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Ide

Print version ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) vol.45 no.75 São Paulo Jan./June 2023  Epub Aug 02, 2024

https://doi.org/10.5935/0101-3106.v45n75.08 

Guerra e paz, uma odisseia

GUERRA E SOBREVIVÊNCIA EM ESCRITORES DA LIBERDADE1

War and survival in Freedom writers

Alexandro Henrique Paixão2 

Professor doutor do Departamento de Ciências Sociais na Educação - Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-UNICAMP). Membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo

2 Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-UNICAMP)


Resumo

Este artigo é uma crítica do filme estadunidense Escritores da liberdade, de 2007, dirigido por Richard Lagravenese. O intuito é discutir os símbolos da guerra, da sobrevivência, da liberdade e da paz, apresentados em tela e constitutivos da operação simbólica que o objeto fílmico realiza e nos causa enquanto assistimos a suas cenas. Busco traduzir os estímulos e impactos dessa operação sobre mim mesmo, algo gerador de uma atitude mental que simbolizei de três maneiras, por meio do símbolo da mutilação, da terapia e da escrita, visando a contribuir para o debate de Guerra e paz, uma odisseia”.

Palavras-chave: guerra; sobrevivência; crítica fílmica; operação simbólica; Escritores da liberdade

Abstract

This paper is a critique of the American film Freedom writers (2007), directed by Richard Lagravenese. The purpose is to discuss the symbols of war, survival, freedom, and peace presented on screen and constitutive of the symbolic operation which the filmic object performs and causes in us while we watch its scenes. I seek to translate the stimuli and impacts of this operation on myself, which generates a mental attitude that I symbolized in three ways, through the symbol of mutilation, therapy, and writing, aiming to contribute to the debate of “War and peace, an odyssey”.

Keywords: war; survival; film criticism; symbolic operation; Freedom writers

Quando começamos a assistir a um filme, uma “operação simbólica” ocorre em nós, graças à ação de um complexo plano imaginário cinematográfico (Jameson, 1995, pp. 25-26). Angústias e/ou alegrias são transformadas por meio de pensamentos que acendem imaginação, juízo e memória, e assim uma visão plástica de mundo se constitui (Francastel, 1987, p. 167).

Ao selecionar determinado filme para estudo, ao retirar da tela algumas situações fílmicas e transpô-las para um artigo, buscamos traduzir para o leitor parte dessa plasticidade por meio da análise de alguns símbolos cinematográficos. Em parte, porque nem tudo é passível de tradução; afinal, o processo simbólico é inconsciente (Segal, 1978/1998). Não é o filme como um todo que carece de explicação,3 mas sua maneira de operar símbolos, por meio de temas, imagens, sons, silêncios, palavras etc., capazes de absorver e organizar angústias, bem como produzir fantasias e esperanças enquanto assistimos às cenas (Jameson, 1995, pp. 27 e 30). Discutir os “símbolos” (Candido, 1993, p. 87), portanto, é falar em “atitude mental” diante da arte, tal como o cinema.

No consultório psicanalítico, uma operação simbólica acontece graças ao encontro terapêutico do analisando com o objeto analista, enquanto no cinema essa ação transformadora ocorre assim que começamos a assistir ao objeto fílmico. Não falarei aqui do setting, mas da experiência como espectador de Escritores da liberdade (2007), esperando contribuir para a edição da revista Ide dedicada ao tema “Guerra e paz, uma odisseia”. É importante destacar que a Odisseia de Homero também foi apresentada nesse filme, embora a odisseia agora em análise não seja a de nenhum herói épico, mas a de uma mulher comum chamada Erin, e sua epopeia seja a de cuidar de estudantes sobreviventes.

Escolhi discutir Escritores da liberdade para contar como esse filme produziu em mim pensamentos em forma de símbolos, assim caracterizados:

  • Mutilados, para tratar do tema tanto dos excluídos no interior do sistema de ensino4 quanto das gangues;

  • Terapia, para expor como a personagem da professora Erin oferece um holding5 aos estudantes indesejáveis;

  • Escrita, para concluir este artigo discutindo o processo de amadurecimento dos personagens estudantes por meio da literatura, momento em que transitam da condição de sobrevivência para a de liberdade e paz.

