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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.28 no.1 Rio de Janeiro 2016
SEÇÃO LIVRE
Construir, organizar, transformar: considerações teóricas sobre a transmissão psíquica entre gerações
Construct, organize, transform: theoretical considerations about psychic transmission among generations
Construir, organizar, transformar: consideraciones teóricas sobre la transmisión psíquica entre generaciones
Fabio Scorsolini-CominI; Manoel Antônio dos SantosI
IUniversidade Federal do Triângulo Mineiro UFTM, Minas Gerais, Brasil
RESUMO
O objetivo deste estudo de caráter teórico é apresentar o conceito de transmissão psíquica entre gerações ou transgeracionalidade, discutindo as principais transformações em suas proposições ao longo do tempo. Foram recuperados os apontamentos iniciais da psicanálise a respeito do assunto, com destaque para teóricos franceses como Kaës e Eiguer, além das teorias contemporâneas acerca dos vínculos sociais, como a de Pierre Benghozi. Aborda-se de que modo as heranças familiares são transmitidas de uma geração a outra, mas também modificadas e atualizadas. A conjugalidade e a parentalidade são apresentadas como possibilidade de remalhar os vínculos considerados traumáticos, permitindo a assunção da resiliência familiar, que é a capacidade subjetiva e transubjetiva dos membros do grupo familiar de desconstruir e reconstruir os vínculos de filiação e de superar e sair fortalecidos das circunstâncias adversas. O trabalho da transmissão psíquica ultrapassaria o foco no negativo, tendo que dialogar com os novos arranjos dos laços afiliativos nos relacionamentos interpessoais estabelecidos ao longo do desenvolvimento.
Palavras-chave: transmissão psíquica entre gerações; relações conjugais; parentalidade.
ABSTRACT
This theoretical study aims to present the concept of psychic transmission between generations or transgeracional psychic transmission, discussing the main transformations and its propositions through time. Initial aspects of psychoanalysis referring to the subject were retrieved, especially from French theorists such as René Kaës and Alberto Eiguer, and also some contemporary theories about social bonds, like those of Pierre Benghozi. Not only is it studied how family heritages are transmitted from one generation to the other, but also how they are modified and actualized in the present time. Conjugality, marital relationships and parenting are presented as a possibility of reestablishing initial traumatic bonds, promoting family resilience, which is the subjective and transubjective capacity of its members to loosen and constitute their new bonds, and to face, overcome, and even be strengthened by the adversities of life. The work of psychic transmission between generations exceeds the focus on the negative, having to engage with new arrangements of affiliative bonds in interpersonal relationships established during development.
Keywords: psychic transmission between generations; conjugal relations; parenting.
RESUMEN
El objetivo de este estudio teórico es presentar el concepto de la transmisión psíquica entre generaciones o transgeneracionalidad, discutiendo las principales transformaciones en sus proposiciones a lo largo del tiempo. Las puntuaciones iniciales del psicoanálisis al respecto del tema fueron recuperadas, especialmente los teóricos franceses como Kaës e Eiguer, además de las teorías contemporáneas a cerca de los vínculos sociales, como la de Pierre Benghozi. Se aborda de qué modo las herencias familiares son transmitidas de una generación a otra, sino que también se modifican y actualizan. La relación conyugal y el parentesco son presentados como posibilidad de reestructurar los vínculos traumáticos, lo que permite la asunción de la resiliencia familiar, que podríamos definir como la capacidad de los miembros del grupo familiar para deconstruir y reconstruir los vínculos de afiliación y para salir fortalecidos de las circunstancias adversas. El trabajo de la transmisión psíquica excede el enfoque en lo negativo, y tiene que comprometerse con las nuevas disposiciones de los vínculos de afiliación en las relaciones interpersonales establecidas a lo largo del desarrollo.
Palabras clave: transmisión psíquica entre generaciones; relación conyugal; parentesco.
No discurso contemporâneo, a família tem sido cada vez mais evocada como instituição responsável pela transmissão de crenças, valores e aprendizados e pela construção de uma cultura capaz de inserir o indivíduo em uma determinada sociedade, com seus costumes e modos de relacionamento. Em uma perspectiva microssocial, a família seria a responsável pelo cuidado, pelas primeiras relações interpessoais e pela construção da afetividade e do amadurecimento emocional. Assim, a família se afigura, ao mesmo tempo, como um construto com diferentes propósitos, tornando o seu estudo não apenas complexo, mas também relevante do ponto de vista do desenvolvimento humano. Além disso, na contemporaneidade, trata-se de uma instituição cada vez mais permeada pela diversidade, o que pode ser observado no contexto brasileiro, no qual a chamada família tradicional gradualmente vem cedendo espaço para novos arranjos criados em função de diversas transformações (Wagner, Tronco, & Armani, 2011), como a redução no número de filhos, a maior participação da mulher no mercado de trabalho, a assunção de casais de dupla carreira, além do reconhecimento dos direitos civis das chamadas "minorias sexuais", como a união civil e o casamento entre pessoas do mesmo sexo (Meletti & Scorsolini-Comin, 2015) e os desafios da homoparentalidade (Lira, Morais, & Boris, 2015; Santos, Scorsolini-Comin, & Santos, 2013).
