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Revista Subjetividades

Print version ISSN 2359-0769On-line version ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.21 no.3 Fortaleza sept./Dec. 2021

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v21i2.e11060 

ESTUDOS TEÓRICOS

 

Experiência urbana gay na cidade: uma revisão integrativa

 

Urban Gay City Experience: An Integrative Review

 

Experiencia Urbana Gay en la Ciudad: Una Revisión Integrativa

 

Expérience Urbaine Gay dans la Ville: Une Revue Intégrative

 

 

Victor Hugo BelarminoI; Magda Diniz Bezerra DimensteinII

IDoutorando em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
IIDoutora em Saúde Mental. Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/UFRN

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A experiência urbana de homens gays reveste-se de relevância social e acadêmica, visto que aponta para modos de subjetivação e de circulação na cidade que ressignificam os usos esperados dos espaços, subvertendo os mecanismos de exclusão, de disciplinarização, de higienização e de segregação dos corpos considerados abjetos e indesejáveis. Nesse sentido, buscou-se conhecer de que modo a experiência urbana de homens gays cisgêneros tem sido abordada na literatura científica. Para tanto, realizou-se revisão integrativa da literatura de artigos indexados no portal de periódicos CAPES publicados até abril de 2020, partindo dos descritores experiência urbana (é/exato) AND gay, experiência urbana (é/exato) AND homossexual?, cidade AND homossexual? e cidade AND gay. Encontrou-se 29 publicações exploradas por meio da análise temática. Observou-se que o tema tem crescido em número de publicações majoritariamente investigado nas Ciências Humanas, a partir de abordagem qualitativa de estudos empíricos feita por pesquisadores latino-americanos do sexo masculino. Dois eixos de análise condensam as principais discussões: (1) Gestão das diferenças na cidade; e (2) Homossociabilidade e fragmentação das experiências urbanas. O primeiro aborda a articulação entre os processos de generificação-gentrificação dos espaços e os marcadores sociais da diferença: espaços públicos, estabelecimentos comerciais/de consumo/de lazer e ambientes virtuais que apresentam diferentes graus de abertura à gestão das diferenças na cidade. O segundo explora as relações homossexuais mediadas por normas sociais e relações de poder, revelando uma homossexualidade estilhaçada em diversos estereótipos. A concentração em cidades metropolitanas, nos espaços e momentos de lazer/divertimento ou em usos mediados pelo consumo, são algumas limitações desses estudos ao reforçar um modelo global de gay, descarrilhado das experiências cotidianas. Logo, sujeitos como a "maricona", a "bicha negra" e a "afeminada", contrariam ainda mais os discursos e receitas homogeneizantes de se viver, fissurando as cidades para acolher as diferenças.

Palavras-chave: experiência urbana; homossexualidade; gay; cidade.


ABSTRACT

The urban experience of gay men is of social and academic relevance since it points to modes of subjectivation and circulation in the city that give new meaning to the expected uses of spaces, subverting the mechanisms of exclusion, disciplining, cleaning, and segregation of bodies considered abject and undesirable. In this sense, we sought to know how the urban experience of cisgender gay men has been addressed in the scientific literature. Therefore, an integrative literature review of articles indexed in the CAPES journal portal published until April 2020 was carried out, based on the descriptors urban experience (is/exact) AND gay, urban experience (is/exact) AND homosexual?, city AND homosexual? and city AND gay. We found 29 publications explored through thematic analysis. It was observed that the theme has grown in the number of publications mostly investigated in the Human Sciences, based on a qualitative approach of empirical studies carried out by male Latin American researchers. Two axes of analysis condense the main discussions: (1) Management of differences in the city; and (2) homosociability and fragmentation of urban experiences. The first addresses the articulation between the processes of gender-gentrification of spaces and the social markers of difference: public spaces, commercial/consumer/leisure establishments, and virtual environments that present different degrees of openness to the management of differences in the city. The second explores homosexual relationships mediated by social norms and power relations, revealing homosexuality shattered in different stereotypes. The concentration in metropolitan cities, in spaces and moments of leisure/entertainment, or uses mediated by consumption, are several limitations of these studies as they reinforce a global gay model derailed from everyday experiences. Therefore, subjects such as "maricona", the "black fag" and the "effeminate" contradict even more the homogenizing discourses and recipes of living, cracking cities to welcome differences.

Keywords: urban experience; homosexuality; gay; city.


RESUMEN

La experiencia urbana de hombres gays se viste de relevancia social y académica, ya que señala para modos de subjetivación y de circulación en la ciudad que dan un nuevo significado a los usos esperados de los espacios, subvirtiendo los mecanismos de exclusión, de disciplinar, de higienización y de segregación de los cuerpos considerados abyectos e indeseables. En este sentido, se buscó conocer de qué modo la experiencia urbana de hombres gays cisgéneros está siendo tratada en la literatura científica. Para eso, se realizó una revisión Integrativa de la literatura de artículos indexados en el portal de periódicos CAPES publicados hasta abril de 2020, partiendo de los descriptores "experiencia urbana (es/exacto) AND gay", "¿experiencia urbana (es/exacto) AND homosexual?", "¿ciudad AND homosexual?" y "ciudad AND gay". Fueron encontradas 29 publicaciones por medio de análisis temático. Fue observado que el tema está creciendo en número de publicaciones mayoritariamente investigado en las Ciencias Humanas, a partir de enfoque cualitativo de estudios empíricos hecho por investigadores latino-americanos del sexo masculino. Dos ejes de análisis condensan las principales discusiones: (1) Gestión de las diferencias en la ciudad; y (2) Homosociabilidad y fragmentación de las experiencias urbanas. El primer enfoca la articulación entre los procesos de generificación-gentrificación de los espacios y los marcadores sociales de la diferencia: espacios públicos, establecimientos comerciales/de consumo/de ocio y ambientes virtuales que presentan diferentes grados de apertura a la gestión de las diferencias en la ciudad. El segundo explora las relaciones homosexuales mediadas por normas sociales y relaciones de poder, revelando una homosexualidad destrozada en distintos estereotipos. La concentración en ciudades metropolitanas, en los espacios y momentos de ocio/divertimiento o en usos mediados por el consumo, son algunas limitaciones de estos estudios al fortalecer un modelo global de gay, descarrilado de las experiencias cotidianas. Luego, sujetos como la "maricona", el "maricón negro" y la "afeminada", contrarían todavía más los discursos y recetas homogéneas de vivir, agrietando las ciudades para acoger las diferencias.

