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Boletim de Psicologia
versão impressa ISSN 0006-5943
Bol. psicol vol.65 no.143 São Paulo jul. 2015
ARTIGOS ORIGINAIS
Uso da escala de tarefas em teoria da mente nas pesquisas brasileiras1
The use of scaling of theory of mind tasks in brazilian research
Simone Ferreira da Silva Domingues*
Universidade Guarulhos/Universidade Cruzeiro do Sul - SP - Brasil
RESUMO
A Teoria da mente se refere à capacidade de atribuir estados mentais a si mesmo e aos outros. Wellman e Liu organizaram uma escala para avaliar o desenvolvimento desta capacidade, composta por sete tarefas organizadas em ordem de dificuldade crescente. Esta revisão de literatura teve o objetivo de identificar os estudos brasileiros com esta escala e verificar, se o padrão desenvolvimental da teoria da mente observado pelos autores, também é encontrado entre as crianças brasileiras. Foram localizados 13 estudos, incluindo artigos, dissertações e teses publicados após 2007. Os resultados sugerem uma grande variação na administração da escala nos estudos brasileiros e no desempenho das crianças. Em alguns, as crianças foram melhor em tarefas mais difíceis do que nas mais fáceis, indicando que a ordem de dificuldade proposta pelos autores não é apropriada para as crianças brasileiras. Porém, por questões metodológicas, não há evidências suficientes para concluir que o padrão de desenvolvimento é significativamente diferente ou que a ordem de dificuldade não é a mesma. Assim, este estudo só pode explicar algumas deficiências e apontar caminhos futuros para novas pesquisas sobre a teoria da mente.
Palavras-chave: Teoria da Mente; Escala de Teoria da Mente; desenvolvimento sociocognitivo.
ABSTRACT
Theory of Mind refers to the cognitive ability to attribute mental states to self and others. Wellman and Liu organized a theory of mind scale to assess the development of this ability that is composed by 7 tasks, arranged in ascending order of difficulty. This literature review aims to identify Brazilian studies that used this scale and to verify if the theory of mind developmental pattern observed by them is also found among Brazilian children. We identified 13 studies, including articles, dissertations and theses published since 2007. Analysis of them suggested that there is much variation in the scale administration in Brazilian studies and in children's performance. In some studies children had better performance in more difficult tasks than in easier tasks, suggesting that the difficulty order proposed is not appropriate to Brazilian children. However, due to methodological issues of these studies, there is not enough evidence to conclude that the theory of mind pattern development is significantly different in Brazilian children or that tasks' order of difficulty is not the same. Thus, the current study can only explain some frailties and point out future directions for research.
Key words: Theory of mind, theory of mind scale, sociocognitive development
INTRODUÇÃO
A teoria da mente é definida na literatura psicológica como a habilidade de atribuir estados mentais ao outro, ou seja, compreender suas emoções, intenções, pensamentos e crenças, o que permite a explicação de muitas ações decorrentes desses estados mentais. Desenvolvida durante os primeiros anos de vida essa habilidade é fundamental para o desempenho nas relações sociais, pois permite antecipar a conduta dos outros e, com isso, definir como devemos nos comportar (Araújo & Sperb, 2013; Maluf & Domingues, 2010).
Vários estudos (Hogrefe, Wimmer & Perner, 1986; Welman & Liu, 2004) mostram que a aquisição de uma teoria da mente acontece de forma desenvolvimental. A criança primeiro identificará as próprias emoções e, só mais tarde, será capaz de compreender que as pessoas ao seu redor têm crenças diferentes das suas.
Em 1983, Wimmer e Perner elaboraram um paradigma experimental denominado Tarefa de Crença Falsa, com o objetivo de estudar a compreensão de atribuição de estados mentais ao outro. Desde então, as pesquisas de tipo experimental ganharam fôlego e consistência, o que possibilitou o surgimento de numerosos estudos experimentais sobre o desenvolvimento de uma teoria da mente nas crianças (veja, por exemplo, Baron-Cohen, Leslie & Frith, 1985; Le Sourn-Bissaoui & Deleau, 2001).
Com o aumento no número de estudos na área de teoria da mente e a criação de diferentes tarefas, muitas delas semelhantes, surgiu a necessidade de um estudo que organizasse as tarefas já criadas. Essa organização permitiria, por um lado, instrumentalizar os pesquisadores desse campo de estudo, e por outro, fornecer indicadores mais precisos a respeito da multiplicidade de fatores envolvidos no desenvolvimento da teoria da mente (Domingues, Valério, Panciera & Maluf, 2007).
