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Revista Subjetividades

Print version ISSN 2359-0769On-line version ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.20 no.1 Fortaleza Jan./Apr. 2020

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i1.e9871 

RELATOS DE PESQUISA

 

Atributos do amor no recasamento com o ex-cônjuge: uma reconstrução gratificante

 

Attributes of Love in Remarriage with Ex-Spouse: A Rewarding Reconstruction

 

Características del Amor en el Segundo Matrimonio con el Ex-Cónyuge: Una Reconstrucción Gratificante

 

Attributs de l'Amour dans le Remariage avec l'Ex-époux : Une Reconstruction Enrichissante

 

 

Maria Ignez Carneiro de Azevedo LimeiraI; Cristina Ribeiro DantasII; Terezinha Féres-CarneiroIII

IDoutora em Psicologia Clínica (PUC-Rio). Especialista em Psicoterapia de Família e Casal (PUC-Rio)
IIDoutora em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, pós-doutoranda em Psicologia Clínica na PUC-Rio. Professora e supervisora do Curso de Especialização em Psicoterapia de Família e Casal da PUC-Rio. Psicoterapeuta de família e casal
IIIDoutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pós-doutorado em Psicoterapia de Família e Casal pela Universidade Paris 5. Professora Titular do Departamento de Psicologia da PUC-Rio. Professora e coordenadora do Curso de Especialização em Psicoterapia de Família e Casal da PUC-Rio. Psicoterapeuta de família e casal, bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo, parte de uma investigação mais ampla sobre o recasamento com o excônjuge, teve por objetivo compreender como a expressão do amor, a partir dos componentes da teoria triangular do amor, contribui para a reconstrução desse tipo de relacionamento. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, na qual foram entrevistados 12 sujeitos independentes, de camadas médias da população do Rio de Janeiro, heterossexuais, casados com o ex-cônjuge, com pelo menos um filho em comum. Para análise dos resultados utilizou-se o método de análise de conteúdo, sendo discutida a categoria atributos do amor e suas subcategorias: intimidade, paixão e decisão/compromisso. Constatou-se uma proteção natural ao relacionamento por meio dos atributos dos componentes intimidade e decisão/compromisso, formando o amor companheiro, reforçado por doação genuína.

Palavras-chave: amor; intimidade; decisão; casamento.


ABSTRACT

The present study is part of a broader investigation of remarriage with the ex-spouse, aimed to understand how the expression of love, from the components of the triangular theory of love, contributes to the reconstruction of this type of relationship. A qualitative research was carried out, in which 12 independent subjects were interviewed, from the middle classes of the population of Rio de Janeiro, heterosexual, married to the ex-spouse, with at least one child in common. To analyze the results, the content analysis method was used, discussing the category attributes of love and its subcategories: intimacy, passion and decision / commitment. There was a natural protection to the relationship through the attributes of the components of intimacy and decision / commitment, forming companion love, reinforced by genuine donation.

Keywords: love; intimacy; decision; marriage.


RESUMEN

Este trabajo parte de una investigación más amplia sobre el segundo matrimonio con el ex-cónyuge y tuvo como objetivo comprender cómo la expresión del amor, a partir de los elementos de la teoría triangular del amor, contribuye para la reconstrucción de este tipo de relacionamiento. Se hizo una investigación cualitativa, en la cual fueron entrevistados 12 sujetos independientes, de partes medias de la población del Rio de Janeiro, heterosexuales, casados con el ex-cónyuge, con por lo menos un hijo en común. Para el análisis de los resultados se utilizó el método de análisis de contenido, discutiendo la categoría características del amor y sus subcategorías: intimidad, pasión y decisión/compromiso. Se observó una protección natural al relacionamiento por medio de las características de los elementos intimidad y decisión/compromiso, formando el amor compañero, reforzado por donación sincera.

Palabras clave: amor; intimidad; decisión; matrimonio.


RÉSUMÉ

La présente étude, qui est partie d'une recherche plus large sur le remariage avec l'ex-époux, a eu pour l'objectif à comprendre comment l'expression de l'amour, à partir des composantes de la théorie triangulaire de l'amour, contribue à la reconstruction de ce type de relation. Une recherche qualitative a été menée, dans laquelle 12 sujets financièrement indépendants, des classes moyennes à Rio de Janeiro, hétérosexuelles, mariées à l'ex-époux, avec au moins un enfant en commun ont été interrogés. Pour analyser les résultats, nous avons utilisé la méthode d'analyse de contenu, en discutant les attributs de la catégorie de l'amour et ses sous-catégories : intimité, passion et décision / engagement. Il y avait une protection naturelle à la relation à travers les attributs des composantes de l'intimité et de la décision / engagement, formant l'amour compagnon, renforcé par un don authentique.

Mots-clés: amour; l'intimité; décision; mariage.


 

 

O amor entre cônjuges pode ser fonte de alegria, prazer e aumento da autoestima mútua, dando espaço para que se tornem o que quiserem (Määttä & Uusiautti, 2012). Mesmo possuindo o amor dos pais e irmãos, importantes para o desenvolvimento, a maioria das pessoas busca um relacionamento para compartilhar a vida com intimidade até o fim dos dias (Sternberg, 2014). Relações de amor facilitam a tarefa das famílias de ensinar o necessário à propagação de uma sociedade civilizada: empatia, confiança e cooperação (Johnson, 2013). Devido à sua complexidade e ao valor para a humanidade, o amor tem sido alvo de vários estudos que buscam compreender sua natureza e suas diferentes facetas, gerando abordagens distintas quanto à sua repercussão sobre as relações (Gottman & Gottman, 2017; Johnson, 2013; Määttä & Uusiautti, 2013; Sternberg, 1986).

