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versión impresa ISSN 2359-0769versión On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.17 no.3 Fortaleza sept./dic. 2017

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v17i3.5520 

DOSSIÊ: ADOLESCENCIA EM PSICANÁLISE

 

O que a clínica do adolescente nos ensina sobre o ato?

 

What does the clinic with adolescent teach us about the act?

 

¿Qué nos enseña la clínica de lo adolescente sobre el acto?

 

Qu'apprenons-nous de la clinique d'adolescent a propos d'acte?

 

 

Aline de Oliveira e Souza (Lattes)I; Doris Luz Rinaldi (Lattes)II

IPsicóloga do Colégio Pedro II, Mestre em Psicanálise pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Especialista em Psicologia Clínica-Institucional na modalidade de Residência no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE)/UERJ, Especialista em Psicanálise e Saúde Mental pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
IIPsicanalista, Doutora em Antropologia Social (UFRJ), Professora Associada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), membro do corpo docente do Programa de Pós-graduação em Psicanálise (IP/UERJ), Procientista da UERJ, Pesquisadora do CNPq, membro do GT da ANPEPP, Psicanálise, Política e Clínica

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo tem por objetivo situar, a partir de fragmentos clínicos do acompanhamento de uma adolescente em uma instituição pública de saúde, o conceito de ato para a psicanálise, segundo a teoria de Sigmund Freud e Jacques Lacan. Abordaremos a especificidade do ato, tanto no que diz respeito a um modo peculiar de repetição - pela via da compulsão, que não aparece pela via da fala, mas pela atuação (acting out) - quanto no que tange ao ato do analista como função - indicando sua particularidade na incidência de um corte em relação à repetição como compulsão. Essa experiência clínica convoca-nos a pensar sobre a prevalência da repetição pela via do ato, que tem o corpo como destino, assim como sobre a função do ato analítico, que pode operar a partir desse significante enigmático que se revela no ato, de modo a deslocar uma repetição em ato para uma repetição pela via da fala.

Palavras-chave: ato; repetição; significante; ato analítico.


ABSTRACT

This paper aims to pinpoint, from a clinical practice with an adolescent in a public general hospital, the concept of the act for psychoanalysis, according to Sigmund Freud and Jacques Lacan's theories. We will discuss the specificity of the act both as regards a peculiar mode of repetition, by way of compulsion that do not appear by means of speech, but by the acting out; as in regard to the analyst's act as function, indicating its particularity in the incidence of a cut in relation to repetition as compulsion. One's clinical approach to adolescent draws attention to consider the prevalence of repetition by way of the act, which has the body as a target. In addition, as the function of the analytic act can operate from an enigmatic signifier that is revealed in the act, so to allocate a repeat act in a repetition by means of speech.

Keywords: act; repetition; significant; analytic act.


RESUMEN

El presente artículo tiene como objetivo colocar, a partir de fragmentos clínicos del acompañamiento de una adolescente en una institución pública de salud, el concepto de acto para el psicoanálisis, de acuerdo con la teoría de Sigmund Freud y Jacques Lacan. Vamos a discutir el acto específico tanto en lo que respecta a un modo peculiar de la repetición, a modo de compulsión que no aparecen por la vía del habla, sino por la actuación (acting out), como en lo que se refiere al acto analista como función, indicando su particularidad en la incidencia de un corte en relación con la repetición como compulsión. Esta experiencia clínica nos llama a pensar en la prevalencia de la repetición por medio del acto, que tiene el cuerpo como destino, así como sobre la función del acto analítico, que puede operar a partir de ese significante enigmático que se revela en el acto, de modo a desplazar una repetición en acto para una repetición por la vía del habla.

Palabras clave: acto; repetición; significante; acto analítico.


RÉSUMÉ

Cet article vise à situer, de la clinique d'une adolescent dans une institution de santé publique, le concept d'acte pour la psychanalyse, selon la théorie de Sigmund Freud et Jacques Lacan. Nous allons discuter de spécificité de l'acte à la fois en ce qui concerne un mode particulier de répétition, par voie de contrainte qui ne semble pas au moyen de la parole, mais par l'acte (acting out); comme en ce qui concerne l'acte de l'analyste en fonction, indiquant sa particularité de l'incidence d'un coupe par rapport à la répétition comme contrainte. La clinique de l'adolescent convoque à réfléchir à la prévalence de la répétition par le biais de la loi, qui prends le corps comme destination. Et comme la fonction de l' acte analytique peut fonctionner à partir de ce signifiant énigmatique qui se révèle dans l'acte, afin de déplacer une répétition en acte jusqu'à une répétition au moyen de la parole.

Mots-clés: Acte; Répétition; Significant; Acte Analytique.


 

 

A adolescência, de acordo com a psicanálise, longe de ser tomada como uma etapa evolutiva dentro de um viés desenvolvimentista, implica na atualização de questões relativas ao conflito edípico e à sexualidade, compelindo o sujeito a se posicionar na partilha dos sexos. O encontro com o outro sexo é sempre faltoso, marcado pela impossibilidade de completude. Desse modo, na adolescência, observa-se um trabalho de elaboração da falta, da perda de um corpo infantil e "o desligamento da autoridade dos pais" (Freud, 1905/1981a, p.126). Nesse momento, o sujeito constata a insuficiência de Outro que possa responder às vicissitudes do encontro com o real diante do outro sexo. Como nos mostra Lacan, o Outro, como campo da linguagem, é o primeiro lugar no qual se produzem as identificações e representações que irão constituir o sujeito enquanto borda corporal, delineando os caminhos de prazer. Na adolescência, entretanto, esse Outro se atualiza como furado, o que resulta na perda de um suporte identificatório que possa situá-lo perante o encontro com a sexualidade e às mudanças corporais engendradas pela puberdade. O sujeito é acometido por um extravasamento pulsional que, por escapar ao domínio do simbólico, é acossado pelo real, trazendo o retorno de um estranho, que, muitas vezes, localiza-se no próprio corpo.

