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Analytica: Revista de Psicanálise

versão On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.9 no.17 São João del Rei jul./dez. 2020

 

ARTIGOS

 

O sujeito e o neoliberalismo: uma questão de Economia

 

The Subject and Neoliberalism: a Question of Economy

 

Le sujet et le Néolibéralisme: une question d'Economie

 

El sujeto y el Neoliberalismo: una cuestión de Economía

 

 

Fabiano de Mello Vieira*

Fundação de Estudos Sociais do Paraná - Fesp - Brasil
Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo apresenta algumas bases que compõem o neoliberalismo - como faceta pós-moderna do liberalismo - como um sistema político que constrói seu modelo de alienação a partir de uma estratégia de convencimento que encontra fixação na própria constituição psíquica do sujeito. Ou ainda, podemos dizer que o próprio sujeito encontra na promessa neoliberal o apaziguamento do seu mal-estar constitucional, encontrando a solução para a problemática levantada por Freud no texto O Mal-estar na civilização. Partiremos da influência recebida e da subversão praticada pelo liberalismo de Adam Smith em relação ao pensamento de Bernard de Mandeville para então chegarmos à noção freudiana de aparelho psíquico e a correlação estabelecida entre as economias psíquica e mercantil. Por fim, desembocaremos novamente naquilo que foi a proposta inicial de mostrar que o neoliberalismo está em consonância com a ideia de um sujeito pós-moderno que, na possibilidade construída imaginariamente a respeito de uma fuga absoluta do mal-estar estrutural, encontra nas relações de consumo e nas demais promessas neoliberais um amparo fundamental.

Palavras-chave: Liberalismo, Psicanálise, Pós-modernidade, Neoliberalismo, Economia.


ABSTRACT

This article presents some bases that compose the neoliberalism - while post-modem aspect of liberalism - as a political system that builds an alienation model from a convincing strategy that finds fixing on the own psychic composition of the individual. Or, we may say the individual encounters on neoliberal promise the appeasement of his constitutional unrest, finding a solution for the problem raised by Freud in the text Civilization and its discontent. We will begin from the influence received and the subversion made by the liberalism of Adam Smith related to the thoughts of Bernard de Mandeville to get to Freudian notion of the psychic apparatus and the correlation established between psychic and mercantile economy. Lastly, we are going to lead on the initial proposal of showing that the neoliberalism is in accordance with the idea of a post-modem individual that, in the possibility, built imaginarily about an absolute scape from the structural unrest, finds on consumption relations and the other neoliberal promises a fundamental support.

Keywords: Liberalism, Psychoanalysis, Post-modern, Neoliberalism, Economy.


RÉSUMÉ

Le présent article présente quelques bases qui composent le néolibéralisme - en tant que facette postmoderne du libéralisme - en tant que système politique qui construit son modèle d'aliénation à partir d'une stratégie convaincante qui trouve sa fixation dans la propre constitution psychique du sujet. Ou même, on peut dire que le sujet lui-même trouve dans la promesse néolibérale l'apaisement de son malaise constitutionnel, trouvant la solution au problème soulevé par Freud dans le texte Malaise dans la civilisation. Nous partirons de l'influence reçue et de la subversion pratiquée par le libéralisme d'Adam Smith par rapport à la pensée de Bernard de Mandeville pour arriver ensuite à la notion freudienne d'appareil psychique et à la corrélation établie entre économies psychique et mercantile. Enfin, nous nous retrouverons à nouveau dans ce qui fut la proposition initiale de montrer que le néolibéralisme s'inscrit dans l'idée d'un sujet postmoderne qui, dans la possibilité d'un imaginaire construit sur une évasion absolue du malaise structurel, trouve dans les relations de la consommation et les autres néolibéraux promettent un soutien fondamental.

Mots-clés: Libéralisme, Psychanalyse, Postmodernité, Néolibéralisme, Economie.


RESUMEN

El presente artículo presenta algunas bases que componen el neoliberalismo - como papel posmoderno del liberalismo - un sistema político que construye su modelo de alienación a partir de una estrategia de convencimiento que encuentra fijación en la propia constitución psíquica del sujeto. O todavía, podemos decir que el proprio sujeto encuentra en la promesa neoliberal el apaciguamiento de su malestar constitucional encontrando la solución de la problemática levantada por Freud en el texto El Malestar de la civilización. Iniciaremos de la influencia recibida y da subversión platicada por el liberalismo de Adam Smith en relación con el pensamiento de Bernard de Mandeville para entonces llegar a la noción freudiana del aparato psíquico y la correlación establecida entre las economías psíquica y mercantil. Finalmente, desembocar nuevamente en la propuesta inicial de mostrar que el neoliberalismo está en consonancia con la idea de un sujeto posmoderno que, en la posibilidad construida imaginariamente a respeto de una fuga absoluta del malestar estructural, encuentra en las relaciones de consumo y en las demás promesas neoliberales un amparo fundamental.

Palabras claves: Liberalismo, Psicoanálisis, Posmodernidad, Neoliberalismo, Economía.


 

 

1 Introdução

A busca por um sistema político-econômico que atenda aos interesses da polis em sua maioria sempre esteve entre os grandes objetivos da humanidade. Platão e Aristóteles, por exemplo, deram uma ênfase especial à ideia de justiça, que é entendida por ambos como uma das principais virtudes do homem. Por outro lado, há no cerne desses mesmos pensadores as sementes de uma tradição hedonista que encontraria mais tarde, na personalidade dos cirenaicos e dos epicuristas, mais especificamente, sua apresentação mais bem acabada. Ou seja, a cultura grega sempre carregou ao mesmo tempo uma preocupação com a polis e uma atenção à felicidade individual, estabelecendo, assim, grandes discussões acerca da ética.

Atualmente, as discussões políticas ganharam um tom partidário e se apresentam polarizadas, representadas, por um lado, pelo movimento de esquerda, chamado também de progressista, que carrega a herança do comunismo e do socialismo numa versão mais flexibilizada, priorizando os aspectos sociais e defendendo uma maior atuação do Estado. No outro polo, encontra-se a direita, porta-voz de um discurso liberal - ao menos no que diz respeito à Economia -, que luta por uma maior abertura do mercado livre das amarras do Estado. Como versões mais "radicais" desses dois polos aparecem também os chamados movimentos de "extrema esquerda" e "extrema direita", que, embora já tenham se apresentado com mais força em outros momentos da História, ainda produzem grande impacto nos cenários atuais.

Diante disso, levanta-se uma importante questão que é trabalhada, por exemplo, por Vladimir Safatle na seguinte expressão: "A Economia é a continuação da Psicologia por outros meios" (informação verbal).1 Ou seja, dado ao fato de que a Economia é fruto da atividade humana, concluímos que ela não pode ser dissociada daquilo que é próprio do homem. Safatle vai além e mostra como as narrativas políticas assumem cada vez o status de uma Psicologia moral quando expressões como justiça, equidade e exploração, por exemplo, são gradativamente substituídas por ódio, medo, frustração, entre outras.

