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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.45 no.75 São Paulo Jan./June 2023  Epub Aug 02, 2024

https://doi.org/10.5935/0101-3106.v45n75.07 

Guerra e paz, uma odisseia

PAZ, VERDADE E COMPAIXÃO O HOJE E O AMANHÃ

Peace, truth and compassion

Ney Marinho1 

Membro efetivo com funções específicas do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ). Doutor em Filosofia (PUC-RIO). Rio de Janeiro

1Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro


Resumo

O autor dá continuidade ao estudo que vem fazendo desde 2003 sobre o tema da paz. Neste terceiro texto discute a relação entre a paz, a verdade e a compaixão com base em um estímulo de Bion, em Cogitações, e da proposta de Marco Lucchesi de uma cultura da paz. Chama a atenção para o pouco entusiasmo que a paz desperta, em contraste com a violenta repressão que é feita aos pacifistas, a qual chega a inúmeros assassinatos. Relaciona a luta pela paz com o combate ao belicismo que garante a desigualdade social e o racismo. Compartilha da crítica de David Armstrong à pouca atenção que se tem dado à investigação das ansiedades do Grupo de Trabalho, desde sua formulação por Bion. Sugere que a cultura da paz é parte da cultura da posição depressiva formulada por Klein e encontra seu maior inimigo no ódio ao desenvolvimento - tanto no plano individual quanto no grupal - e na defesa do status quo. Utiliza reflexões de Wittgenstein e Einstein para o diálogo a que convida os colegas. Questões de hoje e de amanhã.

Palavras-chave: paz; verdade; compaixão; Bion; Klein; Wittgenstein; Einstein

Abstract

The author carries on with his research on peace which was started in 2003. In this third text he discusses the relationship among peace, truth and compassion from a stimulus by Bion’s Cogitations and the suggestion by Marco Lucchesi about a peace culture. He calls our attention to the contrast between the lack of enthusiasm on the theme of peace and the violent repression towards pacifists, which has already achieved uncountable murders. He links the struggle for peace with the fight against warlike concept which supports social inequalities and racism. He shares David Armstrong’s criticism regarding the lack of attention to investigate work group anxieties since its description by Bion. He suggests that the peace culture is part of the depressive position culture as is described by Melanie Klein while facing its worst foe in the hate of development in individual, in group as well as the defence of status quo. The author cites Wittgenstein’s and Einstein’s thoughts in the dialogue while inviting his colleagues. Current and future issues to be adressed.

Keywords: peace; truth; compassion; Bion; Klein; Wittgenstein; Einstein

Spectre toujours masqué qui nous suit côte à côte. Et qu’on nomme demain!

Oh! Demain, c’est la grande chose!

De quoi demain sera-t-il fait?”

(Victor Hugo, “Napoléon II”, Les chants du crépuscule)2

O tema da paz não costuma despertar grande entusiasmo e paixões, muito menos reverência. Lembremo-nos dos hinos nacionais, que com frequência exaltam valores guerreiros e pedem mesmo sacrifícios em favor de uma pátria singular e determinada. Uma exceção seria a Internacional, pelo menos ao sugerir uma pátria comum para todos os trabalhadores do mundo. Os hinos pela paz tendem a ter origem religiosa e não são bem-vistos, sendo considerados piegas ou, na pior das hipóteses, hipócritas, tal a força que nos hinos guerreiros é dada à longa história das guerras - muitas vezes confundida com a da própria humanidade. No campo das exceções, entretanto, temos em nossa época o caso dos hippies e suas canções, atingindo na música pop o clímax com Imagine, de John Lennon, que merece maior reflexão, sobretudo por sua morte, que acompanha a de vários outros pacifistas (Gandhi, Martin Luther King, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral, entre outros). A paz pode não despertar fortes adesões, mas atrai ódios aparentemente inexplicáveis, que, geralmente, atribuímos a fanáticos ou loucos. Tal atribuição pode ser precipitada e carecer melhor investigação. Um exame superficial dos assassinatos mencionados acima, pelo acaso da memória, mostra que as motivações foram várias, predominantemente políticas, assim como obscuras as razões de seus executores. No momento, desejo apenas realçar o acintoso desinteresse que acompanha a questão da paz, em contraste com a violência com que são tratados os pacifistas, que, como toda repressão, vai da censura ao crime.