Em seu texto O estranho, Freud (1919/2008d, p.275) articulou a dimensão do estranho (unheimlich) como sendo o que "relaciona-se sem dúvida ao que pertence à ordem do assustador, do que provoca angústia e horror". Contudo, apontou que a palavra estranho, em alemão, contém o que é familiar (heimlich), o lugar onde o sujeito se sente em casa. Lacan (2005, p. 58), em O Seminário 10: a angústia, ao citar o texto freudiano, sublinha que "o homem encontra sua casa num ponto situado no Outro para além da imagem de que somos feitos". É justamente nesse campo do Outro como lugar simbólico que, por estrutura, sempre vai faltar um significante que possa dizer o todo do sujeito. Essa insuficiência do campo do Outro, do qual o adolescente é testemunha, compele o sujeito a se situar nas brechas de sentido, buscando construir um lugar que lhe seja próprio. É na falha que se localiza a principal transmissão dos pais a seus filhos, por permitir ao adolescente inscrever um lugar para si, que pode ganhar o estatuto de uma marca singular.

Por esse viés, no que tange à questão do corpo na adolescência, este se torna a sede privilegiada de investimentos libidinais, ao se situar, por um lado, para além do recorte pulsional delineado na infância, evocando angústia e ocupando o lugar do Outro enquanto estrangeiro (Lacan, 2008a); por outro lado, é no apelo ao corpo que, não raro, o adolescente encontra um campo privilegiado e singular de inscrição, como uma forma de se fazer representar diante do Outro. Costa (2003) aponta que marcar o corpo, como com tatuagem, cortes ou mesmo com piercing, é uma tentativa de singularizá-lo através de um traço diferencial, assim como uma forma de inscrever-se no campo do Outro.

Alberti (1999, p.51), por sua vez, observa que, na adolescência, como forma do sujeito lidar com as questões que se apresentam na ordem de um excesso libidinal, se manifesta uma "tendência a agir" - segundo uma expressão cunhada por André Haim (1971), citada por Alberti (1999) - que se exterioriza nas "fugas, ingestão de drogas, anorexia, tentativas de suicídio", automutilações, como testemunha a clínica com esses jovens. Muitos desses casos se configuram em atos que incidem no próprio corpo, marcados por uma compulsão a uma repetição incessante mobilizada pelo gozo e trazendo, muitas vezes, um caráter mortífero.

 

Repetição E Ato

Freud (1920/2006), em Além do princípio do prazer, estruturou o mecanismo da repetição, situando-o como um conceito fundamental da teoria psicanalítica por revelar o próprio movimento da pulsão, que está na base do conceito de inconsciente. A partir de sua experiência clínica, postula que, embora haja no aparelho psíquico uma forte tendência ao princípio do prazer, de modo a manter o nível de excitação o mais baixo possível, não é possível dizer que se trata de um domínio, pois há circunstâncias em que algo se opõe a essa tendência. Freud encontrou nos sonhos da neurose traumática, no jogo do fort-da da criança e na repetição das brincadeiras infantis, um denominador comum nessas observações tão heterogêneas: uma compulsão à repetição que transpõe os limites preconizados pelo princípio do prazer. Mesmo portando um alto nível de desprazer para o sujeito, tais cenas eram repetidas na tentativa de transformar uma experiência de desprazer em prazer. Como no caso das brincadeiras infantis, nas quais as crianças repetem "tudo aquilo que lhes causou forte impressão em sua vida, e assim ab-reagem à intensidade da impressão que sofreram, e tornam-se, por assim dizer, senhoras da situação" (Freud, 1920/2006, p.143).

Segundo o autor, o que o sujeito visa na repetição é um retorno a "um estado anterior" de coisas, na tentativa de transformar uma experiência de desprazer em outra, na qual teria obtido mais prazer, como na primeira experiência de satisfação, que nunca existiu na realidade. Porém, o retorno sempre buscado tropeça em uma "repetição de decepção" (Lacan, 1988, p.42), pois, com a intervenção da linguagem, o encontro almejado é sempre faltoso. A compulsão à repetição, marcada por esse retorno ao mesmo lugar, é, justamente, a repetição desse furo, dessa falta inviolável do campo do simbólico, que diz respeito ao registro do real.

Freud observou que o mais além do princípio do prazer não contradiz o princípio do prazer, pelo contrário, atua de forma independente dele, ultrapassando-o. Se, por um lado, na compulsão à repetição extrapolam-se os limites de satisfação do princípio do prazer, causando um desprazer; por outro lado, encontra-se uma satisfação, mesmo que parcial, no campo do mais além do princípio do prazer. Acentua Freud (1920/2006, p.145): "trata-se de um desprazer para um sistema e prazer para outro".

O mecanismo da pulsão, inerente à constituição do inconsciente, alcança uma satisfação pelo próprio movimento da repetição ao não atingir o objeto de desejo e, portanto, ao não obter a satisfação que seria completa. Nesse limite, no qual a pulsão somente pode visar o seu retorno, podemos situar o campo do gozo, em que o sujeito encontra alguma satisfação pela via da repetição como compulsão. O gozo, por sua vez, somente pode ser vivido no corpo: "não há gozo senão do corpo", indica Lacan (2008a). Na conferência O lugar da psicanálise na medicina, Lacan (1966/2001a, p.12) situa o gozo como sendo sempre "da ordem da tensão, do forçamento, do gasto, até mesmo da proeza. Há incontestavelmente gozo no nível em que começa a aparecer a dor".

Desde o início de sua obra, Freud trabalha o conceito de repetição a partir da clínica, examinando a importância da rememoração de um trauma psíquico através da fala, de forma a despertar o afeto que o acompanha, trazendo efeitos sobre o sintoma histérico. Em seu texto Recordar, Repetir e Elaborar, abordou um modo peculiar de repetição, que não aparece pela via da recordação pela fala, sob transferência, mas pelo ato. Freud observa que, em certos casos, pode haver um momento em que "a transferência se torna hostil ou excessivamente intensa e, portanto, precisando ser recalcada, . . . o recordar imediatamente abre caminho para a atuação (acting out)" (Freud, 1914/2008a, p.198).

O retorno de certas lembranças que se destinariam à fala, sob transferência, sofre a ação do recalque - devido à censura de seus conteúdos ou provocado pela própria transferência -, fazendo com que o sujeito não repita como lembrança, mas como ação. Pontua Freud (1914/2008a, p. 196): ". . . o paciente não recorda, geralmente, nada do que foi esquecido e recalcado, mas o atua (acting out). Não o reproduz como recordação, mas como ação; o repete sem saber que está repetindo"1.