Em meio a esse movimento de ruptura com posicionamentos mais clássicos acerca da família (composta por pai, mãe e filhos), um conceito tem se mostrado valioso para a investigação, permitindo atravessar a pluralidade de arranjos existentes: a transmissão psíquica entre gerações. A transmissão considera que a identidade do indivíduo se estabelece a partir do legado familiar, que define de que modo ele irá se posicionar na família e como irá lidar com a sua história pré-existente (André-Fustier & Aubertel, 1998; Azevedo, Féres-Carneiro, & Lins, 2015; Falcke & Wagner, 2003; Valdanha, Scorsolini-Comin, & Santos, 2013; Ziviani, Féres-Carneiro, Scorsolini-Comin, & Santos, 2015).
O objetivo deste estudo teórico é apresentar o conceito de transmissão psíquica entre gerações ou transgeracionalidade, discutindo as principais transformações em suas proposições ao longo do tempo. Para tanto, serão recuperados os apontamentos iniciais da psicanálise a respeito dessa noção, além das teorias contemporâneas acerca dos vínculos sociais. Será abordado de que modo as heranças familiares são transmitidas de uma geração a outra, mas também modificadas, atualizadas e reconfiguradas, proporcionando não apenas a transmissão pelo negativo, como abordado nas perspectivas mais clássicas, mas também pelo trabalho de renovação desses vínculos em estágios posteriores do desenvolvimento e a possibilidade de assunção da resiliência familiar (Benghozi, 2010).
Ponto de partida: família e gerações
O interesse pela temática não diz respeito apenas a uma tentativa de construir um conceito de família compatível com a diversidade de arranjos encontrados atualmente em nossa sociedade, imersa em novas configurações e em novos arranjos, que desafiam pesquisadores a olharem a organização familiar com cautela e disposição para apreciar a diversidade. Falar dessa temática é tratar do modo como o ser humano foi se constituindo ao longo das diferentes gerações, amparados pelos dispositivos sociais, culturais e legais. No presente estudo, pontuamos que a geração refere-se a uma expressão coletiva e também é reflexo de estágios de mudança no desenvolvimento da personalidade, no comportamento, no sistema de crenças e valores compartilhados por um grupo de diferentes idades, em um dado período de tempo (Guardo, 1982). Pesquisadores como Velho (2009) e Duarte (2009), ao investigarem as transições de geração, têm se dedicado a compreender o que pode haver de comum e o que difere entre uma geração e outra no que se refere a ações que visam a objetivos e metas, bem como a valores e autopercepções de individualidade e subjetividade. Esses autores salientam que não se tem encontrado uma homogeneidade, notadamente no universo jovem contemporâneo, o que nos coloca diante da necessidade de compreender não apenas os processos de permanência, mas também de rupturas e transformações.
Pensando no legado transmitido de uma geração a outra e nos vínculos que as ligam, na Grécia antiga o filósofo Epicuro (2008, p. 29), em carta a Meneceu, afirmava que o futuro não "é completamente nosso, nem completamente não nosso, de modo a não o esperarmos como devendo necessariamente existir e a não desesperarmos como se devesse absolutamente não existir". Posto isso, compreende-se que a ideia de uma próxima geração mobilizaria não apenas a ansiedade (por isso não deveríamos nos desesperar), como também a certeza de construção de um sentido que ligaria avós, pais e filhos, em todas as culturas nas quais a geração recebesse esta tratativa.
Na visão histórico-sociológica de Zeldin (2009), a (incerta) relação entre pais e filhos sofreu a influência direta do cristianismo, pressionando os filhos a honrarem os pais, mas convidando-os a adorar a Deus como seu pai e a abandonar o mau exemplo dos pais naturais. Foi a partir do século XVI que os pais tentaram substituir sua autoridade perdida pela conquista do afeto dos filhos. Na contemporaneidade, muitos pais e mães, na tentativa de apoiar seus filhos e filhas, em uma visão que alguns autores consideram excessivamente psicologizada, conseguem apenas infantilizar e alongar a adolescência, tanto em um adiantamento da entrada no mundo adulto como em uma atitude que ainda não contempla o real significado da compreensão, do amor e do diálogo, o que não significa, evidentemente, acobertar desvios de conduta, superprotegê-los ou impedi-los de desenvolver a autocrítica.
Para além desse cenário, a contemporaneidade tem marcado a assunção de relações cada vez mais paradoxais, em que pais se questionam a respeito de suas práticas, temem estar sendo inadequados, buscam ajuda para educar e cuidar dos filhos e, ao mesmo, não mais se afligem ou se cobram para representarem exemplos a serem rigidamente seguidos o que se aplica, fundamentalmente, à relação conjugal, como será discutido a seguir.