Palabras clave: experiencia urbana; homosexualidad; gay; ciudad.


RÉSUMÉ

L'expérience urbaine des hommes homosexuels est d'importance sociale et académique, car elle pointe vers des modes de subjectivation et de circulation dans la ville, ce qui donnent un nouveau sens aux usages attendus des espaces, en renversant les mécanismes d'exclusion, de discipline, de nettoyage et de ségrégation des corps considérés abject et indésirable. En ce sens, nous avons cherché à savoir comment l'expérience urbaine des hommes homosexuels cisgenres a été abordée dans la littérature scientifique. Ainsi, nous avons réalisé une revue intégrative de la littérature des articles indexés dans le portail électronique de la revue CAPES, publiés jusqu'à avril 2020, La revue a été basée sur les descripteurs: 1) expérience urbaine (est/exacte) et gay, 2) expérience urbaine (est/exacte) et homosexuel, 3) ville et homosexuel et 4) ville et gay. Nous avons trouvé 29 publications, qui ont été explorées à travers une analyse thématique. Il a été observé que le thème a augmenté dans le nombre de publications et il a été principalement étudié dans les sciences humaines, sur la base d'une approche qualitative d'études empiriques menées par des chercheurs masculins latino-américains. Deux axes d'analyse condensent les principales discussions : 1) Management des différences dans la ville ; et 2) L'homosociabilité et la fragmentation des expériences urbaines. Le premier aborde l'articulation entre les processus de gentrification des espaces mené par le genre et les marqueurs sociaux de la différence : espaces publics, établissements commerciaux/ de loisirs et environnements virtuels qui présentent différents degrés d'ouverture au management des différences dans la ville. Le seconde explore les relations homosexuelles médiatisées par les normes sociales et par les relations de pouvoir, révélant une homosexualité brisée en différents stéréotypes. La concentration dans les métropoles, dans les espaces et moments de loisir/divertissement ou dans les usages médiatisés par la consommation, sont des limites de ces études car elles renforcent un modèle gay global, déraillé des expériences quotidiennes. Conséquemment, des sujets comme le « fifi », la « fiotte » et l'« efféminé » contredisent encore plus les discours homogénéisants et les recettes de vivre, en brisant les villes pour accueillir les différences.

Mots-clés: expérience urbaine; homosexualité; homosexuel; ville.


 

 

As experiências urbanas de pessoas não-heterossexuais são fortemente reprimidas, invisibilizadas, consideradas anormais e alvos de violência sistemática em diversas sociedades e, mais especificamente, na sociedade brasileira (Peixoto, 2018). Não obstante, ao contraporem-se às normas sociais que ordenam determinadas performances desejáveis em termos de gênero e sexualidade e, ao mesmo tempo, produzirem territórios de sociabilidade próprios, abrem possibilidades de transgressão das barreiras sociais e subversão dos usos esperados da cidade (Simões, França, & Macedo, 2010). Portanto, percebe-se que há uma íntima relação entre esses corpos dissidentes e a cidade, impactando na produção de subjetividades e nos usos dos espaços urbanos. Por outro lado, os modos de vida são forjados na cidade vivida, a qual oferece possibilidades de existência, ainda que pela via do anonimato (Teixeira, 2013). Assim, uma homossexualidade masculina se esgueira pelas frestas da cidade, inebriada nos bares e boates, velada nas sombras da noite, enclausurada entre quatro paredes.

As experiências de homens gays na cidade não são homogêneas e universais, mas historicamente e espacialmente situadas, isto é, marcadas pelas determinações de gênero, raça, classe, etnia e sexualidade, aspectos estruturantes da organização espacial das cidades nos diversos continentes e países, assim como das relações sociais contemporâneas. Em função disso, não podem ser compreendidas fora desses atravessamentos. É o caso, por exemplo, das experiências urbanas gays que ocorrem na realidade das cidades brasileiras e latino-americanas (Silva, 2016). Nossas cidades fazem parte do chamado eixo sul-global, realidade que, historicamente, estiveram subordinadas do ponto de vista econômico, ideológico e espacial ao eixo norte-global, ou seja, uma subordinação sustentada por relações de colonialidade, racialidade, hierarquizações de sexo-gênero e pela atualização de mecanismos de opressão e exclusão da diferença (Dimenstein et al., 2020). Assim, os modos de utilização e de circulação do espaço urbano são forjados por essas relações de opressão e controle, de acordo com o gênero, a sexualidade, a classe, geração e raça (Puccinelli, 2017). Isso quer dizer que os usos dos espaços urbanos e os deslocamentos nas/entre cidades por gays - sejam esses pendulares ou migratórios - são processos intimamente concatenados aos processos de guetificação e periferização econômica e racial (Caggiano & Segura, 2014), frutos, em grande parte, dessa historiografia colonial e imperialista que nos caracteriza. Pois, para além de sua dimensão concreta, a cidade é produto e produtora de sujeitos.

Portanto, as cidades enquanto produtos-produtoras do que somos constituem-se em um campo profícuo de análise da vivência da homossexualidade, a partir da inserção e experiência urbana cotidiana em variadas escalas e dimensões (Chaves & Aquino, 2016; Saraiva, 2012). Essas inúmeras experiências individuais e coletivas aglutinam distintos relatos, imagens, tempos e espaços - revelando uma cidade heterogênea, plural, diversa e atravessada por disputas e conflitos, exacerbando relações de poder (Dalmolin & Vasconcellos, 2008). Ao mesmo tempo, a cidade é pedagógica, pois apreendemos na e pela cidade, símbolos, identidades culturais e valores (Medeiros Neta, 2016). Ademais, na cidade, determinados discursos e racionalidades exacerbam as desigualdades sociais e reforçam os privilégios de uma restrita parcela da sociedade. Ou seja, os espaços públicos se tornam cada vez mais fragmentados, homogeneizados e hierarquizados, instrumentalizando o isolamento, a segregação e a alienação espacial (Tonucci Filho, 2020).

