Sintomas de depressão em universitários de medicina
Symptoms of depression in medical university students
Síntomas de depresión en estudiantes universitarios de medicina
Daniele Ramos de Aquino1,I; Rodrigo Alves Cardoso2,I; Lucinéia de Pinho3,II
]]> IFaculdade de Saúde Ibituruna – FASI, Minas Gerais
RESUMO
A depressão é um problema de saúde mental comum, com maior prevalência em universitários de medicina do que na população geral. O objetivo deste estudo foi verificar os sintomas depressivos nos universitários de medicina de uma instituição privada localizada no norte de Minas Gerais. A amostra foi composta por 121 participantes que se submeteram ao conjunto de instrumentos para avaliação das características: sociodemográfica, formação e sintomas depressivos. Para averiguação da sintomatologia depressiva foi utilizado o Inventário de Depressão. Os dados foram analisados estatisticamente pelo programa SPSS®. A orientação ética da pesquisa foi regulada pelas diretrizes da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, com aprovação do Cep de n° 2.428.669. Os resultados apontam maior prevalência dos sintomas depressivos: humor triste ou deprimido (87,6%), dificuldade de concentração (89,3%), cansaço ou perda de energia (89,3%), pensamentos de autocrítica (82,6%), evitação de contato interpessoal (70,2%). Com base nos dados pode-se concluir que os períodos iniciais apresentaram mais incidência aos sintomas depressivos, com maior prevalência no público feminino.
Palavras-chave: saúde mental, depressão, estudantes de medicina.
ABSTRACT
Depression is a common mental health problem, with a higher prevalence in medical university students than in the general population. The objective of this study was to verify depressive symptoms in university students of medicine of a private institution located in the North of Minas Gerais. The sample consisted of 121 participants who underwent a set of instruments for evaluation of characteristics: sociodemographic, training and depressive symptoms. The Depression Inventory was used to investigate the depressive symptomatology. The data were statistically analyzed by the SPSS® program. The ethical orientation of the research was regulated by the guidelines of Resolution 466/2012 of the National Health Council, with the approval of CEP no. 2,428,669. The results indicate a higher prevalence of depressive symptoms: sad or depressed mood (87.6%), difficulty in concentration (89.3%), fatigue or loss of energy (89.3%), self-critical thoughts (82.6%), avoidance of interpersonal contact (70.2%). Based on the findings, it can be concluded that the initial periods presented more incidence of depressive symptoms, with a higher prevalence in the female audience.
Keywords: mental health, depression, medical students.
La depresión es un problema de salud mental común, con mayor prevalencia en estudiantes universitarios de medicina que en la población general. El objetivo de este estudio fue verificar los síntomas depresivos en los estudiantes universitarios de medicina de una institución privada ubicada en el norte de Minas Gerais. La muestra fue compuesta por 121 participantes que se sometieron al conjunto de instrumentos para evaluación de características: sociodemográfica, formación y síntomas depresivos. Para la detección de la sintomatología depresiva se utilizó el Inventario de Depresión. Los datos fueron analizados estadísticamente por el programa SPSS®. La orientación ética de la investigación fue regulada por las directrices de la Resolución 466/2012 del Consejo Nacional de Salud, con aprobación del Cep de n ° 2.428.669. Los resultados apuntan a una mayor prevalencia de los síntomas depresivos: humor triste o deprimido (87,6%), dificultad de concentración (89,3%), cansancio o pérdida de energía (89,3%), pensamientos de autocrítica (82,6% ), evitación de contacto interpersonal (70,2%). Con base en los datos se puede concluir que los períodos iníciales presentan más incidencia a los síntomas depresivos, con mayor prevalencia en el público femenino.
Palabras clave: salud mental, depresión, estudiantes de medicina.
