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Revista Subjetividades

Print version ISSN 2359-0769On-line version ISSN 2359-0777

Rev. Subj. vol.22 no.1 Fortaleza Jan./Apr. 2022

http://dx.doi.org/10.5020/23590777.rs.v22i1.e11824 

RELATOS DE PESQUISA

 

Perfil sociodemográfico e rede de apoio das adolescentes em situação de rua

 

Sociodemographic profile and support network for homeless adolescents

 

Perfil socio-demográfico y red de apoyo a adolescentes en situación de calle

 

Profil socio démographique et réseau de soutien pour adolescents en situation de rue

 

 

Rebeca Fernandes Ferreira LimaI; Letícia Sant'Ana HerzogII; Edinete Maria RosaIII

IPsicóloga, mestre e doutora pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Estágio pós-doutoral na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
IIGraduanda em psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
IIIPsicóloga e mestre em psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), doutora em psicologia social pela Universidade de São Paulo (USP). Estágio pós-doutoral na Universidade da Carolina do Norte. Professora titular da UFES

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo teve como objetivo descrever a trajetória de vida e a rede de apoio de nove adolescentes do sexo feminino em situação de rua. Especificamente, (a) caracterizou-se o perfil sociodemográfico e econômico; (b) a experiência de vida na rua; e (c) a rede de apoio das participantes, identificando os recursos e vulnerabilidades nos contextos da família, escola, amigos, instituição e rua. Essas questões foram acessadas por meio de uma entrevista estruturada sobre a história de vida e relacionamentos com a rede de apoio das adolescentes, a qual foi respondida individualmente nos serviços de proteção onde foram recrutadas. Utilizaram- se estatísticas descritivas de frequência absoluta e porcentagem para analisar os dados de caracterização da população e a abordagem de estudo de casos múltiplos para analisar as narrativas de história de vida e relações com a rede de apoio. Os resultados mostraram que as adolescentes (13-18 anos) eram pardas ou negras, inseridas nas escolas, mesmo embora apresentassem defasagem escolar e histórico de institucionalização. Nas famílias, vivenciaram dificuldades financeiras, conflitos e sofreram violência física, psicológica e sexual. Condições estas que foram relacionadas ao apoio recebido dos seus amigos, que lhes oferecem suporte financeiro e emocional, ajudando-as a superar as adversidades. Assim, embora sejam espaços onde as adolescentes podem angariar recursos, a escola, a instituição e, de forma alternativa, a rua foram retratadas pelo preconceito, discriminação e violência. Frente ao amplo contexto de vulnerabilidade e suas implicações, torna-se necessário investir em programas e intervenções específicos para as necessidades das adolescentes em situação de rua. Em especial, com foco na garantia de acesso à educação e um melhor atendimento baseado em ações não julgadoras que promovam cuidado e apoio psicossocial. Destaca-se, portanto, a importância do fortalecimento dos vínculos com a rede de apoio no processo de enfrentamento da situação de rua.

Palavras-chave: jovens em situação de rua; gênero; apoio social; qualitativo.


ABSTRACT

This study aimed to describe the life trajectory and support network of nine female adolescents living on the streets. Specifically, (a) the sociodemographic and economic profile was characterized; (b) the experience of life on the street; and (c) the participants' support network, identifying resources and vulnerabilities in family, school, friends, institution, and street contexts. These questions were accessed through a structured interview about the life history and relationships with the adolescents' support network, which was answered individually in the protection services where they were recruited. Descriptive statistics of absolute frequency and percentage were used to analyze the population characterization data and the multiple case study approach to analyze life history narratives and relationships with the support network. The results showed that the adolescents (13-18 years old) were brown or black, including in schools, even though they had a school gap and a history of institutionalization. In their families, they experienced financial difficulties, conflicts and suffered physical, psychological, and sexual violence. These conditions were related to the support received from their friends, who offer them financial and emotional support, helping them overcome adversity. Thus, although they are spaces where adolescents can raise funds, the school, the institution, and, alternatively, the street was portrayed by prejudice, discrimination, and violence. Because of the broad context of vulnerability and its implications, it is necessary to invest in specific programs and interventions for the needs of adolescents living on the streets. In particular, focusing on ensuring access to education and better care based on non-judgmental actions that promote psychosocial care and support. Therefore, the importance of strengthening ties with the support network in the process of coping with the homeless situation is highlighted.

Keywords: street youth; genre; social support; qualitative.


RESUMEN

Este trabajo tuvo el objetivo de describir la trayectoria de vida y la red de apoyo de nueve adolescentes del sexo femenino en situación de calle. Específicamente, (a) fue caracterizado el perfil socio-demográfico y económico; (b) la experiencia de vida en la calle; y (c) la red de apoyo de las participantes, identificando los recursos y vulnerabilidades en los contextos de familia, escuela, amigos, institución y calle. Se tuvo acceso a estas cuestiones por medio de una entrevista estructurada sobre la historia de vida y relacionamientos con la red de apoyo de las adolescentes, la cual fue contestada individualmente en los servicios de protección dónde fueron reclutadas. Fueron utilizadas estadísticas descriptivas de frecuencia absoluta y porcentaje para analizar a los datos de caracterización de la población y el enfoque del estudio de casos múltiples para analizar las narrativas de historia de vida y relaciones con la red de apoyo. Los resultados indicaron que las adolescentes (13- 18 años) eran pardas o negras, estaban en las escuelas, aunque presentasen retraso escolar e histórico de institucionalización. En las familias, experimentaron dificultades financieras, conflictos y sufrieron violencia física, psicológica y sexual. Condiciones que fueron relacionadas con el apoyo recibido de sus amigos, que les ofrecieron soporte financiero y emocional, ayudándolas a superar las adversidades. Así, aunque sean espacios dónde las adolescentes pueden lograr recursos, la escuela, la institución y, de forma alternativa la calle, fueron retratadas por el prejuicio, discriminación y violencia. Ante el gran contexto de vulnerabilidad y sus implicaciones, se hace necesario invertir en programas e intervenciones específicos para las necesidades de las adolescentes en situación de calle. En especial, con enfoque en garantizar el acceso a la educación y a un mejor atendimiento basado en acciones no juzgadoras que promuevan cuidado y apoyo psicosocial. Se enfoca, por lo tanto, la importancia del fortalecimiento de los lazos con la red de apoyo en el proceso de enfrentamiento de la situación de calle.

Palabras clave: jóvenes en situación de calle; género; apoyo social; cualitativo.