Lacan (2005) trabalha o acting out retomando o caso freudiano de uma adolescente, nomeado de A Jovem Homossexual. Essa jovem de dezoito anos começou a apresentar uma grande devoção a uma "certa dama da sociedade", bem mais velha, que sabia manter relações íntimas com outras mulheres, exibindo-se em público com ela onde quer que fosse. Em determinada cena, a jovem passeia com a amada de modo que o pai pudesse vê-la. Ele, vendo-a, lançou um olhar de ira à filha; no momento seguinte, ao comunicar à dama sobre a reprovação do pai, ela lhe disse que o caso terminasse por ali mesmo. Nesse instante, quando a jovem se viu largada de mão pelo pai e pela dama, precipita-se por cima do muro em direção à linha ferroviária que passava logo ali embaixo. Seis meses após esse episódio, e após o restabelecimento da jovem dessa "tentativa de suicídio", os pais buscaram tratamento. Freud (1920/2008e) assinala que quanto mais a jovem se enamorava dessa senhora, mais causava o desgosto do pai. A mãe, por outro lado, não demonstrava aflição diante do encantamento da filha por outra mulher. A mãe, na verdade, via na filha uma rival, mantendo uma vigilância e um afastamento na relação da filha com o pai, o que gerava pouca afeição por parte da jovem pela mãe.

Freud (1920/2008e) lê que a jovem, no momento de atualização de seu complexo de Édipo na adolescência, apresenta o desejo de ter um filho homem à imagem de seu pai. Mas esse desejo sofreu um grande desapontamento, pois quem teve o filho foi sua rival inconsciente: sua mãe, que engravida de seu terceiro irmão. Este parece ter sido o acontecimento marcante na vida dessa jovem aos dezesseis anos.

A mostração da cena com a dama a seu pai denuncia a jovem no lugar de objeto caído do desejo do Outro, pois, se a mãe a afastava do pai, este, por sua vez, só tinha olhos para sua linda mulher. Explicita Lacan (2005):

O acting out é, em essência, a mostração, a mostragem, velada, sem dúvida, mas não velada em si. Ela só é velada para nós, como sujeito do acting out . . . Ao contrário, ela é, antes, visível ao máximo, e é justamente por isso que, num certo registro, é invisível, mostrando sua causa. O essencial do que é mostrado é esse resto, é sua queda, é o que sobra dessa história (p.138).

Nesse sentido, o acting out põe em cena algo que se estrutura como não podendo ser dito, por dizer respeito ao objeto causa de desejo, que Lacan nomeia objeto a, o que resta da operação significante. É o a como causa que, no ato, se dirige ao Outro, na tentativa de recuperar seu lugar no desejo do Outro, lugar de constituição de todo sujeito. O que se repete no ato - e que, no entanto, não está acessível ao sujeito - é a sua posição como resto da operação significante. Desse modo, o ato comparece nesse lugar onde o sujeito está reduzido ao a, lugar, portanto, indizível e que somente pode aparecer pela via do ato. Há algo que escapa ao sujeito que ressurge no ato como uma mensagem dirigida ao Outro, mas uma mensagem que veicula um saber não sabido. Se, por um lado, um significante se faz presente em todo ato; por outro lado, o sujeito não se encontra no ato, de modo que não é o sujeito que pensa no ato, ele é pensado, é efeito do próprio ato.

No caso d'A Jovem Homossexual, Lacan, com Freud, observa que, se a jovem traz à cena o passeio com a dama para causar o olhar do pai, encenando esse lugar do objeto a para causar o desejo do pai (acting out), no momento seguinte, em que recebe o olhar de ira do pai junto com as palavras de pouco caso da dama, a jovem "deixa-se cair" na linha ferroviária, passando ao ato, ao sair da cena:

O acting out é a identificação do sujeito com o a ao qual ele se reduz. É justamente o que sucede com a moça no momento do encontro. Na passagem ao ato é o confronto do desejo com a lei. Aqui, trata-se do confronto do desejo pelo pai, sobre o qual se constrói toda a conduta dela, com a lei que se faz presente no olhar do pai. É através disso que ela se sente definitivamente identificada com o a e, ao mesmo tempo, rejeitada, afastada, fora de cena. E isso, somente, o abandonar-se, o deixar-se cair, pode realizar Lacan (2005, p.125).

 

Fragmentos Da Clínica

À guisa de pensarmos algumas questões a respeito da repetição pela via do ato, traremos alguns fragmentos de uma experiência clínica com uma adolescente de 16 anos atendida em uma instituição pública, que aqui chamaremos de Maria2. A adolescente relata fenômenos que acometem seu corpo, como falta de ar, tonturas, taquicardia e, principalmente, seus atos de cortar os pulsos, repetidos compulsivamente, que mobilizam muito seus pais.

Nas primeiras sessões, Maria chega dizendo que não queria estar ali, não tinha nada para conversar, emudecida, somente falando que havia se cortado mais uma vez. Embora algumas perguntas fossem feitas visando provocar algum ensejo de fala, não se obtinha sucesso. A partir do momento em que foi dito que ela podia ir ali para se acalmar, não necessariamente falar, realizando, inclusive, sessões mais curtas, ela pôde falar.

Maria diz que começou a se cortar aos 12 anos, fenômeno que apareceu após uma súbita falta de ar. Associa que, neste período, mudou de escola, começou a sair de casa para festas e a "ficar" com meninos, o que parece marcar o início de sua adolescência. Depois, começou a cortar seus pulsos, porque se sentia "triste", por ter "esses probleminhas de passar mal, ficar com falta de ar".

Os cortes engrenavam um circuito fechado: ficava "triste", não sabia bem por que, talvez por sentir falta de ar, aí se cortava. Ao se cortar, ficava triste, porque deixava seus pais também tristes. Ao ficar triste novamente, se cortava. Uma tristeza em ato. Lacan (2003, p. 371) nos diz: "o ato puro e simples tem lugar por um dizer".

O ato de se cortar implicava em um endereçamento ao pai, pois sempre o chamava para conversar nesses momentos. Este, por sua vez, interrompia o trabalho para ir ao encontro da filha. Endereçava-se também ao namorado, que cuidava dela fazendo seus curativos, sendo, segundo Maria, uma "prova de amor" (sic), pois ele queria ficar com ela, mesmo ela se cortando. Foi com esse namorado que iniciara sua vida sexual, sendo o período do namoro o de maior intensificação dos cortes. Em uma das sessões chegou a dizer que, muitas vezes, não sentia vontade de transar quando estava "cortada" (sic).

