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Revista Subjetividades

versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.20 no.1 Fortaleza jan./abr. 2020

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i1.e7908 

RELATOS DE PESQUISA

 

O lugar da vergonha na família com adolescentes

 

The Place of Shame in the Family with Teenagers

 

El Lugar de la Vergüenza en la Familia con Adolescentes

 

La Place de la Honte dans la Famille avec des Adolescents

 

 

Carla Martins Mendes

Especialista em Psicoterapia de Família e Casal pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mestrado em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Doutoranda em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo, que é parte de uma investigação mais ampla sobre a vergonha e o pudor na intimidade da família, tem como objetivo investigar a percepção do sentimento de vergonha em famílias com filhos adolescentes. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa, na qual foram entrevistados oito sujeitos do segmento socioeconômico médio, com filhos com idades entre 12 e 18 anos. Os resultados foram analisados de acordo com o método de análise de conteúdo na sua vertente categorial. Para atingir os objetivos formulados neste trabalho, serão discutidas as categorias: percepção da vergonha atrelada à culpa; identificação da vergonha a partir do olhar do outro; vergonha e imagem social. Constatou-se que a vergonha e a culpa são percebidas como sentimentos indiferenciados. O deflagrar da vergonha emerge a partir do olhar do outro, e o fracasso das expectativas sociais e familiares é determinante para desencadear tal sentimento.

Palavras-chave: vergonha; culpa; família; adolescentes.


ABSTRACT

The present study, part of a wider investigation into shame and modesty in family intimacy, aims to investigate the perception of shame in families with adolescent children. For that, a qualitative research was carried out in which 8 subjects from the middle socioeconomic segment were interviewed, with children between the ages of 12 and 18 years. The results were analyzed according to the content analysis method in its categorical aspect. To achieve the objectives formulated in this work, the following categories will be discussed: perception of shame coupled with guilt; identification of the shame by the look of the other; shame and social image. It was found that shame and guilt are perceived as undifferentiated feelings. The triggering of shame emerges from the gaze of the other and the failure of social and family expectations is crucial to trigger such feeling.

Keywords: shame; guilt; family; teenagers.


RESUMEN

El presente estudio, parte de una investigación más amplia sobre la vergüenza y el pudor en la intimidad de la familia, tiene como objetivo investigar la percepción de la vergüenza en familias con hijos adolescentes. Para ello, se realizó una investigación cualitativa en la cual fueron entrevistados 8 sujetos del segmento socioeconómico medio, con hijos con edades entre 12 y 18 años. Los resultados fueron analizados de acuerdo con el método de análisis de contenido en su vertiente categorial. Para alcanzar los objetivos formulados en este trabajo, se discutirán las categorías: percepción de la vergüenza vinculada a la culpa; identificación de la vergüenza a partir de la mirada del otro; vergüenza e imagen social. Se constató que la vergüenza y la culpa son percibidas como sentimientos indiferenciados. El desencadenamiento de la vergüenza emerge a partir de la mirada del otro y el fracaso de las expectativas sociales y familiares es determinante para desencadenar tal sentimiento.

Palabras clave: vergüenza; culpabilidad; la familia; adolescentes.


RÉSUMÉ

Cette étude fait partie d'une enquête beaucoup plus approfondie sur la honte et la pudeur au sein de la famille et a pour but d'enquêter sur la perception de la honte dans des familles avec des enfants adolescents. Pour cela, une enquête qualitative a été réalisée sur 8 familles de classe socio-économique moyenne avec des enfants âgés de 12 à 18 ans. Les résultats ont été analysés selon la méthode d'analyse de contenus du volet catégoriel thématique. Pour atteindre les objectifs stipulés, les sujets suivants sont abordés: perception de la honte liée à la culpabilité; identification de la honte à partir du regard porté par autrui; honte et image sociale. On a constaté que la honte et la culpabilité sont perçues comme des sentiments indifférenciés. La honte est déclenchée à partir d'un regard et l'échec des attentes sociales et familiales est déterminant pour entraîner ce sentiment.

Mots-clés: honte; culpabilité; famille; adolescent.


 

 

A privatização da família moderna constituiu um marco divisor na sociedade ocidental a partir do século XVII. Após esse período, a família sofreu profundas mudanças, que evoluíram até os dias de hoje, fundadas na primazia da intimidade. Embora o sentimento de vergonha seja produto da época pregressa à privatização da família moderna, somente a partir dessa época passou a desempenhar funções reguladoras na intimidade da família ocidental. Ademais, durante esse período, considerou-se que a criança devia ser protegida dos segredos dos adultos, principalmente no que dizia respeito à sexualidade. No interior da família moderna, a vergonha referia-se, fundamentalmente, à sexualidade, associada à ideia de pudor surgida no século XVI (Bologne, 1990).

