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Revista Subjetividades

versão impressa ISSN 2359-0769versão On-line ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.21 no.spe Fortaleza  2021

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.RS.V21IESP1.E9303 

ESPECIAL: PSICOLOGIA & FENOMENOLOGIA

 

Reescrevendo o percurso da psicologia existencial: um retorno a kierkegaard

 

Rewriting the Path of Existential Psychology: A Return to Kierkegaard

 

Reescribiendo el Trayecto de la Psicología Existencial: un Regreso a Kierkegaard

 

Réécrire le chemin de la psychologie existentielle: Un Retour à Kierkegaard

 

 

Ana Maria López Calvo de FeijooI; Myriam Moreira ProtasioII

IProfessora Associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Bolsista Produtividade CNPQ, Cientista do Nosso Estado - FAPERJ, Pro cientista UERJ. Coordenadora do Laboratório de Fenomenologia e Estudos em Psicologia Existencial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
IIPsicóloga. Doutorado em Filosofia no PPGFIL/UERJ; Pós-doutorado em Psicologia no PPGPS/UERJ. Professora Colaboradora no Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro (IFEN). Pesquisadora no LAFEPE/UERJ

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste estudo é mostrar que a psicologia existencial e suas repercussões na clínica têm início no pensamento de Søren Aaybe Kierkegaard (1813-1855). Defendemos que há uma narrativa pregressa, esquecida e, portanto, inexplorada, da psicologia que se constitui nas condições de possibilidade da perspectiva existencial. Uma releitura das obras psicológicas de Kierkegaard nos permite reescrever outro percurso da psicologia, que ocorre à margem do que é mais conhecido e divulgado. Por meio de uma revisão narrativa da literatura de autores que constituíram sua compreensão da psicologia existencial fazendo referência ao pensamento de Kierkegaard, concluímos que as apropriações das teses desse filósofo ocorrem de diferentes formas, de acordo com a perspectiva epistemológica que as inspiram: psicologia empírica, psicologia existencial-humanista e psicologia existencial. Com este estudo identificamos que os elementos que diferenciam essas perspectivas, tanto no que diz respeito à formulação da psicologia como da clínica psicológica, são, respectivamente, os conceitos de liberdade e subjetividade humana e a compreensão de relação.

Palavras-chave: Søren Kierkegaard; psicologia existencial; clínica psicológica; psicologia existencial-humanista; psicologia empírica.


ABSTRACT

This study aims to show that existential psychology and its repercussions on the clinic begin with the thought of Søren Aaybe Kierkegaard (1813-1855). We defend that there is a previous, forgotten, and, therefore, the unexplored narrative of psychology that constitutes the conditions of possibility of the existential perspective. A rereading of Kierkegaard's psychological works allows us to rewrite another path in psychology, which takes place outside what is better known and disseminated. Through a narrative review of the literature of authors who constituted their understanding of existential psychology referring to the thought of Kierkegaard, we conclude that the appropriations of this philosopher's theses occur in different ways, according to the epistemological perspective that inspires them: empirical psychology, existential-humanist psychology, and existential psychology. With this study, we identified that the elements that differentiate these perspectives, both concerning the formulation of psychology and clinical psychology, are, respectively, the concepts of human freedom and subjectivity and the understanding of the relationship.

Keywords: Søren Kierkegaard; existential psychology; psychological clinic; existential-humanist psychology; empirical psychology.


RESUMEN

El objetivo de este trabajo es enseñar que la psicología existencial y sus repercusiones en la clínica tienen inicio en el pensamiento de Soren Aaybe Kierkegaard (1813-1855). Defendemos que hay una narrativa anterior, olvidada y, por lo tanto, inexplorada, de la psicología que se constituye en las condiciones de posibilidad de la perspectiva existencial. Una relectura de las obras psicológicas de Kierkegaard nos permite reescribir otro trayecto de la psicología, que ocurre al margen de lo que es más conocido y difundido. Por medio de una revisión narrativa de la literatura de autores que constituyeron su comprensión de la psicología existencial haciendo referencia al pensamiento de Kierkegaard, concluimos que las apropiaciones de las tesis de este filósofo ocurren de diferentes formas, de acuerdo con la perspectiva epistemológica que las inspiran: psicología empírica, psicología existencial-humanista y psicología existencial. Con este trabajo identificamos que los elementos que diferencian estas perspectivas, tanto con relación a la formulación de la psicología como de la clínica psicológica, son, respectivamente, los conceptos de libertad, y subjetividad humana y la comprensión de relación.

Palabras clave: Soren Kierkegaard; psicología existencial; clínica psicológica; psicología existencial-humanista; psicología empírica.


RÉSUMÉ

Le but de cette étude est de montrer que la psychologie existentielle et ses répercussions sur la clinique commencent avec la pensée de Søren Aaybe Kierkegaard (1813-1855). Nous défendons qu'il existe un récit antérieur, oublié et donc inexploré de la psychologie qui est constitué chez les conditions de possibilité de la perspective existentielle. Une relecture des travaux psychologiques de Kierkegaard permet de réécrire un autre chemin de la psychologie, qui se déroule en dehors de ce qui est mieux connu et diffusé. Au travers d'une revue de la littérature des auteurs qui ont constitué leur compréhension de la psychologie existentielle en référence à la pensée de Kierkegaard, nous concluons que les appropriations des thèses de ces philosophes se produisent de différentes manières, selon la perspective épistémologique qui les inspire : psychologie empirique, -psychologie humaniste et psychologie existentielle. Avec cette étude, nous avons identifié que les éléments qui différencient ces perspectives, en ce qui concerne la formulation de la psychologie ou en ce qui concerne la psychologie clinique, sont, respectivement, les concepts de liberté humaine et de subjectivité et la compréhension des relations.

Mots-clés: Søren Kierkegaard; psychologie existentielle; clinique psychologique; psychologie existentielle-humaniste; psychologie empirique.


 

 

O percurso da psicologia como ciência e o desapontar da psicologia clínica tal qual estamos habituados a conceber, que toma forma a partir do "veto kantiano" - que acabou por estabelecer os novos critérios de cientificidade no século XIX -, não faz jus a toda uma tradição de pensamento que teve lugar antes mesmo de 1879, ano da fundação do primeiro laboratório de psicologia. A história da psicologia na pluralidade de seus estudos pode ser considerada como histórias das psicologias, distante de uma narrativa única sobre o percurso do saber psi. Há uma narrativa pregressa, esquecida e, portanto, inexplorada, da psicologia que se constitui nas condições de possibilidade da perspectiva existencial. Compreendemos que, com as leituras das obras psicológicas de Kierkegaard, podemos reescrever outro percurso da psicologia, que ocorre à margem do que é mais conhecido e divulgado.

A decisão de estabelecer como referência os escritos de Kierkegaard se deve ao fato de que esse filósofo é constantemente referido pelos estudiosos do tema psicologia existencial como o "pai do existencialismo", conforme o texto de May (1977a) intitulado Orígenes y significado del movimiento existencial en psicología. Outros pesquisadores de Kierkegaard também fazem essa referência, como Marino (1997), em seu texto Anxiety in the concept of anxiety, no qual ele se refere ao livro de Kierkegaard, assinado com o pseudônimo Vigilius Haufniensis, como "o livro fonte para a psicologia existencial e a psicanálise" (Marino, 1997, p. 308).

