SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.4 número2Espaço real, espaço simbólico e os medos infantisQuando qualquer semelhança não é mera coincidência: o lugar da construção de caso na pesquisa psicanalítica índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Latin American Journal of Fundamental Psychopathology On Line

versão On-line ISSN 1677-0358

Lat. Am. j. fundam. psychopathol. on line v.4 n.2 São Paulo nov. 2007

 

ARTIGOS

 

O conceito de loucura no romance de Machado de Assis “Quincas Borba”

 

The concept of madness in the novel “Quincas Borba” of Machado de Assis

 

 

Sávio Passafaro Peres*; Marina Massimi**

Universidade de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo procura reconhecer e avaliar a concepção de loucura no romance Quincas Borba, de Machado de Assis. Para isso, analisamos o desenvolvimento da loucura em Rubião, o protagonista do romance. As análises foram feitas em duas etapas. Em primeiro momento, comparamos as concepções de loucura presentes no romance com as teorias de psiquiatras do século XIX. Em um segundo momento, buscamos compreender a loucura tendo como parâmetro a própria obra do autor, apoiando nas idéias presentes no conto "O espelho". O resultado das análises é que Machado de Assis não apenas se apropriou das teorias psiquiátricas da época, como foi além tratando a loucura dentro da dinâmica do homem com o seu meio social.

Palavras-chave: História da Psicologia, Loucura, Literatura e Psicologia; História da Psicopatologia


ABSTRACT

This paper intends to recognize and evaluate the concept of madness in the novel of Machado de Assis, Quincas Borbas. For that, first we analyzed the representation of madness in the protagonist of this novel, comparing with ideas about the same issue, from others thinkers, philosophers and psychiatrists from the nineteenth century. Secondly, we have tried to understand the same question, using other works of the same author, mainly, the short story "O espelho". The results of our analyses show that Machado not only uses the ideas of psychiatry of his time, but goes further, developing the idea that one of the origins of madness is in the relationship between man and society.

Keywords: Machado de Assis, Madness, History of Psychology, Literature and Psychology, History of Psychopathology


RESUMÉ

Le but de cet article est identifier et évaluer la conception de la folie dans le roman "Quincas Borba", de Machado de Assis. Pour ce propos, nous avons analysé le développement de la folie dans Rubião, le protagoniste du roman. Les analyses ont été faites dans deux étapes. À un premier moment, nous avons comparé les conceptions de folie dans le roman aux théories de psychiatres du dix-neuvième siècle. Et dans selon moment, nous avons essayé de comprendre la folie ayant comme paramètre l'oeuvre elle-même de l'auteur. Ainsi, nous avons comparé l'histoire "O Espelho" au roman "Quincas Borba". Le résultat des analyses est que Machado non seulement approprié des théories psychiatriques de son temps, mais aussi a développé une conception complexe de folie, comme résultat de la dynamique entre l'homme et son milieu social.

Most-clés: Histoire de la Psicologie; Machado de Assis; Histoire de la Pychopathologie


RESUMEN

Este Artigo busca reconocer y evaluar la concepción de locura en el Romance Quincas Borba, de Machado de Assis. Por eso, analizamos el desarrollo de la locura en Rubião, el protagonista del romance. Los análisis fueron hechos en dos etapas. En el primer momento comparamos las concepciones de locura presentes en el romance con teorías de los psiquiatras del siglo XIX. Y en el según momento, buscamos comprender la locura teniendo como parámetro la propia obra del autor, apoyando en las ideas presentes en el cuento "O Espelho". El resultado de los análisis es que Machado no se apropió apenas de las teorías psiquiátricas de la época, indo adelante, tratando la locura dentro de la dinámica del hombre con su medio social.

Palabras clave: Machado de Assis; Historia de la Psicología ; Literatura e Psicología; Historia de la Psicopatología


 

Introdução

Conhecer os diferentes modos pelos quais o homem descreveu a subjetividade ao longo dos tempos é de extrema importância para que não se naturalize ou se tome como essencial o que, eventualmente, trata-se de um fenômeno histórico. A literatura, dado o seu modo de ser, revela-se como uma fonte privilegiada para se conhecer essas formas pelas quais o homem "dobrou sobre si mesmo", como ele se representou, como ele se compreendeu. Neste sentido, a obra de Machado de Assis, por ele nela ter buscado representar a interioridade humana _ pode-nos fornecer um interessante material de análise.

