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Analytica: Revista de Psicanálise

versión On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.11 no.20 São João del Rei ene./jun. 2022

 

ARTIGOS

 

A escrita na psicanálise e sua relação com o inconsciente

 

Writing in Psychoanalysis and its Relationship with the Unconscious

 

L'écriture en psychanalyse et son rapport à l'inconscient

 

Escribir em psicoanálisis y su relación con los inconscientes

 

 

Magda Wacemberg Pereira Lima Carvalho*

 

 


RESUMO

Este trabalho consiste em apresentar reflexões acerca da relação da escrita com a psicanálise, considerando o conceito de inconsciente atrelado à noção de escritura. Para tanto, recuperamos algumas das discussões de Freud acerca de um modelo teórico sobre o funcionamento psíquico como um aparelho de memória, cujo conteúdo só pode ser acessado por meio da linguagem. Além disso, apresentamos a distinção de Lacan entre letra e letra lacaniana. Sendo a letra que se registra sobre o papel o que confere materialidade aos traços de memória, a escrita apresenta-se, para a psicanálise, como instrumento para a inscrição do discurso do inconsciente.

Palavras-chave: Linguagem, Psicanálise, Escrita, Inconsciente.


ABSTRACT

This work consists of presenting reflections about the relationship between writing and psychoanalysis, considering the concept of the unconscious linked to the notion of writing. For that, we retrieve some of Freud's discussions about a theoretical model about psychic functioning as a memory device, whose content can only be accessed through language. In addition, we present Lacan's distinction between Lacanian letter and letter. Being the letter that is registered on the paper what gives materiality to the memory traces, writing presents itself, for psychoanalysis, as an instrument for the inscription of the unconscious speech.

Keywords: Language, Psychoanalysis, Writing, Unconscious.


RÉSUMÉ

Ce travail consiste à présenter des réflexions sur la relation entre l'écriture et la psychanalyse, en considérant le concept d'inconscient lié à la notion d'écriture. Pour cela, nous récupérons certaines des discussions de Freud sur un modèle théorique du fonctionnement psychique en tant que dispositif de mémoire, dont le contenu n'est accessible que par le langage. De plus, nous présentons la distinction de Lacan entre lettre lacanienne et lettre. Puisque la lettre inscrite sur papier est ce qui donne de la matérialité aux traces de la mémoire, l'écriture se présente, pour la psychanalyse, comme un instrument d'inscription du discours de l'inconscient.

Mots-clés: Langue, Psychanalyse, L'écriture, Inconscient.


RESUMEN

Este trabajo consiste en presentar reflexiones sobre la relación entre escritura y psicoanálisis, considerando el concepto de inconsciente vinculado a la noción de escritura. Para esto, recuperamos algunas de las discusiones de Freud sobre un modelo teórico sobre el funcionamiento psíquico como dispositivo de memoria, a cuyo contenido solo se puede acceder a través del lenguaje. Además, presentamos la distinción de Lacan entre letra y letra lacanianas. Dado que la carta registrada en papel es lo que da materialidad a las huellas de la memoria, la escritura se presenta, para el psicoanálisis, como un instrumento para inscribir el discurso del inconsciente.

Palabras clave: Idioma, Psicoanálisis, Escritura, Inconsciente.


 

 

Introdução

Ao refletirmos acerca do empreendimento do sujeito em sua travessia pela aquisição da linguagem escrita e ao pensarmos que a escrita pode ter relação com o inconsciente, em razão de que, conforme Pommier (2011, p. 20), "no momento em que esboça um grafite, a criança se representa e representa primeiramente seus sonhos", isto é, o sujeito representa na escrita a parte da qual está exilado, interrogamos qual a função da escrita para a psicanálise e como ela pode ter relação com o inconsciente.

Com o propósito de encontrar respostas a essas questões, embora reconheçamos a dificuldade desse empreendimento, recorreremos, a princípio, ao que a psicanálise tratou sobre o tema. Para isso, acreditamos que seja imprescindível retomarmos algumas das reflexões apresentadas por Freud, no "Projeto para uma psicologia científica" (1893-1895). Isso porque, nesse texto, ele apresenta um modelo teórico, de natureza fundamentalmente hipotética, para o funcionamento psíquico como um todo, a partir de uma abordagem quantitativa dos neurônios, "uma espécie de economia de força nervosa" (Freud, 1996/1895, p. 213), em que o psiquismo seria capaz de transmitir, transformar e descarregar a energia Q presente nos neurônios.