Nessa breve introdução contento-me com o registro deste paradoxo: a paz provoca desinteresse e ódio. Talvez um depoimento pessoal possa iniciar o esclarecimento do que desejo apresentar à consideração dos colegas, atendendo ao gentil e reconfortante convite que recebi para dar uma contribuição às diversas odisseias da aventura humana.

1. A questão da paz

Desde 2003 (Marinho, 2003) tenho publicado textos sob o ponto de vista psicanalítico sobre a temática da paz. Embora desde jovem participe de movimentos pacifistas, certamente por influência familiar,3 não me sentia à vontade de escrever a respeito por reconhecer a complexidade do tema e desgostar dos textos disponíveis, sempre panfletários - embora justificáveis -, mas pouco consistentes e praticamente inexistentes na literatura psicanalítica. Recordo-me da persistência, solitária de Hannah Segal em seus trabalhos contra as armas nucleares. Por sinal, seus textos, apesar da excelência, eram vistos por muitos como alheios às preocupações psicanalíticas (!), tendo havido até a sugestão de que os apresentasse fora dos congressos. Em suma, em nosso ambiente, também a paz não era bem-vinda, poderia por motivos desconhecidos - acredito que relacionados com a guerra fria - ser um fator de discórdia. Não havia - como ainda não há - um consenso quanto a ser a questão da paz um legítimo objeto da psicanálise.

No ensaio de 2003 - “Sobre a guerra e a paz: a aporia freudiana” - utilizo noções de Freud, Bion e Wittgenstein, autores que sempre me acompanham, e chego à aporia: “a guerra é uma atividade inevitável dos homens/a guerra nos repugna e somos constitucionalmente pacifistas” (p. 229). Repeti, após um longo e hoje em dia penso que não inútil trajeto (passando por vários autores psicanalíticos ou literários), o que Freud, em última instância, diz a Einstein. Esta seria a aporia freudiana!

Foram necessários 15 anos para que voltasse ao tema, com o artigo “A paz, nossa neurose dos domingos” (Marinho, 2016/2017). Embora o texto de Ferenczi - “Neurose dos domingos” - já fosse mencionado em meu primeiro artigo, não havia compreendido devidamente sua importância para pensar a paz! A clínica me fez retornar ao tema graças a um caso de guerra conjugal. Ante a impossibilidade de discutir publicamente o material clínico, utilizei-me do belo texto de Ferenczi para pensar certos aspectos latentes na paz que podem eclodir numa verdadeira guerra, ou vice-versa, ou seja, a guerra é incompetente para alcançar a paz, alcança uma trégua que acumula ressentimentos e ódios, que prenunciam um futuro confronto! Por mais convidativa, contudo, que fosse essa resposta, principalmente porque acrescentei às reflexões de Ferenczi a noção de pulsão de morte, que Freud ainda não havia formulado à época do texto ferencziano, restava a questão: o que seria tão inquietante na paz? Tal pensamento, talvez selvagem, para utilizar uma linguagem bioniana, acompanhou-me por mais oito anos. Não tenho a ilusão de que o afaste, mas sinto-me em condições de utilizá-lo para novos desenvolvimentos, como um cavalo selvagem que, uma vez domado, pode levar-nos a sítios desconhecidos.

Antes de prosseguir, julgo útil delimitar o campo de investigação que proponho a fim de tornar mais compreensível o sentido da pesquisa. Embora a paz seja usualmente associada a conflitos interestatais, ou à beligerância entre etnias e facções ideológicas de uma mesma nação, pretendo estendê-la a todas as relações interpessoais. Tal abrangência, não importa quão excessiva possa à primeira vista parecer, visa identificar em que tipo de cultura estamos trabalhando e vivendo. Não retira o caráter grupal dos fenômenos guerreiros e beligerantes, ao mesmo tempo que assegura o caráter pessoal que leva aos conflitos e os alimenta. Este ponto, a ênfase na cultura em jogo, foi o que me animou a continuar pesquisando e achar útil trazer aos colegas e amigos da psicanálise esta contribuição. Agradeço tal estímulo ao encontro com o acadêmico, poeta e tradutor, Marco Lucchesi, que aceitou o convite para discutir - numa Aula Inaugural de nosso Instituto - o tema “Por que a Paz?”.