O caso de Maria nos ensina que sua adolescência é inaugurada pelo ato. Na adolescência, o sujeito é convocado a responder a partir da injunção de um real que se impõe no encontro, inevitavelmente faltoso, com o sexo. Tal encontro remete a algo de traumático na medida em que não há uma previsibilidade, implicando, inexoravelmente, um resto impossível de simbolizar. Aponta Alberti (1999, p.100): "Se existe crise de adolescência, ela existe porque o sujeito humano é um sujeito em crise, e essa crise se dá pelo fato de que, como diz Lacan, a sexualidade muito antes de fazer sentido faz furo no real". É essa falha estrutural inerente ao encontro com a sexualidade, quando começou a "ficar" com meninos, que Maria repete em ato no real de seu corpo, na tentativa de se situar diante do desejo do Outro e diante de seu próprio desejo. A repetição concernida no ato de Maria "fala de uma certeza e não de um saber; sobre o ato, só no depois pode haver algum saber. O ato é a resposta do inconsciente ao mais radical fora de sentido e por isso não pode ser dizível", como afirmam Lopes e Vinheiro (1990, p.80).

Podemos pensar que Maria repetia em ato ali onde não conseguia dizer. No início de seus atendimentos, apresentava-se emudecida, apenas mostrando seus cortes; endereçando seu corpo, em sacrifício, ao Outro, como também ao pai e ao namorado. Chamava através de seus atos no corpo, ali onde se via deixada pelo Outro: chamava o pai, mesmo sabendo que ele estava ausente, trabalhando; e o namorado, ao fazer seus curativos. O que desperta a atenção e o desejo de Maria é o fato de o namorado escolhê-la como sua amada mesmo ela se cortando. Em uma das sessões, Maria diz que, muitas vezes, se furtava de contestar o namorado sobre alguns "vacilos" que acabava descobrindo, como algumas mentiras, além de se ausentar quanto ao sexo, pois estava "cortada" do lugar do feminino, de se passar como objeto causa de desejo. Denuncia, com seu ato, o lugar de "cortada" do desejo do Outro, como um resto, uma vez que era impossível dizer. Seu corpo era palco de uma cena dirigida ao Outro na tentativa de recuperar seu lugar no desejo do Outro.

Na adolescência, o sujeito encontra-se em um estado de desamparo ao se deparar com a falta no Outro, o que requer uma elaboração, como lembra Alberti (2008). Para realizar esse trabalho de separação, o sujeito adolescente precisa que seus pais sustentem uma posição de investimento, de desejo perante ele, mesmo sendo, muitas vezes, alvo de críticas quando os adolescentes denunciam suas faltas. Dos pais exige-se que suportem "seu próprio aniquilamento através dos filhos", para que não desistam e nem se separem deles antes mesmo que os próprios filhos possam se separar. Caso isso aconteça e ocorra a inversão dos papéis, "a única solução encontrada pelo adolescente nesse momento em que se vê abandonado, é a de lutar desesperadamente pela atenção daqueles" (Alberti, 2008, p.10).

No caso de Maria, podemos ler que ela "se corta" desse lugar desejante, próprio ao sujeito na identificação ao desejo do Outro, para encenar o lugar do objeto caído, a, como uma forma de causar o desejo do Outro e demandar seu amor. Em uma entrevista do analista com seu pai, ele diz, seguido de um choro:

"Maria sempre foi uma ótima filha, ajuizada, estudiosa, nunca me deu trabalho. O que me preocupa e me tira do sério é essa coisa que apareceu, de ficar se cortando. Eu não entendo. E ela fica mais à vontade comigo, quando ela faz isso, quer conversar comigo. Eu paro tudo que estou fazendo e vou até ela, eu escuto, falo que ela não precisa disso. Mais eu não sei o que falar, não sei o que fazer, para que ela não faça mais isso. Me sinto impotente".

Com seu ato, Maria parece convocar o pai a ocupar seu lugar desejante diante dela. Seu pai, por sua vez, dá seu amor ao oferecer sua falta, pois ele é chamado a responder de um lugar em relação ao qual justamente não sabe o que dizer.

No que diz respeito ao seu trabalho de análise, em um primeiro tempo de seus atendimentos, Maria se apresentava emudecida, sua fala restrita a um eixo binário: se cortou ou não, além de procurar mostrar seus cortes, para que fossem vistos, inclusive detalhando quantos pontos havia levado. Aqui parece, novamente, se dirigir ao Outro, no caso o analista, oferecendo seu corpo cortado, em sacrifício, mas ainda sem uma narrativa. Chegava a dizer que queria parar de se cortar, como demandavam seus pais, mas não conseguia. Esta é a dimensão do acting out, no qual Lacan (2005) afirma que há uma transferência, pois se endereça ao Outro, mas uma transferência selvagem, uma vez que há uma mensagem enigmática que convoca o Outro, clamando por interpretação, mas ainda sem análise.

A questão evidenciada por Lacan (2005, p.140) consiste em como "pôr o cavalo na roda para fazê-lo girar no carrossel", ou seja, o que fazer para destinar uma repetição em ato a uma repetição pela via da fala? Eis aqui uma importante pergunta de forma a introduzirmos neste artigo outra dimensão do ato: o ato do analista, sendo somente a partir dele que um analista se funda enquanto função. Desse modo, para a construção de um possível lugar de demanda do lado do sujeito, para que um trabalho analítico possa se iniciar, não se pode prescindir de um manejo por parte do analista.

Se, no caso de Maria, podemos pressupor que havia ali uma transferência, ao endereçar ao analista seus cortes, qual a direção de um tratamento possível que possa produzir alguma descontinuidade em relação à repetição de seus atos? A psicanálise nos ensina que é somente na transferência que o tratamento pode se estabelecer, ou seja, é somente sob transferência, na qual o sujeito e o analista estão implicados, que o ato do analista pode operar.

 

Transferência E Ato Analítico

A transferência, enquanto fenômeno que evidencia a relação particular de um sujeito com o outro, não é algo criado pela psicanálise, mas revelado na análise, que a utiliza como instrumento na direção do tratamento. No artigo A dinâmica da transferência, Freud (1912/1981b) articula que a gênese da transferência está relacionada à posição do sujeito que se encontra parcialmente insatisfeito, o que faz com que dirija seus investimentos libidinais para outra pessoa, para o analista em especial. Mais adiante, na Conferência XXVII, intitulada Trasferência, Freud (1916-1917/2008c) assinala que a tendência à transferência, em dirigir para outras pessoas seus investimentos libidinais, é típica dos neuróticos.