Transmissão psíquica e conjugalidade dos pais
Para Duarte (2009, p. 18), entre as tensões e contradições existentes na vida privada contemporânea, destaca-se o declínio das formas convencionais de conjugalidade e da reprodução, ao mesmo tempo que se busca um "reforço das mesmas éticas conjugais, familiares e reprodutivas mais convencionais ou estritas". Segundo Torres (2004), tal dificuldade tem se dado, também, pelo fato de a conjugalidade estar sendo mesclada à parentalidade.
É o bem-estar afetivo das crianças que tende a estar no centro da vida familiar, perdendo simultaneamente relevo a dimensão estatutária da parentalidade. Identificar especificamente essa dimensão envolvida na conjugalidade e distingui-la da dimensão amorosa justifica-se ainda porque se verifica que maternidade, paternidade e relação conjugal e amorosa envolvem sentimentos em jogo na conjugalidade e que entram em "concorrência", por vezes, no decurso do casamento (Torres, 2004, p. 410-411).
Para Ziviani, Féres-Carneiro e Magalhães (2012), a conjugalidade dos filhos e filhas, ao mesmo tempo que reedita o romance familiar dos pais e mães, propicia a elaboração das vivências infantis. O encontro com o parceiro gera a oportunidade de metabolização e de desenvolvimento dos cônjuges, entrelaçando passado e presente em um projeto que pressupõe uma perspectiva de futuro a dois. Desde o momento da concepção, o sujeito está marcado pelo olhar dos pais, pelos seus ideais e pelos mitos familiares que se inscrevem e estruturam o desenvolvimento dos filhos desde as primeiras vinculações. Desse modo, a família teria um papel fundamental como intermediária no processo de transmissão de valores, significados e percepções, realçando as possibilidades de transformação inerentes ao ato de transmitir, permitindo a construção da subjetivação (Magalhães & Féres-Carneiro, 2007).
Nessa direção, tem-se destacado a influência do contexto familiar no desenvolvimento psicológico na vida adulta. Algumas pesquisas têm buscado compreender o lugar ocupado pelo casamento dos pais nos projetos de vida dos filhos e filhas. Esse lugar estaria fundamentalmente relacionado à forma como os jovens se apropriariam de sua herança familiar e com o modo como significariam os aspectos da conjugalidade dos pais que os influenciam (Féres-Carneiro, Magalhães, & Ziviani, 2006; Magalhães & Féres-Carneiro, 2007; Scorsolini-Comin, 2012; Scorsolini-Comin, Fontaine, & Santos, 2015; Ziviani et al., 2015). Sendo assim, a partir das contribuições da Psicanálise, pode-se compreender que o vínculo amoroso remonta à vinculação inicial com as figuras de referência (Ziviani, Féres-Carneiro, & Magalhães, 2012). Como destacado por Ruiz Correa (2003, p. 35-36), o
vínculo mãe-bebê e o grupo familiar constituem o berço psíquico do sujeito, constituído por uma tecelagem psíquica grupal que atravessa outras gerações. Os processos de transmissão solicitam um importante trabalho psíquico no qual participam mecanismos de identificação junto a uma série de projeções-introjeções. Sua problemática atravessa e opera sobre o recalque e a culpa, envolvendo diversas categorias de interdição.
Para discutirmos tanto sobre as escolhas afetivas como sobre os relacionamentos na fase adulta, é importante nos remetermos ao modo como esses afetos foram experienciados desde o início do desenvolvimento. Para Freud (1914/1973), essa transmissão seria de natureza filogenética e possibilitaria um sentido de continuidade na vida psíquica entre as gerações. Essa noção tangencia duas de suas obras seminais: "Totem e tabu" (1913/1975) e "Introdução ao narcisismo" (1914/1973), nas quais o autor aborda a transmissão pela autoridade patriarcal e social, bem como a continuidade da vida psíquica entre as gerações e os diversos mecanismos de identificação, em princípio associados ao sintoma.
A transmissão psíquica é um conceito que permeia a conjugalidade entre as gerações e contribui para compreendermos de que modo a conjugalidade dos pais pode influenciar vivências afetivas dos filhos e filhas. A transmissão vem sendo resgatada pela Psicanálise na contemporaneidade, com atenção especial à psicopatologia da transmissão e àquilo que permanece oculto, àquilo que não pode ser transformado no encontro intergeracional (Ruiz Correa, 2000), relacionando-se a manifestações de doenças como depressão e ansiedade nas gerações subsequentes (Hammen, Brennan, & Le Brocque, 2011; Lisboa & Féres-Carneiro, 2015; Valdanha et al., 2013).