Na esteira da valorização do eu interior, Freud constrói a teoria psicanalítica contemplando uma ideia de sujeito do inconsciente, desejante e em permanente conflito. Diferentemente da ênfase dada à noção de culpa na constituição psíquica do sujeito, objeto de estudo privilegiado ao longo da sua obra, Freud (1905/1972) relacionou a vergonha, principalmente, à sexualidade e ao narcisismo. Remetida às pulsões recalcadas, a vergonha estaria diretamente relacionada à moralidade e à honra, da qual fariam parte o pudor e o nojo. No que se refere ao narcisismo, a vergonha estaria ligada à imagem do Ego (1908/1976).

A relevância dada ao sentimento de culpa em detrimento da vergonha pode ser pensada a partir de um contexto histórico-social moderno. Em "Totem e tabu", Freud (1913/1996a) descreve o mito do assassinato do pai da horda primitiva como condição para o advento da cultura. A culpa, consequência maior desse ato, retornaria para o eu sob a forma de remorso, instaurando os dois principais tabus norteadores da civilização: a autoridade do pai e a proibição do incesto. Mais tarde, em "Mal estar na cultura", Freud (1930/1996b) refere-se à culpa como responsável pelo sacrifício das pulsões, pela renúncia à agressividade e à sexualidade, apontando a violência e a culpa como subjacentes à origem da cultura. Segundo a leitura freudiana, o sentimento de culpa decorre do conflito entre as exigências individuais e a moral social. Enquanto constituinte do psiquismo humano, a culpa é condição para o surgimento da cultura ocidental e meio pelo qual o grupo se organiza em sociedade. Os afetos reprimidos formariam uma consciência moral e a evolução da civilização implicaria, portanto, em abdicar de uma parte da felicidade.

Tisseron (2014), tomando por base a teoria freudiana sobre a culpa e as suas referências à vergonha, aponta que, classicamente, a vergonha foi pensada de acordo com as instâncias psíquicas desenvolvidas por Freud. Nesse sentido, de um lado, a vergonha foi atrelada à sexualidade, passando a ser confundida com o pudor e, de outro, a vergonha foi associada ao narcisismo, vindo a ser considerada precursora da culpa. Assim, originou-se uma ideia de indistinção entre a vergonha e a culpa.

Seguindo esse mesmo raciocínio, Emde e Oppenheim (2002) referem-se à vergonha e à culpa enquanto emoções morais. As emoções morais desenvolvem-se tardiamente, apresentam maior complexidade e têm a função de tornar conscientes aspectos morais inconscientes. Assim, a importância do sentimento de vergonha, nesse contexto, relaciona-se com normas sociais que não devem ser transgredidas, sob a pena de exclusão do grupo social ou familiar (Tisseron, 2014). Embora ambos os sentimentos apontem para uma dimensão moral, a culpa está relacionada com a internalização de uma lei e a vergonha ao afastamento de um ideal social.

Se a vergonha estava fundamentalmente atrelada à sexualidade feminina e à privacidade da família durante a modernidade, a vertente narcísica da vergonha passa a merecer maior destaque na contemporaneidade, visto que as esferas público-privadas sofrem profundas transformações. Prost (2009) aponta que o surgimento da propaganda, do consumo e de revistas femininas na primeira metade do século XX impulsionaram a valorização do corpo e da relação do indivíduo consigo mesmo. Tisseron (2014) destaca que o deslocamento do nu, antes confinado à esfera estritamente privada, para a esfera pública, a partir dos anos de 1970 do século XX, inaugurou um novo entendimento sobre a intimidade. Para o autor, não sentir vergonha em mostrar a "privacidade psíquica" em público contribuiu para a retirada do sentimento de vergonha associado à sexualidade. Assim, compreendemos que, no contexto da reciprocidade de influências entre sociedade e família, a sociedade ocidental, a partir da segunda metade do século XX, é marcada por sucessivas mudanças econômicas, sociais e culturais que repercutem na estrutura familiar.

No que diz respeito às relações familiares, Singly (2012) indica que, na década de 1960 do século XX, a influência do feminismo, a Lei do Divórcio e a remuneração do trabalho feminino convergiram para maiores reivindicações individuais no contexto social e familiar. Os papéis mais igualitários refletiram-se na sociedade e na intimidade da família, acentuando-se o diálogo e a manifestação de afetos. Atualmente, a despeito de os modelos mais tradicionais de família permanecerem atuantes, tende-se a privilegiar a democratização das relações familiares (Jeammet, 2014).