Introdução
A depressão é caracterizada por desânimo e perda de interesse. Este transtorno de origem multifatorial impossibilita o sujeito de desempenhar as atividades ]]>
Método
Participantes do estudo
]]> O estudo foi de caráter transversal, analítico com abordagem quantitativa. A população do estudo foi composta por universitários de medicina. O campo de investigação foi uma instituição privada do norte de minas gerais. Para esta pesquisa foi considerado uma amostra aleatória simples de 121 estudantes universitários de um universo de 741 indivíduos, para a qual foi admitido uma confiança de 90% com erro amostral de 6%. Foram incluídos os estudantes que aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária e que estivessem matriculados no curso de medicina em qualquer período, assim como estar presente no dia da coleta dos dados. Os critérios de exclusão foram não aceitar participar, não estar matriculado no curso de medicina e não comparecer no dia da coleta dos dados.Instrumentos
Para coleta de dados aplicou-se um questionário para avaliação das características sociodemográficas, formação e sintomas depressivos. O questionário visou identificar as seguintes características: sexo, idade, cor, religião, estado civil, condições de moradia, quantidade de filhos, escolaridade dos pais, faixa salarial familiar e condições de trabalho. As características de formação almejou compreender: se medicina foi a primeira opção de curso, se há médicos na família, quantidade de vezes que tentou ingressar no curso de medicina, verificar se realizou pré-vestibular, aferir qual foi o período vivenciado como mais difícil, averiguar se há disciplinas pendentes, assim como reprovação e relevância do curso para o universitário. Para avaliação dos sintomas depressivos foi considerado a vivência da sintomatologia durante a última semana: humor triste ou deprimido, sentimento de culpa, humor irritado, menos interesse ou prazer em atividades costumeiras, afastando ou evitando pessoas, achando mais difícil fazer as coisas como de costume, vendo a si mesmo como inútil, dificuldade de concentração, dificuldade de tomar decisões, pensamentos suicidas, pensamentos recorrentes de morte, planejamento suicida, baixa autoestima, visão do futuro sem esperança, pensamentos de autocrítica, cansaço ou perda de energia, perda de peso significativa ou diminuição do apetite, alteração no padrão de sono e diminuição do desejo sexual. O escore da avaliação dos sintomas depressivos se deu a partir da somatória dos números que o participante circulou ou marcou em cada item. Exemplificando: Se marcado 3 itens, o escore será de 57 (3 x 19 itens). No caso de indecisão entre dois números para um item e circulou ambos, foi considerado o maior. Este é um instrumento utilizado exclusivamente para avaliação da intensidade dos sintomas de depressão, não levando em consideração os elementos antecedentes e as consequências resultantes de seu processo. Para a classificação foram considerados os seguintes dados: 0 a 13, nenhum sintoma depressão; 14 a 19, sintomas de depressão leve; 20 a 28, sintomas de depressão moderada; 29 a 63, sintomas de depressão grave.
Procedimentos
Os universitários foram abordados nos intervalos entre as aulas para participarem da pesquisa. Após explanação dos objetivos do estudo para os participantes, foi entregue o termo de consentimento livre esclarecido (TLCE) em duas vias e o questionário estruturado. Ao entregarem os documentos preenchidos, foi realizada uma análise dos dados objetivando encontrar possíveis erros de marcações, na ocasião em que foram identificados erros, ou preenchimentos inadequados, os participantes foram solicitados a verificarem as asserções.
Estatísticas
Os dados coletados foram analisados estatisticamente pelo programa estatístico SPSS® versão 20.0. Foi realizada estatística descritiva com frequência absoluta e percentual.
]]> Cuidados éticos
A orientação ética da pesquisa foi regulada pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, através da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Tendo recebido aprovação do Comitê de Ética da Instituição de Ensino Faculdades Integras do Norte de Minas – FUNORTE, processo CEP: N° 2.428.669.
Resultados
A amostra foi composta por 121 universitários do curso de medicina. Observou-se que a maioria era do sexo feminino (65,3%). Dos participantes 86% apresentaram idades entre 19 e 25 anos. Em relação à religiosidade 92,6% dos integrantes declararam possuir alguma religião, enquanto que 95,9% afirmaram serem solteiros e 95,9% não possuírem filhos. Referente à moradia 66,1% reside em casa ou apartamento com familiares sendo que 99,2% residem na cidade onde estudam. Já 12,4% informou residir sozinho. A respeito da renda familiar e trabalho 42,1% aduziram possuir renda maior que 5.000,00 (cinco mil reais) e 80,2% assinalaram nunca terem trabalhado (Tabela 1).
No que se refere ao turno em que se desempenham as atividades universitárias, 94,2% cursam em período integral. Há a predominância de 77,7% de egressos do ensino particular, sendo que 8,3% frequentaram apenas escola pública da rede de ensino. Evidenciou-se que 41,3% possuem as mensalidades do curso financiadas totalmente, sendo que 6,6% é a taxa bolsistas integrais e 17,4% pagam inteiramente as mensalidades. A amostra foi composta por universitários dos períodos iniciais (1°, 2° e 3°), dos períodos intermediários (4°, 5° e 7°) e finais (8°, 11° e 12°), sendo o percentual de 34,7%, 42,2% e 23,1% respectivamente. Acerca da escolha profissional 43,8% declararam haver médicos na família e 81% afirmaram a medicina como a primeira opção de curso. Mais da metade dos participantes (51,2%) não necessitaram sair da cidade de origem para iniciar o processo de graduação, boa parcela (72,7%) realizaram por mais de 6 meses pré-vestibular, e 55,4% tentaram por mais de cinco vezes ingressar no curso, posto que 90,9% estão na primeira graduação. A quantidade de universitário de transferência é mínima, apenas 3,3%. No tangente às disciplinas 90,1% não possuem disciplinas pendentes e 95,9% não necessitaram repetir algum período. O período inicial foi apontado como mais difícil por mais da metade dos pesquisados (54,5%), ao menos uma única vez houve pensamentos de desistência da graduação (36,4%), contudo 97,5% atribuem muita relevância ao curso (Tabela 2).