Marco Lucchesi vem há algum tempo publicando textos, traduções de poetas persas ou pré-islâmicos, poesias, em torno de uma noção que adotou como título de um de seus últimos livros: Cultura da paz. Neste artigo não vou caracterizar o que entendo por cultura, não só por incompetência, mas para evitar que saturemos algo que necessita revelar-se através de uma permanente investigação. Acredito que todos tiveram a experiência de ouvir, aprender ou até estudar que não éramos um país racista, vivíamos em grande harmonia racial, exemplar mesmo, ou coisas do gênero. Somente alguns exaltados poetas - vem à mente, de imediato, Castro Alves - tiveram a coragem de se fazer ouvir, talvez até fossem aplaudidos, mas sem conseguir qualquer convencimento maior para suas denúncias. Atualmente é consenso que há um racismo estrutural, que se manifesta em nosso dia a dia. Em suma, vivemos em uma cultura racista. Um outro exemplo que será útil para o que se segue é o tema da desigualdade. Esta já foi considerada, e ainda o é, embora por uma minoria caricata, como um fato econômico relacionado à pobreza de nosso país (embora há dez anos estivesse entre as seis maiores economias mundiais). A denúncia da desigualdade sempre encontrou violenta repressão. Um exemplo estarrecedor é a obra de Josué de Castro, médico, pesquisador, geógrafo, diplomata, político, autor de Geografia da fome (1946). Josué foi cassado no Golpe de 1964, e morreu no exílio! Seu nome constou da lista dos primeiros cassados pelo Ato Institucional número 1. Seu crime: denunciar com reconhecida competência - atestada por vários prêmios nacionais e internacionais - que a fome tinha causas sociais e, em última instância, estava relacionada com a absurda concentração de renda vigente no Brasil. Durante o chamado “Milagre Brasileiro” - 1969-1973 -, o país chegou a crescer a taxas de mais de um dígito e… houve forte concentração de renda! Ou seja, vivemos numa cultura da desigualdade (Souza, 2018).

Um terceiro e último exemplo é a questão do belicismo. É do conhecimento de todos - inútil portanto a citação de estatísticas - que a incidência de mortes por armas de fogo em nosso país ultrapassa frequentemente os dados de guerras interestatais ou civis prolongadas. Gostaríamos, contudo, de realçar os índices alarmantes do que se passou a chamar de feminicídio, crimes por homofobia ou contra a população lgbtqia+. A todos chocam as constantes mortes, por bala perdida, entre jovens, crianças e membros de populações de comunidades periféricas. Nos últimos anos houve uma maciça proliferação e incentivo à venda indiscriminada de armas de fogo. Fazia parte da própria campanha eleitoral do anterior governo o gesto simbólico de uma arminha.4

Em suma, pretendo transmitir ao leitor meu entendimento de que o fenômeno da guerra/violência está presente tanto nas relações interpessoais como nos tradicionais conflitos entre nações, etnias ou facções religiosas ou ideológicas. Muitas vezes, o aparecimento e persistência dos conflitos interpessoais precedem os grupais como um prelúdio. Lembremo-nos das manifestações nazifascistas antissemitas tão frequentes no Leste europeu, muito anteriores à implantação da barbárie nazista.

Senti necessidade de me estender nesta primeira parte a fim de tornar mais claro como entendo a contribuição da psicanálise tanto para o debate teórico como para a prática antirracista, ou pela desmilitarização, por exemplo.

2. Verdade e compaixão

W. R. Bion e aquele que viria a ser seu primeiro analista, John Rickman, participaram das duas Guerras Mundiais, e da Primeira intensamente. Bion na linha de tanques e depois na Infantaria; Rickman, devido aos princípios quaker, religiosos e pacifistas, de sua família, serviu como médico, mas teve também outra aventurosa experiência: encontrava-se no front oriental, no interior da Rússia, quando esta se tornou comunista, o que fez com que sua permanência, mesmo finda a guerra, se prolongasse. A curiosidade e perspicácia desse autor permitiram que assim aproveitasse a observação dos grupos - tanto camponeses tradicionais quanto os novos sovietes - para desenvolvê-la mais tarde em experiências com o seu futuro parceiro - Bion - no Exército Inglês, durante a Segunda Guerra Mundial.

A guerra é uma presença constante na obra de Bion, desde Experiências com grupos (1948-1951) até a trilogia Uma memória do futuro, e seus livros autobiográficos. Rickman tem uma gama de textos, cuidadosamente compilados - desde sua experiência na Rússia - por Pearl King.

