Introdução
“Minha adolescência e boa parte da juventude foram bastante inibidas em razão de uma obesidade e uma homossexualidade reprimida”. É assim que Antônio se apresenta em uma de suas primeiras idas ao analista. Passou boa parte de sua vida morando em uma pequena cidade no interior do Brasil. Suas experiências sexuais eram marcadas pelo anonimato em práticas fortuitas em parques e banheiros públicos de uma cidade vizinha à sua, um pouco maior. Dizia que aquela era a única forma de viver a sua sexualidade, pois temia as consequências de ser gay em um lugar tão provinciano quanto aquele em que vivia. Seus estudos universitários lhe permitiram realizar parte de seu doutorado no interior da França, levando consigo alguns anos de análise. Numa tarde qualquer, é interpelado por um rapaz com quem começa a ter encontros públicos. Em uma visita a um hipermercado, é lá presenteado por seu “paquera fixo”, conforme dizia, e, junto com o presente, recebe um toque carinhoso no seu rosto seguido de um beijo. Incomodado, Antônio o afasta. Tempos depois, ao relatar tal cena em análise, questiona-se o porquê de ser tomado por uma vergonha tamanha e sentir que poderia estar sendo vigiado ou até punido, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância de casa, em um país liberal e aberto, conforme ele mesmo dizia. Tal vinheta clínica talvez nos permita pensar no tema proposto aqui para nossa reflexão teórica, que é uma leitura do precioso texto freudiano de 1915, intitulado de O recalcamento (ou O recalque, a depender da edição).
No Rascunho B. A etiologia das neuroses,Freud (08 fev. 1893/1996) chama a atenção para a etiologia sexual das neuroses o que, para ele, associava-se com os impasses existentes entre as exigências de uma sexualidade sadia e as imposições sociais contraditórias de seu tempo. Para Freud, no entanto, essa antinomia não é insolúvel tendo em vista que é em nome de uma profilaxia médica que ele se posiciona.
Freud (1893/1996, p. 136) destaca:
Na ausência de qualquer solução possível, a sociedade parece condenada a tornar-se vítima de neuroses incuráveis que reduzem ao mínimo a alegria de viver, destroem as relações conjugais e, pela hereditariedade, trazem consigo a ruína das gerações vindouras.
Orientado pela crença de que existe um antagonismo entre a sexualidade do indivíduo e a civilização, Freud se imbui de um ânimo reformista, ao acreditar que “a repressão sexual, essa nossa velha (des)conhecida”, encontrava seu respaldo necessariamente em uma sociedade conservadora e até mesmo reacionária. É certo que a repressão social contribui para o incremento das neuroses e, de algum modo, como Freud (1896/1996, p. 278) mesmo sustenta:
Seria necessário mudar muitas coisas. É preciso vencer a resistência de uma geração de médicos que já não podem lembrar-se de sua própria juventude, triunfar sobre o orgulho de pais que não querem se rebaixar ao nível humano diante de seus filhos, combater a hipocrisia insensata das mães, essas mães que consideram atualmente como um golpe imerecido e incompreensível do destino o fato de que seus filhos sejam os únicos a tornar-se neuróticos. Mas é preciso sobretudo dar lugar à discussão dos problemas da vida sexual junto à opinião pública. Teria que ser possível falar dessas coisas sem sermos considerados um fator de problemas ou alguém que explora os instintos mais baixos. E aqui também há muito o que fazer para que, no decorrer dos próximos cem anos, nossa civilização aprenda a se compor com as exigências de nossa sexualidade.
