SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.37A ESCRITA DE AUTISTAS E DE SEUS PAIS A PARTIR DA PSICANÁLISEPERFIL DE CONTROLE INIBITÓRIO EM GRUPOS CLÍNICOS E CONTROLE: UM ESTUDO PRELIMINAR DOS PARADIGMAS STROOP E GO/NO-GO índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.37  Rio de Janeiro  2025  Epub 07-Abr-2025

https://doi.org/10.33208/pc1980-5438v037e005 

Estudo teórico

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE PULSÃO DE MORTE: PISTAS DE UMA MORTE ANIMADA

CONSIDERATIONS ON THE DEATH DRIVE CONCEPT: CLUES OF AN ANIMATED DEATH

CONSIDERACIONES SOBRE EL CONCEPTO DE PULSIÓN DE MUERTE: PISTAS DE UNA MUERTE ANIMADA

Fabrício Martins Pinto(1) 
http://orcid.org/0000-0003-4379-4018

(1) Doutor em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (PPGP/UFF). Professor do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), RJ, Brasil.


RESUMO

Este artigo resulta da pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (PPGP/UFF), na qual propomos cartografar as considerações de Deleuze e Guattari sobre o conceito freudiano de pulsão de morte. Aqui, tencionamos apresentar alguns elementos dessa cartografia, destacando o conceito de pulsão de morte desde “Além do princípio do prazer” e sua retomada por Deleuze e Guattari em “O Anti-Édipo” e “Mil platôs”, dois volumes da série “Capitalismo e esquizofrenia”. A partir dessas obras, expomos os conceitos de corpo sem órgãos (CsO) e devir, sua dimensão pulsional e aspecto tanático, para pensar sobre uma positivação da pulsão de morte. Do tensionamento em torno desse conceito, extraímos pistas de outra perspectiva sobre a morte – que chamamos de uma morte animada –, concomitante ao que pode ser entendido como uma radicalização do aspecto econômico na clínica e nos processos de subjetivação.

Palavras-chave: pulsão de morte; corpo sem órgãos; devir

ABSTRACT

This article results from the master’s research carried out in the Post-graduate Program in Psychology at the Fluminense Federal University (PPGP/UFF), in which we propose to map Deleuze and Guattari’s considerations on the Freudian concept of death drive. Here, we aim to present some elements of this cartography, highlighting the concept of death drive from “Beyond the pleasure principle” and its resumption by Deleuze and Guattari in “The Anti-Oedipus” and “A thousand plateaus”, two volumes of the “Capitalism and Schizophrenia” series. Based on these works, we explain the concepts of body without organs (BwO) and becoming, their drive dimension and thanatotic aspect, to think about a positivization of the death drive. From the tension around this concept, we extract clues about another perspective on death – which we call an animated death –, concomitant with what can be understood as a radicalization of the economic aspect in the clinic and in the processes of subjectivization.

Keywords: death drive; body without organs; becoming

RESUMEN

Este artículo resulta de una investigación de maestría realizada en el Programa de Posgrado en Psicología de la Universidad Federal Fluminense (PPGP/UFF), en la que nos proponemos mapear las consideraciones de Deleuze y Guattari sobre el concepto freudiano de pulsión de muerte. Aquí, pretendemos presentar algunos elementos de esta cartografía, destacando el concepto de pulsión de muerte desde “Más allá del principio del placer” y su retomada por Deleuze y Guattari en “El Anti-Edipo” y “Mil mesetas”, dos volúmenes de la serie “Capitalismo y esquizofrenia”. A partir de estos trabajos, exponemos los conceptos de cuerpo sin órganos (CsO) y devenir, su dimensión pulsional y aspecto tanáctico, para pensar una positivización de la pulsión de muerte. De la tensión en torno a este concepto, extraemos pistas desde otra mirada sobre la muerte – a la que denominamos muerte animada –, concomitante a lo que puede entenderse como una radicalización de lo económico en la clínica y en los procesos de subjetivación.

Palabras clave: pulsión de muerte; cuerpo sin órganos; devenir

Uma problemática econômica

A importância da dimensão econômica nos processos de subjetivação e na clínica está presente desde o início da obra freudiana, e antecede a formalização do aparelho psíquico com o conceito de Inconsciente (das Unbewusste) e a definição da pulsão (Trieb), esta em 1905. Já em Sobre a concepção das afasias, Freud (1891/2014) propõe o psiquismo como um aparelho de linguagem (Spracheapparat), composto de associações de representações, sem desconsiderar os fluxos de intensidade que as permeiam. O que fica evidente na imagem em que Freud (1894/1996) menciona a carga de afeto (Affektbetag) ou soma de excitação (Erregungssumme) como uma “carga elétrica espalhada pela superfície de um corpo” (p. 66), e especialmente na concepção quantitativa do Projeto para uma psicologia científica (1895[1950]/1996), publicado postumamente, mas escrito quatro anos depois da tematização das afasias.

Desde esses textos encontramos as primeiras pistas de uma máquina psíquica que opera articulando representações, formando uma ordem de sentido e qualidade e de forças, fluxos de intensidades, de natureza intensiva e quantitativa. Assim se inaugura uma problemática econômica, no princípio e como princípio radical da psicanálise: nem só de representações mnêmicas, tampouco só de linguagem, sentido e qualidade, vive o psiquismo. Isso é também inalienável de um jogo de forças constituintes da experiência que processa, que não se recobre pela representação e qualidade; é inalienável de uma pulsação, da economia dos fluxos de intensidades ou, ainda, de quantidades energéticas em circulação e passagem nessa maquinaria, constituinte das formas de sofrimento e sintomas da sociedade recém-industrializada do tempo freudiano – que se mantém atual em nosso tempo.

Tal problemática foi tematizada diversas vezes no movimento psicanalítico, a começar pela pena do próprio Freud, nas definições e redefinições do conceito de pulsão. Primeiro em 1905, a partir das pulsões sexuais, instalando um primado da sexualidade e do erotismo organizado pelo prazer como princípio; segundo em Além do princípio do prazer (Freud, 1920/2010), com a pulsão de morte. Mas também além de Freud: essa problemática econômica, porque insiste na clínica, transversaliza o pensamento de autores como Lacan, Deleuze e Guattari, e constitui ponto de tensionamento entre diferentes retornos na psicanálise – inclusos os de Freud a si mesmo.

Neste artigo, trazemos elementos dessa problemática econômica, apresentando na obra freudiana o conceito de pulsão e, especialmente, o de pulsão de morte como além da organização do princípio do prazer, pondo em questão uma versão da morte no cerne dos processos de subjetivação. Em seguida, expomos algumas considerações de Deleuze e Guattari sobre a pulsão de morte – ou instinto de morte, como veremos –, seu espaço no projeto materialista de uma esquizoanálise que conjuga economia subjetiva e economia política, nos dois livros de Capitalismo e esquizofrenia: O Anti-Édipo (Deleuze & Guattari, 1972/2010) e Mil platôs (Deleuze & Guattari, 1980/2008-2012). Na direção de radicalização do econômico, buscamos evidenciar a dimensão pulsional e o aspecto tanático dos conceitos de corpo sem órgãos (CsO) e de devir, para pensar outras versões da pulsão da morte e da própria morte, o que, por fim, propomos como uma morte animada. Assim, este artigo exercita retomar a metapsicologia freudiana, e mesmo o retorno de Lacan a Freud, mas não sem Deleuze e Guattari. Entendemos que fazer ver esse diálogo hoje, sustentando tensionamentos, é ir ao contrário de leituras que silenciam ou reduzem a uma simples dicotomia a relação entre esses autores.