Há, entretanto, poucos trabalhos dos autores especificamente sobre a paz (Bion, 1947/2000b; Rickman, 1938/2003). Chamaram a minha atenção uma breve lista de considerações de Bion - em “Compaixão e verdade” - e a atitude inabalavelmente pacifista de Rickman, que acredito possam ajudar-nos a desenvolver uma linha de pensamento que nos aproxime das vicissitudes da aventura da paz. Contaremos também com a ajuda de outro interlocutor qualificado: Albert Einstein. Este por toda a vida se preocupou com a questão da paz; vamos encontrar suas conjecturas desde “Por que a guerra?” (1932), em que dialoga com Freud, até Meus últimos anos (Einstein, 1949/2017), onde se encontram seus derradeiros textos (1934-1950).

Desde o início da leitura do texto bioniano (Bion, 1960/2000a) - “Compaixão e verdade” - causou-me estranheza a aproximação de conceitos tão distantes. Mas, com a continuada apreensão dos 14 aforismos, se foi fazendo luz sobre um novo universo de ideias, ou, melhor, instrumentos que me foram oferecidos para pensar questões que pareciam encontrar um solo duro, “entortando a pá”, como diria Wittgenstein (1990) sobre a estéril busca da certeza. Portanto, não se trata de descobrir as razões do ódio que acompanha a paz e é votado aos pacifistas, como chamamos a atenção no início deste texto, porém, podemos agora sugerir como ocorre o processo de obstrução do diálogo da paz e o canto das sereias de relegar essa discussão à obsolescência dos temas utópicos ou ultrapassados pelas teorias econômicas da moda, ou, ainda, pelo velho chavão “sempre foi assim”, em geral dito com um misto de piedade, quando não de arrogância. Vamos então por partes para evitar o terreno minado das mais ou menos sofisticadas explicações e com humildade restringir-nos ao ponto de vista psicanalítico.

É conhecida a frase que diz que “a primeira vítima de qualquer guerra é a verdade”. Deixemos aos historiadores o trabalho de fundamentar isso que se tornou um aforismo.

É conhecido também que a psicanálise não pretende descobrir ou criar novos afetos ou sentimentos. Lembremo-nos do constrangimento de Freud ao formular um sentimento inconsciente de culpa para dar conta do que acabara de descobrir: as reações terapêuticas negativas! Em que pese tal mal-estar, nada o impediu de continuar suas pesquisas, assim como seus continuadores, e um amplo leque de conjecturas surgiu. É possível que a paz guarde um parentesco com tais reações negativas, e seu grande inimigo seja a pulsão de morte, como Freud responde, concordando, a Einstein. Um inimigo que se esconde sob os disfarces de interesses econômicos (embora estes possam mesmo estar presentes), fervores religiosos (com uma longa e patética história) e até… o patriotismo (“último refúgio dos canalhas”, segundo Samuel Johnson). De fato, tudo indica que a pulsão de morte desempenha um importante papel no movimento armamentista e na implacável perseguição que o pacifismo sempre sofreu. Reduzir, contudo, a investigação à ação da pulsão de morte é, a nosso ver, uma estéril saturação.

Tivemos a oportunidade de entrar em contato com uma crítica do clássico Experiências com grupos que veio ao encontro de reflexão semelhante que fazíamos. Refiro-me aos comentários de David Armstrong (2010, pp. 139-151) sobre a falta que o autor sente de um aprofundamento de Bion nos fatores e ansiedades que determinam o Grupo de Trabalho. Isso fica mais evidente em contraposição aos Grupos de Suposição Básica que funcionariam sob a égide de mecanismos e ansiedades análogos aos da posição esquizoparanoide que marcam a natureza das ligações entre seus membros - Bion usa muito apropriadamente o termo “valência”, da físico-química, para a forma de tais ligações - e a dificuldade de um maior contato com a realidade, assim como do respeito aos membros do grupo enquanto indivíduos, o ódio a aprender com a experiência etc. O grupo é o que deve ser preservado, a qualquer preço. As descrições são preciosas, quer do ódio ao aprender com a experiência ou do repúdio à realidade. Por outro lado, o mesmo não ocorre quando fala sobre o Grupo de Trabalho! Quais seriam as ansiedades próprias do Grupo de Trabalho? O que impede, retarda ou distorce o seu aparecimento e desenvolvimento? Este último termo - “desenvolvimento” - é mencionado, assim como o ódio que desperta. Este único fator explorado, contudo, sugere a presença de outros a serem revelados. Bion cita alguns fatores inerentes ao desenvolvimento cognitivo, tais como o valor da pesquisa científica e a validade do aprender com a experiência, os quais são desprezados pelo Grupo de Suposição Básica, exceto quando cria grupos especializados de trabalho a serviço de seus objetivos, quer de dependência, acasalamento ou luta e fuga. Lembremo-nos do Martelo das feiticeiras - manual para identificar, tratar e/ ou eliminar as feiticeiras -, que teve muito êxito durante um longo período no Ocidente (Kramer & Sprenger, 1484/1991).

