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Analytica: Revista de Psicanálise

versión On-line ISSN 2316-5197

Analytica vol.11 no.20 São João del Rei ene./jun. 2022

 

RESENHA

 

As patologias do ato e o supereu na contemporaneidade

 

The Pathologies of the Act and the Superego in Contemporary

 

Les pathologies de l'acte et le surmoi dans la contemporanéité

 

Las patologías del acto y el superyó en la actualidad

 

 

Rebeca Espinosa Cruz Amaral*

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Brasil

 

 


RESUMO

As patologias atualmente descritas como patologias do excesso ou do ato têm sido cada vez mais notáveis na clínica psicanalítica, exigindo dos analistas na contemporaneidade um debruçar-se sobre essa temática em prol da construção de aportes teóricos e de orientações clínicas a respeito destas. Tal é a tarefa que executa com afinco e primor o autor do livro aqui resenhado, no qual se dedica a pensar as experiências impulsivas e as chamadas experiências-limite no modo como estas se articulam psiquicamente na atualidade e quais suas implicações com a instância superegoica a partir do conceito cunhado anteriormente por ele de desmentido da privação. Por meio de uma profunda pesquisa que compreende uma revisão bibliográfica extensa das obras de Freud e Lacan e a discussão com autores do cenário contemporâneo, o autor nos traz, então, contribuições de suma importância que são imprescindíveis para o cenário psicanalítico atual e que nos levam a refletir, por fim, sobre nossa prática clínica.

Palavras-chave: Supereu, Ato, Privação, Contemporaneidade.


ABSTRACT

The pathologies currently described as excess pathologies or act pathologies have been increasingly notable in psychoanalytic clinic, requiring of the contemporary analysts to address this issue in favor of building theoretical contributions and clinical guidelines regarding of these. This is the task that the author of the book reviewed here diligently and carefully performs. In his book, he dedicates himself to thinking about the impulsive experiences and the so-called limit experiences in the way they are psychically articulated today and what are their implications with the superegoic instance a from the concept he previously coined of denying deprivation. Through in-depth research that includes an extensive bibliographic review of the works of Freud and Lacan and the discussion with authors from the contemporary scene, the author brings us, therefore, extremely important contributions that are essential for the current psychoanalytic scenario and that lead us to finally reflect on our clinical practice.

Keywords: Superego, Act, Deprivation, Contemporary.


RÉSUMÉ

Les pathologies actuellement qualifiées de pathologies de l'excès ou de l'acte sont de plus en plus remarquées dans la clinique psychanalytique, obligeant les analystes contemporains à se pencher sur ce thème afin de construire à leur sujet des apports théoriques et des recommandations cliniques. Telle est la tâche que l'auteur du livre passé en revue ici, dans lequel il se consacre à la réflexion sur les expériences impulsives et les soi-disant expériences-limites, s'acquitte avec diligence et perfection dans la manière dont elles sont aujourd'hui articulées psychiquement et quelles en sont les implications. pour que l'instance surmoïque provienne du concept précédemment inventé par lui de déni de privation. À travers une recherche approfondie qui comprend une revue bibliographique approfondie des œuvres de Freud et de Lacan et la discussion avec des auteurs du scénario contemporain, l'auteur nous apporte donc des contributions d'une importance primordiale qui sont essentielles pour le scénario psychanalytique actuel et qui nous conduisent pour Enfin, réfléchir sur notre pratique clinique.

Mots-clés: Surmoi, Acte, Privation, Contemporanéité.


RESUMEN

Las patologías descritas en la actualidad como patologías del exceso o del acto han cobrado cada vez más relevancia en la clínica psicoanalítica, requiriendo que los analistas contemporáneos aborden este tema en pro de la construcción de aportes teóricos y lineamientos clínicos sobre de estos. Tal es la tarea que realiza con diligencia y esmero el autor del libro aquí reseñado, en el que se dedica a reflexionar sobre las experiencias impulsivas y las llamadas experiencias límite en la forma en que se articulan psíquicamente hoy y cuáles son sus implicaciones con la instancia superyoica a del concepto que acuñó anteriormente de negar la privación. A través de una investigación en profundidad que incluye una extensa revisión bibliográfica de las obras de Freud y Lacan y la discusión con autores de la escena contemporánea, el autor nos trae, por tanto, aportes de suma importancia que son fundamentales para el escenario psicoanalítico actual y que nos llevan a reflexionar finalmente sobre nuestra práctica clínica.