A organização do princípio do prazer e seu além

Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Freud (1905/2010) define a pulsão (Trieb) a partir do que há de perverso e polimorfo nas pulsões sexuais, como força de ímpeto (Drang) constante ou intermitente, cuja fonte (Quelle) é um estímulo endossomático, e que se expressa na tendência a um objeto (Objekt) variável com a meta (Ziel) de satisfação. Limítrofe entre o somático e o psíquico, à diferença do estímulo, a pulsão é uma excitação que se apoia no biológico, mas para dele desviar e se representar psiquicamente. Por meio dessa operatória de desvio (Abweichung), a pulsão emerge como exigência de trabalho (Arbeitsforderung) ao psiquismo (Freud, 1905/2010, p. 67), fazendo-se notar um privilégio do econômico desde aí, na medida em que o plano Inconsciente, então, se define como efeito da pulsão, topos de sua maquinação e inscrição.

A inscrição da pulsão no registro psíquico se dá por dois representantes: o representante ideativo (Vorstellungrepräsentanz) e o afeto (Affekt) (Freud, 1915/2010). O primeiro é composto de um lastro mnêmico investido por uma intensidade ou quantidade energética, sobre o qual incide o recalque e que constitui o Inconsciente. Já o segundo corresponde à descarga no polo motor do aparelho psíquico, o afeto qualificado topicamente e dizível como sentimento, estado e emoção. São representantes que designamos por apresentantes pulsionais (Pinto, 2019, p. 35), levando em conta a releitura que Derrida (1967/2009) faz do representante ideativo como signo (Zeichen) – via pela qual podemos considerar o Inconsciente como escritura psíquica de signos percorridos por uma intensidade (p. 313). Vale constatar que, se o Inconsciente freudiano não é afetivo, porque o afeto como descarga nesse topos não se inscreve, isso não quer dizer que não seja intensivo, afirmando-se desde o princípio da obra uma soma de excitação ou carga de afeto que circula nessa máquina.

Com sua inscrição no duplo registro dos representantes, o aparelho psíquico maquina a pulsão, buscando a meta de satisfação pela descarga (Abfuhr) da intensidade do impulso pulsional, que preme o psiquismo, causando tensão. A circulação dessa economia não é arbitrária, mas conforme ao princípio do prazer (Lustprinzip) e seu desdobramento no princípio de realidade (Realitätsprinzip) (Freud, 1911/2010) – princípio, digamos, organizador, já que produz uma trama pulsional como organismo psíquico que calcula as variações intensivas em termos de prazer e desprazer. Por esse princípio, as pulsões sexuais tendem à descarga imediata; porém, deve inibir o desprazer nessa tendência. Daí a organização da trama, que se forma no trabalho erótico de ligação (Bindung), pelas associações e conexões dos representantes pulsionais, para que o impulso seja descarregado de maneira adiada e mediata, evitando o desprazer colateral da descarga imediata.

Seja pela operatória de desvio que lhe é constitutiva, impedindo a satisfação plena em objeto predeterminado, seja pelos adiamentos, a satisfação do impulso pulsional é parcial por definição. Sempre restará algo a ser satisfeito e a excitação restante sobrevém, motivo de sua produtividade, de seu ímpeto constante ou intermitente, e da efetuação de seu circuito, desde Freud, na forma da repetição (Wiederholung). Nessa direção, Garcia-Roza (1986/1999) destaca que a repetição consiste no ser da pulsão sexual, e define esse sexual erótico não como o anárquico, mas como o que se repete ordenado (p. 70) – o que se aproxima da indicação da trama pulsional como um organismo. A partir das pulsões sexuais, entendemos que a economia da subjetivação se define em um primado da sexualidade e do erotismo, que se organiza conforme ao princípio do prazer, e de realidade – primado que se mantém mesmo havendo, desde aí, outra classe de pulsões.

Das pulsões sexuais, se diferenciam as pulsões de autoconservação e do eu (Freud, 1905/2010), formando um dualismo pulsional que instala o conflito na economia dessa maquinaria psíquica. Porém, recordamos que é um dualismo questionável: junto do atravessamento das pulsões sexuais na autoconservação, com o estudo do narcisismo em 1914, Freud evidencia que o eu é objeto de investimento sexual. Diante do que – como também destaca Garcia-Roza (1986/1999) – a ênfase é nas pulsões sexuais e se constrói uma espécie de monismo. Tal primado da sexualidade e do erotismo segue até 1920 na obra freudiana, quando a problemática econômica se redimensiona com uma tendência pulsional além da organização do princípio do prazer.

Ciente das especulações exigidas e recorrendo ao discurso científico de seu tempo para isso, Freud desenvolve o conceito de pulsão de morte (Todestrieb) em Além do princípio do prazer (1920/2010), diferenciando da repetição sexual uma compulsão à repetição (Wiederholungszwang) – termo que aparece nos escritos técnicos de 1914 para descrever a atuação no tratamento da neurose. A inauguração desse segundo momento na teoria das pulsões é indissociável da Primeira Guerra Mundial, seu contexto histórico e político: é pela compulsão à repetição nos sonhos das neuroses traumáticas efeitos do pós-guerra que o trauma retorna, agora além da teoria da sedução ou do abuso que fundamenta a etiologia da histeria no princípio da obra freudiana.

Diferentemente da repetição sexual, Freud (1920/2010) descreve a repetição compulsiva como a “volta [de] experiências do passado que não possibilitam prazer” (p. 179), repetição de intensidade que inunda o psiquismo com grandes quantidades, sem mediação (p. 192). A um só tempo, a repetição compulsiva do traumático expõe os limites do princípio do prazer e a pulsão de morte como impulso pulsional além das conexões e associações dos representantes pulsionais, que não se inscreve nas ligações da trama pulsional organizada sexual e eroticamente – repetindo sem meta de satisfação. Assim, a pulsão de morte redesenha a teoria das pulsões, em que as pulsões de vida, ou Eros – reunião das pulsões sexuais e de autoconservação –, estariam em “uma extensa mescla e amálgama” (Freud, 1924/2010, p. 192) com a pulsão de morte, ou Tanatos.

Ganha lugar na metapsicologia e na trama das pulsões uma força além do primado da sexualidade e do erotismo, e a problemática econômica se redimensiona, agora com o princípio do Nirvana, que Freud (1920/2010) postula em referência a Barbara Low e em contiguidade com o princípio do prazer, mas desambiguado deste, quatro anos depois (Freud, 1924/2010). Reeditando o princípio de inércia neuronal (Freud, 1895[1950]/1996) pelo princípio do Nirvana, o psiquismo tenderia ao grau zero de tensão, à satisfação plena no equilíbrio absoluto, abolindo a quantidade energética ou intensidade que o preme e anima a matéria. Segundo Freud (1920/2010), o princípio do Nirvana não só exprimiria a tendência da pulsão de morte, como seria motivo para propô-la.

