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Analytica: Revista de Psicanálise

On-line version ISSN 2316-5197

Analytica vol.11 no.20 São João del Rei Jan./June 2022

 

ARTIGOS

 

Pesquisas em psicanálise: produção nacional em periódicos científicos (2004-2018)

 

Research in Psychoanalysis: National Production in Scientific Journals (2004-2018)

 

Recherche en psychanalyse: production nationale dans des revues scientifiques (2004-2018)

 

Investigación en psicoanálisis: producción nacional en revistas científicas (2004-2018)

 

 

Amanda Lays Monteiro InácioI, II*; Maíra Bonafé SeiII**; Katya Luciane de OliveiraII***; Hellen Lima Buriolla****

IUniversidade São Francisco - Brasil
IIUniversidade Estadual de Londrina - UEL - Brasil

 

 


RESUMO

Esta pesquisa objetivou analisar as características da produção científica no contexto psicanalítico, focando em 15 anos de publicações (2004 a 2018) de nove periódicos científicos com classificação Qualis A1 e A2. A análise de dados teve por base critérios oriundos da metaciência: autoria, temática, discurso e análise dos tipos de recursos. Dos 5.786 artigos encontrados, 654 pertenciam ao escopo da psicanálise, sendo que os resultados mostraram que há periódicos com maior concentração de publicações nessa área, com certa variação na quantidade de artigos ao longo dos anos analisados. Houve predominância da participação feminina na autoria das produções, e na quantidade de pesquisas realizadas em instituições públicas das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Freud foi o autor mais citado, com primazia de artigos de natureza teórica. Foi possível concluir a existência de um aumento da produção científica em psicanálise, que, mesmo em pequena escala, revela o amadurecimento da área ao longo dos anos. Futuras investigações devem dar continuidade a esse mapeamento e investigar outros aspectos relevantes ao contexto psicanalítico.

Palavras-chave: Metaciência, Revisão, Psicanálise.


ABSTRACT

This research aimed to analyze the characteristics of scientific production in the psychoanalytic context, focusing on fifteen years of publications (2004 to 2018) in nine scientific journals with Qualis A1 and A2 classification. The data analysis was based on criteria derived from metacience: authorship, thematic, discourse and analysis of the types of resources. Of the 5,786 articles found, 654 belonged to the scope of psychoanalysis, and the results showed that there are journals with a greater concentration of publications in this area, with a certain variation in the number of articles over the years analyzed. There was a predominance of female participation in the authorship of productions, and in the amount of research carried out in public institutions in the Southeast and South regions of Brazil. Freud was the most cited author, with a predominance of articles of a theoretical nature. It was possible to conclude the existence of an increase in scientific production in psychoanalysis, which, even on a small scale, reveals the maturity of the area over the years. Future investigations should continue this mapping and investigate other aspects relevant to the psychoanalytic context.

Keywords: Metascience, Scientific production, Psychoanalysis.


RÉSUMÉ

Cette recherche visait à analyser les caractéristiques de la production scientifique dans le contexte psychanalytique, en se concentrant sur quinze années de publications (2004 à 2018) dans neuf revues scientifiques de classification Qualis A1 et A2. L'analyse des données était basée sur des critères dérivés de la métacience: paternité, thématique, discours et analyse des types de ressources. Sur les 5786 articles trouvés, 654 appartenaient au domaine de la psychanalyse, et les résultats ont montré qu'il existe des revues avec une plus grande concentration de publications dans ce domaine, avec une certaine variation du nombre d'articles au cours des années analysées. Il y avait une prédominance de la participation des femmes dans la paternité des productions et dans la quantité de recherches effectuées dans les institutions publiques des régions du Sud-Est et du Sud du Brésil. Freud est l'auteur le plus cité, avec une prédominance d'articles de nature théorique. Il a été possible de conclure à l'existence d'une augmentation de la production scientifique en psychanalyse qui, même à petite échelle, révèle la maturité du champ au fil des années. Les futures investigations devraient poursuivre cette cartographie et étudier d'autres aspects pertinents au contexte psychanalytique.

Mots-clés: Métacience, Revue, Psychanalyse.


RESUMEN

Esta investigación tuvo como objetivo analizar las características de la producción científica en el contexto psicoanalítico, centrándose en quince años de publicaciones (2004 a 2018) en nueve revistas científicas con clasificación Qualis A1 y A2. El análisis de datos se basó en criterios derivados de la metaciencia: autoría, temática, discurso y análisis de los tipos de recursos. De los 5.786 artículos encontrados, 654 pertenecían al alcance del psicoanálisis, y los resultados mostraron que existen revistas con una mayor concentración de publicaciones en esta área, con una cierta variación en el número de artículos a lo largo de los años analizados. Predominó la participación femenina en la autoría de las producciones y en la cantidad de investigación realizada en instituciones públicas en las regiones sudeste y sur de Brasil. Freud fue el autor más citado, con predominio de artículos de naturaleza teórica. Fue posible concluir la existencia de un aumento en la producción científica en psicoanálisis, que, incluso a pequeña escala, revela la madurez del área a lo largo de los años. Las investigaciones futuras deberían continuar este mapeo e investigar otros aspectos relevantes para el contexto psicoanalítico.

