artes, Psicanálise e Ciências Humanas

 

 


RESUMO

O presente artigo visa apresentar as formas como a viajante Psicanálise chega ao Brasil, sobretudo a partir da apropriação pelo filão modernista da arte nacional do início do século XX, considerando, especialmente, as obras dos escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Constata-se que a história da Psicanálise no Brasil pode ser considerada a partir de abordagens distintas, que vão desde a precoce recepção do meio psiquiátrico nacional até a despretensiosa leitura de Freud feita por uma ala da nossa vanguarda literária. Com o intuito de investigar as primeiras percepções sobre o modo como a cultura nacional teria acolhido esse Freud errante por terras estrangeiras, demonstramos como, ao aportar em terras brasileiras, o pensamento freudiano filiou-se aos discursos e tradições existentes no espaço nacional. Ademais, cada uma dessas vias discursivas portava interesses específicos ao selecionar os temas freudianos, fornecendo à exilada disciplina vienense leituras ímpares que marcarão sua trajetória no país.

Palavras-chave: Psicanálise. História. Circulação. Modernismo.


ABSTRACT

This paper aims to present the paths through which psychoanalysis arrived in Brazil, especially considering the modernist art appropriation in the early twentieth century, trough the works of Mário de Andrade and Oswald de Andrade. It can be seen that the history of psychoanalysis in Brazil can be considered from different approaches, ranging from the early reception of the national psychiatric environment to the unpretentious reading of Freud by part of the brazilian literary vanguard. In order to investigate the first perceptions about the way in which the national culture would have received Freud's ideas, we demonstrated how Freudian thought was affiliated to the discourses and traditions existing in the national space. In addition, each of these discursive ways carried specific interests in selecting the Freudian themes, providing the exiled Viennese discipline with odd readings that will mark its trajectory in the country.

Keywords: Psychoanalysis. History. Circulation. Modernism.


RÉSUMÉ

Cet article approche le thème général de l'arrivée de la psychanalyse au Brésil en soulignant ses échos dans l'art moderne du pays. Et encore plus particulièrement la question de la «dévoration» moderniste de la psychanalyse - de la part du mouvement culturel de l'Anthropophagie - qu'a eu lieu dans l'œuvres de Mário de Andrade et Oswald de Andrade. Nous considérons aussi un certain dédoublement dans le parcours des lectures et des épistèmes psychanalytiques au Brésil, dans le début du XXéme siècle, et que concerne justement aux axes d'une lecture disons «hygiéniste» (performé pour des psychiatres et d'autres médecins engagés dans des projets de sécurité social du gouvernement central) et, d'autre côté, les axes d'une lecture «avant-garde» dont les protagonistes sont des artistes et des écrivains modernistes. Les perspectives de transformations et mutations ici entrevues - soit dans la psychanalyse elle-même, soit dans le discours et dans l'action artistique brésilienne - sont approchés dans une démarche historique et critique, dont la portée est définie pour l'idée d'une pensée freudienne «en exile» et mise à la preuve des lectures et des assimilations hétérogènes.

Mots-clés: Psychanalyse. Histoire. Circulation. Modernisme.


RESUMEN

El presente artículo tiene por objeto presentar las formas en que el psicoanálisis llega a Brasil, sobretodo a partir de la apropiación por el filón modernista del arte nacional del inicio del siglo XX, considerando especialmente las obras de los escritores Mário de Andrade y Oswald de Andrade. Se constata que la historia del psicoanálisis en Brasil puede ser considerada a partir de enfoques distintos, que van desde la precoz recepción del medio psiquiátrico nacional hasta la despretensiosa lectura de Freud hecha por un ala de la vanguardia literaria brasileña. Con el fin de investigar las primeras percepciones sobre el modo en que la cultura nacional habría acogido a ese Freud errante por tierras extranjeras, demostramos cómo, al aportar en tierras brasileñas, el pensamiento freudiano se afilió a los discursos y tradiciones existentes en el espacio nacional. Además, cada una de esas vías discursivas portaba intereses específicos al seleccionar los temas freudianos, proporcionando a la exilada disciplina vienesa lecturas impares que marcarán su trayectoria en el país.