À luz desse princípio, a pulsão de morte emerge como tendência interna do organismo em retornar ao inorgânico, buscando repetir um estado anterior à vida, reconduzindo a matéria animada ao inanimado – tendência adiada pelas pulsões de vida. A pulsão de morte se revela expressão máxima da disposição conservadora da pulsão (Freud, 1920/2010, p. 202), contrastando com a ênfase no desvio e na produtividade pulsional, tônica desde 1905. Mas também à luz desse princípio destacamos, nesse segundo momento da teoria das pulsões, certa perspectiva sobre a morte. Constatando a precedência do inanimado, Freud (1920/2010) concebe a morte (Todes) como estado anterior em relação à vida, e seu objetivo – afirmando a coexistência entre vida e morte –, se aproxima do pensamento anatomoclínico de Bichat, a partir do qual a vida se define como um conjunto de forças em luta contra a morte (Foucault, 1963/1977), salvaguardando-se que, numa leitura do texto freudiano, seria a vida mesmo que almeja restaurar ou retornar à morte.

Descrita em 1920 como estado inorgânico e inanimado da matéria, no qual a intensidade é ausente, a natureza da morte se define no negativo da vida. Confirmação da tese enunciada anos antes (Freud, 1915/2010), segundo a qual não há não vindo do registro psíquico do Inconsciente, tampouco seus derivados, como a contradição e a morte. O Inconsciente constitui um plano definido pela positividade, em que a morte não se inscreve ou se representa. Conforme tal tese, em vida, o que há é a morte do outro; há traço mnêmico, representação e signo de perda, mas não do morrer, pois a morte é uma impossibilidade para a experiência. Por isso a importância de uma teoria freudiana do luto, mas não da morte propriamente dita, que é o limite discursivo.

Essa morte negativamente descrita seria correlata a uma pulsão de morte negativa, com que se instala um veto à apresentação e inscrição da pulsão de morte no plano do Inconsciente, motivo para parte da tradição psicanalítica sequer admiti-la – para Lacan (1959-1960/2008, p. 166), aí está a dificuldade lançada pelo conceito. Sem traço mnêmico, representação ou signo que presentifique a morte, frente às ruidosas pulsões sexuais, a silenciosa pulsão de morte não encontra inscrição na trama pulsional organizada pelo princípio do prazer. Logo, ocuparia um estranho topos: fora da trama pulsional sexual, da representação, do signo, e da escritura psíquica – um fora que, antecipamos, não é necessariamente extrínseco à trama. Entretanto, a interpretação da pulsão de morte à luz do princípio do Nirvana, em que essa seria a expressão máxima da tendência conservadora que visa a repetir a morte negativamente descrita, não é a única.

Em A Negação, a partir da dinâmica fisicalista entre atração (Anziehung) e repulsão (Abstossung), Freud (1925/2010) trata de dois mecanismos psíquicos constitutivos: a introjeção (Vereinigung) e a expulsão (Ausstossung). Este, ao qual relaciona a pulsão de morte, põe em jogo uma espécie de negação mais primária, mais próxima da ação positiva de expulsar, caracterizada como força ou impulso de disjunção contrária à dimensão pulsional afirmativa, erótica e conectiva do mecanismo de introjeção. De acordo com Freud, a introjeção antecede a expressão discursiva da afirmação (Bejahung), ao passo que a negação mais primária da expulsão se distingue do juízo de negação (Verneinung), pelo qual algo se torna consciente ao substituir o recalcado na operação intelectual expressa no discurso – negação secundária que, como negação da negação, coube ser traduzida por denegação, conforme sugere o comentário de Hyppolite (1954/1998).

Observamos que Freud destaca o fundo pulsional em ambos mecanismos psíquicos: é em função da ação de pulsões sexuais que se afirma, une e introjeta; e da pulsão de morte, sua derivação na pulsão de destruição, que nega, desune e expulsa. Observamos também a contundente ressalva do texto: “Harmoniza-se muito bem com essa concepção da negação o fato de que na análise não encontramos nenhum ‘não’ vindo do inconsciente […]” (p. 281). Diante do que, podemos pensar o mecanismo de expulsão como atividade de negação mais primária, que revela um princípio de repulsão, uma força pulsional afirmativamente disjuntiva relativa à pulsão de morte: além da negação, haver uma disjunção que se opõe à afirmação da introjeção e à negação secundária.

À luz da expulsão e da retomada da negação no texto de 1925, encontramos uma pista para levar a pulsão de morte além do negativo, isto é, como força de afirmação disjuntiva, operando como impulso de desligamento (Entbindung) das ligações, conexões e associações da trama das pulsões sexuais. E, uma vez designados os representantes das pulsões sexuais de apresentantes, propomos a pulsão de morte como força de desapresentação (Pinto, 2019, p. 64), condição de novas apresentações, conexões e associações pulsionais. A um só tempo, essa pulsão tanática é a repetição da intensidade desligada da trama de signos da escritura psíquica, e a força de desligamento dos objetos sexualmente investidos – remetendo à função desobjetalizante e ao trabalho do negativo tematizado por Green, citado no artigo de Oliveira et al. (2016).

Trata-se de ir além da pulsão de morte como retorno à morte negativamente descrita, para considerá-la mais próxima da atividade da disjunção. Garcia-Roza (1986/1999, p. 72) diz que não é ao Nirvana e à inércia da morte que Freud primeiramente se reporta ao trazer a pulsão de morte, mas sim ao limite do princípio do prazer: o traumático e a insistência da intensidade desligada na compulsão à repetição – que, acrescemos, é excessiva. Diante disso, haveria outra perspectiva da morte relativa ao excesso da pulsão de morte como atividade disjuntiva? Queremos admitir que, à luz do excesso, tanto podemos incluir a pulsão de morte como radical na economia da subjetivação, quanto encontrar pistas de uma morte além da descrição negativa. No sentido dessa radicalização e buscando contribuições para outras versões da pulsão de morte e da própria morte, trazemos, a seguir, algumas considerações de Capitalismo e esquizofrenia, não sem antes apontar relações entre Deleuze e Lacan ao redor do termo instinto de morte – é para ambos que se coloca a questão: “O que é [o] instinto de morte?” (Deleuze, 1967/2009, p. 109; Lacan, 1959-1960/2008, p. 31).

Deleuze e Lacan, sobre um instinto de morte

Logo no início de seu debate com a psicanálise, Deleuze retoma o conceito de pulsão de morte conferindo-lhe o termo instinto, constituindo elemento central de tal debate. Assim Deleuze o faz buscando evidenciar o que aí há de quantitativo e intensivo desde Sacher-Masoch: O frio e o cruel (Deleuze, 1967/2009) e Diferença e repetição (Deleuze, 1968/2018) – textos que precedem o encontro do filósofo com Guattari e a elaboração de uma esquizoanálise. Especialmente no texto de 1967, notamos que o autor confere uma anterioridade e primordialidade ao instinto de morte, definindo-o como princípio transcendental do plano do Inconsciente, regido pelo princípio empírico do prazer.

Deleuze distingue o instinto de morte da pulsão de morte ou de destruição – estas duas, sinonimizadas na letra do texto –, diferenciando o que é puro transcendental do que é mistura, intrincado, ou, conforme o vocabulário freudiano, amálgama entre Eros e Tanatos: esse sim, dado no plano empírico. Tal diferenciação – consoante com Ricœur (1965/1977) e Baas (1992/2001) – permite pensar uma empiria do Inconsciente, e se perguntar sobre o que é puro e transcendental. Também permite apresentar outro topos, em que o instinto de morte é além, mas, como condição do empírico, seu aquém, e aí o instinto de morte ganha privilégio como radical quantitativo e intensivo.