Palabras claves: Superyo, Actuar, Privación, Contemporáneo.

 

 

Resenha de: Quintella, R. (2018). O supereu canibal: compulsão, impulsão e o desmentido da privação na atualidade. Curitiba: Appris.

Na clínica psicanalítica atual, tem sido cada vez mais notável como os sujeitos contemporâneos vêm apresentando com uma frequência cada vez maior a expressão do mal-estar e a descarga do sofrimento pela via do ato. Diversos autores têm refletido sobre essas patologias que frequentemente encontramos na literatura atual descritas como patologias do excesso, ou do ato. Um dos autores que traz essa concepção, por exemplo, é Birman (2003), que afirma que esse é um movimento da contemporaneidade, no qual em geral tem-se visto uma dificuldade em nomear os afetos que, então, se manifestam em ato. Outra autora de peso, Diana Rabinovich, também aborda essa problemática de maneira profunda em seu livro Clínica da pulsão: as impulsões (2004), utilizando-se deste termo - patologias do ato ou impulsões - para caracterizar modos de sofrimento evidenciados na clínica contemporânea.

Desde a fundação da psicanálise por Freud, sabemos como as manifestações sintomatológicas estão sempre relacionadas ao contexto social e cultural vigente, como o autor deixa claro em 1908/1996. Tal orientação é fundamental para que possamos pensar a respeito de nossa clínica atual e das patologias que nela vêm se apresentado pela forma como o sujeito contemporâneo tenta orientar seus modos de regulação do gozo, não mais submetido à ordem simbólica, e que tem desembocado em novos modos de sofrimento, como toxicomanias, experiências limites, depressão, escarificações, impulsões às drogas, aos alimentos, às mercadorias, ao jogo etc.

É no bojo dessas articulações que se situa, então, o livro de Quintella O supereu canibal: compulsão, impulsão e o desmentido da privação na atualidade (2018). Incitado clinicamente a refletir a respeito dos fenômenos de impulsão do ponto de vista da teorização psicanalítica, o autor parece guiar-se pela questão da pertinência do supereu na contemporaneidade, o qual, porém, se apresenta na atualidade de formas distintas daquelas que se apresentavam nos divãs de Freud e Lacan. E, para pensar a respeito disso, o faz introduzindo o conceito de desmentido da privação, cunhado por ele no artigo " O desmentido da privação na atualidade", escrito em 2016. Tal conceito é inovador no campo da psicanálise e relaciona-se à forma contemporânea como o sujeito situa a sua defesa diante da castração e a partir da evanescência do ideal do eu, sendo fundamental para as pesquisas teóricas no campo da psicanálise e para nossa orientação clínica como analistas hoje.

O livro de Quintella situa justamente a n ecessidade de um exame pormenorizado da função paterna na atualidade, tendo em vista a diversificação na forma como o laço social se constitui, e nas sintomatizações e modos de enfrentamento do mal-estar. Na linha de autores como Žižek, Lebrun, Miller, Giddens, entre outros, Quintella também afirma ser necessário pensar as formas de ligação na economia do gozo e seus imperativos atuais, situando essa problemática à fugacidade do ideal na relação com o gozo: para Quintella, isso confronta o sujeito com um supereu cada vez mais desatrelado do ideal do eu. O autor também evidencia que as "patologias do excesso", como formas de sofrimento contemporâneo, denotam modos distintos de desmentir a privação, e merecem ser mais profundamente investigadas para que se lance luz sobre a neurose na atualidade e o lugar da clínica psicanalítica diante das formas contemporâneas de gozo.

É, então, a essa tarefa que vemos o autor se dedicar com rigor em O supereu canibal: compulsão, impulsão e o desmentido da privação na atualidade, buscando averiguar a noção de privação em Lacan e sua relação com o ideal do eu, passando pela difícil discussão sobre o declínio do pai mediante uma rica análise das três formas de falta (castração, frustração e privação) e dos três tempos do Édipo, para pensar uma nova modalidade de defesa: um tipo específico de desmentido que aparece hoje, distinto do desmentido perverso, no que concerne à relação entre privação e castração, tal como fica demonstrado no livro. Quintella discorre profundamente sobre a relação entre esse desmentido da privação e o que ele denomina "supereu canibal", lançando luz à discussão tão controversa sobre a subjetividade contemporânea.