Esses apontamentos iniciais servem, de algum modo, para destacar que desde a Comunicação preliminar, de 1893, Sigmund Freud defendeu a proposição de que os sintomas neuróticos são causados pelas fantasias e vivências sexuais submetidas à repressão pelo processo civilizatório. Entretanto, conforme pode ser visto nas modificações propostas por ele em sua teoria ao escutar suas pacientes, nota-se que a aposta no poder da palavra permite a ele verificar que é possível advir uma palavra no lugar do sintoma e, de algum modo,
[...] o que obstaculiza a palavra se opõe [...] ao progresso da civilização e até mesmo ao da humanidade [...]. Assim, Freud é levado a denunciar aqui os abusos de uma moral sexual que, não contente com reprimir os atos eventualmente prejudiciais à sociedade, chega mesmo a proibir as intenções e até o mero pensamento, acarretando, desta maneira, a inibição da atividade intelectual (Millot, 1995, p. 16).
Essas considerações iniciais nos permitem verificar que existe um mecanismo de poder que se impõe de fora pra dentro, embora se encontre uma certa vulgarização da psicanálise que defende a noção de que a repressão é um mecanismo consciente que atua ao nível da segunda censura. É o posicionamento encontrado em Laplanche e Pontalis (1988), a título de exemplificação. Segundo esses autores, Freud situa a repressão entre o consciente e o pré-consciente, tratando-se da exclusão de algum material do campo da consciência. As motivações morais desempenham um papel predominante na repressão.
Com Michel Foucault (1987), destacamos que os mecanismos de controle social na modernidade evidenciaram uma forma de poder denominada de “poder disciplinar”. Essa prática visa modelar as formas de condutas do corpo social, ou seja, de todos os indivíduos que o constituem. Talvez essa seja a concepção mais corriqueira de poder, com seu caráter repressor que, de maneira impiedosa, exclui e comanda as condutas sociais. Embora essa compreensão de repressão seja importante, o recalque, ao que nos parece, é algo de outra ordem.
Do recalque: uma proposição freudiana
Ora, se durante um tempo de seu percurso Freud utilizou os termos “recalque” e “defesa” quase indistintamente, em 1915 o termo assume uma precisão maior, fazendo com que a teoria do recalque seja “a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise”, como bem nos lembra a nota do editor. É Freud mesmo quem destaca o que vem a ser o recalque. Para ele, a clínica permite dizer que
[...] o recalque não é um mecanismo defensivo que esteja presente desde o início; que ele só pode surgir quando tiver ocorrido uma cisão marcante entre a atividade mental consciente e a inconsciente; e que a essência do recalque consiste simplesmente em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância (Freud, 1915/1996, p. 152, grifos do autor).
O que se mantém à distância? Talvez o desejo inconsciente que tem no objeto sexual a sua proeminência.
Freud diferencia as modalidades do recalque: o recalque originário e o recalque secundário. O recalque originário não incide sobre a pulsão propriamente, mas em seus representantes, aqueles que não têm acesso à consciência e aos quais a pulsão permanece fixada. Consequência? O estabelecimento de um núcleo inconsciente que atua como uma espécie de “estação primeira” para o direcionamento dos elementos a serem recalcados.
Esse recalque
[...] consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional) da pulsão. Com isso, estabelece-se uma fixação; a partir de então, o representante em questão continua inalterado, e a pulsão permanece ligada a ele (Freud, 1915/1996, p. 153, grifo do autor).
O recalque propriamente dito é um recalque posterior que, aliado à repulsa, é atraído para fora da consciência. Uma pequena licença filológica: no Dicionário comentado do alemão de Freud,Luiz Alberto Hanns (1996, p. 355) informa:
O verbo verdrängen genericamente significa “empurrar para o lado”, “desalojar” [...] Conotativamente, verdrängen remete a uma sensação de “sufoco”, “incômodo”, que leva o sujeito a desalojar o material que o incomoda.
Hanns (1996) destaca que a palavra “recalque” não é utilizada coloquialmente e abarca um sentido originário da linguagem da construção, como um rebaixamento da terra ou de paredes após a construção. De fato, na engenharia civil, o recalque nada mais é do que o fenômeno que ocorre quando uma edificação sofre um rebaixamento devido ao adensamento do solo sob sua fundação. Ou seja, é quando o solo “afunda”. Mas o problema mesmo, segundo os engenheiros estruturais, é quando esses recalques são diferentes ao longo da fundação ocasionando trincas na estrutura.