Isso aproxima Deleuze da problemática econômica freudiana, e difere do momento do ensino de Lacan em que é central a dimensão do significante e da ordem simbólica, dando consistência à psicanálise pelo Inconsciente estruturado como linguagem. Lacan, que parte da distinção entre instinto e pulsão, em diferentes ocasiões também retoma a pulsão de morte como “instinto de morte” (1953-1956/1998, p. 317, 1954-1955/1978, p. 407). Assim, privilegia a pulsão de morte, afirmando o criacionismo desse instinto de morte na sublimação (Lacan, 1959-1960/2008), assim como ao dizer que “toda pulsão é virtualmente pulsão de morte” (Lacan, 1960-1964/1998, p. 863). Contudo, o privilégio do instinto de morte não é como radical quantitativo e intensivo, e sim como insistência do simbólico.

No seminário A ética da psicanálise, Lacan (1959-1960/2008) retoma o conceito freudiano de pulsão de morte relacionando a estruturação da ordem simbólica e a morte, pondo a morte da Coisa (das Ding) como condição do encadeamento significante – a morte se atrela ao fundamento do simbólico na famosa metáfora do vaso e do oleiro, relacionando a criação à morte e ao ex-nihilo. Por isso, priorizando a leitura culturalista de O mal-estar na civilização (Freud, 1930/2010), situa a pulsão de morte no horizonte histórico, memorável e memorizável, que diz respeito à ordem simbólica que na cadeia significante se registra – e nessa articulação da pulsão com a história, o significante é pressuposto “no começo” (Lacan, 1959-1960/2008, p. 256).

Na retomada da pulsão de morte sob a ordem simbólica, Lacan considera a afetividade e a energética obscuras, e, segundo Birman (2000), vai-se deixando às margens desse momento de seu ensino o afeto e a dimensão econômica. Isso porque onde o representante ideativo, representante da pulsão que se inscreve no Inconsciente, cumpre a função de significante, dispensou-se o afeto como descarga, que não se recalca. O retorno estruturalista de Lacan a Freud se faz por uma mitigação do afeto e qualquer outra carga, soma, quantidade energética ou intensidade pulsional do Inconsciente, em favor do representante ideativo da pulsão que se recalca e se encadeia como significante numa razão estrutural, via pela qual a tradição francesa do movimento psicanalítico, justamente pela distinção entre instinto e pulsão, centralizou o conceito de desejo, por vezes às expensas da pulsão.

Essa crítica não é nova, e Lacan se deparou com ela diversas vezes, reposicionando-se na problemática econômica ao longo de seu ensino. Embora sem grande concessão à energética ou ao afeto, em momento posterior, Lacan centraliza a angústia em seu décimo seminário, define o Inconsciente pela pulsação no seguinte, e retoma a pulsão de morte assimilada parcialmente ao conceito de gozo (la jouissance), enquanto cresce a importância do registro do real em sua obra (Vincent, 2020). É também no sentido contrário de mitigar o quantitativo que Deleuze (1967/2009), priorizando a leitura econômica de Além do princípio do prazer, retoma o conceito de pulsão de morte pelo termo instinto, cujo sentido criativo existe desde o uso bergsoniano do termo.

Para Deleuze, o termo instinto evidencia o aspecto pré-simbólico, uma primordialidade e anterioridade que não significa conferir natureza biológica à pulsão de morte, ao mesmo tempo que difere do pensamento de Lacan na década de 1960. O instinto de morte no texto deleuziano de 1967 (1967/2009), mas também em Diferença e repetição (Deleuze, 1968/2018), designa as puras intensidades ou quantidades pulsionais, isto é, as intensidades não ligadas e não misturadas, ou não fundidas e amalgamadas com as pulsões sexuais. Trata-se de afirmar o instinto de morte como princípio transcendental e sem-fundo, a “repetição borracha”, além do fundamento, da fundação e da “repetição laço” de Eros (Deleuze, 1967/2009, p. 112) – instinto que designa força criativa: como transcendental, é o plano virtual e genético do qual o empírico se atualiza e devém.

Contudo, se o instinto de morte se apresenta como um primado do quantitativo e do econômico, há reservas quanto à experiência desse puro transcendental no texto deleuziano de 1967: Tanatos não poderia ser dado ou vivido, apenas suas “combinações” – este é o termo repetido por Deleuze – com Eros (Deleuze, 1967/2009, p. 113-114); talvez uma herança do veto da apresentação e da inscrição da pulsão de morte que se instala desde Freud. Mas, considerando que o trabalho de Deleuze passa, desde Diferença e repetição (Deleuze, 1968/2018), por um empirismo superior, um empirismo radical, ou, ainda, um empirismo transcendental, cuja proposta mais ampla consiste em incluir o transcendental na experiência, também o instinto de morte, puro, não deve ser extrínseco ao empírico: deve integrar uma gênese intrínseca – logo, como incluir o que é puro, primordial e anterior na experiência? Entendemos que essa questão é tratada com Guattari no materialismo de Capitalismo e esquizofrenia, onde a radicalização da problemática econômica, conjugando-se economia subjetiva e política, é concomitante à radicalização desse empirismo, incluindo o instinto de morte no processo de autoprodução do Inconsciente.

Pulsão de morte em Capitalismo e esquizofrenia

Em Capitalismo e esquizofrenia, Deleuze e Guattari compõem um projeto materialista que se realiza pelos conceitos de máquina desejante (machine désirante) em O Anti-Édipo (1972/2010) e de agenciamento (agencement) em Mil platôs (Deleuze & Guattari, 1980/2008-2012) – o primeiro, releitura das pulsões parciais; o segundo, a unidade relacional mínima de um pensamento geológico e construtivista. Por meio desses conceitos, em todos os livros da série se coloca como tese a identidade de natureza entre economia pulsional e economia política, a partir do que uma perspectiva materialista da psicanálise passaria pelo reposicionamento de sua problemática econômica, dessa vez no plano político. Por isso, entendemos que Capitalismo e esquizofrenia é irredutível à crítica do tema qualitativo do complexo de Édipo, encontrando no aspecto produtivo e econômico, presente tanto em Freud quanto em Marx, a via de efetivação de seu projeto materialista.

Desde O Anti-Édipo – escrito após o maio de 68 francês, cujo tom de manifesto está no prefixo “anti” de seu título –, não se trata de somente negar o vetor edipiano na subjetivação: essa crítica se mostra meio para a radicalização do aspecto econômico, ao conjugar economia política e subjetiva. Também entendemos que esse projeto materialista de Capitalismo e esquizofrenia não se reduz ao erotismo e às bases reichianas, tampouco ao vitalismo lúgubre e ingênuo das potências da vida ao qual reduzem a obra dos autores; mas, sim, que a direção dessa radicalização exige a afirmação inclusiva de algo tanático como princípio. Por isso a importância da retomada da pulsão de morte que, cabe dizer: não é uníssona, já que as afirmações de Deleuze e Guattari a respeito da pulsão de morte não impedem passagens em que parecem recusar sua existência.