Dany-Robert Dufour, importante filósofo francês, lança mão do conceito de transdução - originalmente do filósofo Gilbert Simondon - para explicar o que acontece na articulação de diferentes economias. Tanto para Dufour quanto para Simondon, as mudanças ocorridas em um tipo específico de economia influenciam diretamente outras devido às operações físicas, biológicas, mentais e sociais que se propagam no interior de um domínio e que servem de princípio e modelo para os modelos seguintes, estendendo-se progressivamente (Simondon apud Dufour, 2009, p. 25). Desse modo, o marxismo teria falhado, por um lado, ao supervalorizar a Economia produtiva e mercantil em detrimento de todas as outras, da mesma forma que a Psicanálise cai no mesmo erro quando alguns psicanalistas estabelecem uma extraterritorialidade do inconsciente, deixando de fora seu viés político.

O objetivo deste artigo é, portanto, apresentar algumas características que tornam o liberalismo - enquanto faceta econômica dos sistemas políticos de direita - um modelo bastante atraente e "sedutor", tendo em vista a sua articulação com a própria constituição do aparelho psíquico do homem, assim como ele foi descrito por Sigmund Freud e complementado pela noção de sujeito na Psicanálise de Jacques Lacan. Trabalharemos com a hipótese de que a liberdade mercantil defendida pelo liberalismo e o estímulo constante ao comportamento de consumo enfatizado pelo neoliberalismo apresentam uma correlação com o modo de funcionamento inconsciente do homem, que o direciona para a busca constante de uma satisfação pulsional articulada às noções psicanalíticas de gozo e desejo.

Inicialmente, apresentaremos a aproximação entre o pensamento de Adam Smith e aquilo apresentado por Bernard de Mandeville que correlaciona os vícios privados aos benefícios públicos. Notaremos que Smith subverte uma parte do pensamento de Mandeville e mantém outra para descrever aquilo que seria a grande chave do liberalismo: o laissez-faire.

Em seguida, mostraremos, a partir da descrição psicanalítica do aparelho psíquico, como a sua estrutura atua em consonância com as ideias de Smith e Mandeville, ainda que a noção de mal-estar se apresente como um diferencial.

Por fim, apontaremos o neoliberalismo como o movimento que potencializa a hipótese da transdução entre as economias mercantil e psíquica alinhando as ideias de consumo e gozo na tentativa de excluir o mal-estar.

 

2 O liberalismo de Adam Smith na esteira de Mandeville

O liberalismo é entendido como uma doutrina que prioriza o homem livre. Locke (1632-1704), em sua obra mais voltada à Economia intitulada Dois tratados sobre o governo, apresenta as raízes do liberalismo na afirmação da existência de um estado natural que torna os homens livres e iguais e capazes de organizar o poder a partir de um consentimento. Podemos notar, de início, que a posição de Locke, e do liberalismo em geral, é contrária à de Hobbes, por exemplo, que considera o estado natural do homem extremamente egoísta e incapaz de gerar coletividade sem a mediação do Estado. Locke, por sua vez, pensa o estado natural do homem como essencialmente bom.

Adam Smith (1723-1790), a partir das ideias de Locke e da crítica ao mercantilismo presente na época, deu forças ao liberalismo econômico baseado no crescimento da iniciativa privada, em que a divisão do trabalho teve papel decisivo no aumento da produtividade. Com o aumento da produtividade, começa a surgir o excedente, ou seja, aquilo que estava para além do próprio sustento. Segundo Souza (1995, p. 90), ainda não nascia o mercado, pois o excedente era apenas trocado. O excedente era o embrião da mercadoria que, juntamente com o nascimento da propriedade privada, constituiria, pois, a base para que o conjunto dos bens, que antes eram meros valores de uso, se convertesse, efetivamente, em mercadorias, em unidade de valor de uso e valor de troca. Agora, a produção já não era mais para o autoconsumo, com troca apenas do excedente; era inteiramente destinada à troca, ao mercado. Para o comentador, só se pode, portanto, afirmar que o mercado nasceu quando a própria força de trabalho se converteu em mercadoria (Souza, 1995, p. 90).

Em sua obra A riqueza das Nações, Smith entende, entre outras coisas, que o progresso natural da riqueza se dá a partir das trocas mercadológicas entre o campo e a cidade. É daí que surge a ideia de mercado associada à noção da "mão invisível" que harmoniza naturalmente os interesses individuais, de modo a transformá-los em bem comum. Dany-Robert Dufour (2009, p. 87) faz uma importante observação sobre essa relação entre mercado e "mão invisível" dizendo que é ela que permite "transfigurar os interesses egoístas em riqueza coletiva". Esse movimento caracteriza o chamado laissez-faire, ou "deixar-fazer", termo difundido pelos economistas Jean-Baptiste Say (1767-1832) e Destutt de Tracy (1754-1836) para representar essa harmonia entre posições aparentemente distintas.

Na essência do pensamento de Adam Smith, está a influência recebida de Bernard de Mandeville (1670-1733), médico e filósofo político que publicou em 1723 sua polêmica Fábula das Abelhas, que se tratava, na verdade, de um texto que foi publicado em forma de panfleto com o nome de A colmeia ranzinza, ou Patifes tornados honestos e comercializado nas ruas da Inglaterra. A recepção desse material pela população provocou as mais diversas interpretações, entre elas a de que se tratava de uma sátira da virtude e da moralidade encorajando as pessoas para uma vida de vícios. Isso deixou Mandeville descontente e o incentivou a organizar a reimpressão da fábula informando o leitor sobre a sua verdadeira intenção (Mandeville, 2017, p. 8).

Para Mandeville (2017, p. 7) "são os canais estreitos, as pequenas membranas que são mais necessárias para um corpo biológico e não os seus grandes órgãos". Ou seja, é preciso lançar uma análise diante das ligações muitas vezes imperceptíveis que formam tanto os corpos biológicos quanto os políticos para que se possa entender o funcionamento dos grandes órgãos desses mesmos corpos. Para o médico e filósofo, tal análise denuncia o conflito que se instala entre a impossibilidade de se desfrutar todas as comodidades da vida e, ao mesmo tempo, ser abençoado com toda a virtude e inocência que se pode aspirar (Mandeville, 2017, p. 9). Assim, apresenta-se a espinha central da Fábula das Abelhas, na qual os vícios individuais são transformados em riqueza coletiva, por exemplo, nos casos em que o consumo ou a demanda efetiva funcionam como molas propulsoras do comportamento humano e da vida econômica em geral, encorajando a produção de bens e dando emprego à massa trabalhadora (Bianchi, 1988, p. 93).

Ao analisarmos a obra de Mandeville, verificamos o quanto suas conclusões a respeito da vida em sociedade se baseiam numa análise direta do ser humano e suas paixões. Ele diz:

Todos os animais não domesticados buscam apenas se satisfazer, e naturalmente seguem a tendência de suas inclinações, sem considerar o bem ou o mal que sua satisfação acarretará a outros. Essa é a razão pela qual, no estado selvagem de natureza, as criaturas mais aptas a viver pacificamente reunidas em grande número são as que mostram o mínimo de raciocínio e têm poucos apetites a saciar; consequentemente, nenhuma espécie de animal é, sem o freio do governo, menos apta a concordar durante muito tempo reunida em multidão do que a humana; ainda sim, suas qualidades, boas ou más, o que não vou determinar, são tais que, nenhuma criatura, além do homem, pode se tornar sociável; mas sendo este // um extraordinário animal egoísta e obstinado, bem como astuto, por mais que possa ser subjugado por um poder superior, é impossível, apenas pela força, torná-lo tratável e fazê-lo receber os aperfeiçoamentos a que está apto. (Mandeville, 2017, p. 51).