Palabras claves: Metaciencia, Producción científica, Psicoanálisis.


 

 

Introdução

Em seu texto intitulado "Dois verbetes de enciclopédia", Freud (1923-1922/1996) elucida que a psicanálise pode ser definida como (i) um procedimento para investigação dos processos mentais quase inacessíveis por outro modo, (ii) um método de tratamento para os distúrbios neuróticos e (iii) uma coleção de informações psicológicas que se acumulam em uma nova disciplina científica, destarte, a psicanálise apresenta-se como um campo da diversidade. Sua multiplicidade transcende na contemporaneidade, necessitando de um aporte clínico e questionador dos processos psíquicos inconscientes.

Parece plausível admitir que, embora existam diferenças em razão de suas concepções nosológicas e técnicas, se faz necessário delinear como essa diversidade se apresenta na literatura científica, e quais são suas contribuições teóricas e práticas (Campezatto, Nunes, & Silva, 2014; Jank, 2018). Dessa feita, a presente pesquisa objetiva analisar as características da produção científica brasileira no contexto psicanalítico ao longo de 15 anos de publicações, sendo estas provenientes de nove periódicos científicos, utilizando por base os critérios da metaciência. Com essa premissa, pretende-se oferecer um breve panorama da complexidade e vastidão do campo de investigação inaugurados por Freud (1923-1922/1996), apresentando uma visão geral dessas publicações que reivindicam sua afiliação à psicanálise, mas que se encontram em periódicos brasileiros com escopo mais amplo (Kessler & Bessa, 2017; Lang & Barbosa, 2012; Poli, 2008; Ravanello, Machado, Martinez, & Nabarrete, 2016).

A revisão de literatura de uma determinada área permite mapear de que forma esse conhecimento vem sendo construído e disseminado, bem como auxilia na compreensão de como determinados segmentos científicos vem se delineando com o passar dos anos (Lustoza, Oliveira, & Mello, 2010; Suehiro, Benfica, & Cardim, 2015). Nesse tipo de análise, é possível averiguar, por meio de repositórios disponíveis on-line, onde se concentra a produção científica acerca da área analisada, como se organizam as instituições de pós-graduação e seus pesquisadores. Com isso, há como se planejar políticas, inclusive que possam fomentar a pesquisa em alguns dos indicadores considerados deficitários (Polydoro, Oliveira, Mercuri, & Santos, 2016).

Segundo Witter (1999), quanto mais rápido e diversificado é o desenvolvimento de uma área, maior a necessidade de pesquisas de análise de produção científica. Além disso, os critérios da metaciência empreendidos nas revisões permitem analisar a qualidade e efetividade do conhecimento produzido, bem como suas necessidades e limitações a partir de dimensões abrangentes e, ao mesmo tempo, pontuais. Dessa feita, ao considerarmos que as pesquisas voltadas ao aporte psicanalítico podem auxiliar na compreensão dos inúmeros fatores envolvidos no processo e no progresso dos pacientes, nota-se que investigações de revisão de literatura auxiliam na compreensão dos alcances e limitações enfrentados no desafio de conjugar a complexidade e subjetividade da técnica psicanalítica com a objetividade que é exigida cientificamente, conforme destacam Cunha, Cecílio, Scorsolini-Comin e Santos (2016).

Acerca do tema, nota-se haver variados estudos que preconizaram a realização de análise sistemática da produção científica no campo da psicanálise (Lustoza et al., 2010; Molina & Fabriani, 2014; Nardi, Serralta, & Benetti, 2016; Pimentel, Araújo, & Vieira, 2009; Porcino, Silva, & Coelho, 2017; Silva & Donelli, 2016; Silva, Gasparetto, & Campezatto, 2015; Teixeira, 2011; Witter, 2008; Zaslavsky, Nunes, & Eizirik, 2003). Buscando elucidar os aspectos até então abarcados no campo psicanalítico, a seguir, será feita uma breve descrição dos objetivos e resultados de cada um desses estudos, em ordem cronológica.

Com enfoque na formação em psicanálise, Zaslavsky et al. (2003) revisaram a literatura acerca da supervisão psicanalítica publicada em periódicos indexados em bases de dados MEDLINE, Jourlit, LILACS, e Psycholit, com consultas a livros e revistas não indexadas. Os achados evidenciam uma diversidade de autores que versam sobre a temática buscando tornar o conhecimento acerca do processo de supervisão mais estruturado.

Witter (2008), por sua vez, analisou a produção de trabalhos sobre o ensino de psicanálise, por meio do Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O resultado evidenciou 200 referências com enfoque psicanalítico, sendo que apenas 12 trabalhos tratavam do ensino e oito deles eram de mestrado. Essas pesquisas localizavam-se em programas de pós-graduação de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A autora discutiu, a partir dos achados, a pouca atenção dada ao tema do ensino de Psicanálise e o enfoque predominantemente teórico, sendo problematizada, assim, a importância de um maior aprofundamento, no que se refere a que, a como, a quanto e quando ensinar psicanálise no meio universitário.