Palabras clave: Psicoanálisis. Historia. Circulación. Modernismo.


 

 

Freud jamais esteve no Brasil, ou na América do Sul. Todavia, ainda que seu contato com o Novo Mundo tenha sido bastante limitado, a visita1 do psicanalista aos Estados Unidos, em 1909, pode ser considerada um marco histórico do processo de difusão geográfica da Psicanálise para além do berço vienense, bem como para a implementação do "freudismo"2 nas Américas.

A relevância dessa passagem se amplia quando consideramos o processo massivo de emigração de judeus para o continente americano diante da ascensão de Adolf Hitler3 ao poder, o que levou às Américas a "quase totalidade dos pioneiros do movimento psicanalítico europeu" (Roudinesco & Plon, 1997, p. 198). Tal "exílio maciço" de psicanalistas foi um dos acontecimentos que influenciaram os rumos da implantação da Psicanálise nos diversos pontos do novo continente. Torna-se flagrante, por exemplo, o poder norte-americano no seio da International Psychoanalytical Association (IPA),4 cuja consequência mais facilmente identificável é a primazia de critérios mais adaptativos para a análise didática, aspecto que se distancia do freudismo clássico (Roudinesco & Plon, 1997) e nos serve como modelo para percebermos como a Psicanálise vai incorporando as tradições e elementos das culturas locais em sua internacionalização.

Uma demonstração clara do modo como a Psicanálise se traveste com roupagens locais ao ser incorporada em variados contextos é o caso de sua recepção em outra América: na Argentina - país cuja sociedade notadamente cultivava características de uma sociedade europeizada, ainda que abaixo da linha equatorial, a Psicanálise vai sendo transformada em uma espécie de "terapia de massa", com uma abertura inédita a diversas correntes, características daqueles pioneiros que se interessaram pela Psicanálise no país. Em seu livro sobre a historiografia da Psicanálise na Argentina, Mariano Plotkin (2003) cuida de analisar as primeiras leituras da Psicanálise ali empreendidas, interrogando-se acerca das condições culturais, políticas, sociais, históricas do país que possibilitaram a difusão maciça da disciplina freudiana na cultura local - onde os termos do glossário psicanalítico teriam entranhado no vocabulário cotidiano de sua população. Outro exemplo que fotografa com rigor historiográfico o processo de recepção das ideias de Freud - a partir de filiações a discursos e tradições já existentes no cenário em que aporta - é a chegada da Psicanálise ao México, tão bem descrita pelo pesquisador Rubén Gallo (2010) em seu instigante "Freud's Mexico". Cumpre lembrar que nos tempos atuais, em que setores da Psicanálise (sua clínica, sua inserção nas universidades, sua participação nas políticas públicas) são vítimas de abalos, retrações e recuos na Europa e nos Estados Unidos, o vigor de sua marca resiste e se amplia no contexto latino-americano em geral e no brasileiro em particular.

E a propósito do "caso brasileiro" e suas origens? A quais discursos e filiações já circulantes no Brasil as ideias freudianas teriam se alinhado? Quais marcas, traços, a cultura nacional poderia ter imprimido corpo teórico freudiano, ou na Psicanálise como prática profissional, clínica, ou ainda no modo como foram sendo implementadas suas instituições?

Parte do questionamento anteriormente apontado foi objeto de uma pesquisa 5recentemente realizada e que nos permitiu conhecer o que chamamos de vias principais de incorporação da Psicanálise no Brasil, antes mesmo da institucionalização do campo psicanalítico. As dúvidas com relação às possibilidades de uma via de mão dupla entre Psicanálise e contexto brasileiro - ou seja, a admissibilidade de que aspectos da cultura e do pensamento nacional poderiam ter retroagido sobre a Psicanálise, colorindo-a de tonalidades tupiniquins - é objeto de pesquisa ainda em construção.

 

As particularidades de uma recepção à brasileira

Nosso objetivo no presente texto é apresentar as formas como a viajante Psicanálise chega ao Brasil, sobretudo sendo recebida pelo filão modernista da arte nacional daquele período, considerando especialmente as obras dos escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade, dois dos pioneiros (e talvez mais inventivos) leitores de Freud no país naquele momento.