RÉSUMÉ

Cette étude a pour objectif à décrire la trajectoire de vie et de réseau de soutien de neuf adolescentes en situation de rue. Plus précisément, ont été caractérisés : (a) le profil socio démographique et économique ; (b) l'expérience de vivre dans la rue ; et (c) le réseau de soutien des participants. Nous avons aussi identifié les ressources et les vulnérabilités dans les contextes de leur famille, de leur école, de leurs amis, de l'institution et de la rue. Ces questions ont été abordées à travers un entretien structuré sur l'histoire de vie et des relations avec le réseau de soutien de ces adolescents. L'entretien a été répondu individuellement chez les services de protection où ils ont été recrutés. Des statistiques descriptives de fréquence absolue et de pourcentage ont été utilisées pour analyser les données de caractérisation de la population et l'approche d'études de cas multiples pour analyser les récits d'histoire de vie et les relations avec le réseau de soutien. Les résultats ont montré que les adolescents (13-18 ans) étaient bruns ou noirs, inscrits à l'école, même s'ils avaient un trou scolaire et/ou des antécédents d'institutionnalisation. Dans leurs familles, les adolescents ont connu des difficultés financières, des conflits et ont eu subi des violences physiques, psychologiques et sexuelles. Ces conditions ont été liées au support reçu de leurs amis, qui leur offrent un soutien financier et émotionnel, en les aidant à surmonter les adversités. Donc, bien qu'il s'agisse d'espaces où les adolescents peuvent collecter des ressources, l'école, l'institution et, alternativement, la rue ont été dépeints par les préjugés, la discrimination et la violence. Compte tenu du vaste contexte de vulnérabilité et de ses implications, il est nécessaire d'investir dans des programmes et des interventions spécifiques pour les besoins et soins des adolescents en situation de rue. En particulier, en mettant l'accent sur l'accès à l'éducation et à de meilleurs soins basés sur des actions sans jugement qui favorisent les soutiens psychosociaux. Par conséquent, l'importance de renforcer les liens avec le réseau de soutien dans le processus de faire face à la situation de rue est soulignée.

Mots-clés : jeunes en situation de rue ; genre ; aide sociale ; qualitatif.


 

 

A literatura refere-se à situação de rua como um fenômeno complexo. Ao mesmo tempo em que a rua apresenta alternativas de sobrevivência e novas oportunidades frente a contextos anteriores de vulnerabilidade, também retrata um espaço de continuidade de privação e violência (Lima et al., 2020). A visão da situação de rua que prevalece no imaginário social supõe que adolescentes envolvidos com as ruas sejam predominantemente delinquentes, sendo a resposta governamental para essas pessoas marcada por exclusão social, criminalização e opressão (Rizzini & Couto, 2019). Em contraste a esse estereótipo, uma revisão sistemática apontou que o motivo mais comum para o envolvimento dos adolescentes com a rua foi a pobreza, seguida por conflitos familiares, abusos e, menos frequentemente, o conflito com a lei (Embleton et al., 2016). Nesta revisão, os adolescentes do sexo masculino compõem a maioria da população infantojuvenil conectadas às ruas, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil. Neste cenário, as trajetórias de meninos em situação de rua e os impactos ao seu desenvolvimento têm sido mais descritos nos estudos sobre o tema, indicando uma lacuna na literatura sobre as adolescentes em situação de rua.

O Fundo de População das Nações Unidas (Organização das Nações Unidas [ONU], 2019) apresentou que as mulheres em países com menor índice de desenvolvimento humano estão mais vulneráveis às desigualdades de gênero e mais expostas às diversas violações, tendo dificultado, por exemplo, o acesso às políticas de saúde sexual e planejamento reprodutivo eficaz. Em agravo, as adolescentes em situação de rua vivenciam o efeito combinado da dimensão de gênero e a exposição aos riscos no contexto da rua. Estudos realizados em países semelhantes ao Brasil (Índia, Indonésia, Filipinas e África do Sul) apontam que meninas em situação de rua, apesar de ser minoria, têm maior probabilidade de serem vítimas de práticas culturais danosas e exploração sexual (Sharma & Verma, 2013).

Uma meta-análise que investigou a literatura internacional sobre os fatores relacionados ao risco sexual (e.g., comportamento sexual de risco e violência sexual) em adolescentes em situação de rua apresentou diferenças de gênero no que se refere aos riscos à saúde. Identificou-se que as adolescentes experienciaram níveis mais elevados de vitimização sexual, comportamento sexual de risco e exploração sexual (Heerde & Hemphill, 2017). Resultados similares foram encontrados em um estudo com adolescentes brasileiros em situação de rua que identificou a prevalência de meninas vítimas de violência sexual (Raffaelli et al., 2018). Uma das consequências do risco sexual é o diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis, conforme verificou-se nas adolescentes em situação de rua que relataram infecção pelo HIV em decorrência da violência sexual sofrida enquanto viviam na rua (Cénat et al., 2018). Evidencia-se, portanto, a alta vulnerabilidade das adolescentes em situação de rua quando comparadas aos adolescentes do sexo masculino.

De modo geral, as identidades de gênero femininas nessas culturas refletem ideais como a passividade e a crença no direito de posse do homem sobre a mulher (Penna et al., 2010). Assim, essas características posicionam as meninas em desvantagem quando é preciso competir por recursos no dia a dia das ruas e enquanto os meninos são estimulados ao ambiente externo - realizando atividades de lazer ou de trabalho, como lavagem de carros nas ruas -, as meninas são incentivadas a desempenhar atividades domésticas. Em consequência, as adolescentes adotam estratégias de sobrevivência que podem envolver o estabelecimento de relacionamentos amorosos (Joly & Connolly, 2019) e a exploração sexual (Kebede, 2015). Uma intervenção para prevenção do HIV identificou que as adolescentes não apresentaram mudança na frequência de uso do preservativo, o que foi relacionado ao fato das decisões sexuais normalmente estarem sob o controle dos homens (Embleton et al., 2020).

Acrescenta-se que as meninas em situação de rua mostram prejuízos em comportamentos assertivos e regulação emocional associados a problemas de saúde mental com sintomatologia ansiosa e depressiva (Castaños & Sánchez, 2015). Aponta-se, portanto, que o contexto sociocultural de desvantagem, a insatisfação com a situação familiar, escolar e suas relações interpessoais podem agravar o risco para as adolescentes em situação de rua. Em contraponto, o suporte social e emocional da rede de apoio pode atuar como preditores de melhores resultados de saúde e desenvolvimento (Gauvin et al., 2019).