Transmissão psíquica no discurso psicanalítico
A partir da Psicanálise, o problema transgeracional tem sido definido como a transmissão do inconsciente, de suas formações e de seus processos. Para além de uma leitura dos clássicos textos de Freud, alguns estudos levaram à formulação de uma teoria vincular e das identificações da perspectiva psicanalítica da família, cujos principais expoentes contemporâneos são as argentinas Puget, Lamovsky e Brengio e os franceses Kaës, Eiguer, Rufiot e Benghozi. Neste estudo, priorizaremos a matriz francesa acerca da transmissão.
A posição freudiana da transmissão é uma concepção marcada pelo princípio evolucionista, haja vista que Freud se interessava, essencialmente, pela continuidade da transmissão e, em segundo lugar, pelas rupturas desse processo, tal como afirma Kaës (2005, p. 127): "O que interessa é a compreensão da trama diacrônica e sincrônica, na qual o indivíduo singular é mantido". Segundo Kaës (2005), as proposições de Freud sobre a transmissão seriam especulações e observações empíricas que permaneceram por muito tempo sem comprovação, recebendo incrementos a partir da renovação dos dispositivos do trabalho psicanalítico, por exemplo, com a introdução da categoria do Negativo, do irrepresentável e do intransmissível.
Aquilo que se transmite são essencialmente configurações de objetos psíquicos, isto é, objetos munidos de seus vínculos com aqueles que precedem cada sujeito. Aquilo que se transmite e que constitui a pré-história do sujeito, não é apenas o que sustenta e garante, pelo positivo, as continuidades narcísicas e objetais, a manutenção dos vínculos intersubjetivos, as formas e os processos de conservação e complexidade da vida: ideais, mecanismos de defesa neuróticos, identificações, pensamentos de certezas. Um aspecto notável dessas configurações de objeto de transmissão é que elas são marcadas pelo negativo. Aquilo que se transmite é o que não pode ser contido, retido, aquilo que não é lembrado, o que não encontra inscrição na psique dos pais e vem depositar-se ou enquistar-se na psique de uma criança: a falta, a doença, o crime, os objetos desaparecidos sem traço nem memória, para os quais um trabalho de luto não pode ser realizado (Kaës, 2005, p. 128).
Desse modo, a transmissão na Psicanálise é carregada pelo viés da negatividade, ou seja, os estudos destacam a polaridade negativa da transmissão, aquilo que é oculto, que deve ser escondido e não elaborado, ou seja, transmite-se preferencialmente o que "não" contém, o que "não retém, o que "não" se lembra (Kaës, 1998). Esse posicionamento também é partilhado por Benghozi (2010), segundo o qual a transmissão do negativo se dá a partir daquilo que não é simbolizado nem metabolizado de uma geração a outra, podendo ser expresso por meio de sintomas. O impensável, inominável, indizível e o inconfessável familiar seriam indutores da transmissão transgeracional do negativo. No entanto, pela leitura de Gomes (2006), transmitir-se-iam também aspectos positivos e adaptativos, como os que amparam e asseguram as continuidades narcísicas, a manutenção dos vínculos intersubjetivos, a tendência à conservação e à preservação das formas de vida, entre outros aspectos transformadores, criativos e de proteção do psiquismo.
Para Ruiz Correa (2003, p. 42), a transmissão ocorreria de duas maneiras: (a) pelas imagens psíquicas originadas na vida libidinal do sujeito e alimentadas pelas experiências dolorosas dos pais ou ascendentes; (b) por meio da censura e dos segredos não traumáticos inicialmente, mas que assim se tornam pela confluência de diversas situações. Por esse prisma, as vivências positivas, adaptativas e consideradas amadurecidas teriam menor espaço junto às discussões da transmissão psíquica, que reservariam espaço para aspectos traumáticos e de difícil acesso em nosso psiquismo. Tal processo, ainda de acordo com Ruiz Correa, solicitaria um trabalho psíquico inconsciente constante e obrigatório, envolvendo elaboração e transformação. No entanto, pode ocorrer tanto a transmissão (de aspectos positivos e/ou negativos) quanto a interrupção dos mesmos.
Na vertente francesa, Kaës (1998) destaca que as representações entre as gerações também têm a função de organizar a escolha de objeto dos parceiros, o que se relaciona ao tipo de família que se deseja fundar e à educação mais alinhada ao ideal familiar. Para esse autor, orientado por uma concepção de inconsciente compartilhado (psiquismo familiar), todo grupo humano no qual incluímos a família resulta de uma tópica subjetiva, projetada pelos próprios membros.
Além da transmissão intrapsíquica abordada por Freud, Kaës (1993) denomina de transmissão intersubjetiva aquela que se origina na família como grupo e, portanto, que precede o sujeito que dela fará parte. Esse tipo de transmissão "possibilita ao recém-nascido organizar seu mundo interno, fornecendo-lhe as condições de apreensão do mundo externo" (Bucher-Maluschke, 2008, p. 92).
