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Revista Subjetividades

versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.20 no.1 Fortaleza jan./abr. 2020

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i1.e8031 

ESTUDOS TEÓRICOS

 

O resgate da narrativa na cultura digital: a conversação psicanalítica com adolescentes na escola

 

The Rescue of Narrative in Digital Culture: The Psychoanalytic Conversation with Teenagers at School

 

El Rescate de la Narrativa en la Cultura Digital: La Charla Psicoanalítica con Adolecentes en la Escuela

 

Le Repris du Récit dans la Culture Numérique : La Conversation Psychanalytique avec des Adolescents à l'École

 

 

Daniela Teixeira Dutra ViolaI; Nádia Laguárdia de LimaII; Márcio Rimet NobreIII

IPesquisadora de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Doutora em Psicologia, na área Estudos Psicanalíticos, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com período de estágio doutoral na Université Paris 8
IIPós-Doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Associada do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais
IIIDoutorando em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Especialista em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo examina a conversação psicanalítica e seu lugar no Outro contemporâneo a partir da experiência de um projeto de pesquisa e extensão com grupos de adolescentes em escolas. Apresenta-se um extrato de conversação a fim de demonstrar a instalação de um espaço de transmissão de narrativas que produz efeitos subjetivos nos participantes. Investiga-se como esse dispositivo opera num mundo em que as faculdades de narrar e de escutar estão enfraquecidas. Nesse sentido, propõe-se um diálogo da psicanálise de orientação lacaniana com o pensamento filosófico de Walter Benjamin e suas considerações sobre a transmissão da experiência e também com outros autores da filosofia e das ciências sociais que abordam as mutações discursivas desde a modernidade à hipermodernidade.

Palavras-chave: psicanálise; conversação; transmissão; adolescência; escola.


ABSTRACT

This article examines the psychoanalytic conversation and its place in the contemporary Other from the experience of a research and extension project with groups of adolescents in schools. A conversation extract is presented to demonstrate the installation of a space for the narratives transmission that produces subjective effects on the participants. It investigates how this device operates in a world in which the faculties of narrating and listening are weakened. In this sense, it proposes a dialogue of psychoanalysis with a Lacanian orientation with the philosophical thought of Walter Benjamin and his considerations on the transmission of experience and also with other philosophy and social sciences authors that address discursive mutations from modernity to hypermodernity.

Keywords: psychoanalysis; conversation; streaming; adolescence; school.


RESUMEN

Este trabajo examina la charla psicoanalítica y su sitio en el Otro contemporáneo a partir de la experiencia de un proyecto de investigación y extensión con conjuntos de adolecentes en escuelas. Se presenta un extracto de conversación con el objetivo de demostrar la instalación de un espacio de transmisión de narrativas que produce efectos subjetivos en los participantes. Se investiga cómo este dispositivo opera en un mundo dónde las facultades de narrar y oír están debilitadas. En este sentido, se propone un diálogo del psicoanálisis de orientación lacaniana con el pensamiento filosófico de Walter Benjamin y sus consideraciones sobre la transmisión de la experiencia y también con otros autores de la filosofía y de las ciencias sociales que abordan las mutaciones discursivas desde la modernidad hasta la híper modernidad.

Palabras clave: psicoanálisis; charla; transmisión; adolescencia; escuela.


RÉSUMÉ

Cet article examine la conversation psychanalytique et sa place dans l'Autre contemporain à partir de l'expérience d'un projet de recherche et d'extension avec des groupes d'adolescents en milieu scolaire. Un extrait de conversation est présenté afin de démontrer l'installation d'un espace de transmission de récits qui produisent des effets subjectifs sur les participants. On étudie le fonctionnement de cet outil dans un monde où les facultés de raconter et d'écoute sont affaiblies. En ce sens, on propose un dialogue de psychanalyse à orientation lacanienne avec la pensée philosophique de Walter Benjamin et ses réflexions sur la transmission de l'expérience. On ajoute aussi d'autres auteurs de philosophie et de sciences sociales qui abordent les changements discursifs de la modernité à l'hyper modernité.

Mots-clés: psychanalyse; conversation; transmission; adolescence; école.


 

 

A instituição escolar contemporânea é marcada por uma incompatibilidade entre, de um lado, seus regulamentos e tecnologias forjados na modernidade, e, de outro, os modos de vida atuais profundamente transformados por toda a conjuntura sociocultural e econômica da hipermodernidade e pelos impactos da era digital (Sibilia, 2012). Nesse quadro, constata-se um abrangente sentimento de impotência por parte dos educadores diante dos impasses enfrentados no ensino, na relação com os alunos e na abordagem das questões subjetivas e comportamentais que fervilham nas salas de aula, nos pátios e corredores escolares. Desse cenário de crise, destacam-se as crescentes dificuldades relacionadas ao uso das tecnologias digitais e das redes sociais da internet por parte dos estudantes adolescentes. Se, por um lado, o uso dessas tecnologias pode ser altamente proveitoso para o aprendizado, por outro, com frequência está vinculado aos conflitos e sofrimentos psíquicos vivenciados pelos alunos. Por ocupar um lugar de grande importância na vida social e afetiva desses sujeitos, a escola é palco de seus sintomas e atuações. No entanto, devido ao seu formato tradicional e antiquado adequado à lógica disciplinar (Sibilia, 2012), esse espaço não é eficiente em lidar com as questões subjetivas que surgem num panorama em constante mutação.

Com o objetivo de enfrentar essas dificuldades, algumas escolas da região metropolitana de Belo Horizonte endereçam uma demanda ao grupo de pesquisa e extensão Além da Tela: Psicanálise e Cultura Digital, que passa a oferecer intervenções voltadas para a escuta de adolescentes. O modelo metodológico adotado é a conversação psicanalítica de orientação lacaniana, que consiste na oferta aos sujeitos de um espaço de fala no qual se produz uma associação livre coletivizada. O(a) coordenador(a) da conversação ocupa um lugar de não saber prévio diante de qualquer tema que apareça no grupo, possibilitando a circulação da palavra entre os participantes com efeitos subjetivos.

Concebida por Jacques-Alain Miller na Conversação de Arcachon (Miller, 1997), na França, essa modalidade de pesquisa-intervenção tem sido utilizada também no Brasil em investigações que ocorrem na interface entre psicanálise e educação, com importantes efeitos no trabalho com alunos, docentes e pais (Diniz, Torres, Itaboray, & Machado, 2010; Lima et al., 2015; Lima et al., 2016; Santiago & Assis, 2015). Conforme Santiago (2008), o trabalho da conversação na escola deve intervir nos impasses escolares a fim de "permitir um movimento sobre o que se cristaliza como impossível e como sintoma" (p. 9). Para Lacadée (2000), a principal contribuição da conversação é possibilitar a entrada do sujeito num discurso.