Por esta razão no ano de 2004, Wellman e Liu publicaram um artigo no qual revisaram e organizaram diversas tarefas aplicadas em diferentes estudos e verificaram o desempenho de crianças na busca de um padrão de desenvolvimento, que pudesse ser revelado pelas diferentes tarefas. A partir desses dados os autores realizaram um segundo estudo, comparando os resultados de pesquisas anteriores e encontraram uma sequência no desenvolvimento de diferentes habilidades em relação à compreensão de estados mentais. Os autores mostraram que, no desenvolvimento infantil típico, certas compreensões sobre a mente evoluem em uma sequência previsível. Assim eles propuseram a hipótese de que elas refletem uma progressão no desenvolvimento implícita, que poderia ser capturada em uma escala de tarefas de teoria da mente.
Partindo dessa hipótese, esses autores criaram uma escala que pretende avaliar diferentes aspectos da teoria da mente (ex.: compreensão de desejos diversos, acesso ao conhecimento e distinção entre emoção real e aparente). Essa escala é formada por um conjunto de tarefas metodologicamente comparáveis, que focam em diferenciar conceitos, que podem aparecer numa sequência desenvolvimental. As tarefas foram organizadas em ordem crescente de dificuldade para que pudessem determinar o grau de desenvolvimento da compreensão dos estados mentais. As tarefas foram organizadas em ordem de dificuldade crescente, para que pudessem determinar o grau de desenvolvimento da compreensão dos estados mentais. A escala constituiu-se de sete tarefas, organizadas em ordem de dificuldade crescente, cuja descrição e ordem está apresentada na Tabela 1.
A primeira autora brasileira a fazer uso da escala foi Panciera (2007), que traduziu e adaptou a Escala para ser utilizada com crianças brasileiras e que, posteriormente, foi publicada junto com outras tarefas frequentemente descritas na literatura (Domingues, Valério, Panciera & Maluf, 2007). Desde então, alguns pesquisadores brasileiros têm utilizado a Escala em seus estudos. A presente pesquisa objetiva identificar publicações brasileiras que utilizaram a Escala de Tarefas em Teoria da Mente e verificar, se a progressão desenvolvimental, observada no estudo original, é encontrada da mesma forma em crianças brasileiras.
Assim o objetivo deste trabalho foi fazer uma revisão da literatura para identificar e analisar os estudos brasileiros com esta escala e verificar, se o padrão desenvolvimental da teoria da mente, observado por Wellman e Liu (2004), também é encontrado no Brasil. A relevância desse estudo consiste em auxiliar pesquisadores brasileiros a usarem com maior rigor a Escala de Teoria da Mente, bem como determinar possíveis necessidades de revisão da mesma, considerando os aspectos culturais.
MÉTODO
Para atender os objetivos especificados, foi realizada uma pesquisa documental, que constitui uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema (Ludke e André, 1986). A fim de identificar estudos que aplicaram a escala de tarefas em teoria da mente em crianças brasileiras, foi realizada uma pesquisa em diversas produções científicas disponíveis na base de dados Scielo (www.scielo.br), e no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (www.capes.gov.br), no período de 2007 a 2014,o qual contém teses e dissertações aprovadas nos cursos brasileiros de pós-graduação. Foram usadas as palavras-chave: escala de teoria da mente, teoria da mente, tarefas de crença falsa, desenvolvimento sociocognitivo. Essas bases foram utilizadas, porque são fontes disponibilizadas para a comunidade acadêmica.
No caso das dissertações e teses, após levantamento dos resumos, buscou-se o material completo nas bibliotecas virtuais das universidades em que elas foram defendidas, pois somente pelo resumo não foi possível identificar, se as pesquisas faziam uso da escala. De posse do material foi realizada a leitura, a fim de atender ao segundo objetivo, que era avaliar o desempenho das crianças na escala adaptada de Wellman e Liu (2004), como também verificar, se a progressão desenvolvimental verificada por esses autores é observada da mesma forma em crianças brasileiras. Os dados foram analisados de forma qualitativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O primeiro objetivo foi identificar as publicações brasileiras que utilizaram a Escala de Tarefas em Teoria da Mente. Após busca dos estudos publicados em revistas científicas nacionais, cadastrada na base de dados SCIELO, foram localizados quatro artigos e, no banco de dados da CAPES, foram encontrados quatro mestrados e cinco doutorados. Os artigos foram publicados nos seguintes periódicos: dois na Paidéia, um na Revista Psicologia em Estudo de Maringá e um na Revista Psicologia Reflexão e Critica. As dissertações foram defendidas: duas na Universidade Federal de Juiz de Fora, uma na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e uma na Universidade Federal de Minas Gerais. As teses foram defendidas: três na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, uma na Universidade de São Paulo e uma na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Entre artigos, dissertações e teses foram totalizadas 13 publicações até 2014. Se for levado em conta que a escala foi publicada em 2004 e adaptada para crianças brasileiras em 2007, pode-se considerar uma média de quase duas publicações por ano. Isto reforça a ideia da necessidade de conhecer as possíveis contribuições dessa escala para estudos com as crianças brasileiras.