Ao seguir essa linha pensamento foi que me ocorreu a correlação entre “compaixão e verdade”, que gostaria de partilhar com os colegas e amigos da psicanálise, uma vez que julgo talvez possível superar os limites de um mero dever ético e avançar no conhecimento do outro e de nós mesmos, numa livre exploração da experiência humana.

O termo “compaixão” nos remete, de imediato, à descrição que Melanie Klein faz da cultura - vamos manter o conceito vago que estamos utilizando - da posição depressiva (Klein, 1940/1996). O objeto passa a ter papel preponderante, alvo de preocupações em conservá-lo, em cuidar dele e… em usufruí-lo. Para usar uma terminologia wittgensteiniana, compaixão tem uma relação de família com gratidão, reparação, empatia, cooperação e outros termos que cabe a cada um de nós evocar, com base em sua experiência clínica e de vida. Eles têm características próprias, alguns sendo estudados exaustivamente por diversos psicanalistas, mas, no âmbito teórico - kleiniano e bioniano - em que estamos trabalhando, podemos dizer que todos pedem um desenvolvimento mental/afetivo, instável por natureza, mas consistente com qualquer projeto de desenvolvimento. Este me parece o ponto principal implícito - embrionariamente - em Experiências com grupos que pede nossa contribuição.

Bion chama a atenção para o ódio que o desenvolvimento pode despertar e muito adiante - em alguns de seus Seminários Clínicos - vai relacionar tudo isso com a responsabilidade que qualquer desenvolvimento mental/afetivo implica. Sem sombra de dúvida, a responsabilidade é uma forte candidata a ser um obstáculo ao desenvolvimento, mas não me parece suficiente para explicar a intensidade com que defrontamos tal ódio ao crescimento. Pensemos nos grandes grupos - como nações, sendo a nossa um bom exemplo - ou nas análises intermináveis. Sugeriríamos o medo do desconhecido5 e o de não poder amar (ver itens 7 e 8), ou ser amada.

Bion no aforismo 14 mostra, utilizando o mito edípico, uma correlação entre verdade e compaixão. Julgamos que também poderemos encontrar tal correlação na própria construção do mundo. Afinal, o mundo não nos é dado. Somos apresentados ao mundo, embora não passivamente, uma vez que nossas emoções e pulsões dão um singular colorido a essa apresentação, ou seja, participamos também dessa construção. Um dos primeiros psicanalistas a desenvolver essa ideia foi Money-Kyrle em Man’s picture of his world (1961), e, mais recentemente, Michael Rustin fez o mesmo exercício em A boa sociedade e o mundo interno (1991/2000). Fizemos um exercício semelhante ao estudar o Caso Schreber (Marinho, 2006/2012). Tais construções de mundo, quer capazes de ser compartilhadas com relativa facilidade, quer bizarras como nos delírios, não são arbitrárias. Portanto, verdade e compaixão guardam parceria que nos permite pensar um mundo de todos, o que denominamos humanidade, e a falta de uma ou de outra leva inevitavelmente à tragédia (para tomar o exemplo edípico que Bion utiliza) ou ao desastre nazista (Marinho, 2006/2012).

Melanie Klein frisa com insistência o papel da reparação no que estamos chamando de cultura da posição depressiva. Em que pese, contudo, o fundamental papel que possa desempenhar a reparação, principalmente em sua implicação epistemológica, uma vez que propicia o surgimento de um novo objeto (!), este novo necessita ser estudado. Pois, ao surgir o novo objeto, fruto da integração negada pela posição esquizoparanoide, novas questões devem ser desenvolvidas. Não podemos voltar aos objetos parciais que retornam apenas como… bizarros.6 Por outro lado, lidar com novos objetos implica novas relações de objeto. Talvez o estudo dos delírios e alucinações possa nos dar uma oportunidade para uma investigação melhor e mais claras formulações.

