A identificação e a constituição do sujeito
The subject’s identification and constitution
Andréia da Silva Stenner*
Universidade Federal do Rio de Janeiro
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo traçar o percurso discursivo em Freud e Lacan, principalmente em seu Seminário IX, inédito, “A Identificação”, como um fenômeno importante para demarcar a constituição do sujeito.
Palavras-chave: Identificação, Sujeito, Eu.
ABSTRACT
The aim of this work is to outline Freud and Lacan´s discursive course, mainly Lacan´s original Seminar IX , “The Identification” as an important phenomenon to trace the constitution of the subject.
Keywords: Identification, Subject, I.
]]> Para se pensar a constituição do sujeito, é necessário abordar o fenômeno da identificação, formulado na construção freudiana e estabelecido em Lacan, principalmente, no Seminário que trata desse tema. A noção de identificação aparece em vários textos ao longo da obra de Freud, desdobrando-se em identificações que irão demarcar o eu como instância identificatória. Lacan retoma a identificação com o estatuto do nome próprio a partir do traço unário.
Portanto, neste trabalho, trataremos do tema da identificação a partir da constituição do eu em Freud e da atribuição posterior de Lacan para a identificação, como identificação ao significante, postulada em O Seminário, livro 9, “A Identificação”(1961-62).
O Percurso Freudiano
Desde seus primeiros escritos, Freud, na construção do aparelho psíquico, circunscrever, nomear e instituir o eu a partir da experiência primária de satisfação. Em “ O Projeto Para uma Psicologia Científica”(1895), irá denominar que o eu consiste, originalmente, de neurônios nucleares, que recebem “Qn” endógenas e as descarregam, e cuja função é inibir a descarga quando não há objeto a partir dos signos percebidos, o que ele denomina atenção psíquica e defesa primária. O eu constituiria a totalidade dos investimentos, das séries de prazer e desprazer, a partir da experiência primária de satisfação. A não-coincidência entre percepção e o acúmulo de excitações endógenas do bebê trariam como efeito a alucinação do objeto desejado, o que causaria, segundo Freud, a existência permanente de um corpo de neurônios catexizados, constituindo a base fisiológica do eu.
Nessa identificação inaugural, verifica-se um desencontro entre o desamparo inicial, o estado de urgência e o objeto original que se perdeu, que é, na verdade, mítico, onde o que é permanente são os traços, os trilhamentos, os caminhos, que irão se instaurar e se inscrever no aparelho psíquico, criando a memória e o próprio inconsciente. Não se trata, aqui, de conceituar o inconsciente, objeto de um outro estudo, mas de pensá-lo a partir da segunda tópica para a construção do processo identificatório. Se, nesse momento, o eu surge a partir de seus investimentos no mundo externo, em busca de satisfação, criando uma identidade de memória, trilhamentos, traços e facilitações, é a partir do texto “Sobre o Narcisismo: uma Introdução”(1914) que o eu também se torna objeto de investimento, ou seja, o eu é também um objeto, o que, de certa forma, já havia sido anteriormente trabalhado em “Os Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade” (1905). Nesse texto, de 1905, Freud traz o conceito de auto-erotismo, que faz do corpo um objeto de investimentos.
As conclusões sobre o narcisismo irão dar-se a partir das investigações clínicas. Através da doença orgânica, da hipocondria e da vida amorosa, é que Freud observou e pôde se apropriar do conceito de narcisismo e pensar, formalizando-os posteriormente, os fenômenos identificatórios.
Na doença orgânica, “...o homem enfermo retira suas catexias libidinais de volta para seu próprio eu” (Freud, 1914, p.89). A hipocondria também traduz a retirada da libido dos objetos do mundo externo, concentrando-a em um órgão catexizado. A descrição clínica da esquizofrenia, como exemplifica Freud, irá demonstrar que houve um desinvestimento da libido de pessoas e coisas do mundo externo, retirando-se para o eu. É o que atesta o fenômeno da megalomania, que não constitui uma criação nova, pelo contrário, é, como sabemos, ampliação e manifestação mais clara de uma condição que já existia, o que leva a considerar o narcisismo - que surge através da indução de catexias objetais- como secundário.
