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Revista Subjetividades

versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.20 no.3 Fortaleza jul./dez. 2020

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v20i3.e9413 

RELATOS DE PESQUISA

 

Biografias Laborais de Pessoas Encarceradas: Entre o Crime e o Trabalho

 

Labor Biographies of Prisoners: Between Crime and Work

 

Biografías Laborales de Personas Encarceladas: Entre el Crimen y el Trabajo

 

Biographies de Travail des Prisonniers: Entre le Crime et le Travail

 

 

Sinara Tereza dos Santos FidelisI; Tatiana de Lucena TorresII; Pedro F. BendassolliIII

IAdministradora de empresas e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
IIPsicóloga, Doutora em Psicologia, bolsista de extensão no país do CNPq e Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba
IIIPsicólogo, Doutor em Psicologia Social, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo do estudo foi compreender a biografia laboral de pessoas privadas de liberdade, considerando suas experiências de trabalho dentro e fora do cárcere, utilizando o aporte teórico de sentidos, significados e função psicológica do trabalho. A pesquisa apresentou delineamento de abordagem qualitativa, descritiva e transversal, com características etnográficas e de observação participante. O contexto do estudo foi a Associação de Apoio e Assistência ao Condenado (APAC) de Macau/RN, e contou com a participação de 11 homens em estado privativo de liberdade. As temáticas das entrevistas individuais foram: história de vida laboral, trabalho na prisão e APAC. As narrativas foram submetidas a análises textuais de classificação hierárquica descendente (CHD) com auxílio de um software. Registros em diários de campo se somaram aos resultados de modo a compor uma análise global, considerando as narrativas dos apenados e a observação participante. Os resultados revelaram que, na APAC, a disciplina faz parte do cotidiano, utilizando o controle do comportamento dos chamados recuperandos, em condições dignas de vida, pautadas em preceitos religiosos e no autocontrole. O cumprimento da pena em condições humanas foi apontado como diferencial da APAC em relação ao sistema comum de encarceramento. Os recuperandos revelaram uma biografia laboral marcada por experiências precárias de trabalho, sofrendo humilhações, histórico de trabalho infantil e posicionamento submisso. O crime não era considerado trabalho por não ser digno. No entanto o crime promovia um posicionamento ativo e, sobretudo, oferecia poder, algo que não acontecia com o trabalho digno. O trabalho no cárcere é marcado pela exaustão e exploração no sistema comum, mas visto como laborterapia na APAC, com oportunidades de aprendizagem e exercício da dignidade humana. Mesmo que também marcado por impedimentos e dificuldades, é um espaço para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.

Palavras-chave: apenado; trabalho; função psicológica do trabalho; sentido do trabalho.


ABSTRACT

The study aimed to understand the work biography of people deprived of their liberty, considering their work experiences inside and outside the prison, using the theoretical input of senses, meanings, and psychological function of work. The research presented a qualitative, descriptive, and transversal approach, with ethnographic characteristics and participant observation. The context of the study was the Association of Support and Assistance to the Condemned (APAC) of Macau / RN, with the participation of 11 men in a state of deprivation of liberty. The themes of the individual interviews were: a history of working life, work in prison, and APAC. The narratives were subjected to textual analysis of descending hierarchical classification (CHD) with the aid of software. Records in the field diaries were added to the results to compose a global analysis, considering the inmates' narratives and participant observation. The results revealed that, at APAC, discipline is part of everyday life, using the behavioral control of the so-called recuperandos, in dignified conditions of life, based on religious precepts and self-control. The serving of the sentence in human conditions was pointed out as APAC's differential about the common system of incarceration. The recuperandos revealed a work biography marked by precarious work experiences, suffering humiliations, a history of child labor, and submissive positioning. The crime was not considered work because it was not worthy. However, crime promoted an active position and, above all, offered power, something that did not happen with a decent job. Prison work is marked by exhaustion and exploitation in the common system, but seen as labor therapy at APAC, with opportunities for learning and exercising human dignity. Even though it is also marked by impediments and difficulties, it is a space for the development of coping strategies.

Keywords: inmate; job; psychological function of work; the sense of work.


RESUMEN

El objetivo del estudio fue comprender la biografía laboral de personas privadas de libertad, considerando sus experiencias de trabajo dentro y fuera de la cárcel, utilizando el aporte teórico de sentidos, significados y función psicológica del trabajo. La investigación presentó diseño de enfoque cualitativo, descriptivo y transversal, con características etnográficas y de observación participante. El contexto del estudio fue la Asociación de Apoyo y Atención al Condenado (APAC) de Macau/RN, y contó con la participación de 11 hombres en estado privativo de libertad. Las temáticas de las entrevistas individuales fueron: historia de vida laboral, trabajo en la prisión y APAC. Las narrativas fueron sometidas a análisis textuales de clasificación jerárquica descendiente (CJD) con ayuda de un software. Registros de diarios de campo se sumaron a los resultados de modo a componer un análisis global, considerando las narrativas de los condenados y la observación participante. Los resultados revelaron que, en la APAC, la disciplina haz parte del cotidiano, utilizando el control del comportamiento de los llamados "recuperandos", en condiciones dignas de vida, pautadas en preceptos religiosos y en el autocontrol. El cumplimiento de la pena en condiciones humanas fue indicado como diferencial de la APAC en relación al sistema común de cárcel. Los "recuperandos" revelaron una biografía laboral marcada por experiencias precarias de trabajo, sufriendo humillaciones, histórico de trabajo infantil y posicionamiento sumiso. El crimen no era considerado un trabajo por no ser digno. Sin embargo, el crimen fomentaba un posicionamiento activo y, además, ofrecía poder, algo que no sucedía con el trabajo digno. El trabajo en la cárcel es marcado por el agotamiento y explotación en el sistema común, pero visto como laborterapia en la APAC, con oportunidades de aprendizaje y ejercicio de la dignidad humana. Aunque también marcado por impedimentos y dificultades, es un espacio para el desarrollo de estrategias de enfrentamiento.

Palabras clave: condenado; trabajo; función psicológica del trabajo; sentido del trabajo.


