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Desidades

versión On-line ISSN 2318-9282

Desidades vol.12  Rio de Janeiro set. 2016

 

TEMAS EM DESTAQUE

 

Dinâmicas transnacionais em tempos de Internet:
jovens, mobilização e apropriação do Facebook na Colômbia e no Brasil

 

Dinámicas transnacionales en tiempos de Internet:
jóvenes, movilización y apropiación de Facebook en Colombia y en Brasil

   

 

Liliana Galindo-RamirezI

I Universidade de Grenoble, Grenoble, França.

 

 


RESUMO

Este artigo centra-se no estudo de dois casos da América Latina, a saber: o movimento estudantil colombiano e Ocupa Sampa, no Brasil, cuja ação primeira foi realizada em 2011. A pesquisa corresponde à análise das transformações das práticas políticas juvenis mediadas pela Internet e pelo Facebook, especialmente, a partir dos dois casos estudados e propõe algumas reflexões sobre as reconfigurações sócio-políticos e midiáticas contemporâneas. A integração das dimensões on-line e off-line dos casos estudados sugere elementos de reflexão, levando em conta que eles se tornam uma grande janela que permite questionar singularidades, assim como aspectos que têm em comum com outros movimentos de seu tempo. A questão do "não partidarismo", o modo de funcionamento por comissões e a busca de novas formas de organização e ação que articulam o seu carácter local com dinâmicas internacionais são objeto de reflexão neste texto.

Palavras-chave: internet, juventude, política, Colômbia, Brasil.


RESUMEN

El presente artículo se centra en el estudio de dos casos latinoamericanos, a saber, el movimiento estudiantil colombiano y Ocupa Sampa en Brasil cuya acción inicial se desplegó en 2011. La investigación corresponde al análisis de las transformaciones de las prácticas políticas juveniles mediadas por Internet y por Facebook en particular, a partir de los dos casos estudiados y propone algunas reflexiones en torno a las reconfiguraciones socio-políticas y mediáticas contemporáneas. Integrando las dimensiones online y offline de los casos estudiados, se sugieren elementos de reflexión a través de ellos, considerando que se convierten en una gran ventana que permite interrogar singularidades, así como aspectos en común con otros movimientos de su época. La cuestión del “apartidismo”, el modo de funcionamiento por comisiones y la búsqueda de nuevos modos de organización y de acción que articulan su carácter local con dinámicas internacionales son objetos de reflexión en este texto.

Palabras-clave: internet, juventud, política, Colombia, Brasil.


 

 

Introdução

As e os jovens na América Latina são atores de um mundo contemporâneo que experimenta diversas mutações sociais, políticas, culturais e midiáticas. Suas ações neste contexto não só falam da singularidade da vida deles e do que acontece na América Latina, mas suas bandeiras e suas práticas nos permitem olhar para o que acontece além dessas fronteiras: o mundo que muda está aqui contido e insinuado e as dinâmicas emergentes que ali aparecem sugerem tanto continuidades como rupturas. A partir do estudo1 do movimento estudantil colombiano e Ocupa Sampa no Brasil, ambos em 2011, sugerimos alguns elementos de análise próprios desses movimentos susceptíveis de instigar a reflexão sobre outros movimentos e reconfigurações contemporâneas2.

Assim, no começo da presente década uma série de movimentos ocorreu em diferentes partes do mundo: a chamada "Primavera Árabe", desde 2010, os Indignados, os Occupy, o movimento estudantil chileno, em 2011, a "Primavera de Quebec", o movimento mexicano #YoSoy132, em 2012, as jornadas de junho no Brasil, em 2013 e, mais recentemente, o "Nuit Débout", na França. Sem procurar igualá-los ou fazer uma lista exaustiva, mas no intuito de evocar alguns dos movimentos desenvolvidos ao longo desta década, uns com mais cobertura da mídia do que outros, podemos perguntar-nos se para além da sua proximidade temporal e, apesar da distância geográfica entre eles, há semelhanças e conexões, por exemplo, em termos de suas reivindicações, modos de ação e organização.