A história da Psicanálise no Brasil pode ser considerada a partir de várias abordagens,6que vão desde a precoce recepção do meio psiquiátrico nacional (Oliveira, 2002); da ousada e despretensiosa leitura de Freud feita por uma ala da nossa vanguarda literária (Facchinetti, 2003); passando pelas primeiras sociedades que se organizavam em torno da institucionalização do campo psicanalítico no país (Perestrello, 1989) e pela pluralização das escolas; pela chegada do pensamento dos pós-freudianos - destacando aí o prestígio das teses lacanianas; ou ainda as relações da disciplina com o contexto político brasileiro - o conhecido "Caso Amílcar Lobo"; as disputas e dissidências dentro das instituições - a expulsão de Hélio Pellegrino e Eduardo Mascarenhas (Moreira, Bulamah & Kupermann, 2014); as produções autorais de psicanalistas brasileiros - evocamos a "teoria dos campos" de Fábio Hermann (Mezan, 2014); até o recente e profícuo diálogo da Psicanálise com demais campos do saber, capitaneado por figuras ligadas à Psicanálise no ensino universitário - exemplar, nesse sentido, é o recente trabalho de Christian Dunker (2015). Tais projetos de assimilação transversal dos saberes poderia nos fazer evocar a figura do pensador dinâmico. Se tomarmos como exemplo alguns dos mais interessantes expoentes daquilo que se poderia chamar de um pensamento crítico-social na atualidade, facilmente constataremos que o vigor, a verticalidade e as potencialidades heurísticas dessas racionalidades convergem num certo ponto. Difícil de nomear, mas de algum modo articulado a um método que visa captar fundamentalmente interseções. Advertido da natureza profundamente cindida da realidade social que tem por objeto, assim como das clivagens constitutivas dos sujeitos que habitam e movem essa mesma cultura, o pensador dinâmico se atém à tarefa de circunscrever, bordejar, tanger as ocorrências subjetivas - particularidades e particularismos - que atingem o corpo social. Desse último, cumpre ainda expor e examinar seus deslocamentos, as crises de suas figuras de universalidade, e o retorno, a reaparição de suas tendências normativas em arranjos muitas vezes paradoxais, heterodoxos, refratários à unidade outrora consistente de suas representações fundamentais. E, liminarmente, indicar, a despeito da flagrante opacidade aí detectável, o que intersecciona - articulando e/ou fraturando - esses diferentes objetos.

De tal modo, o que se vê é que a Psicanálise no Brasil tornou-se um "fato de cultura" (Birman, 1988), o que, como nos lembra Sérvulo Figueira, torna-se um complicador para quem se aventura em tomá-la como objeto de estudo: "Quando se difunde e se torna centro de gravidade de uma cultura psicanalítica, como ocorreu no Brasil, a existência social da Psicanálise torna-se mais óbvia e, paradoxalmente, mais difícil de pensar" (Figueira, 1991, p. 194). Como acontece de o Brasil se tornar uma "cultura saturada de Psicanálise"? Ou melhor; quais foram as condições que teriam permitido a apropriação e instalação das ideias freudianas e de seus conceitos mais marcantes - inconsciente, sexualidade infantil, libido, pulsão?

Ao considerarmos os processos de migração das ideias de um contexto social a outro (Plotkin & Damousi, 2009), há transformações que não podem ser ignoradas. As condições sociais que originam uma produção intelectual não são transportadas com ela em processo de sua exportação (Bourdieu, 2002; Marx & Engels, 1848/2010). Dessa forma, conhecer a trajetória que um pensamento empreende internacionalmente, fora do cenário em que foi formulado, exige um entendimento prévio do contexto em que esse é desenvolvido, bem como daquele que o receberá. É com essa preocupação que olhamos atentos para as vias que acolhem o pensamento freudiano no Brasil.