3. Aos críticos da paz

Einstein em Meus últimos anos, seus derradeiros textos, conta-nos uma história que pode servir para uma reflexão:

Recentemente, ao discutir com um homem inteligente e bem-intencionado o perigo de uma outra guerra, que, na minha opinião, iria ameaçar gravemente a existência da humanidade, observei que somente uma organização supranacional poderia oferecer proteção contra tal perigo. Diante disso, meu visitante, calma e friamente replicou: “Mas por que você é tão contrário ao desaparecimento da espécie humana?” (Einstein, 1949/2017, p. 122)

A partir dessa fala do amigo, Einstein faz uma simples (não parecia o grande físico falando, capacidade que nós psicanalistas talvez precisemos desenvolver para falar ao coração das pessoas), mas contundente reflexão sobre a importância da luta pela paz. Em certo momento, afirma algo que os estudiosos de Bion devem ter lido/ouvido várias vezes: “O homem é, a um só tempo, um ser solitário e um ser social”.

Para falar, mesmo que brevemente, sobre as oposições à paz, escolhi partir desse texto de Einstein, que parece uma conversa de grande sinceridade, e a fala do visitante faz lembrar um comentário particular que Freud fez em carta a Lou-Andreas Salomé.7 Ao mesmo tempo, nos permite manter o ponto de vista psicanalítico que é o habitat desta publicação.

Uma vez poupados de lidar com cifras trilionárias (em dólares, que podem ser encontradas em revistas insuspeitas como a Foreign Affairs) gastas na manutenção do arsenal armamentista, vemos que não há problema econômico, mas sim político em eliminar as guerras e voltar os gastos com o Complexo Industrial Militar para empreendimentos capazes de acabar com a fome, a desigualdade, o desemprego, terrenos propícios para o cultivo do desespero e da violência, muitas vezes representada pela esperança messiânica de um líder, segundo Bion, em geral, o mais perturbado do grupo. A história é rica em exemplos. Isso feito, podemos continuar nossa pesquisa no campo conhecido.

Há outras críticas, como mais uma utopia!, vai contra a natureza humana!, sempre foi assim!, que poderiam desviar-nos inutilmente da investigação psicanalítica que nos interessa. Como já mencionamos, Melanie Klein insistiu no aspecto de reparação como principal motor da construção do objeto total. A meu ver, inaugurou uma revolução epistemológica que mereceria um exame detalhado, pois a construção do objeto total, a rigor, é a construção de um novo objeto! Podemos fazer mais um exercício, além dos já mencionados, com o cubo que Bion apresenta em Experiências com grupos. Precisamos de muito esforço para deixar de ver o lado AB como a imagem frontal e passar a ver o BC. Na construção do objeto total, julgamos que isso é impossível, pois não podemos recuperar o objeto anterior - bom ou mau - apenas por meio de um exercício arqueológico, sujeito a todas as suas vicissitudes. Isso já foi dito, mas agora pretendo utilizar essa impossibilidade para o objeto novo criado. A mesma analogia pretendo propor para a cultura da paz. Não podemos saber como seria tal cultura, tanto nas relações interpessoais quanto nas interestatais. Procuramos na nossa exposição não separar o aspecto individual do grupal, chegamos até a pensar que pudessem ser formas de ver as coisas, como ocorre na psicossomática, mas isso necessita de nossa parte uma maior reflexão. No momento, gostaríamos de frisar o aspecto do novo, que em nossa experiência clínica sempre desperta ansiedades agorafóbicas; a volta para a situação anterior é impossível e o futuro… desconhecido.8