De fato, a obra de Machado de Assis destaca-se frente às obras dos outros autores que no Brasil do século XIX abordaram as questões psicológicas. Se nesses a psicologia não mais passava de reverberações de teorias européias, em Machado de Assis encontramos subjacentes ao seu texto, concepções sobre a conduta e o funcionamento psíquico que antecipam idéias freudianas e mesmo fenomenológicas, embora seu valor psicológico não consista apenas em antecipá-las, mas também em representar, com riqueza de detalhes, o ser humano em sua relação dinâmica com o mundo. De fato, muitos estudos têm revelado a profundidade psicológica da obra de Machado de Assis, bem como o intenso diálogo que ele, através de sua ficção, travou com a psiquiatria de seu tempo.

Dentro da ficção machadiana, as concepções psicológicas aparecem fundamentalmente em três níveis. Em primeiro lugar, nos discursos expositivos dos narradores e personagens machadianos; e segundo, no modo como são descritos os estados subjetivos; em terceiro lugar, na estrutura da trama. A articulação desses três níveis de análise, tendo em vista a própria terminologia do autor, permite reconstruir, de forma mais segura, os saberes psicológicos presentes na obra machadiana. Além disso, consideramos que a totalidade da obra do autor, embora não seja um bloco monolítico de rigor teórico, forma um todo orgânico. Seguindo essa perspectiva, analisamos o conto "O espelho", publicado em 1882, no livro de contos Papéis avulsos, para em seguida observarmos como as idéias presentes retornam de modo ainda mais elaborado e complexo no romance Quincas Borba, publicado em 1891. De fato, as idéias contidas no conto "O espelho" permitem mostrar a complexidade do conceito de loucura subjacente à construção do protagonista do romance. Machado, para construir no romance a loucura de Rubião, não apenas se valeu dos conhecimentos psiquiátricos, como também utilizou filósofos como Arthur Schopenhauer e Eduard Von Hartmann, e foi além ao considerar a loucura da personagem resultado do jogo entre o homem e a sociedade.

 

O romance Quincas Borba e a "sorte" de Rubião

O romance Quincas Borba tem como protagonista Rubião, um simples professor de Barbacena, que, para ganhar um dinheiro extra, torna-se enfermeiro do filósofo Quincas Borba, autor da teoria do Humanitismo, cujo lema é: "Ao vencedor as batatas". Durante o período em que Rubião está cuidando de Quincas Borba, este foge do hospital e, após alguns dias, é encontrado morto no Rio de Janeiro. Em seu testamento, Rubião é declarado o seu herdeiro universal, com a condição de que ele cuidasse do cachorro de Quincas Borba, cujo nome era o mesmo do finado. Rubião recebe a fortuna e resolve morar no Rio de Janeiro. Em sua viagem a esta cidade, na cabine do trem, conhece Palha e sua esposa, Sofia. Chegando ao Rio de Janeiro, Rubião estreita seu convívio com o casal. Em pouco tempo, Rubião empresta grandes somas de dinheiro à Palha e torna-se sócio dele em um negócio comercial. Além disso, Rubião passa a amar Sofia, a qual estabelece com ele uma relação ambígua: sempre insinuante, ela deixa no ar uma promessa de adultério, mas nunca o comete. O ricaço vindo de Barbacena também conhece, no Rio de Janeiro, Camacho e Freitas, dois homens que abusam de sua ingenuidade, tendo em vista sua fortuna. Além desses dois homens Rubião também mantém um certo contato com Major Siqueira e sua filha, D. Tonica. Em linhas gerais, salvo raríssimas exceções, podemos dizer que as personagens mais íntimas de Rubião convivem com ele apenas pelo interesse na fortuna por ele herdada.

Assim, Rubião, tomado por fortes conflitos interiores, vai enlouquecendo e perdendo sua herança com gastos desmedidos, até finalmente acreditar ser Luís Napoleão. Depois de consumir toda a sua herança e de passar um tempo no sanatório, ele retorna a Barbacena, onde morre na sarjeta, louco e maltrapilho. A análise que se segue consiste em observar, em diferentes âmbitos, como Machado construiu a loucura do personagem e trabalhou o seu desenvolvimento ao longo do romance. Para isso, traçamos relações entre a loucura de Rubião e as idéias psiquiátricas relativas aos quadros de dupla personalidade apresentados pelo psiquiatra Ribot (1885), em Maladie de la personnalité.1 Também observamos como o conceito de inconsciente proposto por filósofos do século XIX ajuda a compreender alguns dos fenômenos descritos por Machado. E ainda procuramos mostrar como as idéias contidas no conto "O espelho" nos possibilita melhor compreender as idéias de Machado relativas à formação do quadro de dupla personalidade em Rubião.

 

O anúncio da loucura

O processo de enlouquecimento de Rubião se dá, de forma gradual, ao longo do romance. Há, de fato, várias cenas e passagens que revelam este desenvolvimento. Assim, podemos dizer que a loucura de Rubião, de certa forma, vai aos poucos se anunciando e tomando corpo. Iremos, em um primeiro momento, observar rapidamente algumas dessas cenas nas quais podemos entrever a formação da loucura da personagem.