É possível que daí resulte a diferença de popularidade de Bernard Mandeville e Adam Smith. Enquanto o primeiro escancarou as verdadeiras motivações humanas e com isso provocou a repulsa dos conservadores, que achavam que suas ideias promoviam uma apologia à libertinagem, o segundo reforçou a importância da racionalidade mediando as vontades e promovendo a harmonia social. Não obstante, a noção smithiana de "mão invisível" transfere uma parcela da "solução" a um fator transcendental, construindo, assim, uma ilusão, recurso bastante eficaz na harmonização de conflitos. Veremos a importância da ilusão mais adiante quando analisarmos alguns aspectos que constituem a psique do ser humano. Por ora, levantaremos mais alguns aspectos que denunciam a influência de Mandeville no pensamento de Adam Smith.

É importante ressaltar que Mandeville, ao expor seu pensamento, faz uma importante advertência quanto ao fato de que, ainda que os vícios sejam inerentes às grandes sociedades, aqueles que usufruem das suas possibilidades devem ter seus comportamentos reprovados, assim como devem ser responsabilizados de maneira mais severa quando esses mesmos vícios caracterizarem crimes. Ou seja, o autor da Fábula das Abelhas não faz apologia ao vício, mas reconhece a importância desse comportamento para o crescimento econômico das sociedades. Trazendo essa discussão para as sociedades pós-modernas, seria como reconhecer os efeitos danosos do consumo excessivo, mas, ao mesmo tempo, entender que o aumento do potencial de consumo do cidadão tem impacto direto no aumento dos índices econômicos de uma região, por exemplo. Nas palavras de Mandeville (2017, pp. 94-95):

[...] peço ao leitor que tenha em conta o consumo das coisas, e ele descobrirá que o mais preguiçoso e o mais inativo, o libertino e o mais pernicioso são, todos, obrigados a fazer algo para o bem comum; e enquanto a boca deles estiver escancarada de fome e continuarem a usar e, aliás, destruir aquilo que os trabalhadores das indústrias diariamente se dedicam a fabricar, produzir e fornecer, queiram ou não, eles são obrigados a ajudar a sustentar os pobres e os cargos públicos. O trabalho de milhões logo estaria com os dias contados se não houvesse outros milhões, como digo na Fábula, que "[...] dedicavam-se a destruir suas manufaturas".

Mandeville segue, durante todo o seu texto explicativo sobre a Fábula, tentando equilibrar as afirmações radicais e muitas vezes perturbadoras com outras mais brandas. Um exemplo referente a esse segundo tipo aparece quando ele diz:

Longe de mim encorajar o vício, e acho que seria uma felicidade indescritível para o Estado se o pecado da impureza pudesse ser banido em definitivo; mas receio que não seja possível: as paixões de algumas pessoas são muito violentas para que possam ser refreadas por uma lei ou preceito; é sábio o governo que suporta inconvenientes menores para evitar maiores. (Mandeville, 2017, p. 104).

Contudo, nem mesmo essa tentativa de amenização dos efeitos do seu discurso foi suficiente para que Mandeville deixasse de ser acusado pelo grande júri de Middlesex. A acusação foi formalizada em uma carta insultante encaminhada ao Lorde C., na qual eram levantados vários pontos polêmicos da Fábula sugerindo que o principal objetivo do escrito seria a corrupção de todos os costumes, assim como a promoção de um ataque direto à religião.

A resposta de Mandeville veio em uma publicação no London Journal, em 10 de agosto de 1723. Ali, o polêmico escritor inicia sua tentativa de defesa explicando a própria origem da expressão "mal" contida em muitas linhas do seu texto e que foi erradamente interpretada. Segundo ele, o "mal" estaria relacionado a toda necessidade humana e, portanto, todo o movimento do comércio, por exemplo, estaria voltado a combater esse "mal", na medida em que busca sanar essas mesmas necessidades. Seria assim com a indústria dos remédios e toda a ciência em geral, assim como também nas artes (Mandeville, 2017, p. 402-203). Nesse sentido, o "mal" estaria ligado à própria natureza humana e o seu combate promoveria a riqueza das sociedades, contrariando assim a essência da acusação, que estava baseada na ideia de uma destruição da sociedade a partir da dissolução dos bons costumes.

Mandeville (2017, p. 404) não poupa explicações em sua defesa e diz ainda que a Fábula das Abelhas

é um livro de moralidade severa e exaltada; que contém um prova estrita da virtude, uma pedra de toque infalível para distinguir o real do contrafeito e exibir que muitas ações culpáveis são escamoteadas do mundo como boas. A Fábula descreve a natureza e os sintomas das paixões humanas, detecta sua força e seus disfarces; e rastreia o amor-próprio nos seus recônditos mais obscuros.

Ou seja, parece que as intenções de Mandeville foram interpretadas de modo equivocado, possivelmente por serem carregadas de um peso moral cristão típico da época. Não seria possível conceber a palavra "vício" como algo a ser defendido tranquilamente, ainda que Mandeville (2017, p. 412) faça questão de ressaltar e repetir que "os vícios privados, administrados com destreza, por um político habilidoso, podem ser transformados em benefícios públicos".

Como é possível notar, Adam Smith não bebe na fonte de Mandeville sem realizar algumas subversões. Em Smith, a transfiguração dos interesses individuais em riqueza coletiva corresponde a um movimento da vontade iluminada pela razão. Aquilo que Mandeville chama de "vício", Smith procura diferenciar do que poderia ser entendido como virtude. Em sua Teoria dos sentimentos morais, Smith discute os sistemas que distinguem os vícios das virtudes e utiliza os critérios de conveniência e inconveniência, benevolência e os demais princípios de ação, bem como a prudência real e a insensatez cega ou temeridade precipitada para realizar tal distinção (Smith, 2002, p. 380). Dessa forma, Bianchi (1998, p. 101) resume a teoria smithiana da seguinte maneira:

A proposta de uma nova teoria do conhecimento, com expresso fundamento empirista; uma teoria ética que foge à tradição ao definir bem e mal a partir de metas estabelecidas pelo indivíduo; a concepção de um estado natural, onde homens são dominados por suas paixões; a necessidade de um pacto capaz de unir as vontades e garantir a harmonia social; a ideia de uma conduta pautada pelo cálculo racional, consoante necessidades e conveniências dos indivíduos; o primado das paixões razoáveis, associado ao reconhecimento da possibilidade de um acordo entre interesse próprio e utilidade social, na direção de uma espécie de "egoísmo esclarecido".

O acordo entre o interesse próprio e a utilidade social encontra um lugar no movimento chamado Utilitarismo, que teve Jeremy Bentham e John Stuart Mill como principais representantes. Jeremy Bentham (1748-1832) apresentou o chamado "princípio utilitarista" ou "princípio da máxima felicidade", que se traduz por uma série de conselhos que visa instrumentalizar o legislador para criar leis que maximizem a felicidade de seu povo (Mulgan, 2012, p. 17). A Filosofia de Bentham é baseada no cálculo da maior felicidade para o maior número de pessoas a partir de dois pilares: o liberalismo econômico e o Direito Penal. Para ele, a liberdade de mercado tem função instrumental, um vez que contribui para o prazer. Já com relação ao Direito Penal, este tem função utilitarista quando atua como meio de prevenção a partir da ameaça de punição.