 

Movimentos colombiano e brasileiro: contribuições e perguntas

A irrupção da internet na vida social tem sido considerada a partir de perspectivas diferentes e, ainda, desde posições extremamente opostas. Assim, por exemplo, a incorporação da Internet na vida contemporânea já foi descrita como sinônimo de opressão, restrição das liberdades individuais e até mesmo de "política do pior", como afirmado por autores como Paul Virilio (1996). E ao invés, longe do olhar dos determinismos opressores, foi concebida sob premissas radicais como a que afirma categoricamente que ninguém controla a Internet, como argumentado por Manuel Castells (2001). Além disso, autores como Cardon3, desenvolvem um trabalho de captura de informação on-line e off-line4 que visa aprofundar a pesquisa empírica e a conceituação que pode ser derivada de um trabalho interdisciplinar.

O que significa se mobilizar em torno de certas causas, num contexto em que as práticas de convocatória, divulgação, organização e protesto estão mediadas por plataformas digitais como o Facebook? Existem múltiplas especulações sobre o impacto das tecnologias digitais na vida contemporânea. No entanto, são menos abundantes os trabalhos que realizam uma pesquisa empírica que inclui a captura e processamento de dados provenientes dessas tecnologias digitais, que permitam dar conta dos usos e apropriações específicas que os diversos atores fazem delas.

Consideramos, portanto, que qualquer tentativa de responder a esse tipo de perguntas deve passar por uma exploração empírica que interrogue singularidades e aspectos comuns dos processos on-line e off-line, a partir de abordagem que favoreça o olhar indutivo – especialmente valioso num campo pouco pesquisado como aquele que nos interessa -, que alimente as reflexões com base nos usos, atores e contextos concretos e contribua para superar a especulação profusa, os determinismos e o sentido comum que prevalece nesta área. Vamos começar brevemente apresentando nossos casos e a abordagem empírica realizada no âmbito da presente pesquisa.

Primeiro a Tunísia, depois foi o Egito, e mais tarde em grande parte do Norte da África e Médio Oriente, em seguida, na Espanha, Irlanda, Grécia e Israel; centenas de milhares de estudantes, desempregados, trabalhadores e cidadãos comuns encheram praças e parques, contra uma ordem econômica internacional injusta e que está em fase de declínio. Na América Latina estudantes de Puerto Rico, a Colômbia e outros países estão mobilizados sob o norte da luta social no Chile que já completou mais de 3 meses de ocupações e marchas estudantis (...). (Declaração de Mane, 20 e 21 de agosto de 2011).

Por um lado, um movimento estudantil, sem precedentes nas quatro décadas, vê a luz na Colômbia. Uma série de manifestações contra o projeto de reforma da Lei 30, que regulamenta o sistema de ensino superior na Colômbia, foi realizada em 2011, considerando que esta reforma se traduzia num projeto de aprofundamento da privatização da educação que, inicialmente, visava, entre outros aspectos, a dar livre curso aos fins lucrativos das instituições de ensino superior no país5. Após vários meses de protesto efervescente, em agosto o movimento ganha corpo na “Mesa Amplia Nacional Estudiantil” (Mane), que constitui um grande espaço de convergência tanto de uma multiplicidade de coletivos e organizações como de setores sem nenhuma filiação organizacional. O movimento, de início pouco visível na mídia convencional, aparece mais tarde nos seus títulos. Após vários meses de manifestações, que incluíram uma Greve Nacional Universitária de mais de um mês, o projeto de lei em questão foi finalmente retirado pelo governo nacional, liderado por Juan Manuel Santos, e a greve é finalizada, fato que marca o auge do movimento que, não sem tensões internas, consegue uma importante vitória e firma-se na luta em defesa da educação pública.

Novos ventos sopram no mundo. A força das ideias e da organização dos povos recoloca esperanças diante da melancólica ordem imposta pelos poderosos. Uma sociedade pautada pelas regras infinitas do mercado é uma sociedade sem futuro. O povo que se levanta em todos os continentes é rebelde por muitas causas. O autoritarismo das péssimas condições de vida somado à prisão de ser governado por regimes pseudo-representativos é o que dá o tom deste novo grito (…). (Manifesto 1, Blog Ocupa Sampa).