Sob o viés da teoria triangular (Sternberg, 1986), o amor é analisado por meio de três componentes com diferentes atributos, formando um triângulo: intimidade, paixão e decisão/compromisso. O autor aponta que expressar amor, em ações específicas, é central à influência dos sentimentos e pensamentos do outro sobre si e a relação, além de ter um efeito sobre as ações do parceiro e vice-versa. Intimidade e decisão/compromisso são mais estáveis e, normalmente, têm grande importância para relações duradouras. Esses dois componentes estão relacionados ao apego (Bowlby, 1982), pois quanto mais seguro o parceiro se sente na relação, mais pode investir nela sem preocupações com abandono ou traição (Sternberg, 2014; Timm & Keiley, 2011). Já a paixão é mais instável e tende a enfraquecer com o tempo (Campbell & Kaufman, 2017; Sternberg, 1986).

No início de uma relação, normalmente, os parceiros valorizam as semelhanças entre eles, o que produz grande bem-estar mútuo, dando início ao vínculo entre os membros do casal. Contudo, quando as pessoas passam a morar em uma mesma casa, as diferenças se amplificam, sendo comum a paixão perder o colorido (Wagner & Mosmann, 2011). Com o passar do tempo, as poucas incertezas e surpresas podem levar a paixão a diminuir, porém a amizade e a intimidade produzida por ela, geralmente, crescem quando as pessoas se abrem e percebem que são aceitas (Berscheid, 2010). A intimidade traz a experiência de calor e aconchego a uma relação, por meio de sentimentos que promovem vínculo, proximidade e cumplicidade, oriundos, em boa parte, do investimento emocional no relacionamento (Mazadiego & Garcés, 2011). Atualmente, a parceria tem sido associada à intimidade pela necessidade de os cônjuges serem flexíveis quanto às funções no casamento, o que estimula atitudes de generosidade conjugal e de aceitação das diferenças (Amorim & Stengel, 2014; Passos, 2013; Wilcox & Dew, 2016).

É importante mencionar ainda que, segundo Baumeister e Bratslavsky (1999), a paixão pode ser interpretada como a percepção de aumento no nível de intimidade de um casal, mesmo em relacionamentos de longa duração. Imagens de ressonância magnética funcional do cérebro demonstraram que cônjuges em casamentos longos, que diziam sentir forte paixão por seus parceiros, indicaram respostas neurais em áreas ligadas a recompensas e motivações como as de pessoas no estágio inicial do amor. Esses cônjuges mais velhos, diferentemente dos mais jovens, também mostraram ativação em regiões associadas ao apego e ao bem-estar, sugerindo sua coexistência com o desejo, em uma espécie de amadurecimento do amor romântico (Acevedo, Aron, Fisher, & Brown, 2012). Em outra investigação norte-americana, 40% das mulheres e 35% dos homens casados por 30 anos ou mais reportaram estar fortemente apaixonados por seus cônjuges (O'Leary, Acevedo, Aron, Huddy, & Mashek, 2012). Esses dados mostram que a paixão pode existir em relacionamentos longos, embora isso não seja tão comum.

O terceiro vértice do triângulo, decisão/compromisso, é o componente que possui maior grau de controle consciente entre os três, o que lhe confere a possibilidade de influenciar as ações dos outros dois, como prova do compromisso com a relação, podendo ajudar, inclusive, a evitar uma infidelidade. Esse componente é fundamental para os casamentos, pois há épocas de crise em que ele é tudo o que pode mantê-los (Sternberg, 1986). Nesses momentos, permanecer casado encontra-se intrinsecamente relacionado ao esforço e à persistência dos cônjuges (Wagner & Mosmann, 2011). No estudo de Rizzon, Mosmann, e Wagner (2013), decisão/compromisso foi o componente de maior destaque, mesmo diante da carência de intimidade e paixão. Um dos aspectos que tem sido relacionado a níveis mais altos de compromisso conjugal é a religiosidade, em geral (Karandashev & Clapp, 2016; Olson, Goddard, & Marshall, 2013).

O relacionamento entre esses três componentes (paixão, intimidade e decisão/compromisso) fica mais claro quando se observa que as diferentes combinações entre eles originam distintos tipos de amor (Sternberg, 1986). Assim, de acordo com a teoria triangular do amor, há oito tipos de amor, em função da presença ou ausência de um ou mais desses componentes. É importante notar que esses tipos são "casos limites", ou seja, muitos relacionamentos não são casos "puros"- exatamente como descritos a seguir, se encaixando entre essas categorias: (a) amor ausente, interações ocasionais nas quais inexistem os três componentes; (b) gostar, há apenas intimidade, e fica no limite da amizade; (c) amor apaixonado, só existe a paixão e se caracteriza por muita excitação psicofisiológica; (d) amor vazio, proveniente da decisão/compromisso de amar o parceiro, independentemente dos outros componentes; (e) amor romântico, possui intimidade e paixão, ou seja, atração física e envolvimento emocional; (f) amor companheiro, evolui da combinação entre intimidade e decisão/compromisso e gera um comprometimento de longo prazo; (g) amor insensato, combina paixão com decisão/compromisso, precipitando, muitas vezes, casamentos com risco de divórcio devido à falta do elemento estabilizador - a intimidade; (h) amor completo, apresenta os três componentes, o que é mais fácil de obter do que manter.

Outros pesquisadores, tais como John Lee (1977) e Ellen Berscheid (2010), também especificam estilos diferentes de amor em função da existência de determinados atributos, sendo alguns coincidentes com os que pertencem aos componentes da teoria triangular. Esses tipos parecem formar sistemas de crença e atitudes, podendo mudar em função de fatores como pessoas envolvidas, estágios de vida, tempo decorrido, e outros, levando uma mesma relação a passar por mudanças ao longo da vida (Berscheid, 2010; Sternberg, 1986).

De acordo com Lee (1977), há seis estilos de amor: três primários - eros, ludus e storge; e três secundários - mania, pragma e ágape. Eros se caracteriza por atração pelo tipo físico ideal; ludus, por cuidadoso controle do envolvimento emocional e relações curtas; e storge pelo companheirismo e afeição gradualmente desenvolvidos. Eros é o tipo de amor no qual, normalmente, se pensa quando se fala em amor romântico; já os parceiros que possuem o estilo storge manifestam grande compromisso com a relação, a ponto de, possivelmente, continuarem amigos caso haja um rompimento; em contrapartida, aqueles que demonstram ludus preferem ficar solteiros e têm maior probabilidade de ser infiéis do que os outros dois (Sternberg, 2014).