Na vida amorosa, Freud irá falar das primeiras escolhas amorosas de uma criança, entre as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção, o que irá resultar na escolha anaclítica (a mulher que alimenta, o homem que protege) ou a escolha narcisista, onde procura a si mesma como um objeto amoroso (o que ela própria é ou foi). É também pela via narcísica que surge o “eu ideal”, portanto, concerne precisamente ao que Freud chamou de “eu real”, ou seja, aquele narcisismo infantil caracterizado pela auto-suficiência. Esse estado narcísico é temporário. O julgamento suscitado pelas críticas dos pais, pelas censuras dos educadores e da sociedade em geral vai desfazer, progressivamente, esse estado de auto-suficiência. O sujeito que reluta em renunciar a essa primeira forma de satisfação procura, então, resgatá-la através de um novo ideal, a saber, o “ideal do eu”, que será assimilado à instância do supereu, onde as funções de auto-observação, julgamento e censura aumentam as exigências do eu e favorecem o recalque. Mais tarde, isso será desenvolvido no texto “ O Eu e o isso” (1923).
Nesse sentido, a partir de 1914, Freud faz do narcisismo uma forma de investimento pulsional necessária à vida objetiva, tornando-se um dado estrutural do sujeito. A introdução do narcisismo acarreta, quanto à definição do eu, o seu não-surgimento desde logo, nem mesmo como resultado de uma diferenciação progressiva, mas que exige, para se constituir, “uma nova ação psíquica”.
]]> Esse texto de 1914 propõe uma primeira virada, que irá culminar com a formulação do “O Eu e o Isso”( 1923) da segunda tópica freudiana:o eu, isso e o supereu. As atribuições do eu seriam: operar o recalcamento, sede da resistência, gerir a relação “princípio do prazer e realidade” e a participação da censura pela via do supereu. Freud define, nesse texto, que o supereu não é simplesmente um resíduo das primeiras escolhas objetais do isso, mas também representa uma formação reativa enérgica contra essas escolhas, já que ao: “você deveria ser assim como seu pai”, implica dizer: “você não pode ser como ele, fazer tudo o que ele faz, certas coisas são prerrogativas dele”. Daí é que advém seu caráter repressor. Freud irá considerar que a libido não está mais no eu, e, sim, acumulada no isso, e que o eu se apodera dela tentando impor-se ao isso como objeto amoroso. Portanto, o narcisismo do eu é um narcisismo secundário, que foi retirado dos objetos, como bem demonstraram os exemplos clínicos de Freud em 1914.Em seu texto de 1923, Freud situa o eu a serviço de três senhores e, conseqüentemente, ameaçado por três perigos: o mundo externo, a libido do isso e a severidade do supereu. E, mais, se antes o eu era muito mais considerado como um grande reservatório de libido, de onde ela era enviada para os objetos, e também recebia parte da libido que refluía dos objetos, é a partir da 2ª tópica que o eu intervém como agente de defesa, o supereu como agente das interdições e o isso como pólo pulsional. O eu, a partir dessa descrição, é, em grande parte, inconsciente, e o isso passa a ser o reservatório primeiro de energia psíquica onde se defrontam as pulsões. Assim, o inconsciente não é mais abordado como um sistema, mas como uma propriedade do isso. Sem recalcamento, não há inconsciente, como teoriza a primeira tópica, mas, sem o isso inconsciente, não há psiquismo que constitua seu primeiro furo originário.
O supereu é a grande inovação da 2ª tópica. Ele inibe nossos atos ou provoca remorsos, e é considerado por Freud como a instância judiciária do nosso psiquismo. O supereu aparece como defesa primária – inibição – no Projeto (1895) e sob a forma de censura do sonho. O papel interditor do supereu foi, primeiro, representado por uma potência externa, pela autoridade parental. A criança não possui inibições internas, obedece aos seus impulsos aspirando apenas ao prazer.
O eu, inicialmente “fraco”, no dizer de Freud, dá-se conta dos investimentos objetais, sujeita-se ou desvia-se pelo recalque e, nesse sentido, o caráter do eu é um precipitado de catexias objetais abandonadas, e, o mais importante, traz como inscrição, marca, traços, a história dessas escolhas de objeto.
Quando o eu assume as características do objeto, está forçando-se ao isso como um objeto de amor e tentando compensar a perda do isso, dizendo que pode amá-lo por ser semelhante ao objeto pela via da identificação.