Pimentel et al. (2009) investigaram o tema do final da análise empreendendo uma revisão sistemática dos artigos publicados na revista Estudos de Psicanálise, entre os anos de 1969 e 2009. Os autores tiveram como foco o material divulgado em apenas um periódico, publicação oficial do Círculo Brasileiro de Psicanálise, já que buscavam compreender o que os psicanalistas desta instituição pensavam sobre o tema. Dos 17 artigos incluídos na revisão, os resultados demonstraram a problematização da existência de um final de análise, a eficácia da psicanálise, destinos da pulsão, castração, ética do desejo, entre outros.

Por sua vez, Lustoza et al. (2010) analisaram a produção científica em psicanálise em seis periódicos científicos, a saber, Psicologia: Reflexão e Crítica, Psicologia: Teoria e Pesquisa, Psicologia em Estudo (Maringá), Psico-USF, Estudos de Psicologia (Natal) e Ágora - Estudos em Teoria Psicanalítica, entre os anos de 2002 e 2009. A análise foi baseada em critérios da metaciência, como: autoria, temática, discurso e análise dos tipos de recursos. Para as autoras, mediante os resultados, evidenciou-se que a produção científica em Psicanálise não condiz com a grande representatividade clínica que a área tem no campo da psicologia. Entre os estudos aqui citados, cabe destacar que este, ao que parece, visou abarcar a análise da produção científica de modo mais abrangente, ou seja, incluiu todas as áreas de atuação/pesquisa nas quais a psicanálise se insere, e não temáticas específicas de viés psicanalítico.

Teixeira (2011)efetuou uma revisão da literatura acerca da relação entre as dificuldades de ensinar e a criatividade, partindo das contribuições de Freud e Winnicott. Nesse estudo, foram priorizados os trabalhos disponíveis no Banco de Teses e Dissertações da CAPES, publicados entre os anos de 1999 e 2009. O resultado foi a contabilização de 45 pesquisas, sendo 11 teses e 34 dissertações sobre a temática, havendo uma predominância da visão lacaniana como base teórica das pesquisas revisadas, sem menções a autores como Freud e Winnicott.

Na pesquisa realizada por Molina e Fabriani (2014), os autores empregaram uma revisão sistemática da literatura acerca da transferência e contratransferência mapeando artigos publicados entre os anos de 2000 e 2010 no Portal Periódicos CAPES. Foram recuperados 76 artigos sobre transferência e 34 artigos sobre contratransferência, de modo que os resultados das análises apontaram que ambos os termos são centrais e amplamente utilizados até os dias atuais nas reflexões das diversas escolas psicanalíticas.

Já Silva et al. (2015) buscaram discutir as semelhanças e divergências entre a psicoterapia psicanalítica e o tratamento psicanalítico, tendo revisado a literatura publicada até 2011 nas bases de dados PsycINFO e MEDLINE, além de livros que versavam sobre o tema. A partir dos resultados, os autores destacaram que os critérios de diferenciação entre psicanálise e psicoterapia psicanalítica foram se modificando ao longo dos anos, acompanhando as diversas mudanças no contexto psicanalítico e na cultura. Ademais, apontaram, também, a complexidade da temática, indicando não haver consenso sobre as convergências e divergências de ambas as práticas.

Os autores Nardi et al. (2016) mapearam o uso do Psychotherapy Process Q-Set (PQS) para pesquisas de processo na psicoterapia psicanalítica. A revisão sistemática empreendida incluiu as bases de dados Web of Science, PubMed, PsycARTICLES e PsycINFO, englobando o período de 2009 a 2015. Notaram que os estudos que fazem uso desse instrumento concentram-se nos Estados Unidos, sendo utilizado também em países da Europa e América Latina. Com base nos achados, concluiu-se que o Psychotherapy Process Q-Set (PQS) é um recurso para avaliação do processo na clínica psicanalítica no Brasil, haja vista estar disponível e adaptado para a realidade nacional.

Sobre a psicanálise e áreas afins, Silva e Donelli (2016) investigaram a interlocução entre a depressão e a maternidade a partir do enfoque da psicanálise. Para tanto realizaram uma revisão sistemática da literatura nacional que abrangeu as bases de dados SciELO, LILACS, BVS, BVS-Psi, Google Acadêmico e Portal Periódicos CAPES entre os anos de 2004 a 2014, incluindo artigos, dissertações e teses, em um total de 37 trabalhos. Os dados encontrados apontaram para a escassez de pesquisas empíricas, das quais a maioria se configurava como estudos de caráter qualitativo, com ênfase nos estudos de caso, concluindo-se que a depressão materna se apresenta como um tema pouco investigado empiricamente a partir do referencial psicanalítico.

Por fim, no estudo de Porcino et al. (2017), os autores analisaram como a pesquisa em psicanálise na universidade está organizada no Brasil, tendo realizado um mapeamento dos grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que fizessem o uso do descritor "psicanálise". Evidenciou-se nos resultados que a temática se faz presente de forma mais intensa nas instituições públicas de ensino superior, com um número maior de mulheres liderando os grupos, que estavam localizados de forma mais expressiva nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul do país.