A cidade projetada - diferentemente de uma cidade exercida - inclina-se à otimização da circulação urbana de veículos, mercadorias e pessoas, almejando planificar e simetrizar o espaço urbano e os gestos cotidianos que se cultivam nestes, tornando-os mais racionalizados, tanto funcional quanto esteticamente (Costa, 2014). Nessa cidade ordenada, o domínio privado vai se estendendo ao domínio público, diluindo-o e fabricando novas formas de ser - progressivamente mais individualizadas e avessas ao encontro com o outro (Clemente & Lavrador, 2013). Reforçam-se os espaços urbanos privatizados, para os quais a chave de acesso é o que se tem: dinheiro, relações de influência, códigos de vestimenta e costumes, sobrenome e tradição, círculo de amizades etc. (Costa, 2014; Sousa, 2012).

Algumas consequência dessas formas de subjetivação e sociabilidades individualistas e uso privativo dos espaços são o esvaziamento da vivência e empobrecimento da experiência urbana (Germano, 2009; Sousa, 2012). Os modos de perceber e sentir o mundo tornam-se fragmentados, descontínuos e irrefletidos - os sujeitos apresentam atenção distraída, conhecimento passivo, difuso e periférico sobre os espaços - explorando seu caráter eminentemente informativo e prático, sem neles permanecer à deriva. Essa questão se relaciona ao modo de ser na modernidade, na qual a percepção humana torna-se superficial, epidérmica e a vivência ou percepção, descontínua, desprovida de memória (Lima & Magalhães, 2010).

Tal esvaziamento se articula às experiências urbanas homossexuais, posto que uma cidade avessa às diferenças e à diversidade materializa um mobiliário urbano instransponível, asséptico e impermeável às diferenças, apesar do apelo de certa beleza estética, que nada mais representa do que a sumária expulsão daqueles a quem não se quer encontrar na cidade, retirando desses sujeitos as possibilidades de experimentação e de criação coletiva (Dalmolin & Vasconcellos, 2008; Flach & Paulon, 2019). Determinados discursos pavimentam a eliminação dos desviantes na cidade, a exemplo da insegurança pública e da violência urbana, materializando na indústria do medo, as ferramentas para construção de espaços privados de autoproteção, isolamento e despersonalização (Chaves & Aquino, 2016; Clemente & Lavrador, 2013; Lima & Magalhães, 2010; Sousa, 2012). Periculosidade que também se associa ao campo semiótico da criminalidade através de performances marginais e abjetas, relacionadas à contaminação, imundície, miséria e anormalidade (Cunha, 2019; Heckert, Barros, & Carvalho, 2016; Lima, 2014), dentre as quais, insere-se a homossexualidade.

Na contramão dessa perspectiva, práticas de contraconduta subvertem os usos esperados da cidade, produzindo resistências no cotidiano, alterando os mecanismos de disciplinarização (Batista, 2019; Chaves & Aquino, 2016). Trajetos singulares e efêmeros resistem à captura e identificação (Batista, 2019) e, por esse motivo, são potentes em instituir novos sentidos ao espaço vivido. Portanto, partindo do entendimento que a chave de leitura da cidade necessita orientar-se tanto por uma postura sensível do urbano, na pedagogia pautada em sentimentos, afetos e emoções para o viver urbano (Medeiros Neta, 2016), quanto pela subversão da heteronormatividade compulsória1 dos corpos e dos espaços - passo indispensável para que encontros e afetos tidos como desviantes circulem pela cidade (Lima, 2014), que o presente trabalho, por meio de revisão de literatura, objetiva compreender de que modo a experiência urbana de homens gays cisgêneros tem sido abordada nas produções científicas.

 

Aspectos Metodológicos

Consiste em uma revisão integrativa, visto que "determina o conhecimento atual sobre uma temática específica, já que é conduzida de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos independentes sobre o mesmo assunto" (Souza, Silva, & Carvalho, 2010, pp. 103-104). Nesse sentido, seguiram-se os seguintes passos: elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta dos dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa (Souza, Silva, & Carvalho, 2010).

As perguntas norteadoras, que, por sua vez, orientam um doutoramento em andamento, não tiveram a pretensão de fornecer respostas, mas de gerar um campo de problematizações profícuo, a saber: "de que forma a experiência urbana de homens gays cisgêneros interrogam a vida na cidade?", "quais questões emergem a partir de uma cidade exercida (e excitada) pela homossexualidade?", "que desacomodações provoca na relação corpo-cidade?". Para tanto, realizou-se uma busca no portal de periódicos CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), posto que indexa dezenas de bases de dados de periódicos nacionais e da América Latina, tomando abril de 2020 como limite. Utilizaram-se os seguintes descritores: experiência urbana (é/exato) AND gay, experiência urbana (é/exato) AND homossexual?, cidade AND homossexual? e cidade AND gay. Foram incluídos artigos empíricos ou teóricos, com política de acesso aberto, em português ou espanhol, sem recorte de tempo de publicação e, sobretudo, artigos que possibilitassem, sob alguma perspectiva - seja em sua dimensão espacial, virtual, econômica, corporal, estética, política, moral, étnico-racial, dentre outras -, problematizar a cidade como analisadora das experiências urbanas de homens gays cisgêneros.

Outros espectros de queeridade2 - como a experiência lésbica, transsexual e travesti - não compuseram o levantamento, não por uma irrelevância social e acadêmico-científica, mas por reconhecer a especificidade desses recortes, os quais imprimem tonalidades únicas a essas experiências que se diferenciam nas relações de poder e nas opressões sofridas. A organização e análise dos artigos se deram a partir da análise temática de conteúdo (Minayo, 2008), seguindo-se as seguintes etapas: leitura flutuante para reconhecimento da adequação dos textos à questão norteadora; leitura integral e exaustiva dos textos; fichamento, codificação e categorização dos artigos em eixos temáticos.

