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Desidades

versión On-line ISSN 2318-9282

Desidades  no.21 Rio de Janeiro oct./dic. 2018

 

TEMAS EM DESTAQUE

 

Invertendo a ordem geracional: a relação das crianças da zona rural de Orobó (PE) com as novas TIC’s

 

Invertiendo el orden geracional: la relación de los niños de la zona rural de Orobó (PE) con las nuevas TIC

 

 

Patrícia Oliveira S. dos SantosI, Maria de Assunção Lima de PauloII

I Universidade Federal de Campina Grande, Brasil.

II Universidade Federal de Campina Grande, Brasil.

 

 


RESUMO

O presente trabalho, desdobramentos de pesquisas sobre a infância rural na cidade de Orobó (PE), objetiva discutir um fenômeno relativamente recente na região e que nos tem chamado a atenção: o crescente uso do acesso à internet pelas crianças da zona rural e uma inversão da ordem geracional, através da qual as crianças ensinam aos adultos a como fazer uso das novas TCI’s, contribuindo para um processo de subversão da ordem do processo de transmissão do conhecimento no mundo rural. Nesse cenário, destacamos, sobretudo, o acesso à internet por meio do smartphone, ganhando destaque a relação com as redes sociais como o whatsapp e o youtube. Metodologicamente, o trabalho se enquadra numa perspectiva qualitativa, na qual a etnografia foi a base para o desenvolvimento da pesquisa atrelada ao uso da observação participante.

Palavras-chave: crianças, geração, zona rural, novas TIC’s.


RESUMEN

El presente trabajo, proveniente de investigaciones sobre la infancia rural en la ciudad de Orobó (PE), tiene como objetivo discutir un fenómeno relativamente reciente en la región y que nos ha llamado la atención, el creciente uso del acceso a Internet por los niños de la zona rural y una inversión del orden generacional donde los niños enseñan a los adultos a cómo hacer uso de las nuevas TIC's, contribuyendo a un proceso de subversión del orden del proceso de transmisión del conocimiento en el mundo rural. En este escenario, si destacamos, sobre todo, el acceso a internet a través del smartphone, destáquese hace significativa la relación con las redes sociales del whatsapp y el youtube. Metodológicamente el trabajo se encuadra en una perspectiva cualitativa, donde la etnografía fue la base para el desarrollo de la investigación vinculada al uso de la observación participante.

Palabras-clave: niños, generación, zona rural, nuevas TIC.


 

 

Introdução

Neste trabalho, desdobramento de uma pesquisa realizada entre as crianças rurais de Orobó (PE), Nordeste Brasileiro, temos como propósito verificar quais elementos se apresentam como marcadores sociais da infância rural hoje. Através da pesquisa, percebemos como a expansão das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) têm se constituído fenômeno crescente entre as pessoas que vivem nesse meio. Vimos nesse contexto um aumento significativo do número de famílias que possuem smartphones, computadores, tablets e que fazem uso da internet tanto pelos dados móveis do aparelho celular, quanto por instalação própria em suas residências. Isso nos mostra que o rural, apesar de ser tomado por muitos como um lugar do atrasado, do rústico, do não tecnológico, é um espaço da “diversidade de dinâmicas e atores sociais” (Carneiro, 2012), um espaço em constante construção e transformação. Por isso, para Ribeiro et al (2015), “Pessoas da cidade, em geral, têm uma vaga ideia do que é viver no campo” (Ribeiro et al, 2015, p. 16).

Apesar de considerarmos esse fenômeno relativamente novo nesse contexto, destacamos seu crescimento no Brasil como um todo (Secom, 2015; Dantas; Godoy, 2015), como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad 2014) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No Brasil, o uso do celular para acesso à internet ultrapassou o do computador, e mais da metade da população, 54,9%, passou a acessar a internet. Um dado importante para o que vem sendo aqui abordado é que, mesmo que a maior parte das pessoas que possuem celulares esteja em áreas urbanas, desde 2014, mais da metade da população rural do país, 52,4%, passou a contar com a posse de aparelhos celulares, o que equivale a um aumento de 4,6%, contribuindo para uma diminuição na proporção do uso do celular entre as áreas urbanas e rurais. Esse crescimento tecnológico não tem sido alheio à zona rural, nem às suas crianças, elas estão crescendo em um meio cada vez mais tecnológico. Ademais, o mundo rural tem se diversificado cada vez mais em vários aspectos, idade, potencial cultural e também em relação à inclusão digital (Bernardes et al, 2015).