RÉSUMÉ

La présente étude visait à comprendre la biographie de travail des personnes privées de liberté, en considérant leurs expériences de travail à l'intérieur et à l'extérieur de la prison. Basé sur le sens, signification et la fonction psychologique du travail, le plan de recherche est présenté comme une approche qualitative, descriptive et transversale, avec des caractéristiques d'observation ethnographique et participante. L'étude portait sur l'Association de soutien et d'assistance aux personnes condamnées (APAC) de Macau/RN, à laquelle 11 hommes ayant participé à la privation de liberté ont pris part. Les entretiens individuels ont eu pour thème l'histoire de la vie professionnelle et le travail dans les prisons. Les récits ont été analysés en tenant compte de ces axes et ont été soumis à une analyse textuelle de la Classification hiérarchique descendante (CDC) à l'aide d'un logiciel. Des résultats dans des journaux de terrain ont été ajoutés aux résultats afin de composer une analyse globale, en tenant compte des récits de l'observation en difficulté et de l'observation participante. Les résultats ont révélé que, dans l'APAC, la discipline fait partie de la vie quotidienne, utilisant le contrôle du comportement de ce qu'on appelle la récupération des conditions de vie décentes, sur la base des préceptes religieux et de la maîtrise de soi. L'exécution de la peine dans des conditions humaines a été soulignée comme un différentiel de l'APAC par rapport au système commun d'incarcération. Les récupérateurs ont révélé une biographie de travail marquée par des expériences de travail précaires, basées sur l'humiliation, des antécédents de travail des enfants et un positionnement soumis. La criminalité n'était pas considérée comme un travail parce qu'elle n'était pas digne. Cependant, elle favorisait une position active et offrait surtout du pouvoir, ce qui n'était pas le cas du travail décent. Le travail en prison est marqué par l'épuisement et l'exploitation dans le système commun et, en tant que thérapie du travail en APAC, offrant des possibilités d'apprentissage et d'exercice de la dignité humaine, bien que marqué également par des obstacles et des difficultés, était un espace pour le développement de stratégies d'adaptation.

Mots-clés: condamné ; travail ; fonction psychologique du travail ; sens du travail.


 

 

A violência tem se acentuado na contemporaneidade estando presente corriqueiramente, demonstrando certa institucionalização (Almeida, 2004). Nesse cenário, a prisão, exemplo da sociedade disciplinar, atua como canalizadora das forças dos indivíduos para obter comportamentos dóceis e produtivos (Silva & Saraiva, 2014). Enquanto instituições totais, os cárceres atuam como "estufas" em razão do domínio que há sobre o ser humano, pois as condições no encarceramento oportunizam a apropriação natural dos seres naquele meio (Goffman, 1961). Geralmente, o cárcere assume a natureza de depósito de agressores da lei, um local de exclusão social que contesta a funcionalidade de ressocialização das prisões (Barros & Lhuilier, 2013).

Com base no artigo 28 da Lei de Execução Penal - LEP (Lei nº 7.210/1984), o trabalho é uma das formas de reinserção no coletivo e no âmbito prisional, visto como um dever social e de dignidade humana, com potência educativa e de produção. Contudo as atividades laborais no sistema convencional têm servido apenas como um provedor de disciplina e mecanismo de serviço barato perante o neoliberalismo (Barros, 2009).

Com efeito, propomos problematizar no meio acadêmico o tema do trabalho encarcerado. A maior parte da produção científica sobre o tema versa sobre políticas públicas com apresentação de estatísticas destinadas às decisões do poder público (Barbalho & Barros, 2014). O trabalho se situa como meio de socialização, como uma atividade humana (Amado & Lhuilier, 2012) que se constrói para si e para o outro, e que é responsável pelo reconhecimento ou exclusão social (Barbalho & Barros, 2010).

Diante do exposto, o objetivo do estudo é compreender as biografias laborais dos indivíduos em aprisionamento, considerando suas experiências de trabalho dentro e fora do cárcere. As situações concretas em que o trabalho acontece são privilegiadas por considerar os processos de subjetivação dos trabalhadores nas diferentes experiências laborais (Coutinho & Oliveira, 2017). Buscamos problematizar como o trabalho se posiciona na história de vida dos que estão encarcerados, percebendo a relação das atividades concretas no processo de significação do trabalho, que é formado por três componentes: os significados do trabalho - cuja produção e disseminação parte do coletivo; os sentidos - derivantes das capturas individuais dos significados; atividade - mediadora entre individual e coletivo, na qual os sentidos e significados são passíveis de ação (Bendassolli & Coelho-Lima, 2015). A função psicológica do trabalho é o que permite que as pessoas construam sentidos e significados (Bendassolli & Gondim, 2014) articulados na atividade (Clot, 2008). Na psicologia social do trabalho, a subjetividade da classe trabalhadora, bem como as relações intersubjetivas imbricadas nos ambientes de trabalho, é considerada desde os aspectos macrossociais e microssociais até aqueles relacionados à historicidade.

A ideia deste estudo se apresentou a partir da problemática vivida cotidianamente pelos "recuperandos", denominação usada na Associação de Apoio e Assistência ao Condenado (APAC) de Macau/RN, no que diz respeito a sua relação com o trabalho, que acontece numa situação de cárcere, o que viabiliza a diminuição da pena de prisão, mas que também se apresenta como atividade, para além da prescrição, nas situações reais das variadas formas de trabalhar e se configura nas histórias de vida de cada recuperando trabalhador.

 

Método

O presente estudo se caracterizou: pelo delineamento metodológico descritivo e transversal, do tipo estudo de caso, constituído por análise dos documentos institucionais da APAC; pesquisa empírica com observação participante; diários de campo e entrevistas narrativas individuais (no total, 11). A triangulação metodológica promoveu diferentes formas de acesso ao contexto estudado.

Participantes

Os artigos 82 a 86 da Lei de Execução Penal (LEP) apresentam disposições em torno do estabelecimento penitenciário e, entre elas, estão as variadas formas de encarceramento, bem como os integrantes que as comportam. Entre os ambientes penais, a APAC (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado), localizada no Rio Grande do Norte, na cidade de Macau, foi o lócus da pesquisa e os recuperandos foram os participantes.

Consideramos dois critérios para o convite aos participantes: (1) participação em atividade laboral no cárcere e (2) estar em regime fechado de reclusão. Além disso, com vistas a se obter um panorama da diversidade do trabalho prisional, houve participação de recuperandos com tempos diferentes de encarceramento na APAC e trabalhos distintos. No mais, obtivemos anuência da administração da APAC e dos recuperandos que concordaram em colaborar com o estudo.

Instrumentos/ Técnicas

Utilizamos diferentes estratégias de acesso às informações: análises documentais, entrevistas narrativas individuais, observações participantes e registros em diários de campo. Nas análises documentais, buscamos uma aproximação inicial com o contexto da pesquisa a partir de registros das regras, acordos de convivência e legislações sobre a APAC. Esses meios contribuíram, inclusive, para a demarcação das outras estratégias para colher as informações e se aproximar dos fenômenos em estudo, qual seja, as biografias laborais e o trabalho em situação de cárcere.