No entanto, o que é importante ressaltar, no modelo proposto no "Projeto", é o fato de que os estímulos perceptivos (internos e externos) da atividade psíquica, no entendimento do autor, deixavam traços de memória que se transformavam em traços permanentes. Para Freud (1996/1895), o conteúdo desses traços permanentes ficaria no interior do aparelho, no sistema inconsciente, e só teria acesso à consciência por meio do sistema pré-consciente/consciente após ser submetido às exigências desse último.

Na "Carta 52", correspondência endereçada a Fliess, Freud (1996/1886-1899) ratifica as ideias colocadas no "Projeto" a respeito dos sistemas pré-consciente, consciente e inconsciente e a relação desses com a memória. Seu entendimento parte da premissa de que o mecanismo psíquico é formado por um processo de estratificação, em que os traços de memória deixados pelas percepções, no aparelho perceptivo, estariam suscetíveis a um rearranjo, a uma retranscrição, de acordo com as novas circunstâncias.

Nesse texto, o autor diz que o que há de essencialmente novo a respeito de sua teoria é a tese de que "a memória não se faz presente de uma só vez, mas se desdobra em vários tempos" (Freud, 1996/1886-1899, p. 175) e faz seu registro em diferentes indicações. Freud explica, ainda, que os contínuos registros de memória representam a realização psíquica de épocas sucessivas da vida do sujeito, o que requer, segundo ele, uma tradução do material psíquico. Contudo, na tentativa de tradução desses registros, pode ocorrer o que se conhece, na psicanálise, como recalcamento, isto é, pode ocorrer uma defesa que consiste, conforme Freud (1969/1915), em impedir que certas representações relativas ao sistema inconsciente tenham acesso ao sistema Pré-consciente-Consciente.

Nessa perspectiva, a articulação entre as três instâncias do aparelho psíquico (pré-consciente, consciente e inconsciente), apontada no "Projeto", permite a Freud (1996/1886-1899) a construção do conceito de inconsciente atrelado à noção de escritura, em razão de que o psiquismo, visto como um aparelho de memória concebido a partir da inscrição de traços mnêmicos, de representações das experiências de prazer e desprazer, indica marcas da relação do sujeito com a linguagem por meio da "ativação alucinatória das representações verbais" (p. 176), compreensão que acaba nos encaminhando à teoria dos sonhos.

Convém dizer que nosso encaminhamento a essa teoria é motivado pelo fato de que é no texto "A Interpretação dos Sonhos" que Freud (2012/1900) sinaliza haver relação do inconsciente com a escrita, pois ao abordar os fundamentos da teoria do sonho, esse autor ensina que o conteúdo oculto liga-se a pensamentos oníricos do Pré-consciente/Consciente e tenta aceder à consciência por meio do reinvestimento de imagens mnêmicas. Importa sublinhar que essas imagens não são as experiências em si, mas restos escritos na memória como elementos psíquicos, ou melhor, como rastros de experiências anteriores.

Nesse sentido, o trabalho do sonho deve partir, conforme Freud (2012/1900), da investigação das relações do conteúdo onírico manifesto com os pensamentos latentes, pois o primeiro se apresenta como uma tradução do segundo, "cujos signos e leis sintáticas devemos chegar a conhecer pela comparação entre o original e a tradução" (p. 299). Nessa compreensão, o conteúdo manifesto "se apresenta numa espécie de pictografia, cujos signos cabe traduzir um a um na linguagem do pensamento onírico" (p. 299).

No entanto, cumpre ressaltar que ler os signos do conteúdo onírico por seu valor de imagem é um engano; pois, de acordo com Freud (2012/1900), o sonho é um enigma figurado (um rébus) em que cada imagem deve ser substituída "por uma sílaba ou uma palavra que, por meio de uma relação qualquer, possa ser figurada pela imagem" (p. 300).

Diante disso, entendemos, tal como Borges (2011), que as leis do inconsciente foram desveladas por Freud a partir da compreensão do sonho como uma escrita, em que as "imagens que o constituem devem ser lidas observando-se as leis da condensação e do deslocamento" (p. 76). Nesse sentido, as imagens devem ser consideradas como letras, ou melhor, como elementos constitutivos de cadeias significantes por meio das quais, segundo Borges (2010), desliza o desejo, tendo em vista que o sonho, para a teoria psicanalítica, é uma realização de desejo (Freud, 2012/1900).

Para Lacan, em "Função de Campo da Fala e da Linguagem em Psicanálise" (1992/1966), é interessante que se retome a obra de Freud na Traumdeutung

[...] para se recordar aí que o sonho tem a estrutura de uma frase, ou melhor, a nos atermos à sua letra, de um rébus, isto é, de uma escrita da qual o sonho da criança representaria a ideografia primordial, e que no adulto reproduz o emprego fonético e simbólico ao mesmo tempo dos elementos significantes, que se reencontra nos hieróglifos do antigo Egito assim como nos caracteres cujo uso a China conserva. (Lacan, 1992/1966, p. 132).