De posse do material, foi investigado o segundo objetivo: verificar se a progressão desenvolvimental encontrada no estudo de Wellman e Liu (2004) é constatada da mesma forma nas crianças brasileiras.
Estudos Publicados em Periódicos
O primeiro estudo publicado foi o de Pavarini e Souza (2010), que tiveram como objetivo investigar como a habilidade de "compreender outras mentes" se relaciona à resposta emocional empática e se a teoria da mente e a empatia estão relacionadas à motivação pró-social dessas crianças. Os participantes foram 37 crianças, com idades entre 4 e 6 anos, sendo 21 meninas e 16 meninos. Quanto à classe econômica das crianças, 38% eram da classe média, 30% da alta, 24% da média inferior e 8% da média superior. Foram usadas três tarefas da Escala de Teoria da Mente, que foram traduzidas e adaptadas do estudo original de Wellman e Liu (2004). As tarefas foram: crença falsa (T5), crença e emoção (T6) e emoção aparente-real (T7).
Em relação ao desempenho nas tarefas observarem que os participantes na tarefa emoção aparente-real (T7) obtiveram uma pontuação média de 0,41 (DP = 0,50), que foi significativamente inferior ao desempenho nas tarefas de crença falsa (T5) (média = 0,73, DP = 0,45) e de crença e emoção (T6) (M = 0,70, DP = 0,46). Pode-se verificar nesses resultados, que a ordem crescente de dificuldade seguiu a mesma progressão desenvolvimental do estudo de Wellman e Liu (2004).
Também ocorreu um efeito da idade para a teoria da mente, pois os dados obtidos indicaram uma diferença significativa entre as faixas etárias das crianças, as de 4 anos tiveram um desempenho significativamente inferior ao das de 5 e 6 anos. Entretanto o desempenho das crianças de 5 anos não diferiu de forma significativa das de 6 anos.
O estudo desenvolvido por Maluf, Gallo-Penna e Santos (2011) teve por objetivo verificar a compreensão conversacional e a atribuição de crença falsa em crianças de duas faixas etárias e as possíveis diferenças entre elas. Além disso, as autoras objetivaram também analisar as relações entre essas duas capacidades. Participaram 28 crianças, com idades entre 4 e 6 anos, sendo 11 meninas e 17 meninos. As crianças foram divididas em dois grupos com diferença de 12 meses entre eles. O primeiro foi formado por seis meninas e oito meninos com média de idade de 49,2 meses e o segundo por cinco meninas e nove meninos com média de idade de 67,7 meses. Para a avaliação da teoria da mente foram utilizadas quatro tarefas da escala traduzidas e adaptada por Panciera (2007), as tarefas 2, 3, 4, 5 da escala completa com sete tarefas. As autoras justificaram que não usaram a Tarefa 1 por a considerarem muito fácil para esse grupo, porém não justificaram porque não aplicaram as outras duas tarefas (T6 e T7). Nas quatro tarefas aplicadas, o grupo de crianças mais velhas, apresentou um escore maior do que o das mais novas, observando-se nesse estudo um efeito da idade. Das 14 crianças mais novas, sete acertaram a Tarefa 2, cinco a Tarefa 3 e apenas quatro as Tarefas 4 e 5. Enquanto que das 14 crianças mais velhas, 10 acertaram a Tarefa 2 e a Tarefa 3, sete a Tarefa 4, e oito a Tarefa 5. Nota-se nesse estudo, que a Tarefa 4 foi a que apresentou um menor número de acertos nos dois grupos. Esses resultados indicam que não foi observada uma ordem dos acertos.