Em O Anti-Édipo, a afirmação da pulsão de morte se traduz em sua inclusão no plano do Inconsciente como autoprodução das máquinas desejantes. Para isso, Deleuze e Guattari mostram que a dimensão pré-simbólica das puras intensidades ou quantidades energéticas pulsionais, pela qual se estabeleceu a anterioridade e primordialidade do instinto de morte como princípio transcendental no texto deleuziano, não implica sua condição transcendente. Ou seja: o instinto de morte não é extrínseco ao processo maquínico, e deve ser pensado na imanência do materialismo dos autores, admitindo o que é limite e puro, anterior e primordial, incluído na experiência. Nessa relação entre materialismo e imanência, já destacada por Lapoujade (2014/2015), notamos que o projeto de Capitalismo e esquizofrenia dá continuidade ao empirismo transcendental.

Porém, cumprir a tarefa materialista de incluir o instinto de morte no plano do Inconsciente tem como condição recusar o instinto de morte transcendente. Deleuze e Guattari, por um lado, suprimem o hiato que porventura tenha pairado sobre o empírico e o transcendental, especialmente quando se toma o transcendental pelo transcendente; por outro, suprimem o hiato entre uma pulsão de morte que, na ausência de representante ideativo que presentifique a morte, no Inconsciente só se apresentaria amalgamada, como misto erótico-tanático e seus derivados destrutivos e agressivos. Assim, em O Anti-Édipo – por onde começamos a análise –, os autores contrapõem-se ao veto da apresentação e da inscrição da pulsão de morte, insurgindo-se contra a tese freudiana de que, no plano do Inconsciente, a morte, negativamente descrita, não se inclui, e a eventual herança disso no texto deleuziano de 1967, quando sugere que um instinto de morte aí não poderia ser dado ou vivido.

Isso não significa que Deleuze e Guattari assumam como plano de negatividade aquilo que desde Freud se define pela positividade. No contrário da tradição psicanalítica de seu tempo que, concordando ou não com a pulsão de morte, fazia-o pelo mesmo motivo – a morte inadmissível no Inconsciente –, os autores lançam o duplo movimento de dotar a morte de modelo e experiência para incluí-la nesse topos onde só se admite a experiência da perda. Insurgência contra a psicanálise, mas também, conforme Jambois (2016) – no que pese sua incorporação de Hegel e da dialética na análise que faz do tema da morte em O Anti-Édipo –, a determinada filosofia spinozista em que a morte seria extrínseca ao sistema da vida, vindo do campo da experiência literária – além de Klossowski – a pista de tal insurgência: Blanchot (1955/2011) e o aspecto duplo da morte.

A síntese desse duplo movimento de O Anti-Édipo está no quarto capítulo, que contém um dos fragmentos mais explícitos sobre o tema na série. Nele, há a contundente afirmação que “não há instinto de morte” (Deleuze & Guattari, 1972/2010, p. 440), diante da qual poderíamos reconduzir o pensamento ao projeto materialista erótico e reificar um vitalismo que exclui qualquer princípio tanático. Entretanto, destacamos que a recusa de um instinto de morte se faz na medida em que é “puro silêncio, pura transcendência (pure transcendance), não doável e não dado na experiência” (p. 440), “em sua transcendente (transcendante) distinção relativamente à vida” (p. 445); ou seja: se faz na medida em que é extrínseco ao empírico e reivindica o estatuto transcendente. Porém, excluir um instinto de morte como princípio transcendente (transcendant), não o exclui como transcendental (transcendantal), que deve ser incluído no empírico e experienciado – e é preciso fazer valer essa diferença na interpretação do citado fragmento, mesmo porque tal fragmento coabita com afirmações de uma pulsão ou instinto de morte do início ao fim da obra: desde o primeiro capítulo Deleuze e Guattari afirmam inclusivamente um tal instinto de morte (p. 20, 33, 50), o que se verifica no apêndice do livro, quando dizem de “uma pulsão de morte propriamente maquínica que se opõe à morte regressiva edipiana, à eutanásia psicanalítica” (p. 523). O que se recusa, portanto, é o instinto de morte transcendente, mas como condição para a afirmação do instinto de morte incluído na economia política e pulsional. Segundo Sibertin-Blanc (2009), um conceito materialista de instinto de implicações metapsicológicas e sociopolíticas – aspectos inseparáveis, já que essa inclusão se complementa na crítica que Deleuze e Guattari fazem ao culto da morte e à “axiomática mortuária” (1972/2010, p. 448), presente tanto em certo discurso psicanalítico quanto no capitalismo.

Para realizar a afirmação inclusiva do instinto de morte em seu duplo movimento, Deleuze e Guattari (1972/2010) atribuem o corpo sem órgãos (corps sans organes) (CsO) ao modelo da morte, e à experiência da morte, atribuem o devir (devenir). O primeiro, um termo de autoria de Artaud, mas que se define nas referências de Deleuze (1969/2015) às descrições kleinianas de um corpo fluídico, assim como no corpo hipocondríaco e esquizofrênico tematizado desde Freud. O segundo, o termo devir, vem dos pré-socráticos, e, de Heráclito a Nietzsche, passando por Hölderlin, compõe um filão menor – no sentido forte do termo – do pensamento filosófico, sem deixar de ecoar na psicanálise: basta lembrar de Spielrein e sua obra, A destruição como origem do devir (1912/2021). Nota-se, então, que CsO e devir não são conceitualizados apenas na arte e na filosofia, mas se definem também a partir do campo psicanalítico, e o atravessam de modo importante.

No primeiro livro de Capitalismo e esquizofrenia, o CsO se produz por uma síntese disjuntiva, que se difere da síntese conectiva das máquinas desejantes e da síntese conjuntiva do sujeito: pressupondo-se reciprocamente, elencam as três sínteses de autoprodução do Inconsciente. Desse modo, o CsO emerge como plano disjuntivo de desligamentos mediante a atividade de repulsão (répulsion) das máquinas desejantes, estas operando pela atração, o que evidencia seu regime binário, regime erótico, associativo e conectivo, que produz organismos – eis a máquina desejante como máquina-órgão que interpreta, forma e organiza o mundo a partir de seu funcionamento (Deleuze & Guattari, 1972/2010, p. 16, 21, 436). Mas essa atração erótica tem sua condição na repulsão: se o processo não se totaliza no organismo e segue se processando é porque o CsO expulsa, repele e depõe as máquinas-órgãos, fragmentando e desligando, inserindo um princípio tanático e disjuntivo no regime erótico, conectivo e associativo das máquinas desejantes.

O CsO é o além da realidade do organismo, um real inorganizado (Jambois, 2016, p. 97); um antiorganismo, instância de antiprodução aparente no processo de autoprodução do Inconsciente, matéria desorganizada e disforme do corpo, sem forma ou figura: “[…] o improdutivo, o estéril, o inengendrado, o inconsumível. […] Instinto de morte é o seu nome, e a morte não fica sem modelo.” (Deleuze & Guattari, 1972/2010, p. 20). O que se enuncia desde o primeiro capítulo de O Anti-Édipo se desdobra, então, no quarto capítulo do livro: “O modelo da morte aparece quando o corpo sem órgãos repele e depõe os órgãos – nem boca, nem língua, nem dentes… até à automutilação, até ao suicídio.” (p. 435). Um modelo que não é teórico, mas substancial, destaca Sibertin-Blanc (2009), e, desde aí, sua matéria desorganizada não se restringe ao corpo humano.