Livingstone et al. (2008) afirmam que as famílias que possuem filhos são aquelas que mais rapidamente se convertem às novas tecnologias, fazendo-as comuns em seus lares. Mas o que nos chama a atenção é a existência de uma relação intergeracional, na qual as crianças assumem papel de agente e invertem a ordem geracional familiar, tradicionalmente existente no meio rural, onde o adulto é também o “dono do saber” (Woortmann, 1990). Aqui, são as crianças1 que ensinam aos adultos como fazer uso das novas TIC’s. Essa relação nos mostra, dentre outras coisas, “que as infâncias do campo são múltiplas porque também são múltiplos os campos que compõem o rural brasileiro” (Silva; Pasuch; Silva, 2012). Como diz Silva (2017) sobre o sertão, acreditamos que também não podemos pensar nem a infância, nem o rural, como aquela imagem engessada no tempo. Afinal, tanto a infância quanto o rural são dinâmicos e estão em constante processo de transformação.

O rural está se conectando cada vez mais. Quando comparamos as redes sociais, o youtube é a mais acessada pelas crianças e o whatsapp, pelos adultos. Essa última tem um profundo significado nesse contexto, pois ameniza, ainda que simbolicamente, a distância física e geográfica existente entre os que “saíram pra fora” (migraram) e os que ficaram, sobretudo, pela possibilidade das chamadas de áudio, vídeos e do compartilhamento em tempo real de imagens. Assim, buscaremos mostrar como as novas TIC’s têm sido um elemento transformador do mundo rural através de um processo mais facilitado de comunicação e informação. Defenderemos que, nesse processo, as crianças assumem um papel categórico, explorando, descobrindo e também ensinando os usos e as vantagens de se estar conectado.

Para facilitar a leitura, além desta introdução, dividimos o trabalho em várias partes. Dando continuidade, destacaremos o caminho metodológico feito. Em seguida, contextualizaremos o lócus de pesquisa que dá sustentação a esse processo metodológico. Depois, destacaremos a relação das pessoas nesse contexto com a internet, apresentando a relação das crianças com as TIC’s, e como elas invertem a ordem geracional, ensinando aos adultos. Concluiremos enfatizando que o uso não mediado da internet pode acarretar não apenas vantagens, mas também problemas. Por isso, chamamos a atenção para a necessidade de realizações de políticas educacionais que envolvam o tema em questão.

 

Questões Metodológicas

A pesquisa2 que sustenta este trabalho está pautada no método etnográfico, no qual a observação participante se apresenta como metodologia base, mas não exclusiva. Fizemos uso da etnografia por acreditarmos que ela se apresenta como um dos meios mais eficazes quando desejamos acessar as experiências vividas pelas crianças em seu cotidiano (Sousa, 2015; Martins; Barbosa, 2010; Carvalho; Nunes, 2007). Acreditamos, assim como Sousa (2015), que a etnografia: “[...] é uma relação entre os objetos, pessoas, situações e sensações provocadas no próprio pesquisador, torna-se, pois, muito mais do que captura do visível; a descrição etnográfica é por sua vez, a elaboração linguística desta experiência” (p. 152).

Utilizamos também técnicas como conversas informais, confirmando que elas “viram grandes aliadas do pesquisador que investiga a infância por poder se desenrolar enquanto se brinca com eles, se trabalha ou se aprende, em qualquer ambiente e sem formalismos” (Sousa, 2014, p. 53). Utilizamos fotografia, desenhos temáticos, redações, dinâmicas e brincadeiras com crianças. Tudo isso nos permitiu um melhor entrosamento com os sujeitos da pesquisa, além de uma visão mais ampliada da vida cotidiana das crianças.