John Stuart Mill (1806-1873) faz uma análise do utilitarismo mais no campo psicológico. Para Mill, o prazer mais desejável é aquele que, independentemente dos aspectos morais implicados, representa a vontade de todas as pessoas envolvidas, ou ao menos a maioria delas (Mill, 2014, p. 101). Em defesa do utilitarismo, Mill mantém o posicionamento de que se trata de um modo de agir altruísta ao extremo, uma vez que a felicidade individual é, em linhas gerais, produto de um pensamento em que o todo é tratado em primeiro lugar. O filósofo inglês afirma repetidamente na sua obra principal que o que define a moralidade não é a busca pela felicidade individual, do agente, mas sim a maior felicidade para o maior número de pessoas.

O altruísmo apontado por Mill parece ser o apelo necessário para consolidar sua teoria como uma grande ficção, a ponto de compará-lo com a regra de ouro de Jesus de Nazaré, que diz para "amar ao próximo como a ti mesmo". Para Mulgan (2012, p. 38), comentador de Mill, a aproximação do utilitarismo a uma moral costumeira - como aquela dada por Deus - reforça as bases do seu utilitarismo.

Assim, notamos que o liberalismo, desde a sua essência com as ideias de Mandeville até a sua consolidação no Utilitarismo, carrega a ideia de uma transfiguração dos prazeres egoístas em benefícios e riquezas coletivas, construindo assim um grande cenário ideal no qual a tradição hedonista não é abandonada e a preocupação com a vida em sociedade é igualmente levada em consideração.

Veremos agora como a Psicanálise pode nos ajudar a corroborar a hipótese de que o liberalismo se apresenta como uma proposta interessante, na medida em que a Economia mercantil apresenta correlação com a Economia psíquica num movimento em que é impossível descobrir onde começa uma e termina outra.

 

3 A Psicanálise: entre o mal-estar, o gozo e a ilusão

Na obra O mal-estar na civilização - importante texto social de Freud - o pai da Psicanálise associa as pulsões - que representam as verdadeiras forças motrizes do ser humano - à vida nas sociedades civilizadas, na qual o homem necessita renunciar a uma boa parte da sua satisfação pulsional em nome de uma convivência possível com outros homens. Não obstante, essa convivência não acontece de forma harmoniosa, pois essa mesma renúncia deixa, na melhor das hipóteses, um traço de insatisfação que recebe o nome de mal-estar. Por outro lado, como a renúncia age somente sobre parte da satisfação pulsional, restará sempre uma parte desse mesmo impulso que precisará de uma via de escoamento. Ou seja, uma importante parcela da agressividade e da destrutividade próprias da pulsão retornará ao próprio sujeito ou será despejada nessa mesma sociedade civilizada em que ele vive.

Quando falamos de pulsão, nos referimos à noção metapsicológica freudiana que apresenta hipóteses bastante convincentes de que essa noção fundamenta o agir humano. Segundo Freud, o homem é movido por impulsos que, contrariamente ao argumento biologicista sobre a existência de instintos, buscam, primeiramente, a satisfação. Para o criador da Psicanálise,

A meta de uma pulsão é sempre a satisfação, que pode ser alcançada apenas cancelando o estado de estimulação na fonte da pulsão. Mas embora seja certo que a meta final permaneça invariável para toda pulsão, os caminhos que levam a ela podem ser diversos, de modo que uma pulsão pode ter várias metas próximas ou intermediárias, que são combinadas ou trocadas umas pelas outras. A experiência também nos permite falar de pulsões 'inibidas na meta', em processos que são tolerados por um trecho de caminhos, na direção da satisfação pulsional, mas que logo experimentam uma inibição ou desvio. É de supor que tais processos estão associados a uma satisfação parcial. (Freud, 1991b, p. 118).

As pulsões configuram-se, portanto, como os verdadeiros impulsos humanos, que buscam a satisfação e que a encontram de maneira sempre parcial. Ou seja, não há nenhum objeto capaz de conter, de uma vez por todas, o movimento da pulsão e, com isso, sua busca permanece constante.

Antes ainda do desenvolvimento mais sistemático do conceito de pulsão, Freud já defendia a hipótese de um aparelho psíquico regido pelos princípios do prazer e da realidade. Encontramos uma importante explicação sobre essa temática no texto Formulações sobre os dois princípios de funcionamento mental, de 1911. Ali já havia se passado mais de 10 anos desde a publicação de A interpretação dos sonhos, no qual a noção de inconsciente realmente encontra contornos mais definidos e estabelece seu lugar privilegiado no aparelho psíquico descrito por Freud. No texto de 1911, Freud estabelece o princípio do prazer-desprazer (Lust-Unlust) como o retorno do movimento de toda a atividade psíquica inconsciente em busca do prazer e, consequentemente, o afastamento também inconsciente de tudo aquilo que proporciona desprazer. Como nem sempre o encontro com algo prazeroso é possível, o aparelho psíquico encontra uma saída satisfatória por meio da alucinação do objeto desejado. Ainda assim, tal satisfação pela via alucinatória não dá conta de eliminar totalmente os acúmulos quantitativos de excitação no interior do aparelho, que precisa então encontrar outra forma de lidar com as imposições do mundo externo que impedem a realização dos objetivos do princípio do prazer. Com isso, o aparelho psíquico encontra, como forma de adaptação, outro princípio para mediar esse processo. Trata-se do princípio da realidade, que, diferentemente do princípio do prazer, está ligado à consciência.

Uma das funções da consciência seria a de qualificar um estímulo como prazeroso ou desprazeroso e promover alguns encaminhamentos, por exemplo, a construção de ideias como produto do pensamento. Porém, existe uma espécie de atividade de pensamento que escapa ao teste de realidade, ficando subordinada exclusivamente ao princípio do prazer: trata-se da fantasia (Freud, 1991a, p. 240). A capacidade de fantasiar torna-se um importante recurso do aparelho psíquico, que, desse modo, abandona a dependência de objetos reais. A fantasia representa uma tentativa de permanência no princípio do prazer submetendo o aparelho ao engodo na incapacidade de fazer distinção entre o objeto real e o alucinado. Para Garcia-Roza (1990, pp. 96-97), é aí que o princípio da realidade surge e confere ao aparelho uma eficiência mínima necessária. Freud (1991a, p. 242), afirma isso da seguinte maneira:

Tal como o ego-prazer nada pode fazer a não ser querer trabalhar para produzir prazer e evitar o desprazer, assim, o ego-realidade nada necessita fazer a não ser lutar pelo que é útil e resguardar-se contra danos. Na realidade, a substituição do princípio do prazer pelo princípio de realidade não implica a deposição daquele, mas apenas sua proteção. Um prazer momentâneo, incerto quanto a seus resultados, é abandonado, mas apenas a fim de ganhar mais tarde, ao longo do novo caminho, um prazer seguro.