Hans (1996, p. 358) argumenta ainda que o radical “calcar” tem diversos usos, tais como calcar a terra ou o terreno, no sentido de pressionar, pisar, apertar. Também se aplica, em linguagem figurada, a ideia de oprimir, vexar, desprezar, etc.
A aposta na palavra e seus efeitos mobilizadores da transferência fazem com que Freud constate que no núcleo do inconsciente se encontram representantes pulsionais e o recalque, com sua característica – (1) atuar de forma altamente individual, com as vicissitudes próprias do recalcado; (2) e seu caráter extremamente móbil, com seu dispêndio persistente de força – passe a ser visto também como uma operação que consiste em retirar do campo da consciência aquilo que é intolerável. A relação sempre presente em Freud do conceito com a dita “técnica” é destacado por ele, o que nos faz sustentar, mais uma vez, na aposta que Freud faz no poder da palavra, bem como na sempre recorrente ideia de que a psicanálise é uma teoria da clínica.
Freud (1915/1993, p. 154) diz:
Ao executarmos a técnica da psicanálise, continuamos exigindo que o paciente produza, de tal forma, derivados do recalcado, que, em consequência de sua distância no tempo, ou de sua distorção, eles possam passar pela censura do consciente. [...]. No correr desse processo, observamos que o paciente pode continuar a desfiar sua meada de associações, até ser levado de encontro a um pensamento, cuja relação com o recalcado fique tão óbvia, que o force a repetir sua tentativa de recalque.
A repetição, em ato, apontada por Freud nessa citação, a meu ver, é um ponto que aparece na vinheta clínica apresentada na abertura deste ensaio. Quando Antônio, mesmo envergonhado frente ao gesto de carinho de seu “paquera fixo” permite-se continuar e retribuir, um pouco mais tarde, os presentes recebidos, talvez tenhamos o esboço de um posicionamento diferente do sujeito frente a seu desejo, o que lhe permite se colocar de outra forma frente ao Outro, saindo do desejo anônimo para um amor que ousa dizer seu nome, parafraseando Oscar Wilde.2
Em síntese, ouso dizer que esse momento da obra freudiana é orientado pela perspectiva da primeira tópica do aparelho psíquico, em que o recalcado e o inconsciente se equiparam. Na suposição apresentada por Freud de um recalque primevo ou primeiro,3 nota-se que esse tempo consiste em negar a passagem para a consciência do representante psíquico da pulsão. Com isso se estabeleceria uma fixação, por meio da qual o representante em questão permaneceria inalterado e a pulsão ali permaneceria concentrada. O segundo tempo do recalque seria o do recalque propriamente dito, que afetaria os derivados mentais dos representantes recalcados ou os resquícios de pensamentos a eles ligados. Por fim, o terceiro tempo caracteriza o retorno do recalcado, deixando “sintomas em seu rastro”.4
Freud argumenta que só é possível ter acesso ao recalque a partir de seus resultados, ou seja, na formação substitutiva surgida como sintoma. Em sua argumentação, Freud (1915/1996, p. 153) se interroga:
Podemos então supor que a formação de substitutos e a formação de sintomas coincidem, e, admitindo que isso aconteça de um modo geral, será o mecanismo formador de sintomas o mesmo que o do recalque?
Conforme apontado, naquilo que diz respeito aos efeitos do recalque sobre a parcela ideacional do representante da representação, Freud salienta que o procedimento inicia a operação de geração de formações substitutas. Se o recalque deixa sintomas em seu rastro, Freud assevera que tanto as chamadas formações substitutas quanto o recalque são retornos do recalcado, ao que ele indica: (1) o mecanismo do recalque não coincide com o mecanismo das formações substitutas; (2) há numerosos e diferentes mecanismos de formações substitutas; e (3) ambos os mecanismos se caracterizam por uma retirada do investimento de energia.