A busca de maior igualitarismo nas relações familiares é particularmente evidente na adolescência, período de profundas mudanças na família. Durante esse período, outros modelos de identificação, além da família, desempenham papéis fundamentais para a ressignificação da autoimagem do adolescente. Nesse contexto, a vergonha, durante a adolescência, é um elemento central e inerente ao processo de amadurecimento e de diferenciação entre gerações, contribuindo para transformações importantes nas trocas de afeto entre pais e filhos (Labrune, 2016).

No que se refere aos pais de adolescentes, para além de se confrontarem com o envelhecimento do corpo, tendem a refletir acerca dos seus valores e a questionarem as suas conquistas desenvolvidas ao longo da vida. Essas mudanças tornam-se particularmente dolorosas, porque pais vivenciam a reedição das suas próprias adolescências em espaços e tempos diferentes dos filhos, contribuindo para que também eles se sintam mais suscetíveis ao sentimento de vergonha (Labrune, 2016).

De acordo com Aires (2019), a vergonha, enquanto emoção que coloca em evidência aspetos interiorizados desvelados perante o olhar do outro, remete ao abalo das referências da imagem que o sujeito tem de si. Assim, no contexto da sociedade contemporânea, caracterizada pela valorização da imagem social e dos ideais individuais, a vergonha está relacionada ao fracasso das expectativas idealizadas (Bilenky, 2016).

Segundo essa perspectiva, a vergonha é desencadeada por uma tensão entre o Eu e o Ideal do Eu, resultante do fracasso do Eu em relação ao projeto narcísico (Ciccone & Ferrant, 2015; Tisseron, 2014). Enquanto o Ideal de Eu se refere a atributos desejáveis, os ideais valorizados socialmente convidam a um desafio entre a autoimagem e aquela que o sujeito almeja ter. Nesse sentido, se os ideais familiares constituem veículos determinantes no reconhecimento da origem e da missão do grupo familiar, a vergonha, associada a ideais efêmeros, torna-se um complicador a mais para a transmissão familiar, sobretudo quando as fronteiras geracionais são pouco nítidas.

Nesse contexto, a desvalorização do eu perante ideais inalcançados tende a facilitar a vinculação do sentimento de vergonha à falha frente às expectativas sociais e familiares. Tomando por base um referencial teórico interdisciplinar, com ênfase na psicanálise, este trabalho tem como objetivo investigar a percepção do sentimento de vergonha em famílias com filhos adolescentes.

 

Método

Participantes

Participaram deste estudo oito sujeitos independentes, cinco mulheres e três homens, com filhos em idades compreendidas entre 12 e 18 anos, residentes na cidade do Rio de Janeiro e pertencentes às camadas médias da população (Tabela 1). Privilegiamos esse período do ciclo vital familiar por ser uma fase em que a intimidade familiar sofre importantes transformações e na qual a vergonha e o pudor repercutem significativamente na relação parento-filial e na dinâmica familiar como um todo.

Instrumento

Foram realizadas entrevistas individuais, gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas na íntegra. O roteiro semiestruturado das entrevistas foi formulado a partir da revisão da literatura acerca do tema, contemplando questões abertas e elaboradas com base nos seguintes eixos temáticos: percepção acerca do sentimento de vergonha; diferenciação entre vergonha e pudor; diferenças geracionais da vergonha e do pudor; vergonha e exposição da intimidade nas redes sociais; percepção sobre a intimidade familiar; transmissão da intimidade entre gerações.

Procedimentos

O projeto de pesquisa que deu origem a este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da universidade onde foi desenvolvido (2017-21). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a divulgação dos resultados em ensino, pesquisa e publicação, e foram informados que a sua identidade e a de seus familiares seriam preservadas. As entrevistas tiveram a duração de uma a três horas, e o local, data e horário foram agendados de acordo com a disponibilidade dos entrevistados. Por opção dos entrevistados, as entrevistas ocorreram na casa dos mesmos. O acesso aos participantes ocorreu por meio de indicações, configurando, portanto, uma amostra de conveniência.

Os dados coletados foram submetidos ao método de análise de conteúdo, na sua vertente temático-categorial, com a finalidade de investigar, a partir do material discursivo, as significações atribuídas pelos entrevistados aos fenômenos (Bardin, 2015). Por meio dessa técnica foram destacadas categorias temáticas, organizadas a partir da semelhança entre os elementos contidos no material coletado. Para tal, procedeu-se a uma 'leitura flutuante', agrupando-se dados significativos, identificando-os e relacionando-os, até se destacarem as categorias de análise.