Para a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner & Morris, 2006), o desenvolvimento é descrito nas interações recíprocas entre as pessoas e os contextos ao longo do curso de vida. Na teoria bioecológica, os processos proximais (i.e., vínculos afetivos e relacionais progressivamente mais complexos) são os motores do desenvolvimento que podem atuar como proteção, minimizando a probabilidade de resultados negativos de desenvolvimento. Estudos prévios com adolescentes em situação de rua destacaram o papel protetivo da rede de apoio informal (família e amigos) e formal (instituições de ensino e acolhimento). Por exemplo, a família, contexto primário de socialização, está relacionada diretamente ao desenvolvimento dos seus membros, exercendo influência sobre o bem-estar e adaptação positiva (Lima & Morais, 2016; Morais et al., 2012). A frequência escolar está relacionada a uma redução no uso de armas e consumo de drogas, bem como à diminuição da severidade e reincidência de atos infracionais (Gallo & Williams, 2008). No contexto dos pares, evidências mostram que amizades recíprocas e significativas na adolescência podem ajudar na externalização de problemas para aqueles que possuem dificuldades nas relações com os pais (Booth et al., 1998) e modular os efeitos de disfuncionalidades familiares (Laible et al., 2000). Na especificidade dos adolescentes em situação de rua, as relações de apoio estabelecidas na instituição podem conferir benefícios à sua saúde física e emocional (Lima & Morais, 2019).

Diante do exposto, ressalta-se a escassez de estudos sobre a experiência das adolescentes em situação de rua, especialmente no âmbito nacional. O gênero é um fator-chave para a diferenciação das experiências de rua, bem como questões de etnia, classe socioeconômica e história individual, que não devem ser negligenciadas na construção de conhecimento acerca do tema com base na teoria bioecológica. A fim de preencher essa lacuna, este estudo tem o objetivo primeiro de caracterizar o perfil sociodemográfico e econômico e descrever a experiência de vida das adolescentes em situação de rua. Ademais, salienta-se o foco nos riscos e adversidades enfrentados pelas adolescentes (e.g., Castaños & Sánchez, 2015; Sharma & Verma, 2013), encontrando-se, de forma menos expressiva, estudos sobre os fatores que podem promover bem-estar e adaptação positiva (e.g., Lima & Morais, 2018). Nesse sentido, o segundo objetivo deste artigo é caracterizar as relações das adolescentes com sua rede de apoio, o qual pode contribuir com evidências para informar estratégias de proteção envolvendo os contextos significativos de desenvolvimento (i.e., instituições, escola, família, rua e amigos). Dessa forma, este estudo é parte de um projeto mais amplo intitulado Implicações das Características Psicossociais Positivas no Desenvolvimento de Adolescentes em Situação de Rua e tem o propósito de contribuir para a identificação de recursos e vulnerabilidades que podem influenciar o desenvolvimento de adolescentes em situação de rua.

 

Método

Este estudo descritivo-exploratório conduziu uma análise de casos múltiplos para descrever as trajetórias das adolescentes em situação de rua. Esse tipo de estudo consiste em uma investigação empírica que busca conhecer profundamente um fenômeno em seu contexto mais real possível, sendo abrangente e guiado pela lógica do planejamento de pesquisa - definição de participantes, coleta e análise de dados e formulação de hipóteses (Yin, 2015). Assim, por meio dessa abordagem metodológica, os relatos das adolescentes - após análise individual - foram utilizados como ilustrações dos tópicos de investigação.

Considerando a realidade de recrutamento dos jovens em situação de rua, foram selecionados, intencionalmente, nove adolescentes do sexo feminino, com idades entre 13 e 18 anos. As adolescentes elegíveis estavam vinculadas aos serviços de proteção destinados ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social e com experiência de vida na rua. Não foram recrutadas as meninas vinculadas aos serviços com idade inferior a 12 anos ou superior a 18 anos e que estavam acolhidas há mais de três anos. As entrevistas foram realizadas individualmente com base em um roteiro estruturado que forneceu descrições detalhadas sobre características sociodemográficas e econômicas, história pessoal e familiar, o processo de saída de casa e ida para a rua, experiência escolar e de institucionalização, bem como sobre as interações e qualidade das relações estabelecidas com a rede de apoio. A coleta de dados foi executada nos serviços de proteção onde as participantes se encontravam vinculadas no momento da pesquisa. As entrevistas, que variaram de 45 a 110 minutos, foram gravadas e posteriormente transcritas, tendo os dados sistematizados de acordo com os tópicos de investigação pretendidos. Desse modo, foram elencados os seguintes eixos temáticos para análise e discussão: (a) caracterização sociodemográfica e econômica das participantes, (b) trajetória de vinculação com a rua e, (c) caracterização das relações na rede de apoio das adolescentes.

Todos os procedimentos éticos na pesquisa com seres humanos e, em especial, envolvendo adolescentes em situação de vulnerabilidade foram considerados. De modo que, este estudo recebeu aprovação no comitê de ética da universidade das autoras (CAE: 09117819.9.0000.5542) e obteve assinatura dos termos de concordância para os serviços de proteção e assentimento para as adolescentes participantes.

 

Resultados e Discussões

Caracterização Sociodemográfica e Econômica das Participantes

As participantes (n = 9) deste estudo tinham idades que variaram de 13 a 18 anos (M = 15,5; DP = 1.59), com maior concentração entre 14 e 16 anos (66,7%). Em relação à cor da pele, as adolescentes se declararam pretas (55,6%) ou pardas (44,4%), retratando o perfil sociodemográfico dos adolescentes em situação de rua no Brasil (Gomes, 2011). A Tabela 1 apresenta a descrição do perfil sociodemográfico de cada participante.

Todas as adolescentes estavam vinculadas aos serviços de proteção da assistência social específicos para adolescentes em situação de vulnerabilidade e com experiência de vida na rua, sendo que 88,9% já tinham sido acolhidas anteriormente. Constituem tais serviços o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), a casa de passagem e acolhimentos institucionais. Os CREAS são unidades do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) que atendem famílias ou pessoas em situação de violação de direitos ou risco social. Uma de suas atribuições consiste em receber adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto de liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade (Ministério da Cidadania, 2015a), como é o caso de uma adolescente (Participante 8, 18 anos) em cumprimento de liberdade assistida entrevistada neste estudo. Das demais participantes, quatro se encontravam vinculadas aos acolhimentos institucionais e outras quatro à casa de passagem. A casa de passagem é a porta de entrada para os adolescentes recém retirados do contexto prévio, acolhendo-os por período temporário até que se viabilize a reintegração familiar. Caso a reintegração não seja possível, esses adolescentes são encaminhados para o acolhimento institucional. Esse, por sua vez, deve ter aspecto semelhante ao de uma residência e localizar-se em área residencial, oferecendo inserção na comunidade e ambiente acolhedor para os adolescentes (Ministério da Cidadania, 2015b).