É com esses símbolos, ou por meio do “jogo de alterações de sentido das palavras” (Candido, 1993, p. 87), que inicio este artigo com uma breve exposição acerca das circunstâncias fílmicas. O objetivo primeiro é expor o contexto em que o objeto fílmico se insere (Williams, 2010). Em segundo lugar, haverá o comentário-interpretação de alguns fragmentos do filme ou “filmshows” (Williams, 1953),6 por meio da análise dos três símbolos destacados.

Circunstâncias

O filme figura uma história específica do estado da Califórnia (eua), conhecida como “Os distúrbios de Los Angeles”, de 1992. Nessa época, policiais agrediram e torturam até a morte um homem negro chamado Rodney King.7 A absolvição dos policiais após o julgamento do crime cometido gerou - não somente na população negra, mas também em diversos grupos minoritários - uma grande revolta contra o Estado californiano. Uma espécie de guerra civil instalou-se à época, conforme testemunham as fontes jornalísticas de ontem e de hoje.8

O filme Escritores da liberdade está inscrito nessas circunstâncias de violência social e de comportamentos indesejáveis por determinados grupos étnicos em Los Angeles. Seu diretor, Richard Lagravenese, conseguiu traduzir esses distúrbios sociais de forma sublime, contando a história de como uma professora, chamada Erin Gruwell, dois anos depois dos distúrbios de Los Angeles, encontrou, no interior de sua sala de aula, gangues de jovens que transformavam os encontros entre professora e estudantes em um verdadeiro campo de batalha.

Ela transmutou essa guerra em sobrevivência, depois em liberdade e paz. É sobre isso que eu gostaria de começar a contar, com uma síntese da narrativa: o filme é sobre como gangues intraclasse escolar vão se transformar em grupos de amizade, estudo, trabalho e cooperação, graças à sustentação e cobertura de uma professora e de seus aliados, especialmente seu pai, e apoiadores, como empresários, comerciantes etc., porque o Estado coopera, em vários momentos, com seus subsídios e leis, mas não oferece a subvenção necessária, reservando aos professores e à comunidade o papel que deveria ser do governo e da sociedade civil na gestão escolar de grupos minoritários excluídos,9 apresentados aqui pelo símbolo mutilados.

Mutilados

Na tela, assistimos a um grupo de jovens negros, asiáticos, latinos e um único rapaz branco apresentados como excluídos no interior do sistema de ensino estadunidense. Eles não são arrancados do sistema, mas mantidos como se fossem inválidos, o que simbolicamente nos remete a vidas mutiladas.

A escola os rejeita, embora, a todo tempo, tente convencê-los, por meio de sua diretora e de um professor arrogante, de que são eles, os alunos, que não querem estudar. Quando, na verdade, foi a escola que desistiu de ensiná-los já há algum tempo. É a escola que reforça, a todo momento, que eles não são capazes de fazer outra coisa a não ser incomodar a tudo e a todos com seu comportamento delinquente.

Essa dinâmica para a qual somos apresentados no filme é bastante perversa e mutiladora, reforçando aquilo sobre o que Bourdieu e Champagne escreveram em seu ensaio “Os excluídos do interior” (1992/2001), na mesma época em que o filme se passa, com a diferença de que os autores discutem a situação escolar francesa, e não a estadunidense. Lendo o inspirador artigo dos sociólogos franceses e o adaptando para nossa reflexão fílmica, posso reforçar que a instituição escolar é mostrada como mutiladora, pois ela está aberta a todos, aceitando, de modo inclusivo, em seus bancos, os excluídos potencialmente, oferecendo-lhes sempre as chances de estudar, embora sob o discurso torturante de que isso dá bastante trabalho e que não é tarefa fácil para determinados alunos e alunas advindos de grupos específicos e vulneráveis social e psiquicamente. Assim, estes descobrem logo na entrada que são diferentes, desvalorizados, impotentes, pois não têm chances de cumprir o que a escola exigirá de todos eles, em termos de comportamento, avaliações, disciplinas, estudos, agenda etc. Em poucas palavras, só é dado a quem dá (Bourdieu & Champagne, 1992/2011, pp. 483-484).