Na experiência do nosso grupo de pesquisa e extensão, as queixas das escolas que demandam intervenção geralmente se referem ao uso excessivo dos dispositivos eletrônicos, como tablets e smartphones, aos conflitos entre os adolescentes que têm origem em postagens nas redes sociais e em conversas nos grupos de WhatsApp, bem como às situações de risco em que alguns estudantes se envolvem na internet. Diante disso, são propostos pequenos grupos coordenados por um(a) psicanalista com o suporte de um(a) estagiário(a) estudante de psicologia ou um psicólogo. Os alunos são convidados a participar das conversações, que se organizam em encontros semanais por, aproximadamente, quatro meses, de acordo com o semestre letivo. As experiências com os grupos são heterogêneas, e cada uma guardasuas particularidades e efeitos próprios. Ainda assim, é possível extrair alguns elementos que perpassam os diversos grupos, indicando uma especificidade dessa metodologia.

Neste artigo, vamos abordar um desses elementos que sobressaem no trabalho com os grupos de adolescentes: trata-se da apresentação da escola e da família, no discurso dos alunos, como lugares de silenciamento, em que certas questões que lhes são importantes não podem vir à tona ou não são devidamente escutadas. Juntamente dessa queixa de não serem ouvidos nesses espaços, vem uma fala endereçada à experiência da conversação sobre o caráter especial da escuta que esses sujeitos percebem nesse dispositivo.

Considerando a escola e a família como lugares privilegiados da relação do sujeito adolescente com o Outro, é pertinente investigar os possíveis impasses nessa relação, tal como sugere o discurso que circula nesses grupos. Num curto espaço de tempo, esses sujeitos percebem na conversação um lugar onde podem dizer sobre a dificuldade que encontram, nos dias de hoje, em transmitir algo de si. Essa queixa chama nossa atenção, visto que se trata de sujeitos que, em sua maioria, podem se expressar amplamente das mais diversas formas - por meio da arte, dos diversificados movimentos culturais, das redes sociais etc. As redes sociais digitais se inserem numa cultura de participação, envolvendo um imaginário de cooperação, comunidade e amizade. A facilidade de comunicação no contexto digital favorece a ilusão de uma interação sem perdas, e a interconexão permite contatos contínuos, que não são afetados pela distância geográfica. A cultura digital não é silenciosa, mas, ao contrário, é marcada pelo excesso de sons e imagens. Ademais, sendo uma fase da vida especialmente privilegiada pela atenção do mercado e da mídia, a adolescência, como grupo social com amplas aspirações de consumo e protagonismo, nunca foi tão "escutada". Como compreender, então, essa queixa? Em que difere o espaço de escuta que a psicanálise oferece de todos os outros lugares de circulação da palavra dos adolescentes? Como pensar no vínculo transferencial que se instala no dispositivo da conversação, considerando-o como distinto de um tratamento analítico?

De saída, ressalta-se que essa queixa concerne à impossibilidade de uma transmissão singular de narrativas que tocam pontos de aguda delicadeza e importância para os sujeitos. O discurso em torno de um impossível na transmissão sinaliza a especificidade do encontro com um(a) psicanalista e seus efeitos, mesmo num contexto diverso do dispositivo analítico. Suspeitamos que essa "surdez" que eles constatam em outros âmbitos decorre de certas especificidades da dimensão alteritária atual, as quais os adolescentes localizam na escola e na família. Assim, o bordão "ninguém me ouve" nos remete às considerações de Walter Benjamin (1936/2016b) sobre o desaparecimento do "dom de ouvir" e da "comunidade dos ouvintes". Esse autor relaciona a incapacidade de assimilação das narrativas provenientes do outro às transformações da modernidade, que dão lugar à era da informação. Esse diagnóstico do fim da transmissão por meio das narrativas, já nas primeiras décadas do século XX, antecipa as profundas mutações discursivas que culminam na hipermodernidade, em que prevalece a cultura digital (Gere, 2008), o zênite da era da informação.

Desse modo, julgamos que as elaborações de Benjamin são de grande atualidade para se pensar o discurso dos adolescentes sobre não serem escutados. Propomos, então, um diálogo da psicanálise de orientação lacaniana com tais elaborações, além de outros autores da filosofia e das ciências sociais que abordam as mutações discursivas desde a modernidade à hipermodernidade a fim de compreender os impasses na transmissão de narrativas singulares e as particularidades da experiência compartilhada numa conversação.

 

A Adolescência como Sintoma Social

O tempo de travessia que aparece no discurso moderno ocidental como "adolescência" é uma construção do laço social que desponta como sintoma das condições discursivas de uma sociedade (Kehl, 2004; Stevens, 2004; Viola, 2016). Sendo assim, para compreender os impasses na transmissão das narrativas dos adolescentes é preciso examinar essa relação sintomática entre a adolescência e o Outro de uma época. Embora distintas, "puberdade" e "adolescência" estão radicalmente conectadas. A primeira concerne ao real acionado pela maturação sexual que se manifesta no corpo para todos os sujeitos que chegam ao final da infância. A puberdade diz respeito, assim, a um fato orgânico universal que independe da cultura. A adolescência, por sua vez, é uma operação simbólica de tratamento do real da puberdade. Trata-se de uma transição que permite ao sujeito se endereçar à alteridade e se reposicionar no laço social quando a condição de criança não lhe garantir mais essa posição. Logo, ao contrário da puberdade, a adolescência não é universal nem atemporal, pois depende da dimensão alteritária. A adolescência é indissociável da experiência social e dos modos de vida de uma cultura, e sinaliza as especificidades da relação com o Outro numa época, as formas de reconhecimento por essa instância, bem como a deterioração do laço social.

De acordo com Ariès (1981), a adolescência é um conceito de tonalidade ocidental, que emerge lentamente nas sociedades industriais e consolida-se no decorrer do século XIX. Até então, nas sociedades tradicionais, a passagem da infância à idade adulta é operada por mecanismos prescritos pela cultura, especialmente os ritos de passagem, que funcionam como balizadores simbólicos. As sociedades modernas e pós-modernas não contam com esse instrumental. A adolescência moderna surge justamente quando a tradição falha, quando suas balizas não conseguem mais operar, o que coincide com as profundas crises da cultura ocidental que caracterizam a modernidade.

Conforme Le Breton (2013), a adolescência não é um fato, mas uma questão que atravessa o tempo e o espaço das sociedades. Como tal, é examinada e interpretada por diversos campos do saber e apropriada por diferentes discursos. Por outro lado, essas interpretações, que variam ao longo do tempo, incidem sobre a adolescência e a transformam. Fazem dela, como questão, um ponto privilegiado de ressonância e dissonância dos discursos de uma época. Portanto, não estamos diante de um dado imutável, mas, sim, de uma questão que transita de forma complexa na história e nas culturas.