Em relação ao tempo de acolhimento, duas adolescentes estavam em acolhimento institucional há mais de DOIs anos, as demais estavam vinculadas aos serviços há menos de um mês (n = 4), DOIs meses (n = 1) e seis meses (n = 2). Em última alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente, com a Lei n. 13.509 sancionada em 22 de novembro de 2017, o tempo máximo de acolhimento institucional foi reduzido de DOIs anos para 18 meses. Conforme exposto acima, esse prazo pode ser prolongado se comprovada a necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

No que tange à escolarização, predominaram as adolescentes inseridas na escola (77,8%), ainda que não cursassem as séries regulares de acordo com a faixa etária. Apesar de a idade média apresentada ser de 15,5 anos, sete das nove participantes não tinham concluído o ensino fundamental II. Quando questionadas sobre o motivo de saída da escola, a Participante 6 (13 anos) relatou ter deixado a escola para ajudar na subsistência própria e da família, vendendo doces na rua com os irmãos, enquanto a Participante 3 (16 anos) afirmou: "deixei a escola para me ajudar". Outra adolescente (Participante 5, 16 anos) contou que a saída da escola foi em consequência de sua saída de casa aos 13 anos, pois o ambiente era permeado por conflitos e o padrasto tentou violentá-la sexualmente.

Sobre o perfil socioeconômico das adolescentes, o desemprego do(s) provedor(es), o trabalho das adolescentes para ajudar a família e a falta de comida e/ou necessidades básicas foram prevalentes nos relatos. A pobreza é apontada como o motivo principal para o envolvimento de adolescentes com a rua (Embleton et al., 2016). Uma minoria (n = 3) apontou se preocupar frequentemente com quanto dinheiro a família possui. Isso pode ser consequência do processo de desfiliação, onde as instabilidades do contexto familiar e a falta de apoio das instituições comprometem a manutenção de laços significativos. Esse processo pode culminar no surgimento da rua como espaço possível de sobrevivência, afastando-se do ambiente original não só física como emocionalmente (Penna et al., 2017).

Entre as atividades econômicas desempenhadas pelas adolescentes, para obtenção de renda, destaca-se a venda de produtos (e.g., doces) na rua e nos transportes coletivos, bem como o serviço de babá. Essas atividades expõem as adolescentes a diversos riscos, como o de serem roubadas, aliciadas ou violentadas sexualmente. Também pode interferir no rendimento escolar e bem-estar, uma vez que o tempo que poderia ser dedicado aos estudos ou ao descanso é revertido para a sobrevivência. Uma alternativa para a inserção das adolescentes no mercado de trabalho formal são os programas de aprendizagem, onde os direitos da jovem trabalhadora são garantidos por lei, de modo que sua frequência escolar não seja prejudicada. De acordo com a Lei n. 10.097, 19 de dezembro de 2000, as condições de trabalho devem respeitar a integridade física, psíquica, moral e social dos adolescentes - princípios esses que não podem ser garantidos no trabalho informal. A Participante 3 (16 anos) começou a trabalhar nessa modalidade duas semanas anteriores à entrevista, mas relatou ser uma adaptação cansativa, pois acorda antes das seis horas da manhã e retorna para o acolhimento somente ao final do dia. Embora os jovens tenham a tendência a idealizar a emancipação econômica, a inserção laboral precária e precoce pode ameaçar o crescimento pessoal e profissional, dificultando a concretização de seus projetos de vida (Souza & Paiva, 2012).

Há de se pensar, ainda, que jovens oriundos de contextos mais vulneráveis nem sempre podem participar desse tipo de programa, visto que as dificuldades os levam a abandonar a escola e buscar fontes alternativas de trabalho para ajudar a si mesmos e suas famílias. Sem a inserção escolar, não possuem o pré-requisito obrigatório, e perdem as oportunidades oferecidas como palestras de orientação sobre o mercado de trabalho formal, articulação com empresas e instituições parceiras do Governo e obtenção de experiência. Dessa forma, discute-se a emergência de se construir estratégias para garantir às adolescentes em situação de rua o acesso à escola e ao trabalho, fatores potencialmente relacionados à autonomia e ao enfrentamento das adversidades (Dutra-Thomé et al., 2017).

Trajetória de Vinculação com a Rua: O Processo de Saída de Casa e Ida para a Rua

As adolescentes começaram a ir para a rua e/ou saíram de casa com idades variáveis entre sete e 14 anos, sendo que cinco saíram antes dos 12 anos. A maioria das adolescentes tiveram a experiência de moradia de rua (n = 7); uma delas utilizou a rua como espaço para lazer e atividades de risco (e.g., uso de drogas), retornando para dormir em casa, onde também tinha suas demais necessidades básicas satisfeitas (Participante 8, 18 anos); e outra adolescente foi encaminhada pelo Conselho Tutelar para a casa de passagem por ser vítima de abuso sexual perpetrado pelo pai (Participante 9, 16 anos). A violência no contexto familiar fez com que várias participantes fossem expulsas de suas casas, conforme o seguinte relato:

Ele [pai] ameaça, bate. Ia começar a me manter presa, em cárcere privado, porque ele mesmo não sai, então eu ia ficar trancada e tudo mais. Ele também disse que na primeira oportunidade que tivesse ia pegar meu telefone e eu nunca mais ia falar com ninguém. (Participante 5, 16 anos).

Dessa forma, os motivos para a saída do contexto familiar mais frequentes foram lazer com amigos e parceiro(a) romântico(a), uso de drogas e violência familiar contra si ou irmãos. Nas ruas, o uso de drogas se configura enquanto uma estratégia de sobrevivência, além de diversão e prazer (Penna et al., 2010). Essa participante mencionou: "eu não sentia muita fome, porque o efeito da cocaína tira. No meu corpo, ela tirava até minha menstruação". Conforme aponta Rizzini e Couto (2019), a rua aparece para as adolescentes como uma situação extrema e um pedido de socorro, antes silenciado ou invisível dentro de suas famílias e comunidades.

É importante salientar que a população em situação de rua é heterogênea, ou seja, diferentes perfis de jovens buscam esse ambiente com diferentes objetivos e têm com ele diferentes tipos de vinculação. Sobre a vinculação dos adolescentes com a rua, Embleton et al. (2016) subdividem essa população em três grupos, em tradução literal: 1) crianças de rua, que passam dias e noites na rua, com contato familiar inexistente ou limitado; 2) crianças na rua, que passam a maior parte do tempo na rua, mas que retornam para a casa da família ou de algum guardião à noite; 3) crianças de famílias de rua, que como o nome já indica, pertencem a famílias que vivem nas ruas. No Brasil, adota-se a nomenclatura situação de rua, tal como neste estudo, para enfatizar a transitoriedade e efemeridade das condições de vida e do perfil desta população (Rizzini & Couto, 2019).