Além disso, durante estes meses decisivos para Mane, em São Paulo e em outras cidades do mundo e do Brasil, configura-se um movimento local inspirado pelos Indignados da Península Ibérica e em resposta ao chamado movimento global Ocupa6, acontecido em 15 de outubro, conhecido como #15O. Este movimento retoma e apropria-se dos slogans "Nós somos os 99%" e "Democracia real agora!", sem ser uma cópia desses movimentos: Ocupa Sampa reúne distintas pessoas, críticas do sistema econômico e do regime democrático que experimentaram, e torna-se o ponto de convergência de um conjunto amplo e diverso de reivindicações. Seu nome extenso, como registrado na mais frequentada das páginas registradas no Facebook, "Acampa Sampa Ocupa Sampa" refere-se ao modo de manifestação (acampamento), bem como à natureza do movimento, como parte dos Occupy e ao mesmo tempo como um movimento paulista. Este movimento teria reunido cerca de 600 jovens, em 250 tendas localizadas no Vale do Anhangabaú, sob o Viaduto do Chá (Oliveira; Segurado, 2014), por cerca de um mês e meio, antes de serem expulsos pela polícia (para) e reassentarem-se em outros espaços públicos. Os 'Ocupa São Paulo’ (Oliveira, 2014) auto gestaram um modo de vida coletivo, protestando contra um sistema desigual, e através de um conjunto de ações possibilitaram uma experiência coletiva, local e internacional sem precedentes.

Tendo realizado um trabalho de campo que incluiu consulta a fontes on-line e off-line, particularmente entrevistas7 com jovens ativistas, e a construção de um banco de dados a partir das páginas do Facebook de ambos os movimentos, conseguimos observar uma série de elementos, a partir da integração na mesma análise das duas dinâmicas (on-line e off-line). Os dois movimentos foram desenvolvidos de forma independente um do outro e, no entanto, um ato os colocou em relação: trata-se da Marcha Continental por la Educación, iniciativa dos movimentos estudantis da Colômbia (Mane) e Chile (Confech8), convocada para o dia 24 de novembro de 2011, cuja chamada foi atendida em vários países e movimentos, como foi o caso Ocupa Sampa. Entretanto, para além desta ligação extraordinária, que conseguiu reunir em um evento internacional vários protestos locais, os dois movimentos compartilharam uma série de aspectos importantes em comum. Entre eles, alguns dos destaques são: uso intensivo e extensivo de plataformas digitais, sem cuja mediação nenhum deles teria adquirido a forma e o modo de operação que adquiriram; seu caráter "apartidário" (não deve ser confundido com "antipartidário" ou com "apolítico")9, que inclui uma declaração explícita de que o movimento não pertence a nenhum partido político, mas que, por sua vez, não impede seus membros de participar, independentemente da sua filiação ou não, a estruturas partidárias; e sua estrutura interna, que em estreita relação com o anterior, ganha corpo na procura de uma maneira de organização diferente daquela dos partidos políticos, como a ausência de um líder, modo de funcionamento por comissões e a busca de formas de decisão consensuais não centralizadas.

No caso de Mane, seu modo de operação se estruturou com base na existência de grandes mesas universitárias locais, em um comitê operacional, em um corpo nacional de porta-vozes e nas comissões acadêmicas de direitos humanos e comunicações. No caso de Ocupa Sampa, as comissões eram mais numerosas e variáveis. No âmbito de nossa pesquisa identificamos as seguintes: de alimentação, de ação direta, jurídica, de infraestrutura, de lixo, de segurança, de recepção, de programação, de restauração, de movimentos sociais, de crianças no acampamento e de comunicação, tendo sido possível a existência de outras comissões, dada a sua emergência, muitas vezes pragmática (segundo circunstâncias e necessidades específicas) e transitória (cuja duração depende de necessidades específicas e mutantes). Sem entrar em detalhes sobre cada uma delas, cabe assinalar que a única comissão presente em ambos os casos em caráter permanente, foi a de comunicação. Como em outros movimentos contemporâneos a comunicação está no centro das atividades10, com interligação estreita entre a ação on-line e off-line.

