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Psicologia Clínica
Print version ISSN 0103-5665On-line version ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.33 no.1 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2021
https://doi.org/10.33208/PC1980-5438v0033n01A02
ARTIGOS - FAMÍLIA, SOCIEDADE E CULTURA: INTERVENÇÕES TEÓRICO-CLÍNICAS
Os processos identificatórios na constituição da paternidade
The identification processes in the constitution of fatherhood
Los procesos identificatorios en la constitución de la paternidad
Evandro de Quadros ChererI; Andrea Gabriela FerrariII; Cesar Augusto PiccininiIII
IPsicólogo e Psicanalista, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutor em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB), Docente na graduação em Psicologia do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (UNICEPLAC), DF, Brasil. quadroscherer@gmail.com
IIPsicanalista, Doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Docente do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia e do PPG (Psicanálise: Clínica e Cultura) da UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. ferrari.ag@hotmail.com
IIIPsicólogo, Doutor em Psicologia e Pós-Doutor pela University of London (Inglaterra), pesquisador do CNPq e docente do PPG em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. piccicesar@gmail.com
RESUMO
A paternidade não está circunscrita ao momento do nascimento de um filho, sendo articulada à história subjetiva paterna, em especial no que diz respeito aos processos identificatórios em relação às figuras parentais. Este estudo teve como objetivo investigar a constituição da paternidade por meio de seus processos identificatórios. Participou do estudo um pai primíparo, entrevistado no 6º e no 25º meses de vida do filho. Os relatos paternos evidenciaram que, ao almejar desempenhar uma paternidade ideal, este pai procurava evitar ser como o seu próprio pai. No entanto, devido à sua própria história constitutiva, o pai analisado construiu sua paternidade de maneira particular, transitando entre identificações com suas figuras parentais. Esses achados apoiam a ideia de que as experiências infantis repercutem mesmo na vida adulta, na medida em que deixam marcas indeléveis no psiquismo humano e podem ser reativadas diante da experiência da paternidade.
Palavras-chave: identificação; paternidade; psicanálise.
ABSTRACT
Fatherhood cannot be limited to childbirth, but is also related to the paternal subjective history, especially as regards the identification processes with parental figures. This study investigated the constitution of fatherhood through the father's identification processes. This study centered on a primiparous father who was interviewed on the child's 6th and 25th months. His responses showed that, in an attempt to be an ideal father, this man tried to avoid being like his own father. However, due to his own formative history, he built his fatherhood his own way, according to the identifications with his particular parental figures. These findings support the idea that childhood experiences leave indelible marks on the human psyche and can be reactivated by the experience of fatherhood.
Keywords: identification; fatherhood; psychoanalysis.
RESUMEN
La paternidad no se limita al nacimiento del hijo, aunque está articulada a la historia subjetiva paterna, principalmente a los procesos identificatorios con las figuras parentales. Este estudio tuvo como objetivo investigar la constitución de la paternidad a través de sus procesos identificatorios. El participante de este estudio fue un padre que tuvo su primer hijo y que fue entrevistado en el 6º y el 25º meses de vida del niño. Los relatos paternos reflejan que, al querer desempeñar una paternidad ideal, trataba de esquivarse de ser como su propio padre. Sin embargo, en función de su propia historia, el padre analizado constituyó su paternidad transitando entre identificaciones con sus figuras parentales. Estos hallazgos respaldan la idea de que las experiencias infantiles dejan marcas perdurables en el psiquismo humano y pueden ser reactivados frente la experiencia de la paternidad.
Palabras clave: identificación; paternidad; psicoanálisis.
Introdução
Tornar-se pai1 não muda apenas o homem e sua relação conjugal, mas também a relação com seus próprios progenitores. Frequentemente o novo pai se depara com a possibilidade de reajustar os laços com sua mãe e seu pai, resultando em maior aproximação ou distanciamento. Desse modo, impõe-se ao pai a tarefa de "passar de geração", reorganizando as gerações desde a gravidez (Darchis, 2000). Além disso, pode-se considerar que a paternidade é afetada, em particular, pela relação do homem com seu próprio pai, na medida em que muitos homens, no processo de tornarem-se pais, reproduzem comportamentos do primeiro modelo que tiveram (Frieman & Berkeley, 2002; Guzzo, 2011). Entretanto, o relacionamento pai-filho não é determinado estritamente segundo a relação que o próprio pai possuía com seus genitores (Bouchard, 2012).
Nesse sentido, o desejo de seguir o modelo paterno pode estar relacionado a recordações consideradas positivas, de pais afetivos, próximos e engajados. Já os modelos de paternidade considerados distantes e ausentes podem suscitar o desejo de reparação na atual relação com seus filhos, na qual os pais esforçam-se por resgatar falhas que percebiam em seus pais (Finn & Henwood, 2009; Gomes & Resende, 2004). Desse modo, os pais podem desejar ser melhores que seus próprios pais. Em particular, na atualidade, como relatado na literatura acerca da parentalidade, os pais podem ansiar por exercer uma paternidade considerada distinta e superior em relação às gerações passadas (Brazelton & Cramer, 1992). Assim, os pais contemporaneamente podem diferenciar a si mesmos de seus pais, por se considerarem homens mais próximos de seus filhos (Lamour & Letronnier, 2003).
Ainda que a influência direta dos próprios pai e mãe não determine a paternidade de um homem, a partir da psicanálise, referencial no qual se embasa este estudo, pode-se considerar que os pais, mesmo sendo adultos, portam o infantil que os constituiu (Zavaroni et al., 2007; Zornig, 2010). Com isso, em sua experiência de paternidade, o homem faz uma viagem a fim de ressignificar seu passado, revivendo os vínculos com as gerações, bem como as relações que conectam pais e filhos. Esse passado pode ser constituído tanto por aspectos considerados agradáveis e saudáveis como por elementos não elaborados, além de conteúdos recalcados. Haver-se com alguns desses conteúdos infantis pode se tornar uma tarefa difícil, às vezes impossível (Darchis, 2000).