Em vista disso, é possível dizer que foi ao buscar um modelo para o inconsciente que Freud invocou a escrita. Dito de outra maneira, foi ao pensar "o rébus como metáfora do inconsciente na medida em que comporta representação-palavra e representação-coisa" (Rego, 2005, p. 271) que a escrita foi convocada pela psicanálise.

Por outro lado, é importante assinalar que Freud não pretendeu nos dar outra coisa com a teoria dos sonhos senão as leis do inconsciente em sua extensão mais geral. Isso porque, de acordo com Costa (2008), o principal interesse freudiano, ao associar a elaboração onírica com escritas antigas, refere-se à "aproximação do sonho com uma escritura que não apresenta um texto unívoco, mantendo sentidos antitéticos, bem como uma condição primária de figurabilidade" (p. 41), situada a partir de elementos compostos em linguagens distintas, como a escrita da gramática e o desenho.

Apesar disso, Lacan (1992/1966), ao tomar o sonho da Injeção de Irma como uma escrita do inconsciente, reconhece a existência de certa relação entre o rébus e a interpretação dos sonhos, já que nos dois casos a imagem necessita ser lida. O que nos remete à afirmação freudiana de que as imagens que constituem o sonho podem ser substituídas "por uma sílaba ou uma palavra" (Freud, 2012/1900, p. 300).

Nesse sentido, é possível considerar que a escrita tem semelhança com o inconsciente freudiano, principalmente se levarmos em conta, com fundamento em Freud, a compreensão de que é a partir do conteúdo inscrito mnemicamente no aparelho psíquico que as demais escritas, tais como sonho, desenho e até a própria escrita alfabética, se organizam.

 

Sobre memória e escrita em Freud

Para Derrida (1995/1967, p. 182), não foi por acaso que Freud recorreu a modelos "de uma grafia que nunca está sujeita, exterior ou posterior à palavra", pois ao pensar que o sonho se desloca como uma escritura original, Freud propõe "um modelo de escritura irredutível à palavra e comportando, como os hieróglifos, elementos pictográficos, ideogramáticos e fonéticos" (p. 196), que demandam tradução. Nessa perspectiva, a relação entre a escrita e o inconsciente pode ser percebida na leitura do sonho ou na dos hieróglifos devido à remissão que as imagens (no sonho ou na escrita) fazem a palavras ou coisas.

No entanto, cumpre ressaltar que a escrita inconsciente, diferente da escrita alfabética, resiste à decifração, isto é, resiste à interpretação, por isso, a teoria do sonho sugere que para se chegar à interpretação dos sonhos é preciso considerar a escuta analítica como uma leitura das letras do inconsciente. Assim, se toda leitura pressupõe uma escrita, logo, é apoiado nessa leitura que as manifestações do inconsciente poderão ser compreendidas como escrita.

No texto "Uma nota sobre o 'Bloco Mágico'", Freud (1996/1925) retoma a questão da memória, no aparelho psíquico. Nesse trabalho, o autor faz uma analogia entre o aparelho psíquico e o bloco mágico, em que o bloco seria capaz de conservar traços escritos de modo permanente, mas sem excluir a possibilidade de receber novas impressões.

Freud (1996/1925) diz que quando não se confia na memória, uma anotação por escrito pode suplementar e garantir seu funcionamento. Nesse caso, a folha de papel atuaria, conforme o autor, como uma parte materializada do aparelho mnêmico, que cada sujeito possui. Assim, a superfície sobre a qual a nota é registrada preservará intacta qualquer anotação feita por uma duração infinita de tempo, além de oferecer a possibilidade de ser acessada a qualquer momento, "com a certeza de que terá permanecido inalterada e assim escapado às possíveis deformações" (p. 257) a que a anotação poderia estar sujeita se inscrita na memória.

Por outro lado, Freud (1996/1925) assinala que a desvantagem desse procedimento incide sobre a capacidade finita da superfície receptiva, pois se a escrita é feita sobre uma folha de papel, o traço permanente colocado sobre ela é limitado, fazendo-se necessário o uso de outra folha quando a primeira é preenchida. Outra desvantagem, apontada pelo autor, é a de que a nota pode perder seu valor se deixar de interessar a quem escreveu.