Dentre as participantes que dormiram na rua, a maioria dormia na casa de conhecidos, como amigos e parentes. Duas adolescentes relataram dormir em bancos, praças ou calçadas, sendo que uma delas vinha de um contexto onde toda a família vivia na rua, devido ao desemprego e uso de drogas do pai. Essa adolescente (Participante 4, 17 anos) tem sido acolhida desde os sete anos de idade, tendo frequentado quatro instituições ao longo de sua vida. Outra adolescente (Participante 1, 16 anos) começou a sair e usar drogas por influência dos amigos e na época da pesquisa estava morando em uma cracolândia, onde era vítima de exploração sexual e de intensa violência física por policiais que invadiram a casa de prostituição onde trabalhava. Assim, depois deste episódio, foi hospitalizada e encaminhada para a casa de passagem. Ela detalhou:

Eu precisava de dinheiro para comprar a droga... fazia os programas lá dentro [casa de prostituição] e depois saía. Eu passei meus 16 anos todinhos nessa vida, não tem? Eu nem vi meus 16 anos passando. Eu achava que estava com 15, mas estava com 16, já... já tinha passado 1 ano. Aí quando eu fui ver no hospital, estava com 16, então passei esse ano todinho na cracolândia. [Entrevistadora: Tu foi no hospital?] - Porque eu fui espancada pelos policiais. (Participante 1, 16 anos).

As adolescentes são frequentemente relacionadas às piores formas de trabalho infantil, como exploração sexual comercial, trabalho forçado, tráfico de crianças e outras atividades ilícitas (Allais, 2009). A violência policial sofrida pela participante supracitada reflete as concepções que esses profissionais possuem sobre adolescentes em situação de rua. Um estudo prévio apresentou que os policiais participantes tenderam a caracterizar os adolescentes que vivem nas ruas como perigosos, envolvidos em atividades ilícitas ou relacionados a comportamentos socialmente reprováveis (Cerqueira-Santos et al., 2006). Tais concepções podem favorecer o tratamento violento, de caráter punitivo, em detrimento de uma prática profissional voltada à proteção desse grupo já tão marginalizado. Práticas punitivas são contrárias ao avanço no sistema de garantias de direitos, tendo-se o exemplo das Diretrizes Nacionais para o Atendimento a Crianças e Adolescentes em Situação de Rua (Brasil, 2017). Essa contradição foi verificada em uma revisão que ressaltou a dificuldade de garantir espaços de proteção que considerem as necessidades individuais das adolescentes e que atuem em favor da reinserção familiar e comunitária (Rizzini & Couto, 2018).

As formas de subsistência na rua variaram entre a exploração sexual comercial; envolvimento com o tráfico de drogas, "fazendo as correrias dos moleques", conforme ilustrou a Participante 5 (16 anos); e o trabalho informal como explicou a Participante 6 (13 anos): "sempre dei meu jeito pra falar a verdade. Sempre me virei. Cuidando de crianças, vendendo bala no ônibus". Outras participantes contaram com o suporte financeiro de pessoas provedoras de sustento enquanto se encontravam na rua, como amigos ou parentes. Os parentes e vizinhos se mostram mais abertos para acolher meninas do que meninos em determinadas situações (e.g., rompimentos familiares). Isso ocorre porque as meninas performam serviços domésticos e cuidados de crianças, facilitando a inserção das adolescentes dentro das casas (Sharma & Verma, 2013). Acrescenta-se que, na ausência de investimento governamental, as organizações de base comunitária que oferecem serviços em proteção aos adolescentes em situação de rua aparecem como fundamentais para ajudar no enfrentamento dos efeitos adversos de saúde e bem-estar resultantes da vida nas ruas (Oppong Asante, 2019).

 

Caracterização das Relações na Rede de Apoio das Adolescentes: Família, Escola, Amigos, Instituição e Rua

O contexto familiar

No contexto familiar, algumas questões foram comuns às adolescentes - tais como, pais separados ou divorciados, abuso de álcool ou outras drogas por membros da família e passagem do pai pelo sistema prisional. Altos níveis de conflito em casa, violência sexual e física por parte de membro da família, também foram situações narradas pelas participantes. Por exemplo, a Participante 9 (16 anos) relatou que foi violentada pelo padrasto aos 11 anos, mas apenas com 15 conseguiu romper o silêncio e contar para a mãe. Outra adolescente (Participante 7, 14 anos) residia com a mãe e o padrasto, sendo abusada pelo mesmo desde os sete anos. Por esse motivo, se mudou para junto do pai e da madrasta, mas aos 14 passou a ser abusada também pelo pai.

As adolescentes, ainda, relataram traumas por terem presenciado violências praticadas contra seus irmãos. A Participante 3 (16 anos), por exemplo, contou que começou a passar longos períodos fora de casa, pois seu padrasto agredia os irmãos mais novos e abusava sexualmente da irmã mais velha. Com esses relatos é possível identificar que não apenas a adolescente estava em risco, mas também seus irmãos e outros membros da família, como a mãe que sofria agressões físicas. Desse modo, as estratégias para as adolescentes em situação de rua devem ser pensadas para toda a família, visto que a adolescente desassistida denuncia uma família inatingida/inalcançada pela política oficial (Kaloustian & Ferrari, 1994). Estudos apontam que a satisfação das necessidades básicas (Lima & Morais, 2018) e o suporte oferecido pelas instituições aos familiares relacionaram-se ao bem-estar dos adolescentes em situação de rua (Lima & Morais, 2016).

Dentre as participantes, cinco relataram sensação de segurança com os familiares. Ou seja, embora os laços familiares estejam fragilizados, as adolescentes mantêm contato com a família, seja frequente ou intermitente. Contudo, a maioria afirmou que não participa de atividades com os familiares. Outros relatos apontaram para a insegurança com os familiares, por sentirem medo dos conflitos na família, das atitudes do padrasto e por não haver confiança nos familiares. A adolescente que foi abusada tanto pelo padrasto quanto pelo pai disse não se sentir segura porque seus pais "não cumprem com seus papéis". Outra adolescente (Participante 5, 16 anos) com histórico de violência intrafamiliar disse não ter nenhuma memória positiva dos familiares, explicitando: "se estivessem mortos, estaria mais feliz".

É importante notar que crianças oriundas de famílias com múltiplos problemas sofrem violências diferenciadas a depender de seu gênero. Aspectos culturais, como o machismo, podem ser potencializados pela falta de recursos e instrução. Nesse contexto, então, as adolescentes são alvos frequentes de abuso sexual, além da responsabilização de todo tipo de tarefa doméstica desde muito novas - como de cuidar dos irmãos, por exemplo -, numa divisão que dificilmente é igualitária. A desigualdade de gênero e violências atreladas potencializa sentimentos de conflito e insegurança prolongados, na medida em que meninas exploradas na juventude tendem a se tornar mulheres exploradas na vida adulta (Sharma & Verma, 2013).