Essa verdade recalcada do sistema de ensino, de que a escola inclusiva exclui mantendo em seu seio os excluídos, felizmente nunca tem êxito completo, mas parcial. Esse sistema de exclusão fica ameaçado de fracasso quando alguma coisa acontece em seu interior, isto é, de dentro para fora.

Sabemos disso quando voltamos para o filme e percebemos que é justamente essa cilada na forma de tentativas de determinar o futuro dos chamados estudantes indesejáveis que a professora Erin busca desconstruir, apresentando a eles um tempo mais vivo de permanência escolar, com chances reais, oferecendo o holding necessário e uma formação escolar mediante a leitura e a escrita. Eles não só experimentam o tempo com atividades literárias, mas passam a ocupar também os espaços da escola e de suas próprias vidas, e de suas famílias, criando oportunidades para a interação consigo mesmos, com os outros, contra-atacando os próprios guetos étnicos, fonte paradoxal de prazer e sofrimento. A sobrevivência emerge desse contexto em que a dimensão do tempo e do espaço torna-se real, dotando-se de uma capacidade de compreensão e identificação com o outro.

Se no seio escolar brotam a exclusão e a invalidez existencial, símbolos da mutilação social e psíquica, no seio de Erin, ornado por preciosas pérolas, flui um convite à perseverança. Notamos que ela não apresenta nenhum juízo temerário em relação aos estudantes considerados indesejáveis e antissociais, sob grande estresse e violência; ao contrário, oferece suas pérolas preciosas para adolescentes tratados pela escola como diferentes, estranhos, como se fossem animais. Nunca o verso bíblico “não lanceis ante os porcos as vossas pérolas”10 fez tanto sentido; e ele pode ser ressignificado por meio desse filme. Isso porque Erin de fato lançou todas as suas pérolas àqueles meninos e meninas tratados como escória, que mereciam por isso ser aniquilados indiscriminadamente, como faziam os nazistas aos judeus indesejáveis.

A cena da caricatura do menino negro, feita pelos próprios estudantes, que circula em uma das aulas, gerando sofrimento, dá abertura para a discussão do nazismo no filme, apresentado como uma das maiores gangues da história pela professora. E saber de um sistema de aniquilamento histórico fez com que aqueles estudantes parassem para pensar nos sistemas de extermínio que eram as gangues; afinal, todos eles nos contam em seus diários e no jogo escolar sobre a linha vermelha, conhecida assim por indicar uma fronteira perigosa, como eles eram alvos vivos por estarem expostos diariamente à morte. E, por falar em fronteira, não podemos deixar de comentar aquela cena em que Erin presenteia os estudantes com livros, que estão dentro de umas sacolas muito bonitas, nas quais está grafada a palavra Border.

Nessa cena, o filme nos oferece uma pista preciosa sobre seus personagens, de que eles são fronteiriços. Não se trata necessariamente de personalidades autoritárias, mas tipos paranoides, maníacos e depressivos, pois, por um lado, sentem-se perseguidos e, por outro, triunfantes sobre uma vida em que identificam o perigo constante de morte (Klein, 1940/1996). Tipos assim, mesmo entre os mais jovens, não têm nenhuma esperança no porvir, pois persiste em suas mentes e corpos a certeza da perseguição, da captura e do aniquilamento. Esse era o sentimento nos guetos nazistas, contam-nos alguns sobreviventes do Holocausto. Essa é a mesma atmosfera que encontramos no filme.

Dentro dessa moldura cinematográfica, visitamos com os estudantes e a professora Erin o Museu da Tolerância,11 jantamos com sobreviventes do Holocausto e conhecemos Miep Gies, a mulher holandesa que acolheu a família Frank e sua filhinha, Anne Frank. Até mesmo o sobrenome Gruwell, da professora Erin, grafado em holandês e com um L só, significa horror. Estamos diante de momentos de horror, cujo efeito naqueles estudantes brutalizados é de dor, mas também de reparação, pois eles parecem perceber, diante do extermínio daquelas crianças vítimas de Auschwitz, que eles não desapareceram e podem agora sobreviver e se integrar novamente à vida.