Em algumas partes de Quincas Borba, Rubião é vítima de fenômenos próximos à possessão, como se a consciência se esvaísse e o inconsciente dominasse seu próprio corpo. Há um episódio em que Palha e Sofia oferecem uma festa aos seus "amigos". Nessa festa, Sofia derrama seu olhar em Rubião. O flerte continua até que ambos se encontram no jardim, a pouca distância dos outros convidados da festa. É nesta situação que Rubião é tomado por poderoso ímpeto e com "olhos de fogo" segura a mão de Sofia e tenta beijá-la: "Inclinava-se para beijar a mão, quando uma voz, a alguns passos, veio acordá-lo inteiramente" (Machado de Assis, 1882, v. 02. p .673).

A expressão "veio acordá-lo inteiramente" já sinaliza o estado em que Rubião se encontrava. Essa é a primeira cena do romance em que sua futura loucura se anuncia de forma mais explícita. Na mesma noite, logo após a festa, encontramo-lo voltando para sua casa, e enquanto retorna andando pelas ruas à sua casa, Rubião vai vendo nas janelas os vultos de Sofia, ao passo que sua consciência está imersa em solilóquios, através dos quais podemos observar a dicotomia entre a sua imaginação e a sua consciência: "Rubião estava admirado de si mesmo, e arrependia-se; mas o arrependimento era obra da consciência, ao passo que a imaginação não soltava por nenhum preço a figura da bela Sofia..." (p. 681).

Depois de algum tempo em que Rubião está andando pelas ruas, refletindo sobre o fato de ter declarado seu amor a Sofia, ele é surpreendido por três cocheiros. Cada um deles oferece o seu tílburi para levá-lo à sua casa. Rubião hesita durante alguns segundos e, quando "cai em si", já se encontra dentro de um dos tílburis, o mais próximo.

É nesse ponto que surge em Rubião uma reminiscência de um certo episódio de quando ele ainda era jovem e pobre, e se encontrava no Rio de Janeiro. Na reminiscência, andava pelas ruas e, subitamente, encontra um aglomerado de pessoas. Descobre que vai haver um enforcamento de um escravo e resolve ir embora. Mas é incapaz.

A narrativa da reminiscência reflete o estado psíquico de Rubião. A reminiscência, embora o arrebate, é interrompida por frases como "Olhe o meu cavalo", que são como que ecos desfigurados das falas dos donos dos tílburis, as quais ele acabara de escutar. Com relação ao enforcamento, Rubião vive um forte conflito, pois embora não quisesse ir vê-lo: "Rubião não podia entender que bicho era que lhe mordia as entranhas, nem que mãos de ferro lhe pegavam da alma e retinham ali" (p. 679). O conflito das forças nvoluntárias com as conscientes se expressa inclusive em nível motor: Foi aqui que o pé direito de Rubião descreveu uma curva na direção exterior, obedecendo a um sentimento de regresso; mas o esquerdo, tomado de sentimento contrário, deixou-se estar, lutaram alguns instantes...(p. 679).

Observa-se mais uma vez a "desintegração" da psique de Rubião em várias outras passagens do romance como: "O espírito ia de um para o outro lado como bola de borracha entre as mãos de uma criança" (p. 681).

 

Os quadros de dupla personalidade propostos pelo psiquiatra Ribot (1839- 1916)

Examinaremos agora o modo como se dá o caso da dupla personalidade de Rubião, comparando com as concepções acerca do fenômeno apresentadas pelo psiquiatra Theodore Ribot (1839-1916), para depois nos aprofundarmos nos fatores externos, isto é, os livros, os tipos de vínculos sociais de Rubião e o imaginário no qual ele estava imerso.

O psiquiatra Ribot (1885), em Maladie de la personnalité, busca fazer uma classificação dos transtornos de personalidade, ordenando-os pela força com que se manifestam em cada caso e pela presença, ou não, em cada um deles, de uma reorganização cerebral. Na primeira classe de "dupla personalidade" encontram-se os que têm o antigo "eu" substituído por outro, resultando numa nova forma de sentir e de pensar. Neste caso, restaria ao antigo "eu" apenas traços muito básicos como o conhecimento da língua e outros automatismos.