Ainda do ponto de vista metodológico, lembramos um fato ocorrido em campo com uma das autoras, que nos mostrava como o uso das novas TIC’s na zona rural de Orobó era algo merecedor de atenção:

Desde a primeira vez, meu celular havia sido alvo de observação por algumas pessoas da comunidade. Era um modelo Samsung Galaxy S III Mini. Estava também um pouco sucateado, o que era visível a todos. Por esse motivo, fui presenteada por uma pessoa próxima ao meu convívio com um aparelho mais moderno. Em meu retorno ao campo, meu novo celular não passou despercebido, e também foi logo reconhecido como um J7. Fui até parabenizada por agora ter um celular “de vergonha”. O reconhecimento do meu novo celular foi percebido e comentado tanto por alguns adultos quanto por algumas crianças.

Era uma terça-feira do mês de julho, o ano 2017. Fui convidada para uma festa na casa da sogra da pessoa que tem me ajudado em campo. A comemoração não tinha outro motivo senão o mês de festejos juninos. Fazia muito frio, o que é comum nessa época do ano nessa área do município, apesar de esse ser um clima atípico no Nordeste. Na casa havia muita comida, bebida, um trio de forró e algumas crianças. Aproveitei a oportunidade para conhecer e fazer amizade com as crianças que estavam por lá. Tentei iniciar a conversa entre elas, o diálogo surgia, mas tímido ainda, até que uma delas pegou meu celular e perguntou: “Filma?” Respondi: “Quer que eu ligue a câmera pra filmar?” Liguei a câmera do celular e, em segundos, nossa interação já havia mudado. Fui aceita no grupo pela intermediação de um aparelho smartphone. Ficamos brincando de filmar e rever a filmagem durante boa parte da noite (Diário de Campo, 18/07/2017).

Destacamos esse episódio porque ele foi metodologicamente importante na pesquisa, uma vez que o smartphone se tornou um meio de aproximação e aceitação entre uma das pesquisadoras e as crianças. Estas, por sua vez, além de filmarem coisas, também demonstraram interesse em serem filmadas, bem como de se verem no vídeo. Aqui, o que nos chama a atenção é o fato de que mais do que uma brincadeira, a criança demonstrou o desejo de ser vista e ouvida. É assim que as consideramos em nossa pesquisa, levando-as a sério, tomando-as como participantes, como informantes qualificadas. Acreditamos que

Não há algo na fala das crianças que seja excepcional ou diferente (apesar de que pode casualmente até haver), mas a criança ao falar, faz uma inversão hierárquica discursiva que faz falar aquelas cujas falas não são levadas em conta (...) (Abramowicz, 2011, p.24).

Enfatizarmos que, mesmo tomando as crianças como sujeitos principais da pesquisa, críticos e detentores de agência, não se constituindo em meros reprodutores da vida social, nosso empreendimento acadêmico não exclui os outros sujeitos sociais. Dessa forma, embora tenhamos colocado nosso olhar mais atentamente sobre a criança, não deixamos de dialogar também com jovens e adultos.

 

Lócus de Pesquisa

A cidade de Orobó localiza-se na região do Agreste Setentrional do Estado de Pernambuco, distanciando-se cerca de 120 km da capital, Recife. Encontra-se na microrregião do Médio Capibaribe, fazendo divisa, ao Norte, com o Estado da Paraíba, ao Sul, com a cidade de Bom Jardim (PE), ao Leste, com Machados (PE) e São Vicente Ferrer (PE) e, a Oeste, com Casinhas (PE).

Segundo dados do último censo (2010), o município conta com uma população de 23.878 habitantes. Todos esses habitantes estão distribuídos em uma área territorial de 138.662 km². 75,1% da população vivem em áreas rurais, o que faz de Orobó um município predominantemente rural. Porém, as pessoas que moram na zona rural de Orobó não vivem “isoladas em suas pequenas comunidades” (Paulo e Wanderley, 2006, p.263). Em Orobó, as pessoas circulam, sendo comum se deslocarem dos sítios à sede municipal ou mesmo às cidades vizinhas, como Umbuzeiro (PB), em dias de feira.