Ora, de algum modo esse texto de Freud nos permite, mais uma vez, apostar que a linguagem está posta tanto em causa quanto em consequência. Com Lacan (19541955/1985), a partir do Seminário 2:O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, podemos defender que a novidade da empreitada freudiana é que o humano não domina a linguagem primordial, tendo sido introduzido nessa engrenagem, e nela se encontra, de algum modo, aprisionado. Para Lacan (1954-1955/1985), o homem se encontra posto em um primitivo simbolismo que difere das representações imaginárias, e é aí que algo dele precisa fazer-se reconhecer. Mas isso, conforme o ensinamento de Freud, está recalcado.
Declara Lacan (1954-1955/1985, p. 385):
É preciso maravilhar-nos com o paradoxo. O homem não é aqui senhor em sua casa. Há algo no qual ele se integra e que já reina por intermédio de suas combinações. A passagem do homem da ordem da natureza à ordem da cultura segue as mesmas combinações matemáticas que as que servirão para classificar e explicar. Claude Lévi-Strauss as denomina estruturas elementares do parentesco. E, no entanto, os homens primitivos não são supostos terem sido Pascal. O homem se acha metido, seu ser todo, na procissão dos números, num primitivo simbolismo que se distingue das representações imaginárias. É no meio disto que algo do homem tem de fazer-se reconhecer. Mas o que tem de fazer-se reconhecer não está expresso, nos ensina Freud, porém recalcado.
Essa longa citação nos faz recordar que o recalcado, conforme extraímos de Freud, sempre insiste, pede para ser. Nesse sentido, é possível destacar que, em Lacan, seguindo o caminho aberto por Freud, o sintoma é concebido como “o retorno, por via de substituição significante, do que se encontra na ponta da pulsão como seu alvo [a satisfação]” (Lacan, 1959-1960/1988, p.139).
Freud finaliza seu trabalho apontando aspectos do recalque na histeria e na neurose obsessiva. Não entraremos nos pormenores apresentados pelo autor, mas apontaremos algumas questões que poderão ser úteis para o diagnóstico e a consequente condução de tratamentos atuais. De início, na chamada histeria de angústia, um caso de fobia animal é utilizado por Freud para exemplificar como a pulsão sujeita ao recalque é uma atitude libidinal para com o pai, aliado ao medo dele. Após o recalque dessa moção pulsional, ele desaparece da consciência: o pai perde seu lugar de objeto de investimento libidinal e o animal surge como um substituto ao pai; a parcela quantitativa de afeto ligado à ideia original não desapareceu, mas foi transformada em angústia, tendo como resultante sintomática o medo do animal. A formação da fobia, desse modo, age como uma forma de fuga e impedimento da angústia.
Já na chamada histeria de conversão, o autor assevera que o conteúdo ideacional é completamente retirado da consciência e, como um substituto sintomático, surge a conversão somática.
Por fim, na neurose obsessiva, o recalcamento é exitoso e o conteúdo ideacional é afastado, fazendo com que o afeto desapareça. Entretanto, como uma espécie de recalcamento malsucedido, permanecendo o conteúdo ideacional na consciência permitindo com que emoção que estava desaparecida retorne, de maneira modificada, como angústia social, moral e autocensura.
Finalizo este breve comentário, indicando o filme O dia em que eu não nasci.5 Trata-se da história de uma nadadora alemã que, durante uma escala em Buenos Aires, reconhece uma canção de ninar cantada por uma jovem mãe. Maria não sabe sequer uma palavra da língua espanhola, mas começa a cantar acompanhando a jovem mãe que embala seu filho na sala de espera do aeroporto. Emocionada, ela telefona para o pai, na Alemanha, e fala sobre sua experiência. O título em alemão [A canção em mim] talvez possa nos dar uma pista do que Freud (1915/1996) afirma sobre uma lembrança latente ser um resíduo de um processo psíquico; além disso, aponta as ressonâncias lacanianas no final do Seminário 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, de que “o recalcado pede para ser”. Contudo, como defende Freud (1915/1996, p. 162) no texto em discussão,
[...] cada abordagem isolada do assunto será incompleta em si mesma, não podendo deixar de haver obscuridades sempre que ela se defrontar com material ainda não examinado; no entanto, podemos esperar que uma síntese final conduza a uma compreensão adequada.