Para Fraiberg et al. (1994), com o nascimento de um bebê, existe a possibilidade de que pai e mãe repitam tragédias familiares de sua própria infância. Conforme esses autores, essa repetição é chamada de fantasmas. Esse fenômeno ocorre quando os pais que não se recordam afetivamente de seus problemas na infância encontram-se ligados e identificados com os personagens terríveis do passado. No entanto, para esses autores, pais e mães, ainda que tenham passado por uma infância difícil, podem impedir que seus filhos revivam esses fantasmas, contanto que não reprimam os afetos vinculados a essas experiências. Nesse contexto, segundo Moro (2005), a paternidade traz à tona aspectos transmitidos entre as gerações, inclusive conteúdos ocultos e traumas infantis, bem como o modo como cada um articula essas experiências.
Acerca disso, Golse (2003) diferenciou as transmissões transgeracionais das intergeracionais. A transmissão transgeracional ocorreria entre gerações distantes que, em geral, não conviveram juntas. Essa sobreviria, especialmente, a partir de interditos e não ditos, incidindo no sentido descendente, isto é, das gerações anteriores para as futuras. Por sua vez, a transmissão intergeracional aconteceria entre as gerações que têm contato direto, ou seja, sobretudo entre as figuras parentais e seus filhos. Diferentemente, essa via de transmissão empregaria as vias da comunicação verbal e não-verbal, podendo operar nos dois sentidos, ascendente e descendente.
Nessa perspectiva, Raphael-Leff (1997) afirmou que com a paternidade o homem passa a reatualizar seu passado, transformando sua identidade, bem como vivenciando fortes sentimentos ao tomar o lugar de seu pai e, por conseguinte, ao deslocá-lo para a geração dos avós. O pai pode identificar-se com as figuras parentais internalizadas ou ainda constituir sua paternidade a partir de sucessivas formações reativas em relação a elas. A paternidade também pode se organizar em relação à idealização da infância e das figuras parentais glorificadas, ou ainda sustentar-se na tentativa de se compensar fragilidades vividas enquanto criança, procurando-se alcançar a paternidade perfeita da qual se sentiu privado (Raphael-Leff, 1997).
Relativo a isso, conforme Freud (1909/1990), nos anos iniciais, o desejo mais intenso e relevante da criança é de se parecer com seus genitores, aos quais são conferidas características ideais. A criança deseja ser grande como sua mãe e seu pai, sobretudo como o genitor do mesmo sexo. Entretanto, gradualmente, a criança vai questionando os atributos que conferia a seu pai e sua mãe, comparando-os com outras figuras parentais. Além disso, passa a criticá-los quando se sente negligenciada, assim como quando sente que não esteja ganhando todo o amor que deveria, acreditando existir pais e mães melhores que os seus em diversos aspectos. Diante disso, ocorre um período de afastamento que dificilmente é recordado de forma consciente, o qual foi intitulado por Freud (1909/1990) de "romance familiar do neurótico". Nesse estádio, a criança passaria a fantasiar a substituição de suas figuras parentais por outras enaltecidas, as quais teriam aspectos extraordinários e ímpares, correspondendo aos ideais infantis outrora outorgados aos seus próprios genitores. Essa fantasia expressaria o pesar pelo fim do período no qual a criança encontrava grande satisfação em ter pai e mãe como figuras supervalorizadas. Assim, é nesse contexto que, segundo Hurstel (1999), o pai ideal é fantasiado como um ser infalível e não castrado, convocando o infans2 a sair do assujeitamento da relação com a mãe, deixando de ser o falo dela, passando, assim, a ser um candidato a ter o falo. Esse pai enaltecido e temido corresponde ao pai da horda primitiva freudiana, que desfrutava de todas as mulheres, assim como interditava a todos (Freud, 1913/1990).
Nesse contexto, segundo Darchis (2000), o processo de tornar-se pai implica em dois movimentos identificatórios. O primeiro consiste na busca da criança que ele foi e que gostaria de ter sido. Para tanto, o pai regressa, abrindo caminhos em conteúdos infantis e em sua parentalidade que procuram uma separação e diferenciação das histórias passadas. Para a autora, no segundo movimento identificatório, o homem passa a buscar o que é um pai, encontrando o pai e mãe que teve e os que gostaria de ter tido, para que assim possa formar sua identidade de pai. Esse processo possibilita ao novo pai nascer e se constituir com a chegada dessa nova criança. Assim, para Darchis (2000), voltar-se para as primeiras experiências estruturantes do sujeito se impõe como uma viagem imprescindível para a entrada na paternidade.
Nessa perspectiva, Freud (1921/1990) afirmou que por meio da identificação o sujeito pode tomar traços de outrem. Esse mecanismo pode acontecer quando há a possibilidade de se viver o mesmo que outra pessoa, tomando-se traços dela para si. Acerca disso, Laplanche e Pontalis (2001) discorreram sobre a identificação que consiste em um mecanismo por meio do qual o humano assimila traços, aspectos e atributos de outra pessoa, transformando-se. Nesse sentido, a identificação pode ser compreendida como mais do que um mecanismo psicológico, tratando-se, a rigor, da operação por meio da qual o sujeito humano se constitui.
Ao encontro dessas ideias, Brazelton e Cramer (1992) compreenderam que o menino pode desenvolver uma identificação inicial com a mãe e sua capacidade de nutrir e criar. A mãe apareceria como poderosa, sendo fonte dos estímulos, cuidados e satisfações. Conforme esses autores, a identificação com a mãe seria expressa por meio de brincadeiras como fingir-se de grávido ao empurrar a barriga para frente ou usando uma almofada, bem como praticar com bonecas a habilidade de cuidar de bebês. Além disso, de modo inconsciente, dores de barriga, intestino preso, assim como outros problemas no sistema gastrointestinal podem ter relação com essa identificação (Brazelton & Cramer, 1992).
Por sua vez, Bydlowski (2000) afirmou que os pais possuem traços significantes, parcial ou totalmente inconscientes, oriundos de suas próprias histórias. Isto é, o eu de cada pai se constituiu a partir de identificações precoces, e é por meio desse processo que traços parentais são transmitidos aos filhos. Para essa autora, tais traços podem ser divididos em duas ordens, a saber, representações de palavras e representações de eventos. As representações de palavras seriam traços próximos da consciência e, com isso, enunciáveis pelo discurso, sendo considerados como literais, entre esses, por exemplo, a escolha do nome do filho e a data de nascimento. Por sua vez, as representações de eventos, também intituladas de representações de cenário, seriam traços menos enunciáveis, visto que são inconscientes e por isso de difícil acesso à memória parental. Tratam-se das alegrias passadas, lutos, problemas não resolvidos, assim como de dificuldades identificatórias com os antepassados. Com isso, o bebê é potencialmente portador dos riscos da biografia de suas figuras parentais, sendo o resultado disso totalmente inesperado, uma vez que a combinação desses traços juntamente com a singularidade do recém-nascido é sempre imprevisível.