Aqui se encontra, portanto, a resposta psicanalítica ao argumento em favor do utilitarismo que citamos na seção anterior. Um princípio de utilidade se apresenta, entre outras coisas, como uma adaptação do princípio do prazer ao princípio da realidade, sem que a essência que prevê a busca de satisfação seja abandonada.

Não obstante, em 1920, em outro importante texto metapsicológico intitulado Além do princípio do prazer, Freud estabelece a última grande dualidade pulsional dividindo as pulsões em dois grupos: as pulsões de vida e de morte. As pulsões de morte não estariam ligadas a um desejo ou vontade consciente de morrer, mas a um movimento em busca de uma satisfação de outra ordem, baseada muitas vezes no excesso e que sugeririam um retorno a um estado anterior, mais precisamente, inanimado. A noção de pulsão de morte não invalida as descobertas anteriores de Freud, podemos notar isso já nas primeiras linhas do texto de 1920:

Na teoria da psicanálise não hesitamos em supor que o curso tomado pelos eventos mentais está automaticamente regulado pelo princípio do prazer, ou seja, acreditamos que o curso desses eventos é invariavelmente colocado em movimento por uma tensão desagradável e que toma uma direção tal, que seu resultado final coincide com uma redução dessa tensão, isto é, com uma evitação do desprazer ou uma produção de prazer. (Freud, 1991c, p. 7).

A grande novidade apresentada pela noção de pulsão de morte está no fato de que esse prazer, em alguns casos, não é buscado de forma tão direta e, em outros, essa busca se mostra tão excessiva que traz como consequência uma experiência por vezes desprazerosa. Freud traz como exemplo a experiência masoquista, na qual o prazer encontra-se ligado a uma experiência de dor e sofrimento que poderia ser muito bem entendida como uma experiência desprazerosa. No entanto, o que se tem ali é a manifestação da pulsão de morte.

Dessa forma, quando se trata da pulsão de morte, não podemos pensar mais no princípio do prazer como fuga do desprazer, no entanto, não se pode desprezar o fato de que há um tipo de satisfação em jogo. A satisfação nesse caso é de outra ordem e se manifesta na própria repetição, não do mesmo, mas do diferente. A pulsão de morte se apresenta como uma potência criadora justamente pelo fato de que por meio da disjunção provoca o novo, não encontra parada e, por isso, se apresenta muitas vezes como excesso.

É aqui, a partir dessa noção freudiana, que encontramos uma explicação para as relações de consumo do ser humano. Uma repetição sempre diferenciada que não cessa de se inscrever e que produz excesso. As relações de consumo, assim como as pulsões, não estabelecem compromisso com a necessidade e nem pertencem a uma lógica consciente.

Associamos agora essa dinâmica própria do aparelho psíquico ao conceito de mais-valia descrito por Marx. Se a mais-valia é esse "a mais" que se espera no retorno da relação dinheiro-mercadoria, o que está em jogo na administração dela? Os caminhos para responder a essa questão levam àquele que é responsável por esse movimento: o capitalista. Para Marx (1985), o capitalista consciente é dotado de um impulso insaciável. Nas suas palavras:

Como portador consciente desse movimento, o possuidor do dinheiro torna-se capitalista. Sua pessoa, ou melhor, seu bolso, é o ponto de partida e o ponto de retorno do dinheiro. O conteúdo objetivo daquela circulação - a valorização do valor - é sua meta subjetiva, e só enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata é o único motivo indutor de duas operações, ele funciona como capitalista ou capital personificado, dotado de vontade e consciência. O valor de uso nunca deve ser tratado, portanto, como meta imediata do capitalismo. Tampouco o lucro isolado, mas apenas o incessante movimento de ganho. (Marx, 1985, p. 129).

Acrescentamos à ideia de Marx aquilo que vimos no aparelho descrito por Freud, no qual o inconsciente atua em consonância à consciência do capitalista formando um "todo" psíquico em função da mais-valia. Becker (2010, p. 28) articula essas descobertas freudianas às afirmações marxistas trazendo ainda a noção de gozo utilizada por Lacan da seguinte maneira:

O trabalho dos neurônios, ou das representações ou dos significantes, Freud denominou trabalho do inconsciente. O aparato psíquico, cujo substrato anatômico é deslocado para o campo da causa ideal, não perde em nada o substrato linguístico que põe em jogo sua causa real. Este aparato de linguagem, por sua vez constituído na necessidade de trabalhar a demanda primordial introduzida pelo Outro, produz um a mais circulante que é um dispêndio, um trabalho a mais que não encontra um equivalente, nem tampouco uma medida. Marx e Freud mostram os trilhos pelos quais ele advém como excedente na troca, mais além da representação e da mensuralidade do valor. Aí está a homologia entre o valor/mais valia de Marx, o mais além ou o gozo a mais de Freud, e o valor de gozo em Lacan.

Uma incursão mais detalhada na Psicanálise lacaniana nos conduziria à necessidade de um desenvolvimento de outros dois pontos importantes: as noções de desejo e gozo. Contudo, seria arriscado avançar nessas noções sem adentrar nos aspectos clínicos da Psicanálise, e isso, obviamente, nos desviaria do objetivo principal deste artigo. Ainda assim, uma rápida aproximação à noção de gozo pode nos auxiliar no entendimento da correlação entre as duas economias - a psíquica e a mercantil -, fortalecendo nossas hipóteses iniciais.

No Seminário 16, intitulado De um Outro ao outro, Lacan afirma que, assim como na mais-valia de Marx, existe algo que é parte do sujeito, mas que no final das contas não fica com ele. No campo das relações de trabalho, poderíamos associar isso ao lucro do patrão, por exemplo, ou ainda àquilo que se refere aos juros pagos numa relação de compra. No caso do lucro, poderíamos dizer que ele seria, por direito, do trabalhador, mas não é isso que ocorre de fato. Uma coisa é aquilo que é de direito e outra é aquilo que realmente é usufruído. Assim vemos também no caso do gozo, principalmente quando pensado a partir de sua noção hegeliana, ou seja, como usufruto.

Existe algo na relação do sujeito com o objeto que se perde, que não se pode ter por inteiro. O gozo é, desde sempre, perdido e parte é transferida para o Outro, como na relação entre o capitalista e o empregado. Lacan simplifica utilizando o exemplo de que é impossível comer um doce e ao mesmo tempo guardá-lo, da mesma forma que não dá para gozar das férias e ainda assim mantê-la como um direito para ser usado novamente, a não ser no próximo ciclo. Ou seja, a experiência de usufruto carrega consigo a perda. É assim também que acontece no exemplo da piada, que, a cada vez que é contada para a mesma pessoa, vai perdendo a graça. Nunca mais será como na primeira vez. O gozo perdido nunca mais será encontrado. Aí se encontra o mais-de-gozar. Não no gozo em si, mas na perda dele. O mais-de-gozar é essa tentativa de recuperação ou, se preferirmos comparar com a pulsão de morte assim como Freud a descreveu, de um estado anterior que nunca será encontrado, mas que ainda se apresenta como excesso.