Nessa direção, em Mil platôs, com o conceito de agenciamento, há uma expansão da desorganização e do inorganizado do CsO, notável quando Deleuze e Guattari dizem que “desfazer o organismo não é mais difícil do que desfazer os outros estratos, significância ou subjetivação” (Deleuze & Guattari, 1980/2012a, p. 25). Aí, o CsO emerge geologicamente definido como corpo pleno da terra, matéria amorfa que é efeito das operações de desestratificação e desterritorialização. O que se desorganiza ganha novas expressões: é a terra, mas também o espaço liso, o mar, o deserto, a fuga, o assignificante, o continuum de intensidades, enfim, “A matéria, a pura matéria do plano de consistência (ou de inconsistência) [que] está fora dos estratos.” (Deleuze & Guattari, 1980/2011, p. 77). Vale ressaltar que, no mesmo ritmo em que o CsO se expande no segundo tomo de Capitalismo e esquizofrenia, ele se desloca para o centro de uma questão ética ao deixar de se definir – ao menos explicitamente – como modelo da morte.

Não obstante, em O Anti-Édipo e em Mil platôs, a definição do CsO pelo que ele não é não implica sua natureza negativa – contradição aparente, aponta David-Ménard (2014). Seja pelas disjunções e repulsões das máquinas desejantes, seja pelas desterritorializações e desestratificação do que se agencia, o corpo se desfaz de organismo, subjetivação e significância para se preencher de devir. O CsO afirma o devir como matéria amorfa e desligada, intensidades insistentes sob a organização, que se disjuntam e repulsam das associações e conexões das máquinas desejantes, e se desterritorializam e desestratificam do agenciamento concreto. Entre CsO e devir, há a passagem de um a outro no plano de autoprodução do real, em ambos os volumes de Capitalismo e esquizofrenia.

Em O Anti-Édipo, isso se dá pela conversão ou tradução constante do CsO como modelo da morte para o devir como experiência da morte, o que Deleuze e Guattari denominam “esquizofrenizar a morte” (1972/2010, p. 436). Por meio da síntese disjuntiva e da atividade de repulsão, o devir aí emerge como intensidades ou quantidades desligadas, preenchendo o CsO com variações intensivas e velocidades. A experiência sensível dessa intensidade em circulação é da ordem de “um intenso sentimento de passagem”, de um “eu sinto” (Je sens) (Deleuze & Guattari, 1972/2010, p. 33, 437), porém precedente à subjetivação de um eu (moi) reflexivo, irredutível aos sentimentalismos introspectivos ou a um estado emocional. Aí vemos proximidade entre o devir e as quantidades intensivas desde Freud postas no cerne da economia pulsional, em oposição ao afeto como descarga e qualificado como sentimento – David-Ménard (2014, p, p. 124) indica a importância do espinosismo de Deleuze nisso. Mas não somente: para os autores, se o devir é portador da experiência da morte, é porque toda intensidade é sua portadora: a morte “é o que não para e não acaba de advir em todo devir” (Deleuze & Guattari, 1972/2010, p. 437).

Já em Mil platôs, Deleuze e Guattari ressaltam o devir imperceptível em todo devir (Deleuze & Guattari, 1980/2012b, p. 78), uma vez mais afirmando seu descentramento do que é perceptível consciente e introspectivo – razão para o vocabulário relativo a sentimento e emoção perder espaço em favor do afecto e do afectivo no segundo livro de Capitalismo e esquizofrenia (Deleuze & Guattari, 1980/2008). Os autores também distinguem o devir de qualquer relação de semelhança e de identificação, com a ideia de “blocos de devir” (Deleuze & Guattari, 1980/2012b, p. 18). Nessa relação entre-dois, os termos envolvidos são arrastados de sua forma concreta e fixa para entrar em devir, não onde transformam suas qualidades, mas sim onde desfazem sua organização numa “zona de vizinhança e de indiscernibilidade” (Deleuze & Guattari, 1980/2012b, p. 96) – zona amorfa, entre e fora das formas e organizações agenciadas; zona de quantidades intensivas em circulação e passagem; espaço liso, desterritorializado e desestratificado, em que as formas dos termos em bloco perecem no indiscernível. Por isso, envolve uma desapresentação, um deixar de ser, embora o conceito de devir também não seja mais designado como experiência da morte, ao menos não explicitamente, em Mil platôs.

Diante dessas definições de CsO e devir, queremos aqui enfatizar o que já sugerimos, a saber, a dimensão pulsional e o aspecto muito mais tanático do que erótico nesses dois conceitos – evidentemente no primeiro volume da série, em que o debate com a psicanálise é central. Em O Anti-Édipo, CsO e devir revelam esse tanático e pulsional quando textualmente definidos no duplo movimento de dotar a morte de modelo e experiência para incluir o instinto de morte. Mas isso está desde a síntese disjuntiva de desligamento que produz o CsO e dá passagem ao devir, definida em contraste com a libido da síntese conectiva. Também notamos esse pulsional e tanático na atividade de repulsão do CsO, como uma retomada da expulsão relativa à pulsão de morte no texto freudiano de 1925 – mecanismo pelo qual o corpo pulsional expulsa com o mesmo princípio disjuntivo, pulsional e tanático, pelo qual o CsO repele as máquinas-órgãos e o organismo.

Em Mil platôs, as menções a pulsão ou instinto de morte são mais por motivo de recusa. Entretanto, vale destacar que consideramos que a dimensão pulsional e o aspecto tanático se faz presente também no segundo volume da série. Não só a máquina desejante, mas essa unidade real mínima do agenciamento também pode ser uma releitura do conceito de pulsão; afinal, segundo Deleuze e Guattari, “Não há outras pulsões que não os próprios agenciamentos.” (Deleuze & Guattari, 1980/2012b, p. 48). Agenciamento que comporta, como elemento de sua tetravalência, seus picos de desterritorialização e desestratificação da matéria, em que há uma “repulsa” entre o corpo pleno da terra e os estratos ou territórios (Deleuze & Guattari, 1980/2012b, p. 163). Disso extraímos duas observações: primeiro, a reincidência do termo repulsão, termo de sentido pulsional e tanático; segundo, o agenciamento inclui seu próprio princípio de desagenciamento, suas forças de desligamento, de disjunção e fragmentação, que produz o CsO e se abre à matéria amorfa e intensiva em devir no plano de consistência – para os autores, a morte aí está, nisso que “extrapola as capacidades de todo agenciamento possível” (Deleuze & Guattari, 1980/2012b, p. 144).

Lapoujade comenta que “Não se compreende a desterritorialização se não entendemos seu vínculo profundo com a morte.” (2014/2015, p. 252), diante do que destacamos, além da dimensão pulsional, que nesses picos de desterritorialização e desestratificação da matéria existe um princípio tanático no agenciamento, pelo qual CsO e devir emergem em Mil platôs. Esse princípio tanático fica explícito, uma vez mais, quando Deleuze e Guattari (Deleuze & Guattari, 1980/2012a, p. 18) criticam o prazer como descarga, levando a considerar que o plano intensivo do CsO e do devir se faz, se vive e se apresenta além da organização erótica do prazer como princípio. Logo, a ética do CsO e do devir perpassa o que há de pulsional e tanático a ser vivido na subjetivação – ou, melhor, na dessubjetivação. A tarefa lançada no primeiro livro, então, persiste no segundo: em Mil platôs, algo da pulsão e da morte também se inclui. Mas, afinal, que morte, que pulsão ou instinto de morte são esses que se incluem com o CsO e o devir em sua dimensão pulsional e aspecto tanático, que ora fazemos ver por toda a série Capitalismo e esquizofrenia?