As entrevistas narrativas foram divididas em dois eixos temáticos: (1) História de vida laboral e (2) Trabalho, prisão comum e APAC. O roteiro da entrevista em profundidade apresentou uma questão disparadora em que o participante pôde discorrer livremente sobre um fato e o contexto que o envolveu (questões imanentes). Na sequência, questões exmanentes, com itens que precisavam de aprofundamento, foram utilizadas (Jovchelovitch & Bauer, 2002).

A média de duração do encontro com cada pessoa entrevistada foi de 1h12min, sendo de 1h37min o mais longo e, o mais curto, de 32min. Eles aconteceram na capela da unidade, no período das 8 horas às 17 horas, como acertado com o encarregado de segurança da unidade. A gravação do áudio foi feita com celular e tablet. Os eletrônicos usados foram combinados com a gestão, mas os recuperandos definiram a ordem das entrevistas e organizaram o ambiente onde foi realizada. As entrevistas foram transcritas de forma a preservar o sigilo.

Além das entrevistas narrativas e análise documental, foi utilizado diário de campo para registrar as observações participantes realizadas durante o momento de inserção e ambientação com a APAC, assim como o movimento de implicação com o campo de pesquisa a partir de um enfoque etnográfico de aproximação e estranhamento. A pesquisadora participou ativamente dos rituais da APAC durante, aproximadamente, quatro meses. Após isso, as visitas foram esporádicas. Nesse tempo, a pesquisadora participou de eventos de valorização humana, palestras, oficinas, visitas familiares, ato socializador, laborterapia, momento das refeições, orações, atividades físicas e culturais. As observações eram registradas no diário de campo, juntamente com as notas da pesquisadora.

Procedimentos de Acesso às Informações e Cuidados Éticos

Antes da inserção na APAC, realizamos um estudo documental dos regulamentos, normas e preceitos utilizados pela entidade. Após o primeiro contato presencial na unidade prisional, gradativamente houve uma aproximação com a rotina institucional pela conversa com os gestores, realização de conversas informais com os recuperandos e, diante das possibilidades, participação em rituais e momentos simbólicos da instituição. Em concomitância, um diário de campo foi realizado por meio de gravação das notas da pesquisadora, com a descrição das situações vivenciadas diariamente no campo de pesquisa, extraindo delas as impressões e implicações.

Os participantes assinaram dois termos no ato da entrevista: Termo de Autorização para Gravação de voz e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com seres humanos sob o número 2.575.031.

Procedimentos de Análise e Interpretação das Informações

Os registros do diário de campo, compostos a partir da observação participante realizada no início da pesquisa e nos momentos de inserção no campo, foram analisados de forma não sistemática, de modo a auxiliar na compreensão dos rituais, regras e modo de funcionar da associação, aproximando-se do contexto de pesquisa, além de dar visibilidade e concretude aos documentos pesquisados na APAC, como regimentos, atas de reunião e informativos.

As narrativas registradas a partir das entrevistas compuseram dois núcleos temáticos diferentes estabelecidos a priori. Eles foram: (1) História de vida laboral e (2) Trabalho, prisão comum e APAC, compondo dois corpus de análise. Em seguida, os corpora foram submetidos a uma análise textual com auxílio do software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires). O software é indicado para análises qualitativas, preferencialmente monotemáticas e que possuam grande quantidade de texto (Camargo & Justo, 2013). No IRAMUTEQ, de cada corpus se extraem classes que são compostas por palavras. Nas classes aparecem os subtemas, e as palavras são unidades de significação. As classes e as palavras constituem segmentos de texto compostos e separados conforme os critérios estatísticos estabelecidos pelo programa (Camargo & Justo, 2013). Tanto as palavras quanto as classes são consideradas no contexto das narrativas e nomeadas pelos pesquisadores.

No presente estudo, cada corpus foi analisado pela classificação hierárquica descendente (CHD), que indica o quanto as narrativas se aproximam ou se distanciam em classes compostas por critérios estatísticos (χ2≥٣,٨٤, f>média de ocorrências por formas de palavras e p<٠,٠٠٥). Consideramos, ainda, critérios do contexto textual em que tais palavras surgiram, além das características sociodemográficas e laborais dos participantes.

Na intenção de compreender as biografias laborais dos recuperandos da APAC, utilizamos a triangulação metodológica para buscar uma análise mais aprofundada do fenômeno, considerando aspectos subjetivos e intersubjetivos, contextualizados histórica e socialmente, promovendo uma análise integrativa ao final do estudo.

 

Resultados e Discussões

Cotidiano da APAC: Análise Documental

O projeto foi introduzido no Rio Grande do Norte, em Macau, que fica a 175 km da capital do estado (Natal). A instalação física era em uma antiga creche, dentro da área habitada do município, funcionando, na época, com três funcionários administrativos, além dos inspetores e voluntários. A APAC possui quarenta ocupações, divididas entre regime fechado e semiaberto, com dezesseis pessoas em estado de reclusão integral, aspecto que nos chamou a atenção diante de uma realidade de superpopulação encarcerada, com falta de vagas nas prisões e presídios brasileiros (Ministério da Justiça, 2017). A estrutura física apresenta espaços pequenos, divididos em: refeitório, cozinha, capela, secretaria, dormitórios, suíte de visita íntima e auditório.

A rotina dos recuperandos envolve a manutenção do espaço físico e a ocupação com as laborterapias, que abarcam a confecção de artesanatos, produção de redes de pesca, serviços de marcenaria, fabricação de vassouras com garrafa pet e criação de aves. A remissão de pena em troca dos serviços prestados é assegurada e, caso haja venda de produtos, 75% da remuneração é destinada aos trabalhadores e 25% à cooperativa, para a compra de materiais.

O modelo de gestão penal da APAC considera os recuperandos como corresponsáveis pela sua recuperação. São oferecidos auxílios desde a assistência à saúde até o apoio social e religioso. Não se conta com a presença de policiais, armas, fardamentos, prezando pelo respeito às regras estabelecidas. Os papéis de segurança e disciplina ficam sob responsabilidade dos voluntários e dos próprios indivíduos privados de sua liberdade, que obedecem à LEP e têm o apoio do Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS), dialogando com a administração e com autonomia para promover a efetividade das regras.

