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Analytica: Revista de Psicanálise

On-line version ISSN 2316-5197

Analytica vol.8 no.14 São João del Rei Jan./June 2019

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

A Analytica: Revista de Psicanálise chega ao v. 8, n. 14, trazendo artigos dos mais variados temas da Psicanálise. No atual contexto político, vale a pena lembrar o compromisso assumido pela Psicanálise com o acolhimento do campo que Freud nomeou, em 1930, de "O mal-estar na civilização". Mais do que apenas o título de uma das mais importantes obras de Freud, a ideia de que o mal-estar não é eliminável, e mesmo a de que ele contribua para a construção daquilo que de mais relevante e interessante existe na cultura, continua sendo, a nosso ver, fundamental.

De fato, acolher o negativo, em suas mais variadas manifestações, e compreender seus impactos na subjetividade, é parte do que fundamenta o campo psicanalítico: não o semblante fálico e narcísico do sucesso, seja este presente na fantasia neurótica ou no ideal da cultura, mas a afirmação da precariedade do ser, aquilo que Lacan, em suas obras, chama, parodiando Heidegger, de des-ser. Dessa forma, a Psicanálise engaja-se em uma ética relacionada à desarticulação dos semblantes, à valorização do desamparo e da precariedade como condições constituintes da vida. O sujeito na clínica vê-se confrontado com seus limites e ideais e, muitas vezes, com a relação entre ambos: a fantasia de onipotência contribui para o sentimento de impotência; a ausência de limites esconde a presença, por toda parte, da frustração; e o lugar ficcional do indivíduo fálico, todo, sem falhas, torna a cultura dependente de novas formas de autoridade. Não se trata, é claro, de lamentar o presente, mas de desarticular as fantasias de bem-estar vinculadas pelo que Lacan chama de discurso capitalista, este que, pretendendo obrigar o sujeito à felicidade, produz, por toda parte, frustração.

Nesse sentido, acolhemos os novos artigos da presente edição, sabendo que a matéria-prima da Psicanálise é, justamente, o não saber: não saber assumido, e não recusado. Não saber que é condição de qualquer pesquisa, calcado na ideia, talvez paradoxal, de que é na possibilidade do sujeito de se autolimitar que reside a aposta pela sua liberdade: que o limite não venha de Outro - Deus, pai, ídolo -, mas seja autoimposto, assumido.

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