 

Resultados e Discussão

Foram identificados 876 trabalhos, dos quais, aplicando-se os critérios de inclusão-exclusão, 29 foram selecionados. Desses, 27 eram empíricos e 2 teóricos. A maioria era de enfoque metodológico qualitativo (28 artigos) e 1 misto. As áreas do conhecimento mais frequentes foram: Antropologia (10 artigos), Psicologia (4 artigos), Ciências Sociais (3 artigos), Sociologia (3 artigos), História (2 artigos) e demais um artigo cada (Administração, Geografia, Educação, Ciências da Saúde, Turismo, Educação em Saúde e Interdisciplinar)

Os artigos de abordagem qualitativa, metodologicamente, realizaram etnografias (15 artigos), entrevistas abertas ou semiestruturadas (10 artigos), observações participantes (5 artigos), análise documental (2 artigos) e estudo de caso (1 artigo). Percebe-se, portanto, o interesse de boa parte desses estudos em acessar e acompanhar os fenômenos estudados no território ao qual se encontra seu objeto de estudo, o que caracteriza o fazer etnográfico (Magnani, 2009).

Todas as pesquisas foram realizadas em cidades metropolitanas, o que reforça a tese da centralidade das metrópoles nesse campo de estudo, a qual está relacionada tanto à dicotomia hierárquica do urbano/rural quanto à racionalidade herdada do colonialismo e da colonialidade do saber-poder, que historicamente instituiu modos de subjetivação em torno do discurso desenvolvimentista, o qual encarna nas metrópoles os signos de civilidade, avanço, desenvolvimento e modernidade (Mayer, 2017). Maia e Dutra (2012) afirmam que os estudos sobre espacialidades urbanas gays, em geral, têm sido um campo de interesse dos próprios homens gays metropolitanos, os quais tendem a analisar os enclaves referentes às suas realidades nas grandes metrópoles, reforçando certo "modelo global de gay" (Maia & Dutra, 2012, p. 77). Ainda que não seja possível verificar nesta revisão se os autores se identificam ou não enquanto gays, é notável a diferença entre o número de pesquisadores do sexo masculino (32 - 74%) em relação ao do sexo feminino (11 - 26%).

Em relação ao pertencimento institucional, os autores estão vinculados a instituições nacionais de ensino, sendo públicas (19 instituições - 73%) e privadas (4 instituições - 15%), bem como de países como Argentina e Canadá (3 instituições - 12%). As afiliações institucionais mais frequentes foram a Universidade de São Paulo (USP - 9 autores, 21%) e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP - 4 autores, 9%).

Regionalmente, se situam nas regiões Sudeste (23 autores - 53%), Centro-Oeste (7 autores - 16%), Nordeste (4 autores - 9%), Sul (4 autores - 9%), Norte (2 autores - 5%) e 3 em outros países (7%). No Sudeste, o estado de São Paulo se destaca com 18 autores (42%); no Centro-Oeste com Mato Grosso do Sul (3 autores - 7%), no Nordeste com Ceará (2 autores - 5%), no Sul se destaca Santa Catarina (2 autores - 5%) e no Norte com Pará (2 autores - 5%).

Os periódicos com maior número de publicações foram a Revista Estudos Feministas (6 artigos - 20%); Cadernos Pagu (4 artigos - 13%); Revista Ártemis (2 artigos - 7%); Revista do Núcleo de Pesquisas Fenomenológicas (NUFEN) (2 artigos - 7%); Sexualidad, Salud y Sociedad (2 artigos - 7%); Estudios y Perspectivas en Turismo (2 - 7%); dentre outros periódicos (12 artigos - 39%)

Os campos de pesquisa mais reportados podem ser organizados em três tipos: (1) estabelecimentos comerciais e circuitos de consumo - bares, boates, saunas e festivais (Antunes & Paiva, 2013; Braz, 2014; França, 2007, 2015a, 2015b; Maia & Dutra, 2012; Moutinho, Lopes, Zamboni, Ribas, & Salo, 2010; Pocahy, 2012a, 2012b; Reis, 2012, 2017; Santos & Pereira, 2016; Silva, 2016); (2) espaços virtuais - salas de bate papo e aplicativos geolocalizados de encontro (Jesus, 2017; Miskolci, 2013, 2016; Zago, 2013); e (3) espaços públicos da cidade - ruas, becos, praias e praças (Campos & Moretti-Pires, 2018; Carman, 2010; Pereira & Ayrosa, 2012; Puccinelli, 2016; Ribeiro, 2016; Rios, 2008). Foram desenvolvidos no Brasil (21 artigos) e na América Latina (5 artigos), ou consistiam em pesquisas multicêntricas (3 artigos). Acerca dos anos de publicação: 2007, 2008, 2011, 2014 e 2019 apresentam uma publicação por ano; 2010 e 2018 - 2 artigos por ano; 2013 e 2017 - 3 artigos por ano; 2015 - 4 publicações; e 2012 e 2016 - 5 artigos por ano. Ou seja, boa parte se concentra entre 2012 a 2016 (18 trabalhos).

Estes artigos foram organizados em dois grandes eixos temáticos: (1) Gestão das diferenças na cidade; e (2) Homossociabilidade e fragmentação das experiências urbanas. O primeiro aborda os modos pelos quais a experiência urbana de homens gays, a partir de diferentes marcadores sociais da diferença, se faz nos espaços da cidade. Nesse sentido, generificação/gentrificação, rua, gueto, festa, lazer, consumo, etnicidade e status socioeconômico foram analisadores centrais para se compreender as dinâmicas de inclusão-exclusão nos espaços da cidade. O segundo eixo, por sua vez, parte da não homogeneidade das relações homossexuais: estilhaços de relações e sociabilidades que transformam as diferenças em desigualdades e produzem/reforçam opressões. Alguns analisadores fundamentais foram: regime de "armário", estereótipos de gênero (o macho, a bicha afeminada, a maricona) e sociabilidade virtual. A partir disso, então, é que problematizaremos na sequência do texto.

Homossexualidade e Gestão das Diferenças na Cidade

Gays são atores ativos nas tramas da cidade, capazes de ressignificar os espaços que circulam. Alude-se à noção de territorialidade para conceber esse investimento codificado itinerante nos espaços, o qual é capaz de se desfazer e se refazer, segundo códigos de sociabilidade que nomeiam e constituem os sujeitos (Silva, 2016). A apropriação dos corpos pelos espaços - e dos espaços pelos corpos - é indicativo dessa sinergia e ligação corpórea, ou seja, corpos abjetos que experimentam uma cidade igualmente precária (Ribeiro, 2016). Dessa forma, reconhece-se a homossexualidade como uma experiência multifacetada e interseccionada a outros eixos de diferenciação e de desigualdades, os quais normalmente agudizam/ampliam exclusões (Almeida, Castro, Razuck, & Mamede, 2017; Antunes & Paiva, 2013; França, 2007; Jesus, 2017; Puccinelli, 2016; Rios, 2008; Silva, 2016; Simonetto, 2018).