Mania é a combinação de eros com ludus - um amor intenso, possessivo, no qual a pessoa sente necessidade constante de saber que é amada. No estilo pragma, resultado de storge e ludus, a pessoa avalia seriamente diversos aspectos de compatibilidade pessoal antes de se decidir e se comprometer. O amor ágape, mistura de eros com storge, enfatiza a gentileza e o altruísmo, sendo mais guiado pela razão do que pela emoção (Lee, 1977). Pragma foi associado ao início das relações; mania, a fatores que sugeriram um amor obsessivo em potencial; e ágape, a várias atitudes para a manutenção da relação (Hammock & Richardson, 2011).

Segundo Berscheid (2010), há quatro tipos de amor - romântico, companheiro, compassivo e de apego adulto. O amor romântico combina amizade e desejo sexual, já o amor companheiro é o afeto especial sentido por alguém muito próximo. Conforme a autora, o segundo também é conhecido por outros nomes, inclusive, storge. Perante tal conceituação, os dois construtos se assemelham aos que têm a mesma denominação na teoria de R. J. Sternberg (1986). Entre os principais atributos do amor companheiro, estão: investimento no relacionamento, maior nível de religiosidade e carinho (Karandashev & Clapp, 2016). Quando o possuem, os parceiros gostam muito de estar juntos, se respeitam, mas não, obrigatoriamente, sentem atração sexual mútua (Acevedo & Aron, 2009). Os resultados do estudo de Sprecher e Hatfield (2017) apontaram um nível de concordância bastante baixo quando os participantes foram indagados se achavam que o casamento deveria acabar caso o amor companheiro continuasse, mas o amor apaixonado acabasse. Para Fehr (1988), os conceitos de amor companheiro e de compromisso se sobrepõem muito, pois demonstrar compromisso também inclui aspectos afetivos.

A dimensão do cuidado tem sido bastante explorada por vários autores, ao estudarem o amor compassivo e suas repercussões sobre as relações amorosas (Feeney & Collins, 2015; Fehr, Harasymchuk, & Sprecher, 2014; Reis, Maniaci, & Rogge, 2014; Sabey, Rauer, & Haselschwerdt, 2016). Os comportamentos do amor compassivo buscam o bem-estar e o alívio da angústia do parceiro. Esse tipo de amor tem alguns pseudônimos, tais como ágape e "responsividade mútua" (Berscheid, 2010). A "responsividade" implica na expressão autêntica de emoções e de atos de cuidado sem que se exijam benefícios, ainda que gere certo sacrifício, o que aumenta a probabilidade de o cônjuge ter o mesmo tipo de comportamento (Clark & Mills, 2012; Finkel, Simpson, & Eastwick, 2017). O amor compassivo, consistentemente recebido ao longo do tempo, possui grande possibilidade de ser o processo primário gerador do amor de apego nas relações românticas (Berscheid, 2010). No casamento, o apoio incondicional mútuo gera um crescente senso de segurança, vital ao compromisso, uma vez que não se teme a rejeição ou a crítica (Beck & Clark, 2010).

Ao se analisar o amor frente ao casamento contemporâneo, é necessário notar que o atual contexto sociocultural, oriundo de várias mudanças que atingiram os valores, as regras sociais e os papéis de gênero, leva a sociedade, em geral, a ser menos conservadora e a não considerar o casamento como uma aliança indissolúvel (Giddens, 1993; Jablonski, 2010). Como efeito, gera-se uma fragilidade conjugal, muito marcada pelo conflito entre se aliar grande independência e individualismo ao forte envolvimento afetivo, à segurança e a um único projeto conjugal (Bauman, 2004; Borges, Magalhães, & Féres-Carneiro, 2014; Finkel, Hui, Carswell, & Larson, 2014; Neves, Dias, & Paravidini, 2013).

A partir disso, muitas vezes ocorre um recasamento com outra pessoa, no qual se observam certos desafios, tais como: relação entre filhos e parentes dos diferentes casamentos; o espaço ocupado por cada um; a quem cabe a liderança; como se distribuem os papéis, entre outros. Contudo, no recasamento com o ex-cônjuge, objeto deste estudo, as dificuldades são peculiares, já que a motivação é reconstruir a família original. Com isso, alguns dos principais desafios parecem estar relacionados ao perdão, à redescoberta dos sentimentos amorosos, à reconstrução da confiança, à restauração de projetos e sonhos. Diante desse cenário, investigar como se apresenta o amor em pessoas que tiveram questões em seus casamentos que as levaram a se separar, mas depois decidiram se recasar uma com a outra, pode levar à compreensão sobre o que mais importa para se manter um casamento gratificante. É importante mencionar que a escassez de estudos sobre esse tipo de recasamento reforça a relevância da temática para a ampliação do entendimento sobre a dinâmica relacional dos casamentos em geral. Assim, o objetivo deste trabalho foi compreender como a expressão do amor, a partir dos componentes da teoria triangular do amor, contribui para a reconstrução desse tipo de relacionamento.

 

Método

Participantes

Este estudo deriva de uma pesquisa mais abrangente, tema de doutorado da primeira autora. Trata-se de uma investigação qualitativa e exploratória. A pesquisa de campo foi realizada com 12 sujeitos independentes, ou seja, cônjuges não casados entre si, mas membros de casais distintos (seis homens e seis mulheres), indicados a partir da rede de conhecimento pessoal e profissional da pesquisadora, constituindo uma amostra de conveniência. O número de participantes foi determinado pela saturação provocada pela repetição dos temas (Minayo, 2017). Não foram entrevistados ambos os membros de cada casal, pois o escopo do estudo se propunha a investigar o que contribuiu, a partir do ponto de vista de um dos cônjuges, para a reconstrução do relacionamento no recasamento com o mesmo cônjuge. Portanto, o foco não foi estudar a correlação de opiniões entre os membros do casal.

