SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.10 número18Detecção de risco com a primeira infância: regra, Lei e impossívelNovas nuances da maternidade: a busca de um novo equilíbrio índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Analytica: Revista de Psicanálise

versão On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.10 no.18 São João del Rei jan./jun. 2021

 

ARTIGOS

 

Marx, Freud, Lacan e a política: da Teoria Crítica à Escola Eslovena de Psicanálise

 

Marx, Freud, Lacan and the Politics: from the Critical Theory to the Slovenian School Of Psychoanalysis

 

Marx, Freud, Lacan et la politique: de la Théorie Critique a l'Ecole Slovéne de Psychanalyse

 

Marx, Freud, Lacan y la política: de la Teoría Crítica a la Escuela Eslovena de Psicoanálisis

 

 

Cláudio Dutra de Souza*

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente trabalho propõe o resgate de alguns dos principais teóricos críticos ligados à Escola de Frankfurt e a sua relação com a Psicanálise e o marxismo na primeira metade do Século XX. Esse "primeiro retorno a Freud", no entendimento de Slavoj Žižek, antecede uma subsequente leitura lacaniana, sendo que ambas retomam a potência da Psicanálise e a expandem para outros campos, tais como a Filosofia, a Arte e a política. É nesse sentido que iremos apresentar, na segunda metade deste artigo, a "Escola Eslovena de Psicanálise" e alguns de seus principais pensadores, a qual entendemos como herdeira da diversidade intelectual frankfurtiana, destacando as suas interfaces contemporâneas com o lacanismo. Nesse sentido, questões como ideologia, cultura pop e política irão ocupar um papel de destaque na análise da Escola Eslovena em sua retomada do conceito freudiano de mal-estar em acordo com um Zeitgeist do Século XXI.

Palavras-chave: Psicanálise, Teoria Crítica, Slavoj Žižek, Escola Eslovena.


ABSTRACT

The present work proposes the rescue of some of the main critical theorists related to the Frankfurt School and its relation with the psychoanalysis and the Marxism in the first half of the twentieth century. This "first return to Freud", according to Slavoj Žižek, precedes a subsequent Lacanian reading, and both retake the power of psychoanalysis and expand it to other fields, such as philosophy, art, and politics. It is in this sense that we will present, in the second half of this article, the "Slovenian School of Psychoanalysis" and some of its main thinkers, which we understand as the heir of the frankfurtian intellectual diversity highlighting its contemporary interfaces with lacanism. In this sense, questions such as ideology, pop culture and politics will play a prominent role in the analysis of the Slovein School in its resumption of the Freudian concept of malaise in agreement with the Zeitgeist of the twenty first century.

Keywords: Psychoanalysis, Critical Theory, Slavoj Žižek, Slovenian School.


RÉSUMÉ

Le présent travail propose une révision des idées des principaux théoriciens critiques liés à l'École de Francfort et leurs rapports avec la psychanalyse et le marxisme dans la première moitié du XXe siècle. Nous comprenons ce mouvement entant que le "premier retour à Freud" et ses fondements, d'après Slavoj Žižek, et qui précède a théorie et la révision lacanien neul térieure reprenant la puissance de la psychanalyse tout en l'élargis sant vers d'autres domaines, tels que la philosophie, l'art et la politique. C'est dans cesens que nous présenterons, dans la seconde partie de cet article, "l'École Slovène de Psychanalyse", que nous considérons comme l'héritière de la diversité intellectuelle de Francfort et dont les interfaces contemporaines avec le lacanisme de quelques -uns de ses principaux penseurs seront sou lignés dans ce travail. De plus, des questions telles que l'idéologie, laculturepopulaire et la politique, seront misesen évidence dans l'analyse de l'Ecole Slovène et sa reprise du concept freudien du "Malaise dans la Culture", en conformité avec le Zeitgeist du 21ème siècle.

Mots-clés: Psychanalyse, Théorie Critique, Slavoj Žižek, École Slovène.


RESUMEN

El presente trabajo se propone el rescate de algunos de los principales teóricos críticos relacionados a la Escuela de Frankfurt y su relación con el Psicoanálisis y el marxismo en la primera mitad del siglo XX. Este "primer regreso a Freud", en el entendimiento de Slavoj Žižek, precede a una posterior lectura lacaniana, siendo que ambas retoman la potencia del Psicoanálisis y la expanden hacia otros campos, tales como la Filosofía, el Arte y la política. Es en ese sentido, que presentaremos, en la segunda mitad de este artículo, la "Escuela Eslovena de Psicoanálisis" y algunos de sus principales pensadores, la cual concebimos como heredera de la diversidad intelectual frankfurtiana destacando sus conexiones contemporáneas con el lacanismo. De esa manera, cuestiones como ideología, cultura pop y política ocuparán un papel destacado en el análisis de la Escuela Eslovena en su retomada del concepto freudiano de malestar en acuerdo con un Zeitgeist del Siglo XXI.

Palabras claves: Psicoanálisis, Teoría Crítica, Slavoj Žižek, Escuela Eslovena.


 

 

1 Introdução

Quando nos propomos a falar de "Teoria Crítica", o primeiro problema que enfrentamos se encontra justamente nesse nome. Uma teoria, que é um conjunto de regras sistematizadas, ou mesmo leis, que se aplicam a determinadas áreas do conhecimento, pode ao mesmo tempo ser algo dinâmico e não se furtar às demandas do presente? Para Horkheimer (1937), em Teoria Tradicional e Teoria Crítica, não se pode imaginar o mundo como ele é sem, ao mesmo tempo, levar em conta a perspectiva de como ele deveria ser. A gênese social dos problemas não deve se encerrar no âmbito cartesiano das teorias tradicionais, pois deve estar presente na dialética mundana de um conhecimento sempre dinâmico. O marxismo e a Psicanálise freudiana se tornam então caminhos possíveis para um questionamento teórico que parte do princípio de que a verdade é temporal e histórica, não podendo, portanto, ser fixada em um conjunto de teses imutáveis. Teoria e prática são indissociáveis e devem andar juntas.

A Escola de Frankfurt, embora seja um local físico e localizável na Senckenberganlage 26, Frankfurt/Alemanha, extrapola o âmbito de seu espaço físico e inspira novos teóricos mundo afora, que se valem de uma visão marxista cada vez mais crítica e menos dogmática com elementos da Psicanálise atualizados no campo do lacanismo. Iremos destacar, mais precisamente, um conjunto de pensadores que situamos como um prosseguimento das ambições intelectuais dos frankfurtiamos, nome dado à Escola Eslovena de Psicanálise, cujo representante mais conhecido é o filósofo, psicanalista e crítico cultural Slavoj Žižek.

Este artigo tem como objetivos, em sua segunda seção, intitulada "De Frankfurt para um mundo feito em pedaços: uma nova epistemologia é possível", empreender uma breve revisão teórica das relações entre a Psicanálise e a política a partir do resgate da Teoria Crítica, representada pelas ideias centrais dos principais teóricos críticos da Escola de Frankfurt. Essa seção será perpassada pelos comentários de Slavoj Žižek, que compreende a junção do marxismo com a Psicanálise como um retorno aos fundamentos freudianos anos antes de Lacan anunciar uma proposta semelhante.