Assim, ao refletir sobre a vantagem e a desvantagem que o Bloco Mágico oferece, Freud (1996/1925) afirma que, embora todas as formas de aparelhos auxiliares inventados para melhorar ou para auxiliar nossas funções sensoriais tenham sido construídas segundo o modelo dos próprios órgãos dos sentidos, os dispositivos criados para auxiliar nossa memória parecem imperfeitos e insuficientes se comparados à capacidade receptiva ilimitada que nosso aparelho mental possui. O que nos leva a compreender, seguindo Derrida (1995/1967), que a escrita para Freud é vista como "uma técnica a serviço da memória, técnica exterior, auxiliar da memória psíquica e não ela mesma memória" (p. 214). Nesse sentido, é importante ressaltar que o psiquismo está preso, conforme Derrida, num aparelho, enquanto o escrito é representado como uma peça extraída e "materializada" desse aparelho.

No caso do Bloco Mágico, Freud (1996/1925, p. 258) observa que "a escrita se desvanece sempre que se rompe o íntimo contato entre o papel que recebe o estímulo e a prancha de cera que preserva a impressão". Desse modo, uma vez apagada a escrita, embora os traços inscritos permaneçam no aparelho e possam ser observados quando colocado sob a luz, o Bloco não tem como reproduzir o que foi escrito nele, diferentemente da memória, que mesmo em constante escritura pode ser acessada, ou melhor, pode ter seu conteúdo alcançado por meio do trabalho do aparelho psíquico. Isso porque as marcas aparentemente apagadas da memória psíquica estariam inscritas sob um outro registro e, por isso, podem ser encontradas.

Essas marcas estariam reunidas, na instância inconsciente, num movimento de escrita em que as marcas atuais manteriam uma relação de proximidade com as do passado, ou seja, as percepções recentes, inscritas no aparelho psíquico, dialogariam com aquelas que estão no aparelho há mais tempo. Com base nisso, é possível pensar a memória como uma superfície em movimento, que recria e reescreve, quer dizer, que (recriando e reescrevendo) está aberta a novas escrituras e que a depender da luz, colocada sobre ela, escrituras anteriores podem aparecer.

Nesse sentido, é mediante a analogia feita entre o Bloco Mágico e o Aparelho Psíquico que pode haver possíveis respostas acerca da relação que a escrita tem com o inconsciente, embora a principal diferença entre a escrita e a memória, como abordada por Freud (1996/1925), seja o fato de que a primeira, para ser lida, necessita estar materializada, enquanto a segunda, para que as letras do inconsciente sejam lidas, necessita de análise.

 

Escrita alfabética e escrita inconsciente

Segundo a reflexão de Pommier (2011), é possível supor que tanto a escrita alfabética quanto a do inconsciente decorrem da mesma operação, ou seja, derivam da operação de recalcamento. Tal suposição se dá em razão de que a escrita propriamente dita, em sua história, surge, conforme o autor, como efeito do apagamento da representação figurativa.

De acordo com Pommier (2011, p. 20), "o desenvolvimento das técnicas de escrita se articula aos processos de recalcamento e de retorno do recalcado", o que permite que a escrita alfabética seja compreendida como um evento que aparece em decorrência da proibição da figura no rébus. Assim, a escrita alfabética acontece quando a figura é recalcada.

No entanto, importa ressaltar que a relação da escrita com o inconsciente está para além da semelhança que há entre ambos, no que diz respeito ao recalcamento, visto que é a escrita que permite o registro daquilo que pode ser lido como manifestação do desejo do sujeito, em razão de que todo e qualquer grafismo, segundo Pommier (2011), pode ser entendido como o retorno do recalcado.

É preciso lembrar que as imagens que dão origem à escrita alfabética são desenhos que funcionam como suporte de histórias cuja narração, em determinado momento, "comporta um elemento impossível de representar pelo desenho" (Pommier, 2011, p. 18). Em consequência disso, a representação pictórica é recalcada e em seu lugar surge a letra alfabética. Para o autor, "a passagem da imagem à letra é comandada pelo apagamento da imagem em prol de seu valor sonoro, como na escrita em rébus" (p. 19).

Em vista disso, cabe lembrar que a escrita alfabética não foi a única a tomar como exemplo a escrita em rébus, pois Freud (2012/1900) também recorreu a esse tipo de escrita para explicar que o conteúdo recalcado, manifestado no sonho, faz uso de imagens que figuram como o enigma de um rébus, o que lhe permite dizer que as imagens devem ser substituídas por sílabas ou palavras que possam ser lidas para, desse modo, chegar-se ao conteúdo inconsciente.

