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Desidades

On-line version ISSN 2318-9282

Desidades  no.27 Rio de Janeiro May/Aug. 2020

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Mònica Figueras-MasI; Mauricio PerondiII; Carmen FloresIII

IProfessora Titular do Departamento de Comunicación de la Universitat Pompeu Fabra (Barcelona-España). Coordenadora do grupo de pesquisa JOVIS.com
IIProfessor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (Porto Alegre-Brasil). Membro do Grupo de Trabalho Movimentos sociais, sujeitos e processos educativos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-ANPED (Brasil)
IIIProfessora com dedicação exclusiva do Centro de Investigaciones Interdisciplinarias Sobre Desarrollo Regional da UATx, México. Integrante do Sistema Nacional de Investigadores SNI-C CONACYT

 

 

DOSSIÊ METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS DE PESQUISA COM JOVENS

Nesta edição, apresentamos o dossiê Metodologias Participativas de Pesquisa com Jovens, cujos editores convidados para sua organização e curadoria foram selecionados a partir de uma chamada pública emitida pela DESIDADES. Trazemos também nesta edição a entrevista O problema social da obesidade e sua prevalência entre crianças e adolescentes, com as professoras Rosely Sichieri e Rosangela Alves Pereira, 3 resenhas e o levantamento bibliográfico de obras recentemente lançadas sobre infância e/ou juventude na América Latina no âmbito das ciências humanas e sociais.

Equipe Editorial

 

DOSSIÊ METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS. REFLEXÕES E DESAFIOS METODOLÓGICOS NA PESQUISA COM, SOBRE E PARA JOVENS

Professores/as Convidados/as
Mònica Figueras-Mas - UPF - Espanha
Mauricio Perondi - UFRGS - Brasil
Carmen Flores - CIISDER - UATx - México

Os termos "jovens" e "jóvenes" somam quase 400 milhões de entradas nas buscas realizadas no Google. Sem dúvida alguma, as/os jovens ganharam um papel central no desenho e na implementação de agendas tanto políticas - em nível local, nacional e transnacional - como midiáticas - com especial ênfase no âmbito do virtual. Acompanha esse processo um mais que relevante aumento do interesse da Academia no que se refere ao estudo, análise e reflexão teórico-conceitual em torno das múltiplas e diversificadas problemáticas que afetam os/as jovens na atualidade, tais como - entre outras temáticas - escolaridade e emprego; emancipação e acesso à moradia; produção e consumo cultural; participação política (in)formal; segregação, exclusão e racismo; patriarcado e violência machista; repressão e conflito etc. Tudo isso vem profundamente matizado pelos diferentes contextos geográficos, sociais, culturais, econômicos, políticos e sociais em que os/as jovens desenvolvem suas identidades.

No entanto, uma parte importante da literatura científica sobre juventude produzida nas últimas décadas provém do mundo anglo-saxão, marcando - por sua vez, em grande medida - a forma como concebemos os jovens, não somente a partir do reduzido Norte Global, mas do próprio Sul Global, no que diz respeito, particularmente, aos valores, discursos, vozes, gramáticas e práticas produzidas, reproduzidas e consumidas pelos jovens dos países latino-americanos. Um número crescente de acadêmicos tem começado a explorar os múltiplos, complexos e vibrantes mundos das culturas juvenis de todos os continentes. Essa diversificação dos campos e perspectivas geográficas parece, de fato, fundamental para compreender o mosaico das culturas juvenis contemporâneas em um mundo em acelerada transformação e altamente conectado. Além disso, no atual contexto de profunda incerteza em muitos países da América Latina, a investigação sobre as/os jovens torna-se uma tarefa de extrema complexidade, tanto no que se refere à aproximação teórico-conceitual e metodológica, quanto no desenvolvimento do trabalho de campo etnográfico, bem como na implementação de novas políticas para a juventude. A isso se somam os mecanismos de repressão para aqueles/as pesquisadores/ as que, no âmbito de uma antropologia reflexiva, realizam um ativismo acadêmico que é parte intrínseca e fundamental de sua profissão de pesquisador/a.

Diante disso, a aplicação de boa parte dos paradigmas "clássicos", conceitos e ferramentas teórico-conceituais e metodológicas em contextos complexos encontram algumas dificuldades. Isso nos leva a discutir, (re) pensar - e até, talvez em alguns casos -, (re) definir o conjunto de metodologias de pesquisa participativa com os jovens, especialmente no que diz respeito não apenas ao como e ao porquê das metodologias participativas, sobretudo com relação à coleta de dados etnográficos e seu processamento, mas principalmente no que se refere à interseccionalidade e simultaneidade dos diferentes métodos de pesquisa participativa.

