As emergências climáticas e as guerras em curso exibem a crise civilizatória do desenvolvimento pautado na apologia ao consumo, na energia fóssil e na devastação da natureza.
Uma civilização baseada na concentração de renda, desigualdade social, exploração de classe, de cor, de gênero e de etnia, está mostrando-se ameaçadora à sobrevivência da nossa espécie. Faz-se necessário novos paradigmas éticos, econômicos, culturais, psicológicos e sociais. Defendemos soluções criativas, em um funcionamento de alteridade, desenvolvendo uma relação dialética com o ecossistema, respeitando as singularidades, a versatilidade e a multiplicidade contemporâneas, mantendo o compromisso ético com o indivíduo e as suas comunidades.
É com esta proposição que lançamos o terceiro fascículo do volume 41 da Junguiana, trazendo uma seleção de inquietantes textos para nos fazer refletir. Iniciamos com o artigo “Jung na encruzilhada ou lendo Jung a partir de Exu”, que propõe a leitura de aspectos da obra de Jung a partir do orixá Exu e da noção de encruzilhada, entendida como referencial epistemológico para uma ampliação da psicologia analítica. Continuamos com “Cartografias de mulheres no asfalto: diálogos sobre o complexo cultural do machismo” que, em metodologia ensaística, a partir da técnica de imaginação ativa, estabelece um diálogo com um grafite situado em Salvador, Bahia, e analisa o quanto a mudança da imagem grafitada pode também refletir a necessidade de mudança coletiva. Em “Contribuições de animais na clínica: um estudo em psicologia analítica”, as autoras buscam compreender a presença de animais em consultório clínico como colaboradores do processo psicoterapêutico, promovendo alterações do espaço terapêutico, da relação de vínculo entre paciente e terapeuta, criando suporte emocional durante as sessões. “O analista no divã: reflexões sobre a vulnerabilidade narcísica do analista” discute a importância de os analistas refletirem sobre a sua própria vulnerabilidade narcísica, que se revela por meio dos sentimentos contratransferenciais provocados na relação terapêutica. “Da despedida para o viver na ausência: considerações sobre o luto e rituais de despedida a partir de vivências na pandemia” analisa três casos de luto vivenciados na pandemia de covid-19. O artigo reflete como os rituais de despedida disseminados pela cultura e pelas religiões, ou mesmo criados pelo enlutado, podem auxiliar no processo de luto, possibilitando a criação de novos sentidos para a perda vivenciada. “A realidade da alma no pensamento de Léon Bonaventure” integra a pesquisa de 2021 de pós-doutorado “Contribuição à história da psicologia analítica pelo olhar de Léon Bonaventure”, baseada em entrevistas com esse autor e nos seus textos. Finalizamos com o artigo “Correlações simbólicas entre o Bhagavad Gita e o processo de individuação”, que interpreta a guerra entre os guetos dos Pândavas e dos Káuravas como um processo simbólico em função do qual Arjuna, personagem líder dos Pandavas, poderá incorporar em sua psique conteúdos simbolicamente representados e deposi tados nos Káuravas, sejam as características sombrias, defensivas, bem como as criativas ou iluminadas.
Apresentamos nesta edição temas e questões importantes que ganharam ainda mais relevância nesse momento, proporcionando reflexão para novas perspectivas sobre a vida pessoal e profissional com a atenção ao tempo presente, ao que podemos mobilizar nos nossos corações e mentes, ao que podemos efetivamente fazer e transformar por meio da empatia e da ética.
Boa leitura!
As editoras