Nos primeiros 30 dias, o recuperando fica recluso na sua cela. O período é tido como de adaptação. Passado o rito inicial, se começa efetivamente o dia a dia na APAC. Os portões da APAC ficam abertos no período das 6 até às 22 horas, permitindo livre circulação. Nesse período, abrem-se os compartimentos para a realização da higiene pessoal e cumprimento da escala de limpeza do prédio, chamada dos recuperandos, orações a cada refeição e nos intervalos, bem como realização da laborterapia.

Caracterização dos Participantes e Entrevistas Narrativas: O que Dizem os Recuperandos?

A média de idade dos 11 participantes das entrevistas narrativas foi de 37,3 anos, maioria de solteiros e todos homens, pois a APAC - Macau/RN atende apenas pessoas do gênero masculino. Entre os participantes que tinham filhos, houve uma média de quase 4 filhos para cada um deles, mas houve uma variação de 1 até 14 filhos. No que diz respeito à escolaridade, os participantes confirmaram o perfil nacional da população carcerária (Ministério da Justiça, 2017), pois a maioria (9) não chegou a completar o ensino fundamental.

De forma geral, os entrevistados pertencem às classes C e D. Em comum, os participantes apresentam um histórico de dificuldades financeiras na família, ausência dos pais ou superproteção, trabalho infantil, violência doméstica, constituição de um novo lar com a chegada de filhos e envolvimento com o crime de forma intergeracional. Praticamente todos tiveram uma experiência laboral antes do encarceramento. O sentido do trabalhar seria a forma organizadora da vida dessas pessoas e suas famílias (Coelho-Lima & Bendassolli, 2018). Contudo as experiências laborais evidenciam situações de exploração, humilhação e precarização do trabalho, aspectos aprofundados mais adiante. A região litorânea contextualiza o território onde se passam as histórias laborais, dado que os trabalhos informais e temporários, envolvendo a pesca, construção civil e mototáxi, se destacam numa região do interior nordestino em que o trabalho formal é constituído quase que exclusivamente pelo serviço público nas prefeituras.

Dito isso, seguimos para a descrição e análise das entrevistas narrativas, que foram transcritas e divididas de acordo com os núcleos temáticos previamente estabelecidos, tornando-se, cada tema, um corpus: (1) História de vida laboral e (2) Trabalho, prisão comum e APAC.

Corpus 1 - História de vida laboral

O corpus 1, chamado de História de vida laboral, reuniu as narrativas dos indivíduos acerca de sua história de vida como trabalhadores. A sua composição foi: (1) História do trabalho digno e do crime; (2) Relações ativas no crime e passivas no trabalho digno e (3) Rotinas do trabalho digno, como pode ser visualizado na Figura 1.

A classe temática 1, intitulada de "História do trabalho digno e do crime", abrangeu, inicialmente, as motivações para a entrada na criminalidade. A vida dos recuperandos foi marcada por uma busca incessante de bens materiais, em que a vontade de sempre querer ter algo e possuir cada vez mais impulsionou a prática de atos que eles adjetivavam como errados. O julgamento de valor acompanhou muitas das narrativas dos nossos entrevistados. O início da vida no crime segue certo desalento e decepção, ocasionado pelas experiências com o trabalho. Se, de um lado, "o trabalho dignificava o homem"; por outro lado, esse mesmo trabalho constituía um cenário de humilhações, muito esforço e falta de reconhecimento, recebendo baixos salários, que não conseguiam sustentar os desejos em uma sociedade consumista.

Essa realidade se exemplifica com a fala do Recuperando 3: "...a gente tinha as amizades ali, a gente queria seguir o padrão de vida deles também, tá em festa direto, tal, vestir roupas de marca, marca boa, né?!" Nessa narrativa, as atividades ilícitas parecem ter sido usadas em razão do desejo de aceitação das pessoas dentro dos círculos sociais. O roubo surge como uma das primeiras ações que proporcionam ostentação, colocando o indivíduo em contato com os mais diversos prazeres.

Contudo os participantes mostram uma relação conflituosa com o tráfico de drogas, a principal forma de vinculação ao crime. Se, por um lado, a droga trazia ganhos; por outro, ela parecia ser um caminho de perdas. Ao passo que se tinha os melhores carros, bebidas, festas e roupas, o indivíduo era alvo de preconceito, discriminação e perdas.

Ademais, o crime não é considerado pela maioria como um trabalho, no entanto alguns o classificaram como "trabalho do tipo ilegal" quando se referiam ao tráfico de drogas, apresentando contradições na fala. Segundo o Recuperando 1: "Hoje, se eu tivesse um filho, eu ia criar trabalhando, suando, que tem que ser assim, e minha vida foi assim, de sofrimento nessa vida, né?! Nunca ninguém tem nada com essas coisas, uma vida escura, uma vida sebosa, feia, né?!" De acordo com as narrativas, o trabalho envolve atividades feitas dignamente, que colocam os indivíduos em contato com amizades sadias, permite o respeito da sociedade e faz dos sujeitos pessoas boas.

Sobre esse assunto, Barbalho e Barros (2010) afirmam que há uma disparidade entre quem é trabalhador e quem é criminoso. Culturalmente, as duas imagens não são possíveis a uma única pessoa. É como se houvesse uma oposição entre o trabalho e o crime. Quem é trabalhador não é criminoso: "o trabalho dignifica o homem", ideia tão presente nos significados sociais construídos sobre o trabalho (Tolfo & Piccinini, 2007). Tal contradição demarca o conflito vivido nas histórias dos entrevistados. De um lado, uma iniciação precoce no mundo do trabalho, que, muitas vezes, é marcada pela exploração, humilhação e pouco reconhecimento, inclusive financeiro. De outro lado, uma atividade ilegal que cobra, em troca do poder e do dinheiro fácil, uma subversão de valores morais para a conquista dos desejos de consumo e do poder pautado no medo, que, no entanto, traz respeito.

"Tudo que você quer, ele lhe dá. Ele vai lhe dar dinheiro, ele vai lhe dar muitas mulheres." (Recuperando 10). Nas narrativas, chama atenção a presença dos amigos que estimulam a busca pela riqueza rápida e fácil, bem como o lugar ocupado pela mulher. Predominantemente, o gênero feminino aparece como uma mercadoria, ora como algo a ser consumido, ora como violadora do sistema e das normas instituídas de gênero (Lima, 2006): "A primeira mulher que eu conheci, ela veio de Natal; eu conheci ela pela internet, aí veio para cá. Através dela eu comecei a fazer outras coisas erradas (...)" (Recuperando 5).