Ainda que admitamos que a Psicanálise já nasce internacionalizada, reconhecemos, todavia, a preocupação de Freud em delimitar o campo de sua disciplina, o que pode indicar, a nosso ver, uma preocupação concernente à questão da difusão de seu ensino. O artigo sobre a história do movimento psicanalítico (Freud, 1914/2012) nos mostra como era fundamental recuperar os postulados e hipóteses fundamentais de sua teoria, incompatibilizando com as ideias de Adler e Jung, num esforço claro de delinear seu espectro de atuação (Jones, 1979). No entanto, por ter sido uma disciplina nascida no exílio e na marginalidade acadêmica e médica, a Psicanálise, para ganhar vida, deveria ser difundida para além dos círculos de Viena. Seu criador reconhecia isso.

É assim que encontramos um Freud errante em terras brasileiras, sendo acolhido sem muito critério ou rigor teórico por seus anfitriões. Ao aportar no país, a visitante Psicanálise filiou-se a pelo menos dois grupos distintos, que foram fundamentais para a reverberação do discurso freudiano. Nossos artistas modernistas e os médicos psiquiatras, ambos constituintes da inteligência que então se formava, rapidamente, se interessaram pelas ideias vindas de Viena, incorporando-as em suas elaborações teóricas, artísticas, ou seja, fazendo a teoria psicanalítica circular no cenário intelectual nacional. As já mencionadas pesquisas que nos revelam os primeiros momentos de chegada do pensamento freudiano, especialmente a partir da segunda década do século XX, evidenciam que sua divulgação esteve intimamente relacionada aos anseios de responder e explicar as questões que assolavam o homem brasileiro e seu contexto social, histórico e político. A difusão da Psicanálise no Brasil pode ser encarada, portanto, como nos sugere Elisabete Mokrejs (1992), como um capítulo importante da história das ideias no país.

Tomando a teoria freudiana como instrumento terapêutico e diagnóstico (Facchinetti, 2001), uma fileira de psiquiatras incorporava a Psicanálise em seus estudos e conferências, permitindo a ela um reconhecimento social fundamental à sua aceitação no meio médico. A disciplina vienense fornecia elementos para que o saber médico pudesse ler e compreender a sociedade brasileira sob um viés interpretativo radicalmente novo, que contemplava a necessidade de responder às questões que se colocavam e que diziam respeito à formação do povo e do Estado brasileiro. A partir de tal apropriação, a Psicanálise foi tomada como ciência universal, portadora de um discurso verdadeiro sobre a sexualidade, o que imprimia uma leitura que transformava radicalmente as interpretações do texto freudiano, conferindo ao mesmo um caráter médico, experimentalista e moralizante (Russo, 2002).

Por outro lado, há toda uma renovação estética empreendida pelos artistas de vanguarda. Inspirados pela Psicanálise, trilhavam a busca das figuras do povo, do popular, do coloquial, da nossa matriz africana. Tal reconfiguração dos temas da arte foi acompanhada pela renovação da forma artística: o humor, a ironia e o discurso jocoso, esses elementos tipicamente nacionais iam sendo empenhados por uma fração da classe artística nacional em sua tentativa de "descobrimento" do Brasil e de seu povo. Esse outro viés de incorporação do discurso freudiano pretendia, em sua assimilação de projeto para a identidade nacional, uma busca ao primitivo e desconhecido no interior nacional (Candido 2000), em vez da busca por uma regeneração e moralização para se atingir a modernização, típica da apropriação médica.

 

Anfitriões ilustres: Mário e Oswald de Andrade, leitores de Freud

Foi imbuído desse espírito que o escritor, poeta, ensaísta, crítico literário, modernista Mário de Andrade desbravou os rincões do ainda desconhecido Brasil para buscar a definição de uma entidade nacional a partir da pluralidade étnica do povo brasileiro. Além de todos os predicados, Mário de Andrade foi um dedicado leitor de Sigmund Freud (Riaviz, 2004).