O presente trabalho apresenta parte dos resultados de uma pesquisa mais ampla sobre a vergonha e o pudor na intimidade da família. Das narrativas emergiram oito categorias de análise: percepção da vergonha atrelada à culpa; identificação da vergonha a partir do olhar do outro; vergonha e imagem social; estranhamento do pudor; transmissão do pudor: um legado em questão; novos rumos da intimidade no lar; imagem no espaço público: protegendo a vergonha dos filhos; e a intimidade pública e a vergonha privada.

Para atingir os objetivos formulados neste estudo, apresentaremos e discutiremos somente as seguintes categorias: percepção da vergonha atrelada à culpa; identificação da vergonha a partir do olhar do outro e vergonha e imagem social.

 

Resultados e Discussão

Percepção da Vergonha Atrelada à Culpa

Frequentemente associadas, a vergonha e a culpa inscrevem-se no campo das emoções morais. Sofrendo a influência da sociedade e da cultura, tornam-se reguladoras das relações interpessoais e os efeitos que produzem no Eu traduzem-se no senso de presença e de responsabilização em relação ao outro (Emde & Oppenheim, 2002). Ambos os sentimentos, sujeitos ao julgamento moral, tendem a ser indistinguíveis, tal como evidenciam as narrativas dos entrevistados.

Eu acho que me protejo ao máximo para evitar (sentir vergonha). Mas, se acontece, eu peço desculpa, justifico e enfim... Tento passar isso para o meu filho. Se errou, tem que pedir desculpa, porque vergonha é isso. Se errou, vai lá e conserta. (Paulo).

Bate uma culpa! (sentir vergonha). Tipo, você quer consertar alguma coisa. Acho que você entende que fez algo errado, magoou alguém, desapontou. Mentira, por exemplo, eu minto quando estou com vergonha! Tipo, fui pega, fico me justificando, é culpa mesmo, muita vergonha! (Márcia)

Paulo, ao ensinar o filho a consertar os erros perante o sentimento de vergonha, e Márcia, associando a vergonha ao fato de magoar alguém, remetem a vergonha a uma falha que deve ou pode ser reparada. Embora os sentimentos de culpa e de vergonha possam ser concomitantemente experimentados, obedecem a naturezas psíquicas distintas. A vergonha é desencadeada a partir do olhar do outro que é percebido como julgamento ou crítica. A sensação de julgamento refere-se ao próprio Eu, e não a uma ação específica (Ciccone & Ferrant, 2015; Tisseron, 2014). A culpa é resultado de uma transgressão que desencadeia uma ação interna, via autopunição, ou externa, quando aponta para um movimento de reparação. Nesse sentido, os entrevistados evidenciam uma indistinção entre a culpa e a vergonha, já que a reparação de falhas constitui um dos atributos da culpa.

O conceito de mecanismo de reparação frente ao sentimento de culpa foi desenvolvido por Melanie Klein (1975/1991), referindo-se às funções integradoras do Superego. Durante a posição depressiva, a preocupação com o objeto externo se manifestaria como renúncia à preocupação narcisista. No âmbito das instâncias psíquicas, a vergonha é desencadeada por uma tensão entre o Eu e a função ideal do Super Eu - o Ideal do Eu - traduzida no reconhecimento de que não se é o que se idealizava ser. A culpa é produzida por uma tensão entre o Eu e o Super Eu, permitindo que o autojulgamento instigue uma ação devido a uma lei internalizada (Ciccone & Ferrant, 2015; Tisseron, 2014).

Por outro lado, quando os entrevistados fazem referência aos filhos nos relatos sobre a vergonha, parecem distinguir mais claramente as noções de culpa e de vergonha, embora mantenham uma narrativa de indistinção no que diz respeito aos afetos associados a esses dois sentimentos. Isso é particularmente evidente quando percebem a sua imagem ameaçada perante os filhos.

Olha, eu acho que a gente sofre vergonha o tempo inteiro, em todos os aspectos bate uma culpa, sabe? Esta semana, por exemplo, aconteceu uma coisa em relação à minha filha. Eu briguei com ela. Eu tava falando de jogo de cintura. Mas eu me senti muito envergonhada por ela ter dito que eu tava ensinando ela a mentir. Não falei nada pra ela, claro! Mas ela ter falado que eu ensino ela a mentir, nossa! Não esperava isso da minha filha, ela tipo me deu uma lição! Eu tava ensinando ela a viver, mas ela me deu uma lição de moral, ética, sei lá! (Luiza)