Nesse sentido, "se todas as grandes escritas foram, de início, pictográficas, antes de evoluírem em um único sentido, e segundo diversos processos, em direção à fonetização" (Pommier, 2011, p. 31), é possível dizer, então, que a escrita se funda sobre o apagamento de sua própria origem gráfica. Desse modo, se o apagamento do desenho, para dar lugar à letra alfabética, resulta do efeito do funcionamento da língua, podemos afirmar, por analogia, que o apagamento do traço na memória faz o significante emergir como letra do inconsciente. Dito de outra forma, uma vez recalcadas, as experiências vividas pelo sujeito passariam por um processo (de deformação) e retornariam à consciência como uma escrita que se organiza a partir da combinação de letras no texto inconsciente, ou seja, os traços apagados não manteriam relação com os objetos que os originaram, mas cederiam lugar ao significante. Cederiam lugar ao significante vazio, que nada significa, mas que no retorno da coisa recalcada atesta, conforme Lacan (1999/1957-1958), uma presença passada.

Nessa perspectiva, concordamos com Rego (2005) que, "assim como o sonho se dá em sua deformação, a escrita é desde sempre, encobrimento da falta de sentido do traço que determina a errância do desejo e a insatisfação da pulsão" (p. 161), o que faz da escrita "um traço onde se lê um efeito de linguagem" (Lacan, 1982/1972-1973, p. 164).

Posto isso, recorremos ao dito lacaniano, na lição de 10 de março de 1971, do Seminário "De um discurso que não fosse semblante", sobre a escrita. Para Lacan (2009/1971, p. 79), "a escrita é representação de palavras", pois a palavra está aí antes de sua representação escrita, com tudo que ela comporta. É importante acrescentar que, embora afirme que a escrita é representação de palavras, Lacan contesta a ideia de que a escrita se reduz à função de representação no sentido técnico, visto que, "originada por uma operação em que a forma gráfica do desenho ou da letra é posta em função do significante" (Bosco, 2002, p. 155), a escrita diz mais que uma representação, pois nela há traços que se referem à pulsão.

Nessa perspectiva, Burgarelli (2003) afirma que a noção de escrita vai além de sua concepção como um processo simbólico de inscrição ou de produção de sentido, ela pode ser entendida como

[...] uma instância de repetição do resto que foi exilado do campo do saber, permitindo então uma amarração entre significante e real, o que se explica devido à dimensão irredutível da letra, que pode ser entendida, por um lado, como a estrutura localizada do significante e, por outro, como algo que, irrompendo do real, assume o estatuto de borda ao gozo expulso do campo simbólico. (Burgarelli, 2003, p. 111).

Nesse sentido, é preciso ressaltar que, para a psicanálise, há uma diferença crucial entre a letra e a letra, que compõe cada um dos dois sistemas (escrita e inconsciente), ou seja, há uma importante diferença, mas que se coloca como uma dificuldade de precisar a distinção entre a letra – sinal gráfico e a letra – instância no inconsciente, a que chamaremos de letra lacaniana.

A relação entre a letra da escrita e a da instância no inconsciente atribui-lhe, conforme Pommier (2011), dois lados, pois "a letra não provém só do recalcamento de um deles, ela funciona também, do outro lado, como retorno do recalcado" (p. 30). Desse modo, repetimos a questão levantada por esse autor, no texto "A história da escrita e a aprendizagem de cada criança", a respeito de "como distinguir as letras que, juntas, formam palavras, e aquelas que, isoladas, constituem um retorno do recalcado?" (p. 30). Tentaremos, a seguir, embora reconheçamos a dificuldade conceitual que o tema oferece, responder a essa questão. Vejamos, então.

 

Letra alfabética e letra lacaniana

A particularidade da letra alfabética está no fato de que por ser visual (em sua materialidade gráfica) e auditiva (em sua realização sonora) "serve de apoio ao significante, segundo sua lei de metáfora" (Lacan, 2003/1970, p. 24), para representar o que o significante não representa, a saber, o objeto a causa de desejo. O que faz do escrito uma operação que "tem relações estreitas com o objeto a" (Porge & Leite, 2015, p. 13), e o que faz do ato de escrever uma ação que revela, conforme Burgarelli (2003), algo que o significante/semblante oculta.

Nessa perspectiva, a letra alfabética como esteio do significante permite que este seja percebido e lido, pois "o significante se ouve, mas não se lê" (Elia, 2007, p. 132). Por essa razão, a letra escrita pode ser entendida, com base em Lacan (2003/1970), como essência do significante e, desse modo, no que se ouve do significante, de acordo com Elia (2007), uma escrita poderá ser lida.

Diante disso, a letra alfabética, que se imprime sobre o papel, pode ser compreendida como uma marca que permite o registro do significante, ou seja, permite a materialização do significante e, em consequência, abre caminho para o discurso do inconsciente, pois "é a letra que em seu caráter material imutável possibilitará tomar as formações do inconsciente como rébus" (Aires, 2005, p. 224), enquanto o significante, por sua vez, "aponta para a diferença, abrindo novas possibilidades de significação" (p. 224). Nesse sentido, o conceito de letra em Lacan, conforme a autora, marca a repetição dos mesmos elementos, finitos, no jogo significante.