O terceiro estudo encontrado foi o de Loureiro e Souza (2013), que tiveram como objetivo verificar a relação entre a teoria da mente e o julgamento moral. Os participantes foram 24 crianças, sendo 11 meninos e 13 meninas, com idades entre 4 e 6 anos alunos de uma escola da rede pública, de uma cidade no interior de São Paulo. As crianças foram divididas em dois grupos, um deles foi formado por 12 crianças com idades entre 4 e 5 anos (M = 4 anos e 9 meses, DP = 1,92 meses) e o outro por 12 crianças entre 5 e 6 anos (M = 5 anos e 11 meses, DP = 5,84 meses). Foram utilizadas quatro tarefas da Escala de Teoria da Mente, criada por Wellman e Liu (2004) e traduzidas por Domingues, Valério, Panciera e Maluf (2007). A aplicação das tarefas foi individual e a ordem de apresentação das tarefas foi sempre a mesma, a saber: tarefa de desejos diferentes (T1), tarefa de crenças diferentes (T2), tarefa de crença falsa de conteúdo (T4), tarefa de crença falsa explícita (T5). As autoras justificaram que a princípio iriam usar as sete tarefas da escala, mas devido a uma revisão dos objetivos do projeto e das tarefas, decidiram aplicar somente quatro. Uma ANOVA de medidas repetidas demonstrou um efeito significativo das tarefas no desempenho dos participantes, F(3,66) = 4,29, p = 0,008. Comparações múltiplas revelaram que há uma diferença significativa entre a tarefa de conteúdo falso (T4) M = 0,37 e as tarefas de desejos diferentes (T1) M = 0,79 e crença falsa explícita (T5) M = 0,75. Não consta no artigo o desempenho das crianças na Tarefa 2. A partir desses dados pode-se constatar que a T4 foi mais difícil que a T5. Pode-se concluir com esses resultados que não foi observado um desenvolvimento sequencial de acertos, como também, não foram encontrados efeitos significativos de idade ou de gênero.
O quarto estudo, aqui considerado, faz parte da Dissertação de Mestrado de Abreu (2011). apresentado no artigo de Abreu, Cardoso-Martins e Barbosa (2014), que teve como objetivo avaliar a relação entre a atenção compartilhada e o desenvolvimento posterior da compreensão de crenças falsas. Foi uma pesquisa longitudinal a respeito do desenvolvimento inicial da habilidade de comunicação verbal e não-verbal das crianças brasileiras. Participaram 28 crianças, sendo 22 meninas e seis meninos, de famílias com nível socioeconômico médio-baixo e médio-alto, oriundas de Belo Horizonte - MG. A compreensão de crenças falsas, foi avaliada aos 4 anos e 2 meses, porém as informações disponíveis no artigo, não descreveram o desempenho das crianças nas tarefas, pois foram relatadas apenas correlações entre os desempenhos. Também não foi localizada a dissertação na integra para complementar as informações.
DISSERTAÇÕES E TESES
A partir da pesquisa realizada no Portal da CAPES (período de 2006 a 2014), foram consultados os trabalhos nas bibliotecas virtuais das universidades em que foram defendidos. Era necessário obter essas pesquisas para poder identificar como a escala foi usada. Foram analisadas cinco teses e quatro dissertações. Em relação às teses, três foram defendidas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, uma na Universidade São Paulo e uma na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em relação às dissertações: uma foi defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, uma na Universidade Federal de Minas Gerais e duas na Universidade Federal de Juiz de Fora.
A tese de Panciera (2007), primeiro estudo brasileiro que traduziu e utilizou a escala, teve como objetivo aprofundar a investigação sobre a relação entre a linguagem e a habilidade de atribuir crenças ao outro. A pesquisa foi dividida em dois estudos, utilizando um procedimento experimental em três fases: pré-teste, intervenção e pós-teste. Participaram da pesquisa 84 crianças com idades entre 3 anos e 10 meses e 5 anos e 3 meses, 44 meninos e 40 meninas. No Estudo 1 (G1) participaram 42 crianças provenientes de famílias de nível socioeconômico médio alto e contexto sociocultural privilegiado. No Estudo 2 (G2) participaram 42 crianças provenientes de famílias de nível socioeconômico baixo e contexto sociocultural desprivilegiado.
Para participar, as crianças realizaram um pré-teste, composto de prova de nível verbal, tarefas de compreensão conversacional e de tarefas da Escala de Teoria da Mente. Após o pré-teste os dois grupos foram subdivididos em grupo experimental 1 (intervenção: pragmática da linguagem), grupo experimental 2 (intervenção: conversação) e grupo controle. Todos os grupos, no pós-teste, foram avaliados com as cinco primeiras tarefas da Escala de Teoria da Mente. Os resultados desse estudo, em relação ao desempenho das crianças na escala, não foram apresentados de forma que pudesse ser verificado o desempenho das crianças em cada uma das cinco tarefas aplicadas. Isto impediu a análise da progressão desenvolvimental. Os resultados fornecidos somente permitem comparar o desempenho das crianças nos dois grupos, na escala como um todo, antes e depois da intervenção. Esses resultados demonstram que as crianças se beneficiaram da intervenção, pois apresentaram um desempenho significativamente melhor na Escala de Teoria da Mente no pós-teste, quando comparadas ao desempenho no pré-teste. As crianças do G1 (nível socioeconômico alto) obtiveram um avanço significativo após a intervenção pragmática nas tarefas de teoria da mente, pois antes da intervenção as crianças obtiveram 23 acertos na somatória das cinco tarefas e no pós-teste passaram a ter 45 acertos, enquanto as do grupo controle as crianças obtiveram 27 acertos no total das cinco tarefas da escala da teoria da mente e no pós-teste, 28 acertos. Em relação à intervenção em conversação o desempenho das crianças no pré-teste foi de 23 acertos e no pós-teste passou a 46 acertos. Portanto o grupo com intervenção obteve muito mais acertos que o de controle.
