Como dizia Bion, a vida é cheia de surpresas. Não contávamos que você nos deixasse neste momento. Aliás, a morte sempre nos pega desprevenidos, não é? Vamos sentir falta de sua presença amiga nos nossos encontros do “Conversas Psicanalíticas”, onde, com suas observações pontuais e precisas, você sempre trazia pensamentos selvagens para ponderarmos. Uma de suas observações inesquecíveis foi quando você nos falava do “imaterial” clínico. Agora, você deixa de estar presente materialmente, mas suas lembranças permanecem, e se juntam a tantas outras presenças-ausências queridas e importantes: Ferrão, Pérsio, Kubo, Signorini, Phillips, Longman, Isaias… são tantas, e cada uma delas nos torna um pouco mais tristes e com um sentimento de perda imensa. Quanto mais experientes nos tornamos, mais fica claro que certas feridas cicatrizam, suas dores podem ser amenizadas, mas não cessam jamais. Podemos até crescer com elas, mas à custa de muitas lágrimas e de muita tristeza. Aquelas conversas instigantes, comentários impactantes, nunca mais! Como no poema de Edgar Allan Poe, “Never more”! Foram-se para sempre. E esse é o impacto maior que podemos experimentar: perceber que o desaparecimento dessa geração de gigantes, entre os quais você se inclui, deixa uma lacuna que não será preenchida, pois são universos e estrelas que se extinguem e deixam de nos iluminar.
Como nos diz Drummond: “E as memórias escorrem do pescoço, do paletó, da guerra, do arco-íris; … enroscam-se no sono à busca de uma pupila que as reflita”.
Sentiremos a falta de todos vocês, queridos amigos!