A pesquisa vem sendo desenvolvida na zona rural, mais especificamente na vila Feira Nova e seu entorno. Feira Nova é uma vila rural, referenciada por seus moradores como comunidade. Ela abarca aproximadamente 200 famílias. Muitos de seus moradores são agricultores familiares camponeses, parte deles aposentados rurais, mas que ainda desenvolvem atividades na agricultura, sobretudo, para subsistência, negociando aquilo que plantam sempre que possível. A comunidade tem alguns poucos comerciantes que, em geral, possuem seu comércio na extensão de alguma parte de sua casa (quarto, sala, terraço).

Seus moradores, assim como a maior parte da população rural de Orobó, são pluriativos, alguns com emprego pela prefeitura, outros desenvolvendo os chamados “bicos”. Alguns homens são motoristas de toyotas, fazem transportes de passageiros dos sítios à sede municipal e às cidades vizinhas. As mulheres que não possuem nenhum tipo de comércio em sua casa vendem cosméticos, produtos de revistas, fazem serviços de manicure, cortam cabelo, fazem barbas, desenvolvem serviços de corte e costura. Outro fato que contribui para a economia das famílias é o de muitas delas receberem as chamadas bolsas de governo, o benefício do Programa Bolsa Família e, em alguns casos, também o Benefício de Prestação Continuada.

Embora rural, a comunidade apresenta aspectos híbridos, sendo comumente referenciada por seus moradores como “rua”. Ela dispõe de um posto de saúde da família (PSF) e uma escola municipal com turmas que vão desde a creche até o nono ano do ensino fundamental. Isso faz com que vários alunos dos sítios vizinhos venham estudar na comunidade. Assim como a escola, o PSF também acaba sendo usado por muitos moradores do entorno local. O fato de Feira Nova ser tomada como rua já representa um fator de diferenciação entre seus moradores, sobretudo em oposição aos moradores dos sítios, ainda que muitos de seus moradores tenham origem ”sitiante”.

Várias são as dificuldades enfrentadas pelos moradores da zona rural. Uma delas diz respeito ao sistema de comunicação já que, há algumas décadas, o sistema de comunicação mais comum entre os moradores da zona rural de Orobó e as pessoas que moravam em outras cidades se dava exclusivamente através de cartas. Quando as cartas chegavam à sede municipal, podiam ser levadas por qualquer pessoa da comunidade e esta ia distribuindo-as entre os destinatários, sem maiores burocracias. A rede de telefonia celular chegou às comunidades mais ou menos por volta de 2000/2001, com um péssimo sinal, diga-se de passagem, que perdura até os dias atuais.

Nessa época, nem todas as famílias conseguiam adquirir um aparelho celular, devido ao seu alto custo. Somente por volta de 20023, segundo os moradores locais, é que em Feira Nova começou a ser instalada uma cabine telefônica. Essa instalação foi de responsabilidade da então gestão municipal em parceria com a TELPE (empresa de telecomunicação do Estado). Quem desejasse fazer uso desse tipo de comunicação, pagaria um valor x por cada minuto utilizado. O valor cobrado era alto, sobretudo, considerando as condições financeiras dos moradores locais e, por isso, nem todos conseguiam fazer uso da cabine telefônica. Em 2003, a comunidade começou a receber instalações de telefones públicos, popularmente conhecido como “orelhões”. Através deles, se realizavam chamadas telefônicas e se recebiam ligações.

Hoje, com a expansão e o barateamento dos celulares, eles se propagaram pela zona rural de Orobó. Raramente encontraremos uma casa cujos moradores não possuam celular. A operadora mais utilizada pelos moradores é a Vivo, por ter o melhor sinal local. As demais nem sempre funcionam ou pegam em lugares específicos, como em um determinado quarto da casa, alguma área do quintal etc. Isso não chega a ser um problema, embora já tenha sido, pois dado o avanço tecnológico, os aparelhos celulares, hoje, apresentam várias utilidades.

A internet atrelada às redes de comunicação tem sido cada vez mais utilizada pelos moradores da zona rural, ao ponto de ouvirmos das pessoas: “Antigamente não existia isso e todo mundo vivia sem, agora a gente não consegue mais viver sem ele, né” (S. 53 anos – em relação ao whatsapp). Os smartphones são os aparelhos mais comuns entre os habitantes dessa região. Crianças, jovens, adultos e idosos fazem uso deles, obtendo as vantagens que eles podem lhes proporcionar.