Para Lesourd (2004), em épocas anteriores à modernidade, é possível detectar vestígios do adolescente moderno, numa espécie de antecipação. O que caracteriza esses momentos históricos é uma conexão que se faz notar entre a adolescência, as transformações sociais e a transmissão de poder. Apesar dessa antecipação, é na modernidade que a correlação entre a adolescência e o campo social fica patente. Em intensa transformação na esteira dos avanços do capitalismo e da industrialização, a sociedade moderna ocidental experimenta uma crise estrutural com mudanças expressivas nas relações sociais, públicas e privadas. Nessa crise, que se potencializa no século XIX, assoma a figura do adolescente moderno, como um resto, extraído das fraturas evidentes do laço social. Quanto mais intensas as transformações sociais, mais veementes as reações opostas engendradas pela tradição. A figura do adolescente representa a contestação e a desobediência à tradição, sinalizando a decadência de um sistema social caduco. É nessa conjuntura que nasce a psicanálise, e é com essa adolescência que Freud vai se deparar em diversos casos clínicos (Viola, 2016). Ariès (1981) atribui à adolescência o estatuto de "idade favorita" do século XX, à qual se deseja chegar mais cedo e na qual se almeja permanecer. A nosso ver, esse privilégio se deve à localização da adolescência no centro dos discursos, como um sintoma social.

Para investigar essa relação sintomática, partimos da tese freudiana sobre o mal-estar na civilização. Apoiado na noção de pulsão de morte, Freud (1930/2010) situa o sentimento de culpa primordial do ser humano como o problema mais importante da evolução cultural. O preço do progresso é a perda da felicidade pelo acréscimo do sentimento de culpa. O autor compara o conflito pulsional inerente ao sujeito com aquele que subjaz ao processo cultural. De um lado, no nível subjetivo, o sintoma neurótico evidencia o quinhão de satisfação da pulsão sexual e o sentimento de culpa revela a persistência da pulsão de morte, é sua forma de satisfação. Do outro lado, no plano macro da civilização, a renúncia pulsional atende às exigências da cultura e tem como principal efeito a infelicidade. Essa renúncia seria um ganho da pulsão de morte, já que atenderia ao sentimento de culpa original, em sua batalha contra Eros, a pulsão agregadora responsável pelos avanços da humanidade. As mazelas da civilização, tais como as guerras, a hostilidade entre os seres humanos, a desigualdade e a segregação, seriam indícios da pulsão de morte.

Freud (1930/2010) chega à proposição de um supereu da cultura, análogo ao do indivíduo, instituidor "de severas exigências ideais, cujo não cumprimento é punido mediante 'angústia de consciência'" (p. 117). Afirma que "o Supereu da cultura desenvolveu seus ideais e elevou suas exigências" (p. 117), indicando o crescente acirramento do conflito constitutivo da civilização com a evolução das sociedades. Essa problemática é aplicada à civilização de forma atemporal. Em diversas passagens, o autor recorre a contextos culturais longínquos, no tempo e no espaço, para demonstrar como as formas mais "primitivas" de sociedade já têm como fundamento um sentimento de culpa original.

Entretanto essa elaboração segue um rumo que demonstra a influência inexorável da conjuntura da época sobre as reflexões freudianas. Ainda que o mal-estar na civilização seja formulado a partir de uma matriz universal e atemporal, é a sociedade de Freud que possibilita essa análise. Ressalta-se o caráter sintomático do que ele circunscreve sob o nome de "malestar", que diz respeito a algo que escapa ao processo civilizatório, que o excede, que não se permite civilizar.

Se o sintoma é gozo encoberto (Lacan, 1962-1963/2005), podemos conceber o mal estar como uma sombra a encobrir o que escapa ao processo civilizatório, ao mesmo tempo que o engendra e é sua força motriz. No conflito de forças em jogo no mal-estar deve se incluir, de modo dialético, o binômio lacaniano desejo e gozo (Vieira, 2005): o desejo como o que move a civilização a partir de uma causa, e o gozo como a satisfação do supereu da cultura, o excedente do processo civilizatório que, paradoxalmente, já está em sua causa.

Se a civilização é o que regula o gozo, a insatisfação é implacável e o mal-estar, inevitável. Na modernidade, o mal-estar é capturado pelo discurso como sintoma social. Vorcaro (2004) esclarece que, não obstante a imprecisão do termo, social é aquilo que dá universalidade aos sujeitos, isto é, a dor de existir que é comum a todos que se constituem como sujeitos pelos limites impostos pela civilização. Esta é indissociável de um malestar por forçar o sujeito à insatisfação.

Se este social que universaliza a insatisfação fundamental é feito do mesmo estofo do sintoma que singulariza o meio pelo qual o sujeito goza, as leis da linguagem e da língua fazem, a um só tempo, o mal-estar e o sintoma. A constatação que se impõe é a de que, depois do capitalismo globalizado, "todo sintoma é social" (s.p.).

O mal-estar é o nome que Freud dá a algo inominável, a uma dimensão indiscernível do que se apresenta como sofrimento no laço social e se articula ao sintoma, este, ao contrário, de caráter tangível e nomeável. Mal-estar, sofrimento e sintoma, portanto, não se equivalem, mas são radicalmente ligados. Na modernidade, essas categorias ascendem nos discursos de forma inédita, movimento que tem, como um de seus efeitos, a psicanálise, práxis que se propõe a lidar com o sintoma. Por conseguinte, a despeito da ambição de uma interpretação atemporal e universal da cultura, o que Freud postula como o mal-estar na civilização é um diagnóstico inequívoco de seu tempo. Como dimensão diáfana do sintoma, o mal-estar tem a ver com o gozo que excede a cultura, com o que escapa da tradição e aparece no plano social.

Dunker (2015) localiza a gênese do mal-estar na "experiência impossível, que não cessa de se repetir - sem se inscrever perfeitamente -, que retorna de modo traumático, trágico e falho" (p. 34). Resgatando o primeiro termo cogitado por Freud para o título de seu ensaio em inglês, "discomfort", ele observa que a palavra "desconforto" evoca a experiência de estar no espaço, abrigado, protegido e, ainda assim, perceber que há algo faltando.

Essa percepção é o peso existencial, a ideia de mundo. Mesmo a cabana mais confortável e aquecida no meio da floresta pertence ao mundo em sua vastidão insondável. Com O mal-estar na civilização aprendemos que o "abrigo" - seja ele a neurose, a narcose, o retirar-se do mundo como o anacoreta, o estetizar a vida, o trabalhar para conquistar a natureza ou qualquer outra solução na busca de uma vida confortável - é precário, instável e contingente. O mal-estar é inescapável e incurável; sua figura fundamental é a angústia; seu correlato maior, o sentimento de culpa inconsciente (Dunker, 2015, pp. 196-197).