É surpreendente perceber que o olhar estrangeiro, o pensamento europeu, permitirá justamente o "olhar para dentro", o encontro com o autóctone. Mário de Andrade, assim como outro modernista, Oswald de Andrade, utilizou-se da Psicanálise como recurso estilístico de construção de seus personagens - muitas vezes encadeando a descrição do funcionamento psíquico a partir daquilo que Freud já havia postulado. Particularmente, o interesse deste trabalho é lançar luz sobre os modos como a lente estrangeira teria sido fundamental para o estranhamento do que se encontrava "dentro", no interior do país, no nativo nacional.

Foi para conhecer esse "dentro" que Mário vai ao fundo da alma do país, excursionando pelo Brasil afora com a pretensão de conhecer o povo autóctone, a língua, as danças, a música, a culinária, enfim, seus modos de vida. Com certo zelo etnográfico, fotografou tudo a seu redor: suas fotografias retratam com delicadeza a reação espantosa do homem cosmopolita diante do caboclo, do sertanejo nordestino (Nogueira, 2007). Para nós, uma dessas fotografias adquire sentido especial.7 Sua imagem revela um varal repleto de roupas brancas estendidas, lençóis, camisas distendidas pelo vento. Os tecidos, como corpos, bailam um movimento gracioso. No verso da foto, desenhada a lápis, a letra do escritor decifra com a legenda: "Roupas freudianas.

[...] Fotografia refoulenta. Refoulement" (grifos nossos). O "refoulement" freudiano - Mário de Andrade leu Freud em francês (Feres, 1969) - é a versão francesa do original alemão Verdrangüng. A tradução que Mário de Andrade empreenderá para o termo não será o corrente "recalque" ou "repressão", utilizados nas traduções de Freud no país. Mário de Andrade traduz por "sequestro", vocábulo que servirá às mais variadas acepções na obra do autor.

A liberdade de tradução de Mário de Andrade é a herança direta da sua vereda no campo da Psicanálise e é, para nós, o modelo do interesse do autor pelo instrumental psicanalítico. Sob sua pena, o recalque freudiano ganha nova vestimenta, transformando-se em um ambicioso projeto de pesquisa do modernista.

Em carta escrita a Manuel Bandeira, em 1928, Mário de Andrade revela o motivo de sua dedicação ao termo "sequestro". Intenta construir um projeto, o "Sequestro da Dona Ausente", em que pesquisa o tema do amor no folclore, remontando à época do Brasil colônia. Mário de Andrade está interessado em saber de que maneira o navegante de Portugal resolvera a ausência de mulheres naquele período. Tratava-se de revelar o lamento que teria acometido marinheiros, viajantes desterrados que teriam chegado a terras brasileiras e dado origem à semeação do nosso povo, mas, a custas de ter deixado para trás a mulher amada. "[... ] O cantor celebra a mulher que vem de barca por mar ou rio, até ele cantor. Ora isso estou convencido, não é mais que a sublimação da celebrada falta de mulher que o colono sentiu na América quando veio praqui" (Andrade, 1928. In: Moraes, 2001, p. 388, grifo nosso).

Tais exilados no novo mundo, diz-nos Mário de Andrade, em vez de externarem seu sentimento em figuras de desespero, metaforizavam a ausência feminina em imagens, poesia, cantos, composições. Seriam "disfarces" banhados de valor considerável ao enriquecimento e pluralidade do folclore brasileiro.

Mário de Andrade faleceu em 1945 e seu projeto permaneceu incompleto. Todavia, o material é suficiente para nos mostrar que ao percorrer interior do país, buscando o sertanejo, o negro, o caboclo, o índio, o folclore, o artista redescobria o Brasil a partir da lente estrangeira do europeu: Sigmund Freud.

Esse processo de incorporação do estrangeiro, de devoração do outro (antropofagia) para dele fazer uso a partir de termos próprios, essa radicalidade da ideia de alteridade, torna-se preocupação central do movimento modernista, e vai sendo conceituado e transformado em uma espécie de filosofia pelo paulista José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954). Tarefa difícil a de apresentar esse escritor que, assim como o outro Andrade, aventurou-se nas diferentes searas literárias e culturais. Escritor de romances, manifestos, sátiras, poemas, ensaísta, dramaturgo, cronista de jornal, empresário cafeeiro não muito talentoso, extremista cultural, filósofo, rebelde, revolucionário, enfant terrible, antropófago (Boaventura, 1995).