Enfatiza que para abordar sobre a ideia de declínio paterno e "falência do simbólico" é necessária uma análise rigorosa dos três tempos do Édipo. Ao demonstrar, com Lacan, que o simbólico é falho por estrutura, inconsistente, não se trata de problematizar a estrutura. O autor argumenta que a questão se acha localizada na passagem do segundo para o terceiro tempo do complexo de Édipo, em que o ideal do eu se constitui calcado na figura do pai privador. O enfraquecimento da ancoragem ideal se acharia então ligado ao declínio do pai onipotente (privador), que não atesta o valor da Ordem simbólica, inscrita no primeiro tempo: ainda que ela esteja inscrita na neurose, perde eficácia. Nesse sentido, pontua Quintella (2018, p. 154) que,

sendo a falha no simbólico constitutiva do sujeito, o que muda não é propriamente a estrutura do simbólico, mas a forma como se lida com a falha. Na modernidade era a instauração do ideal com seus alvos de contestação, sobrevindo o sintoma como metáfora do desejo; na contemporaneidade a falência da autoridade, sobrevindo a fugacidade do ideal na relação com o gozo.

O autor, vale destacar, traça esse caminho com primor, enfrentando o desafio de pensar o processo de subjetivação na atualidade por compreender que essa é uma tarefa da qual não devemos nos furtar, pois nos permitirá avançar sobre as questões que a clínica psicanalítica nos coloca atualmente, bem como tem implicações sociais, éticas e políticas.

Demonstrando ser fruto de uma profunda pesquisa, Quintella (2018) deixa claro que o objetivo de seu livro é pensar as experiências impulsivas e as chamadas experiências-limite no modo como estas se articulam psiquicamente na atualidade e quais suas implicações com a instância superegoica. Para isso, traça um caminho imprescindível, no qual, inicialmente, retoma as considerações psicanalíticas acerca do conceito de supereu, principalmente nas obras de Freud e Lacan. Em seguida, por meio da essencial discussão da relação entre o supereu, o ideal do eu e a privação, opera aberturas teóricas que visam ao estudo do supereu contemporâneo - o qual, segundo ele, se caracteriza por sua gulodice e faceta canibal para analisar as impulsões que se manifestam atualmente.

Nesse ponto, recorre à grande psicanalista argentina Diana Rabinovich (2004) em sua discussão a respeito dos conflitos que não mais são recalcados, mas exprimidos em ato. Tal autora afirma que no cerne das impulsões, como forma de sofrimento, evidencia-se o ato. Essas manifestações não implicam o desejo, o retorno do recalcado e o sentido do sintoma, mas extrapolam a organização fálica sem apoio no ideal do eu. Assim, Quintella (2018) assevera que tais atos se evidenciam hoje em casos em que o ideal do eu é evanescente e fugaz, caracterizando-se como impulsos dirigidos a objetos fixos. São respostas ao mandato superegoico sem referência no ideal, que estão a serviço da compulsão à repetição como imposições internas distintas da compulsão moral.

Segundo ele, perante o desmentido da privação e a evanescência radical do ideal do eu, o imperativo de gozo se dá menos em torno do eu e da renúncia pulsional e mais em torno do objeto real - objeto da urgência infantil -, como um empuxo desmedido. Quintella (2018) afirma, então, que tais impulsões contemporâneas dirigidas ao objeto real se acham no registro da compulsão à repetição, impelem a ela como força para o domínio do objeto real, de modo que

O desmentido da privação engendra patologias nas quais a localização do gozo está aquém do próprio narcisismo, fazendo referência a uma satisfação autoerótica conjugada ao gozo pré-simbólico, aquém da linguagem. O objeto a, na radicalidade de sua função pulsional, acha-se desnudado, imperando sua força na forma de um supereu sem ideal que conduz o sujeito a um puro gozo autoerótico. (Quintella, 2018, p. 133).

