Legado de um autêntico humanista, Girassol e Edelweiss porta uma acuidade narrativa que pareia o impacto dos fatos que contém e os contextos que os emolduram. Através de texto envolvente, em alguns momentos tocante, Bogdan Igor Holovko nos faz testemunhas participantes da busca por sua história, da apropriação radical de seu ser a partir das origens pessoais e da sua família nas Europas Central e Oriental da primeira metade do século xx.
Esse percurso inclui Ucrânia e Áustria, terras de seus pais, passando por Tchecoslováquia, Polônia e Alemanha, para presenciarmos a saga contextualizada na barbárie civilizacional proporcionada tanto pelos nazistas de Hitler como pelos bolcheviques de Stalin, ambos responsáveis pelos maiores genocídios que a humanidade já viveu.
De passeios nos Alpes, passando pelo programa nazista Lebensborn, até os porões da Gestapo estão presentes, com especial atenção e carinho à história da Ucrânia, terra natal de seu pai, onde na década de 1930 ocorreu a bestialidade do Holodomor, morte pela fome, que dizimou entre 7 e 10 milhões de pessoas, não poupando sua família.
Curiosidade, paixão pela verda-de, amor pelo semelhante, ao lado de perplexidade e espanto com a banalidade do mal e a brutal bestialidade possível do ser humano, nos acompanham até o Brasil, onde aportou em 1951. Mas aqui manteve por longos anos a angustiosa condição de refugiado e apátrida. E nos rejubilamos com ele quando finalmente é contemplado com a cidadania brasileira - e também a tcheca.
Portador de resiliência a toda prova e uma capacidade comunicativa ímpar, Igor não perde jamais a esperança de uma humanidade em paz e solidária, o que é largamente discutido na segunda parte do livro. Esta inclui a busca de si mesmo a partir do encontro com filosofia orientais aprendidas na Índia e no Nepal, para onde somos levados então.
A obra é gerada nas entranhas do autor, cuja autoridade reside em ter vivido aquilo que viveu no mundo em que sua vida se deu, brotando em si uma consciência crescente de sua condição humana. Foi partejada na necessidade de saber de si, na curiosidade sobre o estar no mundo tal qual ele é, sem deixar de lado o sonho de como ele poderia ser. Para essa mudança, ele tenta fazer a sua parte.
Estamos diante de um daqueles textos nos quais a singularidade radical do personagem (no caso, do autor) serve como paradigma da condição humana e de suas misérias, do exercício da compaixão, da resiliência e da esperança.