Por outro lado, apesar de a letra escrita dar concretude ao significante, ela se distingue do significante, ou melhor, ela não é o significante. A letra é apenas efeito do significante, como bem disse Lacan (2003/1970) em "Lituraterra".

Milner (1996) explica que a letra, por ser suporte, é transmissível, isto é, transmite aquilo que ela é em um discurso, enquanto o significante nada transmite, ele apenas "representa no ponto das cadeias onde se encontra, o sujeito para um outro significante" (p. 105). Esse autor diz ainda que "o significante não pode ser destruído: ele no máximo pode 'faltar em seu lugar'; mas a letra, com suas qualidades e identidade, pode ser rasurada, apagada, abolida" (p. 104), o que nos permite acreditar que a escrita, por jogar com a falta, com o vazio, pode evidenciar situações de ordem inconsciente.

Nesse sentido, cumpre dizer que a letra escrita não é primária, ela é produto da linguagem. Desse modo, é importante ressaltar, seguindo Lacan (2009/1971, p. 60), que "sem o escrito, não há nenhuma possibilidade de voltar a questionar o que resulta, em primeiro lugar, do efeito de linguagem como tal". Isso em razão de que, no entendimento do autor, é somente a partir do escrito que se constitui a lógica, pois é do escrito que se interroga a linguagem e, por isso, "só existe questão lógica a partir do escrito" (p. 60).

No que diz respeito à letra – instância no inconsciente ou letra lacaniana, com base em seu retorno a Freud e munido dos conceitos da linguística de base estruturalista, Lacan (1992/1966) apresenta, no texto "A Instância da Letra no Inconsciente ou a Razão desde Freud", a letra como o "suporte material que o discurso concreto empresta à linguagem" (p. 225), em outras palavras, a letra é apresentada como o suporte de que necessita o jogo significante. Com essa noção, o inconsciente é considerado como um campo de linguagem em que nem tudo é possível de ser interpretado ou representado.

Nesse sentido, Lacan (1992/1966) afirma que a Ciência dos Sonhos trata da "letra do discurso, em sua textura, em seus empregos, em sua imanência à matéria em causa" (p. 240) a partir do enigma em imagens presente no sonho, o que autoriza a estrutura de linguagem tornar possível "a operação de leitura que está na origem da significância do sonho" (p. 241, grifos do autor). Compreensão que permite a ele próprio reconhecer o caminho aberto por Freud para a teoria do inconsciente e, consequentemente, notabilizar a aproximação entre o inconsciente e a escrita. Dessa forma, observamos que o caminho feito por Lacan até o conceito de letra não foi simples, pois esse percurso marca tanto um retorno aos textos freudianos quanto uma ampliação de suas próprias formulações.

Diante de nossa tentativa de apresentar uma definição que pudesse nos ajudar a distinguir letra alfabética de letra lacaniana, admitimos nossa dificuldade em particularizar cada uma delas, pois "na letra que se faz escrita está localizado o traço do significante como suporte da diferença" (Ferreira, 2007, p. 55), ou seja, é na letra alfabética, assim como na que marca o vazio inscrito no inconsciente, que encontramos o emprego do significante. Dessa maneira, observamos, seguindo Pommier (2011), que ao mesmo tempo em que a letra pode significar quando está encadeada no discurso, também pode indicar o retorno do recalcado quando faz instância no inconsciente, o que acaba dificultando a definição precisa de cada uma, na psicanálise.

No que diz respeito ao texto no/do inconsciente, Derrida (1995/1967) afirma que este é constituído por arquivos que são sempre já transcrições, tecido de traços puros, de diferenças em que se unem o sentido e a força. Em vista disso, é preciso considerar, conforme esse autor, que "a escritura geral do sonho supera a escrita fonética e volta a pôr a palavra no seu lugar" (p. 209), o que faz o significante ser reconhecido como anterior à escrita.1

Derrida (1995/1967) assevera também que as palavras são frequentemente tratadas pelo sonho como coisas e, por isso, sofrem as mesmas montagens que as representações das coisas. Tal afirmação encaminha-nos à concepção de que o sonho não deixa de utilizar a escrita comum, como no sonho do "Homem dos Ratos", analisado por Freud (1996/1909), em que as letras "p" e "c" (para condolências), conforme Chemama (1995), transformam-se em "p" e "f" (para felicitar) quando o sonhador as escreve no sonho.

De acordo com Chemama (1995), os elementos do inconsciente (letra ou sequência significante), não havendo significação ou censura, assumem o valor daquilo que eles podem fazer irrupção na língua falada, enquanto signos de um desejo interditado, pela via da letra.

