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Analytica: Revista de Psicanálise

versión On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.10 no.19 São João del Rei jul./dic. 2021

 

Arrebatamento e êxtase em Clarice Lispector

 

Rapture and ecstasy in Clarice Lispector

 

Ravissement et extase en Clarice Lispector

 

Arrebatamiento y éxtasis en Clarice Lispector

 

 

Waléria Nunes

Graduanda em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em formação no Curso de Psicanálise de Orientação Lacaniana pelo Instituto Clínico de Psicanálise de Orientação Lacaniana de Santa Catarina (CPOL-SC). E-mail: nuneswaleria@gmail.com

 

 


RESUMO

O artigo tem como objetivo apresentar o conceito de devastação em Psicanálise e como este se liga à experiência de êxtase e de arrebatamento. Para tal, seguimos o percurso de Freud a Lacan até teóricos contemporâneos da Psicanálise. A devastação compreende uma face fálica ligada à reivindicação do desejo materno e uma outra face não-toda fálica em relação à falta de significante para designar a mulher no inconsciente. A devastação no campo do gozo feminino pode se apresentar ao sujeito como um arrebatamento ou um êxtase do corpo não simbolizável. Na Literatura de Clarice Lispector, recortamos essa experiência escrita e uma possível saída da vivência arrebatadora por meio do conceito de letra de Jacques Lacan.

Palavras-chave: Devastação. Gozo feminino. Literatura. Clarice Lispector.


ABSTRACT

The article aims to present the concept of devastation in psychoanalysis and how it is linked to the experience of ecstasy and rapture. To this end, we followed the path from Freud to Lacan to contemporary theorists of psychoanalysis. Devastation involves a phallic face linked to the claim of maternal desire. And another not-all phallic face in relation to the lack of significant to designate the woman in the unconscious. The devastation in the field of female jouissance may present itself to the subject as a rapture or an ecstasy of the body that cannot be symbolized. In the literature of Clarice Lispector we cut out this written experience and a possible solution from the experience of rapture through the concept of letter of Jacques Lacan.

Keywords: Devastation. Feminine enjoyment. Literature. Clarice Lispector.


RÉSUMÉ

L'article vise à présenter le concept de dévastation en psychanalyse et comment il est lié à l'expérience de l'extase et de le ravissement. Pour cela, nous avons suivi le chemin de Freud à Lacan jusqu'aux théoriciens contemporains de la psychanalyse. La dévastation comporte un visage phallique lié à la revendication du désir maternel. Et une autre face non-phallique se rapport au manque de signifiant pour désigner la femme dans l'inconscient. La dévastation dans le domaine de la jouissance féminine peut se présenter au sujet comme un ravissement ou une extase du corps qui ne peut être symbolisée. Dans la littérature de Clarice Lispector nous découpons cette expérience écrite et une sortie possible de l'expérience ravissante à travers le concept de lettre de Jacques Lacan.

Mots-clés: Dévastation. Jouissance féminine. Littérature. Clarice Lispector.


RESUMEN

El artículo tiene como objetivo presentar el concepto de devastación en psicoanálisis y cómo éste se une a la experiencia de éxtasis y de arrebatamiento. Para ello seguimos el recorrido de Freud a Lacan hasta teóricos contemporáneos del psicoanálisis. La devastación comprende una cara fálica ligada a la reivindicación del deseo materno. Y otra cara fálica no-toda en relación con la falta de significante para designar a la mujer en el inconsciente. La devastación en el campo del goce femenino puede presentarse al sujeto como un rapto o un éxtasis del cuerpo no simbolizable. En la Literatura de Clarice Lispector recortamos esa experiencia escrita y una posible salida de la vivencia arrebatadora a través del concepto de letra de Jacques Lacan.

Palabras clave: Devastación. Gozo femenino. Literatura. Clarice Lispector.


 

 

Introdução

Desde Freud, a relação ambivalente e hostil da menina com a mãe é central para pensarmos a sexualidade feminina em Psicanálise. Freud (1933/2020a, p. 322), no texto A Feminilidade, afirma que "ganhamos a impressão de que não podemos entender a mulher, se não considerarmos essa fase da ligação pré-edípica com a mãe". E em Sobre a sexualidade feminina, apesar de nunca ter utilizado o termo devastação em toda sua produção intelectual, refere-se a essa relação como uma possível "catástrofe" (Freud, 1931/1976, p. 147).