A irrupção das categorias mal-estar, sofrimento e sintoma nos discursos é determinante para a emergência da noção de adolescência, que advém como "idade favorita", ao mesmo tempo em que se localiza como um ponto de sintoma ao encarnar o desvelamento de um real traumático - a impossibilidade inerente à sexualidade, que sobrevém de forma abrupta com a puberdade (Viola, 2016). Por lidar com o real, o adolescente está particularmente desconfortável no mundo, desabrigado, angustiado, o que dá o tom das narrativas de sofrimento que inserem a adolescência nessa trama discursiva.

Assim, fica tangível a conexão entre a adolescência e a dimensão sintomática da modernidade, uma vez que o adolescente traz à cena social, de maneira transgressora, a incidência do real do sexo, como elemento do gozo que escapa aos mecanismos de controle da civilização. O estatuto de "idade privilegiada" no discurso do século XX deve-se, principalmente, a uma posição duplamente subversiva encarnada pela figura do adolescente: aquele que desvela o despertar da sexualidade e aquele a quem pertence o futuro, o imponderável. Essa posição é privilegiada num discurso que tem como marcadores essenciais o mal-estar, o sofrimento e o sintoma. Além disso, por se localizar num intervalo entre dois pontos, rarefeito de referentes, o adolescente moderno é, sobretudo, aquele a ser capturado pelo discurso do capitalista (Lacan, 1969-1970/1992), que visa a preencher o vazio desse intervalo com seus objetos de consumo. Este é o maior dos "privilégios" do adolescente num mundo regido pelo mercado.

Lacan (1974/1975) define o sintoma como aquilo em que identificamos o que se produz no campo do real. De acordo com ele, o sintoma foi introduzido por Marx (1890/1980), antes de Freud, como signo de algo que não vai bem no real. Disso Lacan extrai a proposição de que, se somos capazes de operar sobre o sintoma, é porque o sintoma é o efeito do simbólico no real. Acrescenta que Marx define o sintoma no social, como efeito do capitalismo - sistema que reduz o homem proletário a nada, o que faz com que o homem proletário realize "a essência do homem", o nada.

As transformações no laço social promovidas pelo capitalismo são condizentes com o que Freud expõe ao tratar do mal-estar na civilização: o desajuste, o desassossego diante de um estado de coisas que se apresentam como o triunfo da cultura, como os avanços da ciência e da tecnologia, como o apogeu da civilização, mas que se sustentam, em contrapartida, sobre o sofrimento, sobre a culpa e a segregação, índices de um gozo encoberto pelo sintoma. A figura do adolescente que desponta nesse contexto é particularmente hábil para sinalizar essa verdade velada ao transgredir e apontar o furo no discurso. Talvez por isso o adolescente moderno é especialmente suscetível ao sofrimento, como efeito do sintoma no social.

 

O Mal-Estar Contemporâneo e a Transmissão de Narrativas

Tão logo se delineia de forma mais precisa, essa figura do adolescente moderno, nascida num caldeirão de transformações sociais e políticas, começa a se dissolver, tornando-se cada vez mais difusa e provisória. Considerando a estreita conexão entre a construção social da adolescência e a subjetividade dos adolescentes, tomamos como diretriz a impossibilidade de separação entre a dimensão subjetiva e o campo social, pois, como afirma Freud (1921/2011), "a psicologia individual é também, desde o início, psicologia social" (p. 14). Dessa maneira, uma investigação sobre a escuta de sujeitos adolescentes num dispositivo orientado pela psicanálise deve, necessariamente, levar em consideração o discurso vigente, ponto de convergência entre a singularidade de cada caso e o sintoma social.

Segundo Lacan (1969-1970/1992), o discurso é "uma estrutura necessária, que ultrapassa em muito a palavra, sempre mais ou menos ocasional" (p. 11). "O discurso molda a realidade, sem supor nenhum consenso do sujeito, dividindo-o, de qualquer modo, entre o que ele enuncia e o fato de ele se colocar como aquele que o enuncia" (Lacan, 1970/2003, p. 408). Por conseguinte, a civilização está conectada ao discurso, ao que excede a somatória dos enunciados num determinado contexto. O laço social flutua de acordo com as mutações discursivas, numa relação de interdependência.

Numa posição que ultrapassa largamente o atributo de "idade favorita" (Ariès, 1981), a adolescência ocupa, hoje, um lugar central e paradigmático no discurso, algo que podemos apreender como sintomático de nosso tempo. Para interrogar essa posição, é preciso delinear conceitualmente a tessitura discursiva da contemporaneidade, incluindo aí a relação com o Outro.

Conforme Bauman (1998), a proposta freudiana do mal-estar na civilização é um desafio ao folclore da modernidade, que penetrou em nossa consciência coletiva e modelou nosso pensamento acerca das consequências, intencionais ou não, da aventura moderna. Para esse autor, embora Freud se refira à civilização em geral, o que seu trabalho conta é a "história da modernidade". Como ordem imposta a uma humanidade desordenada, a civilização se sustenta pelos mecanismos de troca, de renúncia forçada e de regulação. Para Bauman, estes são os mecanismos do mal-estar, que, na modernidade, provêm de um excesso de ordem, necessariamente ligado a uma escassez de liberdade. Nessa perspectiva, mais liberdade e menos ordem deveriam resultar em menos mal-estar. No entanto não é o que se verifica nos tempos atuais.

Bauman (2001) prossegue sua teorização sobre o mal-estar em nossa época com o conceito de modernidade líquida, ao sublinhar a palavra "'fluidez' como a principal metáfora para o estágio presente da era moderna" (p. 8), que se opõe à solidez da modernidade ordenada pela sociedade disciplinar (Foucault, 1975/2011). Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras e resistem ao tempo, os fluidos não fixam o espaço nem prendem o tempo. De extraordinária mobilidade, os fluídos se associam à leveza e à inconstância. A modernidade líquida é marcada pelo individualismo e competitividade crescentes, pela instantaneidade, pela inconstância das relações sociais, pelo aumento das incertezas diante do enfraquecimento dos sistemas de proteção estatal, pela falta de perspectiva e pela iminência da total separação entre poder e política. Na era do escoamento da tradição, os valores tradicionais da cultura ocidental se diluem em modos de existência marcados pela precariedade, pelo medo e pelas incertezas - o que Bauman (2007) define como vida líquida. Como efeito dessa liquidez das referências, ele salienta a supressão da alteridade, da capacidade de compreensão do outro, o que provoca o empobrecimento das relações sociais.