Na terceira seção, intitulada "De Frankfurt a Ljubljana: esboço de uma abordagem teórico-crítica em Psicanálise de acordo com o espírito de nossos tempos", buscaremos apresentar e avançar no entendimento de uma associação de pensadores que, na virada do milênio, começam a se impor como herdeiros da tradição crítica frankfurtiana: a Escola Eslovena de Psicanálise. Da mesma forma que se estabeleceu um diálogo entre Freud e o marxismo, os eslovenos, principalmente Slavoj Žižek, Alenka Zupančič e Samo Tomšič, irão retomar esse diálogo com Lacan, mais especificamente no período que compreende a fase final de seu ensino.

 

2 De Frankfurt para um mundo feito em pedaços: uma nova epistemologia é possível

As primeiras tentativas de dar um viés político ao escopo teórico da Psicanálise remontam a meados da década de 1920, com o surgimento da Escola de Frankfurt, nome dado ao grupo de pensadores alemães do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt, fundada em 1923 por cientistas sociais marxistas dissidentes que buscavam alternativas à rigidez teórico-metodológica dos marxistas ortodoxos, bem como de influências partidárias. Um resumo de suas ideias consiste na oposição daquilo que é comumente designada pela expressão "teoria tradicional", ou seja, ligada ao positivismo cartesiano, que não se ocuparia com as origens sociais e subjetivas da problemática analisada, o que a faz ser abstrata e estranha à realidade.

Fruto da República de Weimar (1918-1933) e de longa tradição do pensamento alemão que inclui Nietzsche, Hegel, Kant, Marx e Freud, a Escola de Frankfurt acompanhou as principais mudanças na Europa e no mundo no período entre guerras. Uma das principais contribuições dos teóricos de Frankfurt foi a criação de uma "Teoria Crítica" da sociedade, que tem como marco fundador o ensaio publicado por Max Horkheimer em 1937, intitulado Teoria Tradicional e Teoria Crítica. Nesse ensaio, Horkheimer irá apresentar alternativas à "teoria tradicional" positivista, cientificista ou puramente observacional, da qual derivam observações e leis generalistas tanto sobre a natureza quanto acerca do ser humano. Para Nobre (2004, p. 38), "em nome de uma pretensa neutralidade da descrição a Teoria Tradicional resigna-se à forma histórica presente da dominação. Em uma sociedade dividida em classes, a concepção tradicional acaba por justificar essa divisão como necessária".

Para Fred Rush (2008), Horkheimer trabalha com a ideia de que a teoria tradicional se caracteriza pelo total desprezo do papel constitutivo da vida social no conhecimento, tanto quanto por um rígido viés anti-histórico. Em outras palavras, o modelo científico criticado por Horkheimer inclui o idealismo racionalista tanto quanto certo materialismo reducionista que se unem em uma pretensão a-histórica universal e em uma concepção instrumental da razão. O modelo científico estaria relacionado a uma forma histórica específica da organização humana, ou seja, o entendimento burguês - capitalista. A Teoria Crítica pode também ser definida como uma autoconsciência social quase objetiva na mudança e na emancipação por meio do esclarecimento e que não irá ter ligações dogmáticas nem com seus próprios pressupostos (Nobre 2008).

Uma questão fundamental que foi trabalhada pelos teóricos críticos foi o conceito de "indústria cultural", que aparece pela primeira vez no livro Dialética do Esclarecimento (1944), de Adorno e Horkheimer, que irá refletir sobre como o capitalismo usa a cultura como mercadoria. No capítulo O iluminismo como mistificação das massas, os autores afirmam que a máquina capitalista de reprodução e distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte erudita quanto a arte popular. Isso estaria acontecendo porque o valor crítico dessas duas formas artísticas é neutralizado por não permitir a participação intelectual dos seus espectadores.

A arte, tratada simplesmente como objeto de mercadoria, estaria sujeita às leis de oferta e procura do mercado e tal fato produziria, na visão dos autores, uma passividade acrítica advinda do fato de que se dá ao público apenas aquilo o que ele quer, desencorajando esforços pela tomada de uma possível nova experiência estética. Žižek avalia que uma das grandes lições de Adorno e Horkheimer, na Dialética do Esclarecimento, seria que "as principais vítimas do positivismo não são confusas noções metafísicas, mas os próprios fatos; a busca radical da secularização, o desvio em direção à própria vida mundana, transforma a vida em si num processo abstrato anêmico" (Žižek, 2003, p. 107).

A Teoria Crítica é igualmente "crítica" em relação aos seus objetos, tanto quanto com os seus próprios paradigmas (Brunkhorst, 2008). Na obra de Adorno e Horkheimer, o termo "esclarecimento" aparece como sinônimo de Iluminismo e a construção de um conjunto de modelos de desenvolvimento racionais presentes em diversas camadas da sociedade como um sistema instrumentalizado e ideológico que impede qualquer outra forma de pensamento que não o "racional" (Rush, 2008).

Após esse breve preâmbulo dos pressupostos básicos da Teoria Crítica, e sem a pretensão de esgotar esse campo vastíssimo de produção intelectual das últimas décadas, iremos nos deter nas relações que esta promove entre a Psicanálise e o marxismo. De certa forma, muito antes de Lacan, a Escola de Frankfurt já havia articulado o projeto de um retorno a Freud, em oposição ao "revisionismo analítico" que Slavoj Žižek vai destacar no primeiro capítulo de O sublime objeto da ideologia (1990). Tal revisionismo, destaca Žižek (1990, p. 11), se estrutura como "um movimento de 'amnésia' progressiva em que se perde, gradativamente, a dimensão radical da descoberta freudiana: seu núcleo 'crítico' insuportável".

Partindo do trabalho de Russell Jacoby (1975), Social Amnesia - A Critique of Conformist Psychology from Adler to Laing, Žižek desenha um panorama revisionista da Psicanálise, cujos expoentes seriam o ex-discípulo de Freud Alfred Adler e o britânico Ronald Laing, que lançam as bases da antipsiquiatria, identificados com os paradigmas da "new left" dos anos 1960. A esses nomes juntam-se os neofreudianos ou pós-freudianos, tais como Karen Horney e, principalmente, Erich Fromm, que, de acordo com Žižek (1990), teria a intenção, já na década de 1930, de fazer uma crítica marxista a Freud, detectando o núcleo sócio-histórico de seus conceitos fundamentais.

Para Fromm, o supereu consistiria na internalização psíquica das instâncias ideológicas específicas de uma dada sociedade, e o complexo de Édipo se alinharia no processo geral da produção e reprodução da família patriarcal como sua condição objetiva (Žižek, 1990). Horney, por sua vez, também irá se valer de teorias culturalistas para a revisão de conceitos freudianos, tais como a inveja do pênis e as diferenciações biologicistas entre o masculino e o feminino. A Horney é creditada a criação de uma "Psicologia feminista", na qual, atualmente, os estudos de gênero fazem avançar muito de seus questionamentos pioneiros, avançando significativamente o conhecimento nesse campo (Quinn, 1987). Na visão de Žižek (1990), um ponto em comum a todos esses autores ditos revisionistas é uma censura a Freud, de uma maneira ou de outra, por seu suposto "biologismo", "pansexualismo", "naturalismo" e "determinismo", que faz o sujeito não mais do que uma abstração à mercê dos determinantes objetivos, sem conseguir situar a estrutura psíquica do indivíduo na totalidade sócio-histórica de que ela faz parte.