Na segunda classe do quadro psiquiátrico, a pessoa oscila entre duas personalidades, cada qual sustentada por uma organização cerebral específica:

O segundo tipo tem por característica fundamental a alternância entre duas personalidades; e é sobretudo a ele que se deve reservar a denominação corrente de dupla consciência. (...) A causa física desta alternância é bem obscura, pode-se dizer, desconhecida. Quanto à época em que este caso manifesta-se, não se diferencia do primeiro gênero: a diferença reside na repartição da primeira personalidade. É difícil resistir à hipótese de que, entre o sujeitos histéricos, instáveis por excelência, há dentro das vias físicas, dois habitus distintos que servem cada um deles de base a uma organização psíquica. (p. 149; Tradução nossa)

Nesse quadro pode inclusive ocorrer, afirma Ribot, de cada personalidade criar uma memória própria, ou seja, o que acontece com uma pessoa no momento em que ela vive uma personalidade, não pode ser lembrado por ela quando vive a outra. O fenômeno da personalidade alternante ajusta-se ao que acontece no caso de Rubião:

Dante, que viu tantas cousas extraordinárias, afirma ter assistido no inferno ao castigo de um espírito florentino, que uma serpente de seis pés abraçou de tal modo, e tão confundidos ficaram, que afinal já se não podia distinguir bem se era um ente único, se dous. Rubião era ainda dous. Não se misturavam nele a própria pessoa com o imperador dos franceses. Revezavam-se; chegavam a esquecer-se um do outro. Quando era só Rubião, não passava do homem do costume Quando subia a imperador, era só imperador. Equilibravam-se, um sem outro, ambos integrais. (Machado de Assis, 1891. v. 1. p. 768)

A terceira classe de doença da personalidade é a mais leve delas, pois nela não há uma base orgânica, como nos casos anteriores. É conseqüência, isto sim, de uma idéia fixa que se fortalece cada vez mais até tomar o indivíduo por completo.

O terceiro tipo é o mais superficial, eu o denominaria de uma substituição da personalidade. Refiro-me a este tipo de caso bastante vulgar no qual o indivíduo crê simplesmente ter mudado de personalidade (o homem se diz fêmea, o trapeiro se diz rei). O estado de certos hipnotizados dos quais nós falamos anteriormente podem servir de modelo para toda essa classe. A alteração, aquí, é antes psíquica do que orgânica. Não que eu suponha que ela nasça e permaneça sem uma base material. Quero dizer simplesmente que ela não é causada e sustentada, como nos dois grupos precedentes, por uma modificação profunda do corpo, donde provém uma modificação completa da pessoa. Ela vem do cérebro, não do íntimo do organismo: é uma desordem antes local do que geral _ a hipertrofia de uma idéia fixa que torna impossível a coordenação necessária à vida normal do espírito. (Ribot, 1885, p. 150)

Ribot termina a sua classificação acerca desta doença da personalidade alegando que se trata de uma proposta provisória e que nem sempre os casos reais se enquadram perfeitamente em um dos tipos. No caso de Rubião, sua segunda personalidade se forma a partir da idéia fixa: a nobreza. Somente depois passará a oscilar entre Rubião e Luís Napoleão, até que esta última personalidade o domine por completo.

A apresentação da teoria de Ribot serve para que possamos conhecer o universo dos discursos psicológicos do século XIX. O conhecimento dos sistemas e dos fenômenos discutidos na época pode lançar luz em certos aspectos obscuros - no âmbito psicológico - presente no tempo de Machado. E Ribot, além de ter sido um expoente de suma importância no contexto psicológico e psiquiátrico no XIX, é um autor que Machado conhecia, a tal ponto tê-lo inspirado em um de seus contos "O lapso".1

 

A "personalidade emprestada" como conseqüência da mudança do "meio e da fortuna" e "O espelho"

O narrador de Quincas Borba não se contenta em apresentar a loucura e o seu desenvolvimento no seu aspecto exterior, através dos diálogos ensandecidos e das atitudes desmedidas de Rubião - vai além, abrindo a mente da personagem e mostrando não só o que se passa pela consciência dela, como também busca apontar ou sugerir as causas secretas da loucura. Nesta passagem da primeira versão de Quincas Borba, que saiu em folhetim em 1889, o major Siqueira visita Rubião e, ao despedir-se, alerta o anfitrião de que falta alma em sua casa e, para sanar o problema, sugere-lhe o casamento. O narrador "concorda" com a opinião do Major:

Sim, leitor profundo, a vida de Rubião carecia de unidade. Sem o perceber, o que elle buscava no casamento era a unidade que a vida não tinha. Sentia-se disperso e confuso: era como um morador de hospedaria, que passa, que está aqui dous dias, acolá quatro: tem de visitar hoje um museo, amanhã uma ruína, para a semana outra cidade. Não convive, não mora: fala ao inglez, ao francez, ao italiano, ao allemão, ou russo, a todas as nações, de todas as maneiras, a pé, de carro, fumando, comendo.