Aí, outro dia, eu tava superestressada, tava discutindo pra caramba com o pai dos meus filhos. Nem falei pra eles que o pai tá nem aí pra pagar contas. Aí chegou o meu mais velho com a namorada e falou: 'nossa, mãe, coisa feia. Essa não é você!' E, durante um tempo, eu fiquei com muita culpa por ter feito ele passar vergonha! Nem falei nada pra ele, nem quero! Mas ele falou que eu tava louca, não esperava que eu falasse desse jeito com ninguém! Não quero nem que ele lembre disso, sabe? Mas eu fiquei com muita vergonha, sabe? Faço tudo por eles e aí eu sou louca! (Ana)

Luiza e Ana sentem vergonha quando percebem que, supostamente, não possuem os predicados que imaginam que os filhos consideram que elas têm. Em ambos os casos, demonstram que a vergonha é deflagrada a partir do olhar do outro, correspondendo à falência de uma imagem que deveria ser preservada (Ciccone & Ferrant, 2015; Tisseron, 2014). Percebemos essa característica da vergonha no relato de Luiza, ao indicar que sentiu vergonha quando a filha lhe deu uma "lição de moral". Na fala de Ana, a vergonha parece ser sentida como o desnudar de uma característica que deveria permanecer oculta, seja perante o filho, seja perante a namorada dele.

Esconder o que é considerado como imperfeição, remetendo-se ao silêncio e ao segredo, é um dos atributos da vergonha, que é um sentimento que conduz a uma menos valia e, frequentemente, a uma sensação de indignidade, no sentido de não estar à altura do que se é (Tisseron, 2014). Essas características da vergonha são evidenciadas em ambos os relatos, contudo Ana, para além de não partilhar com os filhos o mal-estar que sente face aos episódios relatados, ainda supõe que a imagem que o filho tem dela é de "louca", demonstrando ter um sentimento de menos valia relativo à função materna.

Ressaltamos, ainda, que ambas as participantes relataram experiências envolvendo filhos do sexo feminino e masculino com 18 anos. Embora Ana tenha um segundo filho de 13 anos, não o incluiu no relato acerca de episódios similares, especificando que se tratava do filho mais velho. Identificamos o mesmo fenômeno com entrevistados do sexo masculino com uma filha na mesma faixa etária, 17 anos. Trata-se, portanto, de participantes referindo-se a filhos que atravessam o período final da adolescência.

Podemos atribuir tal fato às características que marcam o período final da adolescência. De acordo com Le Breton (2016), o final da adolescência é atravessado por elementos psíquicos, físicos e sociais que conduzem a uma maior valorização de referências externas, tal como demonstram as falas dos participantes. Por outro lado, a puberdade marca o início da adolescência, período amplamente afetado por transformações biológicas, levando o jovem a se concentrar, sobretudo, em conflitos internos e corporais (Jeammet, 2014).

A minha filha morre de vergonha quando eu bebo, fumo [...] Ela queria ter um pai sarado, um pai geração saúde. Então, eu sei que ela fica sem graça quando tá com as amigas e eu bebo ou fumo. Aliás, agora evito, sabe? Eu gosto, mas posso fazer fora [...] Ela me dá bronca o tempo todo, não me cuido, tô gordo, fumo, como besteira... Fica me escrachando o tempo todo! Não vou constrangê-la! (João)

João evita a palavra vergonha na primeira pessoa, preferindo usá-la para descrever os sentimentos da filha em relação a ele, colocando-se no lugar de provocador de vergonha dela. Ao usar a palavra "escrachar" e explicar que pode "fazer fora" para não constranger a filha perante as amigas, levantamos a possibilidade de que, em rigor, é ele quem sente vergonha por não corresponder à imagem de pai "geração saúde" idealizada pela filha. Efetivamente, a vergonha nem sempre aparece de forma explícita. O orgulho e a saída de cena são formas de disfarce, dificultando, assim, a identificação desse sentimento (Bilenky, 2016).

Vale ressaltar que os participantes atravessam um ciclo vital de mudanças significativas. Face à adolescência dos filhos, para além de os pais se confrontarem com as suas próprias inseguranças devido à reedição consciente ou inconsciente das suas experiências enquanto adolescentes, há os conflitos psíquicos inerentes à desconstrução da representação infantil dos filhos. Quanto aos filhos adolescentes, entre as múltiplas especificidades que marcam esse período, Labrune (2016) indica que a maior autonomia, a desconstrução da imagem parental e a valorização da imagem social junto aos pares podem contribuir para intensificar o sentimento de vergonha dos pais em relação aos filhos que estão na fase final da adolescência.

A despeito da narrativa dos entrevistados evidenciar uma indiferenciação entre a culpa e a vergonha, percebemos que a vergonha é um sentimento que prevalece nos pais, em detrimento da culpa, quando sentem a imagem parental ameaçada no que diz respeito aos valores sociais e morais.