A questão é que o movimento pulsional é possível porque a relação entre sujeito e objeto é mediada por uma ilusão. Os objetos se apresentam para a pulsão como aqueles capazes de proporcionar uma satisfação plena. Sem ilusão não existe relação com o objeto. É também a ilusão a responsável pela possibilidade de lidar com o desamparo estrutural que afeta todos os seres humanos. Sendo assim, o mercado como representante maior da política liberal ocupa um lugar de "arma" contra a sensação de desamparo onde o as construções ilusórias ganham força, assim como já havia feito Smith com seu conceito de "mão invisível".

Hugo Assmann (1989, p. 11) pondera essa questão teológica do mercado da seguinte maneira:

Ídolos são deuses da opressão. Biblicamente, o conceito de ídolo e idolatria está diretamente vinculado à manipulação de símbolos religiosos para criar sujeições, legitimar opressões e apoiar poderes dominadores na organização do convívio humano. No interior dos processos de intercâmbio valorativo entre os homens, a troca simbólica de objetos e representações de cunho sagrado costuma preservar uma determinada "utilidade", isto é, um aspecto útil ou valor de uso. Fascinados por essa "serventia" dos seus deuses, os seres humanos se entregam prazerosamente a eles. Consumindo-os (já que os mitos são bons para serem comidos), os homens perdem em geral a consciência de que existem deuses devoradores da vida humana. Os ídolos são implacáveis em suas exigências de sacrifício.

Para o autor, o mercado representa um "falso Deus", pois ocupa o lugar de idolatria e afasta-se dos ideais verdadeiramente divinos. Ainda que os "falsos deuses" oprimam muito mais do que libertam, quando colocados nos lugar de idolatria sustentam a ilusão necessária para manterem-se fortes e atraentes. As ideias religiosas sempre apresentaram força, pois oferecem saídas satisfatórias para muitos conflitos humanos, como a eterna luta entre o bem e o mal. Aliás, essa é inclusive uma das bandeiras levantadas pelos movimentos de direita, que, historicamente, sempre posicionaram a esquerda como uma ameaça a ser combatida.

Pensar no mercado como um "novo Deus" atende a duas urgências psíquicas. A primeira delas é o próprio apaziguamento do traço estrutural de desamparo que somente uma construção ilusória, preferencialmente, transcendental, pode dar conta. Em segundo lugar, atende ao próprio funcionamento psíquico, que tem a busca do prazer e a satisfação das pulsões como metas a serem atingidas.

Veremos agora como o neoliberalismo - como potencialização e transfiguração de alguns ideais liberais clássicos - é favorecido e se utiliza, tanto de maneira consciente quanto inconsciente, das características próprias do aparelho psíquico e apresenta-se como uma proposta econômica cada vez mais atraente.

 

4 O neoliberalismo: gozo pleno e cooperação voluntária como promessas

A palavra "neoliberalismo" é muito mais utilizada pelos seus críticos do que por aqueles que seriam os responsáveis pelo seu surgimento. O status de "novo" dado ao que comumente se chama liberalismo faz referência aos efeitos do capitalismo a partir da década de 1970 e 1980, quando o laissez-faire novamente ganha força e se junta a um movimento com foco na política de austeridade e no aumento do número de privatizações. Assim como no germe do pensamento liberal clássico, o neoliberalismo minimiza o papel do Estado caracterizando-o como o principal obstáculo ao crescimento econômico.

O neoliberalismo pode ser pensado como a soma daquilo que Adam Smith desenvolveu como um caminho para a riqueza das nações e o combate àquilo que a Psicanálise apontou como conflito irreconciliável vivido pelo homem - o mal-estar. A relação entre o modelo econômico e a forma como os sujeitos lidam com suas satisfações é apontada pelos membros da Escola Austríaca de Economia, como Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Milton Friedman.

Será, portanto, Ludwig von Mises (1881-1973), principal nome da Escola Austríaca de Economia e que se descrevia como um liberal clássico, aquele que iria dar uma nova cara ao liberalismo. Muitas de suas críticas se direcionam aos equívocos decorrentes daqueles que alteraram as bases do liberalismo clássico. Para o economista austríaco, "nenhum projeto liberal conseguiu executar seu programa conforme pretendido" (Mises, 2010, p. 34), ainda assim, reconhece que a maioria das tentativas conseguiu dar uma amostra dos benefícios que esse sistema pode promover.

As ideias do economista são apresentadas de modo muito direto, inclusive quando aponta as falhas do liberalismo. Para o autor, "o mais sério erro do liberalismo é que nada tem a oferecer às aspirações mais profundas e mais nobres do homem" (Mises, 2010, p. 35). Ou seja, Mises admite que o liberalismo atua na superficialidade do ser humano, atendendo às exigências de uma satisfação externa, que não leva em consideração os aspectos internos do homem. Não levar em consideração esses aspectos não significa negar a sua existência, mas entender que agir racionalmente apresenta-se como um ideal.

Para o célebre pensador do liberalismo, é com a mesma ênfase na racionalidade que as políticas sociais devem atuar. Desse modo, o uso da razão deve favorecer ao maior número possível de pessoas e isso envolve o que Mises (2010, p. 39) chamou de "sacrifícios provisórios". Essa noção justifica as políticas de austeridade aplicadas pelos regimes liberais, que, em nome dos chamados "contingenciamentos" realizados em algumas áreas, têm como objetivo uma melhora da situação econômica geral. Mises (2010, p. 41) relembra ainda que "todas as grandes indústrias que produzem bens de consumo trabalham diretamente para o benefício dessas massas".

Os argumentos psicológicos que Mises utiliza para atacar os chamados sistemas antiliberais são os mesmos que nós utilizamos para afirmar a eficácia do liberalismo. Para ele, o ataque aos sistemas liberais estaria vinculado a um ressentimento e malevolência invejosa típicos da neurose e que constituem o chamado complexo de Fourier.2 Nas palavras do economista austríaco e em referência a Freud,

O neurótico não pode suportar a vida real. A vida lhe é muita crua, muito dura, bastante rotineira. Para torná-la suportável, o neurótico não tem, como o homem saudável, força para prosseguir, a despeito de tudo. Isto não combinaria com sua fraqueza. Em vez disso, busca refúgio numa ilusão. A ilusão, segundo Freud, é 'ela própria algo desejado, um tipo de consolação'. Caracteriza-se por sua 'resistência a agir pela lógica e pela realidade'. Por conseguinte, de nada adianta procurar convencer o paciente de sua ilusão, por meio da demonstração conclusiva de seu absurdo. Para que possa recuperar-se, o próprio paciente deve suplantá-la. Ele deve procurar entender por que não deseja encarar a realidade e por que se refugia nas ilusões. (Mises, ano, p. )

A argumentação psicanalítica usada por Mises nos parece rasa e desatenta, na medida em que Freud deixou bem claro que é a neurose que funda a civilização. Portanto, não existe esse tipo de homem que, por ser livre de uma neurose, deixa também de se utilizar das ilusões. As ilusões são necessárias por permitirem suportar o mal-estar como condição. Mas aí é que se encontra uma importante questão: o neoliberalismo não suporta a ideia de mal-estar. Deixemos suspenso, provisoriamente, um aprofundamento dessas questões para apresentar mais um viés da ideologia neoliberal. Trata-se do legado deixado por Friedrich von Hayek (1899-1992).

Butler (1987, p. 47) comenta a afirmação de Hayek de que "muitos não conseguem aceitar que a união da humanidade depende, afinal, das relações econômicas e do modo como elas fornecem a satisfação pessoal. Mas a verdade é essa". Com efeito, o que Hayek quer dizer é que o germe do pensamento liberal é apoiado na ideia de busca da satisfação pessoal. Vale relembrar que, para Freud, o aparelho psíquico sempre funcionou com o objetivo de obtenção de prazer e, mais especificamente, alcançar um nível considerável de satisfação. Esse é o modo de funcionar da pulsão, tanto na sua configuração como pulsão de vida quanto naquilo que caracteriza a pulsão de morte.

Jean Baudrillard, crítico da pós-modernidade, enfatiza outra característica especial dessa era, definindo o consumo como a moral do mundo contemporâneo. A respeito dessa definição, Mayer cita no prefácio do livro de Baudrillard intitulado A sociedade de consumo o próprio autor:

Da mesma maneira que a sociedade da Idade Média se equilibrava em Deus e no Diabo, assim a nossa se equilibra no consumo e na sua denúncia. Em torno do Diabo, era ainda possível organizar heresias e seitas de magia negra. Mas, a magia que temos é branca, e não é possível qualquer heresia na abundância [...]. (Baudrillard, 2010, p. 20).

Como podemos notar, a ênfase dada por Baudrillard às relações de consumo se equivale às noções psicanalíticas de desejo e gozo que não se baseiam no aspecto de utilidade. Quando se adquire um novo produto, por exemplo, mais do que sua utilidade o que está em jogo é a satisfação associada ao ato de adquirir. O autor assevera que "Encontramo-nos em pleno foco do consumo enquanto organização total da vida quotidiana, enquanto homogeneização integral onde tudo está compendiado e ultrapassado na facilidade, enquanto translucidez de uma 'felicidade' abstrata, definida pela simples resolução das tensões" (Baudrillard, 2010, p. 20).

Encontramos no pensamento do filósofo francês a mesma ideia sobre a "resolução das tensões" e a tendência a descarregá-las, de modo a reduzi-las ao menor nível possível. Tanto para Baudrillard quanto para a Psicanálise de um modo geral, tudo isso ocorre de maneira inconsciente.

Retomando Hayek, ele considera que uma Economia não pode ser entendida como fruto de objetivos deliberadamente conhecidos, mas sim da organização de uma grande variedade de objetivos individuais. Dada a dificuldade óbvia em conhecer toda a gama de objetivos individuais que formam uma sociedade, a política liberal propõe a livre operação de mercado como forma de organização possível. Sobre essa relação do mercado e dos objetivos individuais, Butler (1987, p. 46), comentador de Hayek, afirma que

O mercado é superior porque não requer acordo quanto aos objetivos a serem buscados. Ele permite aos homens de diferentes valores e propósitos viverem juntos e em paz para mútuo benefício, pois, ao seguir seus próprios interesses, cada um estará atingindo os objetivos de muitos que tenham interesses diferentes e até mesmo conflitantes.

Na afirmação de Butler, vemos novamente um ponto de ligação com Mandeville, pois, sendo a liberdade individual a chave de todo liberalismo, a sua coordenação parece ser o ponto crucial. Os principais teóricos do liberalismo criticam a atuação do Estado totalitário como um dos meios de coordenação e dão à cooperação voluntária dos indivíduos, por meio da técnica do mercado, o nome de capitalismo competitivo.3 Apesar de não depender do governo para alcançar seus objetivos, os homens livres temem que esse mesmo governo possa destruir a liberdade individual.

Hayek (1987, p. 40) afirma que as ideias de Adam Smith e o liberalismo do laissez-faire se perderam a partir do que ele chamou de "tendência moderna ao socialismo". Essa tendência teria atribuído ao individualismo uma conotação negativa, associada ao egoísmo. O individualismo a que Hayek se refere tem sua origem no cristianismo e caracteriza-se pelo respeito ao indivíduo como ser humano e a supremacia de suas preferências. Ou seja, mais um apelo aos aspectos teológicos para justificar os pontos em que se concentram as principais críticas ao liberalismo.

O economista austríaco reforça o fato de que a perda do individualismo ao qual se refere conduz a regimes totalitários. Tanto para Hayek quanto para a maioria dos pensadores liberais, o socialismo sempre representou uma ameaça à liberdade a partir de suas ideias coletivistas. Assim, a despeito dos ideais liberais, o coletivismo difundido pelo socialismo só seria possível a partir do que ele chamou de "poder espiritual coercitivo" (Hayek, 1987, p. 48) advindo de um modelo autoritário com moldes hierárquicos bem-definidos. Ao escrever O caminho da servidão, Hayek estava imbuído do espírito de justificar a qualquer custo que o nacional-socialismo alemão teve sua origem nas massas e não nas classes e, portanto, todo o movimento que culminou no nazismo tinha sua origem nas ideias socialistas. Havia ainda na escrita de Hayek um lamento de que as verdadeiras ideias liberais nunca tinham sido verdadeiramente aplicadas, mas haveria de chegar esse dia.

Um importante argumento utilizado pelos neoliberais reside no fato de que um poder exercido sobre a vida econômica atinge de imediato a liberdade individual e, mais especificamente, um controle sobre a produção também representa um controle sobre o consumo. Com efeito, em tempos pós-modernos, a ameaça à liberdade e à capacidade de consumir não necessita de muitos outros argumentos em sua defesa. Nesse sentido, Hayek (1987, p. 99) vai afirmar que não existe no ser humano racional um "interesse econômico", mas sim "fatores econômicos que condicionam nossos esforços pela obtenção de outros fins", corroborando a tese de Safatle que mencionamos anteriormente.4

Assim como Hayek, Milton Friedman defendeu a ideia de que a competitividade sempre acontecerá entre os indivíduos de forma justa e natural. Friedman aposta muito na ideia de um sistema liberal como reflexo da evolução do homem. Para o autor liberal, os grandes avanços da civilização, em diversas áreas, nunca vieram de governos centralizados, que sempre promoveram a mediocridade uniforme em lugar de uma variedade de experimentação. Essa talvez seja uma das grandes bandeiras do capitalismo atual, a ideia de que, por meio dele, e das possibilidades dadas, o sujeito caminhe para uma evolução sem limites.

O caráter evolucionista presente no pensamento de Friedman pode ser bastante questionável se levarmos em consideração os recentes episódios de violência decorrentes, por exemplo, da tentativa de aniquilação da diferença do outro. Vimos com Freud que, no homem, há um movimento entrópico no lugar de qualquer teleologia positiva, o que nos faz duvidar de uma possível evolução. Por outro lado, há um sentimento coletivo de esperança de que o homem alcance um patamar ideal de ética e justiça, frutos de uma evolução que caminha paralelamente aos avanços da ciência, por exemplo. Quanto à existência de uma ética liberal baseada no ajuste natural dos interesses individuais, Friedman (1984, p. 21) diz que "[...] não há nada que dizer sobre o que o indivíduo faz com sua liberdade; não se trata de uma ética geral. De fato, o objetivo mais importante dos liberais é deixar os problemas éticos a cargo do próprio indivíduo". Sendo assim, novamente o Utilitarismo ganha lugar de destaque e carrega consigo a missão de apresentar argumentos convincentes para que se possa acreditar em algum tipo de harmonia diante desse cenário. Como vimos, por trás do utilitarismo clássico existe um princípio da "máxima felicidade" que se apoia no que seria uma "ficção legal" capaz de equacionar tanto aquilo que seria do campo do individual quanto aquilo que é universal, de modo a encontrar a melhor solução para todos. Na visão de Bentham, a ideia de ficção coloca o princípio utilitarista no campo de uma idealização imaginária, assim como o fato de que o mercado teria função instrumental para alcance do prazer, e assim justificar o liberalismo de Adam Smith.