Mas, ainda assim, a vida pode ter unidade _ ou na alma ou na situação do homem. Nem a alma, nem a situação do nosso homem estava em tal caso. A vida partira-se-lhe. Vivera mais de metade em um outro lugar, com outras gentes, outros meios, outros horizontes. Não tinha aqui família; as relações eram de acaso e recentes, não cimentadas pelo tempo nem explicadas por outras causas mais íntimas e profundas. Nenhuma fallava da existência anterior. (...) Crê, leitor, tal foi a origem secreta e inconsciente da idéia conjugal. As outras explicações são boas e até honestas, mas a verdadeira e única é a que ahi fica (apud: Gledson, 2003, p. 92)

Na nova versão, de 1891, esse trecho é omitido e no lugar temos a seguinte passagem:

Santas pernas! Elas o levaram ainda ao canapé, estenderam-se com ele, devagarinho, enquanto o espírito trabalhava a idéia do casamento. Era um modo de fugir a Sofia; podia ser ainda mais. Sim, podia ser também um modo de restituir à vida a unidade que perdera, com a troca do meio e da fortuna; mas esta consideração não era propriamente filha do espírito nem das pernas, mas de outra causa, que ele não distinguia bem nem mal. (Machado de Assis, 1891; v. 1. p. 712.)

Veja-se que há um sentido que sustenta e produz em Rubião a idéia de casar. E esse "sentido" não é filho "nem das pernas, nem do espírito". Provém, poderíamos dizer, da própria força vital, uma força que forceja para que ele não perca a unidade.

O narrador também é claro quanto às causas da perda da "unidade". Esta advém com a mudança "do meio e da fortuna". Ora, a unidade do eu não é conseqüência apenas exclusivamente de fatores interiores ao indivíduo, nem de fatores puramente exteriores. De fato, isto deixa entrever que Machado de Assis trabalha nesta obra a noção de que a unidade do eu ou sua perda está vinculada à relação entre o mundo exterior e interior. Isso porque o "eu" se completa e se faz no mundo.

Tal concepção remete à teoria das duas almas de Jacobina, uma "que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro". Machado, no conto "O espelho" atualiza uma idéia que reincide em várias de suas obras: é o papel social que dá consistência ao eu. De fato, quando Jacobina deixa de ser um humilde morador da periferia para tornar-se alferes da guarda nacional, passa então a ter um novo status. A conseqüência é que a nova situação vai alterando, sem que ele mesmo perceba, o seu modo de ser. Isso porque passa a receber um novo olhar por parte dos familiares, amigos e conhecidos, que deixam de vê-lo como antes para tratá-lo como um alferes. Resulta daí que, em pouco tempo, esse olhar que vem de fora para dentro é incorporado por Jacobina. Mais tarde, vendo-se ompletamente só na fazenda de sua tia, sem ninguém para vê-lo como alferes, ele cai numa terrível crise, como se uma parte de seu ser estivesse se extinguindo. E finalmente reconhece que o olhar do outro é um espelho.

É devido a esta experiência que Jacobina elabora a teoria das duas almas, como podemos observar em sua explicação:

Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. (Machado de Assis, 1882; v. 2. p. 345- 346).

Ora, já observamos como o próprio narrador nos alerta sobre a relação entre a loucura de Rubião e sua "mudança do meio e da fortuna". De fato, Rubião terá, de certa forma, como espelho as suas próprias fabulações, pois os outros devolvem a ele apenas a imagem que mais lhe agrada. Que melhor modo há de agradar o portador do capital do que devolvendo a ele a imagem dos seus sonhos? Dizendo de outro modo, tanto o político frustrado Camacho, quanto Freitas, irão bajulá-lo, dirão ao ricaço tudo aquilo que ele quer ouvir, e mais ainda, irão inculcar-lhe novas ambições. Se Rubião percebesse o interesse por trás dos atos de Sofia e dos parasitas que visitavam sua casa, o desfecho do romance talvez fosse diferente. Mas Rubião não percebe. E assim deixa-se levar por relações falsas que vão, pouco a pouco, tirando-o de órbita, em direção à lua.

A presença do "outro" como condição da unidade do eu também se manifesta nas situações cotidianas. Em certas cenas do romance, a simples presença de um "outro" pode ajudar Rubião a recuperar a sua sanidade, ou mesmo esquecer-se de si mesmo. Rubião, um pouco incomodado com a idéia de ter dado para a mãe de Freitas mais dinheiro do que deveria, procura "sacudir de si" tal idéia, mas não é bem-sucedido, e: "Como a idéia tornasse ainda, Rubião atirou-se depressa ao tílburi, entrou e sentou-se, falando ao cocheiro, para fugir a si mesmo." (Machado de Assis, 1891; v. 1. p. 718). E do mesmo modo:

Rubião, na rua, voltou a cabeça para todos os lados, a realidade apossava-se dele e o delírio esvaía-se. Andava, estacava diante de uma loja, atravessava a rua, detinha um conhecido, pedia-lhe notícias e opiniões; esforço inconsciente para sacudir de si a personalidade emprestada (p.774).