Lacan, entretanto, utiliza o termo devastação em dois momentos de seu ensino. Em O Aturdito, quando afirma que "a realidade de devastação que constitui, na mulher, em sua maioria, a relação com a mãe, de quem, como mulher, ela realmente parece esperar mais substância que do pai" (Lacan, 1972/2003, p. 465); e em O Seminário. Livro 23: O sinthoma, em que diz que uma mulher é um sinthoma para todo homem, ao passo que "pode-se dizer que o homem é para uma mulher tudo o que quiserem, a saber, uma aflição pior que um sinthoma [...] trata-se mesmo de uma devastação" (Lacan, 1975-1976/2007, p. 98). Tal posição mostra estar, portanto, em consonância com Freud (1931/2020d), tendo em vista a passagem em que este opina que "há muito tempo percebemos que muitas mulheres que escolheram seu marido segundo o modelo do pai, ou que o colocaram no lugar do pai, repetem, no casamento com ele, sua má relação com a mãe" (Freud, 1931/2020d, p. 292). Assim, com base em Freud e Lacan, partimos do sabido que a raiz da devastação está na relação pré-edípica entre mãe e filha e se reatualiza nas futuras relações amorosas da mulher.

A hostilidade da menina com a mãe se mantém referida ao penisneid por um longo período. Freud (1933/2020a, p. 328) afirma que "a menina responsabiliza a mãe por sua falta de pênis e não lhe perdoa por essa desvantagem". Lacan (1957-1958/1999), em O Seminário, livro 5: as formações do inconsciente, elabora os diferentes destinos do falo na menina. A sexualidade feminina se mantém referida ao falo até a virada do ensino de Lacan na década de 1970. Posteriormente, em O Seminário, livro 20: Mais, ainda, Lacan (1972-1973/1985) elabora as tábuas da sexuação e o conceito do gozo não-todo fálico. A partir desse ponto, a sexualidade feminina passa a ser compreendida não mais, somente, referida ao falo, mas para além dele. Dessa forma, abrem-se outras formas para pensar a devastação.

A mulher que não existe, ou o sujeito que está no lado feminino das tábuas da sexuação, ao demandar signos de amor, demanda potencialmente infinita, ao parceiro-parceira ou à mãe, recebe o retorno dessa demanda sob a forma de devastação (Miller, 1998, p. 114). Os significantes de amor podem dizer quem ela é, ao menos provisoriamente e em nível dos semblantes. Assim, esse sujeito, ao deparar-se com a falta de significantes de amor, se devasta e o que então desvela é "o real dessa praia [construída pelo Nome-do-pai]" (Lacan, 1972/2003, p. 459). Essa segunda face da devastação, na sua vertente não-toda, relaciona-se ao que Lacan (1965/2003) nomeia de arrebatamento em Homenagem à Marguerite Duras pelo Arrebatamento de Lol V. Stein. A mulher arrebatada por um amante, homem ou mulher, pode acessar um êxtase de prazer extremo, não localizado, que se espalha por todo o corpo, ou também um sofrimento igualmente arrebatador, em que a mulher vive experiências disruptivas com o próprio corpo e a linguagem.

É no arrebatamento de corpo e de linguagem que procuramos apreender alguma coisa disso que não cessa de não se inscrever nas personagens Aurélia Nascimento, Ângela Pralini e Lorelay, as quais se encontram, respectivamente, no conto Ele me bebeu, e nos romances Um sopro de vida (pulsações) e Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector (2016; 1999; 2020).

Propomos então discutir, neste artigo, o conceito psicanalítico da devastação e os efeitos de êxtase e arrebatamento que essa experiência pode causar, tendo como ilustração figuras devastadas em Clarice Lispector. Para isso, seguiremos o percurso dos textos de Freud e Lacan, passando pela devastação entendida como reivindicação fálica à mãe, chegando até o aforismo da mulher que não existe e ao gozo não-todo localizado no lado esquerdo das tábuas da sexuação. Também recorreremos a autores contemporâneos, como Jacques-Alain Miller (1998), Marie-Hélène Brousse (2004; 2019) e Marcus André Vieira (2015), a fim de compreender como esse tema clinicamente tão desafiador, e pouco abordado diretamente nos ensinamentos de Freud e Lacan, vem sendo pensado à luz das teorizações psicanalíticas no contexto hodierno. Por fim, tomaremos a Literatura como um dos lugares privilegiados nos quais aquilo que não se escreve surge por vezes escrito, caso daquelas personagens claricianas que vivenciam a experiência devastadora da queda dos semblantes e o encontro com o real dessa praia que se desvela.