Os estudos enfatizam as dinâmicas de exclusão e violência na cidade - avessas à produção e circulação das diferenças. A cidade planejada dificulta processos de empatia, solidariedade ou de identificação com essas alteridades, as quais se interseccionam a outros marcadores sociais da diferença, produzindo o "genocídio" de grupos étnicos, bem como inviabilizando uma memória urbanística desses atores (Moutinho et al., 2010). O afastamento dos centros urbanos e, consequente periferização, é outra marca dessa violência e exclusão, tornando mais comum e frequente a vigilância e violência policial aos grupos marginalizados (Carman, 2010).

Nessa problemática, a díade generificação-gentrificação compõe uma peça fundamental ao entendimento das dinâmicas de exclusão urbana com base nas performances sexo-gênero dos sujeitos. Espaços generificados são capazes de produzir sentidos de valorização ou desvalorização simbólica de ruas e espaços da cidade, seja valorizando a presença identitária de certos atores - considerados sexualmente atraentes e socialmente legítimos -, desse modo atraindo o interesse de futuros compradores e consumidores; seja periferizando aqueles "potencialmente contamináveis" (Puccinelli, 2016, p. 124): "bichas", homossexuais afeminados, pobres, negros e doentes. Demonstra-se, pois, a existência de "ruas declinadas no masculino" (Puccinelli, 2016, p. 124) ou, mais especificamente, um padrão cis-hetero-centrado de masculino. Um corpo gay que se afasta desse padrão, como veremos melhor adiante, sofre exclusão porque assume uma conduta considerada inferior, alegórica, pouco viril e desrespeitosa (Reis, 2012, 2017).

Os "guetos gays" foram, por muito tempo, enclaves que acolheram esses sujeitos da diferença, sendo caracterizados como estabelecimentos e espaços de invisibilidade e precariedade, convivendo com outros códigos marginais (Braz, 2014). A presença reiterada desses sujeitos marcava o lugar, produzindo certa identidade relacionada ao espaço, uma "geografia sexual" (Ribeiro, 2016, p. 144). A existência desses espaços representava para seus usuários a possibilidade de uma "liberdade guetificada" (Ribeiro, 2016, p. 153), onde teciam redes de apoio mútuo e de solidariedades básicas, favorecendo o processo de autoafirmação e publicização enquanto homens gays: associação à metáfora do "coming out of the closet" ou, na versão brasileira, "sair do armário".

Do mesmo modo, os processos gentrificação-generificação atingem os guetos homossexuais, transformando-os em mercados sólidos. Uma pluralidade de iniciativas, circuitos de casas noturnas, festivais de cinema, agências de turismo, livrarias, sites, lojas de roupas, sedimentam uma nova atitude "moderna" sobre esses espaços, esvaziando seu caráter de contestação e novidade (França, 2007). Concomitantemente, opera-se certa "glamourização" em torno das homossexualidades, fortalecendo a segmentação e conformação de estilos, subjetividades e identidades sexuais associadas ao poder de consumo (Braz, 2014). Tal segmentação de espaços acompanha a exclusão daqueles sujeitos que não são tidos como consumidores, inaugurando novas dinâmicas de inclusão-exclusão na cidade (França, 2007). Por esse motivo, testemunha-se a crítica dos ativismos LGBT's ao mercado gay friendly, posto que a luta política deveria estar voltada à possibilidade de circulação em todos os espaços, sejam eles comerciais ou não comerciais, e dar relevo a outras questões além da sociabilidade e do lazer (Braz, 2014).

Se tomada como gueto, a significação da rua é ambivalente: considerada simultaneamente lugar de decadência, pobreza, sujeira e perigo, mas igualmente espaço de liberdade, sociabilidade e resistência. No primeiro caso, ponto de encontro distinto dos estabelecimentos comerciais, onde se tornam mais enfáticos os flertes e as interações corpóreas - inegavelmente, um ponto de exposição (Ribeiro, 2016). Enquanto reduto específico para homens gays vindos da periferia como negros e de pessoas com baixo poder aquisitivo, a rua deteriora-se em termos físicos e materiais, demonstrando que as experiências de precarização vividas impregnam o lugar (Ribeiro, 2016). É referido como ambiente propício para o sexo, sobretudo, em locais de pouca visibilidade e claridade (Antunes & Paiva, 2013; Lanzarini, 2015), especialmente devido à incapacidade de aceder ao espaço privado ou pelo desejo de explorar a sensualidade do prazer-perigo propiciada pela exposição (Simonetto, 2018). Em quaisquer dessas circunstâncias, negativa-se a exposição dos interesses afetivos e eróticos ao espaço público (Miskolci, 2013), frequentemente associada aos lugares de perigo e sujeira, da rua e das pessoas (Puccinelli, 2016), onde se agrupam miríades de marginalidades (Rios, 2008).

De outro ângulo, a rua é dimensionada como possibilidade de liberdade, sociabilidade e resistência. A rua permite a configuração de outras regras, conformando espaços onde sexualidades dissidentes teriam mais liberdade para se expressar (Campos & Moretti-Pires, 2018). Emerge também como espaço de flexão das discriminações sofridas em outros contextos e relações - familiares, laborais, institucionais -, isto é, a rua como promessa de acolhimento das experiências (Ribeiro, 2016). Todavia, esse acolhimento da pluralidade de experiências não dissipa as tensões entre os marcadores das diferenças, os quais continuam a articular raça, língua, classe, gênero e sexualidade na disputa por acessos e espaços de sociabilidade (Moutinho et al., 2010). Ao contrário, empurra corpos abjetos para espaços marcados por menor prestígio social e integração (França, 2007) e imprime maior ou menor masculinidade a determinados sujeitos e espaços (Puccinelli, 2016).