A segunda personalidade de Rubião aqui é chamada sugestivamente de "personalidade emprestada". Esta vai, pouco a pouco, dominando-o ao longo do romance. Começa a se formar logo que ele se muda para o Rio de Janeiro, a partir de suas novas relações sociais:

Durante alguns minutos, Rubião pôde subtrair-se à ação dos outros. Tinha a terra natal em si mesmo ambições, vaidades da rua, prazeres efêmeros, tudo cedia ao mineiro saudoso da província. Se a alma dele foi alguma vez dissimulada, e escutou a voz do interesse, agora era a simples alma de um homem arrependido do gozo, e mal acomodado na própria riqueza. (p. 692).

Ao abstrair-se da "ação do outros", o professor de Barbacena pode voltar a ser ele mesmo. Não há continuidade entre o professor e o capitalista, há abismo. Uns poucos capítulos adiante encontramos: "Mas o caso particular é que ele, Rubião, sem saber por que, e apesar do seu próprio luxo, sentia-se o mesmo antigo professor de Barbacena" (p. 692).

O inconsciente em Machado de Assis nem sempre diz respeito a sentimentos ou desejos. Algumas vezes é como que um sentido geral da vida, uma força vital que vai além de qualquer sentimento específico e que gera no homem certas inclinações, a partir das quais nascem inclusive as vontades e as emoções (Peres e Massimi, 2004). A força que tenta dar unidade ao "eu" é inconsciente, como podemos observar, no trecho já citado, quando Rubião, ao encontrar um conhecido, pedia notícias ou opiniões sobre um assunto: "um esforço inconsciente para sacudir de si a personalidade emprestada." Da mesma forma como o meio em que vive o influencia sem que ele perceba.

 

O imaginário burguês: a busca pelo sangue azul

Sofia luta por ter um status elevado dentro da sociedade. Por outro lado, Rubião, na figura de Napoleão III, pode ser o símbolo daquele que está no topo da escala social. O pobre almeja tornar-se burguês. E o burguês quer ser nobre. Baudelaire (1863), em meados do século XIX, já observava que os cafés parisienses, com suas mobílias, com seu luxo rutilante, tentavam criar artificialmente um meio aristocrático, no qual o burguês pudesse ter uma vertigem da materialização de seu sonho: se igualar à nobreza. Palha, tão logo enriquece, construirá um "palacete". E como se esquecer, nas Memórias póstumas de Brás Cubas, da resposta de Lobo Neves à pergunta de sua esposa Virgília: "- Promete que algum dia me fará baronesa?", "- Marquesa, porque eu serei marquês" (Machado de Assis, 1881; v.1. p. 560).

Rubião, depois de acreditar ser Luís Napoleão, chamará Palha de "duque de Palha", Sofia será "princesa Eugênia".

De fato, Machado de Assis constantemente ironiza em suas ficções a fascinação burguesa pelo mundo aristocrático. Ridiculariza os burgueses que compram títulos de nobreza. No caso de Sofia e Palha, contudo, a situação é ainda pior do que a do burguês que já nasce rico, posto que tanto ela quanto Palha vieram de camadas baixas da sociedade.

Nessa mesma ordem de idéias, vale a pena mencionar algumas semelhanças entre a loucura de Rubião e a loucura de Dom Quixote, de Cervantes. A loucura de ambos é consistente, isto é, possui uma fixação temática. Durante a loucura, ambos ganham uma nova personalidade, com características bem definidas, a partir da qual a realidade passa a ser desfigurada, ou melhor, reconfigurada. Em Dom Quixote, os moinhos se tornam gigantes. Em Rubião: "Pobres galinhas magras eram graduadas em faisões; picados triviais, assados de má morte traziam o sabor das mais finas iguarias da terra." (Machado de Assis, 1891; v. 1, p. 775).

Assim, a imaginação e o imaginário exercem um importante papel em sua loucura. O trecho que segue mostra como Rubião alimentava a imaginação com os livros e ainda assim tinha tempo de sobra para afundar em suas imaginações e devaneios:

Aquelas cenas da corte de França, inventadas pelo maravilhoso Dumas, e os seus nobres espadachins e aventureiros, as condessas e os duques de Feuillet, metidos em estufas ricas, todos eles com palavras mui compostas, polidas, altivas ou graciosas, faziam-lhe passar o tempo às carreiras. Quase sempre, acabava com o livro caído e os olhos no ar, pensando. Talvez algum velho marquês defunto lhe repetisse anedotas de outras eras. (p. 712).