Nesses termos, o filme nos ajuda a pensar em outros elementos presentes no recalque, como os efeitos de alíngua6 [lalangue] no corpo. É em lalangue que o sujeito vai enlaçar seu desejo, ou seja, no excesso que escapa à língua, na fratura que a lalangue proporciona. E Milner (1987) nos ajuda a pensar em lalangue como algo que torna possível o ser falante, tendo em vista que amor e língua se enraízam em lalangue, enquanto lugar do impossível, daquilo que excede à língua e marca sua presença no desejo do ser falante. Para Milner, a existência de lalangue permite dizer que o amor é possível e que o signo de um sujeito pode causar um desejo.
Retomar as discussões em torno do recalque, a nosso ver, é muito importante; retomar e tentar avançar, inclusive associando-as ao sintoma e à condução do caso clínico. Tratar disso, no entanto, já é outra coisa a ser retomada em momento oportuno.
Considerações finais
A proposta deste comentário acerca do recalque foi fazer uma breve incursão pelo texto O recalcamento, de Freud (1915/1996). Trata-se de uma apresentação do modo como o conceito se apresenta no interior de um artigo seminal sobre um tema que se constitui como um dos pilares do edifico teórico freudiano. Desse modo, é importante retomar as palavras de Lacan sobre o tema, tendo em vista que suas considerações nos auxiliam na leitura do texto freudiano.
Para Lacan (1955-1956/1985, p. 23), aquilo que é atingido pelo recalque sempre retorna,
[...] pois o recalque e o retorno do recalcado são apenas o direito e o avesso de uma mesma coisa. O recalcado está sempre aí, e ele se exprime de maneira perfeitamente articulada nos sintomas e numa multidão de outros fenômenos.
Como os textos de Freud e Lacan nos deixam antever, o entendimento do processo do recalque é de fundamental importância tanto para as pesquisas que entrelaçam à práxis psicanalítica quanto para o ensino e transmissão da psicanálise.
Extrato do poema Dois amantes, de Lorde Alfred Douglas
[...] Enquanto me assombrava, da parte oposta a esta
chegou um jovem, que levantou a palma num gesto
contra o sol, suas madeixas em desarranjo ao vento ornadas de flores;
[...] Branco como a neve
intacta dos montes gelados, nu ele estava.
Lábios da cor do vinho que caíra no soalho
de alabastro; de calcedônia era sua pele.
De mim se aproximou, amáveis lábios cindidos,
segurou minha mão e minha boca beijou,
deu-me de comer suas uvas e disse:
“Vem, te mostrarei imagens da vida, doce amigo,
e as sombras do mundo. Repara desde o sul
como o espetáculo sem fim previsto vem.” [...]
Mas havia um colega caminhando ao seu lado,
terno e lastimoso, com olhos esquisitos
pois eram tão assombrosamente iluminados.
Destarte me olhou e suspirou vários suspiros
que me comoveram. [...]
Quando o vi, para ele gritei, desconsolado:
“Amável jovem, dize-me por qual razão
andarilhas por este reino encantador
tão triste e suspirante?
Conta de antemão, qual é teu nome?”
E ele diz: “Meu nome é Amor”.
De imediato, o primeiro se voltou pra mim
e gritou: “Ele mente, pois
Vergonha é seu nome!
Amor sou eu, e estava habituado a neste jardim
andar sozinho, até que ele veio
sem que a noite o invitasse.
Sou a chama do amor verdadeiro,
que mutuamente o rapaz e a moça consome.”
E diz o outro, suspirante,
“Pois como queiras, eu sou o amor que não se atreve
a dizer seu nome”.