O contexto dos amigos

As adolescentes com experiência de rua e uso de drogas citaram o envolvimento dos amigos nesses processos. Procurando fugir de um ambiente familiar conflituoso ou para se distrair dessa realidade, as amizades surgem tanto como fator de proteção quanto auxiliam na exposição a diversos fatores de risco. O caráter protetivo se mostra neste estudo, por exemplo, quando uma das adolescentes (Participante 2, 14 anos) relatou que residiu na casa de uma amiga que se responsabilizava pelo sustento das duas, tendo suas necessidades básicas supridas nesse período. A Participante 6 (13 anos), diante da quase total ruptura dos laços familiares, é categórica ao afirmar: "eles [meus amigos] são minha família. Eles falam que vou ficar bem, buscam ajudar, fazem companhia, ajudam a superar".

Estudos anteriores apontam que amizades recíprocas e significativas podem ajudar na externalização de problemas por parte daqueles que possuem dificuldades nas relações com os pais, especialmente com as mães (Booth et al., 1998). Também existem indícios de que amizades recíprocas possam modular os efeitos de disfuncionalidades familiares, principalmente na adolescência, auxiliando num melhor ajustamento às condições ambientais (Laible et al., 2000). Tais discussões são especialmente relevantes às adolescentes em situação de rua que possuem laços familiares fragilizados ou rompidos, podendo, portanto, ter benefícios em relações saudáveis com os pares.

No que se refere aos fatores de risco envolvidos nas interações com os amigos, aparecem o abuso de substâncias, o comportamento sexual de risco e a exposição à violência. A Participante 5 (16 anos) citou todos esses acontecimentos ao narrar quando começou a sair de casa e frequentar festas com uma amiga aos 13 anos. Ela relatou:

Droga sempre foi fácil na minha vida. Com ele [traficante] eu conseguia mais fácil porque a gente tinha uma relação colorida, mas toda vez que eu ia sair pra social ou pra algum rock, já estava lá em cima da mesa. Cocaína e maconha, o pessoal usava. E se eu gostasse de alguém que estava na festa, ficava com a pessoa. Se bobear, até namorava, começava um relacionamento. (Participante 5, 16 anos).

Essa participante sofreu uma tentativa de homicídio aos 15 anos por parte do companheiro da amiga numa sessão que misturava uso de drogas e experiência espiritual. Ela se encontrava nas primeiras semanas de gravidez à época, motivo este que a fez interromper o uso de drogas. A exposição precoce ao sexo e à violência sexual é parte da realidade de adolescentes em situação de rua no Brasil (Penna et al., 2010; Raffaelli et al., 2018) e em outros países (Cénat et al., 2018; Heerde & Hemphill, 2017). Neste estudo, todas as participantes relataram experiências sexuais, sendo 12 anos a idade média apresentada para primeira relação sexual.

Como consequência da exposição a todos esses fatores de risco, três adolescentes relataram terem experienciado a morte de amigos próximos. A participante 7 (14 anos) relatou que, semanas antes da entrevista, uma de suas melhores amigas de escola cometeu suicídio. Destaca-se também que duas participantes tinham comportamento autolesivo em momentos de extremo estresse. Assim, e não por acaso, entre 2011 e 2016, no Brasil, a maior parte das notificações de autoagressão e tentativa de suicídio referiam-se a adolescentes e jovens adultos. Ou seja, vulnerabilidades sociais, como a própria situação de rua, constituem fator de risco para a autolesão não suicida e comportamento suicida (Secretaria da Saúde, 2019).

A partir dessas informações, compreende-se que a situação de acolhimento pode desfavorecer as interações das adolescentes com seus amigos, ou seja, se por um lado estabelece distância das situações de risco (e.g., uso de drogas), por outro lado o contato com os amigos é dificultado. Sobre isso, a Participante 7 (14 anos) relatou que a relação com os amigos poderia ser melhor se pudesse vê-los com frequência, pois o único ambiente em que têm contato é na escola. Sugere-se, então, investigar em estudos futuros se há preconceito por parte dos amigos ou das famílias dos amigos em relação aos adolescentes acolhidos, bem como a frequência de visitas que esses adolescentes recebem de outras pessoas que não sejam seus familiares.

O contexto institucional

Os relatos das adolescentes evidenciaram dificuldades nas relações estabelecidas no contexto institucional. Dentre as entrevistadas, poucas relataram que participam de passeios, oficinas, veem filmes e ajudam nas tarefas domésticas da instituição, bem como desenvolveram uma boa relação com os profissionais, conforme afirmou a Participante 1 (16 anos). Contrapondo isso, as demais afirmaram que não gostam de participar ou que ficam apenas observando, apesar dos convites vindos dos profissionais, conforme descreveu a Participante 7 (14 anos). As dificuldades na relação no contexto da instituição, inclusive de expressar opiniões e comportamentos proativos, podem estar relacionadas aos eventos estressantes anteriores que levaram ao atendimento institucional, ou seja: no ambiente familiar, suas opiniões e iniciativas não eram consideradas; na rua, tinham suas possibilidades cerceadas pela constante ameaça de violências e violações diversas. Destarte, é importante que se promova contínuos estímulos e investimentos na autoestima de adolescentes em situação de rua.

Outro fator verificado são as queixas nas falas das adolescentes que evidenciaram a não adaptação ao contexto da instituição, tal como a Participante 9 (16 anos) que afirmou que "tudo parece estranho" e a Participante 2 (14 anos) que disse sentir-se muito assustada. Outras três entrevistadas que residiam em uma mesma instituição também compartilharam relatos negativos. As reclamações centraram-se no tratamento que os profissionais do local direcionavam às adolescentes. A Participante 3 (16 anos) disse não gostar da forma com que algumas meninas eram tratadas e afirmou que os profissionais a estressam. A Participante 4 (17 anos) também reclamou, dizendo que "as cuidadoras falam 'pelas costas' [das acolhidas]". Essas situações evidenciam o fato de que as instituições de acolhimento não são necessariamente locais de proteção para as adolescentes. As estratégias voltadas às adolescentes em situação de rua frequentemente envolvem práticas repressivas, detenção em centros lotados, afastamento de amigos e familiares, regras arbitrárias e atendimento sem uma orientação humanizada. Como consequência, parte dessas adolescentes retornam às ruas, evidenciando o quão ineficazes são as iniciativas (Embleton et al., 2016; Rizzini & Couto, 2018). Assim, tanto os governos quanto organizações não-governamentais devem pautar a administração dessas instituições em evidências científicas e investir na capacitação dos profissionais que lidam com um público frequentemente marginalizado e imerso em vulnerabilidades. Desse modo, pode-se avançar em práticas não universalizantes, direcionadas às necessidades específicas das adolescentes e adequadas às suas realidades. Por esta via, é fundamental promover espaços de acolhimento afetuoso que favoreçam a expressão da autonomia e exercício da cidadania.