Ao receber as indicações, a pesquisadora, por meio de uma conversa telefônica inicial, selecionou os entrevistados que se enquadravam nos seguintes critérios: pertencentes às camadas médias da população do Rio de Janeiro, heterossexuais, recasados com o ex-cônjuge no momento da pesquisa há, no mínimo, um ano, e com, pelo menos, um filho em comum. Além disso, os participantes precisariam ter passado, no mínimo, dois anos na primeira união com o referido cônjuge e ter ficado separados ou divorciados por, no mínimo, seis meses, vivendo em moradias distintas. As separações ocorreram por diferentes motivos - infidelidade, incompatibilidade de projetos de vida, valores divergentes, ciúmes constantes e exagerados, entre outros - que ocasionaram sérios conflitos. Não foi exigido um registro civil para o casal ser considerado casado ou separado. A Tabela 1 apresenta uma descrição de seus perfis.

Instrumento

Foram utilizadas entrevistas individuais com roteiro semiestruturado. Esse roteiro foi formulado com base na revisão da literatura sobre o tema e enfocou os seguintes eixos temáticos: significados e expectativas sobre o casamento; questões ligadas à parentalidade e à influência dos filhos na separação e no recasamento; acontecimentos com maiores repercussões para a separação; diferenças e semelhanças entre o recasamento e o primeiro casamento; experiências e atitudes após a separação quanto a trabalho, finanças, relacionamentos, entre outros; perdas e ganhos com a separação e o recasamento.

Procedimentos

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética (Parecer n.º 2016-27) da instituição onde foi desenvolvido. As entrevistas, que tiveram a duração de uma a duas horas, foram gravadas em áudio e, posteriormente, transcritas integralmente. O local, a data e o horário foram agendados de acordo com a disponibilidade dos participantes. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a divulgação dos resultados em ensino, pesquisa e publicação, e foram informados de que a sua identidade e a de seus familiares seriam resguardadas.

Análise dos dados

Para análise dos dados obtidos nas entrevistas, foi utilizado o método de análise de conteúdo, na sua vertente categorial, como proposto por Bardin (2011). O método permite a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e recepção das mensagens, ou seja, conhecer aquilo que está por trás das palavras. Sua base reside na articulação entre a descrição e análise dos textos e os fatores que determinaram essas características, deduzidos através da lógica.

A categorização foi realizada pela primeira autora, primeiramente, nomeando os temas que surgiram ao longo das entrevistas individuais, conforme a proposta de Bardin (2011). Depois, em um segundo momento de leitura, foram verificados aqueles que continham similaridade de significado ao longo das falas dos diversos participantes, objetivando a definição das categorias relevantes, que foram confirmadas pela segunda autora deste trabalho posteriormente. Dessa forma, os relatos considerados mais importantes ao encaminhamento das discussões foram relacionados entre si, por meio das diferentes categorias e subcategorias, visando à melhor compreensão do fenômeno como um todo.

 

Resultados e Discussão

Para a apresentação dos resultados, os participantes serão nomeados como F (feminino) e M (masculino) e numerados de um a seis, tendo sua idade indicada. Uma das questões observadas foi a de que todos os entrevistados mencionaram atitudes ou sentimentos bastante alinhados aos conceitos dos componentes do amor segundo R. J. Sternberg (1986), como algo relevante às suas histórias. Assim, para atingir os objetivos deste estudo, ou seja, compreender como a expressão do amor, a partir dos componentes da teoria triangular do amor, contribui para a reconstrução do relacionamento no recasamento com o ex-cônjuge, será discutida a categoria de análise atributos do amor e também suas três subcategorias: intimidade, paixão e decisão/compromisso.

Atributos do Amor

Concebem-se, neste trabalho, atributos do amor como as diversas características dos participantes, em forma de sentimentos ou atos que expressam amor pelo cônjuge. Salienta-se que, embora se possa dividir o amor em componentes, não se pode perder a visão do todo ao se analisar a forma como as pessoas o expressam, pois eles interagem entre si, gerando diferentes tipos de amor (Sternberg, 1986). Para enriquecer a compreensão, os tipos de amor foram, também, articulados a construtos de outras teorias.

Intimidade

A intimidade, como ressaltada por R. J. Sternberg (1986), pode ser expressa quando se comunicam os mais profundos sentimentos, demonstrando afeto, compartilhando tempo e recursos, valorizando o outro, entre outros comportamentos. Ao serem indagados sobre ganhos e aprendizados com o recasamento, bem como sobre semelhanças e diferenças em relação ao primeiro casamento, quase todos os participantes mencionaram vários atributos relacionados ao componente intimidade como importantes à reconstrução da relação. Alguns desses atributos já existiam no primeiro casamento e se mantiveram como padrão, enquanto outros foram desenvolvidos no recasamento.

Ter um companheiro junto, ter uma pessoa pra dividir a vida de carinho, pra te apoiar nas horas ruins, te dar carinho, cuidar de você. Isso é muito, muito bom! Ter alguém assim, que você confie completamente, é muito bom! Se você for pesar as duas coisas, é menos sexual do que afetiva, do que amorosa. Mas os ganhos são muitos!

Ter alguém com quem você possa contar e ter ele sempre do seu lado (F1, 59 anos).

Eu [me] sentia na obrigação de ajudar, mas eu não queria fazer isso escondido e chegava assim: L. [cônjuge], eu queria ver se eu arrumasse alguma coisa prática pra poder ela [mãe de filhos fora do casamento] dar continuidade, porque eu não estou lá com as meninas 24 horas. Aí ela [cônjuge] falou assim: 'olha, faz isso mesmo. O que ela faz?' Aí a gente ficava conversando sobre isso. Eu achava legal isso dela! Apoiadora. Aí, os três: J., L. e R. [filhos fora do casamento] adoram ela! (M2, 68 anos).

É uma coisa assim de querer cuidar mesmo, sabe? A paixão, não é mais paixão, né?! Isso é diferente, né?! Eu acho que agora é mais esse... É uma coisa de companheirismo. De companheirismo, né?! (F6, 65 anos).