As primeiras menções à ideia de "antropofagia" na obra oswaldiana trazem a ideia de uma metáfora anticolonialista, uma estratégia para relacionar com a cultura dominante que não passasse pela mera absorção de seus conceitos, mas como uma estratégia de luta, implicando elementos nacionais que, mesclados aos europeus, fariam surgir, num processo de deglutição, uma feição distinta, matéria para exportação. Está aí instaurada a base para a canonização da antropofagia como metáfora dos processos de apropriação e consumo cultural que ainda perduram no país (Chamie, 2005). Não deixa de ser curioso apontar que, no interior mesmo dos fundamentos da metapsicologia, sugere-se que a oralidade - compreendida como processo libidinal parcial, pré-edípico, "perverso" de acesso aos objetos da satisfação - constitui-se ainda como espaço distinto de representação de um certo modo de abordagem da realidade. O antropófago que habita desde a mais tenra infância o inconsciente de todo sujeito humano, colonizando, em suas reaparições, os modos pelos quais a matéria bruta do real é subsumida a processos de racionalização e representação, comparece aqui na qualidade de figura estética, de modo distinto do fazer artístico, cultural, civilizatório. Ainda que, na especificidade de sua versão modernista brasileira, o elemento arcaico, impensável, informe que subjaz a todo formalismo, seja justamente aquele que não se deve perder de vista. Nesse sentido, a antropofagia se torna um modo de expressão do indigesto, do impalatável, do não todo comestível.

A preocupação de Oswald de Andrade com a questão da brasilidade e com os temas nacionais, alicerce do projeto modernista, aparece em seus textos que nutriam a construção de um ideal estético daquela geração. O período em que viveu em Paris (1923-24) possibilitou ao modernista a convivência com os vanguardistas espanhóis e franceses, que, naquele momento, se empenhavam na valorização e celebração dos termos primitivos, e ainda daquela corrente que estava em voga, que se tratava da literatura canibal - a partir dos estudos e pesquisas etnográficas que por lá circulavam (Boaventura, 1995). A tendência primitivista das vanguardas europeias8 foi, sem dúvida, motor para essa guinada dos nossos modernistas. Além disso, era flagrante naquele cenário a retomada que se fazia da relativização do eurocentrismo a partir de Montaigne (1972), com sua constatação de que bárbaro é aquele que não participa dos costumes do observador, distinguindo ainda o canibalismo para alimentar do canibalismo por vingança. É essa dimensão do canibalismo que Oswald de Andrade transformará em antropofagia ritual. O modernista percebe, no entanto, que esse canibalismo europeizado não daria conta de captar a especificidade histórica, etnológica do que era a Antropofagia americana. Não se tratava, no entanto, de ignorância antropológica, mas de sensibilidades e experiências distintas (Subiratis, citado por Castro, 2010, p. 44)

Benedito Nunes (1990) nos orienta com relação à amplitude do termo oswaldiano: diz da possibilidade de pensar a antropofagia a partir de três pilares, sendo ela, a um só tempo, metáfora, diagnóstico e terapêutica. Primeiramente: trata-se de uma metáfora orgânica da imolação pelo tupi de seus inimigos prisioneiros, revelando o movimento de incorporar tudo quanto combatemos para então assimilar e superar, aspectos fundamentais para a conquista da autonomia intelectual. A antropofagia ainda é diagnóstico, uma vez que deflagra a sociedade nacional como aquela profundamente marcada, castrada pela repressão colonizadora, cuja figura exemplar é a censura jesuíta diante da antropofagia ritual dos povos tupis. Por fim, a antropofagia é terapêutica porque convoca a uma rebelião completa e permanente contra as censuras históricas da sociedade brasileira. E também porque tonificaria e remediaria a inteligência do país para se desenvolver em uma rebelião permanente. "Tupi or not tupi, that is the question" (Andrade 1928/2011, p. 67)