 

Devastação como reivindicação fálica

Freud (1924/2020c, p. 297) nos diz que as recriminações que a filha endereça à mãe são inúmeras, "que ela falhou em dotar a menina com o genital correto, que não a alimentou suficientemente, que a obrigou a dividir o amor materno com outros, que nunca preencheu todas as expectativas amorosas e, finalmente, que ela primeiro estimulou a própria atividade sexual e depois a proibiu". Dentre os diversos motivos elencados pela filha à hostilidade dirigida à mãe, o principal, e que permitiu a filha entrar no complexo de Édipo, é a descoberta de sua falta de pênis. Com a visão do pênis do irmão ou de algum coleguinha, a menina "identifica-o imediatamente como o correspondente superior de seu próprio órgão pequeno e escondido e, a partir daí, cai vítima da inveja do pênis (penisneid)"1 (Freud, 1925/2020b, p. 264).

Freud (1925/2020b, p. 265) faz a sexualidade feminina derivar do penisneid e indica que "as consequências psíquicas da inveja do pênis [...] são múltiplas e de grande alcance". Assim, no texto Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos, ele aponta quatro consequências do penisneid: a primeira é a ferida narcísica feminina, cicatriz que marca a relação do sujeito feminino com o seu corpo; a segunda é o ciúme, resto do período fálico e promotor da fantasia, como em "Bate-se em uma criança"; a terceira é a responsabilização da mãe pela falta da filha, a qual seria capaz de gozá-la: aqui está a devastação; e a quarta, a revolta da menina contra o onanismo fálico clitoriano, o qual se desdobra nos deslocamentos da feminilidade.

A mulher entra no Édipo por meio do penisneid no momento em que percebe que não encontrará o pênis na sua mãe e que reivindicar a ela um pênis para si não funcionará. Contudo,

A renúncia ao pênis não será tolerada sem uma tentativa de compensação. Ela desliza - poderíamos dizer: ao longo de uma equação simbólica - do pênis para o bebê; seu complexo de Édipo culmina no desejo, mantido por muito tempo, de receber um filho do pai como presente, de lhe dar um filho. Temos a impressão de que o complexo de Édipo é então lentamente abandonado, porque esse desejo nunca se realiza. (Freud, 1924/2020c, p. 253).

Lacan (1957-1958/1999) retoma as derivações que o penisneid tem na menina, desde a entrada no complexo de Édipo até a saída dele, sob três modalidades distintas: 1. A castração simbólica de um objeto imaginário. Por meio de transmissão simbólica dos pais ou da sociedade de que a menina "não tem nada aí", tanto na repressão da masturbação ou na não atribuição fálica à menina, uma vez que o falo, afinal, é sempre imaginário. 2. A frustração imaginária de um objeto real, "é nisso que o fato de a menina não receber o pênis do pai constitui uma frustração" (Lacan, 1957-1958/1999, p. 288). 3. E por último, a privação real de um objeto simbólico. Privação de um filho do pai, este que é um símbolo do falo paterno.

O falo, nesses três momentos do Édipo, ganha conotações distintas, transitando entre falo imaginário, falo simbólico e falo real. Contudo, nesse mesmo texto, Lacan (1957-1958/1999) afirma que o falo é, em última instância, um significante privilegiado pelo qual o desejo do sujeito tem de se fazer reconhecer, tanto no homem como na mulher. O falo não mais como pênis, nem como signo de poder. Lacan (1957-1958/1999, p. 285) argumenta que "o fato é que o desejo, seja ele qual for, tem no sujeito essa referência fálica". Isso nos leva a concluir que se há reivindicação fálica há desejo, e a dimensão do desejo, em parte alienada ao Outro primordial que é a mãe ou quem ocupa essa função, comporta um terceiro termo, essencial nessa relação. A lei do desejo do Outro, nomeada a partir do termo terceiro, é o que permite que a criança possa ser significada para além da captura imaginária mãe-criança, permitindo que diferenciemos a devastação da psicose.

Isso posto, a dedução de Lacan (1957-1958/1999) é a de que a criança entra na estrutura do significante pelo avesso da passagem da mulher na dialética social como objeto. Ou seja, a mulher para entrar na dialética social, considerando a dependência fundamental dessa dialética com relação à estrutura significante e à combinatória, necessita ser feita objeto significante de troca a fim de ser simbolizada. A criança, contudo, precisa sair da posição de objeto de gozo exclusivo da mãe. É esse deslocamento que é barrado pelo falo - nomeação de desejo - a partir da entrada do terceiro. Dessa forma, há duas possibilidades para a criança: ou ela abandona esses objetos primitivos de seu desejo - pai e mãe -, fazendo-se ela própria objeto de troca, ou guarda esses objetos, para além de seu valor de troca.