No entanto, acreditamos que os elementos recalcados também podem irromper na escrita, em razão de que a desconstrução da concepção clássica de representação, tal como proposta por Derrida, e da concepção clássica de escrita, inaugurada por Freud, "permitiu que se reconhecesse que o inconsciente 'sabe escrever', e, que até comete erros de ortografia, salta letras e infringe as leis de gramática" (Borges, 2008, p. 345).

Assim, foi diante do entendimento de que o retorno do recalcado também pode se tornar visível por meio dos signos gráficos, feitos sobre o papel ou, no dizer de Freud (1996/1901), por meio de lapsos de escrita, que questionamos qual a função da escrita para a psicanálise e que relação ela tem com o inconsciente.

 

A função da escrita para a psicanálise

Considerando que a letra alfabética que se registra sobre a folha de papel é o elemento que confere materialidade ao significante, Lacan (2009/1971) diz, no "Seminário 18", que é a letra que serve de apoio ao significante, pois "ela capta seja o que for na rede do significante, e, portanto, a própria escrita" (p. 117).

No entanto, importa dizer que a escrita é o que vem a se tramar, conforme Lacan (1982/1972-1973), como efeito da sua erosão no que nos é oferecido a ler na linguagem. Em outras palavras, a escrita é o efeito da busca do significado por meio do significante, mas que, de acordo com o autor, não decalca o significante, apenas "remonta a ele ao receber um nome, mas exatamente do mesmo modo que isso acontece com todas as coisas que a bateria significante vem a denominar, depois de as haver enumerado" (Lacan, 2009/1971, p. 114). O psicanalista francês esclarece que "[...] a escrita, desde suas origens até suas mais recentes transformações técnicas, nunca passa de algo que se articula como ossos cuja carne seria a linguagem. [...] Mas a escrita em si, não a linguagem, a escrita provê de ossos todos os gozos que, por meio do discurso, mostram abrir-se ao ser falante" (Lacan, 2009/1971, p. 139).

Nesse sentido, a escrita pode ser relacionada à falta que ultrapassa o corpo. Seguindo essa perspectiva, Burgarelli (2003) assinala que o ato de escrever bordeia o gozo do Outro, isto é, bordeia o gozo "para sempre proibido, inter-dito" (Lacan, 2009/1971, p. 139).

Em "Lituraterra", Lacan (2003/1970) propõe que a escrita não decalca o significante, mas seus efeitos de língua, o que dele se forja por quem a fala. Nesse sentido, a letra alfabética, na psicanálise, é tida como um instrumento apropriado à inscrição do discurso, o que, consequentemente, faz dela seu efeito, já que "a condição da escrita é que ela se sustente por um discurso" (Lacan, 1982/1972-1973, p. 50).

Segundo Lacan (1982/1972-1973), o que pode nos introduzir à dimensão da escrita é "nos apercebermos de que o significado não tem nada a ver com os ouvidos, mas somente com a leitura, com a leitura do que se ouve de significante" (p. 47), em consequência de que o que se ouve é o significante; e o significado, por sua vez, é efeito dele. Para exemplificar essa lógica, Lacan (1982/1972-1973) apresenta, no "Seminário 20 – Mais, ainda", o algoritmo  (significante sobre o significado), em que essa representação escrita resulta do efeito do discurso, mais especificamente do efeito do discurso científico, visto que a função do lugar ocupado pelo significante e pelo significado, na representação gráfica, só é criada, de acordo com Lacan, pelo discurso.

Nessa direção, podemos sustentar que a escrita não transcreve a fala e, de modo consequente, não a representa, visto que há na escrita aquilo que a palavra não diz, isto é, escrevemos o que não pode ser dito. Embora Lacan (2009/1971) reconheça, no "Seminário 18", que é a fala que abre caminho para o escrito, é preciso dizer que a relação entre fala e escrita "não se trata de uma representar a outra, mas sim de uma unilateralidade, ao mesmo tempo, mantida e perdida devido ao trabalho realizado pela língua" (Burgarelli, 2003, p. 40), pois "se a escrita pode servir para alguma coisa, é justamente na medida em que é diferente da fala – da fala que pode se apoiar nela" (Lacan, 2009/1971, p. 75).

Nesse sentido, com base em Rego (2005), podemos dizer que a letra, por estar ausente da fala, "se prestaria a ser identificada com o que faz instância no inconsciente" (p. 173). Dessa forma, seguindo Ferreira (2007), observamos que "o movimento que traça a letra no branco da página não é outra coisa senão o movimento parcial da pulsão, contornando o objeto, girando em torno daquilo que representa o vazio da Coisa" (p. 55), isto é, o objeto perdido.