A raça/etnicidade é outro marcador que ajuda a compreender os modos de gestão da sexualidade na cidade (Braz, 2014; Moutinho et al., 2010; Pocahy, 2012a; Puccinelli, 2016; Santos & Pereira, 2016; Silva, 2016). A utilização dos critérios raciais é imprescindível para compreender a manutenção dos privilégios e dos discursos da superioridade masculina branca (Moutinho et al., 2010). Verifica-se forte vínculo entre raça, sexo e desejo - encruzilhada que hipersexualiza, objetifica e deslegitima os corpos negros - subjetivando, inclusive, a forma como os gays negros, em diferentes posições sociais, significam o próprio corpo nas interações (Santos & Pereira, 2016). Isso produz imagens como a da "bicha negra", simultaneamente, uma negação do lugar de homossexualidade (designação progressivamente romantizada ao longo do tempo), e sua associação à pobreza material, inerentemente atribuída à rua (Puccinelli, 2016). A própria cidade, em sua memória urbanística, está impregnada desse apagamento de certos grupos étnicos, quando os nomes de ruas, praças e das próprias cidades representam exclusivamente o "homem branco" (Moutinho et al., 2010).

O status socioeconômico consiste em outro elemento-chave da gestão das diferenças na cidade, porém divide posicionamentos: alguns autores positivam a relação entre a capacidade de consumo como ascensão à cidadania e ao direito à cidade (Braz, 2014; França, 2007, 2015a, 2015b; Jesus, 2017; Pereira & Ayrosa, 2012), enquanto outros desenvolvem análises críticas em torno da segregação e segmentação dos espaços orquestrados pelo capitalismo gay friendly, nos quais os homens brancos urbanos e influentes representariam uma faixa bem estreita da queeridade (Miskolci, 2016; Puccinelli, 2016): "consumidores exemplares numa sociedade que julga a todos por sua habilidade de consumir" (Mortimer-Sandilands, 2011, p. 188). No primeiro caso, a existência de "ilhas de tolerância dentro da cidade" (Antunes & Paiva, 2013, p. 1132) é lida como uma aceitação plena de indivíduos LGBT's e fator de crescimento socioeconômico (Jesus, 2017). Tolerância, nestes termos, se tornaria indicativo de justiça social e inclusão - convivência harmônica com as diferenças em locais de sociabilidade (Antunes & Paiva, 2013; França, 2015a, 2015b).

As festas, enquanto parte dessas ilhas de tolerância na cidade, são reconhecidas como espaços-tempo que rompem com certas normas prescritas socialmente e permitem expressar os excessos que normalmente não se produzem no cotidiano, capazes de alterar a paisagem urbana e aquecer a "cidade e o bolso dos comerciantes e da rede hoteleira" (Maia & Dutra, 2012, p. 83). Alude-se à noção de um "carnaval gay" (Silva, 2016, p. 38), que abrigaria uma multiplicidade de identidades, estilos de vida e expressões da sexualidade. Os diferentes níveis de consumo - dos corpos, do espaço, de bens e produtos - associados ou não à festa, são entendidos como uma ação política, produtora de subjetividades e práticas (França, 2007), bem como fenômeno cultural e foco privilegiado para a compreensão da vida contemporânea, ultrapassando suas razões práticas ou utilitaristas (Braz, 2014).

Entretanto, como já mencionado, a festa e os circuitos de consumo e lazer - em escala local ou global - oferecem um recorte muito limitado de todas as experiências possíveis na cotidianidade das cidades. A associação da cidade com cosmopolitismo, fruição e consumo produzido pelos festivais, sobretudo, em escala transnacional de circulação, termina por obscurecer o entendimento sobre o homem gay comum, aquele que não acessa esses espaços e práticas. Questiona-se em que medida esses estabelecimentos comerciais, os festivais e eventos, consistem em espaços efetivos de existência das diferenças ou, pelo contrário, de segregação das diferenças, já que se restringem a lugares e momentos específicos, além de não incluírem sujeitos como as "bichas" pretas e pobres.

Acerca da gestão das diferenças na cidade, a experiência urbana homossexual, se descolada de um olhar crítico, termina por reforçar os mecanismos existentes de exclusão e de disciplinarização da vida, o afastamento das diferenças e multiplicidades, suprimindo os "outros espaços" pelo "espaço do mesmo" (Heckert, Barros, & Carvalho, 2016; Santos & Pereira, 2016). Nestes termos, outros caminhos de normatização, regulamentação e "gestão dos ilegais na cidade" (Batista, 2019, p. 3) estão sempre sendo forjados, ou seja, autorizando determinados espaços heterotópicos - bares, boates, festas e os espaços virtuais -, ao passo que higieniza outros espaços da cidade - ruas, praças, dentre outros espaços públicos.

Cidade, Homossociabilidade e Fragmentação das Experiências

Partindo do entendimento que as cidades são constituídas por meio das práticas e das vivências/experiências cotidianas nos espaços urbanos, e que essas práticas encontram no corpo uma superfície de ação - "corpografias urbanas" que constituem "corpo-cidades" (Britto & Jacques, 2012, p. 152) -, reconhece-se a homossexualidade enquanto dispositivo multifacetado e difuso, que encontra no discurso moral da modernidade forte inclinação à disciplinarização e ao controle desses corpos e dos espaços (Braz, 2014; Campos & Moretti-Pires, 2018; Pereira & Ayrosa, 2012). A homossexualidade não está dada na natureza, ainda que racionalidades modernas se esforcem por localizá-la na biologia, determinando-a como uma doença e fruto da artificialidade das cidades (Mortimer-Sandilands, 2011). Desse modo, engloba um feixe heterogêneo de tecnologias políticas, capaz de estimular corpos, intensificar prazeres, incitar discursos, formar conhecimentos - articulando, simultaneamente, a capacidade de reforçar o controle dos corpos e de produzir resistências, isto é, estratégias de saber e de poder instituídas e instituintes de jogos de verdade, realidades, corpos e subjetividades (Zago, 2013).

Nesses termos, evocaremos o termo "homossociabilidade" para designar essas várias possibilidades de relações e de encontros desses corpos gays na cidade. Mesmo quando não implica ativismo, funciona como importante dispositivo de subjetivação quanto à orientação sexual: corrobora tanto com o autorreconhecimento de si enquanto homens gays, quanto sua aceitação e legitimação pelas outras pessoas (Albertini, Costa, & Miranda, 2019; Maia & Dutra, 2012). Como já mencionado, entende-se a "saída do armário" como processo de reconhecimento da orientação sexual ou identidade de gênero pelas minorias sexuais. Desse modo, a saída para si mesmo precede a saída para os outros, ainda que não represente a resolução dos conflitos, nem estabilidade à identidade, pois perduram sentimentos de inautenticidade e uma série de riscos com a revelação (Albertini et al., 2019).