A respeito da posição fundamental de insatisfação do neurótico, que o leva a dirigir sua demanda ao Outro, Lacan (1999) ressaltou a dialética do desejo e da demanda, que estaria na base da clínica das neuroses. Frisa que é no encontro com o Outro - e por ser este marcado pelo significante, indicando que a ele falta algo de essencial - que o sujeito (por estrutura, insatisfeito) é lançado aos desfiladeiros da demanda, pois, com a intervenção significante, o sujeito jamais é reduzido à necessidade. A demanda se delineia, assim, no traço de uma falta, originada na entrada do sujeito na linguagem: "a demanda introduz em seu pano de fundo o efeito do significante no sujeito, a marca do sujeito pelo significante, e a dimensão da falta introduzida no sujeito por esse significante" (Lacan, 1999, p.475). Nesse sentido, a demanda - sendo sempre travestida em exigência de amor, de presença, de saber - articula-se a uma falta estrutural, pois se demanda ao Outro que ele lhe dê o que a ele também falta: esse significante que traduza o desejo.

Quando o sujeito se situa no campo da demanda, colocando-se na posição de uma ignorância em relação a sua verdade, há, então, uma abertura à transferência, como articula Lacan (1986). A transferência se instala na conjugação da demanda com o saber, quando o sujeito, dessa posição, convoca o analista a ocupar esse lugar do Outro, de quem sabe a respeito da verdade de seu sintoma, que se refere ao desejo. Uma verdadeira demanda de análise nasce da posição do sujeito de querer desvencilhar-se de seu sintoma. Ao dirigir ao mestre uma pergunta a respeito do seu sintoma, para que ele produza um saber - histericização implicada em toda análise - há um saber suposto no lugar do analista. Lacan afirma (1988, p.220): " . . . cada vez que para o sujeito essa função do sujeito suposto saber pode ser encarnada em quem quer que seja, analista ou não, . . . a transferência já está então fundada". É sempre em torno do sujeito suposto saber que gravita tudo o que podemos chamar de transferência, reafirma Lacan (2003).

Desse modo, a análise inaugura uma relação particular na qual sujeito e analista estão implicados, mas não de forma recíproca ou simétrica, como assinalaram Freud e Lacan. Em torno da busca de uma verdade, conjuga-se um vetor em que um é aquele a quem se supõe saber; e o outro, o sujeito, que se encontra na posição daquele que ignora, pois denuncia um saber que ainda não se sabe, mas que o determina.

Maria, que também era atendida por um psiquiatra, traz para o atendimento com o analista uma pergunta dirigida ao seu psiquiatra sobre o que tinha, em que havia recebido como resposta um diagnóstico médico: "depressão ansiosa". Após essa fala, faz uma pausa, como se aguardasse uma resposta a partir de algum saber sobre esse diagnóstico que pudesse dizer algo dela. O fato de repetir essa pergunta já implica em um segundo tempo de elaboração, o que não deixa de colocar o analista em causa. Ao respondê-la com o silêncio, Maria pode dizer: "eu não sei o que isto significa". Diante novamente do silêncio do analista, Maria pôde então falar: "ele [psiquiatra] me falou várias coisas, mas eu não entendi muito bem. Para que eu consiga parar com os cortes, eu preciso saber o que acontece comigo". Aqui há uma colocação de Maria a respeito de seu ato articulado a um desejo de saber, que somente pôde aparecer a partir de um manejo em que o analista se ausentou de respondê-la.

Contudo, como articulam Costa e Rinaldi (2007, p.290), o silêncio do analista jamais implica em ausência, pois implica um ato de fazer falar, na tentativa de "uma abertura de espaço para que o sujeito possa retomar a palavra". Se a presença do analista com seu silêncio invoca algo do real, na medida em que manifesta uma ausência em presença, ou melhor, atualiza a falta estrutural de resposta do Outro, é para que algo aconteça do lado do sujeito: fazê-lo falar. Pontuam Costa e Rinaldi (2007, p.289): "Há algo de misterioso e enigmático nessa presença [do analista], que é da ordem do real () o real, enquanto presença de uma ausência, aquilo que, fora da representação, causa o movimento do sujeito, provocando uma inflexão no discurso". Ao analista, como indica Lacan (1988), cabe ser testemunha de uma perda, a perda estrutural do encontro sempre faltoso com o Outro, no qual não há respostas.

Desse modo, certamente, nada do que fosse dito à Maria iria suturar sua questão. Como ela mesma ensina, ao dizer que, mesmo com tantas explicações da psiquiatra, nada havia tido efeito para ela. Na verdade, o importante é que essa questão pudesse se sustentar como demanda, agora dirigida ao analista. Nessa situação particular, em que ela retorna a pergunta para o analista, o silêncio deste, ao não responder desse lugar de mestria, permitiu apontar que há um saber que a determina e, ao mesmo tempo, lhe escapa, passível de ser construído em análise, embora sempre não-todo. A partir de então, podemos situar o momento em que se inicia sua entrada em análise, ao falar mais livremente. Como ela mesma disse, o saber não estava mais do lado do analista, era ela quem precisava saber.

Lacan (1992), em O Seminário, livro 17: O Avesso da psicanálise, assinala que a análise funda, na verdade, uma torção em relação ao lugar do saber suposto. Assim, ao analista cabe, no manejo da transferência, retornar o saber para o analisante:

Eu insisti que nós somos supostos saber, grandes coisas. O que a análise instaura é justamente o contrário. O analista diz àquele que está para começar- Vamos lá, diga qualquer coisa, vai ser maravilhoso. É ele que o analista institui como o sujeito suposto saber. . . há um cara que me diz, a mim, grande babaca, que me comporte como se soubesse do que se trata. Posso dizer seja lá o que for, e isso sempre vai dar em alguma coisa. Isto não lhes acontece todos os dias. (Lacan, 1992, p.50).

Em O Seminário, livro 19: ... ou pior reafirma Lacan (2012):

. . . da análise há uma coisa que se deve prevalecer: é que há um saber que se extrai do próprio sujeito. No lugar do polo de gozo, o discurso analítico põe o S barrado. É do tropeço, do ato falho, do sonho, do trabalho do analisando que resulta esse saber. Esse saber, este não é suposto: ele é saber, saber caduco, migalha de saber, submigalha de saber. Assim é o inconsciente. (p.77)

O analista, assim, sem encarnar esse lugar de saber, promove um corte, um giro, privilegiando o saber que se manifesta na fala do sujeito, ou seja, fazendo com que o candidato à análise entre no discurso analítico para que produza seus próprios significantes mestres (S1) de sua alienação no Outro (Quinet, 2009).