As crianças do G2 (nível socioeconômico baixo) apresentaram 11 acertos na escala no pré-teste e após a intervenção em linguagem pragmática obtiveram 35 acertos no pós-teste. As crianças do grupo controle tanto no pré-teste como no pós-teste obtiveram 12 acertos em cada. Na intervenção em conversação o G2 obteve10 acertos no pré-teste e 44 no pós-teste. Comparando os resultados, pode-se verificar uma diferença de desempenho entre os grupos, quando se compara as crianças antes da intervenção e as crianças do grupo controle. Enquanto antes da intervenção as crianças do G1 (nível socioeconômico alto) tinham um desempenho bem melhor que as crianças do G2 (nível socioeconômico baixo), essa diferença se manteve nos grupos controle. Porém, quando se analisa o desempenho das crianças dos dois grupos após as intervenções, nota-se um aumento expressivo na pontuação obtida pelas crianças dos dois grupos, sendo mais expressivo nas crianças do G2.
A dissertação de Souza (2009) teve como objetivo realizar um procedimento de intervenção para favorecer na criança a capacidade de atribuição de crença ao outro. Foram estudadas 10 crianças, sendo seis meninos e quatro meninas com idade entre 4 anos e 9 meses e 5 anos e 11 meses, provenientes de famílias de nível socioeconômico baixo, alunas de uma escola municipal, localizada no litoral do Estado da Bahia. Foram aplicadas as seguintes tarefas T1, T2, T3, T4 e T5 da Escala de Teoria da Mente (Panciera, 2007). O critério de inclusão para participar foi acertar a Tarefa 1, denominada "desejos diferentes" e errar a Tarefa 5 "crença falsa explicita". A Tarefa 1 é considerada a mais fácil da escala, a criança que não acertasse essa tarefa não participaria do estudo, porque estaria muito distante da capacidade de atribuir crença ao outro. Já a Tarefa 5 é considerada a mais difícil, por essa razão, o insucesso nessa tarefa foi considerado como critério para participação no estudo. O delineamento quase-experimental contou com a aplicação das tarefas num pré-teste, após a intervenção houve um primeiro pós-teste e após duas semanas um segundo pós-teste. O pré-teste foi utilizado como critério para participação na pesquisa. No pré-teste foram selecionadas 10 crianças, que atenderam ao critério estabelecido. Assim, o desempenho das10 crianças nas outras tarefas foi: cinco acertaram a Tarefa 2, quatro a Tarefa 3 e nenhuma acertou as Tarefas 4 e 5. No primeiro pós-teste todas as 10 crianças acertaram a Tarefa 1, nove crianças acertaram as Tarefas 2 e 3, somente três crianças obtiveram êxito na Tarefa 4 e seis na Tarefa 5. No segundo pós-teste, as 10 crianças acertaram a Tarefa 1 mantendo o mesmo desempenho no pré-teste e no primeiro pós-teste. Na T2 e T3, após duas semanas, oito crianças obtiveram êxito em cada uma delas. Somente três crianças acertaram a Tarefa 4 e cinco acertaram a Tarefa 5. Pode-se perceber nessa pesquisa, que a sequência de dificuldade nas tarefas, observada no estudo original de Wellman e Liu (2004), não ocorreu na mesma ordem, pois as crianças erraram mais a Tarefa 4 (crença falsa de conteúdo) do que a Tarefa 5 (crença falsa explicita) tanto no primeiro pós-teste, como no segundo.
A pesquisa de dissertação de Ribas (2011) teve como objetivo investigar a relação entre a teoria da mente, especificamente a compreensão das emoções, e o comportamento agressivo. Participaram 60 crianças de ambos os sexos, alunos do primeiro ano do ensino fundamental de duas escolas da rede municipal de ensino da cidade de Juiz de Fora. As 60 crianças foram divididas em dois grupos. O Grupo A foi composto por 30 crianças identificadas, pelos seus professores, como agressivas (A) com 11 meninas e 19 meninos, com idade média de 76 meses. O Grupo NA formado por alunos considerados não-agressivos (NA) foi constituído por 38 crianças, sendo 23 meninas e 15 meninos, com idade média de 84 meses.