Nas impulsões, portanto, o autor aponta haver algo que extrapola a organização fálica promovendo uma explosão da pulsão autoerótica como puro gozo pelo excesso, estando o empuxo ao gozo desatrelado de referências ao ideal, mas atrelado ao canibalismo autoerótico da pulsão oral, que faz prevalecer na dinâmica do supereu a faceta canibal, pois trata-se de tentar colocar para dentro o que no Outro evanesceu como ideal. É em torno do se fazer devorar, assim, que a voz como objeto a insiste como mandato superegoico sedento de gozo, puro mandato de devoramento de objetos reais que fazem referência ao corpo, atando o sujeito a uma relação direta com a urgência infantil. Mas, ao devorar o objeto real, o eu também é consumido, de modo que o supereu continua massacrando-o - não como no masoquismo moral, mas por um recurso ao masoquismo erógeno - e afastando o sujeito de sua condição desejante. Quintella (2018, p. 132) afirma que

A compulsão moral do supereu contra o eu, vigente na época de Freud, é, portanto, reatualizada hoje na forma de uma impulsão ao objeto real. Isso porque, em muitos casos, o ideal do eu não é mais a referência do imperativo superegoico. O objeto real, análogo ao supereu, se torna seu alvo. Com efeito, quanto mais o sujeito tenta engolir o objeto real, mais o supereu o exige.

Além de fazer uma análise das patologias do ato pensadas por Rabinovich, como resultante do desmentido da privação, o livro retoma este conceito no avanço de sua conjectura sobre experiências contemporâneas que se manifestam especialmente na juventude: práticas midiáticas como os desafios do YouTube, destacando-se o desafio da "Baleia Azul" e o condom snorting challenge, entre outras experiências que expõem o sujeito às fronteiras da vida. Sem visar à redução das patologias do ato a essas experiências - dado que elas merecem estudo detalhado em suas diferenciações - o livro aponta, no avanço de suas considerações, uma forma peculiar de o sujeito situar-se perante o limite ligadas também ao desmentido da privação. Ele evidencia novas formas de empuxo ao gozo em que, sob a rubrica do desafio, os sujeitos experimentam os limites do próprio corpo e trazem à cena o sofrimento como chave de experiências extremas que, por vezes, levam até mesmo à morte. Destaca nessas experiências que, o que os imitadores dos desafios desafiam é, na verdade, o próprio pai como um ideal fracassado, apelando à sua função de sustentáculo da lei. Tentam - e fracassam - introjetar um ideal do eu mais consistente, apelar à lei evocando seu ponto de basta, dado que a imago paterna não a sustenta e nem abre caminho para o ideal do eu. Seus fracassos denotam que com seus atos apenas tocam o real da pulsão de morte, " fazendo da privação desmentida um caminho que busca delimitar um limite ao imperativo de gozo do supereu" (Quintella, 2018, p. 147).

As postulações de Quintella vão, assim, na direção do que tem sido escutado cotidianamente em nossas clínicas, uma situação de desamparo diante do excesso pulsional que não encontra vias de escoamento definidas perante o enfraquecimento das barreiras geracionais, a exigência de êxito individual e a perda da legitimidade e eficácia das instituições sociais.

Seu livro vai além, porém, de uma construção teórica sólida a respeito dessas sintomatologias, pois, além de fazê-lo, Quintella (2018) dedica ainda um derradeiro capítulo para dissertar a respeito da prática psicanalítica para tratar essas patologias. Aponta que o analista diante da demanda do sujeito - perpassada atualmente por buscas de soluções cada vez mais imediatistas - de um caminho para uma suposta felicidade absoluta, ao assumir função de causa e acolher sem responder ao nível de uma remediação, funciona afastando o sujeito do caminho para o gozo. O desejo do analista, prevenido da impossibilidade do gozo absoluto, relança o sujeito à metonímia do desejo, para além dos imperativos de gozo do supereu, abrindo caminho, com sua posição ética, para que " o sujeito retome o fio da fala e da perlaboração para além de uma pura resposta à pulsão em sua dimensão muda" (Quintella, 2018, p.159). A fala, mesmo circundando o objeto real no caso das impulsões, implica a perda de gozo e possibilita uma suspensão da satisfação direta como objeto real, de forma que a exigência superegoica que o impele ao consumo perca força.