O Manifesto Antropófago (1928), fortemente influenciado pelas ideias freudianas, traz o imperativo necessário da "transformação do tabu em totem", retirado da passagem de Totem e Tabu (Freud, 1913/2006), em que Freud aborda a transformação do estado natural à civilização, à cultura, ao social. O texto freudiano traz à baila a mítica do parricídio canibalesco primordial, o assassinato do pai primevo pelos filhos rebelados contra sua tirania e o consequente repasto totêmico, fundante do superego coletivo que interdita o incesto. A humanidade, compelida então a espiar o crime originário, reatualiza, no ritual antropofágico, o parricídio fundante, a transformação do tabu em totem. Oswald generaliza a antropofagia ritual e, nessa empreitada, se apropria, antropofagicamente, das teorias de Freud e inventa a sua. Transformar o tabu em totem remete à elevação de todos os símbolos míticos (Sol, Cobra-grande, Guaraci - mãe dos viventes, Jaci - mãe dos vegetais, Jabuti), tudo aquilo que teria sido sequestrado poderia então sair das "reservas imaginárias instintivas do inconsciente primitivo" e resolver a operação antropofágica, devorando todos os emblemas, aquelas imagens consagradas e intocáveis da cultura nacional - Padre Anchieta, Padre Vieira, a Mãe dos Gracos, a Corte - (Nunes, 1990).

Seria, portanto, a operação que nos permitiria descarregar os recalques historicamente provocados, liberando a consciência coletiva nacional, que então se encontraria disponível para trilhar aquele roteiro primitivo, instintivo, caraíba, que persistiu fixado nos arquétipos do pensamento selvagem.

Para construção de toda essa visão de mundo, Oswald de Andrade parte do que apreende, absorve, transforma do pensamento freudiano sobre a cultura. Na interpretação de Mário Chamie (2005), Freud teria dado as bases para o princípio subversor da antropofagia: a todo sim corresponde um não, implícito e vice-versa, numa réplica à ambivalência freudiana que prevê no conceito de "pureza", um conteúdo de "impureza" ou na identificação de um "tabu" a presença subjacente de um "totem" possível.

 

Considerações finais

Com o intuito de investigar as primeiras percepções sobre o modo como a cultura nacional teria acolhido esse Freud errante por terras estrangeiras, demonstramos como, ao aportar em terras brasileiras, o pensamento freudiano filiou-se aos discursos e tradições existentes no espaço nacional. Cada uma dessas vias discursivas às quais a Psicanálise se alinhou tinha interesses específicos ao selecionar os temas freudianos. Se constatamos que os nomes da literatura modernista fizeram uma leitura antropofágica de Freud, ou seja, transformaram, em seus próprios termos, aquilo que apreendiam da obra freudiana, descartando aquilo que não fosse interessante para seus projetos, também a Medicina Psiquiátrica lidou com o texto freudiano dessa forma sintetizada por Oswald de Andrade no vocábulo "antropofagia". Tratase, pelo que podemos perceber em Oswald de Andrade, de um modo muito particular que a cultura nacional tem de se relacionar com o estrangeiro, com o outro, com o colonizador.

Pudemos perceber, mais detidamente, que o modernismo literário foi esse movimento antropófago por excelência, que aliava o que havia de particular - o saber popular - com o universal do campo da ciência - a Psicanálise. Ao ler Freud para ler o Brasil, Mário de Andrade e Oswald de Andrade nos presenteiam, cada um a seu modo, com uma arte transformada e interessada, expressa a partir das ideias de impulso, simultaneidade, ansiosa por romper com os bloqueios oficiais da língua portuguesa/colonizadora, promovendo o fluir daquilo que havia sido recalcado/sequestrado. Com o projeto revolucionário de dar voz ao Brasil ainda incógnito, aquele por se descobrir, esses autores nos apresentaram o seqüestro, conceito inspirado radicalmente no recalque freudiano e que serviu como vinculação de suas leituras freudianas ao estudo da cultura popular, buscando na voz do povo aquilo que Freud indicava. E também nos apresentaram a antropofagia, a "transformação do tabu em totem". A experiência desses artistas, seus experimentos com a língua (brasileira, portuguesa, tupi?), com a blague, chistes e expressões do povo brasileiro, permitiram-lhes a construção de projetos e visões de mundo que, servindo-se da teoria freudiana, impulsionaram sua polifonia poética, além de nos legar material rico e importante para a visualização dos alcances do próprio campo psicanalítico.