No contexto das narrativas é importante mencionar o papel da família na formação dos indivíduos e a forma como os relacionamentos primários (contato com pai, mãe e irmãos) impactam os relacionamentos secundários (amizade, trabalho, relacionamentos afetivos). Observamos nas narrativas a preponderância de situações de superproteção no seio familiar, alguns casos de ausência da figura paterna e/ou materna, dificuldades financeiras no lar e violência doméstica cotidiana.

Na classe 2, denominada "Relações ativas no crime e passivas no trabalho digno", as narrativas começam a caminhar para uma contraposição de dois contextos: trabalho digno e crime. Frente a cada um deles, os indivíduos também parecem assumir posturas contrárias: a visualização foi de um cotidiano predominantemente passivo no trabalho digno versus uma postura ativa no crime.

Na vida que antecede a criminalidade, os participantes se colocam como reativos aos acontecimentos. Nela, as pessoas deixam chegar a si as oportunidades, são alvos das circunstâncias e estão sempre condicionados ao outro. Nos casos em que os recuperandos relataram terem trabalhado, eles se colocaram enquanto uma figura que pedia, que era mandada, que se doava, que ficava paralisada. Sobre essa submissão nas relações laborais, o Recuperando 3 descreve:

Quando você vai falar de trabalho civil, de construção, você não vai ter, nenhum deles lá vai trabalhar maneiro, a não ser o encarregado, que fica só mandando: 'é isso, aquilo, aquilo'. Mas os demais, todos são de pronto pesado. Construção civil já está falando, é pesado. (Recuperando 3)

Essa fala contradiz o sentido ativo do trabalho enquanto elemento central na vida das pessoas (Antunes, 1999), confirmando, por outro lado, a reflexão de que esse tipo de ocupação não se relaciona com o reconhecimento de identidade e que os bicos, os trabalhos precários e casuais, não asseguram uma valorização de vida aos indivíduos que os utilizam como meio de renda (Barros & Nogueira, 2007); revelando, inclusive, um trabalho precário, desvalorizado e constituído na informalidade.

Se, no trabalho digno, ele é escolhido, no crime é ele quem dá as ordens e faz as escolhas. Há uma mudança da permissividade e postura reativa para um empoderamento no crime; uma postura ativa em relação às outras pessoas, sem espera ou subordinação. O lugar assumido agora é de autoridade, havendo posse sobre várias mercadorias, entre elas a mulher, domínio sobre as coisas e opressão sobre todos. O crime e o tráfico de drogas são demarcados, além da exclusão econômica apresentada na Classe 1, pela busca por reconhecimento e pelo exercício do poder (Faria & Barros, 2011).

Comecei a traficar de novo. Eu não me conformava em não ter a vida que eu tinha, de não ter aquele poder, porque você passa a ter um poder, as pessoas passam a ter medo de você, lhe temer, porque sabe que, se for enfrentar aquele cara, ele vai mandar te matar. Então, aquelas pessoas começam a ter medo de você e você fica um terrorista. Então, é de você chegar em um canto e o seu nome ser o gritado mais alto, quem manda é você. Eu não queria perder aquilo, eu era viciado naquilo. (Recuperando 9)

É interessante observar a posição dupla que a casa assume nesse enredo. Antes do crime, a casa era o espaço protegido pela família, conduzido para o trabalho ou até espectador do crime que era realizado por familiares. Depois, esse jogo se inverte, e é na casa que acontecem as negociações, de onde saem as ordens. A casa se torna o império.

Na classe 3 do corpus 1, "Rotina do Trabalho Digno", os participantes revelam aquilo que é defendido enquanto trabalho de fato, isto é, o trabalho digno. Mesmo com diversos agravantes, ele é o "certo", o "ralado", o "suado"; aquele que faz o indivíduo ser chamado de "trabalhador". Diante desses elementos, encontramos os significados compartilhados sobre o trabalho, pautado no esforço, no sacrifício, na desumanização e na sobrevivência (Tolfo & Piccinini, 2007), em contraposição ao trabalho enquanto processo de desenvolvimento humano e subjetivação (Clot, 2008). O trabalhador se transforma a partir de uma subjetividade verticalizada, capturada pelo capitalismo, aquele-que-vive-do-trabalho (Antunes, 1999).

Nesse sentido, a rotina de atividades no trabalho digno apresenta as seguintes características: começa logo cedo, dura de manhã até a noite, todos os dias da semana, inclusive sábados e domingos. Nele, as cargas horárias são bem definidas, exaustivas e limitantes, com sujeição a situações de sobrecarga, opressão, exploração e vulnerabilidade. As tarefas exigem alto esforço físico e estão inseridas num contexto laboral precário e insalubre.

Até hoje eu sofro as consequências. Já hoje eu saí para fazer um exame, de uma hérnia que eu peguei trabalhando lá, carregando peso. Exploração assim, de trabalho mesmo. Se tivesse um serviço de pedreiro, ele botava eu para fazer troço para dois, para três pedreiros, sozinho lá, carregar saco de cimento numa escada, sozinho, sozinho, sozinho, e de 7 horas. Começava de 7 da manhã e dava 7 horas da noite eu trabalhando, lembro como se fosse hoje. (Recuperando 7)

Além da atividade de pedreiro, nas narrativas foram descritas experiências de mototáxi, pescador, garçom, feirante, soldador e catador de lixo. O trabalho "digno", muitas vezes, não passa pelo campo da formalidade. As oportunidades dentro de um mercado celetista, competitivo e exigente são escassas, sendo os "bicos" a alternativa de trabalho para a sobrevivência. Por outro lado, fazer "bicos" é estar dentro de um campo instável, de privação e baixa remuneração. Para eles, é um dinheiro incerto, não há garantias de direitos e se paga muito pouco. O lucro conseguido em um mês no trabalho digno é conquistado em poucos dias no crime. "Eu não estava querendo mais trabalhar, porque aquilo que eu ganhava no mês, eu estava ganhando em dois dias." (Recuperando 10).

Diante disso, observamos que os indivíduos compartilham um cotidiano corrido, mal remunerado, mecanizado e desvalorizado no trabalho digno. O trabalho infantil é outra prática presente no enredo. A pesca se coloca como uma das principais atividades que marcam esse período infanto-juvenil. A refinaria, além da prefeitura, é uma das poucas chances de emprego para a região litorânea.

Eu comecei a trabalhar desde pequeno, com seis anos, mais meu pai na pesca. O serviço lá não era muito maneiro, não, era pesado, porque eu saía de casa e não tinha hora, porque era pelos horários da maré. Não era maneiro. Se fosse no período da maré, só estar boa quando você fosse fazer aquela pescaria, você saindo de casa de oito, dez horas da noite, você só chegava no outro dia de manhã. (Recuperando 8)

Ao longo das narrativas, o trabalho só foi considerado enquanto tal a partir da assinatura da carteira de trabalho. Para muitos, é ela que determina o início de sua trajetória como trabalhador.