No entanto o fundamento dessa tradição e o sentido conquistado pela psicologia existencial relacionado ao pensamento de Kierkegaard permanecem ainda pouco explanados. Entendemos que para melhor alcançar a relação de Kierkegaard com a própria tradição de constituição dessa ciência, bem como para compreender a clínica psicológica que se estabelece a partir desse modo de compreender a psicologia, precisamos trazer à baila uma análise de temas que perpassam a psicologia e que tomam Kierkegaard como figura de referência, tais como: angústia, possibilidade, desespero, repetição, amor, salto e paciência com um maior detalhamento.

Primeiramente, precisamos esclarecer que a psicologia do ponto de vista experimental e empírico, desde o advento da modernidade, manteve uma forte influência nos estudos e pesquisas psicológicas. Atualmente, essa força e expansão se acentuam pela inserção da neuropsicologia no âmbito das teorias e práticas psicológicas. Por outro lado, há uma força idealista e romântica na constituição da psicologia que traz em seu bojo a lógica dedutiva. Ao lado dessa tendência, sempre esteve presente um modo de pensar que resistia à objetivação da existência, bem como outro modo que tomava o sujeito com uma dinâmica psíquica formalmente dada. Desse modo de compreender o psiquismo humano resultou a psicologia psicodinâmica. Kierkegaard (2010a) retira a psicologia desses dois campos do saber, a neuropsicologia e a psicologia psicodinâmica, defendendo que a psicologia não pode se encontrar na esfera da dogmática, nem da lógica, nem da ética. Ele diz que à psicologia cabe deter-se na angústia, espaço de possibilidade. Sharpless (2013, pp. 91-92) também desenvolve esse tema ao afirmar que Kierkegaard questionou a maneira como seu tempo compreendida a ciência, ora fundada numa lógica imanente, ora numa imanência com uma transcendência difícil de ser explicada.

Como resposta ao encaminhamento da ciência em seu tempo, Kierkegaard (2010a), sob o pseudônimo Vigilius Haufniensis, defende que a ciência precisa ser compreendida a partir da atmosfera que lhe é própria, legando a atmosfera do desinteresse à lógica; à ética, a atmosfera do julgamento; e à psicologia restariam duas possibilidades: postar-se de forma lógico/metafísica, limitando-se à descrição dos fenômenos ou, então, assumir a angústia como seu objeto de estudo, resguardando espaço para a possibilidade.

Acompanhando o percurso traçado pela filosofia da existência, pretendemos mostrar as bases que sustentam uma proposta existencial em psicologia, a qual teve início nas elaborações filosóficas de Kierkegaard. Sabemos que tal posicionamento é alvo de crítica e desconfianças, que acabam por apontar para uma inviabilidade de pensar a psicologia em termos existenciais. Uma crítica, por exemplo, fala da impossibilidade de se articular uma psicologia por meio da filosofia (Guignon, 1993). Como podemos encontrar no trecho em que esse autor afirma: "Acredito que o declínio do existencialismo pode ser atribuído à crescente suspeita de que a imagem da condição humana é demasiado limitada para apreender as realidades concretas da existência atual" (Guignon, 1993, p. 234). A questão que se impõe é: tal crítica procede ou há nesse comentário um desconhecimento das condições que abrem a possibilidade de outro modo de pensar o psiquismo humano, para além de uma perspectiva empírica e idealista? Para podermos traçar outro caminho de edificação da psicologia e respectiva ação clínica é que vamos apresentar nossos argumentos.

Para fins de organização dos argumentos que queremos sustentar, dividiremos a nossa discussão sobre como o pensamento de Kierkegaard é acolhido pela psicologia em três grandes vertentes: a psicologia como ciência empírica, tal como idealizada pela ciência moderna; a psicologia humanista-existencial desenvolvida em uma tradição idealista, em sua vertente romântica; e a psicologia existencial que pensa o homem em seu caráter existencial.

 

A Psicologia em suas Raízes Empíricas

A psicologia, ao tentar se estruturar como ciência empírica, quer responder aos questionamentos dos filósofos voltados para a filosofia da ciência, como Immanuel Kant (1724-1804) e August Comte (1798-1857), que se referiam à impossibilidade de constituição da psicologia como disciplina científica. De início, Kant defendeu a tese de que era impossível à psicologia conhecer o seu objeto. Os argumentos de Kant (2001) com relação à insustentabilidade dessa área de saber dirigiam-se ao fato de que o objeto temático da psicologia, a saber, a alma, poderia ser postulado no âmbito prático, mas não poderia objetivamente ser cognoscível. Desse modo, a alma não poderia ser tomada como objeto científico. O conceito de alma que sustentava a psicologia racional e empírica não possuía fenomenalidade. Logo, não poderia ser acessado fenomenicamente, concluindo o filósofo que o objeto de estudo dessa área de saber não seria passível de alcance. Klempe (2014, p. 125), por outro lado, observa que Kant jamais abandonou a tarefa de considerar a possibilidade de uma psicologia empírica, a despeito do fato de ele muito cedo ter declarado que a psicologia não poderia ser considerada como ciência. Kant, seis anos antes de sua morte, publicou sua compreensão de psicologia em seu último livro, intitulado Antropologia de um ponto de vista empírico, no qual ele define a psicologia em termos de uma antropologia (Klempe, 2014, p. 123).

August Comte (1830/1991) construiu uma epistemologia positiva perguntando pelo modo como se devem descrever as positividades do objeto empírico. Com a sua exigência da positividade inerente ao objeto de estudo, descartou totalmente a possibilidade da construção de uma teoria voltada para o estudo do psiquismo, já que este não possuía materialidade alguma.

Considerando os argumentos de Kant e Comte (ambos oriundos da epistemologia) desde a fundação das disciplinas científicas, a psicologia não poderia se constituir como ciência, uma vez que apresentava ou o problema do acesso por via da dedução do seu objeto específico, ou não possuía um objeto para o qual dirigir empiricamente os seus estudos.

A psicologia dessa época tenta resolver o problema de seu objeto. Segundo Arruda (2010, p. 222), no final do século XVIII, em resposta às provocações de Kant que impossibilitavam a psicologia como ciência autônoma, por lhe faltar os elementos necessários para se constituir uma psicologia propriamente dita, inicia-se uma tradição fisiologista nas investigações em psicologia, culminando na formulação do projeto de psicologia como ciência da experiência com Wundt e Titchener. Nesse momento, o psicológico dizia respeito à experiência (Arruda, 2010, p. 225), na qual a sensação teria o lugar de mediação entre o físico (os estímulos), o fisiológico (as energias nervosas) e o psicológico (a experiência). A sensação passa a ser, então, o elemento da psicologia.