Percebe-se que os participantes demonstram bem-estar por terem seus cônjuges novamente a seu lado, como companheiros e apoiadores. A partir das narrativas, observa-se a confiança entre os cônjuges, mas não na forma de uma dependência emocional imatura, e sim, ao ver o parceiro como uma grande fortaleza, o que impulsionou esse bem-estar (Johnson, 2013). Os três entrevistados estão recasados há mais de 18 anos, sugerindo a importância da dimensão temporal no que concerne à construção da intimidade pautada no companheirismo, cuidado e apoio. Ao valorizar atributos de intimidade - companheirismo, parceria, apoio e amizade -, alguns entrevistados comentaram sobre a redução da paixão, mas isso não os fez desvalorizar tudo o que tinham como casal (Berscheid, 2010; Sternberg, 1986). Nota-se que a atitude positiva e o respeito de um cônjuge em relação ao outro aumentou a intimidade e o prazer de reconstruírem a vida juntos, ajudando a equilibrar o jogo de poder entre eles (Gottman & Silver, 2015).

Os participantes relataram que a amizade foi algo que se fortaleceu com uma maior intimidade, tornando-se um atributo importante para o relacionamento restaurado.

A amizade que, que ela sempre teve pra mim e eu pra ela, isso só fortaleceu. Nós sempre fomos amigos. Grandes amigos. Tudo o que eu sei da vida dela, ela sabe da minha (M3, 63 anos).

E eu acho que cada dia mais a gente tem uma parceria, a gente tem uma amizade enorme. Ele me ama profundamente, eu amo ele. Eu acho que eu gosto de toda a história (F4, 55 anos).

No companheirismo, assim, mudou muito. A. passou a ser um cara muito presente, muito família. Ele tem liberdade pra fazer os programas dele, como eu também tenho, e acho que é bom, mas é de uma forma diferente do que foi naquele ponto da separação (F5, 45 anos).

Os resultados obtidos evidenciam que uma amizade é fundamental para manter uma relação recompensadora ao protegê-la da necessidade de competir com o cônjuge (Gottman & Silver, 2015). Os resultados também mostraram a associação negativa entre o estilo storge, cujo principal fundamento é a amizade, e razões para o término de uma relação (Hammock & Richardson, 2011). Na percepção de F5, por exemplo, seu primeiro casamento acabou, sobretudo, pelo distanciamento emocional devido a frequentes atos individualistas do parceiro. Quando se recasaram, isto mudou muito e, atualmente, ela percebe um forte companheirismo na relação.

Parceria e cumplicidade foram outros atributos considerados pelos entrevistados como bastante importantes para a manutenção cotidiana de seus relacionamentos.

As qualidades dele me faziam falta. [...] Ah, ele é muito compreensivo, o G. é muito de sentar e conversar, até mais do que eu. Ele é uma pessoa ponderada e eu sou o inverso. Então, ele era um freio. Ele é ainda pra mim. E aquela coisa do olhar, me conhece, sabe como é que eu tô. Aquela cumplicidade de olhar. Essas coisas fazem falta pra gente (F3, 36 anos).

D., às vezes, chegava tarde, porque ela estava dando treinamento. Eu levantava cedo, arrumava ela [filha] pra escola. Depois, meiodia eu saía e buscava ela na escola. Depois que o V.[filho] nasceu, ela tirava leite, deixava na geladeira e, então, treinamento à noite. Eu chegava, ficava com V., dava mamadeira e aí ficava com ele. Depois brincava, fazia ele dormir (M1, 55 anos).

Hoje eu acredito que deve haver um papel de pura e total parceria em todos os aspectos. Seja o aspecto profissional, [seja] financeiro, [seja] emocional, e, posteriormente, também na educação dos filhos, né?! (M5, 45 anos)

Os relatos mostram cumplicidade e parceria, tanto por meio do prazer sentido em ser compreendido pelo parceiro, quanto pela atitude de compartilhar as tarefas domésticas, devido a questões profissionais. Esses exemplos conduzem à reflexão de que certas mudanças nos valores sociais, ao transformarem os papéis de gênero no casamento e a forma de se comunicar, podem trazer maior proximidade entre os cônjuges (Heckler & Mosmann, 2016). A cumplicidade pode ser vista sob um prisma de parceria intimista, como na narrativa de F3, que ilustra uma convivência próxima e harmônica de pessoas diferentes, respeitando-se a subjetividade (Passos, 2013). Já as falas de M1 e M5 exemplificam atitudes de flexibilidade no cotidiano do casal, necessárias para que se considere que existe uma relação de parceria, o que os apoiou na estruturação de uma história comum (Amorim & Stengel, 2014; Dew & Wilcox, 2013).

Observa-se nas narrativas dos entrevistados uma ênfase no compartilhar e na conexão, coexistindo com a convivência pacífica e autônoma, sem necessariamente haver forte atração sexual (Acevedo & Aron, 2009; Karandashev & Clapp, 2016). Isso sugere não apenas a presença do amor companheiro nesses casamentos, como também que esse tipo de amor pode mantê-los agradáveis ainda que o amor apaixonado acabe (Sprecher & Hatfield, 2017).

Paixão

A paixão é comumente ativada por atração e carinho físicos, desejo sexual e romantismo, causando, muitas vezes, fascinação, fortes emoções e êxtase. Outras questões, como carência, baixa autoestima, relação de domínio e submissão, podem contribuir para a paixão (Sternberg, 1986). Poucos participantes citaram características ligadas a esse componente como partes integrantes do processo de reconstrução do relacionamento.

Eu gosto de olhar a minha mulher. Ela já está com rugas... Eu olho pra ela e ela fica... Eu observo, eu olho e eu acho ela tão bonita! (...) Porque eu comecei a namorar ela, ela tinha 16 anos, pô! Então, eu vivi todo esse processo de envelhecimento. Meu Deus, o quanto ela é bonitinha! As rugas, pô, as rugas durinhas. E não me incomodam, cara! (M6, 66 anos)

Eu acredito no amor, mas não aquele amor, hoje, como era lá do... da minha época de romantismo. Existe romantismo, mas aquele romantismo maduro, com perspectiva, com direcionamento, com orientação, com renúncia, com idas e vindas de pensamento, com aceitação (M2, 68 anos).