Nestes devaneios, a presença do universo ficcional literário é clara: "Antes de cuidar da noiva, cuidou do casamento. Naquele dia e nos outros, compôs de cabeça as pompas matrimoniais, os coches,-se ainda os houvesse antigos e ricos, quais ele via gravados nos livros de usos passados ..." (p. 712). Depois Rubião escreve em um papel, vezes seguidas "Marquês de Barbacena": "Ia assim, até o fim da lauda, variando a letra, ora grossa, ora miúda, caída para trás, em pé, de todos os feitios. Quando acabava a folha, pegava nela, e comparava as assinaturas; deixava o papel e perdia-se no ar" (p. 712).

 

Conclusão

A loucura de Rubião, como pudemos observar, não pode ser considerada um reflexo da teoria psiquiátrica de Ribot. Pois ainda que seja possível traçar analogias entre a loucura de Rubião e quadros de dupla personalidade descritos pelo psiquiatra, a complexidade com a qual Machado analisa, passo a passo, a formação dessa segunda personalidade, a de Luis Napoleão, envolve elementos de outras ordens. Ribot (1885) pouco discute a causas que geram os diferentes quadros de dupla personalidade; quando o faz, tende a considerá-las como conseqüência de uma má irrigação sanguínea do sistema nervoso central. Fica nítida, portanto, a presença dos princípios materialistas e organicistas que norteavam a maior parte da psiquiatria do século XIX. Machado de Assis, ao contrário, buscou ir a fundo no conceito de loucura, não a avaliando sob uma perspectiva materialista. A loucura de Rubião começa a ocorrer por meio da mudança de sua condição de vida.

E aqui aparece um dos pontos centrais da concepção machadiana de pessoa: o mundo interior não é tão interior assim, pois a psique humana está aberta ao mundo, de tal modo que não é possível discernir onde começa o interior, onde ele acaba. O resultado é que o mundo interior não pode ser compreendido sem se levar em consideração o mundo exterior.

O processo de modificação da personalidade em virtude de uma nova condição de vida não é, necessariamente, um processo consciente. Entretanto, a personalidade não é totalmente determinada pelo meio, pois há, para Machado de Assis, certos traços em Rubião e em outros personagens que permanecem invariáveis. No caso de Rubião, encontramos um homem sem malícia, que se deixa levar pelos falsos elogios e por todas as estratégias psicológicas que os parasitas que o rodeavam empregavam para sugar-lhe a fortuna. A fim de usar o dinheiro de Rubião para financiar sua panfletagem política, Camacho desperta em Rubião a paixão política. Freitas não sai da casa de Rubião sem elogiar seus charutos, o jantar, os jardins. E Sofia se esforça para manter aceso o desejo que Rubião tem por ela. Todas essas relações são mediadas pelo interesse de ordem econômica: Rubião não é visto como pessoa, mas como coisa.

De certa forma, poderíamos dizer que Rubião é vítima da estrutura capitalista presente no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, e de forma geral, sua loucura corresponde à loucura imanente a essa sociedade, contra a qual o protagonista não possui recursos para se defender. E justamente por não ter recursos, ele interiorizará, como uma esponja, os valores, os desejos e o falso olhar que os outros lançam a ele. Todos esses fatores, juntos, irão tirá-lo de órbita, irão transformá-lo e remodelar a sua interioridade. O amor semicorrespondido que ele sente por Sofia irá agravar ainda mais seu quadro. De certo modo ele intui os valores da mulher: a busca por dinheiro e status. E não será por acaso que essa segunda personalidade será Luís Napoleão.

Assim, para compreendermos a forma como Machado de Assis elabora a loucura de Rubião, devemos observar também a noção de inconsciente, a qual não deve ser compreendida apenas como o lugar onde desejos e emoções inconfessáveis se escondem. Trata-se de um sentido geral da existência.

Em Quincas Borba, o narrador não deixa de aproveitar de sua onisciência para revelar abertamente ao leitor que Rubião "sem o perceber, o que elle buscava no casamento era a unidade que a vida não tinha" O mesmo fenômeno encontra-se em outra passagem do mesmo romance, quando Rubião "detinha um conhecido, pedia-lhe notícias e opiniões; esforço inconsciente para sacudir de si a personalidade emprestada" (Machado de Assis, 1891; v. 1. p. 774). Em ambos os casos, o que se observa é uma espécie busca natural que o homem tem pela unidade psíquica por meio do contato com outros homens. De fato, a tensão psíquica fundamental de Rubião consiste no intricado jogo entre a unidade e a multiplicidade do eu. Vários trechos mostram a relativa autonomia das partes psíquicas: "Confuso, incerto, ia a cuidar na lealdade que devia ao amigo, mas a consciência partia-se em duas, uma increpando a outra, a outra explicando-se, e ambas desorientadas..." (p. 677). Ou ainda: "há um abismo entre o espírito e o coração" (p. 643). As forças que empurram o homem na direção da unidade não são conscientes. Destas, Rubião sente apenas os efeitos. O que lhe é consciente é o desejo e o pensamento de se casar e o desejo de conversar com alguém. Contudo, Rubião não tem consciência das causas subjacentes a estes desejos.