Se, conforme Freud, não há não vindo do Inconsciente, esse plano de pura positividade, a condição para incluir uma pulsão ou instinto de morte – seja no Inconsciente como processo maquínico de autoprodução, seja no plano de consistência em Mil platôs – é não a reduzir ao impulso de retorno à morte negativamente descrita como estado inanimado e inorgânico da matéria. Ao contrário dessa morte da pulsão, podemos afirmar uma pulsão de morte positivada, outrora inapresentável, agora incluída como força ou impulso ativo de disjunção, de repulsão e de desorganização; de desterritorialização e desestratificação; tendência de inorganização do que se organiza pelo prazer. Portanto, trata-se de um além do princípio do prazer que excede o retorno ao inanimado, aproximando a pulsão de morte do que Zaltsman (1993), frente ao sexual erótico que se repete ordenado, designa como uma pulsão anarquista. Ao que acrescentamos: trata-se de incluir a pulsão de morte não só como força de devoração heterofágica, que vem de fora, mas de entredevoração autofágica, que sobe de dentro da experiência, incluindo o fora na trama pulsional.

O que leva a repensar a inclusão da própria morte: a qual morte uma tal pulsão de morte faz tender? Para incluir a morte nesse plano de pura positividade, é preciso redefini-la positivamente pela via do CsO e do devir. Então, da morte negativamente descrita como estado inorgânico e inanimado da matéria, abolição de intensidade, inércia do Nirvana, passamos à morte como matéria amorfa desorganizada, desestratificada, desterrritorializada e desagenciada; morte como preenchimento de intensidades em devir, ou quantidades desligadas das associações e conexões eróticas; o real inorganizado, que excede a organização da matéria – enfim, uma morte positivamente descrita pelo excesso. O sentido excessivo dessa morte faz com que o aspecto tanático do plano do CsO preenchido por devires não seja sua mortificação, mas a radicalização do pulsional: eis a morte animada, excesso intensivo ao qual tende uma pulsão de morte positivada.

Aí encontramos Deleuze e Guattari mais contra Freud, ao mesmo tempo em que mais freudianos do que em outros assuntos. Afinal, desde Freud (1920/2010), é à compulsão à repetição – insistência do excesso de intensidade desligada das conexões e associações da trama pulsional – que a pulsão de morte diz respeito, e não à morte absoluta e derradeira, assim como o mecanismo da expulsão pressupõe a pulsão de morte como força disjuntiva, muito mais que a regressão ao estado inanimado. Capitalismo e esquizofrenia leva adiante o que germina no texto freudiano: mediante os conceitos de CsO e de devir, a inclusão de uma pulsão de morte e uma morte positivadas se traduz na radicalização da problemática econômica inaugurada por Freud, privilegiando a via do excesso em contraposição à interpretação de uma pulsão de morte à luz do princípio do Nirvana.

Considerações finais: pistas de uma morte animada

Com o conceito de pulsão de morte, ganha espaço na metapsicologia freudiana um componente econômico além do primado da sexualidade e do erotismo, além da organização do princípio do prazer – e uma perspectiva sobre a morte, que não consiste exclusivamente na dessexualização dos processos psíquicos ou na abolição do que é intensivo e quantitativo nesse plano, como negativo da vida. Propomos considerar que essa morte é a experiência incluída de um excesso incontornável no plano pulsional, pelo qual a obra freudiana assume direção trágica, superpondo qualquer projeto racionalista, destacando a problemática econômica na clínica e nos processos de subjetivação. Ao afirmar a pulsão de morte como radicalidade intensiva, buscamos evidenciar nesse conceito aquilo que em favor do qualitativo e do simbólico porventura se mitigou.

As considerações de Deleuze e Guattari em Capitalismo e esquizofrenia contribuem para isso, se levarmos em conta que seu projeto materialista e imanente propõe uma mesma economia, subjetiva e política, assim como passa pela tarefa de incluir a pulsão ou instinto de morte tanto no plano do Inconsciente quanto no plano de consistência. Inaugurada em O Anti-Édipo e extensível a Mil platôs, tal inclusão se opera por meio dos conceitos de CsO e devir, que apresentamos em sua dimensão pulsional e aspecto tanático, redimensionando a pulsão de morte e a própria morte por uma positivação da negatividade. Da pulsão de morte como retorno ao inorgânico, passamos a dizer do impulso ao inorganizado; da morte como inanimado e ausência de intensidade, passamos a uma morte animada, definida positivamente pelo excesso como plano do CsO preenchido por devires.

Com o termo animada, queremos marcar o contraste ante o inanimado, afirmando não só a perda, mas uma experiência da morte em vida, distinta da mortificação, bem como uma concepção criativa da pulsão de morte e da morte, contrária a Tanatos como expressão máxima da tendência conservadora. Tais ideias não são novas, e citamos referências disso – acessar esse princípio criativo e genético é de que se trata, por exemplo, no empirismo transcendental de Deleuze. Esse trabalho colabora com a maquinaria conceitual, retomando a metapsicologia freudiana junto de Deleuze e Guattari, indo além do anti para afirmar os tensionamentos nessa problemática econômica, da qual não excluímos Lacan. É uma retomada de mão dupla: se, em Freud, uma positivação da pulsão de morte e da morte se confirma, em Deleuze e Guattari a morte brota no vitalismo, evidenciando-os além da vulgata da conexão – a morte aí se inclui como motor da expansão da vida, e não como limite externo, de onde a pertinência da pulsão de morte como princípio disjuntivo e intrínseco de ilimitação, que insiste e faz o que existe se produzir e se criar para algo outro.

Contudo, mesmo que animada, ainda é morte: o que morre nessa morte, que não é a morte da pulsão e da vida, e sim uma morte para a vida? Morrem as formas do organismo que se é e a tendência à totalização erótica; morrem os estratos e territórios nos quais se identifica subjetivamente; morre um eu, que naufraga na angústia; na esteira de Blanchot (1955/2011), trata-se de um morre-se (on meurt), rumo ao que há de impessoal em nós mesmos, como indicam Deleuze e Guattari (Deleuze & Guattari, 1972/2010, 1980/2012b). Morre também a trama pulsional organizada pelo princípio do prazer: é o além da escritura psíquica, conforme sugere Derrida (1995/2001) ao propor uma pulsão de morte arquivolítica, que opera queimando os arquivos, os signos consignados no Inconsciente. Enfim, morre a qualidade e o sentido: essa morte é o excesso do signo, é uma abertura ao fora do sentido, ao real inorganizado como matéria não semiotizada (Pinto, 2019, p, p. 106). Algo que – aqui queremos apenas indicar – remete também à relação entre o fora do sentido e o insignificantizável do gozo já no último momento do ensino de Lacan.

Eis a pista para uma experiência clínica contemporânea irredutível à ruidosa reprodução erótica de sentidos e qualidades pela interpretação, que encontra na morte animada outros sentidos: sentido como o sensível dos fluxos de intensidade, e como direção – esta, indicada desde o além freudiano em 1920 –, pois as experiências dessa morte, tal como revela a compulsão à repetição, levam ao limite da interpretação, cabendo à clínica reencontrar o sensível e seus excessos como direção, além das qualidades, ganhando sentido no intensivo. De modo que, à luz de uma morte animada, a pulsão de morte é irredutível ao que impede o tratamento, por exemplo, como razão da reação terapêutica negativa. Dizer desse fora da morte como direção clínica constitui parte da retomada materialista da psicanálise em Capitalismo e esquizofrenia: “Que pede a esquizoanálise? Nada além de um pouco de verdadeira relação com o fora, um pouco de realidade real (réalité réelle).” (Deleuze & Guattari, 1972/2010, p. 444).