 

O uso da internet: a comunicação facilitada

Há poucos anos, nesse contexto, a internet e as novas TIC’s se davam de forma pouco manifestas. Há quatro anos, por exemplo, eram pouquíssimas as casas que contavam com instalações de internet e, caso alguém da comunidade ou do sítio desejasse acessar, teria que ir a alguma das poucas lan houses da região. Hoje, já podemos encontrar em diversas casas da comunidade e dos sítios instalações de internet através de antenas de uma empresa que possui sede na comunidade vizinha de Machados. Essas instalações facilitam o acesso à internet através do wifi que, consequentemente, facilita a comunicação para os moradores locais.

O whatsapp é uma das redes sociais mais utilizadas pelos moradores da região e frases como “Eu passo um zap pra tu”/“Passa um zap pra mim” é comum de se ouvir. O uso do whatsapp como ferramenta de comunicação proporciona aos moradores rurais outra realidade. Através dele, já não é difícil falar com aquele filho ou parente que migrou para o Rio de Janeiro, ou mesmo para outras cidades. Mais do que isso, o avanço dessa nova TIC permite fazer, além da chamada de voz, uma chamada de vídeo, através da qual, além de conversar, é possível também ver a pessoa, enviar fotos em tempo real e falar infinitas vezes com aquele que está próximo ou distante sem acréscimo financeiro.

Acreditamos que as vantagens desse aplicativo, atrelada à dificuldade de comunicação muito comum no passado daquele contexto local, fez com que seu uso se propagasse pela região. Sabemos que o whatsapp é muito utilizado em outras conjunturas, mas, nesse contexto, as pessoas, sobretudo aquelas mais idosas, possuem uma série de limitações no que se refere ao manuseio das novas TIC’s. Apesar disso, elas vêm superando essas limitações e aprendendo cada vez mais a usá-las.

As TV’s de plasma também estão presentes na maioria das residências. Nas vilas ou nos sítios, é comum encontrarmos, hoje, casas com TV’s de led e não mais a antiga TV de tubo. Praticamente todas as casas já possuem instalações para TV digital, mostrando assim como a zona rural vem acompanhando o avanço tecnológico. Algumas casas, por exemplo, possuem inclusive um modelo de TV que possibilita o acesso à internet.

 

Invertendo a ordem geracional: as crianças ensinam aos adultos como usar as TIC’s

Aquilo que outrora afirmou Prensky (2001) em relação ao uso da internet por crianças e adultos, referindo-se respectivamente a esses grupos como “nativos digitais” e “imigrantes digitais”, destacando a aptidão do primeiro grupo em relação à inabilidade do segundo, ainda que seja questionável, calha com nossas observações de campo. Também concordamos com Almeida, Alves e Delicado (2011) quando afirmam que “Crianças e jovens ocupam, de fato, lugares de destaque no processo de inovação tecnológica” (Almeida; Alves; Delicado, 2011, p. 09). São elas que, nesse contexto de pesquisa, ensinam a seus pais e avós como fazer uso da internet através das conversas pelo whatsapp, acessando o facebook, compartilhando e enviando arquivos, realizando chamadas de vídeos, enviando mensagens, ensinam como salvar um número no aparelho celular ou ainda como utilizar os termos comuns às redes sociais (salvar, postar, acessar).

Quando perguntamos a alguma pessoa adulta, em geral acima dos cinquenta anos de idade, como ela aprendeu a usar seu aparelho smartphone e a internet, recebemos como resposta “meu filho(a)”, “meu neto(a)”, ou ainda outra criança com a qual se tem uma relação mais próxima, como um afilhado.

São as crianças que comumente iniciam os adultos no uso das novas TIC’s. Elas, por sua vez, afirmaram quase sempre terem aprendido sozinhas. “A entrada massiva de equipamento tecnológico em casa veio reavivar na família um estatuto de lugar de produção e transmissão de saberes entre gerações – digitais, neste caso” (Almeida et al, 2013, p. 354). De fato, as crianças possuem uma relação muito próxima com a internet. Na verdade, uma das pesquisadoras foi ensinada por uma delas a como encontrar os chamados GIF que existem no aplicativo do whatsapp e, mesmo depois de ensinada, quando tentou encontrar sozinha, não teve a mesma facilidade que a criança.