Essa possibilidade, explicada anteriormente pela teoria do narcisismo, que toma o eu como objeto de investimento dando origem aos seus desdobramentos, é o que ele aponta como ideal do eu. Na origem do ideal do eu, jaz oculta a primeira e mais importante identificação: a identificação ao pai. A idéia do supereu, lançada no narcisismo, havia sido trabalhada no “Totem e Tabu” (1913), quando Freud explicou a origem da civilização pela morte do pai, que instaura a lei, e sua conseqüente identificação com ele. Se, na horda primitiva, o pai, detentor de todas as mulheres, é morto e incorporado, gerando o tabu e as proibições, é sobre essas proibições – a do incesto – que se funda a civilização, onde o ódio ao pai está na origem, e é do remorso sentido devido ao ódio e à morte do pai que nascem todos os interditos sociais.O pai morto, que se tornou mais forte do que quando vivo, instaura uma lei que possibilita a existência de um clã fraterno, onde a identificação por incorporação a esse pai, elevado ao lugar de ideal, é o que permite a coesão do grupo, mesmo que às custas de um mal-estar.
Em “Psicologia das Massas e a Análise do Eu” (1921), a partir da pergunta sobre o modo como um grupo se forma e sua capacidade de exercer influência na vida das pessoas, Freud encontra a pulsão pela via do ‘amor’ como a que promove laços, laços que só se fornecem pela via da identificação, o seja, a libido retorna ao eu para investir nos objetos narcisicamente.
O amor por si mesmo só conhece uma barreira, o amor pelos objetos,e é pela via da identificação que esses objetos são incorporados ao eu, ou seja, são escolhas narcísicas, não havendo uma oposição entre o eu e o objeto, pois Freud irá dizer mesmo que a identificação constitui a forma original de laço emocional com o objeto, e essa identificação só se torna possível porque o sujeito abandona seu “ideal do eu” e o substitui pelo ideal do grupo corporificado na figura do líder, uma identificação ao ideal paterno. Nesse sentido, o supereu é, inicialmente, a primeira identificação, e ele irá conservar pela vida esse caráter, conferido em sua origem no complexo paterno, diz Freud. A renúncia às satisfações pulsionais será a conseqüência para não perder o amor dessa autoridade externa, e é a partir dessa renúncia que a civilização surge. No capítulo VII , que trata especificamente da identificação, Freud traz três formas de identificação: como um laço emocional com um objeto, ligado à idéia da incorporação ao pai mítico; como uma regressão mediante um traço- o que nos aponta a psicose - e como uma qualidade compartilhada com alguém, como a histeria tão bem demonstra.
Como já abordamos anteriormente a relação da identificação com o pai, tratemos, pois, da identificação regressiva e histérica. É interessante pensar que a formalização do conceito de narcisismo tenha tido origem na percepção de Freud em relação aos mecanismos esquizofrênicos, onde o eu fica totalmente investido, como atesta a megalomania, com o engrandecimento do eu. Já na melancolia, Freud, no texto ”Luto e Melancolia”(1917), traz o abandono do investimento objetal, onde não há identificação a um traço do objeto perdido. “A Sombra do Objeto Caiu Sobre o Eu” (Freud 1917, p. 281). A partir daí, pôde-se pensar a identificação regressiva e também como sendo sempre parcial. O que a melancolia mostra, ao contrário de um processo de luto normal, é que, ao invés de o sujeito identificar-se parcialmente como objeto perdido, ou seja, com traços, ele se torna o próprio objeto em sua radicalidade, diferentemente da neurose, como Freud trouxe no trabalho com a histeria. Em “A Interpretação dos Sonhos” (1900), ele traz, ao relatar o sonho da “bela açougueira”(Freud 1900, p.161), o estatuto da identificação histérica. O sonho de sua paciente, que contrariava aparentemente a sua tese de que o sonho é uma realização de desejo, acaba adquirindo uma nova interpretação, na qual Freud detecta a identificação de sua paciente com uma amiga, o que o leva a questionar o sentido dessa identificação:
“Qual o sentido da identificação histérica ? (...)Dirão que isso não passa da conhecida imitação histérica, da capacidade dos histéricos de imitarem quaisquer sintomas de outras pessoas que possam ter despertado sua atenção-solidariedade, por assim dizer, intensificada até o ponto da reprodução. Isso, porém, não faz mais do que indicar-nos a trilha percorrida pelo processo psíquico da imitação histérica. Essa trilha é diferente do ato mental que se processa ao longo dela. Esse é um pouco mais complicado do que o quadro comum da imitação histérica” (Freud 1900, p. 163).