Na visão de Kaës (2001), a transmissão ocorreria de uma geração a outra (intergeracional) a partir de um espaço no qual são realizadas as vivências psíquicas do grupo familiar, no qual a história familiar é constituída e são criados os mitos que passam para as gerações posteriores. Outro tipo de transmissão trazida por Kaës é a transpsíquica, que se dá a partir dos psiquismos dos outros membros da família, ou seja, dá-se fora do sujeito. É esse tipo de transmissão que possibilitaria a construção de um vínculo familiar, no qual estaria inserida sua vertente narcisista (Bucher-Maluschke, 2008).
Kaës (2005) exemplifica as suas conclusões acerca da transmissão a partir do relato de uma paciente, Céline, que recebera um anel de sua avó em segredo, devendo guardá-lo sem contar para a sua mãe. Com o falecimento da avó, Céline ficou em pânico com a ideia de revelar o segredo para a mãe, pesando sobre ela uma grande culpa tanto pelo laço secreto com a avó como pela exclusão da mãe dessa aliança. Após a revelação de sua pré-história, em um processo de análise, Céline descobriu que sua mãe não desejava o seu nascimento e que tentara abortá-la, dando-a de presente para a avó cuidar, posteriormente. O anel adquirira o valor de um objeto transgeracional perverso, desviando Céline de sua filiação materna e a mãe de sua maternidade. É nesse sentido que Kaës vai compreender que o objeto de pesquisa ou de investigação não é mais, apenas,
[...] a continuidade da vida psíquica, mas as rupturas, as falhas, os hiatos não pensados e impensáveis, o nivelamento dos objetos de pensamento, os efeitos da pulsão de morte. São essas configurações de objetos e de seus vínculos intersubjetivos que são transportados, projetados, depositados, difratados nos outros, em mais de um outro: formam a matéria e o processo da transmissão (Kaës, 2005, p. 129).
Nesse processo, Kaës (2005) reconhece a importância das identificações e das alianças inconscientes. Identificar-se com o objeto do desejo e com a fantasia inconsciente do outro seria uma passagem obrigatória para se ter um lugar nos vínculos entre gerações, uma vez que as identificações seriam a matéria prima do vínculo. A aliança ou acordo inconsciente seria imposto ou mutuamente concluído "para que o vínculo se organize e se mantenha em sua complementaridade de interesses, para que seja assegurada a continuidade dos investimentos e dos benefícios ligados à subsistência da função dos ideais, do contrato ou do pacto narcísico" (Kaës, 2005, p. 132).
Kaës (2005) ainda distingue duas modalidades de transmissão psíquica: a transmissão sem transformação ou transmissão-repetição e a transmissão transicional e fantasias de transição. Na primeira modalidade, destacam-se os materiais não elaborados e não transformados que são transmitidos de uma geração a outra, ressaltando o papel da falta escondida, do segredo inconfessável, da não-simbolização e dos lutos que não foram elaborados e que deveriam se repetir na geração seguinte. A transmissão-repetição destaca, portanto, os vínculos neuróticos, traumas e segredos que não podem ser revelados. Já a segunda modalidade é exemplificada por Kaës no caso de um atendimento clínico no qual a fantasia da transmissão permitiu ao paciente deslocar, defensivamente, para o lado da geração dos pais ou dos avós, a causa de seu sofrimento, sendo a fantasia de transmissão "uma defesa contra a angústia de tornar-se um Eu" (Kaës, 2005, p. 136). Em suma, tem-se que na primeira modalidade a transmissão é direta, passando sem transformação de um sujeito para o outro ou mais de um outro, podendo também ser chamada de traumática, "porque, não transformada, consagra-se à repetição do mesmo através das gerações ou entre contemporâneos. A repetição do mesmo é a dos objetos psíquicos não tratados, na geração precedente" (Kaës, 2005, p. 136). No segundo caso, a transicionalidade permite que as histórias do sujeito, que ele recebe sem saber, sejam por ele reinventadas, encontradas e criadas, permitindo que ele anuncie as coisas transmitidas e as representações da transmissão, ainda que em uma posição de defesa.
Na perspectiva de outro expoente da psicanálise francesa, Eiguer (1995), a vida familiar poderia ser compreendida a partir de três organizadores responsáveis pela estruturação da vida psíquica: a escolha do objeto (ou a escolha do parceiro), o eu familiar (ou o si familial) e os fantasmas partilhados (ou interfantasmatização). O primeiro organizador atua no momento da escolha do parceiro, que é feita a partir do modelo identificatório de cada um, o que remontaria à construção das primeiras vinculações na infância. Desse modo, a família deve preparar o indivíduo para o investimento em outro vínculo a partir daquele estabelecido originalmente com o casal parental (Lisboa & Féres-Carneiro, 2015). O segundo organizador (eu familiar) é um investimento libidinal de cada membro da família, constituindo o que se denomina mundo familiar, que corresponde aos sentimentos de pertença ao grupo que permitem compreendê-lo como uma continuidade, definindo o que pode e o que não pode fazer parte desse domínio. Por fim, o terceiro organizador refere-se à interfantasmatização, que destaca o desenvolvimento de um espaço transicional de intercâmbios, humor, criatividade e de relatos de histórias pessoais e de seus ancestrais, retomando o papel das fantasias (do pai, da mãe, da linhagem, da comunidade) no processo de construção das identificações no campo da intersubjetividade (Eiguer, 1985; Lisboa & Féres-Carneiro, 2015; Magalhães & Féres-Carneiro, 2004; Valdanha et al., 2013).
