Bahia
Quais são os principais problemas e dificuldades enfrentados pelos Cursos de graduação? Quais as propostas para superá-los? A estas duas questões responderam a Coordenação do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco e o professor Antonio Marcos Chaves, Coordenador do Colegiado do Curso de Psicologia da Universidade Federal da Bahia.
O Colegiado dos Cursos de Psicologia há muito tem verificado a defasagem do currículo que é oferecido aos alunos para a habilitação em Bacharelado, Licenciatura e Formação de Psicólogo. Estas deficiências e defasagens são constatadas confrontando o currículo e conseqüente formação oferecida e a realidade regional. Alguns aspectos do currículo atual são evidentes, tais como:
a) formação orientada para o exercício da Psicologia clínica, com ênfase na abordagem psicanalítica;
b) apenas uma disciplina específica para o preparo do exercício da Psicologia Industrial e ou organizacional.
c) nenhuma disciplina específica voltada para o preparo do Psicólogo Escolar;
d) nenhuma disciplina que subsidie o estudante para atuações coletivas, no âmbito de comunidades, associações e ou instituições;
]]> e) os estágios supervisionados são restritos às três áreas clássicas: psicologia clínica, psicologia escolar e psicologia industria).f) os estudantes só entram em contato com disciplinas que permitem uma aproximação às formas de raciocínio científico, de produção, análise e que despertam a curiosidade científica, ou seja, a de investigar, nos dois últimos períodos letivos do curso de Bacharelado;
g) o elenco das disciplinas optativas é muito restrito: treze disciplinas, dentre as quais o aluno é obrigado a cursar cinco. Vale ressaltar que em média oferece-se a cada semestre letivo apenas seis delas, sem muita variação, o que as torna, praticamente, obrigatórias.
Qual tem sido, grosso modo, o perfil do estudante ou do profissional formado? Os estudantes a partir do 3º semestre iniciam a sua carreira para a formação clínica com vistas a uma prática psicanalítica, começam a estudar Psicologia da Personalidade I e II, geralmente discutindo conteúdos psicanalíticos, que são aprofundados em Teorias da Personalidade I. Neste momento em que os estudantes já refletiram 180 horas sobre as obras de Freud e seus seguidores e que muitos, precipitadamente, já consideram esta a sua opção teórica, deparam-se com o gestaltismo em Teorias da Personalidade II, e com o behaviorismo em Teorias da Personalidade III. Fora toda esta preparação clínica, os alunos passam 375 horas do curso estudando Técnicas de Exame e Aconselhamento Psicológico, ministrados por professores psicanalistas e 360 horas estudando psicopatologia dentro de um modelo médico. Parece claro que no final de todos estes estudos a opção em termos de área de estágio supervisionado seja, predominantemente, na área clínica e dentro da orientação psicanalítica.
Por tudo isso e claro reflexo da formação oferecida pelo curso, mesmo as áreas clássicas de atuação como a psicologia escolar e a psicologia industrial ficam relegadas, possibilidades de atuação comunitária e ou institucionais ficam mais distantes ainda.
Outro grande problema é no que se refere à formação científica dos profissionais, pois na medida em que o estudante opta, prematuramente, pela atuação profissional em Psicologia Clínica e só se depara com discussões metodológicas relativas à ciência, no final do curso, o interesse do aluno centra-se em aprender técnicas que viabilizem a sua atuação profissional, do que na análise sistemática das teorias psicológicas com base na fundamentação científica que as sustenta.
A decorrência de tudo isso é que se coloca à disposição da comunidade uma massa de profissionais que, na maior parte das vezes, vai enclausurar-se em seus consultórios particulares para atender uma clientela "seleta" e uma cidade com uma população pobre, com centenas de escolas, com inúmeras instituições e com uma indústria em expansão, que não dispõe de profissionais psicólogos para atender as suas demandas.
Constatadas estas deficiências e vieses na formação em Psicologia oferecida por este curso, o Colegiado tem encaminhado árduas discussões no sentido de:
a) priorizar a formação científica desde o início do curso, necessariamente óbvia para o Bacharel em Psicologia, e indispensável para a formação do profissional competente e conseqüente;
b) diversificar a oferta das disciplinas visando atender aos objetivos de um curso de graduação com vistas à formação geral do profissional em Psicologia e sem sobrecarga para qualquer enfoque teórico;
]]> c) montar cadeias de disciplinas que viabilizem a formação durante todo o curso, visando as seguintes terminalidades: 1) Bacharel em Psicologia, 2) Professor de ensino de 2° grau, 3) Psicólogo clínico, psicólogo escolar, psicólogo industrial e ou organizacional e psicólogo para atuar em instituições e ou psicologia social comunitária.Perseguindo este objetivo de reformulação, neste ano produziu-se, inicialmente, uma proposta de reformulação do 1° ciclo de estudos que compreenderá os dois primeiros semestres letivos e tem como objetivo fornecer condições para o estudante ter uma formação básica e geral para o conseqüente estudo específico da Psicologia. Esta proposta está em processo de discussão e aprovação no Colegiado e sugere como conjunto de estudos básicos as disciplinas: Introdução à Filosofia, Introdução à Antropologia, História da Psicologia, Fundamentos de Psicologia Neuroanatomia, Introdução à Sociologia, Psicologia Geral, Introdução à Metodologia Científica, Métodos Quantitativos, Fisiologia e Genética Aplicada.
Assim que este processo com relação ao 1° Ciclo for concluído, partir-se-á para a reformulação do 2° Ciclo.
Pernambuco
A exemplo do que vem ocorrendo a nível nacional, o curso de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco com habilitações em bacharelado e formação de psicológo, ressence-se de algumas dificuldades em sua estrutura organizativa.