Pensamos que essa relação denote uma das várias formas de manifestação da criança no meio social no qual se encontra inserida, pois “as crianças constituem, justamente, coortes que permanentemente entram e reciclam a vida social” (Almeida et al, 2013, p. 343). Acreditamos na capacidade de agência das crianças, que elas atuam tanto como criadoras de culturas próprias, quanto como coprodutoras do seu processo de socialização. Não podemos negar que em uma relação geracional como a de crianças e adultos exista sempre um teor de domínio das crianças pelos adultos, considerando a relação tutelada da criança por suas limitações.

Contudo, o que temos observado é que são elas quem mais detêm conhecimento e manejo sobre as novas TIC’s, ensinando aos adultos e também inserindo-os nesse mundo mais tecnológico. Isso se apresenta como uma mudança importante no meio rural, dada a relação tradicional de transmissão do conhecimento que é passada do adulto às crianças. Nesse sentido, há uma clara inversão geracional de transmissão de conhecimento e também de poder, uma vez que são as crianças que detêm o maior domínio em relação às novas TIC’s.

Almeida et al (2013), ao pesquisarem entre as crianças de Portugal, nos mostram que são elas que

lideram na apropriação e uso competentes de novas tecnologias de informação e comunicação, revelando intensidades de utilização e níveis de proficiência superiores aos adultos e exibindo notáveis capacidades de navegação e comunicação no ciberespaço”.

Apesar de encontrarmos semelhanças, não temos a intenção de generalizar essa relação para as crianças de outros contextos sociais. Seriam necessárias novas pesquisas para averiguar essa relação, mas é possível que, em contextos sociais onde haja um maior nível socioeconômico e educacional, os adultos já estejam inseridos nesse meio e, provavelmente, sejam os pais que iniciem as crianças nesse mundo tecnológico. Talvez, nesses contextos, os adultos já possuam um domínio adequado sobre o uso das novas TIC’s e as crianças tenham acesso mais cedo a diferentes tipos de aparelhos.

Enfatizamos essa relação no nosso contexto de pesquisa porque acreditamos que “Trazer o contexto para a análise, admitir que ele conta, pode justamente fornecer novos contributos para a discussão teórica da  relação geracional na contemporaneidade, a partir do impacto das novas tic” (Almeida et al, 2013, p. 248).

Na zona rural de Orobó, o uso mais comum é dos smartphones e, em alguns poucos casos, de aparelhos notebooks e tablets. Quase sempre o smartphone é do pai, da mãe ou de outra pessoa adulta próxima à criança. Raramente encontramos crianças que são detentoras desse tipo de aparelhos, embora tenhamos visto uns poucos casos, mas isso não é empecilho para que elas tenham relação com o aparelho. Geralmente, o uso é negociado, as crianças pedem para utilizar o celular e os adultos consentem. Essa relação também é compartilhada entre pares, as crianças compartilham o conteúdo consumido entre elas.

Um fato interessante é que mesmo aquela criança que faz parte de uma família cuja situação econômica não permite ainda a aquisição de tais aparelhos não fica sem consumir aquilo que a internet fornece. Foi assim que vimos duas crianças na calçada assistindo pelo celular um vídeo do comediante Tirulipa pelo canal do youtube. Sabíamos que uma delas não possuía acesso ao aparelho smartphone, por já conhecermos as condições socioeconômicas de sua família. Mas, mesmo em casos como esse, as crianças não deixam de ter acesso ao conteúdo disponível na internet, elas o detêm através da relação de generosidade que há entre seus pares. Por isso, acreditamos que:

A internet funciona também como um veículo de comunicação entre indivíduos e as novas tecnologias constituem atualmente um dos instrumentos estruturantes da cultura de pares entre crianças, por isso é determinante ter-se acesso a elas na construção do sentimento de pertença e de identidade (Buckingham, 2008 apud Almeida; Alves; Delicado, 2011, p. 21).