A partir do que fora exposto, é possível mensurar a diversidade de conceitos no campo psicanalítico empregados nos moldes de revisão de literatura, tais como a temática da supervisão clínica, o ensino de psicanálise, o fim da análise, a transferência e a contratransferência, as diferenciações e aproximações entre psicoterapia e tratamento psicanalítico, entre outros. Constata-se ainda a incipiência de estudos com foco específico no mapeamento da produção em psicanálise, com ênfase naquelas pesquisas que buscaram investigar aspectos concernentes à clínica psicanalítica ou acerca de temas afins, como a depressão e a maternidade, por exemplo (Silva & Donelli, 2016). Contudo, ressalta-se que tal fato não deve servir para desestimular o levantamento das produções na área. A multiplicidade de vertentes encoraja justamente a estruturá-las de forma sistemática, buscando elencar suas contribuições e o que vem sendo empregado em termos teóricos e práticos ao longo dos anos.

Dessa feita, objetivou-se no presente estudo analisar, por meio dos indicadores da metaciência, as características da produção científica no contexto psicanalítico em periódicos com escopo mais amplo, focando em 15 anos de publicações. Buscou-se ainda estabelecer uma articulação entre os postulados oriundos da psicanálise e o percurso científico construído ao longo dos anos nesse campo, identificando, assim, a possibilidade de crescimento nas publicações que versam sobre a referida temática.

 

Método

Estratégias de busca

Foram recuperados artigos provenientes de nove periódicos científicos na área de psicologia de diferentes estados do Brasil, sendo eles: Psicologia: Reflexão e Crítica (Rio Grande do Sul), Psicologia em Estudo (Maringá/Paraná), Psico-USF (São Paulo), Estudos de Psicologia (Natal/Rio Grande do Norte), PAIDÉIA (São Paulo), Avaliação Psicológica (São Paulo), Psicologia-USP (São Paulo), PSICO (Rio Grande do Sul) e Estudos e Pesquisas em Psicologia (Rio de Janeiro). A busca foi realizada por todos os quatro autores do referido artigo, nos meses de janeiro a março de 2019.

 

Critérios de elegibilidade

Periódicos

Primeiramente, a escolha pelos periódicos deveu-se ao fato de estes representarem diferentes estados do Brasil e não terem em seu escopo a especificidade da psicanálise, haja vista que o objetivo do estudo em questão era analisar as características da produção científica no contexto psicanalítico em periódicos com escopo mais amplo, além disso, outro critério para a escolha foi a avalição destes pela CAPES, devendo ter Qualis A1 e A2. A escolha pelo Qualis deveu-se porque os periódicos apresentarem importantes especificidades no que se refere a critérios robustos de qualidade na disseminação do conhecimento científico. Segundo o documento de área da psicologia (ver CAPES, 2017), para uma revista receber a classificação A1 necessita apresentar indexações no Institute for Scientific Informaticon (ISI) e no PsycINFO, publicação por associação científica, tendo reconhecimento internacional e possibilidade de se efetivar como referência internacional para a área. No caso do estrato de classificação A2, faz-se necessária a indexação no ISI ou nos três IBDs (PsycINFO, Scopus e SciELO) ou figurar em dois de três IBDs (PsycINFO, Scopus e SciELO) e estar em quatro ou mais IBDs, sendo eles Clase, Latindex, LILACS, Psicodoc, Pascal ou Redalyc, além de apresentar atualização dos seus números, bem como periodicidade mínima quadrimestral. Como limite temporal, estipulou-se o período de 15 anos (2004 a 2018), assim as coleções dos periódicos deveriam estar o mais completas possível nos anos analisados e disponíveis on-line.

 

Publicações

No que tange às publicações, estas deveriam pertencer à categoria artigos científicos e conter expresso no título, resumo e/ou palavras-chave que o texto se referia ao contexto da psicanálise, sendo essa menção feita por meio de conceitos e/ou obras e/ou autores, inequivocamente oriundos dessa perspectiva. Foram excluídas outras publicações, tais como editoriais, resenhas, edições especiais fora da temática, além dos artigos que não contemplavam a temática em questão.

 

Seleção e processos de coleta de dados

Após a consulta aos periódicos previamente selecionados, foram identificados os artigos que atendiam aos critérios escolhidos para posterior análise. Para tanto, os títulos, resumos e palavras-chave foram lidos, sendo excluídos os que não contemplavam o que fora previamente estabelecido. Identificados os artigos que atendiam aos critérios de elegibilidade, recorreu-se a Witter (1999) para se construir os critérios de análise com base na metaciência. Foram elencados os seguintes aspectos: a) autoria, b) temática, c) discurso, d) análise dos recursos. Em autoria, buscou-se analisar a natureza desta (individual ou múltipla), o gênero dos autores, a proveniência das instituições dos autores (pública, privada, ambas) e região à qual estes pertenciam (contendo, além das regiões do Brasil, as subcategorias: estados, internacional e nacional + internacional). Em temática, focou-se na seguinte distribuição: estudo de caso, psicanálise e outros saberes, análise de construto psicanalítico, estudo de/com testes psicológicos, análise da cultura a partir da psicanálise, história da psicanálise e análise da produção científica; e teóricos oriundos da psicanálise (diversos autores elencados, conforme a frequência em que apareceram nos resumos). No critério discurso, foi investigada a natureza dos estudos, se eram teóricos ou empíricos. Por fim, em análise dos recursos, identificou-se, entre os artigos advindos de pesquisas empíricas, a classificação do tipo de recurso/instrumento empregado.