Uma análise nasce na medida em que o analista inaugura, do lugar mesmo desse Outro, um saber do lado do sujeito. O sujeito, afinal, só pode saber referido a este Outro, uma vez que é nesse lugar que o saber se articula, como nos diz Lacan (2008b). O analista, referido a esse lugar, possibilita, enfim, a transferência. Desse modo, há uma implicação do analista para que a transferência se instale, pois é a situação analítica que a determina. Mas qual o lugar do analista na transferência, que acaba por desvelar a constituição estrutural do sujeito no Outro?

No primeiro tempo de constituição do sujeito, a intervenção da linguagem é o fator decisivo através da operação de alienação, onde Lacan (1988) destaca a presença de um vel(ou). A linguagem causa a divisão do sujeito, pois ao se alienar aos significantes do campo do Outro, aparecendo como sentido, em contrapartida, ele desaparece enquanto sujeito. Há uma perda de ser ao preço de advir como sujeito assujeitado pela linguagem. O sujeito que nos fala na análise, sob transferência, diz a partir de Outro que o sustenta. É por estar alienado à linguagem, originária do Outro, que ele paga um preço, pois a escravidão à linguagem o determina e o coloca inexoravelmente na castração.

É desse lugar de falta, de dívida, castrado, que o sujeito neurótico vem demandar ao analista que o cure de seu ser. E o analista, ao deixar o sujeito falar, deixa, enfim, re-velar o Outro que o constitui como sujeito. Como diz Lacan (1988, p.125), "a interpretação do analista não faz mais que recobrir o fato de que o inconsciente . . . em suas formações já procedeu por interpretação. O grande Outro já está lá". O analista dá lugar a esse Outro e, quando se cala, sustenta a possibilidade de que ele fale. Portanto, é em virtude da intervenção da linguagem que não podemos conceber jamais a relação analítica como dual, imaginária ou recíproca. É a palavra que sustenta tanto o sujeito na demanda quanto o analista no manejo da transferência. Em seu belíssimo texto A direção do tratamento e os princípios de seu poder, Lacan (1958/1998) se refere à posição do analista ao ofertar uma escuta.

Naquilo que ouço, sem dúvida, nada tenho a replicar, se nada compreendo disso ou se, ao compreender algo, tenha certeza de estar enganado. Isso não me impediria de responder. É o que se faz, fora da análise, em casos similares. Eu me calo. Todos concordam em que frustro o falante, e ele em primeiríssimo lugar, assim como eu. Por quê? Se eu o frustro, é que ele me demanda alguma coisa. Que eu lhe responda, justamente. Mas ele sabe muito bem que isso seriam apenas palavras. Tais como as recebe de quem quiser. Ele nem tem certeza de que me seria grato pelas boas palavras, muito menos pelas ruins. Essas palavras não são o que ele me pede. Ele me pede... pelo fato de que fala: sua demanda é intransitiva, não implica nenhum objeto. É claro que sua demanda se manifesta no campo de uma demanda implícita, aquela pela qual ele está ali: de ser curado, de ser revelado a si mesmo. . . Mas essa demanda, ele sabe, pode esperar. Sua demanda atual nada tem a ver com isso, nem sequer é dele, pois, afinal, fui eu que lhe fiz a oferta de falar. . . Consegui, em suma, aquilo que se gostaria, no campo do comércio comum, de poder realizar com a mesma facilidade: com a oferta, criei a demanda (p.623).

O analista se cala para dar voz ao sujeito. Mas se engana quem acha que o silêncio do analista acabe por deixar o analisante em um monólogo. Toda fala, desde que ela tenha um ouvinte, implica em uma resposta, mesmo que esta seja o silêncio. Aliás, como enuncia Soler (2012), "A causa do analista não é pela resposta, mas pela oferta. Essa oferta instaura uma ruptura com qualquer semblante de diálogo. O que dá a ilusão de diálogo é que a palavra inclui a função de réplica". Nesse sentido, mesmo que toda demanda suponha uma resposta, respondê-la é forçosamente decepcioná-la, uma vez que ela mesma é irrespondível. Já ressaltava Freud (1915/2008b, p.214): "O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência . . . se deve permitir que o anseio da paciente persista, a fim de poder servir de forças que a incitem a trabalhar e efetuar mudanças". Contudo, não responder a demanda não significa simplesmente dizer "não", ou que não estamos ali para fornecer respostas, pois isso já implica em uma resposta. O que cabe ao analista em seu ato é o de fazer girar a pergunta para o lugar de onde ela se originou, fazendo revelar o Outro que fala no sujeito. Assim, o analista se desloca da posição daquele que decifra para se situar como causa, para que o lugar de fala esteja do lado do sujeito.

Cabe ao analista fazer o sujeito se surpreender com o que ele mesmo diz, equivocando o sentido que "afanisa" o sujeito. Como aponta Lacan (1988), se um primeiro significante, originário do campo do Outro, vem representar o sujeito, e este o associa a outro significante, provoca a "afânise" do sujeito. Ele não está, portanto, nem em um significante nem no outro, mas nos intervalos entre os significantes que ele pode advir.

Este ponto de interseção, de não-senso, lugar próprio do advento do sujeito, surge em decorrência da falta do Outro: "Uma falta é, pelo sujeito, encontrada no Outro . . . Nos intervalos do discurso do Outro, surge na experiência da criança, o seguinte, que é radicalmente destacável, ele me diz isso, mas o que é que ele quer?" (1988, p. 203). Aqui se inaugura um segundo tempo de constituição do sujeito, a separação: se parer ao se separar do Outro, brinca Lacan (1988) com o equívoco da linguagem.

É somente diante do furo do Outro que o desejo pode despontar no sujeito, desejo que, assim como o significante, só possui seu advento no Outro. Se é o desejo que coloca a cadeia significante para girar, qual a função do analista com seu ato, que permite que o sujeito saia da dialética da demanda - alienado no Outro - para o campo do desejo, o campo de se parir como sujeito? Interroga-nos Lacan (1992, p. 33, grifo nosso) no Seminário, livro 17: "se o analista não toma a palavra, o que pode advir dessa produção fervilhante de S1 do lado do sujeito?". Mas de que lugar pode o analista tomar a palavra?