Este modo de funcionamento, que tende a uma organização não hierárquica, mas horizontal, não está isento de conflitos e tensões internas, devido, entre outras causas, à coexistência de posicionamentos e orientações distintas dentro de cada movimento e à confluência e persistência de modelos clássicos, convencionais e até mesmo partidários, que se expressaram em diferentes momentos e diferentes graus em cada um dos movimentos estudados. Vejamos, através de trechos de entrevistas, alguns dos elementos relativos a questões que foram fonte de divergências, e que, além dos conflitos internos que podem estar mostrando, são especialmente indicadores de questões não resolvidas no centro da dinâmica destes e de outros movimentos contemporâneos, em relação à comunicação para contestar o poder e à contestação do poder da comunicação.

(...) pelos perfis do Twitter de diferentes porta-vozes e (Jaime)11 tem infinidade de seguidores, (Simon012 tem milhares, esse menino tem por volta dos 30.000 seguidores no Twitter (...), bem impressionante é a manipulação que, especialmente eles dois, fizeram das suas contas no Twitter e no Facebook, (Simon) não passa um dia sem colocar pelo menos três Tweets e isso, digamos, em algum momento trouxe vantagens e em alguns aspectos trouxe sérias desvantagens. Porque o problema é quando você começa a Twittear para (questões partidárias) (...) e isso (...) de uma forma ou outra faz com que se tensione um pouco o ambiente, porque você sabe que você está falando para 30.000 ou 40.000 pessoas e, pois, não estão falando sobre o que é relativo ao grêmio (...). (Lina, uma jovem ativista de Mane).

É claro que as redes digitais dos movimentos devem expressar as ideias e reivindicações dos movimentos e não as que correspondem a posturas individuais ou partidárias. No entanto, aparece aqui a questão do uso de redes sociais digitais pessoais no contexto da ativa participação individual num movimento.

Estas ferramentas exigem uma gestão responsável, todas. É preciso que se faça uma gestão democrática delas, mas também que seja organizada. Parece ser bobagem, mas não se pode dar a senha do Facebook para cinquenta mil ou sessenta mil estudantes que estão envolvidos no Facebook de Mane (...). Aca corresponde-nos combater através do Facebook e Twitter e no dia que esses meios sejam fechados nos corresponderá também lutar através de folhetos e como já temos vindo a fazer até agora, por isso é que não temos substituído um meio para o outro. É mais uma ferramenta, na minha opinião é subsidiária (...). O número de visitas do blog de Mane de novembro para dezembro, de outubro para novembro, foi uma coisa incrível, que bateu o recorde de votos na urna virtual Caracol Television13, fomos hashtag em trending topics como três ou quatro vezes. (Simon, um jovem ativista de Mane).

Uma vez que o critério de "não partidarismo" se aplica às redes do movimento, é legítimo usar redes pessoais para fins partidários? Mesmo que essas redes se tenham nutrido (e o número de seguidores incrementado) de um movimento não partidário? Ou, ao invés, essa utilização deve ser proibida, alargando assim o princípio não partidário ao âmbito da manipulação das contas pessoais de seus ativistas?

(...) quem era da comissão de comunicação eram aquelas mesmas 3 ou 4 pessoas que tinham o conhecimento e acesso às redes sociais, o que na realidade centralizou ainda mais o poder, porque se qualquer pessoa quisesse postar algo tinha que procurar essa meia dúzia de pessoas que tinha a senha do computador, da Internet etc... Ou seja, se você não conhecesse ninguém da comunicação você não postava nada. Nisso teve uma briga entre duas pessoas com visões divergentes de como deveria se dar a relação com a comunicação (Mauro, jovem ativista de Ocupa Sampa).

Se bem que a comissão de comunicação de Ocupa Sampa foi uma das que tiveram assembleias com uma grande plateia, abrindo as discussões e decisões tomadas para todos os que quiseram participar, desde o conteúdo das publicações até a identidade visual, duas constatações tornam-se evidentes: 1) o acesso às senhas das contas do movimento é restrito a algumas poucas pessoas (e que todos tivessem acesso a elas não parece ser uma solução) e 2) a necessidade de publicar conteúdos relativos ao movimento por parte de membros sem acesso direto às contas sempre pôde ser atendida.