Entendo aqui integração nos termos de Winnicott (1955/1999) e gostaria de oferecer uma síntese do autor para matizar o ponto:

Antes da integração, o indivíduo é inorganizado, inarticulado … Depois da integração, o indivíduo É o ser humano infantil que atingiu o status de unidade e pode dizer EU SOU. O indivíduo possui agora … um interior, um conteúdo, e aí podem ser reunidas lembranças e experiências, e pode ser constituída a estrutura infinitamente complexa que é [condição] do ser humano … Não importa se esse desenvolvimento acontece de uma vez ou gradualmente, num longo período de tempo; o fato é que existe um antes e um depois. (pp. 217-218)

Apresento essa síntese, porque, no filme, a palavra integração aparece para designar um projeto para integrar voluntariamente estudantes indesejados no sistema de ensino americano. Mas, podemos sugerir, a verdadeira integração acontece não no sistema de ensino ou na escola, mas no interior da classe 203, daquele alojamento provisório, que muitos deles vão chamar de casa, lar, porto seguro. Isso acontece porque ali encontraram uma professora-ambiente capaz de sustentá-los e de se identificar com eles, de gostar de todos indiscriminadamente, bem como de preparar ou organizar um espaço para que eles existam do jeito que são, de regredir e avançar quando for necessário, promovendo um verdadeiro bem-estar terapêutico, ainda que de caráter indireto, pois não se trata das ações diretas de uma psicóloga, psicanalista ou médica psiquiatra, mas de uma professora, simplesmente, que oferece aulas dentro de uma atmosfera terapêutica.

Terapia

Para explicar a simbologia da terapia que enxergo no filme, preciso primeiro caracterizar a personagem professora: vejo que Erin Gruwell (a senhora G, de Gigante, ou Giant, em inglês) apresenta-se para os alunos como alguém disponível, com capacidade de assisti-los e embarcar numa viagem conjunta, não pela Odisseia de Homero, conforme vemos no começo do filme, mas numa balsa muito precária num mar tumultuado. Precária, porque Erin não é nenhuma heroína, como Odisseu, mas uma mulher comum, educada e aparentemente advinda de uma classe privilegiada. Precário também é o sistema escolar, conforme já relatei, assim como as pessoas que o cercam. Essa imagem de uma balsa muito precária num mar tumultuado extraí de Bion (1977/2017, p. 43), que usa a imagem para descrever o encontro psicanalítico. No filme, não estamos diante desse encontro, mas de uma parceria educacional. Mas, como ali estão reunidos sentimentos muito arcaicos, bem como situações de dependência atreladas à necessidade de isolamento para cuidar daqueles adolescentes à beira do colapso, o símbolo Terapia me pareceu adequado para caracterizar o encontro entre estudantes e professora.

Nesse encontro, a professora utiliza a literatura e o cinema como fontes simbólicas para produzir uma atitude mental geradora de ideias e pensamentos por meio da leitura de O diário de Anne Frank, a narrativa Durango Street e o filme Doze homens e uma sentença. Todas essas obras figuram gangues, julgamentos, extermínios e indicam que sempre algum defensor comparece ao lado dos oprimidos para ajudá-los. Trata-se de um verdadeiro espelho refletor que traduz as próprias experiências traumáticas daqueles estudantes imaturos, à beira do colapso, agora amparados e defendidos por Erin.