Se o desejo do sujeito se estrutura a partir do desejo do Outro, parece, então, que se abre um caminho para o lugar do analista: pela via do desejo. Escutando Maria, ela diz que, em relação ao namorado, furta-se de confrontá-lo em relação às suas faltas e "vacilos". Cala-se e oferece seu corpo para que ele faça seus curativos, sendo desse lugar que se sente amada pelo Outro. Mas é também esse mesmo outro/Outro que, ao começar a falar dele insistentemente nas sessões, começa a lhe trazer angústia por apresentar seus furos. É desse lugar que não se encaixa, que não faz sentido para ela - já que ele dava "provas" (sic) de seu amor ao fazer seus curativos - que se pode abrir um caminho de causa de desejo. Em algum momento, ao ser interrogada por que assumia esse lugar de não conversar com seu namorado sobre os "furos" que a incomodavam, ela diz: "não sei como falar com ele. Não sei". É desse ponto de não saber, falhado, que incide a sustentação do analista, possibilitando uma abertura pela via do desejo. Cito Lacan (1958/1998):

O desejo é aquilo que se manifesta no intervalo cavado pela demanda aquém dela mesma, na medida em que o sujeito, articulando a cadeia significante, traz à luz a falta-a-ser com o apelo de receber seu complemento do Outro, se o Outro, lugar da fala, é também o lugar dessa falta. (p.633)

Na transferência, Lacan (1988) afirma que há um laço do desejo do analista com o desejo do paciente. Mas em que consiste o desejo do analista? Nesse mesmo seminário, Lacan (1988, p.241) nos oferece uma pista: "é no sentido de algum parentesco que teremos que dirigir nosso olhar para o escravo, quando se tratar de discernir o que é o desejo do analista". Na dialética do senhor e do escravo, o desejo do senhor é o elemento mais perdido. Se o escravo é aquele que não tem direito de fazer valer o seu desejo, é ele, todavia, que zela pelo desejo do senhor. Ao situar o desejo do analista do lado do escravo, Lacan indica que o analista abre mão de seu desejo como sujeito, mas sustenta a insistência do desejo como uma função que possibilita que ele emerja na fala do analisante.

Serge Cottet (1982/1990) pontua que o analista, ao ocupar esse lugar de calar seu próprio desejo pessoal, ou seja, colocá-lo entre parênteses, permite que se manifeste, no lugar mesmo do sujeito, seu desejo como alienado ao desejo do Outro. Desse modo, a operação efetuada pelo analista consiste em sair desse lugar do Outro que deseja para ocupar o lugar de objeto causa, dando lugar ao desejo do sujeito: " . . . se o analista é desalojado do lugar do Outro para vir ocupar o do objeto causa do desejo, não está mais presente no campo do Outro; está aí na medida em que falta e faz semblante" (Cottet, 1982/1990, p.176).

Segundo Lacan (1988), é do lugar de objeto a que o analista opera na transferência e de onde se origina seu ato, sendo somente daí que pode incidir na divisão inaugural do sujeito. Desse lugar mesmo da hiância, ou melhor, dessa distância entre o ponto de onde o sujeito se vê amável e o lugar que se vê causado como falta por a, que o sujeito se constitui em sua divisão, lugar privilegiado de todo ato analítico.

No Seminário, livro 15: o ato psicanalítico, Lacan (2001b, lição de 24 de janeiro de 1968, grifo nosso) pontua que é ". . . nesse ponto do $, sujeito dividido, que se situa o que especificamente diz respeito ao ato psicanalítico". É nesse ponto constituinte de falha, de cisão, é pra lá que se dirige a interpretação do analista. Quanto à interpretação, ela deve "fazer surgir um significante irredutível" que é "puro não-senso", pois o material do inconsciente reside nesses "feitos de não-sentido", onde se inscrevem os significantes primordiais que comandam o sujeito (Lacan, 1988, p.236-238).

Retornando ao caso de Maria, em um primeiro momento, a saída encontrada por ela, em seu não saber fazer em relação às faltas de seu namorado, foi o término de seu namoro. Após esse ato, ela voltava a dizer de sua vacilação: tinha receio de voltar a namorá-lo por causa das insistentes investidas dele, pontuando: "tenho que cortar com ele!" (sic). Aqui, seu significante privilegiado insistia, tendo o analista a função de ressaltá-lo como não-senso: pois, de que cortar se trata? Foi então que, no intuito de grifar esse significante, o analista lança de ímpeto: "será que não é esse corte que você quer fazer e não está conseguindo?". Maria diz que não quer voltar com ele e quer ser feliz, momento em que a sessão é interrompida com a fala do analista: "esse já é um corte". A escansão da sessão, indica-nos Lacan (1958/1998), longe de ser uma pausa cronométrica, tem valor de intervenção, pois incide na trama discursiva do sujeito.

Ressaltamos que a práxis do analista não está condicionada a modelos ou reduzida a conhecimentos prévios. Seu ato só se legitima pelos seus efeitos. Nos atendimentos posteriores, Maria relata ter parado de se cortar, contando sobre seu interesse por outro rapaz. Menciona que ele a havia convidado para ir ao cinema, o que seu ex-namorado nunca havia feito. Embora aqui denuncie também um lugar de falta de seu ex-namorado, pôde lidar com essa falta, falando de seu lugar de desejo em relação ao novo rapaz, podendo ocupar um lugar de causar o desejo de um homem, que o fez convidá-la para ir ao cinema. A questão que queremos frisar não diz respeito à indicação do que seria "melhor" para Maria: ficar ou não com seu ex-namorado, mesmo que, muitas vezes, seja desse lugar que sejamos convocados. Não é disso que se trata na análise.

O ponto importante que procuramos trabalhar incide sobre a posição de Maria diante da falta, do que se apresenta como castração. Em outro momento da análise, ela chegou a voltar a namorar seu ex, contudo, pôde realizar uma torção diante da falta, inevitável: pôde, enfim, situar a falta como corte no significante, ao trazê-la para a dimensão da fala com seu namorado, sem mais inscrever a falta em seu corpo como corte no real.

O ato analítico implica que, mesmo que sua tessitura esteja no campo do simbólico, ele desvela algo do real, como assinala Boons (1996, p.8): "No instante do ato, um significante - enigmático - se ergue como puro suporte do real". O caso de Maria nos ensina que é em torno da repetição de uma palavra, "corte", que o real emerge, na medida em que se repete justamente na tentativa de uma inscrição simbólica. Uma vez que um analista pode lê-la como significante - como traço que insiste em portar uma diferença, e não como mero retorno do mesmo -, é possível trazer esse significante enquanto não saber, enigmático.