Desse modo, como visto anteriormente, processos identificatórios influenciam na constituição da paternidade. Com efeito, conforme Darchis (2000), o homem que inicialmente se identificou com seu pai e mãe necessita, diante do processo de tornar-se pai, introjetar a função parental, a fim de poder constituir a sua diferenciação em relação a eles. É por meio da autorização que o homem obtém implicitamente de seu pai e de sua mãe que ele pode conceber sua nova parentalidade, reorganizando a constelação intrafamiliar e intergeracional ao reposicionar seus pais como avós (Darchis, 2000).
Considerando-se o que foi exposto sobre as experiências infantis em relação à mãe e ao pai, entende-se, de acordo com Freud (1930/2012), que nada na vida psíquica pode deixar de existir, tudo se mantém conservado e pode ser trazido outra vez à luz conforme condições adequadas. No que concerne a isso, a perspectiva de Freud (1899/1990) defende o entendimento de que as experiências infantis deixam marcas indeléveis no psiquismo humano. Essas podem ser reativadas em situações de crise, como diante da experiência da paternidade (Moro, 2005). Diante disso, este estudo visou a investigar a constituição da paternidade por meio de seus processos identificatórios.
A constituição da paternidade: evidências a partir de um estudo de caso3
O caso apresentado foi nomeado ficticiamente de Rodrigo, homem de 30 anos e ensino superior completo. Ele foi selecionado de um estudo maior4 por oferecer uma boa oportunidade de aprendizado a respeito da constituição da paternidade (Stake, 2006) e por ter participado das diversas fases de coleta de dados do referido projeto, em particular da fase do 6º e do 25º meses, priorizadas neste estudo. Quando seu filho tinha seis meses, Rodrigo respondeu à Entrevista sobre a Gestação, Parto e a Paternidade (NUDIF, 2011a), a qual é constituída de sete blocos de questões que investigam diversos temas, tais como a gravidez, o parto, os primeiros dias com o bebê, o dia a dia com o filho, a experiência de ser pai e a companheira como mãe. Já aos dois anos e um mês de idade de seu filho, ele respondeu à Entrevista sobre a Paternidade (NUDIF, 2011b), a qual se trata da mesma entrevista anteriormente descrita, utilizada no sexto mês de vida do bebê, com as devidas adaptações a esse momento do desenvolvimento da criança. As entrevistas eram estruturadas, mas foram realizadas de forma semi-dirigida, individualmente, com o pai.
A análise do relato paterno foi realizada a partir da teoria psicanalítica referente aos processos identificatórios na constituição da paternidade. Particularmente, buscou-se abarcar os aspectos subjacentes presentes na fala, por meio daquilo que Lacan (1975/2010) chamou de "ler nas entrelinhas". Considera-se que é próprio ao campo psicanalítico entender que o discurso se desenvolve no registro do erro e do desconhecimento, possibilitando a irrupção da verdade subjacente (Lacan, 1975/2010). Com base nesses pressupostos, a análise do relato paterno é, a seguir, ilustrada por meio de vinhetas e discutida à luz da literatura.
Na entrevista realizada aos seis meses de vida do bebê, referindo-se à notícia da gestação, Rodrigo relatou ter acreditado que o exame de gravidez teria resultado negativo e que ele não seria pai, confessando que não se sentia preparado. Entretanto, como o resultado foi positivo, Rodrigo passou a noite sem falar com sua namorada, retornando no dia seguinte conformado e simultaneamente feliz. Nas primeiras semanas sua namorada cogitou interromper a gestação, possibilidade essa não compartilhada por ele: "Eu sempre tive o sonho de ser pai, então na hora não estava programada, mas eu queria."
Após a notícia de que teriam um filho, Rodrigo e sua namorada decidiram morar juntos. Os nove meses de gestação foram descritos como muito turbulentos e intensos, devido às preocupações de Rodrigo em fazer melhorias na moradia para que ele, sua companheira e seu filho pudessem morar juntos. Nesse contexto, Rodrigo passou a trabalhar mais e se descreveu como mais focado nas tarefas que realizou a partir daí. Entre as preocupações desse período se destacaram as financeiras, que conduziram Rodrigo a se dedicar mais ao trabalho, afetando a relação dele com os demais aspectos de sua vida. Apesar de ter preparado a casa nova com antecedência, Rodrigo e sua esposa passaram a morar juntos apenas uma semana antes do nascimento do filho.
Ainda se referindo ao período da gestação do filho, Rodrigo relatou não ter imaginado como seu filho seria, contando que antes de ser pai sentia-se incapaz de imaginar a si mesmo com seu filho. Isto parece indicar a importância desses conteúdos e das expectativas nutridas em relação ao bebê imaginado ainda durante a gestação e, por conseguinte, o medo de frustração do encontro com a realidade do bebê: "Eu não conseguia imaginar [na gestação] nós dois, sabe. Não sei te explicar, uma coisa gozada assim (…) mas eu não imaginava eu e ele." A partir de seus relatos, pode-se entender que mais do que o bebê, era a si mesmo como pai que Rodrigo parecia temer. Essa reação possivelmente ocorreu devido aos seus receios quanto à paternidade, uma vez que Rodrigo já havia confessado que pensava que teria dificuldades em ser pai. Com isso, Rodrigo expressou a impossibilidade que sentiu em imaginar, durante a gestação, a si e ao bebê, isto é, ele como pai e a criança como seu filho, inclusive a relação que ocorreria entre os dois.
Ainda que esses conteúdos ideativos aparentassem ameaçá-lo ao longo da gestação, Rodrigo conseguiu afirmar que gostaria que seu filho fosse um menino: "Eu queria um menino, mas não manifestava muito assim. Eu ficava tranquilo, acho que até para depois não ficar frustrado." De fato, esse relato exemplifica o entendimento de que Rodrigo criou expectativas quanto ao bebê, mas essas representaram para ele um perigo de frustração no encontro com a realidade do bebê, sobretudo com a paternidade que ele poderia experienciar. Desse modo, pode-se entender que essas expectativas durante a gestação tenderam a permanecer fora do registro consciente, excetuando-se o sexo do bebê, que, mesmo assim, foi esperado com extrema cautela a fim de evitar frustrações.