Bion fala também - como vimos acima - de um sentimento de compaixão para si mesmo (ver sentença 14), por exemplo, ao referir-se a Édipo, comparando-o com sentimento similar pela verdade. Ambos - compaixão e verdade - necessitam uma harmonia que permita o desenvolvimento em lugar da tragédia. Ambos pedem, entretanto, expressão. Certamente, cada leitor evocará experiências clínicas ou da vida cotidiana com base na leitura. Sempre encontrei dificuldade na compreensão desse texto. Ao escrever sobre o tema do presente artigo para o nosso Observatório Psicanalítico, a certa altura senti que faltava no que escrevia aquele sentimento de compaixão pelos companheiros - a maioria não mais presente - que tanto lutaram pela democratização de nosso país. O texto tratava dos tempos atuais em que se fala com tanta leviandade quanto ignorância dos sombrios 21 anos de ditadura que infelicitaram minha geração, o Brasil e, a rigor, toda a América Latina - cada país, a sua moda, tem uma trágica história a contar. Aos poucos fui sentindo que ainda faltava algo a transmitir aos leitores ou a mim mesmo. Dei-me conta de que era o sentimento de compaixão! Compaixão por mim mesmo que certamente me levou a escrever, com todo o sofrimento que desperta falar de tempos cruéis. Os livros de história são importantes, os filmes e a música também, mas nada substitui o testemunho, mesmo em sua incomunicabilidade. Trata-se de um ato, talvez um ato de fé.

4. Os nossos tempos e o amanhã… de que amanhã?

Elizabeth Roudinesco utiliza os versos de Victor Hugo, citados em nossa epígrafe, para apresentar seu importante diálogo com Jacques Derrida sobre nossos tempos e a psicanálise. É possível que a esta altura nos indaguemos que contribuição efetiva a psicanálise pode fazer à causa da paz? Antes de desenvolver, melhor que responder, essa questão, gostaria de em poucas sentenças sumarizar os pontos que pretendi expor e mesmo defender:

- A paz não desperta entusiasmo, mas não é indiferente. Desperta ódio, que se expressa desde a brutal repressão aos primeiros pacifistas (em geral, socialistas utópicos, socialistas marxista e anarquistas, além de alguns místicos) até o assassinato de seus grandes líderes por indivíduos comumente denominados fanáticos, loucos ou afins, sem uma investigação maior que a precisa direcionalidade de tais atos pediria.

- Não separo a violência interpessoal da interestatal e procurei tratar ambas como parte de um mesmo fenômeno, embora reconhecendo a distinção entre a psicologia individual e a grupal. Para os objetivos deste artigo, julguei útil contrapor a paz às diversas formas de violência. A afirmação seguinte talvez seja esclarecedora.

- Em nossa sociedade e acredito que em todas, mas não tenho competência para sustentar tal suposição, o belicismo (as diversas formas de violência) garante, sustenta e mantém o estado de racismo estrutural e desigualdade social que vivemos.

- A paz não é um problema econômico, mas político, não havendo incompatibilidade com um estado igualitário, pacífico e antirracista sustentável.

- Sob o ponto de vista psicanalítico, a meu ver, a paz implica um outro tipo de relações interpessoais, que denominei cultura da paz (Marco Lucchesi), como poderia chamar de cultura da posição depressiva (Melanie Klein). Viver tal estado de coisas exige um desenvolvimento individual e grupal capaz de suportar sentimentos e ansiedades ainda pouco estudadas.

É possível que a simples leitura das afirmações acima possa aumentar a descrença na utilidade de textos como este, ou mesmo na participação da psicanálise nesse complexo debate humanista. Lembraria, entretanto, que Bion, quando escrevia a “Revisão de Experiências com grupos”, dialogava com os opositores ao estabelecimento de um estado de bem-estar social no Reino Unido, os quais usavam os conhecidos argumentos contra a eficácia de um grupo de trabalho.

Compartilhamos a opinião de Albert Einstein, segundo a qual

aqueles que se empenham em melhorar a sorte do homem podem fundar suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, em razão de sua constituição biológica, a aniquilar uns aos outros ou ficar à mercê de um destino cruel que eles mesmos se infligem. (Einstein, 1949/1917, p. 124)

O êxito da luta dos movimentos ecologistas tem nos animado em imaginar que um retorno, mais radical, da luta pelo desarmamento nuclear, pela criação de zonas desmilitarizadas, pelo estímulo (de todas as formas) à diminuição do investimento militar em favor da luta pela erradicação da fome e da desigualdade, tudo isto possa se tornar um pensamento hegemônico, tendo por base a verdade e a compaixão como sentidos do humano… caso a espécie deseje permanecer em sua aventura.

Assim entendo a paz como uma Odisseia peculiar… uma volta para o novo.

Apêndice

Compaixão e verdade9

  1. Compaixão e verdade são, ambas, sensos do homem.

  2. Compaixão é um sentimento que necessita expressar; é um impulso que ele precisar experimentar em seus sentimentos pelos outros.

