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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.44 no.74 São Paulo July/Dec. 2022  Epub Aug 02, 2024

https://doi.org/10.5935/0101-3106.v44n74.23 

Acontece

MÚSICA E PSICANÁLISE LANÇAMENTO SOIS

Camila Brasiliano1 

Membro filiado do Instituto de Psicanálise Durval Marcondes da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Psicóloga formada pela PUC-SP. São Paulo

1Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Instituto de Psicanálise Durval Marcondes


Agradeço o convite da Ide para apresentar meu trabalho musical. A revista está interessada em dar voz a psicanalistas que também realizem trabalhos artísticos. No meu caso, trata-se de um trabalho como cantora, feito com muito amor e dedicação, em meio ao trabalho desenvolvido como analista.

Trabalho com atendimentos clínicos há 10 anos. Entretanto, em paralelo ao exercício da psicanálise, sempre tive uma outra paixão que me acompanha há tempos: a música, e mais especificamente o canto. Lancei meu primeiro disco Sós em 2018 ao lado do violonista Felipe Borim e agora lançamos um novo EP, com canções inéditas e autorais.

A arte é uma dessas companheiras que, uma vez que nos capturam, nunca mais podem deixar de estar ao nosso lado. Ficam ali sempre: estimulando, cochichando ideias e, às vezes, tornam-se mais presentes e produtivas, e, outras, ficam ao lado mais quietas, mas sempre nos fazendo companhia. A música se impõe a mim como uma necessidade de expressão e de conexão comigo mesma: é pulsão de vida em sua máxima potência, é sublimação em sua melhor forma e é a sensação de implicar-se no mundo, com criatividade e sensibilidade, que me movimenta.

De certa forma, música e psicanálise são dois mundos distintos. A dedicação ao estudo teórico, reflexão, e o refinamento de percepção que a prática do analista requer é bem distinta do trabalho que a técnica vocal exige. Entretanto, acredito que tanto na análise como no canto, o fato de trabalhar com a escuta e com a experiência emocional ajudam a criar um ponto de conexão entre essas duas paixões.

As emoções estão a todo vapor numa sessão de análise, onde se pretende entrar em contato com a vivência subjetiva do paciente, por meio das palavras que ajudam a dar um contorno para as sensações vivenciadas, muitas vezes, inconscientes. A música nem sempre precisa das palavras para causar impacto emocional, mas pode também se basear nelas para contar uma história que nos faz sentir e penetrar em nossa própria subjetividade. Por vezes, é capaz de traduzir e sintetizar uma vivência, dando contorno às emoções de forma bastante acolhedora e terapêutica.

Em ambas as atividades é preciso ouvir: ouvir o sofrimento do outro, suas sutilezas na forma de ser e estar no mundo, ouvir aquilo que, às vezes, se faz inaudível. No canto, é claro, é preciso ouvir a melodia que se desenha, ouvir e afinar-se com os instrumentistas que fazem a cama para a voz surgir. Mas é preciso ouvir aquilo que vem de dentro, o que nos emociona e nos toca intimamente, para que esses sentimentos se façam presentes na interpretação de cada canção.

Desde cedo a música me estimulou profundamente e carrega um lugar afetivo muito importante. Na casa dos meus pais o rádio vivia ligado 24h por dia. Meu pai, em especial, era um amante da música e nos apresentou todos os clássicos do nosso cancioneiro popular: Noel Rosa, Cartola, Quinteto Violado e os nossos clássicos da mbp com muito Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, sempre. Além de muito Luiz Gonzaga, já que tenho a sorte de ter parte da família no Recife e fui muito influenciada por toda a música de lá. Na adolescência, as grandes cantoras como Elis Regina, Maria Bethânia, Clara Nunes, Elizeth Cardoso foram minha inspiração e, ao ouvi-las, me estimulei a fazer aulas de canto e começar a cantar. Dessa forma, a música sempre teve esse lugar afetivo/ familiar, ao mesmo tempo em que me conecta com meu país e com a cultura brasileira que sempre admirei muito. O canto em si é um momento de conexão, de deixar ecoar a sensibilidade. É dentro de todo esse universo que sigo caminhando com essa dupla jornada e fico feliz de poder apresentar para vocês o lançamento deste novo trabalho.

O EP Sois é o novo projeto que realizo com meu parceiro Felipe Borim e juntos possuímos um trabalho em duo desenvolvido há mais de dez anos. Como mencionei, o primeiro disco foi lançado em 2018 no formato violão e voz, e surgiu depois de uma extensa pesquisa sobre essa sonoridade tão rica e sintética da música brasileira. Agora em 2022, lançamos esse EP com três faixas compostas por Borim e que podem ser ouvidas em qualquer plataforma de streaming (Spotify, Amazon Music...). Esse trabalho teve a produção do músico Antônio Loureiro, que ampliou a sonoridade do duo para um formato de banda, e ainda contou com a produção de três clipes de animação feitos em parceria com a artista visual Lola Ramos. As três canções do novo trabalho têm uma temática existencialista e narram a história da personagem Clara na busca por um sentido para sua própria existência. Nada mais psicanalítico, nada mais musical! Espero que gostem de ouvir.

Links:

Youtube vídeos e músicas de Camila Brasiliano e Felipe Borim https://www.youtube.com/channel/UCm-T_jrvPbkLD1M9P58u7vQ

Spotify: Camila Brasiliano https://open.spotify.com/artist/4HsVqmEedjempALezM2TXf?si=1XcHpkYRQu-9J01PrbZlKA

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