A Escala de Tarefas em Teoria da Mente (Panciera, 2007) foi utilizada de forma integral, ou seja, foram aplicadas as sete tarefas de forma individual, primeiro no grupo de crianças com indícios de agressividade e depois no grupo de criança consideradas socialmente competentes. Os grupos foram definidos após aplicação da Escala de Percepção por Professores dos Comportamentos Agressivos da Criança na Escola. Os resultados, em relação ao desempenho na Escala, foram apresentados pela média dos grupos. As crianças do grupo A obtiveram uma média do escore total igual a 4,6 (DP = 1,35), enquanto as do grupo NA obtiveram uma média de 5,53 (DP = 1,04). Pode-se concluir que as crianças consideradas socialmente competentes, tiveram um desempenho melhor nas tarefas do que as com indícios de agressividade. Porém, um dado que deve ser destacado é que, nesse grupo, estavam concentradas as crianças mais velhas do estudo.
Em relação ao desempenho na escala de teoria da mente, tanto as crianças do Grupo A, quanto as do Grupo NA obtiveram as médias de acertos nas tarefas que são apresentadas na Tabela 1.
A Tabela 2 mostra que não se observou o mesmo desenvolvimento sequencial do estudo de Wellman e Liu (2004) para os dois grupos. As crianças tiveram melhor desempenho em tarefas consideradas mais difíceis e menos acertos em tarefas consideradas mais fáceis. A ordem seqüencial, segundo esses resultados, seria para o Grupo A: T1, T3, T2, T7, T4, T6, T5 e para o Grupo NA: T3, T1, T2, T4, T6, T7 e T5. Entretanto, foi observado um padrão em que a T3 foi consistentemente mais fácil do que a T2 e que a T5 foi mais difícil do que as demais tarefas para os dois grupos. Todavia, ressalta-se que as autoras não investigaram o efeito de ordem de aplicação, nem exploraram, se as diferenças entre as médias obtidas em cada tarefa eram estatisticamente significantes.
A dissertação de Silva (2012) teve como objetivo explorar as possíveis relações entre o desenvolvimento da teoria da mente, a linguagem mentalista (i.e. palavras relacionadas a estados mentais como pensar, imaginar, acreditar) e a competência social. Participaram 85 crianças, estudantes de duas escolas públicas municipais ambas da cidade de Juiz de Fora. Foram formados dois grupos, um com 43 alunos de uma escola situada na região central e o outro com 42, de uma escola situada numa região mais periférica da cidade. Foram aplicadas, individualmente, as sete tarefas da Escala de Tarefas em Teoria da Mente em cada criança. O desempenho das 85 crianças foi considerado a partir dos escores obtidos em cada tarefa, a seguir são apresentadas as médias: Na Tarefa 1 = 0,99 (DP= 0,10), Tarefa 2 = 0,86 (DP= 0,35), Tarefa 3 = 0,96 (DP= 0,18), Tarefa 4 = 0,64 (DP= 0,48), Tarefa 5 = 0,45 (DP= 0,50), Tarefa 6 = 0,76 (DP= 0,42) e Tarefa 7 = 0,52 (DP= 0,50). A partir dos resultados pode-se verificar que, nesse grupo de crianças, a T2 (0,86) foi mais difícil que a T3 (0,96) e que a T5 (0,45) foi mais difícil que a T6 (0,76). Embora tenham ocorrido algumas diferenças quanto às médias dos alunos das duas escolas, o cálculo do teste t de Student não evidenciou diferenças em nenhuma tarefa da escala de teoria da mente entre as escolas. Nota-se neste estudo que não houve um desempenho decrescente, ou seja, também não foi observada a sequência desenvolvimental.
Valério (2008) desenvolveu uma pesquisa longitudinal com o objetivo de examinar a constituição da teoria da mente em crianças. Participaram do estudo 58 crianças, sendo 29 meninos e 29 meninas, entre 1 ano e 11 meses anos e 3 anos e 7 meses, matriculados em uma escola de educação infantil, que atende crianças de nível socioeconômico médio e alto. Por tratar-se de um estudo longitudinal, as crianças foram acompanhadas por18 meses. A coleta de dados foi feita em quatro ocasiões num intervalo de seis meses, por meio de dois procedimentos, observações de situações lúdicas e aplicação das seis primeiras tarefas da escala. Para primeira coleta Valério (2008) utilizou somente as três primeiras tarefas da Escala, por serem consideradas mais simples; na segunda coleta ela aplicou as quatro primeiras tarefas; na terceira coleta ela aplicou as cinco primeiras tarefas e na quarta coleta foram aplicadas as seis tarefas.