  3. Compaixão é, igualmente, algo que ele necessita sentir na atitude que os outros têm em relação a ele.

  4. Verdade é algo que o homem necessita expressar; é algo que precisa procurar e encontrar; é essencial para a satisfação de sua curiosidade.

  5. Verdade é algo que ele necessita sentir na atitude que os outros têm em relação a ele.

  6. Verdade e compaixão são também qualidades pertinentes à relação que o homem estabelece com pessoas e coisas.

  7. Um homem pode sentir que lhe falta a capacidade para amar.

  8. Um homem pode não ter a capacidade para amar.

  9. De modo similar, ele pode sentir que lhe falta a capacidade para a verdade, seja para ouvi-la, seja para procurá-la, seja para encontrá-la, seja para comunicá-la, seja para desejá-la.

  10. Essa capacidade pode, de fato, lhe faltar.

  11. A carência pode ser primária ou secundária, e pode diminuir verdade ou amor, ou ambos.

  12. A carência primária é inata e não pode ser remediada; mas algumas de suas consequências podem ser modificadas analiticamente.

  13. A carência secundária pode se dever a medo ou ódio ou inveja ou amor. Mesmo o amor pode inibir o amor.

  14. Aplicando (8) e (10) ao mito de Édipo, a morte da Esfinge pode ser uma consequência dessas carências, pois a questão que ela apresentou não visava estimular a verdade; possivelmente a Esfinge não tinha consideração por si mesma, consideração que poderia erigir uma barreira contra a autodestruição. Pode-se dizer que Tirésias tinha menos compaixão do que falta de consideração pela verdade. A Édipo faltava mais compaixão por si mesmo do que consideração pela verdade.

2 “Espectro sempre mascarado que nos segue lado a lado./ E que se chama amanhã!/ Oh! Amanhã é o grande momento!/ De que amanhã se trata?” (Hugo, 1835, citado em Derrida & Roudinesco, 2004).

3 As diversas formas de manifestação pacifista sempre foram prestigiadas em meu meio familiar, tanto políticas quanto culturais, como foi o caso do esperanto, tendo um tio - Fernando Marinho - que chegou a ser presidente da liga esperantista do Brasil. Curioso que reencontrei o esperanto numa citação de Marco Lucchesi, de quem falaremos adiante, um erudito pacifista.

4 O gesto da arminha, característico do governante anterior, se, por um lado, chamava a atenção pela infantilidade, por outro, procurava banalizar ou esconder a pregação da violência. Hannah Segal registra em seu conhecido artigo - “O silêncio é o maior dos crimes” - como o uso de linguagem engraçadinha (sic) encobria a grande violência do lançamento das bombas atômicas, tal como nas expressões “O bebê nasceu”, para anunciar o lançamento sobre Hiroshima, ou “Garotinho”, para designar a própria bomba, sendo “Gordo” aquela dirigida a Nagasaki (Segal, 1987).

5 “Le silence de ces espaces infinis m’effraie” (Blaise Pascal, 1623-1662, filósofo francês).

6Lembremos Wittgenstein, que chama a atenção para o fato de que a descoberta arqueológica de um busto pode ser tomada como a de uma estátua quebrada (!).

7 Em carta particular a Lou-Andreas Salomé, Freud (1914/1975) a certa altura diz: “Minha conclusão secreta sempre foi: desde que só podemos considerar a mais elevada civilização atual como carregada de uma enorme hipocrisia, conclui-se que somos organicamente inadequados a ela. Somos forçados a abdicar, e o Grande Desconhecido, Ele ou Alguma Coisa emboscado atrás do Destino, algum dia repetirá esta experiência com uma outra raça”.

8 Paciente descreve um estado mental dessa natureza ao andar no calçadão de uma praia. Muito sofrimento: de um lado, a avenida com os carros passando, de outro, o Oceano Atlântico sem fim, para trás a casa distante e para a frente… uma caminhada assustadora (estranho/familiar passeio matinal). Um pesadelo acordado. Isso é relatado no correr de uma análise, de várias décadas intercaladas por períodos de viagens ou mesmo altas. Agora, a volta à análise que lhe parece mais viva do que nunca; tal vivacidade é sentida pela dupla analista/analisando.

9 “Compaixão e verdade” está em Cogitações (Bion, 1960/2000a, 11 fev.).

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