Entretanto, "sair do armário" nem sempre representa um mecanismo de autoafirmação, posto que diversos homens, que se relacionam com outros homens, levam uma vida dupla, separando sua homossexualidade das relações profissionais e familiares (Maia & Dutra, 2012). Assim, reforçam e ampliam esses armários, através dos quais ressignificam suas homossexualidades e vão anunciando seus desejos (Santos & Pereira, 2016; Zago, 2013). Nesse sentido, o "regime de armário" pode ser lido como um modo particular de experiência de homens gays, o qual impede a aceitação plena da diferença (Jesus, 2017). Isso demonstra que o ato de se reconhecer homem gay continua atravessado por valores morais e políticos conservadores, o que gera desinteresse pelo modo de afirmação política em torno da homossexualidade, compreendido como indicativo de perda de masculinidade e virilidade (Zago, 2013).

Em termos da homossociabilidade, os encontros nos espaços da cidade comportam uma série de fragmentações da experiência urbana e homossexual. Um desses fragmentos é o estereótipo do homem gay feminino-feminizado-feminilizado-afeminado (Pereira & Ayrosa, 2012). Esse modo de expressão gay constantemente torna-se desqualificado por suas expressões supostamente mais femininas, exacerbando o preconceito acerca da "bicha pintosa" (Reis, 2012, p. 80) e "extravagante" (Jesus, 2017, p. 69). Os homens gays afeminados borram as fronteiras entre a masculinidade e a feminilidade, desestabilizando a coerência fictícia do dispositivo da sexualidade e, portanto, tornam-se ininteligíveis aos padrões socialmente aceitos em torno do homem-macho-másculo-discreto-normal (Zago, 2013).

Por sua vez, a antítese do gay afeminado - a figura do homem "macho" -, movida pela fobia ao efeminamento (Miskolci, 2013), leva àqueles que se autoidentificam como "machos" a orientarem suas práticas, corpos e performances segundo a racionalidade de dominação masculina heterocentrada (Campos & Moretti-Pires, 2018). Assim, reproduzem estereótipos e valores vinculados à masculinidade hegemônica e à heteronormatividade (Jesus, 2017). Ganha centralidade nesse padrão o dispositivo da penetração - mecanismo de subjugação e hegemonia, que associa o "ativo" enquanto ator ontologicamente inclinado à norma heterossexual. Para muitos, estar na posição de penetrantes reforça seu status de macho, ao passo que os afastariam da alcunha de gays (Almeida et al., 2017). É evidente, nesse modo de subjetivação, a binaridade e complementaridade de gênero, o qual orienta as performances homossexuais (Simonetto, 2018). Essa performatividade sóciossexual - no uso ético/estético que faz da sexualidade - produz certa fraternidade idealizada, que torna indispensável se "passar por hétero" e ser "discreto" para aceitar e ser aceito (Cardoso, 2015; Miskolci, 2013), modulando constantemente o grau de exposição resultante de suas práticas homo-orientadas, por meio do manejo de um complexo sistema de códigos eróticos e comportamentais (Jesus, 2017; Simonetto, 2018). Ademais, apresentam certa expectativa de origem socioeconômica, étnico-racial e cultural, desejabilidades que têm como horizonte o sujeito branco e de elevado poder socioeconômico (Miskolci, 2013).

A idade é outro fragmento de homossociabilidade gay. A paquera face a face dos homens gays mais velhos (a maricona) - segundo uma cultura de experimentação nos espaços, marcada pela incerteza e o acaso, à deriva e sem um caminho traçado - entra em decadência e passa a ser entendida como rude pelos mais novos, ao passo que as mídias digitais e aplicativos geolocalizados ganham força entre os mais jovens, representando uma barreira ainda não ultrapassada por gerações mais antigas, gerando estranheza e dificuldades relacionais (Miskolci, 2016). Desse modo, uma série de interditos da idade e a restrição dos espaços de homossociabilidade se produzem em meio aos dramas pessoais e existenciais da "bicha velha" - solidão, dificuldades para conseguir parceiros, limitações físicas, doenças e angústia pela proximidade da morte (Cardoso, 2015). A velhice, nestes termos, pode ser lida como fator de abjeção, corpo considerado de menor valor, mas que se mostra resistente às forças normativas, na medida em que permanece produzindo desobedientes formas de experimentação da sexualidade e reafirmando certo erotismo no envelhecimento - através da qual os sujeitos envelhecentes tornam-se reconhecíveis e passíveis de serem pensados e inteligíveis (Pocahy, 2012a), contrariando, assim, o "corpo pleno, veloz, dinâmico (...) da utopia biopolítica do projeto moderno, um corpo que não chega a ser alcançado" (Pocahy, 2012b, p. 372).

Nessa mesma linha argumentativa, reconhece-se que a revolução tecnológico-informacional e a consequente popularização das telefonias móveis e de inúmeros aplicativos de geolocalização consistem em uma problemática recente que introduz novas questões a esse debate. Consoante Miskolci (2016), instaura-se uma nova economia do desejo, higienizando as relações nos espaços da cidade, inscrevendo-as, cada vez mais, nos espaços virtualizados. Desse modo, um conjunto articulado de transformações visa atender aos interesses cada vez mais particulares, adotando medidas que reformam o aparelho urbano, encarecendo-o. O gradativo esvaziamento dos usos da cidade pela diversidade dos corpos tem como um de seus efeitos a saída dos moradores antigos, dando lugar a sofisticados circuitos de consumo e lazer, voltados à boemia e ao consumo (Miskolci, 2016).