Identificação da Vergonha a partir do Olhar do Outro

Os questionamentos relativos às circunstâncias em que os participantes identificam o sentimento de vergonha parecem ter favorecido uma maior clareza acerca desse afeto em relação à culpa. Os relatos apontam que a vergonha é desencadeada a partir do olhar alheio, pois, embora as palavras possam contribuir para se sentirem envergonhados devido ao valor de desqualificação que comportam, por si só não necessariamente deflagram o sentimento de vergonha. Contudo o olhar é o bastante para evocar uma ameaça à autoimagem, justificando a necessidade de um recolhimento ou a saída da situação sentida como provocadora de vergonha.

Quando te dão aquele olhar que fuzila, você sente muita vergonha. Fico sem graça, começo a arrumar desculpas, bobas, claro! Sou pego em alguma besteira. Ou falo piada, sem graça, claro, porque vem aquele carão, você se sente fuzilado. (João)

A gente procura se recolher mais (ao sentir vergonha), procura justificar mais, dando explicação pras pessoas, o que aconteceu, porque aconteceu [...] Você percebe a crítica não só nas palavras, mas num todo. Os gestos, como te olham, você sabe que há crítica, tipo, você é incompetente. Senti muita culpa por causa da crítica, que nem precisa falar, do jeito que te olham já diz tudo, né?! (Luiza)

Quando tá todo mundo te olhando, aí você pensa: "calma!", porque, muitas vezes, você faz as coisas de uma forma involuntária e espontânea, mas quando você olha o jeito que os outros te olham, você fica sem graça, vergonha mesmo, você fica muito sem graça, sabe? Aí começam as desculpas, justificativas, aí você sabe que tá com vergonha. (Carlos)

As justificativas que os entrevistados apontam perante a vergonha funcionam como meios de proteção de uma imagem a preservar. Freymann (2012) indica que o deflagrar da vergonha a partir do olhar alheio é particularmente doloroso porque remete às fantasias infantis mais arcaicas, relacionadas às memórias inconscientes pré-edípicas, pois o que está em causa na vergonha é o poder que se atribui ao olhar do outro, desencadeando uma sensação de inferioridade.

Em se tratando de pais com filhos adolescentes, a vergonha desencadeada pelo olhar dos filhos parece apontar para uma dupla direção. Se, por um lado, os entrevistados reconhecem o sentimento de vergonha a partir do olhar; por outro, demonstram um mal-estar face à percepção de que também os filhos sentem vergonha deles na frente de amigos, nomeadamente no que diz respeito às trocas de afeto.

Olha, hoje em dia, é assim: não pode nada! Hoje em dia, filho cresce um pouquinho e o pai não pode nada, não pode dar beijo no rosto. Eu, na época, quando era mais novo, não tinha isso. Hoje em dia, isso é um pouco diferente. Com o meu filho, quando ele está com os amigos dele, fica uma vergonha de abraçar, de beijar e tal. Fazer o quê? Na rua, nem pensar! Crescem, ficam com vergonha do pai. (Paulo)

O meu mais velho agora tá com vergonha se falo alto, se o beijo na rua. Outro dia, eu tava cantando no carro. Quando chegamos no colégio, falou: Mãe, chega, tá? Também não posso beijar quando o deixo, mas se tiver no carro ele me beija. O meu mais velho quando chora fala: Mãe, não fala pra ninguém que eu chorei! (Ana)

O meu filho, às vezes, fica com vergonha de mim, porque eu sou muito extrovertido, falo alto, aí ele fala: "ó pai, segura a onda." Agora eu tenho que me policiar por causa dele! Pior é que, em casa, a gente ri pra caramba, ele gosta quando conto piada, enfim. Agora, na rua, não pode. Não posso nem chegar perto dos amigos dele, aí fala que sou palhaço! (Carlos)

Ana e Carlos lamentam que os filhos, na presença dos amigos, não demonstram a troca de afetos que faz parte da dinâmica familiar. Esse fato corrobora o caráter social da vergonha, visto que é um sentimento privado que passa a ser denunciado no espaço público (Tisseron, 2014). As contradições nas manifestações de afeto no espaço público e privado podem ser pensadas segundo a lógica da transformação da intimidade na família ao longo das últimas décadas, assim como sob a ótica do ciclo vital familiar com adolescentes.

Paulo, ao destacar que, na época dele, "não tinha isso", remete a uma geração em que o distanciamento psíquico entre pais e filhos era subjacente ao exercício da autoridade parental (Jeammet, 2014), contudo a maior igualdade entre pais e filhos é uma das principais características da intimidade familiar na atualidade, tal como evidenciado nas falas dos participantes.