A fala de M6, romântica e afetiva, ilustra a possibilidade de se viver a paixão de forma poética não apenas quando se é jovem. O romantismo também foi citado por M2, com 37 anos de casamento no total, mas não da mesma forma que o sentiu no passado, e distinto do que, comumente, as pessoas mencionam. Percebe-se que os relatos são antagônicos ao mito de que a paixão é sempre passageira, corroborando recentes estudos que sugerem ser possível que ela exista não apenas na juventude, ou no início de uma relação, já que o tempo de relacionamento e a idade não tiveram grandes efeitos redutores sobre ela (Lemmetty, 2015; O'Leary et al., 2012).

As narrativas se mostraram alinhadas à ideia de amadurecimento da paixão, na medida em que os cônjuges expressam seus fortes sentimentos, mas de forma ponderada e segura, diferentemente do que se percebe nos estágios iniciais do amor (Acevedo et al., 2012). Notase que os participantes mostram atitudes que tendem a elevar continuamente a percepção do nível de intimidade, o que facilita com que se sinta a paixão, mesmo em relações longas (Baumeister & Bratslavsky, 1999). Por esses relatos, constata-se que, embora a paixão não seja exigida pela maioria das pessoas para a manutenção de um casamento, ela pode existir e gerar prazer em relações de longo prazo e em qualquer idade.

No entanto, assim como um vício, o amor pode ter, também, um componente tirânico e aglutinador (Määttä, Uusiautti, & Määttä, 2012). A fala a seguir retrata a proposição, pela mulher, de um desafio muito complicado para as condições do marido, porém ele superou os obstáculos e conseguiu seu objetivo final, que era retomar o casamento.

Aí eu mandei essa: 'você faz o concurso'. E o cara passou! 6 meses... Até um dia que ele chegou pra mim em casa, jogou o jornal, não entendi nada, todo feliz! 'O que é isso?' [Ele] 'Lê aí'. Eu peguei uma lista com um monte de nomes. Comecei a gelar. [Ele] 'Que nome é esse? Pois é! Tô voltando agora! Vou em casa pegar minha mala'. E foi assim que voltamos [gargalhadas]. [Ele] 'Você é minha, p****!' (F2, 39 anos)

Observa-se que o principal componente motivacional para esse recasamento foi a paixão do marido, demonstrada por meio de sentimentos e comportamentos similares aos do estilo de amor mania, representado por um cônjuge apaixonado que consegue algo extremamente difícil, quase uma resistência cega (Sternberg, 1986). Percebe-se, ainda, que não apenas o marido, mas igualmente a mulher parece ter esse estilo de amor, pois não conseguiu se posicionar firmemente diante das atitudes do cônjuge, opostas à sua vontade, mostrando uma postura de perplexidade e submissão doentia. A análise desse relato sugere um amor muito exagerado e dificuldade em terminar o relacionamento devido à dependência emocional, típicos do estilo mania (Hammock & Richardson, 2011).

Decisão/Compromisso

Este componente representa a decisão cognitiva de amar alguém e o compromisso de investir e manter aquele amor no decorrer dos anos. Segundo R. J. Sternberg (1986), atitudes como ser fiel, cumprir promessas, manter-se na relação mesmo com as dificuldades, demonstrar engajamento e assumir o casamento evidenciam a sua existência. Grande parte dos entrevistados deste estudo citou situações ou convicções que manifestam a essência do componente decisão/compromisso.

Minha mãe tá com 86, mora comigo. [...] Tá sendo muito difícil ver a decadência. Então, conviver com isso tá sendo uma coisa emocionalmente terrível pra mim. E obviamente em quem que eu desconto? É nele. Coitado, né?! E, por mais que eu enxergue isso e não queira fazer isso, eu faço, né?! Mas aí, a gente consegue contornar. [Ele]'Então, vamos sair, vamos fazer não sei o que', né? Vamos te tirar disso daqui' (F1, 59 anos).

Ele sempre me incentivou muito, sempre foi muito meu parceiro. Fui parceira dele também. Aprendemos a viver situações apertadas, juntos, muito bem; passamos problemas muito bem; pensamos em filhos no mesmo momento [...] Então, acho que a gente tinha muita afinidade (F4, 55 anos).

Alguns entrevistados, como F1, recasada há 18 anos, deixam claro que a unidade do casal foi fundamental para enfrentar situações complexas com segurança. Nesse sentido, os resultados sugerem que o amparo mútuo e consistente reforça o bem-estar em casais mais maduros, levando ambos os cônjuges a confiar nas promessas de ficarem juntos nos bons e maus tempos (Määttä & Uusiautti, 2012). Outros participantes enfatizaram que o incentivo recíproco e o aprendizado comum reforçaram os laços conjugais e a construção de uma história comum, ilustrando que, quando os cônjuges se engajam nas necessidades do outro, constroem um profundo senso de significado para a vida a dois.

Percebeu-se, assim, que compartilhar objetivos pessoais com o cônjuge não apenas aumentou a intimidade entre os parceiros, mas, na medida em que ambos trabalharam juntos para atingi-los, a relação se fortaleceu bastante (Gottman & Silver, 2015). O fato de saberem que o cônjuge estaria ali para fortalecê-los fez com que os entrevistados se sentissem mais confiantes em suas habilidades para vencer desafios, o que é essencial aos relacionamentos amorosos (Johnson, 2013).

Outra maneira utilizada pelos participantes para expressar o componente decisão/compromisso foi por meio de um retrato mais cognitivo e ligado a uma consciência amadurecida, que considera a vida conjunta e valoriza o que o casal tem de positivo, independentemente de problemas ou outras opções, evidenciando o poder dessa decisão.

Mesmo se houver mais brigas, eu não vou querer separar, sabe? Sabe, aquela coisa de 'fizemos uma história', né?! É uma história. (F6, 65 anos).