A transmissão psíquica na psicanálise dos vínculos sociais
Pierre Benghozi (2010) é outro autor central na discussão acerca da transmissão psíquica entre gerações, em sua abordagem conhecida como psicanálise dos vínculos sociais. O autor também faz uso da distinção entre transmissão intergeracional e transmissão transgeracional. Na primeira modalidade, o patrimônio psíquico familiar seria recebido por uma geração, memorizado, historicizado, transformado, elaborado e transmitido à nova geração. Já na segunda modalidade, o material psíquico familiar seria transmitido em estado bruto, sem ter sido transformado ou metabolizado. Para esse autor, o Vínculo é considerado a base da transmissão psíquica e, para explicar como ocorre esse processo de uma geração a outra, emprega a metáfora de uma rede. Nesta, a malhagem seria a disposição dos Vínculos e seria constituída por um conjunto que liga vínculos de filiação e de afiliação. A malhagem seria, portanto, um conjunto de malhas que definiriam um continente psíquico, retomando as considerações de Bion sobre a relação continente-conteúdo.
A malhagem é o trabalho psíquico de construção-desconstrução e de organização dos Vínculos. Os vínculos de filiação remontam aos ascendentes e conduzem aos descendentes, uma vez que correspondem aos vínculos grupais de pertencimento. Segundo Benghozi (2010, p. 17), o "Vínculo de filiação é uma construção psíquica apoiada na base do real biológico de filiação". Já o Vínculo de afiliação diz respeito ao "Vínculo de aliança conjugal, assim como qualquer Vínculo que determine o pertencimento a um grupo, uma instituição, uma comunidade... O Vínculo social é psíquico de afiliação apoiado na realidade sociológica de inserção no espaço grupal social" (Benghozi, 2010, p. 17). A aliança conjugal permite gerir os buracos e rasgos dos continentes grupais genealógicos que são, também, uma expressão de falhas na organização dos vínculos de filiação e de afiliação.
O que deve ser destacado na tese de Benghozi (2010) é a possibilidade sempre aberta de que ocorra a remalhagem, ou seja, a reconstrução da rede de Vínculos de filiação e de afiliação, que poderiam se dar por meio do conceito de resiliência familiar:
Em especial, as rupturas do vínculo filiativo podem sempre ser remalhadas pelo vínculo afiliativo. A malha poderá ser restabelecida por uma malhagem afiliativa [...] Defino a resiliência familiar como a capacidade familiar de malhagem dos vínculos psíquicos. Em outras palavras, a resiliência familiar é a capacidade subjetiva e transubjetiva dos membros do grupo familiar para desmalhar e remalhar, para desconstruir e reconstruir o vínculo de filiação e de afiliação. A resiliência familiar permite a manutenção da identidade do corpo psíquico familiar, apesar do rasgo, quando os continentes genealógicos são rompidos (Benghozi, 2010, p. 20).
O que nos interessa particularmente a respeito nas proposições de Benghozi (1999) é o papel que ele confere aos Vínculos de afiliação, nos quais situamos a conjugalidade. O pacto de aliança conjugal, para esse autor, traduz a criação de novos vínculos não no interior de um continente, mas entre continentes diferentes entre um companheiro e outro(a), o que chamamos de remalhagem intercontinente. Este pacto de aliança conjugal possibilitaria a remalhagem dos continentes das duas famílias de origem dos/das dois/duas parceiros(as). É neste ponto que Benghozi (2010) retoma as contribuições de Kaës de que os vínculos de filiação podem ser tratados pelo vínculo de afiliação:
Isso é essencial, pois abre horizontes novos a situações como as rupturas do vínculo de filiação que pareciam irreparáveis. Assim, filiativo e afiliativo são repensados em termos de dinâmica de malhagem, desmalhagem e remalhagem, não como vínculos radicalmente dissociados, mas como vínculos suscetíveis a serem interconectados, para formar um espaço psíquico novo, o da malha. Um trabalho de reconstrução psíquica será sempre possível além dos impasses estruturais (Benghozi, 2010, p. 38).