Kierkegaard, escrevendo no início da década de 40 do século XIX e, portanto, antes do movimento fisiologista do final do século XIX, já chamava a atenção de seus contemporâneos para a confusão de sentidos a que eram levados os estudiosos da psicologia ao não considerarem seus objetos de estudo a partir de sua tonalidade mais própria. Em diálogo com as tradições epistemológicas (Descartes e Hegel) e teológicas (os bispos de Copenhagen) de seu tempo, o filósofo busca elucidar acerca da psicologia e daquilo que seria seu objeto de estudo (Kierkegaard, 2010a). Nessa oportunidade, ele se desvia da proposta da sensação como elemento da psicologia e afirma que a angústia era o tema sobre o qual os estudos da psicologia deveriam se debruçar.

Por meio de seu pseudônimo Vigilius Haufniensis, Kierkegaard (2010a) destaca que um fenômeno relevante para o cristianismo, o pecado, ficava distorcido e mal compreendido quando tratado fora de seu campo próprio. Ele desenvolve amplamente que a compreensão que temos acerca do pecado tem várias vertentes: no campo da dogmática, é um dado natural contra o qual o homem nada pode; no campo da primeira ética (aristotélica), o pecado é algo do qual o homem pode se proteger, desde que assuma certas disposições idealizadas pela doutrina; psicologicamente, como comportamento do homem que pode ser observado e mapeado em suas determinações.

Interessa-nos chamar a atenção para outra perspectiva de consideração do pecado, oriunda não da psicologia enquanto ciência da observação, mas de uma psicologia que se dirige ao existencial. Essa psicologia, ele diz, não está preocupada com o pecado, mas com sua possibilidade, podendo acompanhar o acontecimento até o momento em que a possibilidade se desenha e não podendo seguir além deste ponto. O pecado aponta para o estado de precariedade, fragilidade e insuficiência da existência. Guerrero (2014, p. 121) defende que a noção de pecado esclarece noções fundamentais no âmbito da psicologia existencial, são elas: "El estado de indeterminación, la posibilidad como antecedente de la libertad, la angustia ante la nada y el vértigo de la libertad, la situación del individuo frente a lo fundante". Com a questão da angústia e o pecado, a subjetividade, a liberdade e a relação são, consequentemente, tematizadas.

Nos últimos seis anos, temos acompanhado o surgimento de pesquisadores de várias partes do mundo envolvidos com a mesma temática, ou seja, buscando esclarecimentos acerca do sentido de psicologia no interior da obra desse pensador, assim como buscando levantar o estatuto dessa ciência no interior de seu pensamento, como Sharpless (2013) e Klempe (2014). Cada um a seu modo se apropria desses temas, de forma a sustentar a empiria no interior da psicologia.

Klempe (2014) considera que Kierkegaard constrói sua psicologia em meio a uma grande crise, a qual atinge a filosofia da ciência assim como a ciência como tal. Ele toma como obras de Kierkegaard mais representativas da sua psicologia os textos Repetição, O conceito de angústia, Estágios no caminho da vida e Doença até a morte, considerados pela perspectiva de um experimento do pensamento, levado a termo nessas obras. Esse experimento, no entanto, não deve ser compreendido como aqueles que estavam sendo desenvolvidos nos laboratórios de psicologia. Klempe cita o próprio Kierkegaard, como Johannes Climacus, em Postscriptum, em que aparece a definição de experimento como "algo do que não sabemos o resultado" (Kierkegaard, citado por Klempe, 2014, p. 224). A despeito da impossibilidade de conhecer o resultado, o autor considera Kierkegaard dentro da tradição experimental que leva em conta a cultura como espaço que une o universal e o particular.

Klempe (2014) realiza um esforço no sentido de mostrar de que forma Kierkegaard está em diálogo com a psicologia que surge, ainda como parte da filosofia, a partir do século XVI. Ele remonta a Aristóteles, em De Anima, em sua assertiva de que nada pode existir no intelecto humano sem existir primeiramente no sentido, inaugurando aquilo que Cassirer (citado por Klempe, 2014, p. 68) designou como "o axioma psicológico". Mas, esclarece o autor, Aristóteles não mencionava o termo psicologia e sua metafísica não incluía questões sobre sentimentos ou natureza humana, não se podendo determinar precisamente quando, na história, começou-se a combinar esses assuntos. Mesmo o termo psicologia não era aceito como um denotativo até a Renascença. Apenas no final do século XVII e início do XVIII é que psicologia e metafísica se tornam assuntos a serem esclarecidos (Klempe, 2014). Nesse momento, todo o projeto de fundar a psicologia como ciência parece se dirigir ao problema do conhecimento, que emerge no século XVI, com Descartes (1596-1650) e segue no século XVII, com a tensão entre empirismo e racionalismo resultante das tentativas de provar a base científica que sustentaria a comprovação da verdade.

Klempe (2014) ainda esclarece acerca do que ele entende como uma psicologia experimental presente nas obras de Kierkegaard, sempre em diálogo com a tradição da psicologia experimental que culmina com o projeto de Wundt. Para tal propósito, Klempe (2014) reconstrói a história da psicologia antes mesmo que esse nome surja, aproximadamente no século XVI, e desenvolve suas pesquisas a partir da pergunta pela relação entre a psicologia experimental, que surgiu no advento dessa ciência no final do século XIX, e a psicologia presente nos textos de Kierkegaard, reportada também por esse autor como psicologia experimental. O autor defende a importância de Kierkegaard, afirmando que "a filosofia e a teologia radicais de Kierkegaard tinham sua base na psicologia. Foi a psicologia que introduziu o termo 'subjetividade' na metafísica em particular, e na filosofia em geral" (Klempe, 2014, p. 152).

A tese de Klempe (2014, p. 75) é que Kierkegaard seguiu os passos de Christian Wolff (1679 - 1754), autor que teria dado os passos iniciais para o desenvolvimento da psicologia como ciência independente, mas também os de Karl Rosenkranz (1805 - 1879), Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 -1831), Johann Gottlieb Fichte (1762 - 1814) e Immanuel Kant (1724 -1804), os quais punham em questão a possibilidade de um espaço autônomo para a psicologia. Rosenkranz (1843, citado por Klempe, 2014) afirma que a psicologia poderia ser definida como uma ciência independente e autossuficiente, concluindo tratar-se de uma ciência da subjetividade. Para Rosenkranz, (1863, citado por Klempe, 2014), cada ciência deve ter seu método específico, pois a linguagem usada numa investigação deve refletir a linguagem falada pelo objeto, não sendo possível um método universal. Ele divide sua psicologia em três grandes áreas: antropologia, fenomenologia e pneumatologia, todas indicando diferentes aspectos do sujeito (Klempe, 2014). Assim, a noção que temos de que a psicologia nasce em um laboratório experimental no final do século XIX despreza a sua história, escrita por esses autores.