O contexto escolar

Sobre o contexto escolar, as experiências de reprovação, desistência e expulsão ou suspensão perpassam as narrativas das adolescentes. "É horrível, péssimo", relatou uma delas referindo-se à sala de aula (Participante 2, 14 anos). A Participante 6, que aos 13 anos não tinha concluído o 5º ano do ensino fundamental I, lamentou: "eu queria ter falado mais da escola, mas fazem quatro anos que não estudo". Relatou ainda que era uma boa aluna e gostava de estudar, mas que reprovou por número de faltas e deixou a escola devido à necessidade de sustentar a si mesma e contribuir com a renda familiar. A Participante 4 (17 anos), que possui déficit cognitivo leve, disse odiar a escola, tendo abandonado o ensino regular e entrado para a EJA (Educação de Jovens e Adultos). Mas estava sem comparecer há uma semana quando foi entrevistada e afirmou que "queria mesmo era trabalhar".

Também foi observado nas entrevistas que as adolescentes acolhidas percebem ser vítimas de discriminação pelos outros alunos na escola. O impacto dos eventos adversos na trajetória de adolescentes em vulnerabilidade e, em especial, em situação de rua pode trazer prejuízos ao desenvolvimento (Morais et al., 2010). Nesse contexto, observa-se o impacto negativo nas interações com pares que poderiam se desenvolver em amizades. Narrativas que envolvem bullying e brigas com os colegas de escola são comuns e levam a suspensões e expulsões, contribuindo para a estigmatização das adolescentes como problemáticas e alvos de discriminação no meio social. Por exemplo, a Participante 9 (16 anos) relatou: "os meninos ficam implicando. Ficam imitando minha voz pra eu parar de falar"; e a Participante 3 (16 anos) contou que foi suspensa por ter batido nos meninos que puxavam o seu cabelo durante as aulas. Ainda como consequência das violências a que foi submetida antes de ser acolhida, a Participante 7 (14 anos) relatou não se sentir segura na escola por medo que seu pai, padrasto ou mãe apareçam de surpresa. Dados que apontam a importância das relações positivas na escola também foram encontrados em estudo sobre a trajetória de adolescentes em conflito com a lei (Piazzarollo et al., 2018).

Em situação semelhante à dos profissionais da instituição, as participantes foram unânimes na afirmação de que não convidam os professores para realização de atividades interativamente divertidas. Isso pode ser resultado da verticalização das relações entre professores e alunos, onde os primeiros ocupam o topo da hierarquia e os segundos acabam sendo vistos como meros ouvintes, tendo seus sonhos, desejos e afetividade quase sempre ignorados (Lima & Câmara, 2009). Outra realidade que contribui para esse afastamento é a inquestionável sobrecarga que os professores enfrentam devido ao grande número de alunos e turmas diárias. As exigências dirigidas a essa classe profissional são cada vez mais complexas, ainda que as condições de trabalho sejam precárias e os salários baixos, levando ao adoecimento (Gomes & Brito, 2006).

As dificuldades anteriormente citadas que as adolescentes enfrentam para permanecerem na escola comprometem o estabelecimento de relações significativas com a comunidade escolar. A necessidade de ajudar na subsistência familiar - ou, em casos mais extremos, do próprio sustento - exige muito tempo e energia das adolescentes. Viver em um ambiente marcado pela pobreza e problemas familiares pode prejudicar os estudos de diversas formas: carências nutricionais que enfraquecem o organismo; questões de ordem afetiva que perturbam a concentração e favorecem quadros ansiosos e depressivos; a falta de espaços tranquilos e de instrumentos de acesso à informação (livros, computadores, tablets, etc.) que coloca o estudante em desvantagem. Além disso, quando o Conselho Tutelar intervém e retira as adolescentes de seu contexto original, encaminhando-as para casas de passagens e, posteriormente, para instituições de acolhimento, dessa forma, não é incomum que haja danos à frequência e rendimento escolar durante a fase de adaptação ao novo ambiente. Em suma, os fatores são diversos e devem ser integralmente levados em consideração para evitar que a questão seja reduzida a inapetências individuais, como falta de esforço ou desinteresse pela escola.

O contexto da rua

Como nem todas as participantes tiveram uma experiência estendida ou de moradia de rua, a concepção desse contexto variou entre as entrevistas. Para aquelas que utilizaram a rua como moradia ou passaram tempo considerável na rua exercendo atividades de lazer, trabalho ou uso de drogas, esse espaço constitui-se tanto como local de interações sociais significativas quanto como detentor de vários riscos. A Participante 5 (16 anos) explicou que as interações com as pessoas no contexto da rua a ensinaram como sobreviver, bem como a usar drogas. Entretanto, o medo da violência permeou as narrativas de todas as adolescentes. Nas ruas a exposição ao uso e tráfico de drogas e exploração sexual levaram algumas delas a serem encaminhadas para os serviços de proteção da assistência social (e.g., Participante 1, 16 anos).

As adolescentes, sem experiência estendida na rua, enxergam esse lugar como um espaço para transitar e conviver pontualmente com outras pessoas. Para a Participante 7 (14 anos), as relações estabelecidas nesse contexto são com seus vizinhos e comerciantes da localidade. Segundo Montero (2004), uma comunidade seria o espaço territorial composto por dimensões físicas, culturais, sociais e psicológicas. O senso de comunidade, por sua vez, compreende os relacionamentos, atitudes, sentimentos e interações entre pessoas num contexto comunitário (Chavis et al., 1986). Estudos com adolescentes indicam que o senso de comunidade está atrelado ao suporte de amigos e é considerado um fator protetivo para sintomas psicossomáticos (Vieno et al., 2013).

Nesse sentido, se faz fundamental que todas as comunidades gozassem de espaços recreativos para as crianças e adolescentes. Contudo, a realidade brasileira se encontra distante desse ideal. Índices de violência alarmantes afastam a juventude dos espaços públicos, favorecendo a sensação de não pertencimento e inibindo potenciais encontros e trocas. Adolescentes do sexo feminino, em particular, ainda contam com o agravante de estarem mais expostas à violência sexual, o que constitui mais um fator de risco e afastamento das ruas. Estudos prévios também indicam que adolescentes em situação de rua tendem a não se reconhecer nesse espaço devido aos estereótipos socialmente estabelecidos acerca dessa população: jovens sujos, maltrapilhos, abandonados, delinquentes e usuários de drogas (Morais, Neiva-Silva, & Koller, 2010) Além disso, é importante ressaltar que a percepção de afastamento do espaço da rua das participantes pode decorrer do fato de várias delas estarem inseridas em serviços de proteção, estando atualmente ausentes das ruas.