Era tudo discutido em reunião. O layout das páginas era discutido, a identidade visual e tal. Várias pessoas faziam projeto e a gente votava. Na verdade, a gente não votava, a gente decidia por consenso, decidíamos o melhor ou os melhores (…). Quem tivesse uma pauta para colocar levantava a mão e tinha uma pessoa que ia colocando as pautas. Essa pessoa que anotava era voluntária na hora, ela se propunha e executava a tarefa (…). (Luciana, jovem ativista de Ocupa Sampa).

A busca de formas coletivas e horizontais de ação e as restrições na gestão das ferramentas digitais de comunicação do movimento definem dois fenômenos de uma mesma dinâmica, destacando a importância das inter-relações entre as modalidades coletivas, amplas e restringidas de discussão, decisão e ação.

No entanto, a análise do conteúdo publicado nas páginas do Facebook de ambos os movimentos permitiu ver, entre outras coisas, que as publicações feitas pelos administradores tendem a expressar o resultado do consenso e das lutas, reivindicações e chamados próprios do movimento, enquanto os comentários se tornam uma plataforma de opinião on-line que em alguns casos expressa controvérsias e divergências dentro do movimento.

Então, muitas vezes descobrimos que um post (ou publicação no mural do Facebook) com baixo número de curtidas e elevado número de comentários é expressão de um dissenso, enquanto um post com um elevado número de curtidas (função "curtir") é expressão de apoio e simpatia com o movimento. Uma fonte de dissenso, nesse sentido, pode efetivamente tornar-se motivo de um aumento da atividade on-line visível também off-line, como é o caso de Mane, por ocasião da decisão de suspender a greve nacional da universidade, quando centenas de comentários no mural da página do Facebook criticaram a forma como esta decisão foi tomada. Mas também a dissidência pode ser expressa off-line sem que por isso seja visível on-line, como por exemplo, no caso de Ocupa Sampa, no âmbito das assembleias em que surgiram divergências sobre o funcionamento interno relacionado com o trabalho das comissões, sem que por isso se encontrem rastros destas diferenças nos comentários em páginas do Facebook. Isso permite chamar a atenção para outras questões, como a reconfiguração de visibilidade e invisibilidade do que acontece on-line e off-line, como parte das reconfigurações em curso, na era da Internet.

 

Conclusão

O estudo dos dois casos latino-americanos, mantendo como pano de fundo um olhar sobre a dinâmica de outros movimentos contemporâneos, nos permite observar semelhanças em termos da orientação não partidária, da organização que tende a ser horizontal e da estruturação em comissões, das apropriações de redes digitais como o Facebook, das críticas contra modos de funcionamento centralizados próprios das instituições políticas clássicas, ao mesmo tempo que estas dinâmicas coexistem com a persistência de modos de funcionamento mais próximos à democracia representativa do que à democracia direta. As ferramentas da Internet podem ser apropriadas de maneiras muito diferentes. E a forma específica que a Internet assume é inseparável dessas apropriações singulares e múltiplas. Estes movimentos transmitem utopias recriadas no seio de sua ação coletiva e anunciam e propõem outros modos de viver juntos, em que a atividade on-line e off-line se integram para produzir realidades que juntam experiências, afetos14 e saberes acumulados de formas de organização e mobilização precedentes, com os desejos, projetos e manifestações que procuram criar condições de possibilidade de existência. Isso inclui mobilizar-se por contribuir para gerar ações e construir um mundo capaz de superar as fortes desigualdades sociais e econômicas e profundas restrições das democracias que estas gerações de jovens têm experimentado. Muitas das reivindicações e práticas são novas e outras encarnam formas de continuidade frente a movimentos anteriores. No entanto, as plataformas que medeiam a atividade desses movimentos têm lugar num mundo midiático, social e político em mutação. Muitas das mudanças e dinâmicas que estão se produzindo expressam as singularidades dos atores e contextos locais e, por sua vez, maneiras de agir coletivamente e mobilizar-se para além das fronteiras nacionais e continentais.