Outro pesquisador, Sharpless (2013), desenvolve a concepção de psicologia que pode ser construída a partir dos termos usados por Kierkegaard em suas obras, tais como angústia, desespero, salto qualitativo, estádios da existência, alertando que há grandes impedimentos para uma clara exposição da psicologia de Kierkegaard: as poucas e dispersas discussões da psicologia nos textos de Kierkegaard; a escolha de Kierkegaard por uma exposição ambígua e multifacetada, além de polêmica, que pode induzir a conclusões apressadas por parte do leitor; e, finalmente, o estilo literário, que recorre a pseudônimos e a uma comunicação duplamente refletida entre a linguagem intelectual e a linguagem da fé, assim como a descrição do sofrimento individual, que convive com descrições neutras e objetivas etc.

A despeito dessa dificuldade, Sharpless (2013) sugere que Kierkegaard construiu uma concepção de psicologia cujas características podem ser resumidas da seguinte forma: ciência em contraste com as abordagens científicas vigentes; foco no indivíduo; a necessidade de participação ativa por parte do psicólogo que conduz a investigação (o observador); a natureza não objetiva da psicologia e uma postura antiestatística. Em suma, uma psicologia que se concentra não nos fenômenos naturais, mas nos indivíduos, e busca compreender nos fenômenos não o que acontece, o que significaria assumir uma posição objetivista que contraria as pretensões do Kierkegaard, mas como ciência da subjetividade, na qual está em questão o como acontece, ou seja, a paixão que sustenta os acontecimentos na ambiguidade que lhe é própria.

Sharpless (2013, pp. 100-105) pensa, também, as intervenções possíveis a partir da psicologia acenada por Kierkegaard em duas direções: uma psicologia voltada para a motivação e uma psicologia voltada para a manipulação. Nos dois casos, a psicologia de Kierkegaard é pensada como um tipo de psicologia experimental, ou psicologia voltada para a experiência, afinando-se com a tradição romântica, conforme podemos ver na forma como o autor finaliza seu texto:

Kierkegaard enfatiza a coragem necessária para ser um observador psicológico e a humildade exigida para sondar as fragilidades, fraquezas e profundezas de si mesmo antes de explorar as dos outros. Através desta coragem a psicologia pode ser aplicada para liberar indivíduos de suas vidas constritas, que são o resultado de energias vitais inacessíveis. Desta forma, sua psicologia é, pelo menos em alguns aspectos, uma psicologia emancipatória. (Sharpless, 2013, p. 105)

Concluímos que, embora os autores acima chamem a atenção para o contraste da ciência psicológica tal qual pensada por Kierkegaard, que é diferente do modo vigente de compreensão da ciência como investigação de fatos objetivos, ainda pensam a psicologia kierkegaardiana nas bases de uma empiria, uma psicologia experimental que dá grande importância à introspecção e, por isso, a importância da sensação, da imaginação, da reflexão e da experiência pessoal. Vemos, nesses autores, ainda a ideia de subjetividade como da ordem de uma interioridade e o método introspectivo como modo de acesso a essa interioridade.

Kierkegaard (2010a) também estava interessado em resguardar um espaço para a psicologia, que vinha sendo rejeitada por Fichte (1762-1814), Kant e Hegel (1770-1831), entre outros, e buscava uma forma de apresentar a existência humana que não se sujeitasse a estruturas lógicas, apresentadas por Hegel ou por Aristóteles. Ele reconhece o esforço de Rosenkranz, mas sugere que a psicologia precisava encontrar um espaço fora da lógica, uma vez que a lógica só consegue alcançar a existência até certo ponto, não admitindo o salto, que só é compreensível no reino da liberdade. Como mostra Protasio (2015) Kierkegaard, em diálogo com Tredelenburg (1892-1872), antecipa a possibilidade de uma lógica que deixaria a validade do conteúdo do conhecimento humano ser determinada por outros sentidos que aqueles das regras da lógica formal. Esse viria a ser o lugar do salto, "que é o 'estar em casa no reino da liberdade', mas, insiste ele, 'deve ser sugerido metaforicamente na lógica, e não explicado, como fez Hegel" (Kierkegaard, citado por Come, 1991, p. 20). Foi a partir desse segundo modo de compreender a psicologia inspirada em Kierkegaard que se desenvolveram as correntes humanistas e existenciais, tanto em sua tradição romântica quanto na tradição puramente existencial.

 

A Psicologia Humanista-Existencial: Uma Tradição Romântica

As diferentes correntes da psicologia carregam uma influência romântica, no entanto é a terceira força, constituída pelas tradições humanista, existencial e fenomenológica, que mais consideram elementos inaugurados pelo movimento romântico. Segundo Nunes (2008, p. 52), o romantismo, que se articulou "em fins do século XVIII em oposição ao pensamento iluminista e perdurando até meados do século XIX" pode ser apreendido sob duas vertentes diferentes: a psicológica ou antropológica e a histórica. A primeira diz respeito a um modo de apreender mundo que é a sensibilidade. A segunda refere-se a um movimento literário e artístico. Na perspectiva psicológica, o Eu ganha destaque com sua força expressiva, assegurando o primado da interioridade. A vida interior passa a ser valorizada, inaugurando a necessidade de profundidade para se alcançar equilíbrio, espiritualidade e liberdade. O indivíduo, que encontrava o equilíbrio e a sabedoria na razão, passa a encontrar sua centralidade no sentimento, e a fonte de todos os sentimentos é a ação interior que vai para além do estado afetivo. Em uma valorização extrema da vida interior conflitiva e em tensão com o mundo exterior, o romantismo, na perspectiva psicológica, eleva tal conflito à categoria universal.

A perspectiva histórica aparece pela repercussão dessa visão de mundo com aspirações de liberdade artística e criativa, aparecendo a figura do gênio. Com isso, há uma valorização extrema da individualidade e do egocentrismo, cabendo à figura do gênio, por seu poder intuitivo cognoscente, a mediação entre o Eu e a Natureza exterior. Dessa forma, os temas por excelência do romantismo passam a ser o Eu e a Natureza. Pela poesia poderia se alcançar uma vida plena e autossuficiente que desembocaria na singularidade individual, assim como as relações que permitem uma vida comunicativa entre os homens se estabelecem pela empatia (Nunes, 2008).

Segundo Nunes (2008), o romantismo se consolida ao conjugar a categoria psicológica com a histórica. O autor afirma que, com isso, na tentativa de alcançar uma totalidade e unidade, o romantismo recai em um idealismo metafísico que se dirige à valorização da sensibilidade, da tensão entre interioridade e exterioridade, e do indivíduo.

Sem dúvida, ainda hoje há uma grande influência do romantismo no nosso estilo de vida e suas repercussões. Entre as várias influências do romantismo, presentes nas tradições humanistas e existenciais em psicologia, encontramos aquelas que são consideradas inspirações ou mesmo contribuições de Kierkegaard: a valorização do eu, a ênfase na sensibilidade, a máxima da liberdade humana, a tensão interior apreendida como angústia e a relação amorosa. May (1977a, p. 29), ao tentar definir o que é o existencialismo, afirma que este "en su forma específica, apareció hace justamente un siglo en la violenta protesta de Kierkegaard contra el racionalismo imperante de su tiempo".