É aqui que talvez incida a função de corte do ato analítico, ao não se dirigir para um sentido prévio, mas para o não-sentido, permitindo causar o sujeito, provocando o deslizamento da cadeia significante. Pontua Garcia (2014, p.٣٥, grifo nosso):

Com o ato do analista a fazer ressoar outra coisa que não o sentido, no movimento de repetição, a palavra vai se poetando, se livrando de suas amarras semânticas e caminhando em direção ao que lhe é irredutível, ao osso da palavra, à letra (Garcia, 2014, p.35, grifo nosso).

Retomando o início dos atendimentos de Maria, o ato de se cortar estava associado a um significante: "tristeza", que se situava como enigmático, justamente por não provocar um deslizamento na cadeia de significantes. Qualquer pergunta em torno desse significante, sua resposta insistia em "não sei", e logo se evidenciou que interrogar esse significante não parecia ser o caminho em direção à sua fala.

Caldas (2014) indica que é preciso um manejo por parte do analista no que concerne a esse significante primordial (S1), para que seja possível abrir um caminho de de-ci-fra-ção: "Tal decifração, como ensina Lacan, se dá por uma leitura equívoca que toca o real, ao qual o sentido escapa" (Caldas, 2014, p.103).

Dal-Cól e Poli (2014, p.303), por sua vez, assinalam:

Numa análise, decifrar é ler o que está escrito no sintoma, essa leitura se faz com o que se escuta como efeito do significante, isto é, para que haja um deciframento, é necessário que haja uma passagem ao significante que só pode ser feita na medida em que o sujeito fala de seu sintoma (Dal-Cól & Poli, 2014, p.303).

Dessa forma, é somente através da fala que é possível trazer à leitura o que é marcado no corpo pelo gozo. Logo no início, as falas de Maria se apresentavam monossilábicas, trazendo a "tristeza"/ "triste" como significantes petrificados no gozo, além de se fazer notar uma expressão insuportável de estar ali. No momento em que pontuei que eu não estava ali para que ela falasse dos cortes nem com uma demanda que ela parasse de se cortar, como se apresentava a demanda de seus pais, ela pôde falar. Foi no desencadeamento de sua fala que se pôde escutar um significante que se repetia, tornando-se privilegiado em seu discurso, ao associar os questionamentos de sua vida: "corte".

Após uma interrupção de um pouco mais de um mês de seu tratamento, Maria retorna aos atendimentos, relatando que estava em casa "se cortando" sem conseguir ir à escola. Em seu discurso, diz ficar triste, porque suas amigas conseguem estudar e trabalhar, se perguntando sobre o porquê de não conseguir isso, por que se priva das coisas. Nesse momento, com a escuta do analista, que já advertida do "corte" enquanto significante, é realizada uma intervenção apontando justamente para essa escrita que aparece em sua fala: "você se corta...". Aqui, Maria ri, surpresa, denunciando o que estava em jogo, sendo de sua posição como sujeito no mundo, de se cortar das relações, que passa a deslizar em sua fala.

Nesse sentido, não é a palavra que funda o significante, como nos ensina Lacan (1982, p.29), pois "a palavra não tem outro ponto onde fazer-se coleção senão no dicionário, onde ela pode ser alistada". No caso de Maria, se a palavra "se cortar" ou "me corto" remetia a significados prévios para os discursos do senso comum e médico, catalogados em manuais pré-estabelecidos, eles nada têm a ver com o que os causa, ou seja, não tem nenhuma relação com o real, com isso que, mesmo fora da linguagem, se atrela à própria linguagem e ao gozo.

O trabalho do analista, assim, não se situa nos significados ou pela via do sentido, mas reside em propiciar a emergência do sujeito como efeito do significante. Mas o que funda o significante? Ele só pode se fundar na fala, sendo somente a partir dela que o analista pode operar o seu ato em sua função de corte, ao enaltecer a hiância radical na qual o significante jamais está reduzido a um significado, ou melhor, o significante não tem nenhuma relação com o significado.

 

Considerações Finais

Podemos pensar que, se o ofício no qual se funda a análise estrutura-se no campo da fala de um sujeito em transferência, é porque há um caminho na fala que pode levar ao desejo. A fala, justamente por portar a descontinuidade e o equívoco, inerentes ao campo do significante, permite situar o sujeito com a causa que o põe a falar. A respeito do desejo, Lacan (1958/1998, p.648) enfatiza que "ele só pode ser tomado ao pé da letra", indicando que é no caminho da letra que se pode vislumbrar o caminho trilhado pelo desejo.

É somente na fala que o equívoco pode tocar o real, que, com a leitura implicada no ato do analista, permite situar o litoral entre saber e gozo, no qual se situa a letra do qual o corpo é testemunha. Se a fala evoca o sentido, traz também pelo enigma da letra o que jaz impossível de ler. O litoral, como edificado por Lacan, concerne ao que aparece na fala que está sempre em relação ao que resta fora dela: traduzido pelo que do corpo não se traduz em significante, conforme pontua Costa (2012-2013).

É na fala que a divisão do sujeito comparece, lugar em que incide o ato do analista. Assim, Maria nos ensina através de seu ato que seu sintoma estava escrito no corpo. É somente ao ser falado, na medida em que a fala sempre ultrapassa o falante, que, com o ato de um analista, ele pode ser lido, o que não deixa de causar uma re-posição do sujeito, sempre efeito do significante.

 

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Endereço para correspondência:
Aline de Oliveira e Souza
Email: aline-fnd@hotmail.com

Doris Luz Rinaldi
Email: doris_rinaldi@yahoo.com.br

Recebido em: 03/08/2016
Revisado em: 28/11/2017
Aceito em: 20/12/2017

 

 

1 Freud (1914/2008a) nesse artigo chegou a mencionar o acting out como relacionado à uma compulsão à repetição, embora somente o tenha trabalhado como conceito em seu texto Além do princípio do prazer, em 1920.
2 O acompanhamento deste caso clínico ocorreu em uma instituição pública de saúde, sendo encerrado em período anterior à pesquisa de mestrado. Este artigo é um produto da dissertação de mestrado cujo título nomeia-se "A função do corte na repetição em um estudo de caso: o significante e o ato analítico", do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, de autoria de Aline de Oliveira e Souza com orientação da Dra. Doris Luz Rinaldi. A defesa da dissertação data de 09 de maio de 2016. O nome utilizado nesse caso clínico é fictício para preservar a identidade da paciente.

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