Lipovetsky (2004) também propõe uma interpretação da sociedade pós-disciplinar. Para ele, a expressão "pós-modernidade" é ambígua e vaga. Trata-se de uma modernidade de novo gênero que toma corpo, e não uma simples superação da anterior. Tanto é que, em pouco tempo, esse conceito se torna um tanto desusado. Na década de 1980, "pós-moderno" indica "uma descompressão cool do social" (p. 50). Mas os tempos voltam a escurecer, as pressões reaparecem, ainda que com novos traços. "No momento em que triunfam a tecnologia genética, a globalização liberal e os direitos humanos, o rótulo pós-moderno já ganhou rugas, tendo esgotado sua capacidade de exprimir o mundo que se anuncia" (p. 52). O que advém é uma modernidade elevada à potência superlativa, que ele delineia por meio de uma série de conceitos hiperbólicos, característicos dos novos tempos, tais como o hipercapitalismo, o hipermercado, o hiperterrorismo, o hiperindividualismo e o hipertexto - lista em que incluímos, por nossa conta, a hiperatividade. Com essa caracterização, o autor recusa o óbito da modernidade, que, em vez de ser superada por uma era "pós", é hiperbolizada. O que se assiste é sua concretização no liberalismo globalizado, com a mercantilização quase generalizada dos modos de vida, com a exploração da razão instrumental até seu esgotamento e com a individualização galopante. Portanto, mesmo os elementos que ainda não se volatilizaram funcionam segundo uma lógica hipermoderna, sem regulação.

Conforme Lipovetsky (2004), predominam, principalmente entre os mais jovens, o sentimento de vulnerabilidade, a insegurança profissional e material, o medo da desvalorização dos diplomas, as atividades subqualificadas e, consequentemente, a degradação da vida social. Por consequência, a hipermodernidade constitui um tempo de angústia para os jovens diante das incertezas do futuro. É o domínio do efêmero. Assim, consideramos o conceito de hipermodernidade especialmente bem-sucedido para apreender o mal-estar de nossos dias, indiscutivelmente marcados pela angústia. Como observa esse autor, "o ambiente da civilização do efêmero fez mudar o tom emocional" (p. 63). Trata-se, então, de uma mudança de tonalidade, e não do que sugere a "mitologia da ruptura radical" (p. 57), que pressupõe uma mudança drástica de paradigma com a superação da modernidade, perspectiva que deve ser nuançada.

Essas leituras das ciências sociais nos auxiliam na abordagem do que a psicanálise lacaniana apreende como o desvelamento da inconsistência do Outro (Lacan, 1968-1969/2008) e a rarefação das referências ligadas ao ideal no nosso tempo. Essa instância alteritária inconsistente, sem referências e limites precisos, está em consonância com a noção de biopoder de Foucault (1976/1988) e com o conceito de sociedade de controle de Deleuze (1992), que remetem a uma interiorização do poder, com a homogeneização dos processos de produção de subjetividades e com um controle onipresente, contínuo e tácito dos corpos. Da modernidade aos dias de hoje, nota-se uma diluição das referências simbólicas e dos limites que, de alguma forma, garantiam certa consistência ao Outro. Em outras palavras, os modos de endereçamento ao Outro e de reconhecimento por essa instância, antes regulados pela lógica fálica e caracterizados por uma relação vertical com a autoridade, sob a égide da função paterna, perdem essas balizas de ordenação.

Paralelamente a esse processo de mutação da instância alteritária e das referências simbólicas, o casamento entre ciência e capitalismo teve como fruto a fusão que origina a tecnociência, cada vez mais incrementada pelas exigências do mercado. Certamente isso engendra o próprio fluxo da vida contemporânea, tão organicamente atrelada à tecnologia, esse ingrediente presente desde o início da cultura e que, talvez nas quatro últimas décadas, adquiriu inédito grau de consistência - no sentido do imaginário lacaniano -, integrando o cotidiano da cidade, das instituições e dos sujeitos no processo de digitalização da realidade que constitui seu zênite.

Na base desse expressivo processo de digitalização da vida contemporânea está a informação, essa categoria destacada por Benjamin (1933/2016a) como a que assume paulatinamente, desde a modernidade, o lugar das narrativas baseadas na oralidade, e que se interpõe no percurso da transmissão. Com a leveza e o imediatismo de seu formato, a informação se torna, por isso mesmo, irrevogavelmente sedutora, sendo tributária de uma propagada ideia de velocidade, importante tônica dos tempos atuais. Ao ser digitalizada, a informação se insinua em todos os aspectos da realidade, e invade os sentidos mais opacos por meio de uma gama infindável de suportes tecnológicos, sempre de modo premente e imediato. Talvez, no emprego da metáfora de Bauman (2007), pudéssemos arriscar falar de uma "liquefação do saber".

Diferentemente de outras fontes subjetivas, como o saber e o conhecimento, a informação, por seu aparente descompromisso com qualquer discurso, parece deixar pouca margem para contendas éticas de qualquer espécie, não implicando compromisso com a verdade em qualquer grau ou algum ancoramento na realidade. Ela se esgota em seu próprio conteúdo, sendo este seu único fim, que não carece de mediação. É nessa esteira, talvez, que possamos conceber atualmente a definição, de modo um tanto suspeito, de uma expressão como "pós-verdade" ter sido eleita, em 2016, como a palavra do ano em língua inglesa pelo Dicionário Oxford.

Se a noção de conhecimento, central no projeto moderno, requeria um esforço e uma dedicação de tempo (como no hábito da leitura ou nos processos inerentes à atividade de pesquisa etc.), num ambiente disciplinar adequado (como a escola ou a universidade), preconizando uma sistemática que implicava em algum nível de engajamento, fosse individual ou coletivo, para sua aquisição e exercício, a informação não requer critérios tão rigorosos. A própria ideia de "adquirir", que se refere a passar a ter consigo, obter, tomar posse, e que tão bem se adéqua ao conhecimento, não condiz com a informação que comumente se "acessa", num sentido equivalente a aproximar-se, obter permissão.

Essa hegemonia da informação na atualidade parece alcançar seu ponto mais alto a partir do surgimento das redes sociais virtuais ou digitais, como se convencionou nomear os dispositivos que vinculam ou "conectam" - como prefere esse mercado - pessoas em todo o planeta, sem respeitar limites geográficos. Nesse contexto, o sujeito adolescente parece ser aquele que se apresenta com maior prontidão e habilidade para recheá-las com sua "presença", seus conteúdos identitários e inventivos, enfim, munindo-as de modo constante, e de muito bom grado, com novas informações.

O caráter fragmentário desse enxame de S1, que poderíamos utilizar como metáfora lacaniana para a circulação da informação, se reflete no modo como o laço social é experimentado nessas redes. Esse formato não é jamais questionado, sendo rapidamente tomado como modo atual de os indivíduos se enlaçarem, mas muitas vezes sem nenhuma implicação necessária na vida presencial. Isto não equivale a dizer que o sujeito esteja apenas envolto de uma atmosfera hedonista, na qual o encantamento pelo prazer viesse a capturá-lo bem diretamente. Como sabemos cada vez mais, as redes também se compõem do mal-estar inerente à vida presencial e com todas as nuances. O próprio bombardeio de informações mostra-se, muitas vezes, um elemento causador de desconforto, tendo em vista, sobretudo, a exigência de responsividade à qual se impõe o sujeito, o que resta impossível gerando frustração. Miller (2011) vem apontar como esse bombardeio pode nos impactar:

Quando se descreve o momento atual, fala-se de bombardeamento de informações - assim os americanos estudam a information overload, a sobrecarga de informações. O que chamamos informação é a maneira com que o significante chega a vocês, não mais organizado, mas descontínuo, essencialmente fragmentário, com um esforço para tentar lhe acrescentar uma organização que está o tempo todo prestes a se desfazer. (p. 13)

Com esse panorama delineado, voltamos à nossa interrogação sobre a dificuldade de transmissão de que se queixam os adolescentes nos grupos de conversação, profundamente relacionada às contradições e obstáculos que encontram no modelo de escola moderna ainda vigente.