Na forma artística, o medo, a morte, o sofrimento, a sobrevivência, um complexo de coisas, por mais difíceis que sejam, sempre são apresentados na tela e/ou no texto de modo bastante organizado e, muitas vezes, emancipador. Mesmo quando personagens fílmicos ou literários sofrem ou morrem, sentimos na ficção que eles tiveram uma existência digna, ainda que trágica. Pensando, especificamente, no objeto literário, sabemos que esse é um dos seus grandes segredos, isto é,

Toda obra literária é antes de mais nada uma espécie de objeto, de objeto construído; e é grande o poder humanizador desta construção (. . .) O narrador nos propõe um modelo de coerência, gerado pela força da palavra organizada, [e] o caráter da coisa organizada da obra literária torna-se um fator que nos deixa mais capazes de ordenar a nossa própria mente e sentimentos; e, em consequência, mais capazes de organizar a visão que temos do mundo. (Candido, 1988/2011, p. 179)

Erin e os livros, juntos, apresentam-se como esses objetos preciosos, organizados, estáveis para aqueles estudantes desintegrados usarem e se transformarem, afinal, “não é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho, durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura” (1988/2011, p. 177), aponta Antonio Candido, repassando as ideias psicanalíticas de Otto Ranke.

Esse equilíbrio ocorre por meio da gestão, manejo, sustentação e brinquedos, pois livros são brinquedos também, oferecidos por Erin a adolescentes cujas personalidades parecem estar autodestruídas. O termo correto é broken self, de autoria de Bollas (2013). Por broken self, que traduzi livremente como autodestruído, Bollas não sugere nenhum diagnóstico específico, nem uma categoria nova de patologia. O termo aplica-se a um amplo espectro de pessoas, incluindo aqueles que chamamos de pessoas comuns, como todos nós. O único denominador comum entre esses tipos é que todos eles tiveram um colapso, que deixou uma cicatriz distintiva sobre seu ser e que os faz tentar desistir da vida a todo tempo. E eles só não desistem porque uma parte do self se organiza como um eu mafioso, como se houvesse gangues internas, sendo elas responsáveis por reagir aos estados insuportáveis da vida. Pessoas que têm gangues internas são as que experimentam um medo tão terrível de colapso, que acabam reunindo essa espécie de defesa para tentar combater estados bastante aflitivos. É com esse tipo de self, destruído, que lidamos ao assistir ao filme, no qual encontramos gangues organizadas dentro e fora daqueles adolescentes.

Erin, a professora, parece saber disso e oferece como alternativa um ambiente facilitador, com oportunidades de integração. A condição integradora depende, portanto, da construção de um novo ambiente, um novo lar primário, que pode ser a escola, aqui entendida como um alojamento.

Já disse que Erin não é nenhuma uma heroína, mas alguém que trabalha muito e soube ser uma espécie de terapeuta indireta, como as enfermeiras e assistentes sociais nas experiências de guerra. Eis o símbolo da terapia no filme, algo realizado por uma professora cuidadora, e não por uma pessoa heroica. No encontro com Miep Gies, essa questão dos super-heróis surge com bastante ênfase, pois um dos adolescentes considera aquela mulher que abrigou os Franks uma espécie de heroína. Mas Gies desmente carinhosamente o rapaz e devolve o elogio dizendo que heróis são eles e que ela não realizou nenhum grande ato, mas fez o que tinha de ser feito, por meio de pequenas atitudes, que fizeram brotar luz, algum nascimento e esperança.

Essa questão do alojamento de Miep Gies aos Franks também expressa outro elemento da operação simbólica no filme. Como dissemos, a entrada do tema do Holocausto foi simbolicamente decisiva em nossa narrativa fílmica. Agora, em oposição ao gueto, temos a imagem do alojamento, como um símbolo expressivo da sobrevivência.

Winnicott (1947/1999; 1948/1999) comenta como crianças indesejáveis e antissociais, vítimas da Segunda Guerra Mundial, sobreviveram graças ao alojamento em lares substitutos, onde eram tratadas, cuidadas e futuramente reintegradas à sociedade. Esses alojamentos temporários, provisórios ou de curta duração, lembram a sala de aula de Erin. Ali, todos os dias durante alguns anos adolescentes encontraram na classe estabilidade ambiental, cuidados contínuos, amizades e um aprendizado humanizado, baseado nos jogos e, especialmente, na leitura e escrita.