Outro fato interessante nessa cena onde uma criança compartilhava o vídeo com outra, é que elas o assistiam na calçada, porque estavam utilizando o wifi de uma terceira pessoa. Essa relação de generosidade nos parece interessante, pois esse compartilhamento permite o acesso à internet sem que a senha seja fornecida diretamente. Isso ocorre da seguinte maneira: a proprietária da rede coloca, ela mesma, a senha no aparelho da pessoa que pediu para usar seu wifi. De qualquer modo, compartilha-se o acesso à internet, mas a senha que permite o acesso a ela, não. Essa é mantida no mais absoluto sigilo.

Apesar disso, as novas TIC’s são compartilhadas e consumidas entre as pessoas, que as usam nas calçadas, na praça, na rua ou mesmo em casa. Isso nos mostra que a internet é para a criança da zona rural um meio de sociabilidade, não ocorrendo nesse contexto o que Cardoso (2012) chamou de “cultura de quarto”, onde as crianças se enclausuram em seus quartos, vivendo cada vez mais conectadas e isoladas devido ao uso excessivo da internet.

No meio rural, compartilha-se mais do que o acesso à internet, compartilha-se a vida. O rural nunca é singular. Parafraseando Guimarães Rosa, dizemos que, no mundo rural, “viver é plural”. As crianças, desde muito cedo, aprendem isso. 

 

O uso da internet pelas crianças: as redes mais acessadas

O mundo está se tornando cada vez mais tecnológico, e as crianças “estão usando cada vez mais as tecnologias digitais” (Cabello; Claro; Cabello-Hutt, 2015). “Em 2014, mais de 70% das crianças e dos adolescentes brasileiros entre 10 e 17 anos de idade foram considerados usuários da Internet” (CGI.br, 2015). Esse crescimento também vem ocorrendo com as crianças da zona rural.

O título deste tópico aponta para a rede social mais utilizada pelas crianças da zona rural de Orobó, o youtube. Talvez, pela diversidade que essa rede proporciona, pois ali se pode encontrar diversos vídeos sobre, músicas, filmes, desenhos, vídeos de comédias, tutoriais sobre variados temas. Percebemos então que o uso da rede social para as crianças se apresenta muito mais como um entretenimento. A partir do momento em que se conectam, uma gama de informações culturais passa a fazer parte do universo da criança: ela conhece outros lugares, outras culturas, outras práticas e costumes. Essa conexão faz com que as crianças vivam em universos multiculturais (Friedmann, 2012).

Apesar de o youtube ser a rede mais acessada pelas crianças, há uma distinção entre aquilo que é visto por meninas e meninos, e há ainda outras redes que são acessadas com menor frequência. As meninas geralmente assistem a vídeos de músicas, desenhos, tutoriais de maquiagem. Um dos canais também bastante mencionado foi o “Bela bagunça”4,  um canal onde uma menina de aproximadamente 10 anos de idade, juntamente com seu irmão mais novo, produz vídeos sobre vários assuntos. Os meninos, em sua maioria, assistem a filmes, vídeos de comédia, jogos.

A expressão “Oi, galerinha do youtube” foi reverberada por algumas crianças quando, em conversa com uma das pesquisadoras, descobriram seu aparelho celular e logo perguntaram se filmava. Quando a câmera foi ativada, as crianças falaram “Oi, galerinha do youtube”, fato que nos chamou a atenção. Entre os adolescentes, o youtube também é uma rede muito acessada, mas as redes sociais como facebook já começam a se fazer presentes, o que não ocorre entre as crianças.

Poucas são as crianças que usam a internet para fins educacionais como pesquisar algum trabalho da escola. Em geral, seu uso encontra-se muito mais relacionado com a socialização e a sociabilidade do que com questões educativas.

Outro fator importante é que, embora esse avanço tecnológico venha ganhando espaço na zona rural, sobretudo entre as crianças, elas não estão voltadas exclusivamente para essa relação. As crianças continuam brincando nas ruas, nas praças, e os novos elementos que vão surgindo como a introdução das novas TIC’s vão sendo incorporados e acrescentados com a prática já estabelecida. É como se houvesse uma fusão entre elementos novos e tradicionais. 