Nesse impasse é fundamental que consideremos o papel do professor, esse Outro do laço educacional que, por seu lado, tem sua voz também marcada por queixas cada vez mais frequentes, muitas vezes referidas a certa atitude de apatia da parte dos alunos, para dizermos de modo genérico e mais imediato. A partir de tal atitude e dos conflitos que dela advêm, é a própria transmissão de saber que vem sendo impactada. Benjamin (1933/2016a) expõe os impasses na transmissão de narrativas já na modernidade. Ele evoca a transmissão geracional que se dava em épocas anteriores à sua, quando os mais velhos transmitiam para os mais jovens certas experiências.

Sabia-se também exatamente o que era a experiência: ela sempre fora comunicada pelos mais velhos aos mais jovens. De forma concisa, com a autoridade da velhice, em provérbios; de forma prolixa, com a sua loquacidade, em histórias; às vezes como narrativas de países longínquos, diante da lareira, contadas a filhos e netos. - Que foi feito de tudo isso? Quem encontra ainda pessoas que saibam narrar algo direito? Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que possam ser transmitidas como um anel, de geração em geração? Quem é ajudado, hoje, por um provérbio oportuno? Quem tentará, sequer, lidar com a juventude invocando sua experiência? (Benjamin, 1933/2016a, p. 123)

Benjamin relaciona, então, o fim da transmissão de narrativas a um progressivo empobrecimento no campo das experiências compartilháveis, o qual conduz ao desaparecimento do "dom de ouvir" e, consequentemente, da "comunidade dos ouvintes". Para ele, as narrativas só podem ser transmitidas aos ouvintes por se engendrarem numa experiência compartilhada, artesanal, que perpassa os corpos dos sujeitos envolvidos. Com o fim das trocas de experiências intercambiáveis, perdem-se as faculdades de narrar e de ouvir. O autor relaciona esse processo de extinção à conjuntura sócio-histórica moderna, definindo-o como "um sintoma das forças produtivas seculares, históricas, que expulsam gradualmente a narrativa da esfera do discurso vivo, conferindo, ao mesmo tempo, uma nova beleza ao que está desaparecendo." (Benjamin, 1936/2016b, p. 217). Em nossa hipótese, essa "nova beleza" de uma função em vias de desaparecimento pode qualificar o lugar peculiar ocupado pela psicanálise.

Nessa linha de pensamento, Benjamin (1936/2016b) associa a incapacidade de assimilação das narrativas provenientes do outro às transformações da modernidade que dão lugar à era da informação. Para ele, a informação precisa ser compreensível "em si e para si", prescindindo da dimensão subjetiva, da singularidade de cada apreensão. No mundo da informação, "somos pobres em histórias surpreendentes" (p. 219), quer dizer, histórias que assimilamos por inteiro, que tocam o corpo e repercutem em nós de formas insondáveis. Já "a informação só tem valor no momento em que é nova" (p. 220).

Abordando as implicações dessa excessiva exposição ao incessante fluxo informacional para o laço social, Turkle (2015), em seu livro Reclaming conversation, destaca uma série de efeitos subjetivos provocados pelo uso contínuo dos dispositivos tecnológicos pelos jovens. Entre eles, a autora destaca a tendência a conversas rápidas e fragmentadas, a dificuldade de manter o contato visual, uma crescente incapacidade de lidar com a solidão e com o vazio, a busca incessante pelo novo, pela distração e pelo consumo, com reflexos sobre a capacidade de manter o foco da atenção, a perda da transmissão da experiência geracional através das narrativas orais, a diminuição da capacidade de introspecção, a perda da capacidade reflexiva e o aumento da ansiedade.

A partir do seu trabalho de consultoria em escolas, Turkle observa o surgimento de um novo sintoma proveniente do uso constante das tecnologias digitais: a evitação da conversa presencial. Destaca que a passagem da conversa presencial para a conexão virtual promove uma perda: a da aprendizagem proporcionada pelo contato presencial, que envolve mais riscos, imprevisibilidades e menor controle. Do ponto de vista da teoria lacaniana, poderíamos aqui pensar no caráter disjuntivo do discurso, o qual Lacan (1969-1970/1992) faz equivaler à própria noção de laço social, e que corresponde à impossibilidade de totalização de qualquer tipo. Em algum grau, o mal-estar resultante dessa disjunção é inerente ao laço, sendo dele parte constitutiva e - por que não? - o elemento que o faz movimentar-se e avançar, sem nenhum juízo evolutivo, mas no sentido de sair do lugar. Essa disjunção vem, justamente, marcar a diferença que se estabelece entre os campos do sujeito e do Outro. As conversas no ambiente virtual podem ser manipuladas, transformadas, e, por isso, envolveriam maior controle sobre o imprevisível. Nesse ponto, Turkle chama a atenção para a forma como as pessoas têm utilizado os celulares para se evadirem da cena em que estão situadas, evitando o contato presencial. Além disso, ela ressalta que a rapidez tecnológica incita a produção acelerada e confere a ênfase na solução, e não mais no processo. O sujeito se vê impelido a tomar decisões rapidamente, a responder precipitadamente, sem o tempo necessário para a elaboração. Alguns dos maiores prejuízos provocados pela evitação do contato presencial, destacados pela autora, seriam a dificuldade para lidar com as diferenças e frustrações advindas das relações presenciais, a perda do compromisso envolvido em uma relação, além da implicação e da responsabilidade pela palavra transmitida presencialmente.

Todas essas perdas relacionadas à passagem da conversa presencial para a virtual, ressaltadas pela autora, poderiam justificar parte da demanda, feita pelos adolescentes, de serem escutados. As mensagens virtuais trocadas a todo instante não substituem os diálogos presenciais, os espaços físicos ofertados para a palavra, a escuta que autentica a experiência.

Para Turkle (2015), os celulares são tão atraentes porque concentram três desejos humanos: de sempre sermos ouvidos, de sempre podermos centrar a atenção naquilo que queremos e de nunca estarmos sós. Assim, as redes sociais oferecem certo tamponamento do desamparo estrutural, alimentando a ilusão da existência da relação sexual. Entretanto a impossibilidade de uma conexão sem perdas desperta a angústia nos jovens. A hiperconexão não confere consistência ao Outro.