Nascem disso, primeiro, reações, que depois se convertem em relações, das quais podem emergir muitas coisas, positivas e negativas, mas também interações mútuas, a perseverança e a gestão de si mesmos mediante a leitura e prática da escrita. A palavra gestão cabe muito bem quando falamos de um ambiente escolar, mas, na verdade, gestão aqui implica ser capaz de gestar e proporcionar um lar primário para aqueles adolescentes com perturbações advindas da vida em sociedade e, como vamos notando, de eles terem distúrbios internos também, próprios de broken selves.

Essa divisão entre mundo externo e mundo interno é importante, porque, no filme, existe essa dinâmica em relação a ficar dentro e fora da escola, dentro e fora de si mesmos. Dentro é o ambiente facilitador e protetor, em que encontramos o suporte oferecido por Erin, enquanto fora está o terror. Sentimos isso quando vemos que os adolescentes escolhem ficar dentro da escola e nos convidam a ficar alojados com eles nesse interior protetivo, que lembra o lar primário.

Lar primário [é] aquela experiência de um ambiente adaptado às necessidades especiais das crianças e adolescentes, sem o qual não podem ser estabelecidos os alicerces da saúde mental. Sem alguém especificamente orientado para as suas necessidades, a criança não pode encontrar uma relação operacional com a realidade externa. Sem alguém que lhe proporcione satisfações instintivas razoáveis, a criança não pode descobrir seu corpo nem desenvolver uma personalidade integrada. (Winnicott, 1947/1999, pp. 63-64)

O excerto winnicottiano sintetiza o fato de que tudo começa em casa, enquanto aqui, depois de assistirmos a esse filme, podemos pensar que tudo começa na escola. Para muitos, é assim mesmo, a escola é um lar primário. Eva, a primeira e principal narradora do filme, chega a dizer que a classe 203 é o porto seguro de todos eles e que não há um lugar lá fora para eles. É enfatizado, várias vezes, que a turma é como se fosse uma família e que a sala 203 é como se fosse a casa de todos.

É nesse momento que a questão da “dependência absoluta” fica evidente, e aqueles estudantes sentem o quanto aquele ambiente suficientemente bom pode falhar. Falha, porque ficamos sabendo que Erin não poderá acompanhá-los para sempre. Essa falha ambiental é, todavia, extremamente benéfica, pois, ao entrar em contato com a possibilidade de perder seu lar reconquistado, a situação provoca reações muito enriquecidas e geradoras de novas ações e atitudes, e todos amadurecem. A professora procura manter aquele trabalho de cuidado e assistência, provando para si mesma e para o sistema que a dependência é necessária para que ocorra no futuro a independência daqueles estudantes, por isso sai em busca de se manter com aquele grupo, agora interdependente. Da parte dos estudantes, testemunhamos o crescimento de todos quando notamos que as gangues vão desaparecendo, e no lugar surgem o sentimento e a experiência de grupo. Quando o grupo já está formado, eles começam a deixar o alojamento e vão viver em conjunto fora da escola, nos parques, nas festas, na praia, na quermesse, enfim, quando há um grupo social integrado, não só as gangues se desfazem, mas os alojamentos também, e, então, é possível realizar encontros ornados por faixas onde se destaca a palavra change (mudança). É aqui que a sobrevivência se metamorfoseia em liberdade, no sentido de que nos libertamos da condição de sobreviventes e nos transformamos em seres viventes, com disposição para a expansão mental e uma realização social mais pacificada.

Atingido esse estágio de unidade humana integrada, que até mesmo fornece o impulso para eles saírem da escola e criarem uma fundação com as experiências da sala 203 do Colégio Woodrow Wilson, foi preciso que Erin continuasse oferecendo cobertura para que aqueles sujeitos também pudessem continuar.