Aqui, acontece uma torção imprescindível para compreender a devastação referida ao falo. No sujeito que vive a relação com o Outro como uma devastação, há uma diferença. Algo na mãe escapa à lei simbólica que deveria tê-la feito objeto na estrutura de troca (Brousse, 2004). Nesse raciocínio, algo do ilimitado do desejo da mãe se apresenta e, então, parte da mãe se mantém como Outro incólume, objeto exclusivo da filha única. Parte da mãe, pois é necessário que a menina oriente sua reinvindicação fálica a quem exerce a função paterna para sair da captura imaginária do desejo materno. Por isso a importância da elaboração de Lacan do penisneid na menina a partir dos três tempos do Édipo. Assim, podemos compreender o porquê da relação mãe e filha ser frequentemente situada como primitiva ao momento do Édipo, uma vez que, como ela não é recoberta pelo Nome-do-Pai, apresenta-se como se fosse primitiva, mas é contemporânea ao período edípico vivido pela criança (Vieira, 2015). Há, portanto, uma parte da reinvindicação fálica da filha direcionada ao pai que permanece referida ao penisneid, como foi elaborada por Lacan. Contudo, parte da mãe não entra na estrutura de troca, logo, não é significada. E é em relação a essa parte da mãe que a filha pode mantê-la enquanto mãe completa. Nesse sentido, Brousse (2004) afirma que não há limites para o fetichismo materno.

Nesse enquadre, uma resposta é ser o falo da mãe, completar a mãe naquilo em que ela falta. Contudo, como o Outro incólume é completo, a característica dessa posição subjetiva é o sentimento de ser "supérfluo" (Brousse, 2004). A outra resposta seria arrancar da mãe aquilo que nela não foi feito objeto de troca. O que não foi antes arrancado converte-se em dejeto. Nas duas possibilidades, como falo-extra supérfluo ou como objeto a2 dejeto daquele que encarna a posição do Outro primordial, o que se desenha é uma situação em que a mãe supostamente seria capaz de gozar a filha.

 

A devastação para além do falo

Desde Freud, podemos perceber uma tensão entre o que é fálico e o que está para além do falo. Todavia, essa questão só ganhará formalização teórica com Lacan a partir de O aturdido e de O Seminário, livro 20: Mais, ainda, ambos escritos na década de 1970, momento no qual Lacan formaliza a noção de gozo feminino, não-todo referido ao falo, refratário ao significante. A partir dessa noção, podemos desdobrar a devastação em dois filões: um concernido à diferença entre a mulher e a mãe, de quem a menina espera mais substância do que do pai; o outro ao destino que a menina dá ao gozo-extra da mãe, não condensado em falo nem em objeto a.

Nesse campo do não-todo, a devastação concerne a uma zona materna que escapa ao simbólico. Gozo enigmático da mãe percebido pela filha. Excesso de gozo que não foi feito objeto na troca fálica impossível. Ou seja, um x de desejo da mãe não referido à exceção paterna. É consenso que a operação edípica não satura todo o gozo da mãe em todos os sujeitos. A diferença é que na devastação, segundo Brousse (2004), o pai está presente não como apaziguador desse excesso, mas como alguém submetido a realizar os caprichos maternos. Além disso, Vieira (2015) aponta que esse gozo da mãe não é recuperado pela filha nem como falo-extra [do Outro incólume], nem como objeto a, ambas soluções fálicas ou simbólicas ao problema. Aqui, no nosso tema, é um gozo que se impõe ao sujeito como se todo gozo perdido fosse recuperado no arrebatamento ou no êxtase amoroso.

Esse excesso da mãe, a que nos referimos acima, relaciona-se à mãe como mulher. Lacan (1972-1973/1985, p. 98) diferencia mulher e mãe. Ele afirma que "A mulher, isto só se pode escrever barrando-se o A. Não há A mulher, artigo definido para designar o universal. Não há A mulher pois [...] por sua essência ela não é toda". Isso porque só há um significante da sexuação, o fálico, o que nos leva a concluir que o Outro sexo, complementar ao masculino, no nível inconsciente, não exista. Assim, ser mulher constitui uma invenção. Este é o motivo pelo qual uma mulher só pode ser dita uma a uma. A mãe, entretanto, está contida no universal fálico, a mulher como fêmea suturada pela criança. Tal compreensão leva Lacan a afirmar que "A mulher só entra em função na relação sexual enquanto mãe" (Lacan, 1972-1973/1985, p. 49).