As biografias laborais dos participantes evidenciam uma relação conflituosa com o trabalho, demonstrando haver tensão na construção dos sentidos e significados do trabalho para os entrevistados, pois há, nas narrativas, uma perspectiva que atrela o trabalho à dignidade humana, mas, na experiência dos trabalhadores, ao contrário, o trabalho foi um lugar de sacrifício e humilhações, sendo naturalizada a visão de que o trabalho é "assim mesmo". Portanto, o trabalho é digno, mas também é sacrificante, de onde se obtém o sustento, mas não se obtém respeito, valorização, poder e reconhecimento. O que parece ser o objetivo de todos os entrevistados ao ingressarem na atividade criminal é conseguir, em pouco tempo, dinheiro, poder e autoridade, mesmo que não fosse uma atividade digna.

Corpus 2 - Trabalho, prisão comum e APAC

O corpus 2, como mostra a Figura 2, gerou duas grandes partições, que se desdobraram em outras partições, gerando subclasses. Uma primeira partição do corpus gerou as classes 1 e 2. A segunda partição gerou a classe 6, que passou por mais uma partição e gerou a classe 5. Por último, mais uma partição ocorreu, gerando as classes 3 e 4, indicando a complexidade do corpus 2.

As classes temáticas contidas no corpus 2 foram as seguintes: (1) Sistema comum; (2) Sistema comum x APAC; (3) Indivíduos e suas esferas de vida; (4) Relações, ações e impedimentos no trabalho; (5) Dualidade nas relações e (6) Atividades de trabalho na APAC.

Na classe 1os participantes falam sobre sua vivência no "sistema comum". Seguindo a sequência dos fatos, as pessoas foram pontuando sua trajetória laboral até falar sobre a sua "caída", forma denominada pelos participantes para classificar o momento em que eles são detidos e encarcerados. Praticamente todos os participantes falaram sobre o aprisionamento. As narrativas começam com a configuração da cadeia como um cenário de sujeição a uma rotina limitante, violenta e submissa:

(...) Ao abrir a cela, ele faz o procedimento, que já é outro procedimento, que é você levantar... você fica no presídio só de bermuda, mas, mesmo assim, você tira a bermuda, mostra as mãos, do lado da frente e de trás, levanta as axilas, passa a mão debaixo das axilas, balança o cabelo para ver se tem alguma coisa, mostra as orelhas, abre a boca e mostra a língua, arregaça o pênis, agacha 3 vezes, vira de costas e mostra a sola dos pés. (Recuperando 2)

A respeito disso, Baratta (2002) fala que o cárcere possui relações culturais e de poder peculiares que se configuram como uma subcultura, divergente do mundo extramuros. Entretanto, mesmo frente a essa aparente dessemelhança, a prisão é, na verdade, uma extensão da realidade, que já acompanha aqueles indivíduos antes de sua entrada no local. Dentro do presídio, o preso agora fica à mercê de um sistema que parece não convergir para a finalidade última da pena, que é a "reintegração à sociedade". Sobre o termo "ressocialização", o mesmo autor defende que seu uso denota uma visão negativa do indivíduo, que se contrapõe a uma visão positiva da sociedade, fato herdado da criminologia positiva.

Nesse percurso, o cotidiano apresentado na prisão se apresenta como monótono, sem estímulo ao trabalho, tampouco à educação, marcado por humilhações e condições precárias de sobrevivência, não havendo direito à saúde adequada, alimentação de qualidade, moradia digna e segurança.

No sistema comum, antigamente, tinha fabricação de bola, cartucho de computador, mas, de um tempo para cá, não, tinha acabado tudo. O que tem agora é mais a parte de limpeza, pois um pessoal é designado para um setor de limpeza e eles ganham a remissão, que é a diminuição de pena, mas eu nunca quis fazer isso. O dia a dia na prisão era permanecer preso, acordado 24 horas, porque a qualquer momento podia vim uma intervenção dos agentes e invadir as celas, nos tirar e agredir sem motivo algum, só para mostrar que tinha poder ali dentro. Se esperava chegar o outro dia para ser a mesma rotina. A vida de um preso no sistema que eu vivi era que consistia em dormir dois ou três minutos e já acordar com bomba, com tiro de borracha, todo tipo de coisa ruim. (Recuperando 7)

A respeito do trabalho encarcerado, Barros (2009) considera que as atividades propostas nas prisões não apresentam elevado nível de qualificação, entendendo-as como tarefas de conteúdo reprodutivo, no qual a monotonia também se vê atrelada a elas. Paralelamente a esse quadro, os recuperandos afirmam que, na prisão, se ensina e se estimula o tráfico, a morte, dinheiro e poder.

Nas passagens pelos estabelecimentos penais, os entrevistados não tiveram acesso a atividades voltadas para seu desenvolvimento pessoal e profissional. Os casos de trabalho são raros e, para trabalhar, precisa ser de confiança da direção e dos agentes, e esse fato é determinante para fazer uma segregação entre os próprios presos. Aos trabalhadores é destinada uma comida melhor, um tratamento diferenciado, mais liberdade para circular nos ambientes, maior contato com as autoridades e, em algumas situações, recebimento tanto de remissão quanto de remuneração. Barros e Lhuilier (2013) escrevem que, no cárcere, o oferecimento de ocupação assume mais um caráter de benfeitoria do que propriamente de um direito que deve ser conferido à pessoa privada de sua liberdade. Trabalhar resulta em algumas regalias, mas à custa de estar subordinado e de ser oprimido: "A fome é algo extremo, e lá você trabalha pela remissão e também pela comida (...) Entretanto toda vez, como eu disse, você se humilha para trabalhar e é humilhado quando está trabalhando" (Recuperando 3).

Mais uma vez, o sentido do trabalho se recobre de um sentimento de menosprezo e humilhação, repetindo as experiências de sofrimento atreladas ao trabalho antes do cárcere, como foi discutido no corpus anterior. O potencial do trabalho enquanto poder de ação e de desenvolvimento humano, enquanto função psicológica (Clot, 2008), se reduz e é limitado à simples repetição de tarefas, embora se caracterize, dentro do cárcere, como um valor que diferencia os aprisionados. O trabalho não possui um valor social ou uma função identitária, uma vez que tais tarefas nem sempre emanam de um papel profissionalizante ou de introdução de um ofício, mas apenas possuem o valor do poder de troca por comida, por remissão da pena e, às vezes, por remuneração (Barros & Lhuilier, 2013).