 

Resultados

A consulta aos nove periódicos selecionados de acordo com o período estipulado (2004 a 2018) ocasionou em um número de 5.786 artigos. Mediante a aplicação das estratégias de busca anteriormente mencionadas, foram selecionados 654 artigos. A Figura 1 apresenta a síntese do processo de seleção e, na sequência, a Tabela 1 identifica os resultados inerentes a cada periódico de acordo com o ano analisado e suas respectivas publicações em psicanálise. Vale ressaltar que sempre se levou em consideração o total de artigos analisados.

Figura 1. Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para revisão de literatura sobre a produção científica em psicanálise

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Tabela 1. Distribuição da publicação sobre psicanálise por periódico científico

 

Anos

 

 

Periódico

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

Total por periódico

%

1

1

5

5

6

2

3

3

7

4

1

2

-

-

-

-

39

6,0

2

3

7

5

7

6

6

9

11

27

8

4

9

10

7

10

129

19,7

3

1

-

3

-

1

3

4

3

5

5

4

4

4

-

2

39

6,0

4

2

5

2

5

1

2

3

3

1

3

1

-

-

-

-

28

4,3

5

3

1

4

3

4

6

7

10

7

2

4

2

4

3

1

61

9,3

6

-

-

-

-

2

1

1

-

9

2

3

2

3

2

3

28

4,3

7

17

3

2

6

7

5

14

9

18

14

9

18

21

21

26

190

29,1

8

NA

1

4

4

6

13

4

6

2

4

5

1

3

1

4

58

8,9

9

1

1

-

8

13

6

6

2

3

8

5

7

2

12

8

82

12,5

Total por ano

28

23

25

39

42

45

51

51

76

47

37

43

47

46

54

654

100

Nota. 1. Psicologia: Reflexão e Crítica. 2. Psicologia em Estudo (Maringá). 3. Psico-USF. 4).Estudos de Psicologia (Natal). 5. PAIDÉIA. 6. Avaliação Psicológica. 7. Psicologia-USP. 8. PSICO. 9. Estudos e Pesquisa em Psicologia-Uerj. NA = não apresenta.
Fonte: Elaborada pelas autoras.

Na Tabela 1, é possível observar que o total de artigos que se referiam ao contexto psicanalítico foi de 654. O periódico Psicologia-USP teve o maior número de publicações em psicanálise (n = 190), representando 29,1%. Na sequência, tem-se o periódico Psicologia em Estudo - Maringá (n = 129), com 19,7% das publicações analisadas. Em contrapartida, os dois com menor incidência de artigos publicados no contexto psicanalítico foram os periódicos Estudos de Psicologia (Natal) e Avaliação Psicológica, ambos com 4,3% de publicações (n = 28).

Em relação ao critério autoria, os resultados indicaram que 55,0% (n = 425) eram de autoria múltipla, enquanto 35,0% (n = 229) eram de autoria individual. O percentual do gênero feminino representou 46,8% (n = 306) da amostra e o masculino 24,5% (n = 160), sendo que 28,7% (n = 188) dos artigos analisados foram desenvolvidos, respectivamente, por pesquisadores de gêneros distintos. Ressalta-se que na dúvida em relação ao gênero por ocasião do nome, este fora pesquisado na Plataforma Lattes para conferência. Os artigos oriundos de autores de instituições públicas representaram 61,8% (n = 404) e os de instituições privada 27,1% (n = 177), além disso, observou-se que 11,2 (n = 73) diziam respeito a pesquisas resultantes de participação de autores nas duas modalidades de instituições aferidas.

O mapeamento das produções da área por regiões brasileiras, bem como sua proveniência internacional, também foi realizado, sendo possível observar que a maior concentração de artigos ficou nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, respectivamente. A representação dos estados ficou assim distribuída: Sudeste (56,6%, n = 370), Sul (17,1%, n = 111), Nacional + Internacional (7,5%, n = 49), entre estados (7,2%, n = 47), Nordeste e Centro-Oeste (4,4%, n = 29) e Norte (1,8%, n = 12).

No que concerne ao critério temática, a Tabela 2 apresenta os resultados das categorias analisadas e sua concernente distribuição de frequência. Ressalta-se que as categorias foram criadas a posteriori, a partir do foco de interesse do conjunto de publicações encontradas, e não estabelecidas previamente pelas autoras. Assim, a cada nova categoria que supostamente se apresentava, sua inserção era discutida e analisada em conjunto. A Tabela 3 se refere à distribuição da frequência dos artigos de acordo com o teórico estudado. A classificação fora realizada de acordo com as informações contidas exclusivamente no resumo, título e/ou palavras-chave dos artigos. Além disso, a categoria "Não deixa claro/não se aplica" foi criada com o intuito de abarcar as publicações concernentes à psicanálise, mas que não deixam claro no resumo, título e/ou palavras-chave o autor e/ou o referencial teórico utilizado, mas fazem uso de termos e nomenclaturas inerentes à psicanálise. Por fim, a categoria outros teóricos refere-se àqueles que aparecerem com menor frequência.