 

Considerações Finais

Nosso objetivo com este trabalho foi demonstrar como a zona rural tem se tornado cada vez mais conectada às novas TIC’s, acompanhando, ainda que não no mesmo ritmo, os avanços tecnológicos no mundo. Procuramos mostrar também como as crianças são peças fundamentais para essa propagação naquele contexto. São elas que, na curiosidade própria da infância, descobrem e dominam mais facilmente esse mundo. Elas também ensinam aos adultos a conectarem, a usar o smartphone para falar com um parente que mora em outra cidade, facilitando-lhes o processo de comunicação. Essa relação de inversão funcional geracional nos mostra que “não há uma idade única para o aprendizado cultural: não apenas as crianças aprendem, mas os adultos não cessam de aprender; as crianças aprendem tanto quanto ensinam, dos/aos seus pares e dos/aos adultos” (Pires, 2010, p. 148).

Reafirmamos que, nesse contexto, o uso das novas TIC’s pelas crianças não contribui para o individualismo, produzindo a chamada “cultura de quarto”, mas, pelo contrário, as crianças, além de fazerem até mesmo o uso coletivo das novas TIC’s em lugares públicos como praça e calçadas, continuam brincando nas ruas. Brincadeiras com bola e o andar de bicicleta são as mais comuns, mas outros tipos também podem ser vistas, como brincar no balanço, brincar de roda, pega-pega e até mesmo brincar com alguns animais de pequeno porte como, por exemplo, a galinha, também são brincadeiras comuns e presentes. O uso lúdico das novas TIC’s não exclui, nesse contexto, as brincadeiras mais tradicionais como parece acontecer na visão de alguns autores que afirmam que tais brincadeiras parecem estar cada vez mais raras, tendo em vista o aumento do uso das novas TIC’s (Paiva; Costa, 2015).

Embora a democratização do acesso à internet seja um fator evidente na zona rural de Orobó, a escola, mesmo equipada com computadores e possuindo acesso à internet, ainda não explora essa capacidade de seus alunos, o que não contribui para o uso das TIC’s para fins educacionais.

Por fim, alertamos para a necessidade de se produzir políticas educacionais que ensinem e incentivem as crianças a usar a internet de forma educativa, que alertem as crianças para os possíveis perigos de um “mau uso”. E isso, certamente, pode contribuir positivamente para a continuidade das mudanças e avanços no mundo rural. Finalizamos, afirmando que, dada a limitação que a elaboração deste trabalho acarreta, acreditamos que as lacunas aqui existentes possam ser futuramente preenchidas em trabalhos vindouros.

 

 

Referências Bibliográficas

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Data de recebimento: 28/02/2018
Data de aceite: 09/06/2018

 

 

1 As crianças que observamos fazendo uso das novas TIC’s possuíam entre 7 e 11 anos de idade.

2 A pesquisa que originou este trabalho teve início no ano de 2017 e encontra-se em fase de finalização, mas algumas questões como as que são aqui apresentadas já puderam ser analisadas pelas autoras. Nesse processo, as idas a campo ocorreram mensalmente, e a permanência em campo tinha duração de 10 a 15 dias, nos quais a pesquisadora ficava residindo no local.

3 De igual modo segundo os moradores, em 1992, foi instalada na comunidade de Matinadas uma cabine telefônica da TELPE, mas demorou ainda uma década para que esse sistema de comunicação chegasse à Vila Feira Nova e aos sítios.

4 O Bela Bagunça é um canal no youtube que apresenta atualmente 3 milhões e 900 mil inscritos. No instagram, a página Bela Bagunça conta com 275 mil seguidores, a maioria crianças. Alguns dos vídeos possuem mais de 4 milhões de visualizações.

 

 

I Patrícia Oliveira S. dos Santos: Doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. Mestre em Antropologia e bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba. É integrante do grupo Crias: criança, sociedade e cultura da UFPB e trabalha com temas relacionados à criança e à infância, com destaque atualmente para a infância rural. E-mail: patriciaoss1288@yahoo.com.br

II Maria de Assunção Lima de Paulo: Doutora em Sociologia. Professora da Universidade Federal de Campina Grande, desenvolve pesquisas no campo da sociologia rural com ênfase em cultura, identidades, juventude rural e educação. E-mail: assuncaolp@yahoo.com.br

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