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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.44 no.74 São Paulo July/Dec. 2022  Epub Aug 02, 2024

https://doi.org/10.5935/0101-3106.v44n74.22 

Acontece

NOTÍCIAS DO NÚCLEO DE PSICANÁLISE DE MARÍLIA E REGIÃO

Cibele Maria M. Di Brandão

Luís Fernando de Nóbrega

Boletim da Comissão de Cultura


Aconteceu no dia 6 de agosto passado, a nossa reunião mensal do Cine Debate, evento de nossa Comissão de Cultura, que convida colegas da nossa área e, profissionais de outras profissões para participarem como comentaristas, de um filme previamente escolhido e divulgado para que se assista antes do dia de debates.

Nesta reunião, tivemos a satisfação de contar com a presença como convidado, de nosso colega Júlio Frochtengarten. Analista didata da SBPSP.

O filme foi O farol, do diretor Robert Eggers (2020).

Em linhas gerais, temos um farol que precisa ser cuidado e, temos um velho funcionário que já está por lá e, vai receber um novato no ofício e, então, em dupla, farão o trabalho.

O nosso comentarista Júlio agradece a oportunidade com o nosso convite, de poder elaborar e ter a chance de ouvir outras pessoas a partir do filme. Ele considera a potência estética do filme, em que tudo é muito intenso. Elementos como a natureza, o preto e branco do filme, o formato da tela diminuído num quadrado à moda dos antigos filmes, sensação de que seja um filme de terror e tudo isso serve como função narrativa de tudo o que se desenrola.

Uma questão que surge: qual dos dois indivíduos que estão confinados naquele local está louco?

Desde a chegada do novato, o chefe faz agir seu poder, impondo uma submissão ao colega, como se fosse um tipo de senhor que considera o outro como seu escravo e, assim, está lá para servi-lo. Temos também o viés inicial de que um é do bem e o outro é do mal ou Eros x Tânatos.

A presença dos dois cuidadores desse farol também traz a transcendência da vida, pois outros já passaram por lá, eles dois estão agora e outros virão.

Conforme a vida mental de cada um dos dois se impõe, surge uma mistura entre o que é de realidade externa e o que é de realidade interna, o que produz efeitos reais nas ações que acontecem naquele pequeno universo ilhado.

A luz do farol que, no começo, apenas o velho tem acesso, é Deus, é uma Divindade? Foi considerado o quanto a solidão pode desencadear um enlouquecimento e, nesse sentido, assistir a esse filme não é um tipo de programa de passa tempo, mas um desafio frente ao que de humano surge: crueldade, violência, maldade etc., tudo isso é humano e nos faz refletir sobre questões éticas enquanto animais que somos e que vivemos em sociedade, em grupo.

Com um pouco de reflexão teórica, os dois personagens são tipo pai e filho disputando a mãe, questões de interdição, rivalidades? Os dois são como a dupla analista e analisando no setting? A busca e disputa pelo acesso à luz, é a busca por “O”? Quando não se consegue ter um sonho, imaginar, o risco é que teremos a coisa em si, uma verdade já pronta posta?

O desconforto que enfrentamos frente a esse filme é o custo emocional que também temos que enfrentar, os desconfortos numa psicanálise, mas que nos traz uma possibilidade de evoluirmos a nossa convivência com o humano em cada um, com tudo que é decorrente de um desconhecido que age em nós. O segredo revelado e atuado são os aspectos primitivos de dentro de nós, de nossa natureza humana.

Outro ponto considerado foi o filme ilustrar as consequências de quando o indivíduo perde sua capacidade de ter uma visão binocular, olhando para dentro e também para fora e ficando ilhado, fica isolado em seu mundo mental e as consequências desastrosas disso.

Júlio destacou, em seus comentários, que não pensou exatamente em teoria psicanalítica quando viu ao filme, mas considerou as experiências que viveu, experimentou e que as teorias, com o tempo de trabalho, ficam naturalmente encarnadas na sua pessoa.

O isolamento na ilha, seria um tipo de castigo, um tipo de expiação de culpas? O mito de Prometeu, o que roubou o fogo dos deuses e o entregou aos humanos e, consequentemente, foi castigado por Zeus, como um eterno sentimento de culpa em cada um de nós? A morte de certa forma pode ser encarada, afinal, como a libertação de nossos tormentos.

A um psicanalista se supõe uma liberdade com a sua vida interior, provavelmente esse diretor do filme, se mostra livre ao lidar com as questões da sua própria natureza mental.

Finalmente, uma dupla isolada em si, um casal isolado em si em um relacionamento tóxico, acaba em si mesmo se degradando e se destruindo.

Agradecemos ao colega Júlio Frochtengarten, a todos de nossa Comissão, ao Núcleo, com a presença constante e próxima de Cibele Brandão e, finalmente, a todos os que estiveram presentes e ajudaram a termos um encontro produtivo e criativo.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.