Tabela 2. Distribuição da frequência dos artigos de acordo com a temática (n=654)

Categorias

F

%

Psicanálise e outros saberes

202

30,9

Análise de construto psicanalítico

198

30,3

Estudo de caso

86

13,1

Estudo de/com testes psicológicos

81

12,4

Análise da cultura a partir da psicanálise

53

8,1

Análise da produção científica

19

2,9

História da psicanálise

15

2,3

Total

654

100%

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Pode-se observar, mediante os dados da Tabela 2, que Psicanálise e outros saberes (n = 202), representando 30,9%, e Análise de construto psicanalítico (n = 198), com 30,3%, foram as categorias com maior concentração de artigos. Em contrapartida, as categorias Análise da produção científica (n = 19), representando 2,9%, e História da psicanálise (n = 15), com 2,3%, foram as de menor incidência de publicações.

Tabela 3. Distribuição da frequência dos artigos de acordo com o teórico (n=654)

Teórico

F

%

Freud

122

18,7

Freud e Lacan

99

15,1

Lacan

69

10,6

Winnicott

55

8,4

Laplanche

30

4,6

Ferenczi

11

1,7

Bowlby

10

1,5

M. Klein

7

1,1

Não deixa claro/não se aplica

155

23,7

Outros teóricos*

94

14,7

Total

654

100%

Nota. *refere-se a teóricos que aparecerem com uma frequência menor que 5 vezes.
Fonte: Elaborada pelas autoras.

Observou-se na Tabela 3 Freud (n = 122) como o teórico mais referenciado, representando 18,7%, seguido por artigos que faziam referência a Freud e Lacan (n = 99), com 15,1%. No entanto, a categoria com resultado mais elevado foi a Não deixa claro/não se aplica (n = 155), representando 23,7%, criada para abarcar os artigos que não deixam claro no resumo, título e/ ou palavras-chave o autor e/ou o referencial teórico utilizado. Ademais, a categoria outros teóricos (n = 94), representando 14,7% das publicações, evidencia aqueles autores citados com menor incidência, tais como Dolto, Kaës, Balint, Bowlby, Benghozi, Abraham, Green, Aberastury e Miller.

Em relação ao critério análise do discurso, quanto à natureza do trabalho, observou-se que 60,2% (n = 394) eram artigos focados na perspectiva teórica, enquanto 39,8% (n = 260) referiam-se a publicações predominantemente com ênfase na prática. Ademais, a Tabela 4 indica os resultados acerca do critério análise dos recursos,que tem por foco identificar aqueles utilizados nos artigos que retrataram pesquisas empíricas. Ressalta-se que os recursos apresentados foram os encontrados mediante as análises dos resumos e não estabelecidos previamente pelas autoras.

Tabela 4. Análise dos tipos de recursos empregados em artigos advindos de pesquisas empíricas (n=260)

Recursos

F

%

Recursos fatoriais

11

4,2

Questionários

10

3,8

Entrevistas

72

27,7

Roteiros

2

0,8

Observação

21

8,1

Testes projetivos

79

30,4

Vários ao mesmo tempo

37

14,2

Outros recursos

28

10,8

Total

260

100%

Fonte: Elaborada pelas autoras.

A partir da Tabela 4, verificou-se que, nos artigos advindos de pesquisas empíricas, o recurso empregado com mais frequência foi o de Testes projetivos (n = 79), representando 30,4% do total. Na sequência, foram as Entrevistas (n = 72), com 27,2% dos casos. Em oposição, os recursos menos utilizados foram Questionários (n = 10), representando 3,8%, e Roteiros (n = 2), com 0,8% de ocorrência. Apesar de não ser o objetivo do presente estudo, foram levantados qualitativamente os instrumentos empregados nas pesquisas práticas que fizeram uso de recursos fatoriais e testes projetivos, sendo eles: Desenho-Estória, Desenho-Estória com Tema, Teste das Fábulas, Desenho da Figura Humana (DFH), Teste de Apercepção Temática (TAT), Teste de Apercepção Temática Infantil forma Animal (CAT-A), As pirâmides coloridas de Pfister, Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp, Inventário Beck de depressão, Psychotherapy Process Q-Set (PQS), Teste de Wartegg, Teste de Rorschach e Teste de Zulliger. Ressalta-se que esses dois últimos foram os de maior incidência.

 

Discussão

Ao se considerar os 5.786 artigos identificados nos nove periódicos em uma lacuna temporal de 15 anos (2004 a 2018), observou-se que 654 tinham o escopo da psicanálise. Tendo em vista que todos os periódicos analisados não tinham como foco o campo psicanalítico, tal como acontece com outras revistas situadas nos estratos A1 e A2 do Qualis 2013-2016, como a Ágora, Fractal, Psicologia Clínica, entre outras, mas sim vertentes mais gerais, tem-se uma quantidade considerável de artigos que permeiam esse campo. Contudo, tal número não condiz com a grande representatividade da área da psicanálise no cenário da psicologia, sendo esperado que houvesse mais publicações ao longo dos anos e periódicos analisados, especialmente tendo em vista a extensão do período analisado, que abarcou 15 anos de produção.