Na era da informação, o adolescente contemporâneo encontra grandes dificuldades em sua tarefa de se endereçar ao Outro e de se inscrever no laço social. Todavia a operação da adolescência não prescinde desse endereçamento, que se dá pela via da transmissão e da inscrição no Outro, com o reconhecimento do sujeito nessa instância, isto é, com a assimilação de sua narrativa singular. Diante disso, o que a psicanálise pode oferecer como contraponto ou forma de resistência a essa lógica que, ao apagar os traços de uma transmissão simbólica e disseminar um infinito de informações sem lastro ou balizamento, tende a homogeneizar e segregar os sujeitos?

 

O Inenarrável da Adolescência e uma Experiência Compartilhada

Nos grupos de conversação, as incongruências entre a instituição escolar e as configurações discursivas contemporâneas são tangíveis no mal-estar que perpassa as queixas dos alunos. A nosso ver, a conversação opera nesse ponto de mal-estar, possibilitando a emergência de questões até então inenarráveis pelos sujeitos. É o que ocorre num grupo com cinco meninos entre 12 e 14 anos, coordenado por uma psicanalista com o suporte de um estagiário estudante de psicologia. Logo no primeiro encontro, chama nossa atenção a formação do grupo. Quatro deles aparentemente constituem um grupo homogêneo de amigos, com bom desempenho escolar, muitas afinidades nos gostos e atividades extraclasse, certa timidez, "vida social" insatisfatória e, segundo eles, nenhuma experiência com meninas. Esses meninos tomam a iniciativa de participar da conversação em função do tema, "redes sociais", já que todos têm uma especial predileção por tecnologias digitais e grandes habilidades no uso dos dispositivos eletrônicos, que não hesitam em demonstrar no grupo. No início, em torno deles, paira um clima de leveza e certa infantilidade. Os temas preferidos gravitam em torno do universo dos games, canais no YouTube e demais experiências na internet. Apresentam-se como meninos tranquilos e qualquer tema ligado à transgressão não se coloca.

Há um quinto menino nesse grupo, Arthur1. Diferentemente dos demais, ele não escolhe participar da conversação por afinidade com o tema, mas por sugestão da escola, que o apresenta como um "caso difícil". Arthur não faz parte do grupo de amigos. Nos primeiros encontros, senta-se bem afastado dos demais, posicionando-se por trás de mesas devidamente empilhadas, num aspecto entrincheirado. Mantém-se isolado nas primeiras semanas, falando muito pouco e, às vezes, mostrando-se irritado e agressivo. Leva vários encontros para sair de trás desse escudo e se juntar ao grupo. Essa aproximação decorre de um traço em comum com o restante do grupo, o humor, que os mediadores da conversação pontuam. Arthur é muito engraçado e ri de si mesmo, o que propulsiona sua acolhida pelos outros meninos. Com o tempo, parece se apropriar de certa imagem de pária, que identifica no olhar dos outros, assumindo um personagem marginal no grupo, aquele que lança de supetão as piadas "sujas" e as tiradas nonsense, provocando o riso coletivo. Já alojado na roda da conversação, ele continua com poucas palavras, quase resmungando em algumas ocasiões. Ainda assim, de certa forma, ele é sempre incluído nas conversas, pontuando eventualmente com um comentário de deboche.

Até que, um dia, algo acontece. Numa conversa sobre como lidar "com as mulheres", Arthur resolve tomar a palavra, mostrando-se mais experiente que os demais. Os outros consentem com essa "experiência" e o escutam atentamente. Momentos depois, já em outro assunto, um tema, até então jamais mencionado, irrompe de forma surpreendente. Um dos outros quatro meninos evoca um episódio ocorrido anos antes envolvendo Arthur, como autor de uma agressão de teor sexual. Trata-se de uma grave ocorrência de bullying que teve sérias consequências para os envolvidos. Mais uma vez, Arthur toma a palavra e diz: "às vezes, eu tô passando no corredor e escuto alguém falar 'abusador'2. Como se estivesse escrito na minha testa...". O tema do abuso, significante pelo qual ele se diz estigmatizado, passa a circular de forma recorrente na conversação. Pouco a pouco, a narrativa dessa experiência, vivenciada por Arthur, como protagonista, e testemunhada pelos colegas, ganha forma. Eles contam detalhes do ocorrido e suas consequências e falam do que houve com a "vítima", que saiu da escola na época. Um deles diz: "de vez em quando, eu encontro ele na rua, e é estranho". Mesmo de modo fragmentado, Arthur consegue falar de uma experiência que, até então, restava como um intratável - maneira como ele era tomado pela escola - e um inenarrável. Todos os cinco dizem: "nunca falamos sobre isso, foi passando...". Finalmente, eles estavam falando sobre "o abuso" e redimensionando essa experiência que marcou Arthur na pele. Diferentemente do silenciamento que eles localizam na escola com um tom de crítica, a conversação permite a instalação de um espaço de fala que dá lugar a essa experiência numa dimensão compartilhada pelos participantes, cada um a partir de sua posição.

Esse espaço de fala só se constitui a partir de um laço transferencial com o próprio dispositivo da conversação, no qual a oferta de escuta equiflutuante, despojada de qualquer julgamento ou direcionamento do que é dito, possibilita a suposição de saber no coletivo e, assim, a construção, mesmo que momentânea, de Outro que reconhece a voz singular de cada sujeito ali implicado. Outro que, por ser também falho e não saber tudo, pode reconhecer, também, os pontos obscuros das narrativas, viabilizando a tessitura de novos sentidos em torno de certas experiências que podemos considerar traumáticas. Santiago (2008) esclarece que o trabalho da conversação na escola tem como desafio incluir a dimensão pulsional. Nessa dimensão onde se localiza a pulsão, fronteiriça entre o psíquico e o somático, não apenas a linguagem, mas também o suporte físico do corpo, é afetado pelas experiências do sujeito. O adolescente está em seu momento de experimentar o corpo e o Outro. E, nesse processo, restarão novas marcas imaginárias e simbólicas que, atualizadas no grupo, seu lócus predileto, reposicionam o sujeito em termos de um lugar social que pode ou não ser aceito.

Numa perspectiva que parece sinalizar para a importância de se abrir uma lacuna nessa colagem do sujeito para com as tecnologias digitais, encontramos no pensamento de Benjamin (1936/2016b) uma reflexão relevante em redor das noções de saber e informação. Ao tratar da decadência da arte da narração em benefício do surgimento do romance moderno, o autor a define como oriunda da experiência e mais próxima da oralidade, elementos mais significativos para a transmissão no laço social: "a experiência que passa de boca em boca é a fonte a que recorreram todos os narradores" (Benjamin, 1936/2016b, p. 214). Para ele, na modernidade, o nascimento da imprensa favoreceu o surgimento de um novo formato de escrita, abrindo espaço para o aparecimento do romance. A partir desse desenvolvimento, o indivíduo isolado - como o escritor de romances - deixa, paulatinamente, de se alimentar da tradição oral partilhada coletivamente, assim como de se nutrir dos conselhos e da sabedoria resultantes da experiência vivida: "O conselho tecido na substância da vida vivida tem um nome: sabedoria. A arte de narrar aproxima-se de seu fim porque a sabedoria - o lado épico da verdade - está em extinção" (p. 217).