May (1977a), ao referir-se ao pensamento de Kierkegaard como se opondo ao racionalismo, termina por denominá-lo como irracionalismo, aproximando as ideias desse filósofo ao movimento romântico. Sabemos que não é difícil fazer tal identificação dada a diversificação alcançada por esse movimento. Entre a metade do século XVIII e quase o final do século XIX, muitos políticos, artistas, filósofos e literatos foram classificados como autores românticos. O romantismo, tal como se estabeleceu na filosofia, manteve características do movimento moderno (como a dualidade razão e emoção, interioridade e exterioridade), sustentando, desse modo, a máxima do projeto moderno de ciência: a dualidade homem e mundo e o projeto de superação.

A questão da dualidade constitutiva do homem está no cerne da tensão entre essência e existência, central na constituição das correntes humanistas e existenciais em psicologia, conforme reconstituído por May (1977b) em diálogo com William James, Paul Tillich, Rogers, Kierkegaard e Sartre, entre outros. Para May (1977b), o dilema humano decorre da capacidade do homem em sentir-se, simultaneamente, como sujeito e objeto, e, afirma ele, ambas as capacidades são necessárias para a ciência da psicologia. A verdade ou realidade está para o ser humano na medida em que ele participa dela, ou seja, tem consciência dela, estabelece certa relação com ela - essa seria a posição existencialista. Mas, adverte ele, essa posição não nega a validade do condicionamento, a formulação de impulsos e o estudo dos mecanismos individuais, presentes nas correntes humanistas, embora ele chame a atenção para nosso limite em explicar, ou mesmo entender, o ser humano nessas bases. As correntes humanistas têm sua marca no esforço por manter a dualidade entre dois lados de compreensão do homem: por um lado, um sujeito autoconsciente e autônomo e, por outro, os condicionamentos e mecanismos pelos quais explica o funcionamento do homem, como veremos nas descrições de May (1986).

May (1986) afirma que a capacidade de autoconsciência é fundamental para o processo psicoterapêutico, o qual, enquanto ciência, sustenta-se em três princípios. Com relação ao primeiro princípio, May (1986) diz que deve ser relevante para compreender o ser humano como ele é. Ele está se referindo àquelas características "ontológicas" que definem o ser humano como humano e que são "compartilhadas pela pessoa existente e por todos os seres vivos", ou seja, "níveis biológicos nos quais os seres humanos participam" (May, 1986, p. 89).

Como segundo princípio ele cita a autoconsciência, compreendida como "minha capacidade de conhecer-me como uma pessoa que está sendo ameaçada, a minha experiência própria como a pessoa que possui um mundo" (May, 1986, p.89). Essa centralidade ou autoproteção, diz May (1986, p. 86), é "uma característica que nós seres humanos compartilhamos com todos os seres vivos; é auto evidente (sic) em animais e plantas". Mas, diz May (1986), à diferença dos animais, o indivíduo emprega o método da neurose para proteger a sua centralidade. Outra característica subjetiva da centralidade é a percepção, presente também nos animais sob a forma de vigilância. Mas a forma "exclusivamente humana de percepção é a autoconsciência" (May, 1986, p. 86). May recorre a Goldstein para definir a consciência como a capacidade do homem de sair da situação concreta imediata, ou seja, de viver em termos de possível. Aquilo que May (1986, p. 87) denomina, na esteira de Paul Tillich, de "coragem", entendida como a capacidade de decidir, tomar decisões e definir outros caminhos, como procurar psicoterapia. As pessoas também têm capacidade e "possibilidade de sair de sua centralidade para participar de outros seres" (May, 1986, p. 88), o que traz o risco de que o organismo perca sua centralidade. Mas se o homem não se arrisca, fechando-se em si mesmo, bloqueia seu desenvolvimento e crescimento; ou esvazia a si mesmo numa fusão e dispersão do próprio com os outros.

O terceiro princípio da ciência psicoterapêutica é descrito em termos do que constitui a unidade de estudo da psicoterapia que, para May (1986, p. 84), não é um problema trazido pelo cliente (impotência, neurose, alguma categoria diagnóstica), mas a unidade "duas-pessoas-existentes-em-um-mundo", representada pelo mundo do consultório terapêutico. Ele afirma que essa ciência se sustenta na tarefa de ajudar o paciente a se tornar consciente, transmutando sua percepção em consciência. É a consciência de si mesmo como em risco, como "o ser que está neste mundo que ameaça, que ele é o sujeito que possui um mundo" (May, 1986, p. 92) o que possibilitaria o insight, a visão internalizada de "ver o mundo e seus problemas em relação a si próprio". May (1986, p. 94) refere-se aos profundos conflitos que surgem da autoconsciência, o que leva à ansiedade (angústia) como "o estado do ser humano na luta contra o que poderá destruir seu ser", na luta entre o ser e o não ser na medida em que a pessoa enfrenta a escolha contra ou a favor de seu próprio ser, de suas próprias potencialidades, pois a consciência de si mesma implica a possibilidade de voltar-se contra si próprio, de negar a si próprio - ao que May (1986, p. 95) se refere como "natureza trágica da existência humana".

A ansiedade (ou angústia, conforme o termo kierkegaardiano) aparece para May como um problema central em psicoterapia. Desvendar sua natureza e solucionar esse problema significa dar um primeiro passo na compreensão das causas da desintegração da personalidade. Nesse sentido, May (1980) dedica um livro inteiro a desvendar o problema, recorrendo a Kierkegaard, mas também a Freud. May resume as características da ansiedade da seguinte forma: "(...) são os sentimentos de incerteza e impotência em face do perigo. A natureza da ansiedade pode ser entendida quando indagamos o que é ameaçado na experiência que produz ansiedade" (May, 1980, p. 200). Esse tema é especialmente importante para nós, uma vez que angústia, compreendida como constitutiva da existência, é central para compreendermos o modo como Kierkegaard reserva um espaço para a "ciência existencial", que estamos considerando aqui como psicologia, como desenvolveremos na próxima seção.

May (1992) revisou e reeditou, em 1965, seu primeiro escrito: A arte do aconselhamento psicológico, de 1939. O aconselhamento vinha, segundo ele, ganhando grande importância enquanto arte, mas também como técnica, o que exigia que os aconselhadores estivessem bem preparados para a tarefa. Como aconselhadores ele inclui a si mesmo (psicólogo consultor), mas também o educador, o sacerdote, o médico, o enfermeiro etc. May (1992) refere-se à necessidade de que esses aconselhadores estejam preparados para enfrentar a falta de ajustamento das tensões dentro da personalidade. Para isso, ele oferece esclarecimentos sobre o que seja um homem, descrevendo as características da personalidade (do homem) que ele resume da seguinte forma: "A personalidade [o homem] é caracterizada pela liberdade, individualidade, integração social e tensão religiosa" (May, 1992, p. 38), e todos esses aspectos precisam ser levados em consideração pelo aconselhador. Mas, a "chave para o processo do aconselhamento", diz May (1992, p. 65), é a empatia: um sentir dentro que se diferencia da simpatia, que ele descreve como um sentir com "que pode levar à sentimentalidade". A empatia, enquanto estado de identificação mais profundo da personalidade, caracteriza-se como um processo no qual ocorre "a compreensão, a influência e outras relações significativas entre as pessoas" (May, 1992, p. 65). O aconselhador, ele diz, "trabalha basicamente utilizando o processo da empatia". Tanto o aconselhando quanto o aconselhador saem de si mesmos e fundam a vontade e as emoções numa "nova entidade única" (May, 1992, p. 70) mas, adverte ele, a empatia não significa identificação de experiências, mas implica "compreender o aconselhado segundo seu próprio padrão, único e singular" (May, 1992, pp. 70-71).