Passadas as semanas iniciais após o nascimento do filho, nas quais deixou de trabalhar a fim de se devotar à paternidade, Rodrigo retomou as suas atividades profissionais. Relativo a isso, ele contou se dedicar muito ao trabalho, o que, por conseguinte, limitava o seu tempo com o bebê. Ele relatou achar ruim ter o tempo de interação com seu filho limitado a poucas horas, o que por sua vez, pode ter influenciado o modo como experienciava esses momentos, levando-o a relatar desenvolver uma maior motivação na relação com o filho: "Quando eu chego em casa, eu fico louco para fazer tudo, porque são três dias na semana que eu trabalho os três turnos, eu trabalho o dia inteiro, mais a noite, então é complicado, eu fico chateado de chegar em casa e ele estar dormindo."
Diante desse desconforto, Rodrigo tentou formular um motivo racional para explicar o pouco tempo de interação e participação na criação de seu filho: "Eu acho que ele tira alguma coisa disso, que na nossa vida, para a gente conseguir as coisas, a gente tem que ralar, assim, acho que no fundo a gente tem que pensar o lado positivo. Se eu ficar me martelando com essa história 'não fico muito tempo com ele, não fico muito tempo com ele', eu não vou conseguir fazer o que eu tenho que fazer e vai ser pior ainda." Aparentemente, além de se referir ao filho, Rodrigo também expressou seu próprio proveito nessa situação, isto é, a ressignificação da relação com o seu pai, o qual, de modo semelhante, foi descrito como distante em sua infância. No entanto, como Rodrigo indicou, é apenas "no fundo" que ele conseguiu perceber alguns aspectos proveitosos, na medida em que expressou sofrer com a distância da relação com seu filho, assim como com a semelhança da relação com seu próprio pai.
Entre as mudanças mais notáveis estava a intensa carga de trabalho exercida por Rodrigo. Essa foi expressa como necessária a fim de prover sua família financeiramente. Entretanto, era fonte de sofrimento, uma vez que o privava de suas atividades pessoais, assim como o afastava da relação com sua família. Por outro lado, essa extrema dedicação ao trabalho e distanciamento familiar parecia atualizar seu maior receio concernente à paternidade, isto é, a relação com seu próprio pai.
A respeito disso, Rodrigo relatou lembrar-se de poucas coisas da relação que tinha com seu pai quando era pequeno: "As lembranças com ele [pai], não sei se eu tenho algum tipo de bloqueio, alguma coisa, mas são poucas." Para Rodrigo, existiria algo que o impedia de recordar das lembranças da infância referentes ao seu pai. Mesmo assim, por diversas vezes, ele falou sobre seu pai, descrevendo-o como um pai ausente, especialmente na infância: "Eu acho que foi nessa fase assim, acho que até os dez anos ali, aquela coisa de criança assim que eu acho que eu não tive a presença muito forte dele [pai]." Após reafirmar que seriam poucas as lembranças, Rodrigo indicou ter se identificado com seu pai, questão essa que o estava fazendo repensar a relação com seu filho: "Ele [pai] também, assim como eu, isso é uma coisa que acaba me remetendo a ficar pensando nisso, também tinha uma vida bem corrida, ele era vendedor, então também viajava, passava bastante tempo fora." Nesse contexto, após falar sobre as dificuldades vivenciadas nos momentos iniciais da gestação e de relatar ter se sentido despreparado, Rodrigo disse que fazia terapia, sendo a relação com o seu pai um dos assuntos mais abordados no seu tratamento: "Tem assim uma série de lacunas que eu acho que acabam influenciando assim quando tu vai ser pai também. Aquele baque e tal. Acho que isso aí também mexeu bastante comigo, foi numa fase que eu estava assim mexendo e remoendo bastante essas coisas."
Conforme relatado por Rodrigo, nas primeiras semanas após o nascimento do seu filho, tanto sua mãe como seu pai se mostraram presentes e dispostos a ajudar. Entretanto, o pai de quem Rodrigo tratava em sua terapia e sobre o qual diversas vezes discorreu nas entrevistas não aparentava estar limitado ao seu pai da realidade atual, mas estendia-se essencialmente às suas lembranças infantis. Nesse sentido, grande parte das diversas dificuldades experimentadas por Rodrigo ao longo do período gestacional não se restringiam apenas aos aspectos financeiros, moradia e à nova configuração da sua relação conjugal. Essas dificuldades indicavam abarcar também questões relativas à relação com seu próprio pai: "É gozado assim, tu pensa que tu não vai cometer uma série de erros que eu julgo que meu pai cometeu assim, que não é por mal também, mas no fim tu acaba meio tentado, assim. Tem certas coisas que eu entendo melhor agora."
Nessa perspectiva, a constituição da paternidade de Rodrigo tinha uma dimensão que o remetia a conflitos com seu pai e a uma série de erros atribuídos a ele. Inicialmente, Rodrigo confessou ter pensado que ao ser pai não reproduziria tais erros. Todavia, ele constatou que se sentiu compelido a reproduzi-los. Além disso, diante do reconhecimento que poderia reproduzir os erros de seu pai, Rodrigo passou a entendê-lo melhor. Efetivamente, depreende-se de seus relatos a repercussão de suas figuras parentais em seu processo de tornar-se pai, bem como a ressignificação da relação com seu próprio pai como pai e, por conseguinte, de si como pai: "Eu tenho uma referência do meu pai, que em relação à minha mãe, o meu pai só aparecia nos momentos ruins para me reprimir. E a minha mãe ficava sempre com a parte boa da história. Então isso é uma coisa que me martela bastante, assim, na minha cabeça, conseguir participar na boa e na ruim. Ser presente, né. Isso eu acho que é uma coisa, um confronto meu." Com isso, Rodrigo desenvolveu fortes referências do que queria evitar como pai: "Eu pensava assim: 'tal coisa eu não vou querer fazer'."
Apesar de criticar seu próprio pai em relação à forma como ele conduziu a paternidade, Rodrigo indicou a possibilidade de repetir certos aspectos, especialmente os que diziam respeito à disponibilidade de tempo para interagir com o bebê. Não obstante, ainda que Rodrigo tenha evidenciado sua vontade de não reproduzir o estilo de paternidade de seu pai, a disponibilidade de estar com seu filho ficou comprometida devido à sua intensa carga de trabalho: "Eu sei que ganho por dinheiro, mas perco pelo meu casamento e pelo meu contato com o [filho]." Portanto, Rodrigo associou haver traços de semelhança entre si e seu pai, fato esse que o atormentava: "É muito essa coisa de ficar comparando a minha relação com ele [filho] com a relação do meu pai comigo, acho que isso é uma coisa que me atormenta um pouco."
Além de ter descrito o seu pai como alguém distante, Rodrigo contou sobre outro aspecto de seu pai, do qual não haveria o que reclamar: "Acho que uma coisa que eu nunca vou poder me queixar dele é essa questão do suporte que o pai tem que dar para família como homem assim." A respeito disso, Rodrigo relatou atributos considerados necessários para um pai e que seriam esperados de um homem, a saber, ser aquele que presta apoio e provisão. Quanto a esses aspectos, compreende-se que o pai de Rodrigo apresentou características semelhantes àquelas atribuídas aos pais tradicionais, ou seja, ser distante da criação dos filhos, no entanto, presente como provedor do lar.
Diferentemente de seu pai, Rodrigo contou ter muitas lembranças de sua infância relativas a sua mãe: "Ah, muitas assim, tipo de jogos assim, coisas que me marcam bastante é quando ela ia me buscar na creche." Rodrigo também contou algumas dificuldades vivenciadas por sua mãe, que, devido a questões de trabalho, deixava-o durante a semana na casa dos avós maternos. Com isso, em parte de sua infância, Rodrigo foi especialmente criado por seus avós, retornando para a casa de sua mãe e pai apenas aos finais de semana: "Eu ficava durante a semana na minha avó e no final de semana com meus pais, era invertido o negócio, até porque ele [pai] viajava bastante." Mesmo nessas circunstâncias, Rodrigo esclareceu que considerava sua mãe muito importante para sua vida. Ainda que essa não pudesse estar com ele devido ao trabalho, ela ligava e demonstrava sua preocupação.
Com isso, a mãe de Rodrigo, ainda que tenha permanecido relativamente distante na infância, foi descrita como presente nas ocasiões boas. Ela foi, sobretudo, relacionada aos momentos prazerosos, ainda que, em circunstâncias ruins, utilizasse o pai como ameaça: "Se a nota era ruim, ah! 'Teu pai vai conversar contigo'. Aí ele vinha e ah! às vezes eu apanhava." Para Rodrigo, a intervenção paterna esteve relacionada com momentos ruins, nos quais o pai se fez presente para corrigi-lo por meio de castigos e interdições: "Aquela coisa de pai mesmo, dar umas palmadinhas e tal. E tipo, se a nota fosse boa, bah, minha mãe ficava faceira e tudo e ficava com ela a história." Desse modo, além de ter sido relacionada com os momentos bons e de invocar o pai nos momentos ruins, Rodrigo contou que quando adulto passou também a perceber sua mãe de outro modo, isto é, também passou a responsabilizar sua mãe por manter apenas para ela os bons momentos. Efetivamente, essa dinâmica foi sustentada por sua mãe, que o assumia nos momentos bons, circunscrevendo a ação paterna aos demais momentos: "De repente a minha mãe não deixou meu pai também chegar muito perto, aquela coisa, de assumir muito para ela então."
Ainda na primeira entrevista, aos seis meses de seu filho, Rodrigo expôs a fragilidade dessa nova família formada a partir do nascimento do bebê. Ele e sua companheira encontraram dificuldades em vivenciar uma relação de marido e mulher. Uma vez tendo terminado a relação de namoro, ambos permaneciam unidos pela relação de pai e mãe do mesmo bebê: "Ela, na minha opinião, não tinha em mente que a nossa família agora somos nós três ali, então sempre foi a visão da família dela, queria estar sempre com a família dela. E eu me senti, muitas vezes, deixado de lado, assim. E chegou um ponto que eu não queria mais." Diante disso, Rodrigo confessou ter desejado se separar de sua esposa. Entretanto, um dos principais aspectos de sua paternidade o impedia de executar essa intenção, a saber, o fantasma da relação com o seu próprio pai: "Como eu tenho essa relação complicada com o meu pai, digamos assim, ficar longe do meu filho… Eu acho que eu me cobro muito para ser um pai muito bom." A partir disso, pode-se entender que talvez não fosse só a relação marido e mulher que sustentava a união estável de Rodrigo com sua esposa, mas a semelhança de sua paternidade com a paternidade de seu próprio pai, a qual ele procurava evitar. Mesmo que a vontade de se manter próximo ao filho fosse muito intensa, o que em sua perspectiva inviabilizava a separação conjugal, Rodrigo confessou ter desejado se separar de sua esposa: "Eu cheguei à conclusão de que queria me separar, não quero mais e não tinha mais nada entre nós de relação marido e mulher assim, não só sexo, mas cumplicidade, parceria, essas coisas. Estava cada um pro seu canto." Apesar disso, Rodrigo e sua esposa conversaram e decidiram não se separar, procurando ajustar a relação.
No entanto, na segunda entrevista, realizada aos dois anos e um mês de seu filho, Rodrigo expôs continuar descontente com a relação conjugal, ainda que tentasse expressar otimismo: "Tem algumas arestas ainda na relação marido e mulher para serem aparadas, mas eu acho que a gente tá evoluindo. É uma construção né. E agora a gente comprou uma casa. E isso prova que deixou a gente junto." Com efeito, a relação com sua companheira sustentava-se essencialmente em recursos que imaginariamente os tornavam marido e mulher, como o bebê e a casa. No entanto, a relação tornou-se, sobretudo, de pai e mãe de um bebê, enquanto que os aspectos concernentes à vida amorosa e sexual encontravam dificuldades em se manter, ainda que Rodrigo e sua esposa se esforçassem: "Aos poucos, a gente conseguiu retomar algumas coisas que se perderam ao longo do tempo, assim, carinho, que a gente não tinha, manifestação nenhuma de carinho um com o outro, sexo, a gente chegou ficar quatro meses sem transar."
Nessa entrevista, Rodrigo voltou a relatar seu temor em se tornar pai, relatando que, antes da notícia da gestação, ele evitava imaginar como sua paternidade seria, associando a essa questão o relacionamento com seu próprio pai: "Devido à relação que eu tenho com o meu pai, assim. Não é que seja uma relação ruim, mas eu acho que eu criei muitas expectativas de ter um pai mais parceiro, mais presente, que por uma série de motivos não aconteceram assim. Ele é casado com a minha mãe até hoje, moram juntos, eu morava com eles, e ele também tem a história dele, ele não tem pai e tal e é uma cadeia né. E eu acho que por isso eu tinha receio assim, porque em alguns momentos eu senti falta e tinha medo de também agir dessa forma." Considerando esses aspectos, entende-se que Rodrigo frustrou-se por não encontrar em seu pai a proximidade e participação que esperava. No entanto, Rodrigo expressou compreender seu pai, na medida em que ele tinha sua própria justificativa para se manter distante, uma vez que teria tido uma história semelhante com seu pai. Contudo, a compressão acerca de seu pai simultaneamente sustentava o receio de Rodrigo em ser semelhante a ele.
Nessa perspectiva, Rodrigo temia que, assim como seu próprio pai, ele também estivesse preso à "cadeia" do estilo paterno, ou seja, que fosse um pai distante na relação com o filho. Rodrigo se percebia de algum modo preso às lembranças não elaboradas, como se o destino da relação com o seu filho estivesse determinado de antemão. Além disso, entende-se que, apesar de ter negado, Rodrigo teria imaginado como sua própria paternidade poderia ser, uma vez que receou reproduzir a paternidade de seu pai e seu avô, revelando com isso ter pensado sobre esses aspectos. Assim, ter um filho poderia representar para Rodrigo a possibilidade de ser como seu pai e reproduzir a cadeia, ou ainda, superá-la. Desse modo, no que diz respeito à constituição da sua paternidade, Rodrigo relatou ter passado por um aprendizado, o qual foi associado à relação com seu pai: "Tá sendo ótimo, eu tô aprendendo muito assim, numa perspectiva que pra mim é uma visão totalmente desconhecida, a visão do pai, e está me ajudando tanto pra entender a minha relação com o meu pai."
Com isso, de forma semelhante à primeira entrevista, realizada aos seis meses, Rodrigo afirmou que a relação com seu pai na infância era fundamentalmente vinculada a momentos ruins: "O meu pai só aparecia nos momentos ruins, na hora de dar o xingão, na hora de bater." Em contrapartida, diferentemente da primeira entrevista, na qual Rodrigo mostrou-se apenas cogitando implicar sua mãe nessa dinâmica, Rodrigo passou a responsabilizá-la: "Hoje eu entendo que tinha a culpa da minha mãe também nisso. Nos momentos bons, ela administrava tudo, mas nos momentos ruins, de crise, assim, ela 'ah vou chamar o teu pai!'. Essa é a imagem que mais marca, assim. Se eu for te dizer a nossa relação, eu acho que, em muito, foi prejudicada por isso." Diante disso, Rodrigo afirmou desejar ter um laço íntimo mais intenso com o seu filho, influenciado, aparentemente, por referenciais de paternidade sociais, como os de seus amigos na infância: "Aquela coisa tipo, jogar futebol ou disputar um campeonato, coisa de guri, assim, tipo, que tu via, assim, os teus amigos com os pais junto, assim, e eu quero estar junto assim com o [filho], nesses momentos." Desse modo, Rodrigo relatou procurar ser diferente de seu pai, tendo outro tipo de relação com o seu filho: "O envolvimento [com o filho], eu acho é diferente. O envolvimento sentimental, físico, assim de contato, estou sempre junto dele, eu gosto de dar colo, eu gosto de beijar, eu gosto que ele me beije, isso é diferente."
A respeito de sua mãe, Rodrigo relatou: "Era bem mais próxima assim, na realidade, proximidade, intimidade, essas coisas, eu tinha era com ela. Carinho, a parte de afeto, também, está mais acentuado com ela, assim." A respeito disso, Rodrigo expôs ter esses aspectos maternos como semelhantes em sua própria paternidade. Já acerca das diferenças em relação a sua mãe, Rodrigo contou: "Ela era muito por mim, em qualquer situação, assim, se for ver numa situação em que eu estava errado, ela me defendia igual, assim, e isso eu não acho certo." Além desses aspectos referenciados como semelhantes em relação à sua mãe, havia outros que o discurso de Rodrigo indicou. Como exemplo, percebe-se que, quando Rodrigo dispunha de tempo, ou seja, quando não estava envolvido em sua função de provedor, ele tendia a reproduzir os posicionamentos de sua própria mãe. Nesse sentido, embora não tenha se envolvido como desejava ao longo da gestação, Rodrigo expôs que, nos primeiros meses de vida do bebê, ele procurou fazer tudo o que podia em relação a ele: "No início, ele fica muito ligado à mãe, porque tem a questão de mamar toda hora, mas tudo o que eu pudesse fazer, eu fazia. Não deixava para ela, não dava espaço." De modo semelhante à sua mãe, Rodrigo tentava não ceder espaço para sua esposa, de algum modo competindo com ela nos cuidados do bebê. A participação inicial de Rodrigo apenas foi limitada na amamentação, uma vez que é uma atividade naturalmente restrita às mães.
Além desses aspectos, Rodrigo disse que o modo como ele pensava sobre a relação com seu pai e sua mãe foi passando por mudanças ao longo do tempo. Assim, evidenciou-se o processo de ressignificação das figuras parentais. O modo como Rodrigo se posicionava frente à sua história constitutiva alterou-se, influenciado sobretudo por seu tratamento terapêutico e pela experiência da paternidade: "Quando tu começa a enxergar as coisas, tu fica te perguntando 'pô! por que ele não era assim? É tão fácil ser assim e tal'. E acaba gerando uma revolta, eu acho que meio involuntária dentro de ti."