Em função de solicitação da pró-reitoria acadêmica para que procedêssemos a uma ampla avaliação do curso, resolvemos que esta deveria culminar com uma reforma curricular.
A avaliação teve início no primeiro semestre de 1988 e escolhemos como método de trabalho a divisão do curso em 4 áreas (psicologia do trabalho, clínica, escolar e pesquisa) e o agrupamento dos professores por área de conhecimento, havendo para cada uma das 4 áreas um coordenador.
Cada grupo, apresentou ao pleno do Departamento um documento com o diagnóstico da situação da sua área no curso e ainda sugestões de como enfrentar os problemas detectados.
A participação estudantil deu-se através da escolha de um representante por período letivo totalizando 10 estudantes com direito a voz e voto. Os demais alunos podiam participar das reuniões apenas com direito a voz.
]]> Os estudantes realizaram paralelamente seus estudos sobre o curso e apresentaram também sugestões para possíveis mudanças. Após a apresentação e debates das 4 áreas passou-se a discutir as novas propostas de ementas por disciplinas, tanto eletivas como as do currículo mínimo.No presente momento há uma comissão de sistematização elaborando uma nova proposta de organização do curso e de sua grade curricular, que deverá ser apresentada ainda este mês em reunião do pleno do Departamento.
Das dificuldades encontradas ao longo do processo avaliativo podemos destacar, neste momento, as seguintes:
1. Desconexão entre as disciplinas 1.1 Redefinição dos conteúdos das disciplinas envolvendo os processos básicos, incluindo de forma mais abrangente os processos de memória, linguagem e comunicação e os processos cognitivos de modo mais amplo.
1.2. Redefinição dos pré-requisitos em relação à maioria das disciplinas constantes da grade curricular.
1.3. Falta de integração dos professores no planejamento de seus cursos, necessitando coordenar sua ações no sentido de entender por que e para que se estudam determinados conteúdos e/ou pesquisas.
1.4. Escassez de produção de conhecimento na intersecção dos aspectos afetivos, cognitivos e social, dificultando a articulação desses aspectos. Acrescente-se a isto, a necessidade de maior integração entre algumas disciplinas que se relacionam com determinada área, evitando-se assim a departamentalização do conhecimento.
2. Disciplinas predominantemente na área clínica e ausência de prática.
Tradicionalmente, observa-se uma maior concentração no atendimento psicoterápia) e no psicoldiagnóstico, a ponto da representação social do clínico ser expressa como aquela que desempenha exclusivamente essas funções.
Na perspectiva de que nosso curso superdimensiona a atividade psicoterápica, observa-se também uma ênfase nos conteúdos teóricos em detrimento de atividades práticas.
]]> A formação do psicólogo do trabalho é fortemente marcada por conteúdos da área clínica, o que poderia ser enriquecedor, se este fato não ocorresse em detrimento dos conteúdos específicos da área de trabalho.3. Currículo fora da realidade sócío-cultural e dicotomia entre teoria e prática.
Com a diversificação e amplitude dos temas dentro da psicologia industrial, há uma necessidade dos cursos de psicologia acompanharem estes avanços produzidos pelos estudos desenvolvidos pelos profissionais envolvidos com a área. Se no seu início a psicologia, principalmente a industrial, voltava-se prioritariamente para o indivíduo, como força produtiva, visando adaptá-lo à situação de trabalho, na atualidade há uma preocupação com a organização e com o indivíduo buscando, assim, uma visão sistêmica.
4. Dicotomia entre teoria e prática Quando da implantação do curso, a prática na área de psicologia do trabalho era preponderantemente voltada para a seleção de pessoal e/ou orientação profissional. A realidade hoje é outra, a psicologia estuda e ajuda o homem em seu trabalho em quaisquer situações e não só na indústria. Os avanços devem-se à pesquisa e novas reflexões sobre o tema.
5. Currículo fora da realidade sócio- cultural
Os títulos se diversificaram psicologia organizacional, psicologia do trabalho, psicologia social das organizações, psicologia das relações humanas no trabalho etc. Esta diversificação mostra bem a amplitude que a área vem atingindo.
- Se antes a psicologia industrial se voltava, prioritariamente, para o indivíduo como força produtiva visando adaptá-lo à situação de trabalho, hoje, sem esquecer o individuo, se preocupa com a organização como um todo numa visão sistêmica.
- Sugere criação de novas disciplinas e formação de grupos de trabalho capacitado, preocupado com o ensino, a produção de pesquisa e a extensão.
6. Impossibilidade de aprofundar questões.
Algumas propostas para neutralizar as dificuldades detectadas.
]]> 1. Nova perspectiva para a psicologia, exigindo uma ação interdisciplinar, o que demanda uma atualização na formação profissional e aponta na direção do trabalho do psicólogo como ligado à promoção da saúde nas suas múltiplas e complexas determinações.2. Propiciar ao aluno uma formação mais abrangente visando assegurar-lhe habilitação para responder aos novos desafios da profissão.
Maior integração entre as diferentes áreas de conhecimento principalmente com a psicologia social.
Objetivo de formar um profissional que se identifique como um profissional de saúde e que possa optar por atividades a nível individual, grupal, institucional e/ou comunitário.
3. Maior ênfase também na pesquisa e em trabalhos de extensão.
4. Planejamento anual, conjunto das atividades que integram as diferentes áreas.
5. Incentivo à monografia como forma de preencher lacunas de interesse do aluno que não estão suficientemente exploradas ao longo do curso.
6. Criação de um serviço interdisciplinar com o objetivo de oferecer aos alunos atividades práticas onde eles possam usufruir das diferentes especializações do corpo docente.
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