 

Referências

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Data de recebimento: 11/05/2016
Data de aceite: 04/08/2016

 

1 Este artigo é derivado da pesquisa realizada pela autora no âmbito do doutorado em ciência política, orientada a analisar a transformação das práticas políticas de jovens mediadas pela Internet e pela rede social digital Facebook, especialmente através dos casos do movimento estudantil colombiano Mane e Ocupa Sampa no Brasil, em 2011. Este texto evoca de forma muito breve alguns dos resultados desta pesquisa.

2 O trabalho de Feixa; Leccardi e Nilan (2016) faz, a partir do campo dos estudos de juventude, um conjunto de contribuições que centram a atenção na questão do espaço-tempo através da categoria cronotopo. Outro dos trabalhos de Feixa contribui para uma reflexão sobre a categoria juventude através da referência à "#Geração" (FEIXA, 2014).

3 Dominique Cardon, sobre "a democracia Internet", fala de duas transformações fundamentais "(...) por um lado, o direito de tomar a palavra em público se estende (...) e, por outro lado, as conversas privadas entram no espaço público (...) se o espaço público se abrir para a intervenção cada vez mais ativa dos indivíduos é, entre outras razões, porque as formas de ser se transformam. Esta abertura do espaço público aos indivíduos traz consequências de primeira ordem. Ela introduz no mundo da informação e da política modos de estar juntos, de interagir e cooperar que permaneciam até então restritos ao espaço das sociabilidades privadas” (Cardon, 2010, pp. 11). Tradução da autora para o espanhol e tradução nossa para o português.

4 O projeto Algopol (S.f.) é um dos exemplos.

5 Uma ampliação mais detalhada sobre o desenvolvimento de Mane e do controverso projeto de lei pode ser consultada em Cruz (2013).

6 O trabalho intitulado “Occupy, movimentos de protesto que tomaram as ruas”, de que participaram vários autores, constituiu uma das primeiras contribuições para a análise do movimento Ocupa no Brasil e no mundo (Harvey et al, 2012).

7 Uma menção especial de apreço e agradecimento à Profa. Rita de Cássia Alves Oliveira (PUC São Paulo, Programa de Estudos de Pós-Graduação em Ciências Sociais) por ter compartilhado e colaborado na mesma aventura de pesquisa sobre movimentos juvenis e uso de tecnologias digitais na Colômbia e no Brasil e cuja contribuição para esta pesquisa foi decisiva.

8 Confederación de Estudiantes de Chile. Confederação de Estudantes do Chile.

9 Um aprofundamento da reflexão sobre o caráter político do denominado “apolitismo” juvenil na perspectiva deste trabalho pode ser consultado em Galindo-Ramírez (2013, 2015).

10 Ariadna Fernandez-Planells (2016) realiza uma pesquisa sobre cultura juvenil, ativismo social e comunicação digital que analisa, entre outras questões, a dinâmica do movimento dos Indignados em Barcelona, seu funcionamento por comissões, incluída a comissão de comunicação, a partir de uma abordagem centrada na audiência ou recepção.

11 Os nomes foram mudados a fim de preservar a identidade dos/das jovens que participaram das entrevistas. Nesse caso, só esclareceremos que se trata de um dos porta-vozes de Mane que também foi entrevistado no âmbito desta pesquisa.

12 Outro dos porta-vozes de Mane que também foi entrevistado.

13 Uma das estações de televisão mais assistidas na Colômbia.

14 Andrea Bonvillani (2013, 2015), realiza uma valiosa contribuição a este respeito através da pesquisa sobre a elaboração política da alegria e sobre o lugar dos afetos no contexto de ações e mobilizações juvenis.


I Doutoranda em Ciência Política, Universidade de Grenoble; Doutoranda Visitante no Centro de Pesquisa Política de Sciences Po Paris; Pesquisadora do Observatório de Juventude, socióloga e Mestre em Sociologia Cultural na Universidad Nacional de Colombia. Ciudadan@s por la Paz de Colombia (Paris, Bogotá, Rio de Janeiro). Colaboradora do projeto transnacional Generación Indignada – Genind (Paris, Bogotá, Rio de Janeiro). E-mail: lilianagalindoramirez@gmail.com

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