Eu acho que até o fim da minha vida esse casamento vai dar certo, porque eu não vou abrir mão dele (M4, 76 anos).

Eu aprendi que eu sou esposa dele e eu tenho que estar do lado dele. Então, tem que estar de olho? Tá, tem que estar de olho. Só que, assim, eu o amo, e eu cheguei a essa conclusão. (F3, 36 anos).

Hoje a minha visão é mais ou menos essa: É um compromisso, mas não é um compromisso de contrato. É um compromisso de coração. E sincero, com muita verdade. Eu não deixo meus sentimentos tomarem conta de mim. Eu dou nome, eu boto eles aqui ó... [bate no peito] Desculpa, eu tô com tesão, mas esse tesão não foi provocado pela minha relação com a minha mulher. Hum... Não vai me dominar (M2, 68 anos).

As narrativas indicam sério compromisso com os relacionamentos em questão, visto que os entrevistados, além de exibirem alguns dos atributos mencionados como centrais para isto, como perseverança, fidelidade, responsabilidade, viver para o outro e ser consistente, também mostram firme decisão de não os violar, corroborando a pesquisa realizada por Fehr (1988).

Percebe-se que uma boa estratégia para manter esse componente nos casamentos é a valorização da relação em si, da história compartilhada e da felicidade que sentem (O'Leary et al., 2012; Sternberg, 1986). Uma explicação possível para a nítida visão de indissolubilidade do casamento nessas falas seria a forte ligação a valores religiosos e o apoio de uma mesma comunidade de fé, o que esses quatro participantes possuem (Karandashev & Clapp, 2016; Olson et al., 2013). Embora isso não seja comum na cultura ocidental, os relatos mostram que o amor pode suceder de uma decisão, como ocorre nas culturas em que casamentos são arranjados (Sternberg, 1986).

Uma dimensão bastante relevante, evidenciada pelas narrativas, foi a de cuidar e ser cuidado nas diversas instâncias da vida em comum. Alguns participantes relataram vivências com graves doenças e, nota-se que, nesses momentos, o fato de se sentir cuidado foi essencial para o aumento da intimidade e do compromisso com a relação, pois quando um dos cônjuges fica doente, ambos são pressionados.

E, de repente, ela pulou da cama e correu pra janela. Abriu a janela e ficou... [imitou respiração ofegante]. 'O que é que foi, meu amor? O que é que está acontecendo?' Não conseguia falar... [...] Fui, abracei ela, e... 'fique calma, calma'. Fui fazendo carinho nela e a gente sentou pra conversar mais tarde. Ela viveu uma crise por muito tempo com relação a essa situação. Aí, cheguei e falei: 'Gente, o que é isso?' Fiquei preocupado, né?! Aí, fomos a médicos e descobrimos que ela tem síndrome do pânico, que trata até hoje (M1, 55 anos).

E isso, pra mim, tem uma importância!... Porque surgiu o seguinte: a operação não é nada perto do pós-operatório. O pós-operatório é muito importante. (...) E ela foi fantástica, cara! Ao mesmo tempo, nós voltamos a nos reaproximar. Pouco tempo depois, eu já tinha me recuperado e, graças a Deus, as sequelas foram muito pequenas e tal, e a gente resolveu reatar (M6, 66 anos).

Esses relatos evidenciam as repercussões da dimensão do cuidado sobre as relações amorosas (Clark & Mills, 2012; Fehr et al., 2014; Sabey et al., 2016). As falas corroboram resultados de estudos que ressaltam que, na velhice, a importância de se ter a convicção do amparo, pelo parceiro, se amplifica, devido aos desafios específicos desse período (Berscheid, 2010; Määttä & Uusiautti, (2012). Percebe-se que os entrevistados que citaram o componente compromisso vivenciaram, ao longo de seus casamentos, situações que demonstram atitudes de pessoas confiáveis, com as quais podem contar a todo o tempo (Lemmetty, 2015).

É importante notar que o amor compassivo foi expresso no casamento dessas pessoas por meio de atitudes sinceramente responsivas, não somente na velhice ou nas dificuldades.

Eu com a preocupação do seguinte: eu já sou aposentado e mais velho. Então, no ciclo natural, eu vou morrer antes dela, e vai ser uma pensãozinha que eu vou deixar, entendeu? E isso dá uma rendinha que vai dar pra ela viver mais um pouquinho. Acho que isso vai ser também uma forma de ajudá-la, né?! Porque isso aí faz parte, você não vive só dos belos olhos (M6, 66 anos).

Passou sete meses que nós estávamos morando juntos novamente e ele foi chamado pra trabalhar em A. [outra cidade]. Eu falei: 'não, vamos embora! Se essa é a sua chance, é agora que a gente tem que ir, enquanto a gente tá novo. Esse é o momento de ir, de arriscar'. Aí eu larguei tudo, larguei emprego (F3, 36 anos).

Constata-se, nos exemplos, a preocupação com a provisão financeira da família e a disposição de se mudar de local de moradia pela necessidade do cônjuge, que são algumas formas de se expressar o amor compassivo no casamento (Sabey et al., 2016). Esse tipo de resposta é importante, inclusive, nos períodos de prosperidade, durante os quais comportamentos construtivos, como o entusiasmo de F3, comumente geram resultados positivos e aproximam os parceiros espontaneamente (Feeney & Collins, 2015).

Os participantes mostraram "responsividade" ao terem sensibilidade para atender às necessidades específicas de seus cônjuges sem demandar reciprocidade (Clark & Mills, 2012; Finkel et al., 2017). Observa-se que os comportamentos mutuamente responsivos do amor compassivo influenciaram o bem-estar e o engajamento com a relação e, naturalmente, aumentaram a intimidade e o compromisso, na medida em que os cônjuges se sentiram próximos e conectados (Campbell & Kaufman, 2017; Fehr et al., 2014; Gottman & Gottman, 2017; Reis et al., 2014).