O resultado descrito vai ao encontro dos achados de Lustoza et al. (2010), cuja revisão realizada entre os anos de 2002 e 2009 evidenciou um panorama análogo, com um número de publicações inferior ao esperado para a diversidade e multiplicidade de vertentes teóricas e práticas de atuação. De modo semelhante, Nardi et al. (2016) evidenciam que a abordagem psicanalítica ainda tem pouca evidência nas pesquisas científicas, cenário que pode ser modificado a partir de esforços conjuntos para publicação sobre os aspectos teóricos e práticos concernentes à técnica em questão.

Deve-se levar em consideração que um dos motivos para esses números seria a prevalência da divulgação dos estudos de psicanálise em escolas psicanalíticas, podendo-se pressupor a existência de produções de boa qualidade que circulam exclusivamente nesses círculos, mas que poderiam ser divulgados em periódicos científicos indexados, contribuindo para a propagação desse conhecimento de maneira mais ampla. Conforme destaca Sampaio (2008), a disseminação do conhecimento científico é dever de todo cientista para com a sociedade, gerando visibilidade aos conhecimentos obtidos e possibilitando que estes sejam compartilhados.

Há que se considerar ainda a oscilação na quantidade das publicações ao longo dos anos analisados, havendo um aumento sobrepujante de 2004 até 2012, com certo declínio após esse período. Esse resultado vai ao encontro, até certa medida, com o estudo de Lustoza et al. (2010), cuja análise da produção em psicanálise entre os anos de 2002 e 2009 também evidenciou um aumento. Assim, constata-se que um amadurecimento progressivo das publicações tem se efetivado ao longo dos anos analisados, o que, segundo Nardi et al. (2016), se deve também aos esforços realizados na última década para operacionalizar os conceitos psicanalíticos em produções científicas.

Hipotetiza-se ainda que as mudanças no Sistema Compreensivo do Método de Rorschach (Meyer, Erard, Erdberg, Mihura, & Viglione, 2011), realizadas no ano de 2011, possam estar associadas ao aumento da produção científica entre os anos de 2011 e 2012, visto que os testes projetivos foram o principal recurso utilizado nos artigos analisados. No entanto, tal dado precisa ser visto com cautela, haja vista a incipiência de estudos até o momento que possam embasar a hipótese sugerida.

No que tange ao critério autoria, houve predomínio no gênero feminino em publicações científicas em psicanálise. Além disso, evidenciou-se um acentuado número de artigos referentes às instituições públicas e a predominância de publicações nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Todos esses dados corroboram com os achados de Lustoza et al. (2010) e Polydoro et al. (2016), que ressaltam, ainda, em relação ao último resultado, o fato de grande parte dos programas de pós-graduação stricto sensu pertencerem às regiões em questão, recebendo, assim, mais incentivos financeiros das agências de fomento. A predominância de mulheres e da psicanálise em instituições públicas foi também constatada por Porcino et al. (2017) em um mapeamento dos grupos de pesquisa em psicanálise cadastrados no CNPq. Em contrapartida, enquanto no estudo de Lustoza et al. (2010) foi verificada maior incidência de autoria individual, no presente estudo sobressaiu-se a autoria múltipla, o que indica um aumento de publicações feitas por autores em conjunto nos últimos anos.

Em relação ao critério temática, evidenciou-se que as categorias com maior concentração de artigos foram psicanálise e outros saberes e análise de construto psicanalítico. Em outros saberes, têm-se temas como a educação, questões de gênero, parentalidade e conjugalidade, depressão, religião, morte, obesidade infantil, entre outros. Temas esses considerados, ao mesmo tempo, elementares e contemporâneos, com os quais a psicanálise tem um diálogo profícuo, pois, conforme aponta Dunker (2016), o que há de mais radical na psicanálise é o fato de ela ser atualizável, justamente porque desde sempre esteve na aurora da modernidade. Além disso, houve uma preponderância de artigos teóricos, o que pode estar relacionado com o alto índice de artigos com enfoque na análise de construtos psicanalíticos. O estudo de Molina e Fabriani (2014) é um exemplo desse fato, em que os autores analisaram a produção científica de dois construtos oriundos da teoria psicanalítica, a saber: a transferência e contratransferência.

Ainda sobre os artigos teóricos, pondera-se que possam ser um empecilho para a publicação, haja vista que muitas revistas dão preferência a análises de pesquisas empíricas. No entanto, esse fato apresenta-se apenas como hipótese, não significando que as revistas participantes da análise tenham tal preferência. Compreende-se, ademais, que tal circunstância possa estar associada às críticas feitas quanto à presença da psicanálise na universidade, que questionam o que pode ser desenvolvido nesse contexto e apontam para a possibilidade do desenvolvimento de estudos teóricos por parte de investigadores que não tenham percorrido o caminho da formação psicanalítica (Kessler & Bessa, 2017).