Consciente de que seu trabalho é contínuo, Erin apoia-se não somente nas conquistas compartilhadas com os estudantes, mas também em seu próprio pai, uma figura bastante presente em sua vida, com quem tem uma relação próxima, afetiva e conselheira, até porque nada sabemos de sua mãe; aliás, há muitas mulheres no filme, mas poucas mães, e prevalecem os pais e as filhas em quase todas as histórias apresentadas. Mais uma vez a referência a Homero é oportuna, pois estamos falando do mundo em que mulheres subjazem à força masculina e paterna, embora, nesse filme, ocorra uma reviravolta, pois as personagens principais são todas mulheres sobreviventes e que conquistaram coisas a despeito de seus homens - maridos, namorados e pais. Diferentemente da narrativa homérica, no filme, os destinos são definidos agora pelas mulheres de carne e osso, não por heróis épicos.

Ações e atitudes como as de Erin têm bastante impacto no sistema escolar; e, depois de tudo, o que vemos nascer é a confiança mútua e a crença daqueles estudantes em si mesmos e nos outros. Dado o envolvimento emocional, produzido pela interação mais básica entre professor e aluno, eles começam a ter esperança. E nós sabemos que, quando podemos ter esperança, é possível situarmo-nos na pele do outro, como escreve Winnicott (1947/1999, p. 80). Há vários momentos em que isso é patente no filme; e um dos mais emocionantes é quando as duas meninas, outrora inimigas, encontram-se na sala, e uma traz o estojo de maquiagem e diz: “Eu tenho sua cor”; temos a mesma pele! Erin, portanto, integra vários elementos - o sistema de ensino na vida daquelas crianças e as crianças naquele sistema, tanto que eles vão para a universidade - e integra aqueles adolescentes a ela e ela a eles e aos próprios colegas.

Instalado esse ciclo benigno, as expectativas de oportunidade surgem, por meio da transformação em livros dos diários que aqueles estudantes escreviam. Eis a escrita como símbolo integrador.

Escrita

Assim como os viajantes da liberdade, que se aventuraram pelos eua num ônibus, debaixo de muita violência, pregando igualdade racial, esses estudantes escolhem viajar por meio das palavras. Narram suas histórias de libertação para promover a paz em tempo de conflitos racializados.

O clima da escrita do livro é bastante leve e lúdico e acontece na frente de computadores que foram doados pela iniciativa privada para a turma, pois vemos o quanto o Estado não consegue comparecer com subsídios para aqueles estudantes outrora excluídos, o que é desafiador quando pensamos no papel do Estado na construção de sujeitos de direito.12 Mas, falando especificamente da ludicidade da escrita, lembro que foi Freud, em seu ensaio de 1907 intitulado “Escritores criativos e devaneio”, que nos chamou a atenção para isso. Ali ele diz que a obra literária é uma continuação ou um substituto do que foi o brincar infantil (Freud, 1907/1996, p. 141). Sabemos o quanto o brincar é fundamental não somente para fantasiarmos, sonharmos, experimentarmos o mundo, mas também fazermos parte da cultura.

É Winnicott (1968/1994) que nos diz que a experiência cultural surge como extensão direta do brincar e o quanto isso é valioso para o crescimento e desenvolvimento humano, porque o brinquedo é sempre excitante e gerador do mundo interno e externo. Brincar ou escrever nos excita, faz com que sonhemos, liberta-nos. Mas existe uma realidade decisiva quando se escreve um livro, é preciso ter leitores, que podem ser os próprios autores (Paixão, 2017). Por isso, O diário de Anne Frank, tantas vezes citado no filme, é um exemplo tão poderoso, pois está entre os textos mais lidos ou experimentados do mundo.13 Apesar de sua autora tragicamente não ter sobrevivido ao nazismo, seus escritos se espalharam por milhares de vidas, sendo recepcionados por diferentes gerações de leitores, que se humanizaram com sua história.

Pensando nisso, cabe retomarmos Antonio Candido (1988/2011), quando diz que

humanização é o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (p. 182)

É a primeira vez que eu vejo isso em andamento e figurado num filme, espero algum dia ver isso também fora das telas.