Assim, poderíamos considerar inconsciente tanto a busca pela unidade psíquica quanto a interiorização dos valores da sociedade, valores estes que não são apenas expressos pelas bocas dos homens, mas também através dos meios de comunicação, como os livros e os jornais.

Todos esses aspectos revelam a profundidade e complexidade das concepções psicológicas presente na obra de Machado de Assis. É notável que o autor desenvolva em sua obra um conceito de loucura estruturado na idéia de inconsciência, no choque entre multiplicidade e unidade do eu, e na dinâmica entre homem e sociedade. Talvez, por ter feito literatura e não ciência, ele teve liberdade suficiente para expressar seus pensamentos e intuições sem ter que se preocupar em fundamentá-los aos olhos da doutrina positivista, pois sabia que o positivismo e o materialismo não eram o único caminho para conhecimento do homem e de suas vicissitudes. E assim, suas idéias continuam atuais mesmo para a Psicologia contemporânea.

 

 

Referências

BARBIRIRI, Ivo. O Cônego ou a invenção da linguagem. Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 133/134, p. 23-34, 1998.        [ Links ]

_____. O lapso ou uma psicoterapia de humor. In: Jobim, José Carlos (Org.). A biblioteca de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001. p. 335-347.        [ Links ]

BAUDELAIRE, Charles. (1863). Sobre a Modernidade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.         [ Links ]

BOSI, Alfredo. (1999). O Enigma do Olhar. São Paulo: Ática.        [ Links ]

CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote. Traduzido por Almir de A ndrade e Milton Amado. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha. 1988. 2 v. (O primeiro livro foi publicado originalmente em 1605 e a parte dois 1615)        [ Links ]

GLEDSON, John. Machado de Assis: ficção e História. São Paulo: Paz e Terra, 2003.        [ Links ]

HARTMANN, Edouard de. Philosofie de l'inconscient. Paris: Librairie Germer Baillière, 1877.        [ Links ]

JOBIM, José Carlos (Org.). A biblioteca de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001.         [ Links ]

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. (1882) In: Joaquim Maria. Obras Completas, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. 3 v. 10ª reimpressão.        [ Links ]

_____. (1882). O espelho. In: Joaquim Maria. Obras Completas, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. 3 v. 10ª reimpressão.        [ Links ]

_____. (1891). Quincas Borba. Joaquim Maria. Obras Completas, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004. 3 v. 10ª reimpressão.        [ Links ]

PERES, S.P; Massimi, M (2004). Representações do conceito de inconsciente na obra de Machado de Assis. Memorandum, v.7, p.128-137. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos07/peresmassimi01.htm>. Acessado em 09 fev 2006.        [ Links ]

RIBOT, Th. (1885). Les Maladies de la Personnalité. Paris: Felix Alcan, 1919.         [ Links ]

_____. (1881). Les Maladies de la Memoire. Paris: Felix Alcan, 1936.         [ Links ]

SCHOPENHAUER. (1819). Mundo como vontade e representação. São Paulo: Edições e publicações Brasil, 1958. 2 ed.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspndência
Sávio Passafaro Peres
E-mail: savioperes@yahoo.com.br

Marina Massimi
Avenida Bandeirantes, 3900
14040-901 Ribeirão Preto, SP - Brasil
E-mail: mmarina@ffclrp.usp.br

Recebido em 06 de julho de 2007
Aceito em 30 de julho de 2007
Revisado em 15 de outubro de 2007

 

 

* Mestre em Psicologia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto, Brasil. Área de pesquisa: história das idéias psicológicas, tendo realizado esta pesquisa como bolsista da FAPESP.
** Livre Docente e trabalha junto ao Departamento de Psicologia e Educação na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto, Brasil. Especialista na área de História das Idéias Psicológicas na Cultura Luso-Brasileira.
1 Uma análise mais pormenorizada da relação entre o livro de Ribot, publicado pela primeira vez em 1881, Maladie de la memoire e o conto "O lapso" encontra-se no artigo de Ivo Barbieri (2001), O lapso, ou psicoterapia do humor.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons