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Psicologia Clínica

versión impresa ISSN 0103-5665versión On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.32 no.1 Rio de Janeiro enero/abr. 2020

https://doi.org/10.33208/PC1980-5438v0032n01Edt 

EDITORIAL

 

 

O número 32.1 da revista Psicologia Clínica compreende duas seções. A seção temática aborda a "Clínica da criança" e reúne sete artigos, enquanto a seção livre traz outros dois.

O primeiro artigo da seção temática, Cuidado a crianças e suas famílias e queixas de agressividade: um estudo de caso clínico, da autora Vania Bustamante (Universidade Federal da Bahia - UFBA, Salvador), aborda o cuidado em saúde mental oferecido a crianças com queixas de agressividade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, envolvendo uma criança e sua família atendidas durante alguns meses no projeto "Brincando em Família". Os resultados revelam as expressões agressivas como parte de um processo de amadurecimento emocional, que leva à possibilidade da construção de uma relação de confiança. A inclusão da família propicia avanços na compreensão das necessidades emocionais da criança e no respeito às diferenças entre elas, fortalecendo a autonomia das famílias e indo assim na contramão da medicalização.

O artigo seguinte, Mudanças na capacidade de mentalização na psicoterapia psicodinâmica de crianças, dos autores Cibele Carvalho (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, São Leopoldo, RS), Sonia Liane Reichert Rovinski (Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, e Projecto Soluções em Psicologia, Porto Alegre), Guilherme Pacheco Fiorini (Unisinos, São Leopoldo, RS) e Vera Regina Röhnelt Ramires (Unisinos, São Leopoldo, RS), tem como objetivo analisar possíveis mudanças no funcionamento psíquico global e na capacidade de mentalização na psicoterapia psicodinâmica de crianças, de acordo com o Método de Rorschach. Foi realizado um estudo descritivo e longitudinal baseado no procedimento de Estudo de Caso Sistemático, com a participação de três crianças em idade escolar, as quais apresentaram deficit na capacidade de mentalização no início do tratamento, associado a prejuízos no funcionamento psíquico global. Ao final da psicoterapia, foram observadas mudanças na mentalização, em forma de avanços e retrocessos. O Método de Rorschach provou ser eficaz nesta investigação.

O terceiro artigo dessa seção, Os efeitos de subjetivação produzidos na experiência da refeição compartilhada nos grupos terapêuticos do CPPL, da autora Maysa Marianne Silva Bezerra (Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Recife), busca analisar o dispositivo de refeições nos grupos terapêuticos do CPPL como produtor de efeitos de subjetivação, em vista do sentido social e clínico em seu formato. Como referência, o lugar do comer juntos na história, em especial no período da Grécia antiga, é comparado com a forma pela qual o elemento da comida se manifesta no campo da saúde mental, no cotidiano dos hospitais psiquiátricos, a exemplo do Colônia, em Barbacena. A partir das contribuições de Freud e Winnicott, investigam-se as transformações no psiquismo nesse espaço para compor todos os aportes dos autores das distintas áreas de conhecimento na apresentação final de um recorte clínico.

O próximo artigo, Leitura materna sobre depressão pós-parto e sintomas psicofuncionais: um caso de psicoterapia mãe-bebê, das autoras Elisa Cardoso Azevedo, Giana Bitencourt Frizzo, Milena da Rosa Silva (as três da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre) e Tagma Marina Schneider Donelli (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, São Leopoldo, RS), investiga as mudanças na leitura materna sobre seus sintomas depressivos e sobre os sintomas psicofuncionais do bebê num contexto de psicoterapia mãe-bebê em grupo. No caso, participaram uma díade mãe-bebê em que a mãe apresentava depressão pós-parto e o bebê sintomas psicofuncionais. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS), vários tipos de entrevistas e o questionário Symptom Check List (SCL). Após análise qualitativa, relacionados os materiais clínicos das onze sessões de psicoterapia e a literatura, a partir de uma compreensão psicanalítica, os resultados revelaram a associação mútua entre os sintomas depressivos maternos e os sintomas psicofuncionais do bebê, bem como uma melhora dos sintomas em ambos após a psicoterapia.

O quinto artigo, Abuso sexual infantil masculino: sintomas, notificação e denúncia no restabelecimento da proteção, das autoras Maria Inês Gandolfo Conceição, Liana Fortunato Costa (ambas da Universidade de Brasília - UnB, Brasília), Maria Aparecida Penso (Universidade Católica de Brasília - UCB, Brasília) e Lucia Cavalcanti de Albuquerque Williams (Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, São Carlos, SP), tem como objetivo apontar, na proteção à criança vítima de abuso sexual, as três etapas necessárias: revelação, notificação e denúncia da violência, ligadas, respectivamente, ao surgimento de sintomas do problema, à publicização da ocorrência e à instauração de processo judicial para a responsabilização do agressor. Trata-se de pesquisa documental em prontuários de 35 meninos vítimas de abuso sexual, atendidos em instituição pública de saúde, com o objetivo de identificar o processo de restabelecimento da proteção à criança vitimizada. Os resultados apontam 64 diferentes manifestações de sintomas apresentados pelas vítimas, meninos, em sofrimento. Foram onze as instituições envolvidas no processo de notificação, com o Conselho Tutelar tendo o maior número de casos (45,7%), seguido da escola (28,6%). A notificação foi realizada em 51,2% dos casos e a denúncia em apenas dois casos, o que configura uma violação de direitos dos meninos abusados. É necessário valorizar a presença dos dispositivos de proteção disponíveis na sociedade e apoiar iniciativas de qualificação do pessoal integrante das instituições.

O artigo seguinte, Confluências das relações familiares e transtornos alimentares: revisão integrativa da literatura, dos autores Ana Beatriz Rossato Siqueira (Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM, Uberaba, MG), Manoel Antônio dos Santos (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo - USP, Ribeirão Preto, SP) e Carolina Leonidas (UFTM, Uberaba, MG), tem como objetivo sintetizar e analisar a produção científica brasileira e estrangeira sobre relações familiares, focando no vínculo mãe e filha, no contexto dos Transtornos Alimentares (TAs), por meio de uma revisão integrativa da literatura a partir de buscas nas bases BVS-Psi, PsycINFO e PubMed, delimitando o período de 2012 a 2018 e os idiomas português, inglês e espanhol. No total, 29 estudos foram selecionados para análise. Constatou-se que a etiologia dos TAs é multifatorial e que a relação mãe-filha é um dos aspectos mais proeminentes, parecendo atuar como fator precipitador e mantenedor dos sintomas nos quadros de anorexia nervosa. Padrões rígidos de interação familiar representam risco potencial para manutenção dos TAs. Devido à existência de uma estreita associação entre sintomas de TAs e os padrões de relacionamento estabelecidos nas famílias, a síntese dos resultados reforça a necessidade de inclusão dos familiares e de outras redes de apoio social no tratamento.

O último artigo da seção temática, Representação da infância e representatividade infante: posições ético-políticas, dos autores Eduardo de Carvalho Martins (Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, SP) e Cassio Vinícius Afonso Viana (Universidade Federal de São Paulo - Unifesp, Santos, SP), visa a mapear, com base nas experiências do Instituto Camará Calunga, de São Vicente, SP, os fundamentos e efeitos do uso de metodologias participativas com crianças e adolescentes, considerando sua inserção nos dispositivos de produção e discussão no campo das políticas públicas. Em eventos destinados a debater os direitos da criança e do adolescente, tal como no processo de construção de um bloco carnavalesco em defesa desses direitos, foram identificados alguns fundamentos ligados às representações sobre a infância a partir de uma visão "adultocentrada". Isso aponta para a importância da crítica aos espaços simbólicos e concretos que a infância vem ocupando quanto às formas de participação política. Essa evolução contribui para os novos modos de implicação dos sujeitos infantes.

A seção livre se inicia com o artigo Gender Relations and Modernity, do autor Olivier Douville (Université Paris-Nanterre, Université Paris-Diderot, France), sobre a atualidade da psicanálise no que concerne à exploração das implicações subjetivas ligadas ao desvelamento do desejo e às incertezas identitárias resultantes da desconstrução dos interditos e das normas estabelecidas pela lei patriarcal. As soluções de identidade sexual, combinadas à bissexualidade psíquica e à diferença dos sexos, hoje em dia impelida por ideais sociais instáveis, implicam em relações de identificação e poder, o que impõe à clínica psicanalítica a revisão e reformulação de suas posições normativas vinculadas à idealização dos patriarcados, desconstruindo, ao invés de reforçar, as representações dominantes. É por conta de sua natureza conflituosa que a sexualidade se inscreve no âmago da vida psíquica.

A seção livre se encerra com o artigo Affect, Emotion, Passion: the Lacanian approach, do autor Marcus André Vieira (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio, Rio de Janeiro), que introduz a leitura lacaniana das afirmações de Freud sobre o afeto, articulando-a à experiência clínica psicanalítica. Três fenômenos subjetivos são descritos e distinguidos: emoção, afeto e paixão. A abordagem fisiológica é posta de lado em benefício da abordagem retórica e finalmente é descrito de que modo as observações de Lacan, que acentuam o ponto de vista ético sobre a paixão, vão além das regras morais da própria sociedade e trazem um tipo de reflexão sobre a ação e sobre um evento subjetivo, que pode ser abordado pela poesia.

 

Isabel Fortes

Esther Arantes

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