Nessa segunda entrevista, Rodrigo também retomou o relato sobre a relação com sua esposa. Ele contou sentir-se insatisfeito em sua relação conjugal, visto que o bebê se tornou simultaneamente motivo de união e de separação do casal, os quais eram unidos enquanto pai e mãe, mas nem sempre como marido e mulher. Apesar desses aspectos, Rodrigo descreveu positivamente a sua esposa enquanto mãe: "Eu acho ela uma excelente mãe. Carinhosa, preocupada, envolvida, assim como eu." A partir do seu relato, compreende-se que Rodrigo valorizava sua esposa como uma boa mãe, assim como ele. Com efeito, Rodrigo, ao tentar não ser um pai ausente, procurava ser uma mãe. É nesse registro que se situa a problemática dele com sua esposa, na medida em que Rodrigo tendia a se posicionar apenas como um provedor distante ou evitando ser como seu pai. Assim, quando estava junto do bebê e da esposa, Rodrigo mantinha uma admiração em tê-la como mãe de seu filho, procurando identificar-se nessa posição materna. Ao experienciar subjetivamente sua paternidade em duas posições, a de provedor e a de mãe, Rodrigo parece que não se posicionava frente ao desejo de sua esposa, o que, por sua vez, dificultava a existência de uma relação marido e mulher.
Desse estado de coisas, entende-se que, mesmo ao tentar ter comportamentos distintos dos de seu pai, Rodrigo indicava que o cerne de sua paternidade persistia em seus referenciais parentais. Nesse cenário, Rodrigo relatou obter ganhos com a paternidade ao passar ter a perspectiva paterna, compreendendo melhor, com isso, a relação com seu pai. Provavelmente contribuiu para isso o seu tratamento psicoterápico, no qual também discutia as questões de sua paternidade. Seu posicionamento subjetivo diante dessa configuração aparentou conter identificações com seu pai e sua mãe, ou seja, ele tomou traços deles na constituição de sua própria paternidade. Com isso, Rodrigo, apesar de criticar seu pai, também era um pai demasiadamente ocupado com o trabalho, restando-lhe pouco tempo para dedicar-se ao filho. Entretanto, quando encontrava tempo disponível, Rodrigo ocupava-se totalmente do bebê, afirmando inclusive fazer tudo em relação a ele, competindo com sua esposa e procurando não deixar espaço para ela, semelhantemente, em certa medida, ao que sua mãe fazia com seu pai. Desse modo, Rodrigo revelou não conseguir se desvencilhar da história que o constituiu ao tentar ser um pai diferente dos seus progenitores, não sendo, em muitos momentos, outra coisa a não ser, essencialmente, eles mesmos.
Aspectos conceituais retratados no caso
Inicialmente, Rodrigo teve dificuldades de reconhecer suas expectativas em relação ao filho, e indicou o quanto esses conteúdos poderiam ser ameaçadores. Além disso, conforme Bydlowski (2001), a impossibilidade de imaginar o filho pode indicar a importância emocional desses aspectos. De qualquer modo, Rodrigo conseguiu expressar sua vontade de ter um filho menino, corroborando a expectativa de que homens tendem a preferir filhos do mesmo sexo (Brazelton & Cramer, 1992). Essa preferência aparentou basear-se na possibilidade de identificar-se com o bebê, possibilitando reparar a relação com seu pai, aspecto esse que permeou toda a paternidade de Rodrigo.
Compreende-se que a paternidade era uma responsabilidade temida por Rodrigo, inclusive dificultando-lhe imaginá-la, antes mesmo da gestação. No entanto, diante da gestação concreta de um bebê, Rodrigo passou a agir como se fosse outra pessoa, ficando inclusive feliz com a gravidez e aparentando estar desejoso de ter um filho. Porém, como indicado diversas vezes por ele, essa aceitação apenas foi possível em um só-depois, ou seja, apenas após ter compreendido e aceitado que seria pai, ele passou a desejar esse bebê, retrospectivamente. A partir daí, os impasses com seu próprio pai deixaram de ser simplesmente obstáculos para a paternidade, passando a ser inclusive estímulos, na medida em que, por meio de sua própria paternidade, Rodrigo poderia vivenciar de outro lugar aquilo que experimentou passivamente com seu pai.
Nessa perspectiva, devido especialmente aos conflitos que teve na relação com seu pai, pode-se pensar que Rodrigo tinha receio de tornar-se pai, na medida em que poderia reproduzir a paternidade do próprio pai. Contudo, ao passar pelo processo de transição à paternidade, Rodrigo conseguiu libertar-se, em parte, desses temores, procurando diferenciar-se de seu pai. Nesse cenário, compreende-se que Rodrigo trouxe à cena os elementos constitutivos de sua subjetivação, os quais se basearam naquilo que Freud chamou de identificação (Freud, 1921/1990), por meio do qual o sujeito assimila traços e aspectos de outra pessoa; neste caso, as figuras parentais de Rodrigo.
No tocante à sua mãe, Rodrigo, apesar de associá-la aos momentos bons, também a implicou na relação com seu pai, visto que ela dificultava o acesso de seu pai a ele. Assim, pode-se pensar em identificações inclusive com a mãe. De fato, Rodrigo aparentou transitar entre as identificações com sua mãe, isto é, sendo um pai que compete com a esposa para ter os bons momentos com o bebê só para si, e as identificações com seu pai. Estas, por mais evitadas que fossem, tendiam a se repetir, uma vez que esses acontecimentos ainda apresentavam um caráter não simbolizado, o qual insistia na busca de sentido e elaboração (Freud, 1914/1990). A partir do entendimento dessas identificações estabelecidas por Rodrigo, pode-se pensar que ele se casou com sua esposa a fim de ficar próximo do bebê, procurando, com isso, evitar repetir a história de seu pai. No entanto, aparentemente, estar casado com sua esposa também era um pré-requisito para identificar-se com seu pai, o qual, mesmo morando junto de sua mãe, fez-se distante. Nesse sentido, Rodrigo posicionava-se como provedor, assim como seu próprio pai. Ou ainda como sua mãe, como chegou a relatar ao dizer que, assim como sua esposa, ele era uma mãe carinhosa, preocupada e envolvida.
Diante disso, pode-se pensar que Rodrigo não conseguiu ser subjetivamente um pai participativo, na medida em que, para ser pai, ocupando lugar no desejo da mãe (Lacan, 1957/1995), ele teve que ser um pai ausente. Apenas nesse lugar sua esposa o demandava, ocasionando brigas e discussões para que Rodrigo permanecesse mais em casa com sua família. No entanto, quando Rodrigo estava em meio às atividades do lar, a relação com sua esposa era de identificação ou de competição, uma vez que os dois procuravam subjetivamente ser a mãe do bebê, não havendo relação de marido e mulher. Com isso, distintamente do seu pai, o qual era invocado por sua mãe diante dos filhos, Rodrigo, em casa, não ocupava o lugar paterno. Embora Rodrigo tenha sido o homem por quem sua companheira teve desejo e por meio do qual teve um filho (Szejer, 2002), ela aparentemente não o apresentava ao bebê como sendo objeto de seu desejo.
