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No momento em que Cristo, o filho que substitui o pai na esfera terrena, morre para pagar por nossos pecados, a culpa é simbolicamente estabelecida. O pai abandona o filho à morte, apenas para elevá-lo a uma condição transcendental. Assim, a Santíssima Trindade torna-se uma amálgama: o filho não é o pai, mas representa duas partes da mesma "substância", que são em si mesmas inseparáveis, ou seja, hipostasiadas. O filho castrado é o mesmo que o pai todo-poderoso, ou, pelo menos, pode ocupar a mesma função divina. Nós, então, "iguais à imagem e semelhança do pai", somos relegados a repetir ad æternum essas questões de morte, homicídio e assassinato - ao menos no plano fantasmático - em relação às figuras familiares (MIJOLLA-MELLOR, 2014). Esses jogos mortíferos imaginários podem se virar contra nós no Real. Nossa impotência é constantemente revelada pela atração em agir de forma todo-poderosa. Após a queda de Cristo, o paradoxo mantém-se: não podemos pecar porque é proibido; mas só podemos pecar, pois esse é nosso destino, o Outro já pagou por nós e sempre perdoa, o que torna possível agir, falar, cometer erros, etc., porque de outro modo seria impossível continuar vivendo. Afora a parte inefável do Espírito que vem a iluminar essas tragédias arcaicas, resta-nos desfrutar a vida sem muita preocupação, procurando constantemente superar nossas contradições éticas. Entretanto, a condenação a um presente perpétuo, ligado a um gozo potencialmente proibido, porém a ser vivido de imediato, constitui a fraqueza de uma autoridade divina que não tem apoio lógico suficiente (CARVALHO, 2017). A lei paterna apegada ao divino é, portanto, absolutamente contraditória.

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