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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.44 no.74 São Paulo July/Dec. 2022  Epub Aug 02, 2024

https://doi.org/10.5935/0101-3106.v44n74.05 

2022: Uma odisseia antropofágica

ADENDO AO ARTIGO SOBRE A SAGA DO ABAPORU

Patrícia de Campos Lindenberg Schoueri1 

Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Prof. Doutora em psiquiatria pela FMUSP. São Paulo

Orlando Hardt Jr.2 

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

1Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP).

2Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo


Quando o artigo acima foi distribuído para os pareceristas da Ide, houve algo semelhante à dura crítica de Monteiro Lobato ao visitar a exposição de uma artista modernista em 1917, quando o escritor comparou as telas aos desenhos “que ornam as paredes internas dos manicômios”. Nós pensamos então que não seria esta a primeira vez que pintoras modernistas, sejam elas Anita Malfatti, Tarsila do Amaral ou outras, receberiam esse tipo de recepção; este trajeto parece fazer parte da saga modernista.

Abaporu é uma das principais obras do período antropofágico do Movimento Modernista, datado de 1928 e que esteve por muitos anos na coleção Nemirovsky e Raul Forbes. Hoje está no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), desde 1995. Foi comprada por 1,5 milhão de dólares e vale hoje mais de 40 milhões. Tarsila pintou-a em 1928 para Oswald de Andrade. Na época ficou batizada de Abaporu, que em tupi significa “homem que come gente”, referência para o movimento Antropofágico - deglutir a arte estrangeira e digerir para o Brasil, uma reverie.

Poderíamos pensar que um objeto estético realmente pode despertar no observador as mais variadas e antagônicas reações, principalmente os da filiação modernista com seus objetos parciais desafiando uma organização mais tradicional, facilmente reconhecida.

O artigo parece seguir essa filiação estética. Avisa-nos, já de início, que se propõe a narrar uma experiência estética e pareceu-nos que a própria leitura do texto gera no leitor uma experiência emocional antropofágica onde somos postos a “degustar ou a engolir” trechos que nos esclarecem, nos alimentam, nos fazem sentir na carne o que seria o Abaporu - homem que come gente. Assim somos apresentados à trajetória de Oswald de Andrade e ao Movimento Pau-Brasil, como ele foi absorvido pela nossa sociedade, em suma, percorremos junto com o autor uma “odisseia antropofágica”, na forma de um banquete antropofágico.

Nossa percepção foi a de que não saímos dessa aventura ilesos, saímos prenhes de interesse e de um certo vislumbre do que seria o livro-luxo no lixo e de que uso podemos fazer do luxo no lixo. A “odisseia antropofágica” do texto continua ao percorrer Luto e melancolia nas vozes de Freud e de Ogden e termina numa abertura de esperança através do encontro de um objeto/experiência estética capaz, quiçá, de transformar lixo em luxo.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.