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Junguiana

versão On-line ISSN 2595-1297

Junguiana vol.41 no.1 São Paulo  2023  Epub 29-Nov-2024

https://doi.org/10.70435/junguiana.v41.10 

Editorial

Editorial


O volume 41 da Junguiana chega em um momento no qual ocorre um evento de percepção, na consciência coletiva, da presença da inteligência artificial no nosso cotidiano. O impacto do lançamento do ChatGPT tem gerado debates em torno dos efeitos positivos e negativos da tecnologia, indo da substituição do humano a sua redenção, do temor ao fascínio, oscilando entre a tecnofobia e a tecnofilia. Sabendo da importância do diálogo entre os opostos, de suportar a tensão e criar nova possibilidade, nós seguimos apostando na criatividade dos autores que se dedicam a refletir sobre a subjetividade e a cultura no campo da psicologia junguiana. Assim, a revista tem promovido a discussão da alteridade, das mais diferentes formas, nas mais variadas relações “eu-outro” e, acreditamos que, na relação humano - máquina, esta discussão é extremada, atual e necessária.

No ano passado, em função da comemoração dos 40 anos da revista, honramos nossa história com um fascículo especial no qual foram reeditados artigos esgotados selecionados por membros e trainees da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica (SBPA). Neste ano, também editaremos três fascículos pois, sistematicamente, a editoria se vê envolta com novos desafios e busca meios para atender aos anseios identificados na SBPA e entre nossos leitores; desta forma, as reedições foram ampliadas de artigos publicados originalmente pela Junguiana para contemplar também artigos publicados em outros meios, quer sejam blogs ou revistas.

Este instigante primeiro fascículo do volume 41 foi composto por artigos originais e inéditos. Começamos com “A intencionalidade das decisões e das escolhas: liberdade é escolher Deus” que propõe o entendimento do fenômeno da intencionalidade em sua interação com fundamentos inconscientes, apontando para uma variedade de realidades aleatórias que convocam e atuam como co-condutores do processo de individuação dos indivíduos e da humanidade.

Em “A pele da terra”, somos sensibilizados para a situação ambiental do planeta mediante a aproximação da psicologia analítica, da linguagem simbólica e do conhecimento dos indígenas da etnia yanomami.

Contamos, também, com artigos que estabelecem aproximação e diálogo com a literatura. Em “R. L. Stevenson – o contador de histórias e a colheita dos sonhos”, encontramos reflexões frutíferas sobre o mundo onírico e o processo criativo literário cotejando o ensaio: um capítulo sobre o sonho de R. L. Stevenson e as ideias de Jung sobre sonhos, psique e criatividade.

“A Autoestrada do Sul: movimento e paralisação” debruça-se sobre o conto de Julio Florêncio Cortázar, observando as relações entre sombra e persona nos desafios da vida contemporânea e na realização da profunda necessidade de contato em tempos de isolamento e paralisação.

“Anima e animus – amizade e individuação” realiza a análise simbólica de 30 anos de correspondência entre Clarice Lispector e Fernando Sabino e reflete sobre como a amizade entre um homem e uma mulher pode ser propulsora do processo de individuação de ambos.

Seguimos com “Escritas que curam: complexo racial e narrativa memorialista” que analisa o romance “Becos da memória” de Conceição Evaristo, destacando a interligação entre (a) memória individual e a coletiva impactadas pelos efeitos traumáticos decorrentes do aniquilamento das memórias dos afrodescendentes em função do colonialismo. Ao considerar a dimensão simbólico-arquetípica, a autora enfatiza a importância das narrativas memorialistas para a transformação do complexo racial tal como ele se apresenta na cultura brasileira.

“África, o fio: sobre a presença ancestral no inconsciente” aprofunda o sentido de ancestralidade na África de acordo com o filósofo ganense Kwase Wiredu e a noção de “complexo ancestral” em Jung, resultando, nas palavras da autora, numa “comunicação transcultural” entre o pensar tradicional africano e o pensar junguiano.

Finalmente, “O enviado do céu: defesas contra a desidealização” investiga as defesas contra a desidealização da imagem de um filho neuroatípico, trazendo à luz experiências de paternidade atípica e o anseio de negar o patologizar em benefício da transcendência.

O conjunto destes artigos resultou num fascículo sensível às questões contemporâneas que povoam a cultura brasileira e a realidade do trabalho clínico. Esperamos que ele possa capturar o interesse dos nossos leitores para continuarmos no caminho de ampliação do campo de diálogo na psicologia analítica.

Boa Leitura!

Editoras

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