A cozinha e a produção de bolas apareceram como as únicas oportunidades de trabalho oferecidas. Na cozinha, as pessoas trabalham com um sistema de pagamento de quentinhas e, nas caldeiras, como cozinheiros e servindo as autoridades ou os seus companheiros de reclusão. Lá, os trabalhadores não dispõem de equipamentos adequados de trabalho, têm uma carga horária exaustiva, estão sob fiscalização contínua e vulneráveis a diversos riscos:

Todo dia você fechava 1500 quentinhas de manhã e 1500 quentinhas na parte da tarde. Na parte da tarde era mais maneira essa parte do trabalho, mas eram trabalhos muito pesados, muito pesados mesmo, bem ralados, e, se comparado com a oficina, você pode assimilar que os 2 têm algo comum, pois é um trabalho de risco, é um trabalho que você está com água quente ali, o vapor é muito grande. Cheguei a me queimar diversas vezes, vi pessoas queimarem o braço com água quente, pessoas que perderam o dedo nas cantoneiras, que é de onde desce a água, por que é uma cozinha industrial e tudo é grande, não tem nada pequeno. Vi pessoas que perderam o dedo na máquina de cortar a verdura, que se chama de verdureiro. (Recuperando 5)

A respeito do cotidiano, a fabricação de bolas não parece ser diferente das condições precárias de trabalho da cozinha. Trata-se uma empresa terceirizada que oferece os recursos materiais, mas os benefícios são poucos. A remuneração não é condizente, o foco está na produtividade e há castigos caso haja uso dos materiais para outra finalidade a não ser a produção. Para Amaral, Barros, e Nogueira (2016), essa sociedade com empresas traz alta lucratividade para elas e beneficiam o estado. As empresas parceiras pagam para as pessoas em privação de liberdade um valor que não ultrapassa o salário-mínimo, correspondente a três quartos do mínimo, que é o obrigatório, mas a empresa não tem a obrigação para com os direitos trabalhistas e previdência, além de ter seus trabalhadores sob controle a todo o momento pelo sistema. Por outro lado, o estado se utiliza da situação como forma de expor e legitimar seu discurso de ressocialização ao oportunizar o trabalho dentro das prisões (Scherrer & Shah, 2017).

Na classe 2, chamada de "Sistema comum x APAC", após contextualizarem o antigo sistema, os indivíduos se puseram a mostrar sua relação com o sistema prisional, fazendo um comparativo entre a prisão comum e a APAC. Os participantes mostram que era marcante não só o fato de estar preso, mas, especialmente, a forma como se dá esse aprisionamento. Existe uma diferença entre estar no regime "comum" e estar na "APAC": "Eu era um lixo lá no presídio comum e, na APAC, eu sou tratado como gente" (Recuperando 1). O sistema comum se relaciona com uma vivência de hostilidade devido à superlotação, à intensa pressão psicológica, ao alto descaso com a dignidade humana e a distintas formas de agressão. A violência é generalizada, acontecem entre as autoridades e os reclusos, assim como entre os presos.

Hoje em dia, eles estão agredindo tanto fisicamente o ser humano como psicologicamente, tirando visita, tirando regalias de feira, higiene. Hoje, tem cela que cabe oito pessoas, mas que são colocadas setenta pessoas. Eles pegam sua feira, tiram o material essencial e botam um litro de xampu para setenta presos, um barbeador para setenta presos e todos têm que estar sem barba. Vemos o extremo da escravidão e eu acho que é assim que está o sistema carcerário do Rio Grande do Norte, no extremo mesmo. (Recuperando 7)

Paradoxalmente a tal realidade, a vida na APAC é encarada como uma nova história. Tudo parece ser diferente, a começar pela forma como o agente e a direção tratam aqueles que vão para a associação. Decidir ir para a APAC já significa querer mudar de vida, pois lá é o lugar destinado a cumprir a pena buscando sua regeneração:

Só em você falar que já vem para APAC, até o tratamento já muda, pois eles já tratam você de outro jeito, de outra forma. Já tratam você de outra forma, porque só vem para cá quem é bem comportado. Eles não algemam você com a mão para trás, eles algemam você com a mão para frente. (Recuperando 02)

Ao contrário do sistema convencional, a APAC assume uma posição de heroísmo para os indivíduos. Se antes eles tinham sido vítimas do cárcere, hoje, estão sendo salvos por ele. Na APAC há um tratamento digno, comida adequada, boas companhias, presença da família, ajuda de voluntários e atividades de trabalho:

Quando a pessoa chega naquele portão, chega assombrado, aí a gente vai trabalhar em cima daquela pessoa, pois, por exemplo, eu chego e digo a eles que o canto deles se recuperarem e pagarem a sua pena para justiça é aqui. Na APAC, você vai ter todo o apoio que você precisar. Não adianta você chegar aqui, você ser colocado aqui hoje e a pessoa chegar para depois pular esse muro desesperado. Aqui você vai ter visita da sua mãe, seu irmão, seu pai. Você vai ter acesso à ligação para sua família. Vai poder conversar, vai ter um chuveiro para tomar banho a hora que você quiser, uma cama, um ventilador. (Recuperando 01)

Na classe 3, nomeada "Indivíduos e suas esferas de vida", os relacionamentos dos indivíduos mostram estar baseados em três dimensões: espiritual, social e individual. Na dimensão espiritual, a presença de Deus é uma constante na história das pessoas, estando elas na prisão comum ou na APAC. Deus é responsável tanto pelas graças alcançadas como pelas dificuldades passadas ao longo da vida: "mas foi Deus quem quis que viesse para a APAC para eu aprender certas coisas da palavra" (Recuperando 11).

Na esfera social, percebemos como o relacionamento com o outro impacta a rotina de cada um. Esse outro pode ser entendido como a família ou a própria instituição (APAC), mas refere-se, especialmente, aos colegas com quem dividem a experiência do confinamento. Na APAC, eles dividem as alegrias, as tristezas, partilham o trabalho, se ajudam entre si e, juntos, buscam traçar um novo caminho. Segundo Clot (2010), os colegas têm um papel crucial no que diz respeito à saúde psicológica das pessoas e, portanto, não se limita a seres que simplesmente colaboram no processo de produção. Os coletivos de trabalho são fortalecidos quando o ambiente laboral é harmônico entre os colegas, sendo assim, essa configuração atua como um suporte que propicia o poder de agir das pessoas (Clot, 2008).