Revela-se aqui a grande implicação ética de seu trabalho, no sentido de que a função de sustentar o desejo implica uma certa distância em relação ao objeto da satisfação, cabendo ao sujeito sustentar a condição de não estancar sua ferida constitutiva e reafirmar a inconsistência do Outro, pois é o encontro faltoso que pode dar um basta à impulsão. Atualmente, o grande mito do sujeito contemporâneo é o mito de uma relação com o objeto sem distância - que tem como protagonista sempre o supereu tirânico que empurra o sujeito na direção do gozo e da morte, deixando-o à mercê de sua própria aniquilação. Diante disso, o objetivo último da psicanálise é permitir que o sujeito resista à atração do supereu, sendo ela, assim, um tratamento do supereu.

Numa dinâmica cultural que promete uma permissividade supostamente sem limites nem privações, exatamente o que exige o supereu contemporâneo, o livro de Quintella é, assim, uma leitura indispensável para a reflexão das amarras subjetivas das impulsões e dos caminhos clínicos no tratamento desse sofrimento atual, sendo que o discurso do analista pode operar um esvaziamento dos imperativos de gozo canibalísticos.

Cabe pontuar que a obra não trata dos aspectos relativos ao campo do consumo na sociedade atual. O tema do consumo é central nesse livro, dadas as importantes relações entre o supereu canibal, a pulsão oral e as impulsões na forma da ingestão de objetos reais, o que merece aprofundamento quanto aos meandros do laço social contemporâneo e sua relação com o consumismo de massa. Percebe-se, entretanto, que o objetivo deste livro é o de abordar com precisão o conceito de desmentido da privação, cunhado pelo autor, e sua relação com o supereu hoje, dando encaminhamento ao problema das patologias do ato, de um modo original. Com efeito, o autor não deixa de ensejar a necessidade de pensar essas conjunturas psicopatológicas no âmbito da forma como os laços sociais se dão na atualidade. Destaco a seguinte passagem:

Sobre este tema do consumo, é evidente que se trata aqui de um movimento teórico em direção a questões mais amplas que exigem maiores cuidados. Nesse quesito, o avanço do pensamento de Jacques Lacan abre caminho para uma investigação apurada sobre determinadas formas de laço social na organização cultural do século XX e XXI, com relação a dimensão do consumo na subjetividade de nossa época. Essa questão merece aprofundamento específico ao traçado e ao avanço de nossas investigações, as quais se pautam, até aqui, na relação entre privação e impulsão frente ao supereu contemporâneo. ( Quintella, 2018, p. 144).

Concluindo, o conceito inovador de desmentido da privação é um importante elo teórico-clínico para pensar o sujeito contemporâneo, permitindo novas aberturas à pesquisa em psicanálise perante as mudanças na forma como o sofrimento psíquico se manifesta.

 

 

Referências

Birman, J. (2003). Dor e sofrimento num mundo sem mediação. Estados Gerais da Psicanálise: II Encontro Mundial, Rio de Janeiro, Brasil. Recuperado em 25 fevereiro, 2022, de https://www.ufrgs.br/psicoeduc/chasqueweb/psicanalise/birman-dor.rtf.         [ Links ]

Freud, S. (1996). Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. 9, pp. 167-186, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Obra original publicada em 1908).         [ Links ]

Quintella, R. (2016). O desmentido da privação na atualidade. Ágora, 19(1), 115-130. Recuperado em 25 fevereiro, 2022, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982016000100115&lng=en&nrm=iso.         [ Links ]

Rabinovich, D. (2004). Clínica das pulsões: as impulsões. Rio de Janeiro: Cia de Freud.         [ Links ]

 

 

*Doutoranda em Teoria Psicanalítica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com bolsa Capes. Mestre em Teoria Psicanalítica na UFRJ com bolsa CNPq. Pós-graduada em Psicanálise: Sujeito e Cultura pela Faculdade de Medicina de Campos (FMC). Especialista em Psiquiatria e Psicanálise com Crianças e Adolescentes pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipub-UFRJ). Especializanda em Psicoterapia de Casal e Família na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Graduada em psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

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