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Desidades

versão On-line ISSN 2318-9282

Desidades vol.10  Rio de Janeiro abr. 2016

 

EDITORIAL

 

 

Crianças e jovens não gozam, e talvez nunca tenham gozado (Corazza, 2000), de um lugar especial em que sejam preservadas das agruras da vida social e das intempéries da vida política.  A posição recentemente adquirida de sujeito de direitos, por via das legislações nacionais e internacionais, apenas positiviza nos dispositivos legais as obrigações que a geração mais velha deve ter em relação a eles e elas, como sujeitos particulares e diferentes.  Protege-los de injustiças, maus tratos e exploração, é mister lembrar, condiz com a condição social e política do adulto que recebeu, por sua vez, de gerações anteriores, uma herança de bens e conhecimentos úteis para que o mundo continue como um lugar habitável por todos e todas, e para todos e todas.  
Nesta edição da DESIDADES, na seção Espaço Aberto, o pesquisador e Doutor em Psicologia Social Rafael Prosdocimi é entrevistado pela ambientalista e Doutora em Geografia, Célia Dias, sobre como a vida de crianças e jovens é afetada pelas atividades de mineração que têm devastado os países emergentes e causado danos irreversíveis ao meio ambiente.  Se, por um lado, podem-se avaliar e contabilizar algumas das consequências desta devastação, por outro, muitas delas só serão conhecidas como sofrimento das gerações que virão, que lamentarão os desastres que poderiam ter sido evitados se não fosse a leviandade dos que só visam ganhos sem levar em conta a perspectiva de longo prazo, e a sua responsabilidade geracional.
Na seção Temas em Destaque, o artigo da pesquisadora e Doutora em Antropologia Social Laura Lowenkron, Menina ou moça? Menoridade e consentimento sexual, aborda uma temática difícil e complexa, a da regulação social e jurídica sobre o intercurso sexual entre crianças e adultos.  Ao problematizar uma visão que considera “naturalmente execrável” tal situação, obtêm-se outras lentes para examinar a base normativa que rege tal regulação nas nossas sociedades, e compreender melhor a construção social e histórica das assimetrias de poder e saber entre adultos e crianças.
A legislação sobre a proibição da violência física pelos pais como dispositivo de educação da criança é discutida pela pesquisadora e Doutora em Antropologia Social Fernanda Bittencourt Ribeiro, no artigo A proibição legal de castigos físicos na infância: alguns contrastes entre Brasil, Uruguai e França.  A autora insere esta discussão no entrecruzamento de outras questões, a saber, o que se entende por violência em diferentes culturas, a função do Estado e da lei como promotora de novos padrões de comportamento, o exercício da autoridade parental frente à interferência do poder público e as diferentes disposições de valores e normas sobre a educação das crianças segundo as classes sociais.  O artigo põe em evidência a complexidade desta temática, tratando de oferecer ao leitor perspectivas oriundas de três diferentes países, Brasil, Uruguai e França.  
As tensões, os paradoxos e as identificações de fazer pesquisa com jovens, sendo jovens pesquisadoras, é trazida pela equipe de pesquisadoras da Universidade Federal Fluminense, Ana Carolina Videira, Suanny Noguerida de Queiroz, Vanessa Monteiro Silva, graduadas em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense, e Silvana Mendes Lima, Doutora em Ciências da Saúde, no artigo intitulado, Entre músicas e rimas: jovens pesquisando jovens. Algumas reflexões questionadoras emergem da exposição das autoras: como se regula eticamente o encontro entre pesquisadoras e sujeitos pesquisados? Como se compatibilizam as demandas da pesquisa nas suas duas pontas, a das pesquisadoras e a dos sujeitos envolvidos? Como proceder para que o “fazer junto” entre pesquisadoras e sujeitos pesquisados possa contemplar o desejo de saber de ambos?  Perguntas que constituem desafios permanentes a serem enfrentados em cada trabalho e encontro de pesquisa.
Duas resenhas compõem a seção de Informações Bibliográficas, a de Natalia Gavazzo sobre a obra organizada por Mariana Chaves e Ramiro Segura, “Hacerse un lugar: circuitos y trayectorias juveniles en ámbitos urbanos”,  e a de Diana Dadoorian sobre o livro “Juventude e saúde mental: a especificidade da clínica com adolescentes”, organizada por Edson Saggese e Fernanda Hamann de Oliveira.  Ainda nesta seção, divulgamos a lista de publicações na área de ciências humanas e sociais sobre infância e juventude do primeiro trimestre de 2016 levantadas a partir dos sites de editoras nos países da América Latina.  

Lucia Rabello de Castro Editora Chefe

Referência Bibliográfica

CORAZZA, S.M. História da infância sem fim. Ijuí, RS: Editora UNIJUÍ, 2000.         [ Links ]

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