Para terminar, retomo a questão da liberdade atrelada à superação da busca pela sobrevivência. Primo Levi (2010), depois de sobreviver a Auschwitz, dizia que se sentia liberto, mas não redimido. Pensando nisso, Escritores da liberdade é um filme sobre a libertação da condição de sobrevivente, mas não sobre redenção, porque todo sobrevivente sabe que o combate não termina, que a travessia não acaba e que a vida tem que ser conquistada todo dia, especialmente para aqueles que estiveram à beira do aniquilamento, mas sobreviveram e agora podem simbolizar esse renascimento. A luta pela sobrevivência na guerra diária por uma existência mais integrada nunca acaba, embora seja possível encontrar alguma liberdade e paz a cada encontro terapêutico, a cada alojamento e cuidado oferecido dentro e fora da sala 203.

3 Para Sorlin (1977, pp. 69-70), o filme não mostra o “real”, mas fragmentos da realidade que o público aceita e reconhece.

4 Inspirei-me em Bourdieu & Champagne (1992/2001).

5 O termo é de Winnicott (1960/2007, pp. 44-45) e se refere às várias “provisões ambientais” que ocorrem processualmente numa relação de cuidado entre mãe e bebê, as quais generalizo para outros tipos de relação, como a de professor e aluno.

6 O termo “filmshows” era usado por Williams nas classes de adultos na Inglaterra do pós-guerra, quando exibia filmes a seus estudantes, no começo, trechos e, mais adiante, filmes completos. Mais sobre o método da crítica fílmica de Williams, conferir, além do próprio autor, o artigo de Paixão e Trevisan (2021).

7 Tragédias assim têm-se repetido lamentavelmente em nossa história, sendo dois exemplos atuais alarmantes o que aconteceu com dois homens negros, ambos assassinados por policiais, um em Mineápolis (eua), outro em Umbaúba, litoral sul de Sergipe (Brasil). Refiro-me a George Floyd, sufocado até a morte por um policial estadunidense, em maio de 2020. Dois anos depois, em maio de 2022, Genivaldo de Jesus Santos foi asfixiado até a morte por policiais brasileiros.

8 Cito apenas duas fontes: uma de março de 2016, localizada no site G1 (Globo), na sessão Mundo, em que encontramos os registros da tragédia de 25 anos atrás envolvendo o assassinato de Rodney King (Agência Efe, 2016); outra de maio de 1992, no jornal estadunidense Los Angeles Times (Dunn, 1992).

9 Acerca da importância dos subsídios estatais para uma existência mais digna da sociedade civil e a realização de uma sociedade mais educada e participativa, ver Williams (2015).

10 Ver o “Sermão da montanha” (Mateus 7:6).

11 Localizado em Los Angeles, EUA, o Museum of Tolerance (2022) foi fundado em 1993 por sobreviventes do Holocausto.

12 Essa falta de subvenção estatal não atrapalha os projetos de integração daquela sala de aula, mas caberia apenas indicar o quanto um Estado mais forte e democrático, nos termos daquilo que expõem, de diferentes formas, Winnicott (1950/2010) e Williams (1958/2015), pode contribuir para a geração de cidadãos mais participativos, criativos e saudáveis, intelectual e psiquicamente.

13 O livro vendeu 30 milhões de cópias em todo o mundo e foi traduzido para 70 idiomas (Oliveira, 2019).

Referências

Agência Efe (2016). Caso que gerou distúrbios raciais de Los Angeles completa 25 anos. G1, 3 mar. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/caso-que-geroudisturbios-raciais-de-los-angeles-completa-25-anos.html>. Acesso em: 20 fev. 2023. [ Links ]

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Esta crítica fílmica faz parte dos esforços analíticos de uma Pesquisa Fapesp intitulada Escola, Comunicação e Sobrevivência (Proc. 2021/11651-9), da qual participo como pesquisador associado, sob a coordenação de Ana Arcangelo (FE-UNICAMP). Apresentei uma primeira análise de Escritores da liberdade em 2021, no Cinema e Psicanálise, da SBPCAMP. No mesmo ano, debati com professores e estudantes da UNICAMP (ea2), educação, guerra e paz, também por meio desse filme. Agradeço, respectivamente, a Ana Maria de F. Carneiro e Soely Polidoro pelos convites.

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