Com a finalidade de fomentar o diálogo interdisciplinar, os estudiosos das juventudes latino-americanas foram convidados a colaborar com esse número especial, intitulado Metodologias Participativas. Reflexões e desafios metodológicos na pesquisa com, sobre e para jovens, para ajudar-nos na compreensão de algumas realidades da vida cotidiana das e dos jovens latino-americanos na atualidade, de uma maneira participativa e menos intrusiva.

A convocatória para este dossiê propôs temas como: a perspectiva de gênero, questões éticas, legais e de segurança, empoderamento, o agenciamento juvenil como motor de transformação e emancipação de comunidades locais, passando pelas estratégias de transferência de conhecimento, divulgação científica e retorno social no âmbito dos estudos de juventude, experiências de pesquisadores jovens com jovens, etnografia digital e culturas juvenis, até os processos educativos e de participação juvenil.

O diálogo online, iniciado há mais de quatro meses entre mais de quarenta pesquisadores de dois continentes, resultou neste dossiê, no qual são compartilhados novos aspectos metodológicos que nos permitem abordar os jovens sob diferentes perspectivas. As metodologias participativas nas pesquisas sobre juventude ou com jovens aparecem nesses 6 artigos de maneira bastante diversificada: como modos de aproximação dos jovens, como perspectiva política e como incorporação dos jovens ao processo de construção e análise da pesquisa. Assim, aprendemos que a forma como se dará a participação na pesquisa com os jovens nunca está dada de antemão, mas precisa ser construída no próprio processo de realização da pesquisa.

Um dos exemplos está na discussão sobre a metodologia das cartas para captar o fluxo urbano dos jovens, realizada por Victor Oliveira, Andreia Santos e Miriam Lacerda. Nesse artigo, eles empreendem uma proposta de pedir aos jovens que escrevam uma carta para um viajante que chegasse à cidade deles. Assim, os autores conseguiram, junto a um grupo de estudantes de uma escola, levantar os seus roteiros cotidianos, os lugares públicos e de lazer por onde os jovens circulam, bem como as percepções sobre a insegurança urbana.

Por sua vez, Annaliesse Hurtado Guzmán dá conta da importância de construir metodologias participativas para a pesquisa com jovens sem teto ou em meios institucionalizados na periferia da Ciudad de México. A autora nos mostra como a troca de conhecimentos e o envolvimento entre a pesquisadora e os sujeitos são fundamentais para a geração de novos saberes.

Já Luiz Groppo e Mariana Pereira narram uma experiência de pesquisa participativa com coletivos estudantis, a partir da participação em diferentes encontros e eventos. Os autores ressaltam não apenas a importância da elaboração de metodologias de pesquisa que incorporem os jovens como formuladores das propostas, como também evocam os desafios de pesquisa a partir das dimensões etária e geracional dos pesquisadores.

A participação não apenas no âmbito da pesquisa acadêmica, mas também nas múltiplas possibilidades de ação e representação política é o que destacam Alessandro Machado, Irene Santos e Rafael Arenhaldt. Conforme esses autores, seria preciso ouvir e dar mais voz aos mais jovens, desenvolvendo, assim, uma pedagogia da confiança, que os faça acreditar que participar nas mais diferentes esferas públicas é fundamental para as suas vidas.

Por outro lado, Manel Jiménez, Mittzy Arciniega e Ariadna Santos apresentam dois projetos de pesquisa nos quais o audiovisual tem sido aplicado como uma ferramenta empoderadora, tanto individualmente quanto na construção da identidade coletiva e de uma cidadania mais crítica, comprometida e participativa.

Por fim, Nele Hansen reflete sobre duas técnicas (jogo de associação e passeio pelo bairro) para uma pesquisa com jovens que incentive processos criativos e de ação, a fim de favorecer discursos livres sobre identidades e pertencimentos socioculturais.

Nós, editores, temos a certeza de que os artigos que compartilhamos nos ajudarão a compreender as/os jovens a partir de suas realidades e que a pesquisa e/ou a participação por meio de políticas públicas locais e internacionais sejam realizadas com elas/eles.

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