 

Considerações Finais

Este estudo descreve a trajetória de nove adolescentes do sexo feminino em situação de rua, buscando três objetivos relacionados: (1) caracterizar o perfil sociodemográfico e econômico das adolescentes; (2) descrever o processo de saída de casa e ida para a rua; e, (3) caracterizar a rede de apoio, identificando os recursos e vulnerabilidades das relações nos contextos da família, escola, amigos, instituição e rua. Em conjunto, os resultados que abordam a trajetória de vinculação com a rua e o contexto familiar, a família aparece como um ambiente que também oferece riscos às adolescentes, com alta incidência de conflitos, violência física, psicológica e sexual. Em um contexto amplo de pobreza, desigualdade social e violência, a adolescente é impelida ao espaço da rua em busca de oportunidades para melhorar suas condições de vida. De modo que, a rua surge como espaço para obtenção de renda (com a venda de produtos, por exemplo) e fuga do ambiente familiar conflituoso. Contudo, a rua apresenta às adolescentes outros diversos riscos, constituindo um espaço continuado de exposição à violência especialmente para as meninas, que são as maiores vítimas de violência sexual.

Enfatiza-se o posicionamento de não culpabilização da família, ao passo que se aponta a falha do Estado em oferecer condições favoráveis para as famílias no desempenho de sua função de proteção. Indica-se também a necessidade do fomento de políticas destinadas às adolescentes em situação de rua com estratégias que englobem suas famílias. Com este intuito, sugere-se a construção de ações que favoreçam a entrada das famílias nos serviços de proteção com a finalidade de estreitar laços entre as adolescentes e suas famílias, oferecer apoio para os familiares em suas necessidades específicas e desenvolver programas de fortalecimento de vínculos, visto que muitos cuidadores também tiveram laços fragilizados ou rompidos com suas famílias de origem.

As relações com a rede de apoio apontam ainda para as adversidades enfrentadas pelas adolescentes quanto à permanência e ajuste à vida escolar. Jovens provenientes das periferias se deparam com todo tipo de dificuldade em sua trajetória estudantil: o sucateamento das escolas públicas e a falta de uma estrutura física e tecnológica adequada em seus lares podem ser citados como exemplo. Destarte, quando precisam ajudar na subsistência da família ou saem de casa devido aos problemas familiares, evadem da escola ou têm seu rendimento seriamente prejudicado, como as participantes deste estudo que relataram experiências de reprovação, desistência e expulsão ou suspensão. Assim, o desempenho acadêmico e o ingresso no mercado de trabalho como indicadores de adaptação para adolescentes fazem-se necessários na produção e envolvimento das adolescentes em programas alinhados com suas perspectivas de futuro.

Ademais, os resultados deste estudo sugerem a necessidade de aprofundamento da investigação sobre preconceito e discriminação nos amigos e na escola em relação às adolescentes, bem como a frequência de visitas que essas jovens recebem nas instituições de outras pessoas que não sejam seus familiares. As instituições de acolhimento, por sua vez, precisam se atentar às especificidades de cada adolescente no planejamento de suas ações. Diferenças de gênero, etnia, idade e trajetória de vida podem significar o fracasso ou o sucesso das estratégias de integração das adolescentes ao cotidiano institucional. Os profissionais que lidam diariamente com um público marcado por privações e violência precisam ser cuidadosos em seu trabalho, assim como precisam ser cuidados, cabendo ao Estado promover uma formação continuada e pautada nas produções científicas referentes a essa população.

A pesquisa com adolescentes em situação de rua envolve uma série de dificuldades derivadas das próprias características intrínsecas à vida nas ruas, como o mapeamento da cidade e levantamento de áreas onde as adolescentes costumam se concentrar, levando em conta que o fluxo se modifica de acordo com as circunstâncias. Dessa forma, o acesso a essa população ocorre em grande parte em articulação com os serviços de proteção, o que favorece a identificação e recrutamento das participantes. Contudo, nenhuma delas foi entrevistada no ambiente da rua em si, limitando a investigação da trajetória de meninas em moradia atual de rua. A percepção da rua para as adolescentes deste estudo revelou o medo da violência e exposição ao uso de drogas e exploração sexual, indicando a urgência de políticas públicas que tornem esse contexto menos tóxico. Por exemplo, com estratégias que trabalhem a relação entre a adolescência e os espaços coletivos (apropriação de espaços públicos, construção de espaços de lazer, relações de pertencimento e comunidade, etc.), fatores estes que podem atuar como proteção no enfrentamento dos efeitos negativos da experiência de vida na rua.

Os relacionamentos das adolescentes em situação de rua com a família, amigos, instituição, escola e rua, apresentados neste estudo - tanto no que se refere à importância das relações positivas quanto da falta de qualidade dessas relações em situações de preconceito, conflito e violência -, apontam para o papel primordial que a rede de apoio exerce em suas vidas. Potencializar os recursos nesses ambientes, com especial atenção aos processos proximais, pode ser um caminho eficaz para promover competências, impulsionando o desenvolvimento sadio, ou ainda para amenizar as situações adversas vividas (Bronfrenbrenner & Morris, 2006). É importante notar a qualidade sistêmica das relações na rede de apoio, conforme os relatos das participantes deste estudo que evidenciaram a privação, conflitos e violências diversas vividas na família. Condições estas que foram relacionadas ao apoio recebido dos seus amigos, que lhes oferecem suporte financeiro e emocional, ajudando-as na superação das adversidades.

As limitações e alcances deste estudo destacam a relevância social e acadêmica de pesquisas com adolescentes em situação de rua. Dessa forma, compreender como as questões de gênero afetam essas vivências é fundamental para se pensar, desenvolver e consolidar políticas públicas com o mais alto grau de eficácia, bem como, ao longo deste estudo, é perceptível que essas políticas não envolvem somente o campo assistencial. Dessa forma, é imprescindível, portanto, que as ações voltadas às adolescentes integrem a Atenção Primária em Saúde e a rede de ensino, junto ao Conselho Tutelar e as instituições de acolhimento, para um atendimento continuado e interdisciplinar.

 

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Endereço para correspondência:
Rebeca Fernandes Ferreira Lima
E-mail: rebecafflima@gmail.com

Letícia Sant'Ana Herzog
E-mail: leticiasherzog@hotmail.com

Edinete Maria Rosa
E-mail: edineter@gmail.com

Recebido em: 10/11/2020
Revisado em: 07/06/2021
Aceito em: 03/07/2021
Publicado online: 29/04/2022

 

 

Agradecimentos:
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES); e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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