Nesse ponto de distinção entre a mãe e a mulher, podemos localizar toda a confusão da identificação feminina da menina com a mãe. Retomemos a frase de Lacan (1972/2003, p. 465), "a realidade de devastação que constitui, na mulher, em sua maioria, a relação com a mãe, de quem, como mulher, ela realmente parece esperar mais substância que do pai", para indagar: que substância a filha espera mais da mãe do que do pai? Aqui não é mais possível recorrer ao falo. A filha espera que a mãe a diga o que é ser uma mulher. Mas, na medida em que não há significante que determine a mulher, que substância a mãe transmite à filha? A menina se identifica com aquela que não tem o falo e pode apenas sê-lo para alguém. Por isso, a mulher que não existe se faz de falo para um Outro ao qual seu desejo está referido. Levando em conta que o amor falta, o semblante que garante ao sujeito sustentar-se no mundo cai: aqui está o arrebatamento.

 

Arrebatamento e êxtase em Clarice Lispector

O campo da devastação não se refere somente, nem necessariamente, a um falo não estabilizado na relação mãe e filha, que tornaria essa relação hostil. Trata-se de um campo mais violento, e ilimitado, que toca nos confins da marcação simbólica e na constituição do corpo de um sujeito. É o que acontece no arrebatamento, experiência a que a devastação está presa (Brousse, 2004). Aqui se trata de um sujeito pós-édipo com um corpo mais ou menos definido localizado no lado feminino das fórmulas da sexuação, em suas parcerias amorosas. É comum encontrarmos figuras femininas, na obra de Clarice Lispector, que vivem experiências de encontro com o it (a Coisa clariciana) ou com aquilo que é refratário ao simbólico, assim como nos deparamos com a temática da falta de representação imagética e simbólica do instante ou do Nada. Aqui nos deteremos em recortar três personagens que vivenciam o arrebatamento e o êxtase amoroso de forma singular, experiências essas que têm como pano de fundo o recorte teórico anteriormente esboçado. São elas: Ângela Pralini (Lispector, 1999), Lorelay (Lispector, 2020) e Aurélia Nascimento (Lispector, 2016).

Miller (1998) denomina a devastação como a outra face do amor. Nesse campo, o insaciável do amor é mobilizado em lugar do desejo (Brousse, 2004). E como a devastação se localiza, em partes, na estrutura do não-todo, o que acontece é o retorno da demanda de amor em seu caráter infinito. Esse retorno, se localizado, aparece como sintoma, como é o caso de uma mulher para um homem. O homem-devastação para a mulher, entretanto, reaviva o sem-limite do gozo feminino não saturado pela função fálica, como propõe Brousse (2004). O lado prazeroso desse caráter infinito do retorno da demanda de amor é o êxtase amoroso.

Ângela Pralini, a personagem-escritora de Um sopro de vida, circunscreve essa experiência: "Eu vivo em êxtases provisórios. Vivo dos dejetos de naufrágio que o mar rejeita para a praia" (Lispector, 1999, p. 138). Ângela se refere à mesma praia que Lacan (1972/2003), em O aturdido, a praia que faz litoral entre o infinito do mar e a matéria/metáfora, que permite a existência da linguagem, do Nome-do-Pai. Ângela, "a que brame, muge, geme, resfolega, balindo e rosnando e grunhindo" (Lispector, 1999, p. 31), escreve - ou canta - uma espécie de duplo-diário com o narrador-Autor acerca de questões como a aura dos objetos e a representação de seus pré-pensamentos. Ângela é criada pelo Autor no decorrer do livro. Ela é, para ele, "a mulher enigma que me fez sair do nada em direção à palavra" (Lispector, 1999, p. 107). O Autor fala tanto de si como dela e, assim, ambos escrevem e com isso se inscrevem, em diálogo mais ou menos tenso. Ângela fomenta o dizer-escrever do Autor, e o leva ao limite da linguagem. Um desses momentos em que o limite da palavra se evidencia são os momentos transcendentais de Ângela. Para o Autor, "o ponto alto de Ângela, um de seus clímaces, é este instante 'místico'" (Lispector, 1999, p. 138). "Então - ao ter que me entregar ao Nada - aconteceu o milagre: senti como alimento no gosto da boca o sabor do Tudo. Esse sabor espalhou-se como luz e sensação de gosto pelo corpo todo, e eu me entreguei a Deus, com delírio de uma alma que bebesse água." (Lispector, 1999, p. 136).