]]> È exatamente por não se tratar de uma imitação que, contrariamente a qualquer noção psicológica que se possa ter, a Psicanálise traz a identificação como um traço, como um processo que constitui e instaura o aparato psíquico e o eu ou o sujeito, cuja nova ação psíquica necessita de um ideal que, por ser mítico, opera enquanto significante. É assim que Lacan resgata do texto freudiano, a partir do Caso Dora (Freud 1905[1901]), que toma emprestado do pai sua tosse, um traço , ein einziger Zug , o traço único, ou, como dele se apropria e nomeia Lacan, o traço unário.
O Percurso Lacaniano
A noção de identificação freudiana, retomada em O Seminário, livro 9, de Lacan (1961-62), elucidar-nos-á sobre o estatuto do nome na constituição do sujeito pela via do traço unário. Lacan inicia O Seminário, livro 9 (1961-62), sobre a identificação, dizendo que irá falar da identificação de forma diferente da abordada anteriormente, que chamou de mítica. Ele retoma a identificação histérica definida por Freud como diferente de uma imitação ou mesmo diferente do pensamento de que a identificação seria uma referência pura e simples a um outro ao qual nos identificamos. Ela é identificação ao significante.
É nessa via que Lacan relê Freud em seu percurso das identificações e aponta a identificação ao traço, ao einzinger Zug, como o que possibilita a própria cadeia significante ou a instauração do sujeito do inconsciente, sustentando, então, ao ponto não-mítico, a identificação inaugural ao traço como a identificação ao ideal do eu. Trata-se de um traço único, como diz Lacan, absolutamente despersonalizado.
“ A fundação do um que constitui esse traço não é em nenhuma parte tomada noutro lugar senão em sua unicidade: como tal, não se pode dizer dele outra coisa senão que ele é o que tem de comum todo significante, de ser, antes de tudo, constituído como traço, por ter esse traço por suporte” (Lacan 22/11/61).
Enquanto Freud traz a clínica como pano de fundo para as suas observações, Lacan traz o exemplo de sua cadela Justine, onde a relação com o outro não lhe permite fazer da linguagem um ponto de identificação que a represente enquanto sujeito, ou seja, ela pode reconhecer seu dono no plano imaginário, mas não sabemos onde ela se identifica.
“É justamente aqui que aparece a função, o valor do significante como tal, e é na própria medida em que é do sujeito que se trata que temos de nos interrogar sobre a relação dessa identificação do sujeito com o que é uma dimensão diferente de tudo o que é da ordem da aparição e do desaparecimento, ou seja, o estatuto do significante ” (Lacan 6/12/61).
Nesse sentido, no plano imaginário ou do outro, a identificação estaria ligada ao aparecimento e desaparecimento, o fort-da freudiano, mas trata-se de uma outra ordem, trata-se, mesmo, do significante, o que ele exemplifica no caso Hans quando o mesmo elege - frente a uma suspensão radical do desejo da mãe – um significante que o preserva no mínimo de centragem de seu ser e, ao mesmo tempo, o protege de ficar à deriva do capricho materno. Lacan continua em sua releitura de Freud apontando os três tipos de identificação: a regressiva, a identificação ao pai, por incorporação, e a histérica, pela via do desejo.
Ao diferenciar o sujeito do significante, Lacan traz o estatuto do nome próprio para falar da identificação, nome que vale por sua função distintiva em sua materialidadade sonora, e cuja função para o sujeito, na linguagem, é nomeá-lo diante de uma bateria significante.