Como já mencionado, convém ressaltar que os entrevistados tendem ao amor companheiro que, entre outros atributos, é composto por maior ênfase no cuidado e no servir a seu parceiro, do que na compatibilidade com ele (Karandashev & Clapp, 2016). Conforme abordado acima, os participantes mostraram que já se decidiram pelo compromisso mútuo e se esforçam para ter comportamentos sinceramente responsivos, e não de barganha. Observou-se que tais atitudes facilitam a continuidade em um casamento, pois é difícil se manter em uma relação na qual há uma contínua avaliação sobre se comprometer ou não (Beck & Clark, 2010). Assim, ao se analisar esse conceito em conjunto com as narrativas da presente pesquisa, percebeu-se a ligação entre o amor companheiro e a responsividade mútua do amor compassivo na busca por um casamento recompensador, compromissado e estável.

 

Considerações Finais

Os resultados deste estudo sugerem que um dos fatores que protege, de maneira natural e gratificante, o processo de reconstrução do relacionamento no recasamento com o ex-cônjuge é a interação entre os atributos pertencentes aos componentes intimidade e decisão/compromisso, formando o amor companheiro. Constatou-se pelas narrativas que, mesmo que o casamento tenha assumido outro lugar quanto a expectativas e significados, sentimentos de aconchego, harmonia e amparo, produzidos pelo investimento em uma relação conjugal, continuam sendo desejados e valorizados, independentemente da idade, da atração sexual e do tempo de relacionamento. Além disso, os dados indicam que amar como doação de si, em diferentes aspectos e sem barganhas, funciona como indicador de que há disposição para investir no casamento por longo prazo. Essa atitude reforça o compromisso de que estarão unidos contra as diversas intempéries da vida conjugal.

Percebeu-se, ainda, que há um bom nível de influência recíproca na interação entre os atributos de intimidade e de decisão/compromisso, o que não ocorre com os atributos do componente paixão. É importante ressaltar que, inclusive, em relacionamentos de longo prazo, observou-se que pode existir paixão em alguma medida. Entre os atributos do componente intimidade, o companheirismo, a amizade e a parceria estiveram presentes em vários momentos ao longo da vida desses casais, sugerindo que possuem grande importância para seus relacionamentos. No tocante ao componente decisão/compromisso, chama a atenção o valor dado à questão de poder contar com um parceiro conjugal dedicado, que ajude em dificuldades que surgem para todos, ilustrando, sobretudo, a interseção natural entre os laços de intimidade e os de decisão/compromisso. Outro ponto a ser destacado, com base nos relatos, é que uma decisão mais cognitiva e racional pode levar alguém a se comprometer com o casamento seriamente, sem que isso seja pesado, conduzindo, inclusive, à maior intimidade.

As narrativas evidenciaram que as pessoas são mais felizes quando têm um cônjuge que se compromete legitimamente com elas em momentos bons e ruins, tornando-se cúmplice dos seus sonhos, e que as aceita como são, ainda que as encoraje a ser melhores. Embora a sociedade atual valorize um nível de independência emocional no qual as pessoas são exortadas a amar demasiadamente a si mesmas antes dos outros, neste estudo, notou-se que ser sensível às necessidades do outro parece fundamental para os processos relacionais. Tal atitude gera maior confiança e promove o bem-estar de ambos os cônjuges.

Viver a dois é difícil - são dois mundos estruturados de formas diferentes que precisam conviver -, entretanto as histórias de amor relatadas nesta pesquisa apontam que a intimidade é reforçada pela interação harmônica de ambos os parceiros ao compartilharem experiências de superação de problemas, e não apenas bons momentos. Todos os participantes discorreram acerca de decepções e frustrações em seus casamentos e, alguns, inclusive, foram acometidos por doenças, porém resistir a isso juntos mostrou que casamentos podem durar e ser agradáveis se as crises forem vivenciadas com paciência e amor. Afinal, não há soluções fáceis para a maioria das coisas na vida e, se as crises forem vividas como desafios, isso pode ser uma oportunidade de crescer. Os entrevistados mostraram que lutar para superá-las é uma boa escolha para que isso ocorra.

Muitos estudos enfocam o que não funciona no casamento, o que, talvez, se deva ao fato de que problemas chamam mais a atenção ao se observar a clínica com famílias. Contudo a presente pesquisa se volta para os aspectos funcionais da relação. Seus resultados, ao contribuírem para uma maior compreensão sobre o amor em pessoas recasadas com o ex-cônjuge, ajudam a entender o que promove maior satisfação na dinâmica conjugal, em geral. Assim, fornecem subsídios à reflexão dos cônjuges que se separaram e pensam em se recasar, bem como aos profissionais procurados pelos casais em crise.

Esta investigação teve algumas limitações. Seria desejável ter ampliado a duração mínima para o período de separação e o tempo de recasamento, buscando uma maior homogeneização do grupo de participantes, porém o fato de o recasamento com o mesmo cônjuge ser um fenômeno pouco frequente não possibilitou a aplicação desse critério. O estudo foi realizado com membros independentes de casais recasados. Caso tivesse tido como foco os casais, poderia favorecer um maior aprofundamento da reflexão sobre a vinculação estabelecida entre os cônjuges na reconciliação. Além disso, por se tratar de uma temática com escassa literatura específica, na discussão dos resultados obtidos neste estudo, foi necessário incluir trabalhos sobre casamento em geral, e não apenas sobre recasamento.

Novas pesquisas sobre o tema poderiam ser feitas em outras cidades e camadas sociais, assim como comparando homens e mulheres, em busca de investigar se há diferenças significativas de gênero com relação aos atributos do amor. Seria interessante, também, analisar a possível relação existente entre os motivos que levaram esses cônjuges a se separarem e as dificuldades pertinentes aos atributos do amor.

 

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Endereço para correspondência:
Maria Ignez Carneiro de Azevedo Limeira
E-mail: ignezrj1@gmail.com

Cristina Ribeiro Dantas
E-mail: c.r.dantas@hotmail.com

Terezinha Féres-Carneiro
E-mail: teferca@puc-rio.br

Recebido em: 22/08/2018
Revisado em: 13/12/2019
Aceito em: 16/02/2020
Publicado online: 16/04/2020

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