O fato de os participantes desenvolverem uma relação de maior proximidade afetiva com os filhos, comparativamente com a que possivelmente tiveram com os seus próprios pais, pode intensificar o estranhamento das contradições exibidas pelos filhos. Ademais, o ciclo vital familiar perpassado pela adolescência envolve mudanças para os pais por, em geral, coincidir com a entrada deles na meia idade, como é o caso dos entrevistados.

Efetivamente, os pais com filhos adolescentes são, frequentemente, acometidos por sentimentos ambivalentes, pois à medida que os filhos crescem, os pais experimentam o decréscimo da vitalidade física e psíquica. É comum, portanto, sentirem-se preteridos quando os filhos procuram novos modelos de relacionamento fora do círculo familiar (Le Breton, 2016).

No que diz respeito aos adolescentes, as modificações corporais, assim como as representações de si, dos pais e da família, constituem importantes deflagradores de vergonha (Labrune, 2016). Para o autor, os filhos ao mesmo tempo em que mudam o modo de se relacionar afetivamente com os pais, tornam-se mais suscetíveis às influências externas. Por conseguinte, o olhar social adquire valor primordial durante esse período.

A partir das narrativas é possível compreender que os participantes com filhos adolescentes demonstram uma dificuldade em reconhecer que questões ambivalentes são próprias desse período do ciclo de vida familiar. Tal como apontam Ciccone e Ferrant (2015), um dos aspectos a ter em conta na vergonha é a angústia permanente de não ser objeto de desejo do olhar do outro.

Vergonha e Imagem Social

Na atualidade, as relações familiares mais igualitárias desenvolvem-se em um contexto social pautado em referências hedônicas, o que favorece uma maior valorização da imagem pessoal e familiar. As narrativas dos entrevistados evidenciam que a preservação da imagem profissional e familiar está vinculada à valorização social e ao padrão de vida econômico.

Eu dou uma qualidade de vida à minha família que tem consequências no social. Se na atual conjuntura econômica eu tiver um problema, com certeza que ficarei com muita vergonha. Não tem como não ficar, se sentir um fracassado, muita culpa. A gente se habitua, tem uma rotina e proporciona isso, e de repente, se isso muda, como você fica? [...] A minha filha fica cobrando muito, não quer pagar mico ou não quer ficar atrás das amigas, enfim, coisas bobas, roupa, iphone, bobagens. Agora, eu, na idade dela, tava mais preocupado com as meninas! (risos) (João)

Houve uma época em que vários colegas tavam se saindo bem, ganhando e tal, e eu ficava naquele negócio de estágio. Na verdade, só quando eu percebi que todomundo tava indo bem é que eu me toquei e fui fazer uma pós(-graduação), enfim... Hoje, estou legal, mas pra você ver que acho que nem foi a profissão, acho que foi o social mesmo que mexeu comigo [...]Acho que os meus filhos têm vergonha, sim. Não sei se de mim, mas do que eu não dou. Eu mesma fico me justificando muito, demais. Bate uma culpa, sabe? (Márcia)

As falas mostram claramente que a valorização de um padrão de vida que atenda às expectativas financeiras dos filhos corresponde à manutenção de uma imagem a preservar. Destacamos na fala de João a preocupação em atender às expectativas da imagem familiar ancorada no padrão de vida econômico. Na visão desse pai, a possibilidade de ter problemas financeiros é considerada motivo de vergonha, pois a imagem social e familiar seria comprometida.

Ao qualificar de "coisas bobas" as exigências consumistas da filha para não "ficar atrás das amigas", João associa a boa imagem social a objetos de consumo socialmente valorizados. Nesse caso, a vergonha está relacionada à incapacidade de produzir recursos financeiros que assegurem as exigências ditadas pela sociedade de consumo.

Seguindo raciocínio semelhante, Márcia, ao mesmo tempo em que se empenhou na carreira devido à vergonha social e econômica, percebe que os filhos são passíveis de experimentarem o mesmo sentimento pelos mesmos motivos. Nesse contexto, o campo social e econômico parece ser determinante para deflagrar o sentimento de vergonha caso os pais considerem que não atendem às demandas social e familiar valorizadas.

De acordo com Julien (2002), na atualidade, o discurso social impõe a lei do bemestar, impulsionando as famílias a assegurarem uma transmissão sem falhas, perfeita, sendo a transmissão entre gerações mediada pelo terceiro social, que tem como função garantir, controlar e completar essa transmissão. Para o autor, os pais se colocam no lugar de pais ideais, levando os filhos a acreditarem que eles são infalíveis, mantendo uma posição de eterna dependência.