A psicologia humanista, existencialista ou humanista-existencial (como cunhada por May, 1977a) manteve em seu cerne a influência do romantismo ao sustentar a dualidade e o projeto de superação. O fato de termos nos demorado no modo como Rollo May descreve o homem e a psicoterapia que pode advir dessa sua compreensão de homem se justifica, primeiramente, pelo lugar que o pensamento de Kierkegaard ocupa em suas formulações e conclusões sobre a psicologia, mas também por considerarmos a representatividade de seu modo de compreensão para toda uma tradição humanista-existencial, que teve grande influência em estudiosos de seu tempo e em pensadores contemporâneos nossos como Irvin Yalom (1980, 2006), nos Estados Unidos, e Correa, Chacón, e Ternera (2017), na Colômbia, para citar apenas alguns. Cabe ressaltar que Tartiére (2018) compartilha a ideia de que o humanismo também sofre uma forte inspiração do pensamento de Kierkegaard, tal como desenvolvemos nesta seção.

Como vimos acima, na perspectiva existencial-humanista, as noções de subjetividade, liberdade e relação mantêm a ideia de Eu como potência, de liberdade como elemento da vontade e da relação como algo composto por duas subjetividades que se fundem. Defendemos que há uma terceira forma de compreender a psicologia oriunda do pensamento de Kierkegaard, a qual inaugura outro modo, ainda pouco divulgado, de se construir uma psicologia existencial. Para nós, o sentido de experiência em Kierkegaard difere daquele considerado dentro da psicologia experimental, que toma a experiência como experimento. E, como vimos anteriormente, difere, também, do modo como nas psicologias existenciais-humanistas se compreende a liberdade, o eu e a relação. Essas diferenças serão desenvolvidas a seguir.

 

A Psicologia como Ciência Existencial

Walsh (1998), Guerrero (2014) e Pind (2016) fazem uma aproximação do pensamento kierkegaardiano com a poesia. Guerrero (2014) diz que a Kierkegaard devemos o existencialismo mais originário, e que este marca um ponto de encontro com a poesia. Pind (2016) recolhe uma citação do Tratado de psicologia de Sibbern, no qual o autor afirma que um psicólogo deve ser um poeta, pois a poesia o habilitaria a sentir as condições interiores e emoções do outro de forma individual, experimentando-o em sua própria mente. Diz Pind (2016, p. 5): "Such a psychologist-poet we find in one of his students, Søren Kierkegaard".

No Brasil, já há alguns anos, tem-se desenvolvido trabalhos sobre as contribuições de Kierkegaard para o campo da psicologia existencial. Feijoo (2000), em sua pesquisa de doutorado, realiza o que consideramos um ato inaugural ao sistematizar aquelas contribuições de Kierkegaard que apareciam nos escritos dos psicólogos existenciais de forma menos organizada. Em seu trabalho, a autora esclarece que, para além de contribuições pontuais que ampliaram a compreensão de certos fenômenos que acontecem na existência, tais como angústia e desespero, o pensamento de Kierkegaard aponta para um modo de fazer clínica cujo fundamento é a angústia. Com o trabalho de Feijoo (2000) abrem-se pesquisas no sentido de mostrar o que está em questão não apenas nos trabalhos específicos do autor, nem mesmo naqueles remetidos como psicológicos, mas, mais do que isso, de que modo o projeto de Kierkegaard, que ele afirmava ser o projeto de sua vida para diferenciá-lo de um projeto filosófico ou sistemático, colocava em questão o modo mesmo como podemos nos dirigir aos fenômenos. Podemos dizer que este foi o elemento que atraiu outros pesquisadores interessados em contribuir e dar continuidade às pesquisas sobre a relação de Kierkegaard com a psicologia, cujas pesquisas vêm sendo sistematicamente publicadas com o objetivo de divulgar as novas descobertas (Feijoo, 2017; Feijoo & Protasio, 2008, 2011; Feijoo, Protasio, Feijoo, Lessa, & Mattar, 2013; Feijoo, Protasio, Gill, & Veríssimo, 2015; Protasio, 2011, 2012, 2014, 2015; Protasio & Feijoo, 2011).Os resultados dessas pesquisas são a base do que desenvolveremos nesta sessão.

Nessa terceira vertente, que denominamos existencial, a psicologia, em diálogo com Kierkegaard, se apropria das noções de subjetividade, liberdade e relação de modo radicalmente diferente da perspectiva empírica e existencial-humanista. Trata-se da psicologia pensada como ciência existencial, que toma suas referências em algumas obras pseudonímicas de Kierkegaard, nas quais a palavra psicologia ganha relevância (Protasio, 2012, 2014), e em temas como angústia, desespero, relação de ajuda, repetição e salto (Feijoo, 2000, 2017; Feijoo et al., 2013; Protasio, 2012, 2014, 2015).

O termo existencial, nessa terceira vertente, é compreendido como o caráter mesmo da existência enquanto espaço em que o existente se movimenta. Por meio do pseudônimo Johannes Climacus, Kierkegaard (2016, p. 41) diz: "Existir significa, porém, em primeiríssimo lugar, ser um indivíduo particular, e é por isso que o pensamento deve abstrair da existência, pois o [fator] individual não se deixa pensar, mas só o [fator] universal". O existir é, então, um estado intermediário, "algo que convém a um ser intermediário como o é um ser humano" (Kierkegaard, 2016, p. 45). Nesse sentido, a existência deve ser compreendida em seu caráter de incompletude e de intermediação, ou de interesse. AntiClimacus (Kierkegaard, 2010a) defende que a existência não pode colocar a si mesma, nem está submetida a uma ordem pré-estabelecida, constituindo-se sempre como relação que consigo mesmo se relaciona e que na relação precisa se relacionar com a relação. Essa fórmula circular aponta para o caráter indeterminado e precário da existência. AntiClimacus resume essa situação do existente com a palavra desespero. O eu, o existente, constitui-se como desespero, tensão, pois não há um si mesmo objetivo com o qual possa contar e, menos ainda, uma entidade na qual possa se apoiar de uma vez por todas. Por isso, precisa articular-se com a existência ela mesma em sua circunstância tanto finita quanto infinita, tanto necessária quanto possível, tanto temporal quanto eterna, fazendo-se nesse movimento.

A psicologia existencial diz respeito, então, àquela psicologia que não toma a interioridade como algo dado a priori, e que também não considera que o comportamento possa ser alcançado por meio de experimentos. A psicologia existencial pensa o homem como aquele que, originariamente, é indeterminação e, portanto, abertura às possibilidades, exposição ou, para usar a expressão de Vigilius Haufniensis (Kierkegaard, 2010a), como a realidade de possibilidade para a possibilidade.