A esfera individual é percebida no modo como cada pessoa vai se descobrindo nos trabalhos, melhorando seu estado psicológico com a laborterapia, se vendo útil ao poder dar um presente ou prover algo, por menor que seja, para sua família. Nesse meio, o trabalho é usado como forma de ocupar a mente e dar margem para outros pensamentos.

A laborterapia começa às 8 horas, indo até às 11 horas, e ali nós estamos fazendo artesanatos, confeccionando móveis, fazendo móveis, fazendo diversos trabalhos que ocupam a mente, fazendo com que você deixe de pensar no mundo secular, fazendo com que você venha a adquirir uma nova experiência, que é algo que nunca na minha vida fiz, que foi artesanato. (Recuperando 02)

A relação com o trabalho se revelava prazerosa, útil, envolvendo o corpo e a mente dos trabalhadores, aspecto que se apresenta como novidade para os entrevistados. A possibilidade de se desenvolver no e pelo trabalho se faz pela mediação entre o sentido e os significados do trabalho, papel assumido pela função psicológica do trabalho (Bendassolli & Gondim, 2014). O trabalho do artesanato, como exemplifica o entrevistado, requer uma concentração, certa abstração de si mesmo, como se o objeto do trabalho e o trabalhador em algum momento se fundissem na relação entre o pensamento e a ação, e o resultado do trabalho aparece como expressão da linguagem do trabalhador.

Na classe 4 foram apresentadas as formas pelas quais se deram as "relações, ações e impedimentos no trabalho". Seja na prisão comum, seja na APAC, os indivíduos têm de lidar com limitantes para poder trabalhar. Na prisão comum, as barreiras se revelam pela falta de oportunidades e dificuldade de acesso ao trabalho. Nesse contexto, é comum muitos deixarem de trabalhar para não sofrerem preconceito e ameaças, pois, geralmente, quem trabalha é chamado para ficar perto da polícia, sendo visto como um rival.

Na APAC, também há dificuldades no trabalho. Alguns não possuem qualquer experiência com o que é produzido na laborterapia e precisam da ajuda dos outros recuperandos, que são chamados, seja para ensinar, seja para ajudar no fazer. Isto ocorre porque existem circunstâncias em que alguém, em detrimento do outro, pode dispor de mais condições e ferramentas para a realização da atividade. O processo constitutivo do sujeito engloba a aprendizagem, sendo o que a perspectiva histórico-cultural defende, uma vez que a construção de significados e sentidos ocorre de forma mediada pelos outros, fazendo parte de um mesmo processo de significação, no qual o sentido é entendido como construído nos processos de mediação semiótica entre homem e natureza (atividade), dentro de um contexto sociocultural particular. "Assim, o trabalho é entendido como uma atividade orientada, ao mesmo tempo para o sujeito, para os outros e para o objeto da atividade, resultando em uma transformação de si, dos outros e do mundo" (Bendassolli & Gondim, 2014, p.135).

Além do não saber fazer, os recuperandos expressam a falta de insumos para realizar o seu trabalho, tendo que procurar outra atividade para se ocupar. Outro impedimento sinalizado é a falta de cursos que permitissem um maior conhecimento e aprimoramento do trabalho. Nesse ponto, de certa forma, o trabalho durante (na prisão e na APAC) e antes do aprisionamento se aproximam, uma vez que as dificuldades concretas se apresentam como impeditivas da atividade de trabalho.

Na classe 5 os indivíduos começam a mostrar uma "dualidade nas relações". A vida dos recuperandos é marcada por uma dúbia postura com o dinheiro, com os bens de consumo e com a família. Esses elementos assumem centralidade nas relações e, a partir da entrada na APAC, passam por uma ressignificação. No crime e no outro regime de aprisionamento, o ato de comprar se relaciona com a aquisição de roupas, armas ou artigos quaisquer. Na APAC, a tarefa está ligada aos insumos necessários para fazer a laborterapia.

Na classe 6, chamada de "Atividade de trabalho na APAC", os indivíduos partilharam sobre como era sua rotina laboral e os modos de organização do trabalho, as relações e os impedimentos que surgem no trabalho e como eles reagem. A narrativa está focada no objeto já transformado e nos itens que são mobilizados para promover essa transformação. Falar sobre a rotina de trabalho na APAC é se pautar na objetividade de descrever quais trabalhos são feitos no setor laborterápico, qual é o lugar das máquinas e das matériasprimas nesse processo e na peça já feita.

Os recuperandos sentiram a necessidade de descrever o trabalho real, falando sobre o processo da produção desde o planejamento, as adaptações necessárias, a execução e o que, de fato, é feito, superando o trabalho prescrito. A marcenaria e os artesanatos são apresentados como as duas principais atividades de trabalho. Os palitos e as tábuas, a adequada utilização das máquinas alinhadas, a preocupação com os detalhes, com o cortar e com o colar, juntamente com a atenção, a paciência e a concentração, que possibilitam a chegada ao produto do trabalho.

 

Considerações Finais

O objetivo deste estudo foi compreender a biografia laboral de pessoas privadas de liberdade considerando suas vivências de trabalho dentro e fora do cárcere. Os recuperandos da APAC revelaram uma biografia laboral marcada pela precarização, humilhação, histórico de trabalho infantil e submissão. O crime não é considerado trabalho por não ser digno, no entanto o crime promove um posicionamento ativo e, sobretudo, oferece poder, algo que não acontece com o trabalho digno. O trabalho no cárcere é marcado pela exaustão e pela exploração no sistema comum, mas visto como laborterapia na APAC, com oportunidades de aprendizagem e exercício da dignidade humana, mesmo que também marcado por impedimentos e dificuldades.

O nosso estudo teve como limitação o recorte situado do estudo de caso, que, mesmo buscando aprofundamento, não pode ser generalizado para todas as realidades carcerárias, nem mesmo para todos os sistemas do tipo APAC. Portanto, novos estudos podem ampliar os achados da presente pesquisa considerando os consensos e dissensos encontrados nas narrativas biográficas no labor de pessoas privadas de liberdade.

 

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Endereço para correspondência:
Sinara Tereza dos Santos Fidelis
E-mail: sonialberti@gmail.com

Tatiana de Lucena Torres
E-mail: sonialberti@gmail.com

Pedro F. Bendassolli
E-mail: heloeneferreira@hotmail.com

Recebido em: 08/05/2019
Revisado em: 25/07/2019
Aceito em: 11/10/2020
Publicado online: 23/12/2020

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