Outro destaque à obra de Benghozi (2005) é a possibilidade de transformação dos vínculos afetivos a partir do trabalho psíquico de remalhagem e desmalhagem. O continente grupal familiar seria uma malhagem de vínculos de filiação e de afiliação que poderiam se transformar e se reconfigurar constantemente, gerando novos arranjos e entrelaçamentos. Nesse ponto, Benghozi (2010) enfatiza que o vínculo afiliativo parece estar cada vez mais tomando o lugar do vínculo filiativo, ou seja, que a transmissão psíquica não deveria ser olhada tanto a partir dos vínculos de filiação pais e filhos(as), mães e filhos(as), mas também a partir dos laços conjugais estabelecidos e das transformações a partir das instituições das quais fazemos parte no espaço social. É nesse sentido que o papel da conjugalidade na transformação do vínculo será abordado a seguir.
O papel da conjugalidade na transformação do vínculo
A partir da perspectiva benghoziana, a família não se resumiria às heranças transmitidas ao nascer, mas incluiria os processos de transformação dessa malha inicial. O continente grupal familiar estaria sempre aberto a novas configurações, podendo se aliar a outros continentes grupais familiares, por exemplo, quando houvesse a união entre duas pessoas na conjugalidade. A transformação psíquica em Benghozi (2010), amparada nos pressupostos bionianos, seria uma
[...] capacidade dos continentes genealógicos grupais familiares de elaboração, no nível sincrônico, dos elementos familiares, das sensações, percepções, dos afetos sentidos pelos membros da família, mas também, no nível diacrônico, de transformação do material psíquico transmitido em nível genealógico inter e transgeracional (Benghozi, 2010, p. 233).
Pode-se dizer que a construção do laço de aliança conjugal (casamento, conjugalidade) é uma forma de remalhagem recíproca dos continentes familiares das famílias de origem de cada cônjuge (Benghozi, 2010). Utilizado a metáfora de uma malha composta por laços de filiação e de afiliação, o laço afiliativo, representado pelo casamento, pode proporcionar uma "abertura do continente genealógico secundário para uma dor do laço de filiação" (Benghozi, 2005, p. 103). Na intervenção clínica delineada por Benghozi, esta possibilidade de transformação é chamada de malhagem afiliativa terapêutica, ligada à ideia de resiliência familiar. Assim, a "teoria da malhagem genealógica abre perspectivas de recursos evolutivos constantes em situações em que outros poderiam se decidir pela fatalidade de um destino inexorável" (Benghozi, 2005, p. 104), em contraposição a uma leitura determinista das vinculações existentes a partir do exercício da parentalidade.
A partir da leitura desse autor, pode-se destacar que, assim como a transmissão psíquica não pode ser "barrada", pois ocorre em nível grupal inconsciente, também as possibilidades de reconfiguração desses vínculos transmitidos não podem ser desconsideradas. Isso fica claro na proposição que encerra uma de suas obras: "Porque é claro que, se as famílias não podem deixar de transmitir, elas não podem também não se trans-formar e, sem dúvida, nos trans-formar!" (Benghozi, 2010, p. 258). É lícito pensar, nesse sentido, que a percepção dos filhos sobre a conjugalidade dos pais poderia se transformar ao longo do tempo, a partir das remalhagens e desmalhagens possibilitadas pelos laços de afiliação, como no caso da aliança conjugal. A experiência da própria conjugalidade seria, desse modo, potencializadora de transformações nos laços de filiação relacionados à conjugalidade dos pais. A transformação não seria na conjugalidade dos pais propriamente dita, uma vez que os filhos não poderiam modificá-la, mas na percepção dos filhos acerca dessa experiência conjugal, possibilitada pelo próprio encontro com um parceiro amoroso (Scorsolini-Comin, Fontaine, & Santos, 2015).
A partir dessas considerações, pode-se concluir que, no trabalho de transmissão psíquica, a família é de grande importância, uma vez que constitui um espaço psíquico comum (intersubjetividade) "que possibilita a passagem da transmissão psíquica entre as gerações através de diversas modalidades" (Ruiz Correa, 2003, p. 39). Nesse sentido, é fundamental que os ciclos familiares, nascimentos, separações, adoecimentos (Valdanha et al., 2013), mortes e enlaces (Scorsolini-Comin, 2012) sejam incorporados à análise, a fim de que compreendamos como ocorre o movimento de passagem, elaboração e possível transformação do que precisa ser transmitido.
Assim como a família e o casal, o sujeito tem como tarefa "construir, organizar e transformar suas heranças psíquicas, elaborando-as" (Ziviani et al., 2006, p. 253). Para Bertin e Passos (2003), com o nascimento dos filhos, o casal estrutura um grupo familiar, responsável pela escritura dos enredos que serão protagonizados pelas gerações que os sucederem. O desenvolvimento desses enredos pressupõe os investimentos recíprocos dos membros do grupo que continuarão a existir enquanto a criança prover suas expectativas de continuidade. Assim, pertencer a uma família, ou seja, ser considerado suporte de um discurso, oferece ao aparelho psíquico em vias de formação um alicerce, uma verdade inicial que sustenta o ingresso do sujeito na história. Esta, por sua vez, gera a vivência de ser amado e reconhecido e de ocupar um lugar em um mundo que o precede e o espera.