Ângela se entrega ao Tudo ou ao Nada e sente o gosto por todo o seu corpo. Gozo infinito, não localizado, refratário ao simbólico. "Essa iluminação de Ângela não consegue se evidenciar em palavras. Assim como a palavra 'olfato' tenta exprimir pobremente o que se chama 'olfato'" (Lispector, 1999, p. 139). Ângela evoca uma Santa, assim como Lacan (1972-1973/1985) recorre à Santa Tereza de Bernini em O Seminário, livro 20: Mais, ainda, para se referir à outra face do êxtase amoroso: "Santa Catarina de Gênova dizia que 'quando Deus quer penetrar uma alma, abandona-a antes completamente'" (Lispector, 1999, p. 139). Uma alma completamente abandonada por Deus situa muito bem o arrebatamento na devastação amorosa. Ele se refere ao momento em que se perde um corpo. Ser arrebatado de si mesmo.

O corpo em Psicanálise é compreendido como um conjunto de representações imagéticas e cortes significantes sobre a carne. Isso é o que nos permite ter um corpo para além do corpo biológico. Podemos dizer também que a constituição de um corpo é a costura de semblantes em torno de um furo (Vieira, 2015). Nesse sentido, retoma-se Freud quando fala da cicatriz narcísica feminina como um dos efeitos do penisneid. Contudo, a cicatriz inclui a castração e é um nome fálico para se referir ao irrepresentável do feminino, algo do corpo que se deixa dificilmente reabsorver pelo corpo simbólico (Brousse, 2004). Para Vieira (2015, p. 70),

A identificação masculina é mais rígida. O homem acredita firmemente ter o falo e, portanto, as roupas para ele são só recobrimentos do que "já é". As mulheres, menos presas à crença no falo, são mais atentas ao fato de que, caído todos os envoltórios, pode não restar nenhum ser. Na área nebulosa da devastação, não é brincadeira o fato de que o hábito constitui o monge.

Nesse sentido, o arrebatamento mobiliza a questão da existência do ser feminino e aquilo que veste a mulher, o semblante. Lacan (1972/2003, p. 459) define o semblante em função da inexistência da relação sexual, na qual a função fálica é uma tentativa fracassada à relação que não existe, "função que só se sustenta ali por ser semblante". Assim, o corpo feminino padecendo de falicização, e em relação direta com a falta de significante do feminino, não consegue tapar o buraco por meio da imagem corporal. Então, compreendemos que o semblante tem fundamental importância para o sujeito feminino na devastação e, por isso, pode ganhar a conotação de supérfluo quando não encontra seu lugar no desejo do Outro. O que acontece, nesse sentido, é um sujeito despossuído de seu lugar, como ressalta Brousse (2004, p. 65), "Esse lugar que não existe mais pode ser declinado como fala, o sujeito sendo então reduzido ao 'silêncio'; como corpo, e o sujeito não passa de um 'corpo em excesso', ou carne desfacilizada que é um 'buraco negro'; como errância, fenômeno de despersonalização, de auto-elemininação".

Loreley ou Lóri, do romance Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, reflete, por sua vez, de forma singular sobre a construção dos semblantes e a sua queda. Lóri, uma professora primaria e solitária, busca por meio de sua relação com Ulisses encontrar uma autonomia sobre seus desejos e ultrapassar seu medo de viver. Ulisses, em muitos momentos, encarna, para Lóri, um professor da vida e, em outros, um homem-espelho que lhe permite mergulhar em suas questões existenciais: "[...] Lóri tinha medo de cair no abismo e segurava-se numa das mãos de Ulisses enquanto a outra mão de Ulisses empurrava-a para o abismo [...]" (Lispector, 2020, p. 29). No entanto, o que os conectava era que Lóri "estava presa a ele porque queria ser desejada" (Lispector, 2020, p. 38).

A relação deles é perpassada pela aprendizagem de Lóri, que busca estar pronta para que ambos possam se entregar um ao outro. Em certa passagem da narrativa, na ânsia de receber um telefonema de Ulisses, que nunca acontece, ela, sentindo-se abandonada, decide ir ao coquetel da Diretoria dos Cursos Primários sozinha. Enquanto se arruma para tanto, reflete sobre a máscara que constrói para si: "Toda pronta, com uma máscara de pintura no rosto - ah 'persona', como não te usar e ser" (Lispector, 2020, p. 79). E continua, "Por que então lhe agradava tanto a ideia de atores entrarem no palco sem rosto próprio? Quem sabe, ela achava que a máscara era um dar-se tão importante quanto dar-se pela dor do rosto" (Lispector, 2020, p. 81). É possível perceber a equivalência entre semblante e ser atribuída por Lóri e, além disso, a consistência que o semblante ou a máscara dá a um corpo.