As consequências de tomar a existência como abertura originária é que torna possível pensar uma psicologia existencial que, embora com bases nas considerações filosóficas de Kierkegaard, seja compreendida de forma diferente das duas outras vertentes de psicologia que descrevemos nas seções anteriores. Chamamos a atenção para os elementos com os quais está sendo pensada essa psicologia existencial inspirada no pensamento de Kierkegaard: 1 - a ideia da indeterminação originária como aquilo que constitui a existência humana, tema discutido pelo filósofo em O conceito de angústia; 2 - a caracterização do eu sem privilegiar a interioridade humana, mas em sua relação paradoxal; 3 - a relação terapêutica com base nas reflexões sobre o amor, conforme pensado por Kierkegaard em As obras do amor. Com esses elementos é possível explicitar em que medida a psicologia inspirada em Kierkegaard não se constitui como experimental ou romântica. Para tanto, faz-se necessário retornar brevemente aos temas considerados nas duas vertentes e que, nesta terceira vertente, ganham outras modulações: a caracterização da existência como indeterminação (liberdade), a noção de eu (subjetividade) e a questão do amor (relação).

Para falar em indeterminação e liberdade, a ciência existencial retoma o tema da angústia, tal como desenvolvido por Kierkegaard (2010a) no livro O conceito de angústia, escrito sob o pseudônimo Vigilius Haufniensis. A angústia como uma condição originariamente humana não deve ser reduzida a resultado de nossas ações. Haufniensis (Kierkegaard, 2010a, p. 45) a descreve como "a realidade da liberdade como possibilidade antes da possibilidade", o que significa dizer que a condição mais originária é abertura - possibilidade - e é já a partir dessa condição, por um lado, que decidimos sobre as possibilidades a realizar em nossa existência; por outro, que a atmosfera própria de nossa existência é angústia, inquietação, uma vez que já somos lançados enquanto possibilidade de sentido, de direção, assim como de esvaziamento de sentido, de distanciamento de si. Não são as nossas ações que determinam, de início, a existência como angústia, mas é a indeterminação, a abertura originária, que marca nossa existência como angústia, inquietação. E é desde essa indeterminação que agimos, que somos no mundo. Esse tema é desdobrado de forma pormenorizada por outro pseudônimo, AntiClimacus (Kierkegaard, 2010b), como desespero, agora tratado não apenas como condição de abertura na existência, mas como constituição do eu (Selv) enquanto possibilidade de tornar-se si mesmo.

E para falar de subjetividade, a ciência existencial recorre a AntiClimacus (Kierkegaard, 2010a), que diz que o eu é espírito, uma relação que consigo mesmo se relaciona, ou melhor, o que na relação se relaciona com a relação. O eu não é dado, como nas duas outras vertentes, mas constitui-se como uma síntese de "infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade" (Kierkegaard, 2010a, p. 25). Todo o movimento do texto se dá na direção de reafirmar a condição do homem como possibilidade para possibilidade, ou seja, como indeterminação. Os elementos da tensão surgem, aqui, como o caráter dado das condições em que o eu deve, ele mesmo, conquistar a si mesmo. E o dado é a própria indeterminação que não é, por outro lado, desprovida de referências, pois é a partir de referências (finitude, temporalidade, necessidade) que o homem se relaciona com a transcendência (infinitude, eternidade e possibilidade/liberdade). Do mesmo modo que Kierkegaard inverte a direção compreensiva da tradição (que desde Aristóteles postula uma potencialidade para o movimento como condição de possibilidade para as transformações na existência, o que se daria de forma necessária e linear por superação), a ciência existencial também inverte as postulações tanto da psicologia existencial com bases empíricas como as de base românticas.

Tanto Haufiniensis (Kierkegaard, 2010a) como AntiClimacus (Kierkegaard, 2010b) estão afirmando o caráter de abismo, de indeterminação do homem com relação à sua própria existência: não podendo colocar a si mesmo, precisa conquistar as suas determinações e, mais ainda, tendo que agir no mundo a partir das condições dadas, o ser humano, o eu, pode conquistar a si mesmo. É esse poder o seu elemento determinador. E é desse elemento que Kierkegaard, em meio aos seus diversos autores (pseudonímicos ou não), retira um lugar para a psicologia como ciência da alma, ou seja, da existência. Haufniensis diz que o objeto da psicologia é angústia, ou seja, o campo da liberdade enquanto possibilidade para possibilidades. Ele define esse estado como simpatia-antipatizante e antipatia-simpatizante, apontando para a existência como se dando sempre nessa tensão, e o estado do homem na tensão como este querer que não quer ao mesmo tempo.

A duplicidade está no centro da palavra desespero em dinamarquês (fortvivlelse), cuja partícula vivl traz o sentido de dúvida, de dois. AntiClimacus (Kierkegaard, 2010b) aponta que desespero é disposição do homem que já se sabe lançado nessa duplicidade, nessa tensão na qual ele quer e não quer ser este que ele é. Ele também chama a atenção para aquele que poderia compreender o homem a partir dessa tensão, o conhecedor ou entendido de almas (sjele kyndig), tradicionalmente traduzido para o português como médico ou psicólogo, acentuando o gesto realizado por esse conhecedor de almas (psicólogo) no sentido de compreender o que está em questão na existência daquele que já se sabe desespero e vive desesperadamente: o conhecedor de almas não se deixa enganar pensando que o que desespera no outro é isto ou aquilo, descrito como circunstância da existência, pois sabe que angústia e desespero (tensão, duplicidade, abertura, indeterminação) são a própria condição da existência. Por isso, esse entendido de almas (sjele kyndig) acompanha o discurso daquele que se queixa, lamenta, profere impropérios, colocando-se no mesmo tom deste que fala, buscando entender do que ele fala e para o que ele fala, pois sabe que conhecer não é saber mais que o outro, mas saber com o outro. A condição de possibilidade do saber é o fato de a existência dar-se sempre junto ao outro, ou seja, no mesmo pathos. Esse é o sentido de amor no pensamento de Kierkegaard e apropriado pela clínica com bases na ciência existencial.

O tema da relação é tratado por Kierkegaard (2005) no livro intitulado As obras do amor: algumas considerações cristãs em forma de discurso. Esclarecemos que o que está em questão é se nós, seres humanos modernos, realizamos em nossa existência, ou seja, se transformamos em obra/existência o preceito ético de amar ao próximo como a nós mesmos. O ponto de partida é que conhecemos se uma obra é ou não de amor pelos frutos, pois, assim como podemos reconhecer uma árvore por seus frutos, saberemos reconhecer o amor em suas obras. Kierkegaard está dialogando com a tradição grega, que considerava que, se um homem sabe o que é o bem, ele o realiza em sua existência. Na tradição moderna estamos sob a égide da duplicidade, como vimos acima e, nesse caso, um homem pode conhecer o amor e não o realizar na existência. O texto segue no sentido de mostrar essa tensão em diversas circunstâncias existenciais, o que leva a compreender que isso que é princípio é, existencialmente, o mais difícil tema já tratado nas obras sobre angústia e desespero. Kierkegaard começa com a lei - tu amarás, para pensar o mais originário: o amor como unidade.