Esse movimento de traçado é o que nos permite pensar que o traço registrado sobre a folha coloca sua relação com o significante como resultado do trabalho psíquico, isto é, coloca a escrita como uma exteriorização do significante, cuja função é reter o traço que revela o enigma a ser decifrado, uma vez que os traços ou letras que restam do encontro com o desejo do Outro, conforme Rego (2005), são enigmáticos.

Embora concordemos com Elia (2007, p. 132) que "a psicanálise opera pela via do significante, mas só acede ao significado pela função da escrita, ou seja, quando o significante ouvido vem a se transmutar, em um segundo tempo, em letras lidas", ao formular que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", Lacan (2008/1964) não explicita com que estrutura de linguagem o inconsciente mantém semelhança, isto é, a qual manifestação de linguagem o inconsciente é análogo, se à fala ou à escrita.

No entanto, com a reflexão apresentada no "Seminário 18 – De um discurso que não fosse semblante", a respeito de a arbitrariedade do significante só ter sido possível de ser formulado por Saussure "em razão de que se tratava de figurações escritas", Lacan (2009/1971, p. 85) dá indícios de que a estrutura de linguagem semelhante à estrutura do inconsciente é a da linguagem escrita.

Em outras palavras, se a escrita é definida e se estrutura a partir da presença do traço significante e se a estrutura do inconsciente é como a da linguagem, podemos afirmar, seguindo Rego (2005), apesar de reconhecermos nossa ousadia nisso, que o inconsciente é uma escrita. Isso porque se o inconsciente é aquilo que se inscreveu, quer dizer que o material recalcado (traços, marcas, rastros de experiências vividas) dá origem a significantes (gráficos ou não) e os permite aparecer como marca do retorno do recalcado, uma vez que o próprio Lacan (2009/1971, p. 83) reconhece que "o inconsciente é uma linguagem em meio à qual apareceu sua escrita".

A respeito disso, Allouch (1995, p. 151, grifos do autor) diz que,

[...] se o que ali faz instância, e inicialmente insistência, é mesmo a letra e não o significante (o que, portanto, permite dar conta de que possa haver, não esquecimento, mas antes apagamento no inconsciente, como testemunha a experiência), estar estruturado como uma linguagem quer dizer que ele está estruturado como essa linguagem cuja estrutura se revela somente pelo escrito.

Nesse ponto de vista, com base em Elia (2007), reconhecemos que "é impossível retornar sobre os efeitos de linguagem, à ordem simbólica, e questioná-los, interrogá-los" (p. 133) sem o escrito.

 

Considerações finais

Seguindo o que colocamos até aqui, é possível compreender que a escrita do significante, como traços, é o que permite que as letras, dotadas de metaforicidade, façam instância no inconsciente e, por conseguinte, promovam apagamentos e deslocamentos de sentido dos conteúdos que nele instanciam.

Isso posto, acreditamos que se voltarmos à questão que motivou este trabalho acerca da relação da escrita com a psicanálise, notaremos que a escrita vai muito além do traçado sobre o papel, ela mantém relação direta com o inconsciente. Isso em razão de que a escrita, conforme Manso e Caldas (2013), é um meio propício e adequado que o sujeito encontra "para expurgar sua dor, elaborar suas perdas, conservar suas alegrias" (p. 113).

Nessa perspectiva, compreendemos que a escrita tem sua relevância para a psicanálise e, por conseguinte, para a clínica psicanalítica, pois o que se perde pelo viés da pulsão vocal quando o sujeito fala poderá ser recuperado, conforme Pommier (2008), por meio da escrita, uma vez que esta permite o registro do que pode ser lido como manifestação do desejo do sujeito, tanto por associação ou deslocamento de significantes quanto por lapsos de escrita, como explica Freud (1996/1901), em "Psicopatologia da vida cotidiana", quando afirma que "existem ocasiões em que o mais insignificante lapso de escrita pode expressar um perigoso sentido secreto" (p. 74).

Desse modo, a escrita, por ser um produto de linguagem, também pode revelar situações de ordem inconsciente que não aparecem no campo da fala.

 

 

Referências

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*Doutora e Mestre em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco. Graduada em Letras pela Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada. Professora da rede estadual de Pernambuco.
1Nesse ponto, é importante destacar que nossa compreensão acerca da anterioridade do significante em relação à letra tem base em Lacan (2009/1971), cujo entendimento acerca do conceito de letra diferencia-se do de Derrida (1995/1973), uma vez que esse último argumenta que a letra é anterior ao significante, e não o contrário, em razão de que em seu entendimento "não há signo linguístico antes da escritura" (p. 17).

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