Aquela mesma que nos partos da adolescência se escolhia para não se ficar desnudo para o resto da luta. [...] Escolher a própria máscara era o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivelava a máscara daquilo que se escolhera para representar-se e representar o mundo, o corpo ganhava uma nova firmeza, a cabeça podia às vezes se manter altiva como a de quem superou um obstáculo: a pessoa era. (Lispector, 2020, pp. 81-82).

Enfim, após o coquetel, a Lóri esquecida por Ulisses descobre a futilidade da máscara que construíra para si:

Se bem que podia acontecer uma coisa humilhante. Como agora no táxi acontecia com Lóri. É que, depois de anos de relativo sucesso com a máscara, de repente - ah menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou de uma palavra ouvida do chofer - de repente a máscara de guerra da vida crestava-se toda como uma lama seca, e os pedaços irregulares caíam no chão com um ruído oco. E eis rosto agora nu, maduro, sensível quando já não era mais para ser. E o rosto de máscara crestada chorava em silêncio para não morrer. (Lispector, 2020, p. 82).

Outra personagem clariciana testemunha desse acontecimento de corpo é Aurélia Nascimento. Aurélia, contudo, aponta-nos uma solução nesse deserto da devastação. Aurélia era uma mulher linda que "maquilada ficava deslumbrante" (Lispector, 2016, p. 556). Usava peruca, cílios postiços, lentes de contato e seios artificiais apesar dos seus mesmos serem "lindos e pontudos" (Lispector, 2016, p. 556). A personagem constrói para si uma máscara, um semblante fálico, falos postiços entram aqui como coextensão de seu corpo. No decorrer da narrativa, ela e Serjoca, seu amigo e maquiador, conhecem Affonso Carvalho. Aurélia e Serjoca, desde então, desejam Affonso; Serjoca, contudo, não deixa transparecer. No segundo encontro dos três, Aurélia pede a Serjoca que a maquie e, então, os efeitos do arrebatamento começam a aparecer: "Então, enquanto era maquilada, pensou: Serjoca está me tirando o rosto. A impressão era a de que ele apagava os seus traços: vazia, uma cara só de carne. Carne morena" (Lispector, 2016, p. 558). Aurélia vai ao banheiro se olhar no espelho e entende o porquê disso estar acontecendo a ela: "Era isso mesmo que ela imaginara: Serjoca tinha anulado seu rosto. Mesmo os ossos - e tinha uma ossatura espetacular - mesmo os ossos tinham desaparecido. Ele está me bebendo, pensou, ele vai me destruir. E é por causa do Affonso" (Lispector, 2016, pp. 558-559).

Já no restaurante, Affonso mal olha para Aurélia, "estava interessado no rapaz" (Lispector, 2016, p. 559). Eles marcam um próximo encontro e Aurélia não vai, pois já "não tinha cara para mostrar" (Lispector, 2016, p. 559). Aurélia retorna a sua casa e se depara, mais uma vez, com os efeitos arrebatadores de destituição corporal e subjetiva da posição em que se encontra:

Chegou em casa, tomou um longo banho de imersão com espuma, ficou pensando: daqui a pouco ele me tira o corpo também. O que fazer para recuperar o que fora seu? A sua individualidade?

Daí a pouco ele me tira o peso também.

Foi ao espelho. Olhou-se profundamente. Mas ela não era mais nada.

- Então - então de súbito deu uma bruta bofetada no lado esquerdo do rosto. Para se acordar. Ficou parada olhando-se. E, como se não bastasse, deu mais duas bofetadas na cara. Para encontrar-se.

E realmente aconteceu. (Lispector, 2016, p. 559).