Para Rodrigo, um pai deveria ser presente, participativo, assim como ter as características essencialmente relacionadas ao papel do homem, isto é, ser provedor, atributo que tipicamente afastou o homem da criação dos filhos (Freud, 1930/2012), semelhantemente ao que ocorreu com seu próprio pai. Acerca disso, Rodrigo relatou ter se frustrado na relação com seu pai na medida em que ele não correspondeu às suas expectativas. Essas se basearam, principalmente, no anseio de ter um pai simultaneamente provedor, que prestasse o apoio necessário à família, assim como fosse participativo na criação dos filhos. No que diz respeito ao papel de provedor e de prestar apoio à família, atributos relatados como sendo o papel do homem, Rodrigo expressou-se satisfeito em relação ao seu pai. Entretanto, nos demais aspectos não havia uma correspondência entre a paternidade exercida por seu pai e a almejada por Rodrigo.
Pode-se compreender que a paternidade que Rodrigo esperava de seu pai, e também de si próprio, foi permeada por expectativas baseadas nos valores e modelos de paternidade contemporâneos, nos quais é esperada maior participação paterna com os filhos (Dallos & Nokes, 2011; Steinberga et al., 2000). Desse modo, quando Rodrigo discorreu a respeito da relação com seu pai, o fez com ressentimento de não ter tido a presença paterna nos momentos bons, apenas nos ruins, nos quais o pai era visto como alguém que o reprimia. Assim, o filho de Rodrigo se apresentaria como uma possibilidade de não repetir os erros de seu pai, mas a chance de estar presente nos momentos bons e ruins. Em outra perspectiva, a paternidade seria ameaçadora, pois com ela Rodrigo poderia repetir os caminhos de seu pai, algo que ele se sentiu inclinado a reproduzir. Com isso, certos "fantasmas" da infância de Rodrigo insistiam em aparecer, amedrontando-o com a possibilidade de ser com seu filho o pai que seu próprio pai havia sido, uma vez que, com o nascimento de um filho, há a possibilidade de que o pai reproduza tragédias familiares de sua própria infância (Fraiberg et al., 1994).
Em consonância com as críticas direcionadas ao seu pai, Rodrigo relatou sentir-se negligenciado. Esses aspectos podem ser associados ao que Freud (1909/1990) chamou de romance familiar do neurótico, quando a criança se sente negligenciada e passa a criticar suas figuras parentais, fantasiando trocar de pai e mãe por outros melhores que os seus. Esses novos pais e mães teriam atributos e características que corresponderiam aos ideais infantis outrora outorgados aos seus próprios genitores. Como relatado por Rodrigo, seu pai distanciava-se do ideal paterno que ele guardava, fazendo-o perceber em outros pais características que ansiava encontrar em seu próprio pai. Essa experiência foi corroborada por recordações nas quais os pais de seus amigos eram participativos nos cuidados com os filhos. Assim, por meio de sua própria paternidade, Rodrigo permanecia procurando esse pai enaltecido, o qual havia sido forjado por si mesmo. No entanto, buscando essa perfeição, Rodrigo se deparou com suas próprias falhas, como um pai que não conseguiu sustentar esse semblante de perfeição. Tal frustração se associa à perda desse pai enaltecido da infância, o qual Rodrigo não encontrou em seu pai, tampouco em si mesmo.
Considerações finais
As análises e os aspectos teóricos destacados neste estudo, evidentemente, não esgotam todos os possíveis entendimentos sobre os conteúdos presentes na constituição da paternidade do caso investigado, tampouco têm a pretensão de representar o que se passa em outros casos. Trata-se de uma das possíveis compreensões do que foi retratado pelo caso, e sem dúvida é uma construção passível de ser reelaborada a partir de outros entendimentos e perspectivas teóricas. É importante inclusive destacar que a constituição da paternidade pode também sofrer interferência de outros fatores contingenciais. Com isso, podem surgir inúmeros contextos com especificidades capazes de afetar a constituição da paternidade, que não se fizeram presentes neste estudo. Por exemplo, a prematuridade do bebê (Medeiros & Piccinini, 2015) ou aspectos sindrômicos (Henn & Piccinini, 2010) podem ser elementos cruciais no modo como o pai constitui sua paternidade. A importância dos contextos na paternidade já foi inclusive retratada em outro trabalho, desenvolvido pelos autores do presente estudo, envolvendo a amamentação do bebê e a experiência do pai enquanto terceiro na relação corporal mãe-bebê (Cherer et al., 2016).
Independente das especificidades da paternidade para cada pai, o caso apresentado neste estudo ilustra algumas questões colocadas pela psicanálise concernentes à constituição da paternidade em relação aos processos identificatórios. Esse processo ocorreu de forma articulada à história subjetiva paterna, especialmente no que se refere aos aspectos relacionados às suas figuras parentais, corroborando o que é retratado na literatura psicanalítica. Desse modo, espera-se que estas contribuições possam ser úteis para a clínica, assim como para fomentar novas questões para futuros estudos.
Referências
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Recebido em 22 de maio de 2019
Aceito para publicação em 07 de fevereiro de 2020
1 Ainda que em português o termo "pais" refira-se tanto ao pai quanto à mãe, ele será empregado neste estudo apenas para se referir ao genitor masculino, enquanto o termo "pai(s) e mãe(s)" será utilizado para se referir aos dois genitores.
2 Do latim, designando a criança que ainda não fala.
3 O caso retratado neste artigo é um dos casos descritos em detalhes na dissertação de mestrado de Evandro de Quadros Cherer, intitulada Tornar-se pai: A experiência subjetiva da paternidade no sexto mês e ao final do segundo ano de vida do bebê, orientada pelo Prof. Cesar Augusto Piccinini e defendida no PPG - Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os dados de identificação do caso foram modificados para preservar a identificação do participante.
4 Piccinini et al., 2012. O Projeto CRESCI foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS (Protocolo nº 2010070) e pelo Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (Protocolo nº 100553).