Ademais, tomando por base os relatos dos participantes, os pais identificam-se, também, com eventuais causas de vergonha dos filhos. Comumente denominada por vergonha alheia, esse atributo da vergonha refere-se ao emergir desse sentimento por identificação com alguém especialmente próximo, frequentemente membro da mesma família. Tisseron (2014) denominou de vergonha por contágio o emergir do sentimento de vergonha pelo fato de alguém se imaginar no lugar daquele que experimenta esse sentimento.

Sociais, é mais no social, sim. Quando eu me separei, eu tinha uma vida muito boa, assim, financeira, né?! Mas mudou e eu senti muito por causa dos meus filhos, principalmente o mais velho, que estava habituado a um padrão de vida, que mudou, e eu fiquei com vergonha por ele, porque ele tava no colégio, teve que mudar, os amigos acho que fizeram comentários. (Ana)

Com certeza, social. É onde você tá mais exposto [...] A última coisa que quero é o meu filho passando vergonha por minha causa. E isso passo para ele: 'tem que se preservar', porque as pessoas usam o que podem para te atingir. Não quero que ele passe vergonha, falo isso direto para ele: 'tem que se proteger'! Nem sei como seria pra mim ver ele passar vergonha ou ser humilhado mesmo! (Carlos)

O relato de Ana evidencia sentir vergonha devido à mudança no padrão de vida familiar, pressupondo que o mesmo ocorre com o filho, levando-a a sentir vergonha por ele. Carlos transmite ao filho a necessidade de se proteger para evitar o sentimento de vergonha, demonstrando não suportar imaginar o seu filho experimentar esse sentimento. Em ambos os casos, os entrevistados não mencionam se os filhos sentiram vergonha perante os episódios relatados. Nesse sentido, Dunker (2017) acrescenta que a vergonha pode ser sentida pelo mecanismo de identificação com o outro, mesmo que esse outro não experimente esse sentimento.

A transmissão da vergonha entre gerações atrelada à reputação social reforça a ideia de que a vergonha, fundamentada na noção de imagem pessoal, é uma das facetas contemporâneas desse sentimento. Nesse sentido, o sentimento de vergonha é associado a uma pressão social e familiar para que se valide a imagem parental idealizada. Enquanto fracasso narcísico, esse sentimento está ligado à imagem pessoal de competência e aos ideais de consumo.

 

Considerações Finais

As transformações da família contemporânea, especificamente no que diz respeito às relações entre pais e filhos, são influenciadas pelos ideais de igualdade e felicidade, valores enaltecidos na contemporaneidade mais do que em tempos passados. Nesse sentido, os resultados deste estudo apontam que o sentimento de vergonha está associado à possibilidade de os pais não corresponderem aos ideais sociais e familiares perante aos filhos adolescentes.

A despeito de a narrativa dos pais destacar uma indistinção entre os sentimentos de culpa e de vergonha, em se tratando da imagem deles perante aos filhos, há uma maior percepção em relação aos efeitos que a vergonha produz. De modo a se preservarem do afeto da vergonha, os pais se esforçam por atender aos seus próprios ideais e às expectativas econômicas e sociais dos filhos, demonstrando que o deflagrar do sentimento de vergonha está associado às exigências de satisfação narcísica.

A vergonha é um sentimento social que emerge a partir do olhar do outro, levando os pais a preservarem a sua imagem profissional e familiar através do padrão de vida econômico, o que nos leva a pensar que a reputação social exerce influência determinante nas relações parento-filiais. Face à transmissão da vergonha associada aos ideais hedônicos, consideramos que, se na estrutura da família moderna a vergonha estava atrelada ao pudor, na atualidade, as relações familiares mais democráticas favorecem a associação do sentimento de vergonha ao desnudar psíquico e à exposição de falhas narcísicas.

Este trabalho procurou contribuir para uma reflexão acerca da importância do sentimento de vergonha enquanto constituinte intersubjetivo das relações familiares na atualidade. Torna-se, contudo, necessário o desenvolvimento de novas pesquisas, em diferentes contextos socioeconômicos e culturais, tendo em vista que o presente estudo foi realizado apenas com participantes das camadas médias do Rio de Janeiro, o que constitui uma limitação. Ademais, pelo fato de ser um trabalho que abordou a percepção da vergonha estritamente sob a ótica dos pais, sugerimos novos trabalhos enfocando a percepção de filhos adolescentes acerca do sentimento de vergonha na família.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Carla Martins Mendes
E-mail: carlamartimendes@gmail.com

Recebido em: 08/05/2018
Revisado em: 16/11/2019
Aceito em: 27/12/2019
Publicado online: 12/03/2020

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