Ao recuperar o caldo primitivo - seqüestrado da nossa cultura pelo idealismo doutoresco -, Mário de Andrade e Oswald de Andrade retomam a originalidade nativa a fim de lançá-la como arte e produto a ser exportado (Nunes, 1990). Querem conciliar a cultura nativa e intelectual, enlaçando "floresta e escola", recuperando o particular de nossas experiências culturais e universalizando e irradiando nossas ideias. "Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido" (2011a, p. 66). Inclui-se aí a Psicanálise freudiana.

Quais efeitos tiveram, para o campo psicanalítico, a ocorrência de leituras tão inusitadas? Ainda que estejamos em vias de construir possíveis respostas, suspeitamos de que as possibilidades de leituras de Freud a partir da lente desses autóctones conferiram à Psicanálise no país a possibilidade de se aliar a vias outras para além daquela do higienismo civilizatório. A história da Psicanálise no país, a sua proliferação na cultura, não está restrita aos aspectos formais das escolas institucionalizadas. Sua transmissão também é marcada pelas leituras nada convencionais desses autores. Não fomos e somos, portanto, o país que somente se dispôs a civilizar a partir de uma apropriação de Freud. O acolhimento à exilada disciplina vienense pelos jovens vanguardistas tupiniquins fornece outras leituras possíveis para compreensão da Psicanálise no Brasil em sua trajetória e situação atual.

 

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1 A visita de Freud aos Estados Unidos se deu em agosto de 1909, a convite de Stuart Hall. Na ocasião, Freud proferiu cinco palestras na Clark University of Worcester. O conteúdo de suas falas está publicado nas "Cinco Lições de Psicanálise". Freud estava acompanhado por seus discípulos Carl Gustav Jung e Sandor Ferenczi (Gay, 2012).
2 Tomamos o termo freudismo em sua acepção de uma escola (sistema) de pensamento com uma trajetória histórica, social, política de movimento institucional. Para uma análise mais aprofundada do léxico, conferir o texto "O Freudismo", de Paul-Laurent Assoun (1991).
3 A despeito dos temores de Freud, a Psicanálise recebeu a qualificação de "ciência judaica". Nesse contexto, era preocupação do projeto nazista destruir radicalmente seu movimento, ideias, conceitos, instituições. Os efeitos do projeto de implementação de uma "psicologia ariana" foram sentidos além da Europa: o exílio de diversos nomes da Psicanálise - que emigraram para os EUA, Inglaterra e países latino-americanos - é um dos efeitos. Muitos que não conseguiram fugir feneceram em campos de concentração. O próprio Freud foi levado a se exilar em Londres, onde faleceu em 1939 (Jones, 1979).
4 Associação Internacional de Psicanálise, fundada por Freud e Ferenczi em 1910.
5 Tal pesquisa foi realizada no mestrado em Psicologia, concluído em 2014 (Torquato, L. C., 2014) sob orientação de Guilherme Massara Rocha.
6 Conferir os estudos de Facchinetti (2001), Oliveira (2002, 2006), Russo (1997, 2002), Sagawa (1992, 2004), Porto-Carrero (1928/1929) e Perestrello (1989).
7 O acervo dos manuscritos, fotografias, livros da biblioteca pessoal de Mário de Andrade é mantido pelo Instituto de Estudos Brasil (IEB) da USP e São Paulo. A fotografia aqui citada foi consultada no local.
8 Referimo-nos à valorização do uso de máscaras africanas, à retomada no futurismo, à concepção de Paul Valéry do texto como absorção alimentar representado na presença das metáforas digestivas, àa crítica de Appolinaire à carnificina da guerra, ao humor cáustico de Jarry que situa a antropofagia como "uma das mais nobres tendências do espírito humano" ("a propensão a assimilar a si o que acha bom"), àa exuberante desordem dadá de Picabia, às publicações da Revista Cannibale, à arte de Tzara e Cendrars (Nunes, 1979).

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