Na construção de uma nova família, Almeida (2010, p. 98) destaca o cruzamento das genealogias paterna e materna, cruzando-se tanto identificações como contraidentificações, a "confluência traumática entre as linhagens, a delegação de posições, o entrelaçamento entre representações e afetos e os gradientes diferenciais de amor e ódio". Nesse sentido, a conjugalidade e a configuração dessa família seriam escritas pelo amor e pelo ódio, que poderiam alcançar uma maior magnitude a depender das forças de identificação e contraidentificação. Tanto o que é aceito e espelhado como o que é negado e escamoteado acabam configurando a família, uma vez que não é possível controlar aquilo que se transmite. Quando o ódio e a contraidentificação predominam sobre o amor e a identificação estruturante, como afirma Almeida (2010), a flexibilidade dos membros da família tende a se restringir ao lidar com as suas heranças. Assim, quão menos traumática é a vinculação familiar ou quão menor é a contraidentificação com a figura parental, mais amadurecido se torna o processo de transmissão, uma vez que o sujeito pode se identificar com o seu pai ou a sua mãe e amadurecer seus aspectos psíquicos.
Bertin e Passos (2003) concluem que, no trabalho de transmissão psíquica na linha de sucessão das gerações, cada família transfere sua forma de entender e apreender o mundo externo, assim como de organizar o mundo interno. No que tange ao mundo interno do sujeito é preciso considerar também uma dimensão intragrupal, atual, e uma dimensão histórica constituída a partir de sucessivas gerações. Para Loriedo e Strom (2002), a relação de casal teria o valor de produzir profundas e necessárias modificações nas pessoas, notadamente porque permite a experiência nova de ingressar na família de origem do parceiro, ou seja, a transmissão levaria em consideração não apenas a história de uma única família, mas de duas. Cada parceiro traria em seu psiquismo heranças que, se não elaboradas, repetir-se-iam nas próximas gerações.
Assim, tais elementos da transmissão estariam ligados aos vínculos estabelecidos entre o casal e atravessariam o nascimento, crescimento e desenvolvimento dos filhos e filhas, podendo incidir, também, sobre o modo como esses filhos e filhas se vinculariam na vida adulta, elaborando ou não essas heranças ou materiais psíquicos inconscientes. Amparados nessa consideração é que muitos estudos, tanto de fundamentação psicanalítica (que têm por base o modelo de inconsciente) como de abordagem desenvolvimentista (com foco no papel socializador da família, do ambiente e da cultura), propõem que a percepção dos filhos e filhas sobre a vinculação dos pais (por exemplo, no vínculo conjugal) estaria relacionada ao modo como esses filhos desenvolveriam e experienciariam sua própria afetividade na vida adulta (Ziviani, Féres-Carneiro, & Magalhães, 2012; Ziviani et al., 2015).
Considerações finais
A partir do percurso teórico apresentado neste estudo, podemos concluir que a transmissão psíquica entre gerações compõe um elemento fundamental na compreensão da dinâmica familiar. Destaca-se que a concepção teórica de resiliência familiar proposta por Benghozi constitui uma possibilidade de leitura menos hermética e mais voltada para as transformações da sociedade e dos vínculos em função das mudanças macrossociais. Desse modo, o conceito de família deve ser apreendido no entrelaçamento da vida privada com o mundo externo e com as diversas experiências pelas quais as pessoas passam ao longo do ciclo vital.
A vivência da conjugalidade e da parentalidade, para além de evocar os fantasmas da transmissão e os aspectos escamoteados, segredos e conflitos não elaborados, podem funcionar como uma releitura do vínculo e como possibilidade de ressignificação de experiências consideradas traumáticas e disfuncionais. Embora nem sempre a conjugalidade e a parentalidade possam oferecer modelos mais adaptativos e vinculações consideradas mais protetivas de uma geração para outra, a potencialidade desses eventos para a transformação deve ser pontuada na clínica psicanalítica do vínculo social, oferecendo modelos que conduzam à resiliência e ao bem-estar na instituição familiar. Assim, o trabalho da transmissão psíquica ultrapassaria o negativo, tendo que dialogar com os novos arranjos dos laços afiliativos nos relacionamentos interpessoais estabelecidos ao longo do desenvolvimento.
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Nota
1 Este artigo é derivado da tese de doutorado do primeiro autor, defendida junto ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Este estudo foi subvencionado pelo Programa Santander de Bolsas de Mobilidade Internacional e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Recebido em 08 de setembro de 2014
Aceito para publicação em 12 de outubro de 2015