Sociabilidades virtual-digitalizadas por meio das mídias locativas são, ainda, exemplos contumazes da dissociação da pessoa do espaço real ou autêntico (Dallabona-Fariniuk & Firmino, 2018). Entende-se que o crescente uso da internet para o estabelecimento de redes de amizades e trocas de informações acerca de espaços e identidades homossexuais introduziu mudanças profundas na esfera da economia e da estrutura urbana: facilitou a formação de redes relacionais seletivas, através das quais se intensificaram os choques entre diferentes formas de estilizar a homossexualidade, ao passo que fortaleceram as barreiras que separam e enquadram os indivíduos em determinados padrões de prestígio e desejabilidade (Braz, 2014; Miskolci, 2016). Afirma-se que a internet produziu a desterritorialização de um modo de sociabilidade anterior centrada nos guetos - bares, boates, saunas e espaços específicos da cidade - higienizando a busca de parceiros, tornando o espaço público cada vez mais controlado e afeito às sociabilidades heterossexuais hegemônicas. As vivências das homossexualidades voltam-se cada vez mais ao âmbito privado, individualizado (Miskolci, 2016). Por esse motivo, é possível significar a internet enquanto uma forma de armário ampliado (Zago, 2013) ou, melhor, um "armário para dois" (Miskolci, 2013, p. 312) já que o manejo dessas sociabilidades na internet se concretiza em meio ao compartilhamento do perigo permanente de exposição, materializando um sofisticado regime social de controle da sexualidade.

Em síntese, os aplicativos geossociais inauguram um modo particular de vitrine homoerótica e relacional, através dos quais outras maneiras de sentir e perceber os corpos e os espaços perdem importância perante o domínio da imagem - principal forma de expressão na virtualidade. Portanto, os aplicativos geossociais gays, além de não inibirem os estereótipos mencionados anteriormente, criam condições para que se fortaleçam (Jesus, 2017). Diferentemente de um corpo à deriva, que se expõe inteiramente nas suas andanças pela cidade, o corpo em circulação na biossociabilidade on-line não é mostrado em sua integralidade: apenas um recorte específico vira amostra: do pescoço abaixo, ou seja, "armário de vidro habitado por corpos-sem-cabeça" ou por "corpos-sem-face" (Zago, 2013, p. 425). A internet, dessa forma, potencializa a tendência à idealização de certas inserções sociais, as quais se vinculam a dispositivos já conhecidos de regulação e disciplinarização dos corpos com base em construções sociais normativas de gênero e sexualidade, sexualizando e explodindo os discursos sobre os desejos, valores, preferências (Miskolci, 2013).

 

Considerações Finais

Os dois eixos discutidos anteriormente reforçam a tese de que tanto os corpos quanto os espaços - ou, parafraseando Britto e Jacques (2012), os "corpo-espaços" - são generificados, os quais só podem ser adequadamente compreendidos a partir de um enfoque interseccional, posto que os modos de gestão das diferenças na cidade e as formas de homossociabilidade desses sujeitos articulam diferentes vetores de opressão e de relações desiguais de poder com base na raça, na origem socioeconômica e socioespacial, nas performances de sexo-gênero (experiências dicotomizadas e misóginas em torno de sujeitos ativos-passivos, penetradores-penetrados, machos-bichas, dominador-dominado), dentre outros (Facchini, Carmo, & Lima, 2020).

Esses trabalhos demonstram que as experiências urbanas homossexuais têm sido alvo de reflexão na atualidade, e que a cidade (e seus usos) é o ponto de partida de todos esses trabalhos, pois revelam o corpo como instrumento de mediação entre os sujeitos-espaços e entre os sujeitos-sujeitos. Entretanto, grande parte desses estudos não focam nos corpos imersos em uma dada cotidianidade, pelo contrário, encontram corpos que se dispõe em espaços-tempo específicos - nas saunas, nas festas, nos bares, nos circuitos de divertimento e lazer. Ainda que a cidade se mostre indissociável da experiência cotidiana (Lima & Magalhães, 2010), pouco é discutido sobre os homens gays ordinários, aqueles que trilham trajetórias efêmeras, apesar de inventivas, ficcionais e subversivas.

A aproximação dos usos da cidade pela via do divertimento-lazer carrega, por sua vez, uma forte discussão sobre o consumo: enquanto uns trabalhos associam o consumismo à produção de espaços gentrificados, homogeneizados e segregados - acentuando desigualdades, exclusões e impedindo a efetivação do direito à cidade como resultado da luta anticapitalista (Magrini & Catalão, 2017), outra parte dos trabalhos positivam o consumo, entendendo-o como dispositivo que comunica identidades, gera o sentimento de inclusão-pertencimento e atribui significados à estética do corpo - o qual, indiretamente, se torna uma chave de leitura necessária ao entendimento de uma cidade que festeja a diversidade, tolerância e pluralidade, ainda que, na maior parte do tempo e dos espaços, reforce mecanismos de dilaceração das diferenças.

Ao considerarmos a potência das intervenções anônimas, efêmeras, não tradicionais ou não autorizadas para desfazer os lugares sacralizados de saber-poder na cidade (Flach & Paulon, 2019), esses corpos abjetos demonstraram ser potentes para desvelar as contradições na cidade e desterritorializar relações de poder. Logo, faz-se necessário empreender novas análises sobre sujeitos como a "maricona", a "bicha negra" e a "afeminada". Pois, esses atores contrariam tanto os discursos e receitas homogeneizantes de se viver nas cidades, quanto os segregacionismos, os quais impedem que diferentes subjetividades e classes sociais circulem (Flach & Paulon, 2019; Heckert, Barros, & Carvalho, 2016). Desse modo, abrem caminhos na cidade para produção de novas experiências urbanas: sociabilidades, contra-usos e expressão da diversidade.

 

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Endereço para correspondência:
Victor Hugo Belarmino
E-mail: victorbelarmino@outlook.com

Magda Diniz Bezerra Dimenstein
E-mail: mgdimenstein@gmail.com

Recebido em: 07/08/2020
Revisado em: 07/04/2021
Aceito em: 07/06/2021
Publicado online: 10/01/2022

 

 

1 Como se observa em Butler (2003), a heteronormatividade compulsória corresponde à "matriz de inteligibilidade" que institui e ordena socialmente os discursos em torno dos corpos, de modo a legitimar o modelo heterossexual, o qual está ancorado na biologia e na dicotomia falocêntrica dos corpos e dos comportamentos.
2 Este termo consiste em uma tradução livre de "queerness": conceito oriundo da Teoria Queer que encontra em Butler (2003) seu grande expoente. Refere-se aos corpos que não se encaixam dentro das normas socialmente estabelecidas de sexo-gênero, são considerados ininteligíveis, abjetos, bizarros - "queers".

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