Essa autora apresentou uma tabela do desempenho das crianças individualmente em cada coleta. Nessa tabela pode-se verificar o desempenho de cada criança ao longo do estudo. Porém, vamos nos ater aos resultados da última coleta, quando as crianças estavam com 3 anos e 7 meses, idade essa próxima à das idades das crianças que participam de outros estudos. Em relação ao desempenho das crianças nas seis tarefas, o foi constatado que, do total de 58 crianças do estudo, 56 acertaram a Tarefa 1, 42 a Tarefa 2, 55 a Tarefa 3, 44 a Tarefa 4, 48 a Tarefa 5 e 51 a Tarefa 6. Nessa pesquisa foi verificado que, para essa amostra, a seqüência desenvolvimental não ocorreu da forma proposta que na escala original, pois os resultados apontam que o desempenho em tarefas consideradas mais difíceis foi melhor do que nas mais simples dentro da escala. De forma geral, a autora conseguiu constatar que houve melhor desempenho das crianças nas tarefas de teoria da mente com o aumento da idade, apontando a influência da idade no desempenho, o que evidencia uma mudança desenvolvimental.
Oliveira (2009) teve como objetivo verificar os efeitos da participação das crianças na interação verbal em que foram explicados a elas os estados mentais e o desenvolvimento da habilidade de compreensão da mente do outro. Participaram da pesquisa 40 crianças e suas mães, que foram divididas para compor dois grupos, um experimental e um controle. O grupo experimental foi composto por 20 crianças, sendo 11 meninas e 9 meninos, com média de 3 anos e 7 meses e suas mães com idades variando entre 25 e 42 anos. O grupo controle foi composto por 20 crianças, sendo 10 meninas e 10 meninos, também com idade média de 3 anos e 7 meses e suas mães, com idades entre 25 e 40 anos. Os participantes da pesquisa eram moradores de uma zona de periferia do município de Itajaí.
A pesquisa foi delineada com um pré-teste, intervenção e pós-teste. Para o pré-teste as crianças foram avaliadas pelas cinco primeiras tarefas da escala de teoria da mente. Para participar do estudo as crianças não poderiam acertar a Tarefa 5 da escala. Para as mães, como pré-teste foi solicitado que elas contassem uma história para seu filho, utilizando um livro infantil, entregue pela pesquisadora, contendo gravuras e textos. Foi pedido às mães que contassem a história a sua maneira. Para a intervenção, a pesquisadora orientava as mães do grupo experimental a exercitar a interação verbal com a criança sempre ressaltando os estados mentais dos personagens das histórias. No grupo controle a pesquisadora também entregava às mães os mesmos livros infantis, porém a diferença é que não recebiam nenhuma orientação de como deveriam contar a história.
Após intervenção as crianças dos dois grupos foram avaliadas com as cinco tarefas da escala. As 20 crianças do grupo experimental no pré-teste obtiveram o seguinte desempenho nas tarefas: 17 acertos na T1, quatro na T2 acertos, nove na T3 acertos, nas Tarefas 4 e 5 nenhum acerto. Após intervenção no pós-teste os resultados foram o seguinte: 20 acertos na T1, 12 na T2, 17 na T3, 17 na T4, 15 na T5. Para esse grupo nota-se que a T2 foi a mais difícil que a T3, mesmo após a intervenção.
As 20 crianças do grupo controle obtiveram o seguinte desempenho no pré-teste: 12 acertos na T1, três na T2, seis na T3, e nenhum nas Tarefas 4 e 5. Enquanto no pós-teste: 14 acertos na T1, três na T2, oito na T3, quatro na T4 e um na T5. Para esse grupo a T2 também foi mais difícil que a T3, no pré-teste e se manteve no pós-teste. É possível concluir que para esses dois grupos não foi observada a mesma sequência de desenvolvimento obtida na escala original.
O estudo de Gallo-Pena (2011) teve como objetivo investigar os efeitos de um procedimento, baseado na linguagem, sobre a habilidade de atribuição de estados mentais ao outro. Participaram três crianças autistas e suas respectivas mães, com idades de 11 e 16 anos, sendo um menino e duas meninas. Este foi um estudo de intervenção, composto de três fases: pré-teste, intervenção e pós- teste. A Escala da Teoria da Mente foi utilizada no pré-teste e no pós-teste, com aplicação individual das sete tarefas. A escolha da escala pela autora se deu, porque ela permitiu averiguar a habilidade de crença falsa, como também de outras habilidades consideradas mais simples tais como: percepção de desejo, crenças diferentes, crenças e emoções.
Nos resultados a autora descreveu os desempenhos de cada criança, separadamente, no pré e pós-teste. A criança 1 (menino, com 11 anos) obteve acertos no pré-teste nas tarefas T1, T2 e T6 e, após a intervenção, nas tarefas T1,T3, T4, T5 e T6. A criança 2 (menina, com 11 anos), acertou no pré-teste somente a tarefa T3 e, no pós-teste, as tarefas T1, T3 e T6. A criança 3 (menina, com 16 anos) obteve acertos no pré-teste nas tarefas T1,T2,T3 e T6 e, no pós-teste, nas tarefas T1,T2,T3,T4 e T6.