]]> Ao se reapropriar da linguagem de Saussure, Lacan caracteriza o significante como diferença apoiada na função da unidade, entendida como função do UM, não no sentido de unificação, mas de unicidade, ou seja, referindo-se a um traço puramente distintivo; é exatamente isso que irá constituir o sujeito em sua relação com o Outro - o inconsciente, tesouro do significante - a partir do qual só se pode fazer representar por um significante, retirado como traço desse Outro.O que esse traço carrega é, na verdade, o suposto encontro com o objeto: “(...) se é do objeto que o traço surge, de algo do objeto que o traço retém, justamente sua unicidade, o apagamento, a destruição absoluta de todas essas outras emergências...”(Lacan 24/01/62).
Assim, a identificação ao traço aponta para uma falta, nesse desencontro inaugural que constitui o sujeito, como o demonstrou o Projeto (1895). A repetição surge, então, como repetição significante, na tentativa de restabelecer ou restaurar esse momento mítico no que ele tem de unicidade; não se trata de um eu-síntese, mas de um eu que se constitui como des-ser, como faltoso.
Nesse sentido, o trilhamento escolhido nesse trabalho vem apontar-nos o eu como o lugar das identificações onde o sujeito se relaciona a partir de uma falta e busca sua unidade de ser numa relação que será sempre dissimétrica. Essa identificação dá-se por um assujeitamento à lei, a uma lei internalizada pela via do ideal do eu.
É pela vinculação do significante ao ideal que se abre ao sujeito a possibilidade de saída do campo narcísico, onde a identificação às insígnias do pai, instaurando a interdição do incesto simbólica, dá origem à civilização, ao se ver privada por uma renúncia pulsional que Freud e Lacan assinalam como inerente ao campo do sujeito. A “bela açougueira”(1900), privada em seu sonho do que mais gosta, o caviar, identifica-se com a privação de sua amiga de seu objeto predileto, o salmão.
É exatamente por não se tratar de uma imitação que, contrariamente a qualquer noção psicológica que se possa ter, a Psicanálise traz a identificação como identificação a um traço e como um processo que constitui e instaura o aparato psíquico e o sujeito, cuja nova ação psíquica necessita de um ideal que, por ser mítico, opera enquanto significante. Como vimos anteriormente, é assim que Lacan resgata do texto freudiano, em Dora (Freud,1905 [1901]), quando ela toma emprestada, do pai, sua tosse. A tosse é vista, por Lacan, como o traço unário, a einziger Zug , ou, como Freud denominava: traço único.
O elemento novo, trazido por Lacan, que se inscreve na identificação freudiana, ainda estaria por vir em O Seminário, livro 10(1962-63): é o objeto a. Nessa etapa de sua elaboração, Lacan ainda não contava com a conceituação do objeto a, mas não se pode deixar de concluir que a identificação surge a partir de uma operação cujo resto é o objeto a, que aponta para uma falta constitutiva no sujeito e no Outro.
“Como indiquei ontem à noite, o objeto metonímico do desejo, o que em todos os objetos representa esse pequeno a eletivo, onde o objeto se perde, quando esse objeto surge como metafórico, quando chegamos a substituí-lo ao sujeito, que, na demanda, chega a se sincopar, a desaparecer, a ausência de marca; o significante desse sujeito nós o revelamos, damo-lhe seu nome(...)”( Lacan, 29/11/61).
Na verdade, identificação a uma falta no Outro. É a falta no Outro, tomada como objeto, frente a uma perda, que viabiliza ao sujeito poder advir no Outro a partir das identificações. Em O Seminário, livro 11(1964), Lacan traz a falta para o campo do sujeito e do Outro. A falta tem uma dupla inscrição. Por um lado, ela advém do fato de o sujeito depender de um significante que está primeiro no Outro; por outro lado, ela é o que o sujeito perde em sua entrada na linguagem. O que Lacan dirá, de outra forma, é que não há no campo do Outro, nem no campo do sujeito, um significante que dê conta do ser, da mulher, da morte, e, portanto, a falta é condição de inscrição para todo ser de linguagem.
]]> Referências
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LACAN, J. Os Quatro Conceitos Fundamentais da
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Zahar,1988(1964).
Endereço para correspondência
Andréia da Silva Stenner ]]>
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E-mail:andréia_stenner@bol.com.br
Recebido em 06/11/02
Aprovado 02/01/04
* Especialista em Psicanálise pelo CES/JF. Especialista em Saúde Mental pela Esmig/MG. Mestranda em Teoria Psicanalítica –UFRJ.
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