Com essa leitura, não se trata de negar o inanimado, a morte derradeira, o temor na conjugação da vida e da morte, a morbidez tanática e a mortificação. Basta notar a morte como vetor de subjetivação em nosso tempo e toda a sintomatologia decorrente dos destinos lúgubres dessa problemática econômica. Retomar a pulsão de morte e a morte por uma via animada é buscar as vias de insurgência clínica a isso, pela afirmação excessiva da vida em sua crueldade trágica, sem dispensar seus riscos, o que se afasta de uma apologia da morte e da euforia. Por isso, mais que o temor da morte, é preciso prudência: categoria que Deleuze e Guattari assumem na ética do CsO (Deleuze & Guattari, 1980/2012a) – não como a virtude aristotélica que adverte e limita a desmesura, mas a prudência que permite ir além do limite, excedendo a experiência, que permite uma curadoria da morte, sem que se retorne ao inanimado ou que se pereça na mortificação e na abolição de uma morte derradeira. Direção ética que vale também para a clínica, desde que entendida como uma experiência de morrer em vida – a clínica não como a única, mas como uma tecnologia singular de produção de uma morte animada que afirme uma vida e não recaia nos destinos lúgubres, restituindo o que há de excessivo e desmesurado na experiência da economia pulsional e suas problemáticas.

Agradecimento

Este artigo resulta da pesquisa de mestrado concluída em 2019 no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (PPGP/UFF), sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Passos, a quem registro um agradecimento especial, pois sem sua orientação o trabalho não seria possível.

Referências

Baas, B. (1992/2001). O desejo puro. Revinter. [ Links ]

Birman, J. (2000). Os signos e seus excessos: A clínica em Deleuze. In: E. Alliez (Org.), Gilles Deleuze: Uma vida filosófica (p. 463-478). Editora 34. [ Links ]

Blanchot, M. (1955/2011). O espaço literário. Rocco. [ Links ]

David-Ménard, M. (2014). Deleuze e a psicanálise. Civilização Brasileira. [ Links ]

Deleuze, G. (1967/2009). Sacher-Masoch: O frio e o cruel. Zahar. [ Links ]

Deleuze, G. (1968/2018). Diferença e repetição. Paz e Terra. [ Links ]

Deleuze, G. (1969/2015). Lógica do sentido. Perspectiva. [ Links ]

Deleuze, G.; Guattari, F. (1972/2010). O Anti-Édipo. Editora 34. [ Links ]

Deleuze, G.; Guattari, F. (1980/2011). Mil platôs (vol. 1). Editora 34. [ Links ]

Deleuze, G.; Guattari, F. (1980/2012a). Mil platôs (vol. 3). Editora 34. [ Links ]

Deleuze, G.; Guattari, F. (1980/2012b). Mil platôs (vol. 4). Editora 34. [ Links ]

Deleuze, G.; Guattari, F. (1980/2008). Mil platôs (vol. 5). Editora 34. [ Links ]

Derrida, J. (1967/2009). A escritura e a diferença. Perspectiva. [ Links ]

Derrida, J. (1995/2001). Mal de arquivo: Uma impressão freudiana. Relume Dumará. [ Links ]

Foucault, M. (1963/1977). O nascimento da clínica. Forense Universitária. [ Links ]

Freud, S. (1891/2014). Sobre a concepção das afasias: Um estudo crítico. Zahar. [ Links ]

Freud, S. (1894/1996). As neuropsicoses de defesa. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. 3). Imago. [ Links ]

Freud, S. (1895[1950]/1996). Projeto para uma psicologia científica. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. 1). Imago. [ Links ]

Freud, S. (1905/2010). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras Completas (vol. 6). Cia das Letras. [ Links ]

Freud, S. (1911/2010). Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico. In: Obras Completas (vol. 10). Cia das Letras. [ Links ]

Freud, S. (1915/2010). O inconsciente. In: Obras Completas (vol. 12). Cia das Letras. [ Links ]

Freud, S. (1920/2010). Além do princípio do prazer. In: Obras Completas (vol. 14). Cia das Letras. [ Links ]

Freud, S. (1924/2010). O problema econômico do masoquismo. In: Obras Completas (vol. 16). Cia das Letras. [ Links ]

Freud, S. (1925/2010). A negação. In: Obras Completas (vol. 16). Cia das Letras. [ Links ]

Freud, S. (1930/2010). O mal-estar na civilização. In: Obras Completas (vol. 18). Cia das Letras. [ Links ]

Garcia-Roza, L. A. (1986/1999). Acaso e repetição em psicanálise. Zahar. [ Links ]

Hyppolite, J. (1954/1998). Apêndice I: Comentário falado sobre a 'Verneinung' de Freud. In: J. Lacan, Escritos. Zahar. [ Links ]

Jambois, F. (2016). Deleuze et la mort: Chemins dans l'Anti-Œdipe. Paris: L'Harmattan. [ Links ]

Lacan, J. (1953-1956/1998). Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. In: J. Lacan, Escritos. Zahar. [ Links ]

Lacan, J. (1954-1955/1978). O seminário, livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Zahar. [ Links ]

Lacan, J. (1959-1960/2008). O seminário, livro 7: A ética da psicanálise. Zahar. [ Links ]

Lacan, J. (1960-1964/1998). Posição do inconsciente no congresso de Bonneval. In: J. Lacan, Escritos. Zahar. [ Links ]

Lapoujade, D. (2014/2015). Deleuze: Os movimentos aberrantes. n-1. [ Links ]

Oliveira, M. T.; Winograd, M.; Fortes, I. (2016). A pulsão de morte contra a pulsão de morte: A negatividade necessária. Psicologia Clínica, 28 (2), 69-88. https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652016000200005Links ]

Pinto, F. (2019). Considerações sobre o conceito de pulsão de morte: Pistas de uma morte animada (dissertação de mestrado). Programa de Pós-graduação em Psicologia, Universidade Federal Fluminense (UFF). https://slab.uff.br/wp-content/uploads/sites/101/2021/06/2019_d_FabricioPinto.pdfLinks ]

Ricœur, P. (1965/1977). Da interpretação: Ensaio sobre Freud. Imago. [ Links ]

Sibertin-Blanc, G. (2009). L'instinct de mort dans la schizoanalyse de Deleuze et Guattari. Deleuze Online, 2. https://deleuze.online/2009/02/16/guillaume-sibertin-blanc-l%E2% 80%99instinct-de-mort-dans-la-schizoanalyse-de-deleuze-et-guattari/Links ]

Spielrein, S. (1912/2021). A destruição como origem do devir. Artes & Ecos. [ Links ]

Vincent, B. (2020). Gozo e pulsão de morte no ensino de Lacan. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 23 (1), 49-56. https://doi.org/10.1590/1809-44142020001006Links ]

Zaltsman, N. (1993). A pulsão anarquista. Perspectiva. [ Links ]

A pesquisa teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), código de financiamento 001.

Recebido: 20 de Janeiro de 2023; Aceito: 13 de Junho de 2024

Creative Commons License  This is an Open Access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution Non-Commercial License, which permits unrestricted non-commercial use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.