Um acadêmico americano que encontrei em um grupo de Nabokovianos anunciou esta semana a publicação de um poema. Gostei dos versos em muitos aspectos e selecionei uma breve citação para ilustrar.
Tentarei traduzi-los, preocupada, mais do que o comum, com as prováveis perdas no processo desde que li alguns dos comentários. Elogiavam, ou assim me pareceu, o ritmo e particularmente o som de específicas palavras: “damp stones”, “ceremonial and bland”, por exemplo. Como reproduzi-lo? O que me cativou foi um misto de tudo mas, principalmente, sua qualidade evocativa, o desamparo e a temporalidade das cenas.
“Now everything” por Matthew Roth.
https://harpurpalate.binghamton.edu/dan-albergotti-the-son/
The last sound
is the sound of slowness passing,
of something dragging its silver wake
across the damp stones of your attention.
O último ruído
é o som da lentidão que passa,
de algo arrastando seu empuxo de prata
ao longo das lajes úmidas da sua atenção.
Um poema que escrevi há quarenta anos me veio à lembrança, os tons úmidos e cinzentos nas pausas da chuva. Foi só isso que houve em comum nos dois, mas pousaram juntos nas pedras tristonhas do passado.
Até a chuva que adensa o sono
Inquieto da cidade espalha
Seu breve no asfalto corpo breve
De cada sonho sem dono
Nem chuva sou, nem silêncio
Sem outra saída lerei
As marcas da dor turvando
Aquela mão mendiga