Pode-se notar que, para esse grupo de crianças, o desempenho melhor nas tarefas consideradas mais difíceis, como a Tarefa 6, em que todos acertaram. Porém, tiveram dificuldades com outras consideradas mais simples na escala como a T2. Conclui-se que neste estudo também não foi observada a sequência desenvolvimental proposta na escala original. Entretanto, ressalta-se que a amostra deste estudo consistiu em crianças autistas, diferentemente da estudada na escala original.
Araújo (2012) teve como objetivo geral verificar a relação entre a teoria da mente e o discurso narrativo de mães e crianças, principalmente em relação à coerência, avaliação e emprego dos termos mentais, no momento de contar histórias. Os participantes foram 25 duplas de mães e crianças, com idades entre 4 e 5 anos, de nível socioeconômico médio. Os resultados foram apresentados em correlações estabelecidas entre os indicadores de teoria da mente, obtidos pela Escala e as variáveis das narrativas das crianças. A autora concluiu que não houve correlações significativas entre o desempenho das crianças na Escala e o uso de termos mentais nas narrativas. Essa forma de análise não possibilitou identificar o desempenho das crianças em cada tarefa e não foi possível saber, se foi evidenciada ou não uma sequência desenvolvimental no estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como objetivo identificar as publicações brasileiras, que utilizaram a escala para avaliar o desempenho das crianças brasileiras. Um segundo objetivo foi verificar, se a progressão no desenvolvimento, verificada no estudo de Wellman e Liu (2004), ocorreu da mesma forma nas pesquisas com as crianças brasileiras.
Em relação ao primeiro objetivo foram levantados quatro artigos, quatro dissertações e cinco teses, que utilizaram da Escala de Tarefas em Teoria da Mente. Se for considerado, que a escala foi publicada em 2004 e o primeiro trabalho no Brasil, fazendo uso da escala, foi publicado em 2007, pode-se concluir que o número de publicações com desse instrumento foi expressivo, ou seja, um total de 13 trabalhos ao longo de 10 anos.
Nos estudos o número de participantes variou entre 10 e 85 crianças. Em relação à idade, a maioria das crianças tinha entre 4 e 6 anos. Quanto à escala completa somente três pesquisas fizeram uso de todas as tarefas propostas por Wellman e Liu (2004), sendo que três delas utilizaram cinco tarefas; três, quatro tarefas e uma, três tarefas da escala.
Em relação ao segundo objetivo, verificou-se que nenhuma das pesquisas apresentadas aqui objetivou testar experimentalmente se a escala permite identificar ou não uma sequência de desenvolvimento de teoria da mente em crianças brasileiras. Os trabalhos foram insuficientes para fornecer dados que pudessem revelar claramente a presença de um padrão desenvolvimental diferente da escala original.
Entre as pesquisas apresentadas muitas não explicavam o porquê de não terem aplicado toda a Escala, algumas, que explicaram a seleção de algumas tarefas, justificavam que a escolha se deu por interesses específicos ou por acreditarem que algumas tarefas são mais fáceis ou mais difíceis Além disso, não é possível saber se a Escala foi aplicada em todos os participantes com os mesmos critérios, materiais e instruções. Esses estudos apenas descreveram qual tarefa tinha sido utilizada.
Por fim, o presente estudo não encontrou evidências suficientes para concluir que a escala adaptada para crianças brasileiras é significativamente diferente da escala original na avaliação de um padrão de desenvolvimento de teoria da mente ou de que a ordem de dificuldade das tarefas não é a mesma para a população brasileira do aquelas encontradas por Wellman e Liu (2004).
Neste estudo, não foram feitas análises estatísticas comparando os resultados das pesquisas apresentadas, principalmente devido às limitações dos estudos localizados que não forneceram todos os dados necessários. Assim, o presente estudo se configura apenas como um levantamento bibliográfico elencando e discutindo qualitativamente os dados quantitativos de outras pesquisas.
Assim, o presente estudo apenas pode apenas apresentar os avanços e explicitar algumas fragilidades no campo de pesquisa de teoria da mente no Brasil, que, como já discutido anteriormente, é relativamente novo. Além disso, foram reunidos elementos que apontam para a necessidade de aperfeiçoar as pesquisas realizadas no campo e de realizar pesquisas com o objetivo específico de testar a viabilidade e necessidade de uma escala de teoria da mente.
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Recebido em 13/12/15
Revisto em 15/01/16
Aceito em 17/01/16
* Endereço para correspondência: Av. Pres. Humberto de Alencar Castelo Branco, 1449, Bl 3, apto 123, Vila Augusta. Guarulhos - SP. CEP. 07024-170. Tel: 11-4574-5937. E-mail: simone.domingues@cruzeirodosul.edu.br
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