O gesto fundamental do revisionismo consistiu em substituir a "natureza" (as pulsões "arcaicas", "pré-individuais") pela "cultura" (os potenciais criativos do eu, sua necessidade insatisfeita de amor e sua solidão e alienação na "sociedade de massa"), enquanto a teoria crítica via o verdadeiro problema nessa própria "natureza" no que se afigurava, à primeira vista, como "natureza", herança biológica etc. (Žižek, 1990, p. 13).

Em resumo, a tentativa de circunscrever historicamente a teoria freudiana teria menos a ver com a valorização de problemas sociais e culturais, e até mesmo de conflitos éticos e emocionais do eu, do que com a domesticação revisionista do inconsciente, atenuando "a tensão fundamental e irredutível entre o eu, estruturado de acordo com os valores sociais, e os impulsos inconscientes que a ele se opõem - tensão que confere à teoria freudiana seu potencial crítico" (Žižek, 1990, p. 14). Para os teóricos críticos, malgrado a sua crença no projeto emancipatório da modernidade, após a II Guerra Mundial, parecia que a racionalidade já não era mais suficiente para dar conta dos horrores recentemente vividos. Com isso, Adorno e Horkheimer se voltaram para a Psicanálise como uma teoria "não racional" que ao mesmo tempo fosse filha das luzes, ou seja, que não fosse uma teoria por assim dizer "irracional" (Whitebook, 2004).

Em suas obras, Marx já havia diagnosticado que o capitalismo se constitui em um modo de produção que organiza o conjunto de uma sociedade e que iria se tornar mundial, espalhando-se por todo o globo. Dessa forma, Marx condenava o pensamento utópico como contraproducente, no sentido de que seria impossível organizar uma sociedade à margem do sistema capitalista global. Na verdade, ele iria mais longe ao afirmar que qualquer resistência nesse sentido estaria fadada ao fracasso (Nobre, 2008). Dessa forma, podemos ampliar a nossa concepção sobre a crítica ao revisionismo freudiano entabulado pelos teóricos críticos, e aqui estamos falando notadamente de Adorno e Horkheimer, como uma defesa teórica contra a diluição que ameaçava o seu núcleo duro teórico, nem sempre palatável aos mais sensíveis. Da mesma forma, esses autores não iriam compactuar com a linha marxista-freudiana de Erich Fromm e suas tentativas de humanizar e, de certa forma, "harmonizar" ambas as teorias com sua perspectiva humanista radical.

Isso seria uma forma de afirmar que muitas coisas foram produzidas por Freud sem que necessariamente ele fosse consciente disso, ou ainda, que ele fosse fruto de seu tempo e de suas limitações burguesas. De fato, qualquer teoria que se encontre imune a críticas e modificações corre o risco de se tornar um dogma. Da mesma forma, a intensa plasticidade de uma teoria que se adapta às configurações sociopolíticas do Zeitgeist1 em tempo real corre o risco de servir a interesses ideológicos diversos e nem sempre plenos de boas intenções, como podem fazer crer. Mais adiante, com Walter Benjamin, Wilhelm Reich e Herbert Marcuse, a situação se tornará mais complexa, haja vista a diferença que esses teóricos, todos filiados à Escola de Frankfurt, irão ter sobre as aproximações entre Psicanálise e marxismo. Mais adiante, iremos adentrar no que chamaremos de "segundo retorno a Freud", desenvolvido por Lacan, e suas semelhanças e dessemelhanças com o conjunto dos pensadores críticos aqui descritos. No entanto, podemos antecipar um ponto em comum entre ambos quando percebemos

a relação entre a orientação da Teoria Crítica a propósito de Freud e o "retorno a Freud" lacaniano: ambos apreendem seu próprio encaminhamento como uma espécie de contra movimento para restabelecer a verdade da descoberta freudiana, esquecida pelo revisionismo, que escamoteou o cunho sumamente crítico da psicanálise [...] no fundo, a Teoria Crítica aceita a teoria freudiana "tal e qual", afirmando-a com todas as suas "antinomias" e, "inconsequências", na medida em que vê nesses aspectos a própria indicação de sua verdade. (Žižek, 1990, p. 19).

Lacan reclamava para si uma interpretação teórica radical que iria aos poucos se distanciar dos múltiplos revisionismos do pós-guerra. Aceitar a teoria freudiana "tal e qual", como lembra Žižek, supõe, de certa forma, um deslocamento paralático que vai além do Zeitgeist desse e de outros tempos. Tal tarefa nunca é fácil, já que sempre corremos o risco de congelarmos uma teoria em um espectro de visão limitado, seja marxista, seja humanista, feminista, patriarcal ou o que mais exclua a possibilidade de uma visão em paralaxe. É o que reforça Souza em O obstáculo da teoria (2000), em que o autor pondera que a naturalidade com a qual é vivenciada uma teoria, por aqueles que a praticam, acaba por naturalizá-la, enfraquecendo a sua dimensão crítica em face da potência narcísica de seus adeptos, o que acaba por limitá-la. Souza (2000) cita a arquitetura de vidro, de Walter Benjamin, como algo que veio contribuir para dar forma à subjetividade do homem moderno: "não é por acaso que o vidro é um material tão duro e tão liso, no qual nada se fixa. É também um material frio e sóbrio. As coisas de vidro não têm nenhuma aura. O vidro é em geral inimigo do mistério. É também o inimigo da propriedade" (Souza, 2000, p. 117).

Walter Benjamin se constitui em um dos expoentes mais emblemáticos da Escola de Frankfurt, cuja obra extrapolaria as limitações deste trabalho. Benjamin não era um leitor ortodoxo de Freud, e muito cedo se distanciou do marxismo ainda clássico de seus colegas frankfurtianos. Entretanto, a sua produção teórica provoca torções significativas entre Psicanálise e marxismo, começando pela crítica "romântico-revolucionária da modernidade" que irá se insurgir contra a civilização capitalista industrial moderna nos textos como Romantismo (1913) e Diálogo sobre a religiosidade de nosso tempo (2012). Nesses escritos, ele associa romantismo, socialismo e revolução, buscando nas lutas heroicas do passado uma alternativa à "marcha ridícula" do progresso que anda como caranguejo (Löwy, 2013). O que podemos analisar dessa concepção, aparentemente contraditória, é o estabelecimento de um desvio ao passado, não como saudosismo, mas sim como forma de desenhar os rumos de um futuro utópico.

Vários de seus estudos sobre o estado de exceção influenciam pensadores como Slavoj Žižek e Giorgio Agamben, sendo que esse último atualiza a concepção do "estado de exceção" de Benjamin para o Zeitgeist atual, com resultados assustadoramente semelhantes a tempos de guerra, quando as medidas excepcionais ultrapassam o plano do direito e o estado de exceção apresenta-se como a forma legal daquilo que de modo algum pode ter uma forma legal (Agamben, 2004). Žižek (2011) alerta para uma nova etapa do capitalismo, que se veria livre do acoplamento a uma democracia liberal, podendo estabelecer regras autoritárias e vivenciar um permanente regime de exceção, como no caso da China, que ele irá usar como exemplo em diversos trabalhos.

Com certeza, um dos textos mais proféticos e belos de Benjamin é O Capitalismo como Religião, que faz parte de material inédito publicado por Ralph Tiedemann e Hermann Schweppenhäuser em 1985, e que no Brasil é lançado no ano de 2013 em uma coletânea organizada pelo sociólogo Michael Löwy. Nesse curto texto de apenas cinco páginas, na verdade um esboço de ideias, Benjamin avança na compreensão do fenômeno do capitalismo como algo a mais do que um simples modo de produção. É notável a potência das ideias de Benjamin ao associar o capitalismo a uma espécie de sentimento religioso compreendido por meio de três traços significativos:

1. O capitalismo é como religião cultural extremada e fundamentalista.
2. O capitalismo celebra um culto permanente, sem trégua ou piedade.
3. O capitalismo seria o primeiro caso na história de um culto não "expiador", mas "culpabilizador".

O capitalismo é uma religião puramente de culto, desprovida e dogmas e "faz parte da essência desse movimento religioso que é o capitalismo aguentar até o fim, até a culpabilização final e total de Deus. Até que seja alcançado o estado de desespero universal na qual ainda se deposita alguma esperança" (Benjamin, 2013, p. 22).

Entretanto, para Benjamin, Deus não estaria propriamente morto, mas sim teria sido incluído no destino humano. Realiza, então, uma espécie de metáfora astrológica ao mencionar que "essa passagem do planeta ser humano pela casa do desespero na solidão absoluta de sua órbita constitui o ethos definido por Nietzsche [...] o ser super-humano" (Benjamin, 2013, p. 22). Em A gaia ciência, Nietzsche irá falar do homem louco que pergunta "para onde foi Deus", respondendo em seguida "já lhes direi! Nós o matamos - vocês e eu. Somos todos seus assassinos". Porém, será em Assim falava Zaratrusta (1891) que encontraremos outras e tantas passagens acerca dessa proclamada morte de Deus, tais como: "noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfêmias. Agora, o mais espantoso é blasfemar da terra, e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da terra" (Nietzsche, 2008, p. 17).

Com tais recursos a Nietzsche, Benjamin retrocede o Zeitgeist do final do século XIX ao niilismo padrão de uma modernidade capitalista já inserida em uma metanarrativa marxista e já prestes a ser invadida pela Psicanálise no início do século XX. A questão da morte de Deus tem inúmeras ramificações éticas e morais que podemos encontrar nas páginas de Os Irmãos Karamázov, de Dostoievsky, do qual se condensou a conhecida frase "se Deus não existe tudo é permitido".2 Para Lacan, "a verdadeira fórmula do ateísmo não é que Deus está morto - mesmo fundando a origem da função do pai em seu assassínio, Freud protege o pai - a verdadeira fórmula do ateísmo é que Deus é inconsciente" (Lacan, 1954-55/1988, p. 60). A reflexão que se impõe ao considerarmos o capitalismo como uma espécie perversa de religião se situa longitudinalmente entre as convergências de um Zeitgeist que constantemente se renova, tanto quanto se renovam os seus críticos.

Um exemplo disso são os trabalhos de Agamben, leitor e tradutor de Benjamin para o italiano, que em 16 de agosto de 2012 concede uma entrevista para a revista Ragusa News reproduzida no site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU com o título Deus não morreu: Ele tornou-se dinheiro, na qual irá se valer das ideias de Benjamin e Nietzsche de acordo com o espírito de nossos tempos para afirmar precisamente de que o banco, com os seus cinzentos funcionários e especialistas, assumiu o lugar da Igreja e dos seus padres. Agamben vai mais além ao comparar que termos religiosos são usados de forma banal em um contexto economicista, por exemplo, "salvar o euro a qualquer preço", o que pode significar inclusive o sacrifício de vidas humanas, finalizando que "Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas" (Agamben, 2012).

Nesse sentido, o capitalismo pode ser uma religião tanto quanto se valer de outras religiões para se fortalecer, como demonstra Benjamin (1921) ao afirmar que, no Ocidente, o capitalismo se desenvolveu como um parasita do Cristianismo, de tal sorte que no fim das contas a história dessa religião é essencialmente a de seu parasita, o capitalismo. Essa fusão é facilmente localizável em tantos outros exemplos religiosos contemporâneos, mais notadamente entre os "gospels", com exceção, talvez, do Islamismo.3 Prosseguindo na linha teórico-crítica a que nos propomos, não poderíamos deixar de fora dois grandes teóricos críticos4 que tomaram para si, de forma mais aprofundada, a relação instável entre a Psicanálise e a política: Wilhelm Reich (1897-1957) e Herbert Marcuse (1898-1978).

Poucos autores flertaram de forma mais contundente com a práxis revolucionária marxista do que Wilhelm Reich em seu uso da Psicanálise como instrumento emancipatório, muito além do que almejavam seus colegas da escola de Frankfurt e o próprio Freud. Longe de certo distanciamento crítico de Adorno e Horkheimer, Reich irá se posicionar teórica e politicamente por meio de várias e significativas filiações com as quais ele teve uma relação um tanto quanto difícil. Em 1922 a Policlínica Psicanalítica de Viena, que fornecia tratamento psicanalítico gratuito às pessoas que não podiam arcar com os encargos da análise, foi fundada por Freud e teve Reich como o seu primeiro assistente clínico e mais tarde vice-diretor, mantendo essa posição até 1930, quando deixou Viena. Esse trabalho o colocou em contato com a classe trabalhadora, o que o levou a considerar as causas sociais que seriam motivadoras das enfermidades mentais. Em 1928 filiou-se ao Partido Comunista Austríaco, tornando-se um membro profícuo e atuante.

Em 1933 publica, em nosso entendimento, sua obra-prima, inspirada no artigo de Freud, Psicologia das Massas e a Análise do eu (1921), que se intitula então como Psicologia de Massas do Fascismo e que, concomitante com o artigo de Freud, mantém uma impressionante atualidade com os nossos tempos. Enquanto o Partido Comunista especulava se a classe média alemã se alinharia com os nazistas em ascensão, ou com o proletariado, Reich estava convencido de que, assim como o filho mais velho sempre se compara com o pai contra seus irmãos, a pequena burguesia alemã iria se comparar com a burguesia. Sendo assim, Reich inaugura um entendimento que resiste aos tempos: de que o fascismo é menos um partido político (como se entendia na época), mas sim "expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos impulsos têm sido reprimidos há milênios" (Reich, 1933 p. 8). Com esse livro, Reich expõe os princípios daquilo que Adorno chama de "personalidade autoritária", que não se furta de uma análise profunda de suas mais caras filiações, Marxismo e Psicanálise. O resultado disso é tão rico quanto devastador, e se mantém ainda atual em face das situações que vivenciamos nessa segunda metade do século XXI.

Para finalizar esta seção, não poderíamos deixar de mencionar o teórico crítico que provavelmente é o mais lembrado ao pensarmos na articulação entre a Psicanálise, marxismo e política, o filósofo e sociólogo alemão Herbert Marcuse. Em relação a Reich, Marcuse lhe rendeu inicialmente uma grande admiração, a ponto de em Eros e Civilização (1955) considerar que a mais séria tentativa realizada para desenvolver a Teoria Crítica social implícita em Freud teria sido a de Wilhelm Reich, em seus primeiros escritos. Não obstante, Marcuse cedo irá criticar em Reich sua noção de repressão sexual, que se manteria indiferenciada, negligenciando consequentemente certa dinâmica histórica dos instintos sexuais e sua fusão com os impulsos destrutivos. Para Marcuse, a libertação sexual em Reich havia se tornado uma panaceia para as enfermidades individuais e sociais e "os vislumbres crítico-sociológicos contidos nos primeiros escritos de Reich foram, assim, sustados; um primitivismo arrasador torna-se predominante, prenunciando os fantásticos e arrebatados devaneios dos últimos anos de Reich" (Marcuse, 1955, p. 206).

Marcuse, juntamente com Adorno e Horkheimer, irá se insurgir contra os diversos "revisionistas" da Psicanálise, como Jung, por exemplo: "na ala direita da Psicanálise, a Psicologia de Carl Jung cedo se tornou uma obscurantista pseudomitologia. O centro do revisionismo ganhou forma nas escolas culturais e interpessoais, que constituem hoje a mais popular tendência da Psicanálise" (Marcuse, 1955, p. 206).

Em relação a Freud, uma das principais críticas teóricas de Marcuse, e que, de certa forma, lhe outorgou grande sucesso popular nos anos 1960, foi a teoria da "dessublimação repressiva", contida na obra O homem unidimensional: estudos da ideologia da sociedade industrial (1964). Retomando os escritos de Freud em O mal-estar na civilização (1929), Marcuse aponta que o cerne de sua argumentação seria a existência de um antagonismo irremediável entre as exigências pulsionais e as restrições da civilização, ou seja, o princípio de prazer versus o princípio da realidade. Contudo, para Marcuse, tais ideias poderiam conter novas interpretações, mais de acordo com o espírito de nossos tempos.

Para Žižek (1990), a tese de que uma "dessublimação repressiva", que nas sociedades "pós-liberais" substituiria a "sublimação repressiva", seria própria de uma sociedade tradicional. Entretanto, a lição dos totalitarismos contemporâneos, do nazismo à "sociedade de consumo", consiste na percepção de que os assim chamados "impulsos arcaicos triunfantes", que engendram a vitória do id sobre o ego, vivem cm harmonia com o triunfo da sociedade sobre o indivíduo. Ao comentar essa passagem em Marcuse, ele aponta que,

com a "dessublimação repressiva", ao contrário, esse vínculo entre a "cultura" e a "repressão" é interrompido: o resultado "positivo" da "dessublimação repressiva" consiste, portanto, em que a "sublimação" e a "cultura" se libertam de seu entrelaçamento exclusivo com a "repressão" - as forças da "repressão" ficam agora do lado da "dessublimação", da "regressão", o que possibilita a inversão dessa conjuntura, o advento da "sublimação não-repressiva". (Žižek, 1992, p. 40).

Em O homem unidimensional (1955), Marcuse faz uma crítica das sociedades altamente industrializadas, com foco tanto nos países comunistas quanto nos capitalistas, assumindo que ambos têm falhas no processo democrático. A sociedade industrial avançada, a comunicação de massas, cultura e publicidade, cria falsas necessidades a fim de integrar o indivíduo em um sistema de produção e de consumo, com a ajuda da comunicação de massas, publicidade e demais modos de pensamento contemporâneos que apenas reproduzem o sistema existente, eliminando críticas e oposições.

Com a integração da sociedade unidimensional e de suas manifestações culturais, o conflito entre o existente e o possível enfraqueceu e pode ter desaparecido. Essa integração, segundo o argumento de Marcuse, aconteceu em prejuízo das potencialidades de Eros e do papel da sublimação em manter a consciência dessas potencialidades. Como resultado disso, habitaríamos em um universo unidimensional de ideias e comportamento, no qual as verdadeiras aptidões para o pensamento crítico eram anuladas.

Para Terra (2008, p. 142) "a teoria crítica buscou o diagnóstico de uma época buscando encontrar na realidade as tendências e os potenciais emancipatórios tanto quanto os possíveis bloqueios a essa emancipação [...] emancipação entendida como revolução. O bloqueio à emancipação é o bloqueio à revolução". A verdade é temporal e histórica - não pode ser fixada em um conjunto de teses imutáveis, pelo contrário, tudo está sempre em mutação. Além disso, torna-se impossível mostrar as coisas como elas realmente são, senão a partir da perspectiva de como elas deveriam ser. "Crítica" significa algo que as coisas poderiam ser, mas não são, porém que trazem nelas potenciais e possibilidades ainda não realizados (Nobre, 2013). Logo, eu só posso entender o mundo como ele é hoje a partir do que ele poderia ser e ainda não é. A isso podemos chamar de utopia, na qual um dos entendimentos possíveis a essa palavra tão polissêmica seria a de um "avesso da repetição", aquilo que quebra a lógica da analogia ou mesmo uma utopia como objeto a que, de acordo com Souza (2009, p. 401), "introduz fissura no discurso e faz frente às estruturas totalizantes. Portanto, objeto a e utopia, apontam para um não-lugar que sustenta uma posição possível para o surgimento de sujeito".

A Teoria Crítica, embora fortemente associada aos frankfurtianos, deriva e ultrapassa seus pais fundadores, como afirmamos anteriormente, de forma semelhante como ocorre com a Psicanálise. Dessa forma, podemos entender que as relações entre a Psicanálise e a política avançam significativamente desde os primeiros anos do século XXI graças aos trabalhos de Slavoj Žižek e dos autores da Escola Eslovena de Psicanálise, que promovem um aprofundamento entre a Psicanálise e a política, ampliando as discussões já clássicas da Escola de Frankfurt. Na próxima seção, iremos apresentar essa escola ainda pouco conhecida e seus principais autores.

 

3 De Frankfurt a Ljubljana: esboço de uma abordagem teórico-crítica em Psicanálise de acordo com o espírito de nossos tempos

Partindo da cidade de Frankfurt até Ljubljana são cerca de 800 km, os quais podemos percorrer de carro em aproximadamente 8h16min, ou de ônibus em 10h30min e, finalmente, de avião em apenas 1h15min. A distância física entre essas duas cidades é irrisória em comparação às duas escolas de pensamento que irão levar os seus nomes. A primeira, já mencionada na seção anterior, é a Escola de Frankfurt; e a segunda, que iremos apresentar agora, leva o nome de Ljubljana School of Psychoanalysis (Escola de Psicanálise de Ljubljana), também conhecida como Ljubljana Lacanian School (Escola Lacaniana de Ljubljana). Aqui esclarecemos que o nosso interesse não é fazer analogias entre essas escolas e o grupo de pensadores que a representam, mas sim retomar o espírito crítico dos teóricos de Frankfurt que irão inspirar um movimento oriundo na antiga Iugoslávia e que vêm contribuindo há anos no avanço teórico da Psicanálise, bem como expandindo as suas potencialidades para além do universo clínico e dos locais tradicionais, como associações psicanalíticas e universidades.

Embora o grupo esloveno coloque o nome de "Psicanálise" no título de sua escola, ela definitivamente não se constitui de forma clássica nesse âmbito, não sendo um espaço doutrinário e de transmissão de saber, não tendo sequer um local físico próprio. A isso se deve o fato inédito de que não existem propriamente psicanalistas clínicos atuantes em seus quadros, mas sim pesquisadores que se valem da Psicanálise como ferramenta de análise cultural. Tal arranjo nos conduz a homologias importantes com os pensadores de Frankfurt que se valeram da Psicanálise freudiana de sua época a fim de estudar o Zeitgeist e suas mutações na primeira metade do século XX. Da mesma forma, pensamos que a Escola Eslovena de Psicanálise retoma o espírito da Teoria Crítica, dessa vez enfatizando o trabalho de Jacques Lacan, mais precisamente naquilo que se considera como a sua terceira e última fase em que privilegia o campo do real.

A Escola de Psicanálise Eslovena, de acordo com Taylor & Winquist (2001), representa o pensamento de um grupo de intelectuais oriundos da antiga Iugoslávia que, desde a década de 1970, começaram a estabelecer um vínculo formal entre si para trabalhar com a Psicanálise lacaniana e suas articulações com a política, marxismo e filosofia. Seus membros fundadores são Miram Božovič, Zdravko Kobe, Mladen Dolar, Renata Salecl, Alenka Zupančič e Slavoj Žižek. As publicações de seus membros incluem o jornal Problemi e a série de livros denominada Analecta, ambos publicados na Eslovênia. Além disso, publicam o periódico eletrônico Wo Es War, a revista SIC, estes disponíveis em inglês. Entre os anos 1970 e 1980, devido à forte influência de Jacques Alain Miller, a maior parte das conexões internacionais desse grupo se radicava na França. Entretanto, na última década, o pensamento desse grupo encontrou solo mais fértil no mundo anglófono, na cidade de Londres, onde se desenvolve grande parte de suas atividades acadêmicas.

Slavoj Žižek (2006) relata que um dos motivos pelos quais se fundou a Escola de Psicanálise Eslovena foi o fato de que ele e seu grupo estavam à margem do mundo acadêmico da época, especialmente devido ao fato de que os estudos lacanianos eram ainda mais marginais na sociedade comunista daquele período, no qual não havia a possibilidade de organização espontânea, mas sim de forma institucional, o que lhes garantia certas liberdades do governo.

A Escola de Psicanálise Eslovena é uma instituição teórica, e não clínica. Segundo Žižek, isso se deveu ao fato de que era preciso lançar mão de uma cadeia de outras instituições semelhantes estrangeiras, ligadas ao socialismo, para que se discutisse a validade e a necessidade de uma nova associação desse porte. O que mais influenciou o termo "teórico", que posteriormente foi anexado ao nome da Escola, foi o lobby de psicólogos e psiquiatras temerosos de perder fatias de mercado (Žižek, 2006). Outro fato interessante a se destacar é que a escola não existia de forma física, sequer contava com um departamento, como era o caso dos frankfurtianos. Era mais um "imaginário institucional" do que propriamente uma instituição com estatutos, atas fundadoras, salas e máquinas de café.

a organização da sociedade era essencialmente nula. Durante todo o período que ela existiu, creio que não houve uma única reunião oficial [...]. Essa era uma questão puramente prática para controlar o dinheiro e promover as publicações (a revista Problemi e a série de livros Analecta) e coisas similares. Tive que rir - e acho que isso é um belo exemplo de transferência - quando alguns estudantes mais moços sugeriram que gostariam de escrever a história da Escola Lacaniana e perguntaram se poderiam ver os arquivos da nossa sociedade. Deus do céu! Não havia nada, não havia arquivos, nada, ela não existia. Era uma escola inexistente. (Žižek, 2006, p. 49).

Essa escola anticonvencional e um tanto abstrata tem como foco de interesse estudos sobre "ideologia" e "poder", a qual examina de acordo com a óptica lacaniana e também faz releituras de clássicos da Filosofia moderna, particularmente o idealismo alemão, a Teoria Crítica e outros trabalhos vinculados à arte e à cultura, notoriamente o cinema. No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, esses jovens intelectuais apoiaram o Partido Liberal Democrático na Eslovênia, que se desenvolveu na esteira dos movimentos pela democracia e direitos civis na Iugoslávia. Igualmente, vão se interessar por temas como feminismo e meio ambiente (Taylor & Winquist, 2001).

No ambiente político da época, pós-queda da URSS, existia da parte de seus integrantes um objetivo tático de impedir a conquista do poder por nacionalistas de direita, no período de redemocratização da Iugoslávia. Foi durante esse período que Slavoj Žižek, que era o colunista do popular jornal Mladina, concorreu à presidência do país nas primeiras eleições democráticas da nova Eslovênia, ex-Iugoslávia, em 1990. Ficou em quinto lugar, com 36,3% dos votos válidos.

Um dos objetivos principais da Escola de Ljubljana era reinterpretar o marxismo, enfatizando a radicalidade do pensamento de Karl Marx na tradição do idealismo alemão. Eles privilegiaram uma interpretação anti-historicista da Filosofia de Hegel, com ênfase em sua epistemologia e Filosofia dialética. A maioria dos membros da escola de Ljubljana foi influenciada pelo marxista esloveno Božidar Debenjak, professor de Filosofia da Universidade de Ljubljana que foi o primeiro a introduzir o pensamento da Escola de Frankfurt na Eslovênia, influenciando Žižek, Dollar e Zupancic, consoante Taylor & Winquist (2001) e Žižek (2006). No entanto, foi a conexão das tradições marxistas e hegelianas com a Psicanálise lacaniana, a Teoria Crítica e o estruturalismo que começam a estabelecer certo diferencial da Escola Eslovena, distinguindo-a no cenário acadêmico internacional.

Roudinesco & Badiou (2012) - em suas discussões no livro Jacques Lacan, passado presente - apontam caminhos rumo a uma necessária laicização da Psicanálise; em relação a isso, parece que Žižek toma a dianteira no sentido dessa abertura e desse diálogo da Psicanálise para além dos mosteiros. Christian Dunker (2013, p. 41) vai nos apresentar Žižek como

um autor que parecia colocar finalmente o pensamento lacaniano para fora de sua clausura institucional, pondo-o em contato com as grandes questões do pós-estruturalismo francês, com a filosofia da linguagem anglo-saxônica e com a tradição dialético-fenomenológica germânica. Um autor que trazia, a partir de sua forma original de tratar a cultura, uma franca interlocução com o universo popular do cinema, com a teoria feminista e com o ativismo multiculturalista, sem contar a vasta presença de seus textos na internet.

Slavoj Žižek se constitui no pensador mais produtivo da Escola Eslovena de Psicanálise, produzindo com os seus pares uma releitura marxista/lacaniana misturada com Hegel e cultura pop, que se posiciona criticamente em relação a certo Zeitgeist consensual da pós-modernidade. A Escola Eslovena trabalha com a teoria lacaniana como uma versão radical do Iluminismo, o que significa que, ao contrário dos pós-estruturalistas, seguindo a tradição da Escola de Frankfurt, pensa que o projeto da Modernidade não está ainda esgotado. Os eslovenos trabalham com conceitos lacanianos que se vinculam à produção de gozo, fantasia e, mais notadamente, aquilo que Lacan designa como o Real (Taylor & Winquist, 2001).

Em relação ao "gozo", por exemplo, no Brasil essa é a tradução mais aceita do termo lacaniano jouissance e, em sua produção teórica, Žižek revela o papel vital que isso irá desempenhar na vida cotidiana. Porém, para entender a concepção de gozo que Žižek extrai do pensamento de Lacan, é necessário ter em mente que ele não é propriamente um prazer, mas sim um tipo de excedente que se manifesta como um estranho fascínio e que pode vir acompanhado de um grande desconforto. O enjoyment é uma espécie de excesso de estimulação, uma euforia insustentável assemelhada à dor, o "algo mais" que pode induzir os seres humanos a agir contra seu próprio interesse. Žižek mostra que, embora os sujeitos não sejam propriamente conscientes do que lhes faz gozar, toda política se baseia e manipula uma economy of enjoyment (Wood, 2012).

Essa economia do gozo nos interessa muito neste trabalho, pois se tornará núcleo central de nossa análise do "discurso do capitalista", introduzido por Lacan como um quinto discurso, que irá se valer da categoria do "mais de gozar" em sua construção teorética. Nesse sentido, nos é de grande valia o artigo de Alenka Zupančič intitulado Quando a mais-valia encontra o mais-gozar, ainda sem tradução em português, no qual a autora reflete que a jouissance é aquilo que não serve para nada, e isso será precisamente o que vai distinguir o desperdício da falta, ou seja, algo está lá, porém não serve a propósito algum. Porém, prossegue Zupančič (2006), o que ele faz, por outro lado, é exigir repetição, a repetição do próprio significante ao qual esse desperdício está ligado na forma de um subproduto essencial. Portanto, a jouissance é o que exige "repetição" e é precisamente em função disso que se contrapõe à vida, além do princípio do prazer, e toma a forma do que Freud chamou de "pulsão de morte".

Os interesses da Escola Eslovena de Psicanalise em campos ideológicos e políticos incluem teorizações sobre o mecanismo fundamental da ideologia, as dinâmicas do totalitarismo e suas diferentes formas, bem com lutas democráticas radicais em sociedades do Leste Europeu (Taylor & Winquist, 2001). Nesse sentido, existe um conjunto expressivo de estudos que irão trabalhar com a noção do real lacaniano. Em Violence: Six Sideways Reflections, Žižek (2009) irá descrever, baseado em Marx, o que chamará de uma enlouquecida circulação de capitais como uma abstração ideológica que distorce a realidade social por parte dos agentes especuladores que esquecem que, por trás da volatilidade desse capital, existe uma realidade composta de seres humanos que sofrem devido à precariedade de sua situação. É justamente nesse ponto que Žižek (2009) irá distinguir o "real" da "realidade", ou seja, a "realidade", que seria a realidade social dos indivíduos efetivos implicados em interações e nos processos produtivos, não tem nada a ver como Real como lógica abstrata e espectral capitalista que determina o que se passa na realidade social.

Podemos experimentar tangivelmente o fosso entre uma e outro quando visitamos um país visivelmente caótico. Vemos uma enorme degradação ecológica e muita miséria humana. Entretanto, o relatório econômico que iremos ler vai nos informar que a situação econômica do país é "financeiramente sólida" (Žižek, 2009, p. 25). Isso quer dizer que a realidade de fato não conta, mas sim a situação do capital, e esse é o Real autônomo e invisível de uma infraestrutura quase religiosa. Esta, por acaso, não foi a triste realidade dos países latino-americanos na década de 1990 e que vemos mais uma vez nos últimos anos?

Esse é apenas um dos inúmeros exemplos lançados por Žižek em sua estrutura de pensamento e que serão aprofundados pelos eslovenos em sua produção teórica. É importante recordar que a Escola Eslovena de Psicanálise efetua uma renovada leitura de Hegel por meio da Psicanalise lacaniana. A dialética hegeliana é entendida por eles como uma das mais poderosas afirmações sobre diferença e contingência e, nessa linha, apresenta uma nova forma de abordar a "ideologia" sem cair em uma ilusão pós-moderna de que vivemos em uma realidade que a tenha ultrapassado, uma sociedade "pós-ideológica", por exemplo. Essas intervenções são apoiadas e frequentemente ilustradas pelos eslovenos com exemplos extraídos da cultura de massas.

Em The Capitalist Unconscious: Marx and Lacan, SamoTomšič (2015) vai retomar a tese de que o inconsciente é estruturado e condicionado pela política do capitalismo dentro de nós, algo que responde aos discursos sociais e políticos enquanto, ao mesmo tempo, resiste a eles. Dessa forma, a Psicanálise nos fornece ferramentas privilegiadas no sentido de reconhecer e até mesmo construir essa relação entre o inconsciente e o capitalismo, e que acreditamos ser um tema pertinente às intersecções entre Psicanálise, cultura e política de acordo com o espírito de nossos tempos. Tomšič (2015) sustenta uma homologia entre economia política e libidinal, significando que iremos ter estruturas discursivas semelhantes operando em realidades subjetivas e sociais. O que isso nos mostra é o fato de que a estrutura de nossos desejos reflete aquilo que se apresenta na estrutura de nossa sociedade, tal qual a relação estrutural marxista que tentamos demonstrar nos capítulos anteriores, vinculada ao conceito de causalidade estrutural do primeiro Lacan,

um aspecto crucial dessa causalidade estrutural já foi tematizada no primeiro retorno a Freud, que definiu o sujeito do inconsciente como um inevitável efeito do significante. Mas apenas o desenvolvimento da teoria dos discursos, no final dos anos 1960, forneceu a estrutura para um nexo mais amplo de problemas que havia ocupado a psicanálise desde seus primórdios, as questões da autonomia do significante, sujeito do inconsciente e do gozo. (Tomšič, 2015, p. 19).

Em geral, a Escola Eslovena faz uma crítica ao pós-modernismo, discutindo com frequência que a oposição tradicional com o modernismo é, na verdade, fruto de uma tensão imanente que definiu o próprio modernismo desde o seu começo. Isso os aproxima de forma definitiva dos frankfurtianos, da mesma forma que os afasta dos pós-estruturalistas (Taylor & Winquist, 2001). Óbvio que entendemos tal afastamento mais como uma crítica do que propriamente uma refutação. O fato é que o pós-modernismo será entendido, entre tantas outras concepções, como uma mudança radical do sujeito com a ordem simbólica, e isso é tipicamente representado no apelo generalizado e em massa de seu objeto. Em outras palavras, o pós-modernismo imagina a política sem fantasias, e essa ilusão não apenas liquida a possibilidade de políticas democráticas baseadas em noções de liberdade e solidariedade, mas também nivela o antagonismo fundamental que caracteriza a condição positiva da realidade nela mesma.

 

4 Considerações finais

Para concluir, não poderíamos deixar de citar o que Žižek (2017) nos mostra em Jacques Lacan's Four Discourses, sintetizando de forma bastante satisfatória o que buscamos apresentar neste artigo. Ao analisar os estudos psicanalíticos em relação à produção intelectual e cultural da década de 1960, Žižek retoma uma crítica aos estudos culturais canônicos, associados à Psicanálise, pelo fato de que estes não teriam a experiência clínica a seu lado. Entretanto, prossegue ele, também se pode criticar a clínica psicanalítica pela falta de uma perspectiva crítico-histórica mais ampla em seu escopo. A isso, Žižek irá oferecer uma solução definitivamente paralática ao afirmar que cada uma dessas abordagens aparentemente contraditórias deve trabalhar em suas próprias limitações, dentro do seu horizonte, e que não dependeriam uma da outra para preencher sua falta. No entanto, é na lacuna entre ambas que podemos esboçar um entendimento que vá além desses binarismos clássicos, configurando a possibilidade de uma nova dialética dos estudos e pesquisa em Psicanálise, que irão acompanhar o espírito de nossos tempos.