Apesar da preponderância de artigos teóricos, ressalta-se que a baixa representatividade da análise da produção científica vem reafirmar a problemática inicialmente levantada neste estudo, sobre a incipiência desse tipo de produção no campo da psicanálise. Conforme exposto por Suehiro et al. (2015), a análise de uma área auxilia no mapeamento do que vem sendo produzido e na compreensão de como determinados segmentos científicos vêm sendo abordados ao longo dos anos. Assim, no que tange ao aporte psicanalítico, os artigos de revisão vêm a contribuir para o entendimento dos alcances e limitações dessa prática, conjugando a complexidade desse campo, tornando-se indispensáveis cientificamente (Cunha et al., 2016).

Em relação aos teóricos, Freud destacou-se como o autor mais citado, seguido por Freud e Lacan e, na sequência, os demais autores pós-freudianos. Além disso, a categoria outros teóricos tem destaque com o agrupamento de autores mais contemporâneos que versam sobre a temática. A esse respeito, Jank (2018) evidencia que o movimento exponencial característico do pós-freudismo contribuiu para a multiplicação de conceitos e escolas que foram disseminadas ao longo do tempo. Segundo a autora, os pós-freudianos renovaram a teoria com base em suas próprias experiências clínicas, trazendo importantes contribuições ao referencial teórico da psicanálise. Com base no exposto, já era esperado que o resultado mais expressivo fosse em relação a Freud, posto que tal autor fundou a psicanálise. Ademais, o segundo teórico mais pontuado juntamente com Freud foi Lacan, resultado que corrobora o estudo de Teixeira (2011), que observou que a psicanálise lacaniana referenciou a maioria das pesquisas que teceram uma interlocução entre psicanálise e criatividade na educação.

No entanto, cabe destacar a expressividade da categoria de artigos que não deixaram claro o autor e/ou o referencial teórico utilizado. A esse respeito, ressalta-se a importância de que o resumo dos trabalhos dê indícios que complementem o título, sejam claros acerca do referencial teórico utilizado, tendo em vista que essa ferramenta é o primeiro contato do leitor com o texto e possibilita a recuperação de informações importantes de forma rápida (Volpato, 2015).

Por fim, no que tange aos tipos de recursos e instrumentos empregados, verificou-se um predomínio das categorias denominadas Testes Projetivos e Entrevistas. Apesar do uso dos testes projetivos não estar restrito à psicanálise, nota-se que esse referencial tem uma ligação histórica, no que se refere à criação de vários desses instrumentos (Miguel, 2014). Em relação às entrevistas, estas podem ser consideradas como parte imprescindível do método psicanalítico, por meio da qual é disponibilizado o espaço de fala e escuta, a fim de detectar os sintomas, fazer o diagnóstico e trabalhar a transferência (Carneiro, Pena, & Cardoso, 2016).

Vale ressaltar que as entrevistas, juntamente com roteiros, observações e questionários fazem parte da metodologia de investigação qualitativa, bastante presente nas pesquisas empíricas em psicologia. Essa modalidade caracteriza-se como um processo de interpretação e compreensão, não se contentando com a simples explicação das realidades, buscando explorar a subjetividade na produção do conhecimento, incluindo o sujeito participante da pesquisa e o sujeito pesquisador (Araújo, Lopes de Oliveira, & Rossato, 2017). Entende-se ainda que o uso desses recursos, juntamente com os fatoriais, pode ocorrer como tentativa de ajustamento para entrada dessas pesquisas em periódicos científicos mais qualificados, tendo em vista que grande parte deles demanda o uso de tais recursos para publicação. Sendo assim, a adaptação do tipo de estudo por meio de métodos empíricos poderia ser uma forma de efetivar a publicação das pesquisas (Campezatto et al., 2014).

Em face do exposto, verifica-se que o presente estudo conseguiu empreender o que se propôs, ao analisar as características da produção científica no contexto psicanalítico, por meio dos critérios da metaciência em periódicos com escopo mais amplo e estabelecer uma articulação entre os postulados oriundos da psicanálise e o percurso científico construído ao longo dos anos nesse campo. Constata-se ainda a necessidade de futuras investigações acerca da temática, devido à relevância para a compreensão dos alcances e entraves da produção em psicanálise e, ainda, devido às limitações do presente estudo.

Entre as limitações, aponta-se para a leitura exclusivamente dos resumos, títulos e palavras-chave dos artigos, o que pode ter contribuído para o elevado número de produções em que não foi possível detectar a filiação teórica. Assim, em um estudo futuro seria interessante a leitura na íntegra do material. Ademais, sugere-se como agenda futura a inserção de outros periódicos na busca, sobretudo com diferentes avaliações de Qualis pela CAPES, a fim de contribuir com um mapeamento ainda mais amplo das publicações em psicanálise.

 

 

Referências

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*Doutoranda Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade São Francisco. Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Londrina. Especialista em Clínica Psicanalítica. Psicóloga. Professora Assistente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina.
**Pós-doutorado em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Doutora e mestra em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Psicóloga. Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina.
***Doutora em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp. Mestra em Psicologia pelo Programa de Estudos de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Psicóloga. Professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, ambos da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista Produtividade Nível 2/CNPq.
****Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina na área de Avaliação Psicológica e Processos Clínicos. Psicóloga.

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