Aurélia encontra uma solução em si para os efeitos devastadores de uma experiência tão efêmera como a triangulação entre seu maquilador e um homem que acabara de conhecer, por quem fora preterida. Brousse (2019) propõe a devastação como uma forma de manter o nó borromeano. Na devastação, o objeto entra como nomeação real, substitui o sinthoma, como nomeação simbólica, dentro do nó. Nesse sentido, quando "o objeto falta nesse lugar, desvelando para o sujeito a futilidade do sentido e do Outro, a resposta é a angústia ou o desaparecimento do próprio sujeito" (Brousse, 2019, p. 17). Aurélia encontra uma saída desse arrebatamento, uma nova amarração, ela própria se nomeia e se sustenta: "No espelho viu enfim um rosto humano, triste, delicado. Ela era Aurélia Nascimento. Acabara de nascer. Nascimento" (Lispector, 2016, p. 559). Desse modo, na construção de uma nomeação própria, Aurélia consegue fazer alguma coisa com esse gozo a mais, alguma coisa que se cristaliza. Podemos compreender aqui uma letra, no sentido que Lacan (1971/2003) dá a letra, diferente do significante, em seu ultimíssimo ensino, um condensamento ou nomeação de gozo, "do que da linguagem chama/convoca o litoral ao literal" (Lacan, 1971/2003, p. 19).

Para Lacan (1971/2003, p. 22), "o que se evoca de gozo ao se romper um semblante, é isso que no real se apresenta como ravinamento das águas". Ou seja, um traço, uma marca, no oceano que é a devastação para além do falo. "Rasura de traço algum que seja anterior, é isso que do litoral faz terra. Litura pura é o literal. Produzi-la é reproduzir essa metade ímpar com que o sujeito subsiste" (Lacan, 1971/2003, p. 21). Assim, levando ao limite a nossa leitura do conto, podemos pensar que Aurélia Nascimento, a partir de um traço anterior de si mesma, seu nome, faz uma letra. O gozo, que no momento do arrebatamento foi imposto a ela como se todo gozo perdido fosse recuperado, faz marca como um ravinamento nas águas e aí ela pode subsistir. Dessa forma, ela constrói uma saída, um outro laço com o Outro, que em última instância é sempre o Outro da linguagem, aqui encarnado no parceiro amoroso, e isso possibilita uma nova conjunção na relação vertiginosa entre semblante e ser.

 

Considerações finais

Concluímos, então, que a devastação comporta uma face fálica articulada à reinvindicação do desejo materno. Essa reinvindicação fálica da filha à mãe desemboca em uma relação ambivalente entre as duas, em que a devastação é situada. A outra face da devastação se relaciona ao campo do não-todo fálico e é causa direta da dificuldade em simbolizar o gozo feminino. Esse gozo enigmático da mãe percebido pela filha pode ser imposto ao sujeito de tal forma que os semblantes que sustentavam esse indivíduo no mundo fracassam, causando o êxtase ou o arrebatamento.

A escritura de Clarice Lispector entra aqui não como exemplificação desse momento. A Literatura, assim como as artes em sua pluralidade, tem papel de relevo para a Psicanálise na compreensão das particularidades da psique humana em toda a sua complexidade. Nesse sentido, entendemos a Literatura como sintoma da busca que cada ser humano empreende na tentativa de compreender a si mesmo. Ou ainda, uma Literatura constituída a partir de restos sintomáticos, como os dejetos de naufrágio que chegam à praia em que se banha Ângela Pralini. Assim, nas personagens de Clarice Lispector, encontramos uma ficção que fixa um gozo difícil de apreender senão na arte.

Desse modo, conseguimos localizar uma possível solução ao mar infinito da devastação em Aurélia Nascimento. O conceito de letra de Lacan nos permite pensar uma fixão de um gozo feminino por meio da palavra em sua materialidade. O que pode ser feito por cada um ou cada uma em sua própria análise, uma vez que, segundo Brousse (2004), em análise o semblante desnudado é o que permite ao sujeito inventar para si um nome que ele não tem para delimitar a zona de real nos confins da fala.

 

Referências

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Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica que possibilitou a realização deste trabalho, e ao Professor Dr. Carlos Eduardo Schmidt Capela, por me abrir caminhos na pesquisa em Literatura, sempre com muito carinho e atenção.
1 É importante ressaltar que Freud faz uma descrição de como a sociedade de sua época funcionava e, atualmente, podemos questionar se essa descrição ainda vigora. Além disso, Freud localiza a questão de ter ou não ter o falo, em termos anatômicos, e isso é reelaborado por Lacan, que entende o falo como um significante privilegiado da sexuação.
2 Miller trabalha, em "Introdução à leitura do Seminário 10, A angústia de J. Lacan", a questão do objeto a ser efeito da castração, sobra do Édipo, algo que não fica tão claro no ensino de Lacan. Portanto, neste artigo, seguimos o raciocínio de Miller e nos referimos ao objeto a pautado ao falo.

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