Acreditamos que nos dias de hoje a Escola Eslovena de Psicanálise assume posições de destaque nesse campo, atualizando e avançando no pensamento crítico da Escola de Frankfurt e tomando a dianteira dos estudos entre Psicanálise e política, bem como na intersecção entre Marx e Lacan. Uma nova Psicanálise crítica surge em meio a um horizonte cada vez menos tolerante com essa forma de pensar. O resultado disso pode ser um ganho para a Psicanálise tanto em termos clínicos, ao considerar suas análises culturais de forma mais arrojada do que tradicionalmente fazia, bem como pensar a cultura se valendo de suas ferramentas clínicas, não esquecendo que a política e suas mutações contemporâneas se constituem em jogadores privilegiados nesse tabuleiro tão complexo quanto fascinante de nossa modernidade tardia.

 

 

Referências

Adorno, T., & Horkheimer, M. (1985). Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro. Ed. Zahar.         [ Links ]

Agamben, G. (2012). Deus não morreu: Ele tornou-se dinheiro. Instituto Humanitas da Unisinos. Recuperado em 16 agosto, 2018, de <http://www.ihu.unisinos.br/172-noticias/noticias-2012/512966-giorgio-agamben>         [ Links ].

Agamben, G. (2004). Estado de Exceção (2a ed.). São Paulo: Editora Boitempo.         [ Links ]

Badiou, A., & Roudinesco, E. (2012). Jacques Lacan: passado presente. São Paulo: Ed. Difel.         [ Links ]

Benjamin, W. (2013). Diálogo sobre a religiosidade de nosso tempo. In M. Lowy (Org.). O capitalismo como religião. São Paulo: Ed. Boitempo.         [ Links ]

Benjamin, W. (2013). Romantismo. In M. Lowy (Org.). O capitalismo como religião. São Paulo: Ed. Boitempo.         [ Links ]

Brunkhorst, H. (2004). A Teoria Crítica e a análise da sociedade contemporânea de massa. In F. Rush (Org.). Teoria Crítica. São Paulo: Ed. Ideias e Letras.         [ Links ]

Dunker, C. (2013). Žižek: um pensador e suas sombras. In Marx: a criação destruidora. São Paulo: Ed Boitempo.         [ Links ]

Greenfield, J. (1974). Wilhelm Reich Vs. the U.S.A. New York: Ed. W. W. Norton & Company.         [ Links ]

Horkheimer, M. (1937). Teoria Tradicional e Teoria Crítica (1973). Coleção os Pensadores V XLVIII. São Paulo. Ed. Abril.         [ Links ]

Lacan, J. (1988). O Seminário, Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Ed. Zahar.         [ Links ]

Marcuse, H. (2015). O homem unidimensional. Estudos da Ideologia na Sociedade Industrial. São Paulo: Ed Edipro.         [ Links ]

Marcuse, H. (1975). Eros e civilização: uma interpretação filosófica do pensamento de Freud. Rio de Janeiro: Ed. Zahar.         [ Links ]

Nietzsche, F. (2012). A Gaia Ciência. São Paulo: Ed. Companhia das Letras.         [ Links ]

Nietzsche, F. (2011). Assim falava Zaratrusta. São Paulo: Ed. Companhia das Letras.         [ Links ]

Nobre, M. (2008). Modelos de Teoria Crítica. In M. Nobre (Org.). Curso livre de Teoria Crítica. Campinas: Ed Papiros.         [ Links ]

Nobre, M. (2004). A Teoria Crítica. Rio de Janeiro: Zahar.         [ Links ]

Quinn, S. (1987). A Mind of Her Own: The Life of Karen Horney. New York: Summit Books.         [ Links ]

Reich, W. (2012). Sex-Pol Essays 1929-1934. New York: Ed. Verso.         [ Links ]

Reich, W. (1988). Psicologia de massas do fascismo. São Paulo: Ed Martins Fontes.         [ Links ]

Rush, F. (2008). As bases conceituais da primeira Teoria Crítica. In F. Rush (Org.). Teoria Crítica. São Paulo: Ed Ideias e Letras.         [ Links ]

Sousa, E. (2000). O obstáculo da teoria. Jornal Folha de S.Paulo. Recuperado em 12 março, 2018, de <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/resenha/rs1208200009.htm>         [ Links ].

Taylor, V., & Winquist, C. (Eds.). (2001). Encyclopedia of Postmodernism UK: Ed. Routledge.         [ Links ]

Terra, R. (2008). Herbert Marcuse - Os limites da revolução: ciência, técnica e movimentos sociais. In M. Nobre (Org.). Curso livre de Teoria Crítica. Campinas: Ed Papiros.         [ Links ]

Terra, R. (2008). Herbert Marcuse - Os limites da revolução: ciência, técnica e movimentos sociais. In M. Nobre (Org.). Curso livre de Teoria Crítica. Campinas: Ed Papiros.         [ Links ]

Tomšič, S. (2015). The Capitalist Unconscious: Marx and Lacan. New York: Ed. Verso.         [ Links ]

Whitebook, J. (2008). A União de Freud e Marx: a Teoria Crítica e a Psicanálise. In F. Rush (Org.). Teoria Crítica. São Paulo: Ed Ideias e Letras.         [ Links ]

Žižek, S. (2004). Arriscar o impossível: conversas com Žižek. Rio de Janeiro: Ed Zahar.         [ Links ]

Žižek, S. (2003). Bem-vindos ao deserto do real. São Paulo: Ed. Boitempo.         [ Links ]

Žižek, S. (2011). Primeiro como tragédia, depois como farsa. São Paulo: Ed. Boitempo.         [ Links ]

Žižek, S. (2009). Violence: Six Sideways Reflections. London: Ed Profile Books LTD.         [ Links ]

Žižek, S. (2014). Jacques Lacan's Four Discourses. Retrieved July 19, 2018, from http://www.lacan.com/zizfour.htm.         [ Links ]

Žižek, S. (1991). O mais sublime dos histéricos: Hegel com Lacan. Rio de Janeiro: Ed. Zahar.         [ Links ]

Žižek, S. (1992). Eles não sabem o que fazem: o sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro: Ed Zahar.         [ Links ]

Zupančič, A. (2006). When Surplus Enjoyment Meets Surplus Value. In J. Clemens & R. Grigg (Eds.). Jacques Lacan and the other Side of Psychoanalysis: Reflections on Seminar XVII. London Duke University Press.         [ Links ]

 

Endereço para correspondência
Cláudio Cesar Dutra de Souza
E-mail: souzaclaudio420@gmail.com

 

 

*Psicólogo e psicanalista. Maîtrisse en Sociologie - Mutations des Societés Contemporaines (Paris X). Mestre em Psicanálise: Clínica e Cultura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Transtornos do Desenvolvimento (UFRGS).
1Zeitgeist é uma palavra alemã que significa "o espírito de uma época", ou mesmo "sinal dos tempos". Entende-se como o conjunto do clima intelectual e cultural do mundo, em certa época, ou de um determinado período de tempo.
2Na verdade, essa frase condensa uma longa reflexão do personagem Ivan Karamázov sobre Deus e a ética.
3Grande parte da islamofobia contemporânea se baseia na luta contra certo "fundamentalismo" dos muçulmanos, que, supostamente, rejeitariam as luzes da Modernidade, a democracia liberal e o culto ao mercado, em uma resistência que envolve hábitos, vestimentas e comportamentos, todos inadequados à ideologia ocidental.
4Wilhelm Reich, ao contrário de Herbert Marcuse, não era diretamente vinculado à escola de Frankfurt. Entretanto, suas ideias e trabalhos o posicionam no âmbito da Teoria Crítica e da discussão entre a Psicanálise e a política.

Creative Commons License