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A respeito dos sintomas de depressão, 87,6% se sentem com o humor triste ou deprimido. Com relação ao interesse e prazer em atividades costumeiras aproximadamente 69,4% apresentaram menos interesse em atividades do cotidiano. 70,2% dos participantes mencionaram estarem afastando ou evitando pessoas, sendo que 78,2% apresentaram humor deprimido. Com referência a execução de novas atividades em torno de 68,6% dos universitários informou que está mais difícil fazer as coisas como de costume, dado que 33,9% estão vendo a si mesmos como inúteis em algum grau de frequência. Sobre a variável concentração 89,3% apresentaram determinada periodicidade de dificuldade em concentração. Outras repostas apresentaram percentuais aproximados nas seguintes variáveis: baixa autoestima 63,6%, alteração do padrão de sono dificuldades para dormir 70,2%, dificuldade de tomar decisões 75,9%, pensamento de autocrítica 82,6% e cansaço ou perda de energia 90,9%. Valores similares também foram encontrados em: vendo o futuro sem esperança 25,6%, diminuição do desejo sexual 27,2% e perda de peso significativa ou apetite 33,9%. Observou-se ainda que 5,8% dos universitários declararam pensamentos suicidas, sendo que 9,1% possuem pensamentos recorrentes de morte e 1,6% estiveram pensando em um plano suicida (Tabela 3).
Discussão
Neste estudo foi possível identificar a presença de sintomas de depressão nos universitários ]]>
]]> Houve unanimidade entre os universitários em relação a identificação com o curso, isto significa um alto grau de satisfação com a futura profissão, grande envolvimento no processo de graduação e dedicação ocasionando um bom rendimento acadêmico, reduzindo os sintomas depressivos, inclusive as ideações suicidas. Quando não há satisfação com o que se faz, pior é o rendimento do universitário e maior é o risco de desenvolvimento de sintomas de depressão (Júnior, Silva, 2010). Estudos transversais tem como fator de limitação a impossibilidade de atribuição de causalidade ou consequência às associações encontradas, pois analisam desenlace e elucidação simultaneamente. Entretanto, apresentam as direções nas quais os fatores prenunciadores se associam com o desfecho estudado (Fiorotti, 2010). Os riscos em decorrência do acometimento da depressão são diversos, tratando- se de universitários é possível elencar dificuldades nos relacionamentos interpessoais e até mesmo evasão da graduação. Os currículos das universidades de medicina destinam boa parte da carga horária para o desenvolvimento de práticas que colocam o universitário em contato direto com pacientes, nessa perspectiva é preciso estar bem para conseguir responder as demandas dos pacientes, o que não se concretiza em um processo de adoecimento. Os estados depressivos, tanto por sua prevalência quanto pelas consequências que acarretam, têm marcante importância enquanto problema de saúde pública, reforçando que a depressão tem uma alta associação com pior funcionamento social e qualidade de vida. As limitações em decorrência do adoecimento, o sofrimento e seu custo social alto constituem os maiores problemas e apenas parte das pessoas afetadas tem acesso a diagnóstico e tratamentos adequados. Estudos de rastreios são imprescindíveis para prevenção, tendo em vista que a partir do conjunto de sintomas identificados em determinada população é possível intervir para que a patologia não se desenvolva.
Conclusão
Foi identificado maior prevalência dos sintomas depressivos: humor triste ou deprimido, dificuldade de concentração, cansaço ou perda de energia, pensamentos de autocrítica e evitação de contato interpessoal. É de suma importância nesse contexto, oferta de apoio psicológico e psiquiátrico aos discentes em todos os períodos do curso, objetivando propiciar subsídios para lidarem com situações de sofrimento psíquico. Tais achados se constituem tanto como um diagnóstico situacional para que as instituições de ensino superior promovam ações de prevenção e tratamento, assim como de estimulo para avalição dos currículos atualmente em vigor nas faculdades de medicina, com intuito de possibilitar adaptações as reais necessidades da formação médica sem o comprometimento da saúde física e psicológica dos universitários.
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Recebido: 06/11/2018
Corrigido: 12/03/2019
Aprovado: 24/04/2019
1 Universitária de Psicologia da Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI. E-mail: daniele.evan30@gmail.com, ORCID 0000-0003-1397-5053.
2 Universitário de Psicologia da Faculdade de Saúde Ibituruna – FASI, Montes Claros, Minas Gerais. E-mail: rohdrigoa@icloud.com, ORCID 0000-0001-5502-7989.
3 Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais. E-mail: lucineiapinho@hotmail.com, 0000-0002-2947-5806.