Ancorados na obra de Benjamin, Gurski e Pereira (2016) refletem sobre os efeitos do esvaziamento da dimensão da experiência para a passagem adolescente. De acordo com eles:

Em meio ao apagamento crescente da dimensão da experiência em nosso laço social e na busca de um lugar de enunciação fora da família, o adolescente sofre os efeitos da desmoralização da experiência, da ausência de diferença geracional e das diferentes dobraduras do tempo (p. 436).

Esses autores resgatam do texto benjaminiano que as condições para que se produzam enunciações se devem à possibilidade de que das vivências decantem experiências, narrativas e testemunhos. Ao fazer circular a palavra, as histórias e suas versões, a narrativa possibilita a produção de polissemia, flexibilizando os sentidos (p. 438).

Também com o suporte do pensamento de Benjamin, os autores Lo Bianco, Costa-Moura, e Solberg (2010) refletem sobre a transmissão que se dá pela via da psicanálise. Freud reconhece nas narrativas em análise o efeito real de sujeito que a linguagem produz e que ela mesma não é capaz de conter na forma de uma relação unívoca (p. 24). As redes sociais da internet, com a sua multiplicidade, horizontalidade e liquidez significantes, elevam ao zênite social a rarefação simbólica do contemporâneo. Assim, "o sujeito órfão da rede simbólica que a experiência compartilhada garantia, só pode reaparecer no real dos atos e dos sintomas; apenso à contingência de uma atualização inantecipável e não inteiramente simbolizável" (Lo Bianco, Costa-Moura, & Solberg, 2010). Entretanto sua narrativa fragmentária, feita de restos, sob transferência, permite uma abertura para a emergência real na enunciação. É a partir desses restos que a cadeia de transmissão se dá.

A conversação, ao contrário das redes sociais da internet, convoca os corpos. O corpo é suporte do excesso, daquilo que a palavra não alcança. Se as palavras podem fluir ao sabor do vento, tecendo infindáveis redes de sentido, o corpo, em sua dimensão real, é o local do silêncio da palavra, do limite do sentido, por onde ecoa a pulsão. O corpo não se apreende pelo sentido, mas faz ressoar. "O corpo testemunha a presença de um gozo opaco, estranho, um vazio ou furo de significação, o íntimo, que não faz laço social" (Lima & Coelho dos Santos, 2016). Miller (2003) define a interpretação como uma perturbação que incide sobre o corpo, causando um desarranjo de gozo. Para tanto, ela exige que o analista coloque o seu corpo, através do tom, da voz, do gesto e do olhar. Assim, o corpo, com o seu excesso e, ao mesmo tempo, com a sua significação vazia, pode ter efeito de furo, permitindo que "a transferência tome corpo" (Gorostiza, 2012).

 

Considerações Finais: Uma Comunidade de Ouvintes?

A psicanálise demonstra a importância da oferta de espaços de escuta do que os jovens têm a dizer, nos quais se reconhece o singular que se manifesta em cada adolescência, muitas vezes de modo perturbador e caótico. É o que Freud (1910/1996) já recomenda aos educadores de adolescentes: é preciso dar aos jovens "o desejo de viver", assim como apoio e amparo nesse tempo da vida em que os vínculos se afrouxam, em que as referências se dissipam, em que se explicita o descompasso temporal de um sujeito que lida com uma maturação que se dá mediante uma imaturidade insuperável. Esse reconhecimento do novo que irrompe para cada adolescente nesse tempo da vida é contrário a qualquer perspectiva homogeneizante, rotuladora e normativa de tratamento da adolescência, e pode fazer borda, cingir o pulsional que extravasa do corpo, legitimando um "saber se virar" com os excessos da pulsão e viabilizando novos pontos de ancoragem.

Freud atesta que a transmissão de uma narrativa singular num laço com a alteridade é carregada de afetos ambivalentes. Na relação transferencial, base da clínica psicanalítica, o sujeito está presente com seu corpo, tomado por experiências afetivas imemoriais que são então atualizadas de forma viva e intensa. E a transferência ultrapassa as paredes dos consultórios e se faz presente em cada ocasião de oferta da escuta analítica. Por contar com o vínculo transferencial, essa escuta proporciona a emergência do sujeito do inconsciente pela via do ordenamento significante dos traços sem sentido numa história construída e compartilhada. Se a transmissão narrativa encontra obstáculos num tempo em que as características dos modos de relação com o Outro trazem dificuldades à escuta das dissonâncias, levando à homogeneização das subjetividades e à interiorização do controle, a psicanálise permite restaurar a dimensão da escuta, possibilitando aos sujeitos dar contornos à dimensão alteritária.

A experiência que apresentamos com um grupo de adolescentes numa conversação de orientação lacaniana permite vislumbrar a abertura que a instalação desse espaço de circulação e acolhimento da palavra proporciona aos sujeitos, que se sentem escutados em pontos até então refratários ao discurso. Essa dimensão inenarrável de cada subjetividade costuma tentar se fazer ouvir na adolescência de maneira estrondosa em cada incidência dos excessos da pulsão no corpo, seja nos atos desmedidos, seja na opacidade dos sintomas. No caso exposto acima, a experiência compartilhada na conversação ocasiona o tratamento de uma angústia que toma forma no grupo por meio da troca de narrativas singulares. Essa experiência no coletivo possibilita a emergência de angústias particulares. Em vista disso, para que cada singularidade possa ser tratada para além da conversação, consideramos necessária a oferta de escuta aos sujeitos envolvidos, que, ao final dos encontros no grupo, quando necessário, são encaminhados ao atendimento psicanalítico. Sustentamos, assim, a psicanálise, com seus dispositivos e sua comunidade de ouvintes, como possibilidade de resistência da transmissão de narrativas na esfera do discurso vivo, como tão bem nomeia Benjamin (1936/2016b) ao apontar a beleza do que resiste a desaparecer no mundo da informação.

 

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Endereço para correspondência:
Daniela Teixeira Dutra Viola
E-mail: daniela.dutraviola@gmail.com

Nádia Laguárdia de Lima
E-mail: nadia.laguardia@gmail.com

Márcio Rimet Nobre
E-mail: marcionobre205@hotmail.com

Recebido em: 06/06/2018
Revisado em: 16/09/2019
Aceito em: 27/09/2019
Publicado online: 12/03/2020

 

 

1 Nome fictício.
2 O significante em questão foi modificado com o objetivo de evitar qualquer risco ao sigilo e ao anonimato dos participantes da conversação.

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