Há pelo menos dois elementos novos colocados em questão nessa obra (Kierkegaard, 2005). O primeiro, que a obra do amor já se assenta na condição do homem como existindo entre outros existentes, ou seja, a relação é o mais originário. O segundo é a possibilidade de que se construa a existência buscando harmonizar a disposição (o amor) e a obra que estaria afinada com a disposição - ou seja, o amor a nós que é, ao mesmo tempo, amor ao próximo, ou vice-versa, já que a condição dada é que um amará o próximo como aquele que ele mesmo já é, pois não há diferença entre um e outro. O que é possível para um é, igualmente, possível ao outro. Essa mesmidade, essa ausência de diferenciação valorativa, já se constitui como o ethos da existência quando pensada pela perspectiva do amor, que despreza diferenças por saber que a condição do homem se constitui, originalmente, como a tarefa de ter de conquistar o si mesmo que ele pode ser com o outro. A alteridade é, ao mesmo tempo, ipseidade.

É importante apontar que esta é a base com a qual a terceira vertente compreende a empatia: como a condição já dada de nos encontrarmos no mesmo pathos, na mesma atmosfera. Essa é, também, a condição que torna possível pensarmos a relação psicoterapêutica como afinação. O esforço por essa afinação se faz necessário na medida em que nós já nos esquecemos desse caráter de unidade que nos constitui junto ao outro. O conhecedor de almas (sjele kyndig) inclina-se pacientemente para ouvir e compreender o dito ali mesmo onde é dito, ou seja, ele está ali e toda a compreensão é construída no que é a relação estabelecida.

 

Considerações Finais

Pind (2016) busca mapear os autores e tendências de compreensão do sentido de psicologia nos primeiros anos do século XIX, em Copenhagen, momento em que a psicologia se tornou uma "compulsory subject for all first-year students at the University in the fourse for the so-called 'examen philosophycum'" (Pind, 2016, p. 352), um curso introdutório ministrado pelos professores de filosofia. Os professores citados por Pind foram também professores de Kierkegaard, são eles: Frederick Christian Sibbern, especialmente influente em estabelecer a disciplina de psicologia como parte do currículo, tema ao qual ele vinha se dedicando com uma série de publicações; Poul Martin Møller, poeta e filósofo que, embora tenha publicado muito pouco sobre psicologia, foi o professor favorito de Kierkegaard na universidade, tendo dedicado seu livro O conceito de angústia à sua memória; e Peter Mynster, responsável por levar a psicologia como tema para os seminários de teologia de Copenhagen. Para Pind, Kierkegaard desenvolve seu "método de psicologia" entre a observação e a experimentação, mas o experimento psicológico de Kierkegaard deve ser entendido como um "thought experiment" (experimento de pensamento) que não requer uma quantidade grande de participantes (Pind, 2016, p.361).

Segundo Kierkegaard (2010a), os psicólogos de sua época tentavam estabelecer seu objeto por meio de algo da ordem do concreto, e foi exatamente essa tentativa que inviabilizou que esse saber se tornasse uma ciência. Afirmou, ainda, que essa ciência tinha o direito, mais do qualquer outra, de se "embriagar com a multiplicidade borbulhante da vida" (Kierkegaard, 2010a, p. 25) e, por meio disso, estabelecer-se como saber. Como método, dizia o filósofo dinamarquês, a psicologia dedicava-se a descrever, exaustivamente, o seu objeto e, depois, entregava-o à dogmática - ciência explicativa. Nessa mesma obra, defendeu a tese de que o objeto da psicologia é a angústia como possibilidade para a possibilidade, portanto, não se constituiu como objeto substancializado nem passível de delimitação, pois dele só poderíamos alcançar as suas expressões.

Assim, retomando o projeto deste texto, reafirmamos a relevância em prosseguirmos a investigação das condições de possibilidade da psicologia existencial, o que, inevitavelmente, nos levará ao modo como Kierkegaard se posicionou contra certa tradição metafísica de conhecimento, construída sobre encadeamentos lógico-causais e representada em sistemas, requerendo um espaço para a psicologia que não desprezasse a existência, ou melhor, o indivíduo, este que existe e para quem a existência é de suma importância. Ele foi contra a metafísica de Hegel e o método cartesiano, que também considerava metafísico, embora tenha admitido e admirado o gesto cartesiano (a angústia ou a dúvida). Acreditamos que, ao esclarecermos a relação de Kierkegaard com autores da tradição do pensamento que reivindicaram um lugar para a psicologia como ciência, estamos corroborando com a intuição dos pensadores da tradição existencial que viram, na crítica de Kierkegaard, um limite da psicologia como ciência metafísica, assim como, em sua elaboração de uma ciência existencial, contribuições relevantes para o fazer clínico.

No entanto, como vimos, o modo de compreender a psicologia possível a partir de pensamento de Kierkegaard não é unânime. Se lembrarmos do que dissemos acima, acerca da interpretação de May sobre a angústia, veremos que, para esse autor, angústia surge como problema desintegrador da personalidade, sendo tarefa da psicoterapia desvendar sua natureza e solucioná-la. Na interpretação fenomenológica, que desenvolvemos acima, angústia é inerente à existência, não podendo ser extirpada.

Do mesmo modo, compreender o homem como determinado desde e a partir de seus elementos estruturais implica dizer que este ente está completo e acabado desde a partida, não se admitindo contradições, a não ser a partir de violência ou monstruosidade. A natureza humana, no entanto, não está determinada pelos elementos estruturais, de modo que o homem, apesar de receber condições para existir, precisa descobrir e conquistar as condições para a sua vida.

Consideramos que ao pensar a psicologia de Kierkegaard como ciência experimental, a psicoterapia que daí deriva caracteriza-se pela possibilidade de controle e consequente superação da angústia e da tensão para que algo novo possa acontecer. Ao tomar o pensamento do filósofo dinamarquês em uma perspectiva romântica, a existência passa a ser compreendida pela perspectiva de um eu interiorizado, cuja libertação ocorre pela exteriorização dos sentimentos, e que, por meio da psicoterapia, em uma relação empática, podemos conduzir o homem a buscar as suas próprias forças, transformando a si mesmo e ao mundo.

Na perspectiva de uma ciência existencial, importa apreender o homem em seu caráter de indeterminação e consequente liberdade, que se constitui na própria tensão que a existência é. A psicoterapia, nesse modo de ver a existência humana, consiste em uma relação de amor que, pacientemente, junto ao outro, aguarda na repetição a possibilidade do salto, da transformação.

 

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Endereço para correspondência:
Ana Maria López Calvo de Feijoo
E-mail: ana.maria.feijoo@gmail.com

Myriam Moreira Protasio
E-mail: myprotasio@yahoo.com.br

Recebido em: 14/04/2019
Revisado em: 10/03/2020
Aceito em: 16/07/2020
Publicado online: 19/06/2021

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