Por fim, ressaltamos como um grande apelo do neoliberalismo a ênfase que Friedman dá ao papel da iniciativa privada na diminuição da pobreza. Para o autor, o crescimento econômico dos países ocidentais contribuiu diretamente para a diminuição da pobreza a partir, principalmente, do que ele chamou de "caridade privada" (Friedman, 1984, p. 171), o que ele chamou de "uso apropriado da liberdade"; tendo em vista que a ajuda aos mais pobres partiria de uma ação voluntária e não compulsória. Assim, podemos notar o movimento do neoliberalismo para se tornar um modelo ideal, na medida em que procura alinhar toda a liberdade do homem à construção de uma sociedade harmoniosa, na qual o mal-estar não é considerado como uma condição.

 

5 Considerações finais

Freud nos apresentou a ideia de uma tensão interna irreconciliável presente no aparelho psíquico do homem. A vida em comunidade, civilizada, só é possível quando o homem se mostra capaz de renunciar a uma parte dos suas pulsões - que nada mais são do que os impulsos que buscam a satisfação individual. No entanto, vimos que a tarefa não é simples, pois toda a dinâmica do aparelho psíquico é instaurada a partir de uma perspectiva econômica em que a maior redução de tensão possível também promove a maior quantidade de satisfação no interior do aparelho. O saldo desse conflito é, na melhor das hipóteses, o que Freud chamou de mal-estar.

Muito antes de Freud, em 1711, Bernard de Mandeville escreveu sobre o quanto a liberação das paixões histéricas provenientes dos chamados "espíritos animais" seria algo fundamental para a vida do homem. Segundo Dufour (2009, p. 258), Mandeville talvez tenha sido o primeiro grande psicanalista da história, por antecipar a ideia freudiana a respeito da existência de um princípio do prazer que regula nossas ações. Não obstante, é esse mesmo Mandeville que se apresenta como uma importante referência para Adam Smith na construção da importante obra A riqueza das nações. O liberalismo smithiano nasce da mesma concepção que fundamenta a liberação das paixões como uma forma de cura. Assim, temos uma junção entre Economia mercantil e Economia psíquica antes mesmo de Freud e a Psicanálise, ou aquilo que se apresentaria mais tarde como sendo o neoliberalismo. Desse modo, a noção de transdução apresentada por Simondon é constatada na articulação desses dois tipos de Economia.

Se Adam Smith já pode ser considerado o responsável por traduzir as ideias de Mandeville para o cenário econômico, o neoliberalismo pode ser entendido como o momento histórico em que o mercado alcança um lugar privilegiado, com status de divino, com seus mandamentos próprios e, como todo bom Deus, repleto de benevolência. Sim! A promessa de satisfação sem limites e, consequentemente, a eliminação do mal-estar são as grandes bandeiras neoliberais. A herança de Mandeville que foi entendida como radical e libertina é transfigurada pelo principal autor do liberalismo e ganha ares de adaptação bem-sucedida. O que antes era um mal passa agora a ser combustível para uma sociedade próspera.

Não obstante, é por meio do utilitarismo que esse pensamento consegue um alcance maior e conquista um lugar idealizado. A transfiguração das ideias de Mandeville sob a premissa de uma maior felicidade para um maior número de pessoas apresenta-se como uma proposta sedutora, disposta a amenizar grande parte dos conflitos humanos.

Freud apontou na descrição do aparelho psíquico e na sua leitura da vida em sociedade que o mal-estar é resultante de um conflito irreconciliável e, portanto, qualquer movimento na tentativa de resolução desse conflito necessita de uma boa dose de ilusão. É nesse sentido que o mercado e toda promessa neoliberal ganha força. Eles representam a grande ilusão contemporânea que envolve o sujeito - agora chamado de consumidor - no engodo que, de certo modo, responde à própria lógica do aparelho psíquico. Ou seja, tanto o aparelho psíquico e sua Economia quanto a Economia mercantil supervalorizada na pós-modernidade apresentam, na sua essência, a mais-valia como o grande motor de toda a engrenagem.

A Psicanálise, como método de tratamento que surge com Freud e ainda sobrevive nos dias atuais, procura dar ao sujeito um lugar próprio para o seu desejo, uma saída singular diante do comportamento alienado de consumidor. Isso não significa que a Psicanálise se oponha a todo e qualquer forma de consumo e que a experiência de gozo e de mais-de-gozar não faça parte da vida do sujeito. Em vez disso, trata-se de oportunizar ao sujeito uma caminhada carregada de um posicionamento mais crítico, ainda que isso não o libere do mal-estar. Com efeito, essa caminhada atua na contramão de toda a tendência pós-moderna que privilegia a otimização do tempo e a ênfase na performance. Do mesmo modo, a Psicanálise não compactua com os ideais utilitaristas, pois estes exigem uma quantidade significativa de despersonalização, pois transforma todos em uma massa de consumidores, aniquilando suas singularidades. No lugar da Psicanálise, tem-se notado o aumento exponencial do número de coaches, de terapias alternativas frente aos métodos tradicionais, de seitas e de diversas outras metanarrativas explicativas.

A proposta neoliberal é, sem dúvida, fascinante! Em conformidade com a tese de Safatle, procuramos demonstrar que a Psicanálise, e mais especificamente sua noção de aparelho psíquico, se equivale às ideias de Mandeville, e este, por sua vez, "funda" aquilo que mais tarde viria a se chamar liberalismo. Desse modo, assistimos atualmente a um intenso retorno da direita liberal (ao menos em termos de economia) em muitos países, atuando como uma porta-voz dos verdadeiros anseios inconscientes do homem.

 

 

Referências

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Endereço para correspondência
Fabiano de Mello Vieira
E-mail: mello_psico@hotmail.com

 

 

*Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professor da Fundação de Estudos Sociais do Paraná (Fesp) e da PUCPR. Psicanalista.
1Fala proferida por Vladimir Safatle nas Jornadas de investigación: Neoliberalismo, cuerpos, clínicas de la transformación, em 9 de setembro, em Montevidéu, Uruguai.
2Expressão utilizada por Mises para representar o que ele entendia por um transtorno psicológico que tinha como característica uma forma extrema de igualitarismo em que até mesmo a pobreza geral poderia ser entendida como um bem-estar, desde que vivenciada por todos. Ludwig von Mises deu esse nome baseado no socialista francês Charles Fourier.
3Capitalismo competitivo é também chamado de capitalismo concorrencial. Seu auge ocorreu entre os anos 1860 e 1870 e caracteriza-se pela livre concorrência entre empresários individuais. Diferentemente, o capitalismo monopolista atinge sua maturidade logo após a Segunda Guerra Mundial e sugere a centralização dos capitais.
4"A Economia é a continuação da Psicologia por outros meios".

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