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Revista Psicopedagogia

Print version ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.24 no.74 São Paulo  2007

 

PONTO DE VISTA

 

ABPp: Gestão 2002-2004

 

 

Maria Cecília Gasparian

Psicopedagoga e Terapêuta

Correspondência

 

 

"Há três coisas que não voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida"

Provérbio Chinês

 

Ao receber o convite para escrever sobre a gestão 2002-2004 sob minha direção, num primeiro momento, fiquei refletindo sobre com o que poderia contribuir e como foi a nossa administração, depois, como poderia fazê-lo sem citar datas e nomes.

Não é fácil escrever, pois sei que nenhum espelho reflete melhor a imagem de alguém do que suas palavras e atitudes. Gostaria de dizer coisas importantes, mas, infelizmente, não tenho ainda essa capacidade.

Começo, então, este artigo, de uma forma diferente. Não pretendo tecer nem um extenuante agradecimento a todas que participaram desta gestão e muito menos descrever todos os feitos e os não feitos neste período.

Este artigo vai em forma de reconhecimento e gratidão à todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, participaram no período de 2002 a 2004 para o desenvolvimento de uma Associação que se propõe a consolidar uma atividade imprescindível para a melhoria da Educação, mas principalmente que se dispõe a trabalhar com as pessoas que sofrem por aprender e para aprender.

Trabalhamos com essa e com todas as dores (nossas e a dos outros): das perdas, das incertezas, de um mundo injusto e desigual. Este fato, fio condutor das nossas ações, nos levou, cada vez mais, a nos unirmos para auxiliar a todos, mas principalmente a nós mesmas para compreender este mundo, e porque não dizer a compreensão de nós mesmas!

Falar de minha gestão provoca um gosto de saudades pelo simples fato de ter tido um grupo gestor unido, amigo e muito colaborativo. Fiz grandes amizades que perduram até hoje, e sou grata a esta Instituição por ter me dado a oportunidade de conhecer e conviver com pessoas maravilhosas e profissionais muito competentes; todas empenhadas em dar continuidade às atividades desenvolvidas nas gestões anteriores.

Relatar minha gestão implica em falar sempre no plural, fato que aprendi com a conselheira Claudete Sargo, e nas nossas reuniões de conselho - momento de encontro com todas as Seções, Núcleos e conselheiras nas trocas de experiências. Era um momento rico, de crescimento pessoal e institucional, pautado pela alegria do encontro, pelo reconhecimento do trabalho de cada uma das Seções e de cada Núcleo, mas principalmente de grande humildade por parte de todas as conselheiras mais experientes, dispostas a nos ensinar os caminhos tortuosos e complexos da gestão de uma instituição séria e que se propõe a cumprir grandes ideais.

Uma das coisas que mais me impressionou na ABPp foi o espírito de solidariedade entre todas as gestões passadas, onde a cooperação e a vontade de desenvolver e fortalecer a nossa identidade como Psicopedagogas era - e é até hoje - a tônica desta Associação.

Na realidade, começamos esta gestão todas juntas, sem conhecer muito bem os trâmites e os bastidores da ABPp. Algumas de nós - como no caso de Quézia, Maria Alice, Vânia e Silvia Amaral - já tínhamos participado da gestão anterior, de Nívea, mas tudo era novo, pois estaríamos ocupando novos cargos. Confesso que isso provocou em mim uma grande ansiedade e insegurança, que se transformaram em desafio, pois teríamos que administrar uma organização de abrangência nacional, com Seções e Núcleos distribuídos por todo o Brasil.

Comecei atuar na ABPp, em 1999, na gestão de Nívea, a convite da conselheira Elizabeth Polity, que na época era Diretora Financeira e, por motivos pessoais, não poderia assumir este cargo. Foi uma experiência marcante e que me deu a base e a estrutura para que, em 2002, assumisse a presidência da ABPp Nacional.

Iniciamos com uma diretoria que em grande parte não havia participado de nenhuma diretoria anterior, caso de Maria Irene Maluf, que nesta gestão era minha diretora Cultural. Ela me foi apresentada pela Ana Lúcia Mandacaru Lobo e foi uma das melhores indicações e "aquisições" da nossa gestão. Neusa também não pertencia a nenhuma diretoria anterior e cumpriu com galhardia a difícil tarefa de ser a Secretária, ficando com a responsabilidade de escrever as atas das reuniões.

Iniciamos nossa gestão com a mudança de sede no ano de 2002, quando da gestão de Nívea foi comprado um imóvel maior na Rua Teodoro Sampaio, onde a ABPp está até hoje. Fizemos uma pequena reforma e nos instalamos por lá.

Começamos, então, nossas atividades, que representavam grandes desafios. Um deles era fortalecer a Revista Psicopedagogia, que ficou sob a orientação de Maria Irene Maluf, em 2003, que assumiu o cargo de Vice-Presidente, quando Vânia, infelizmente, saiu da diretoria. Confesso que não faria melhor. Sinto um profundo orgulho ao lembrar que a Revista Psicopedagogia tomou o rumo que todas nós estávamos esperando: foi indexada nos seguintes órgãos:

• LILACS - Literatura Latino - Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

• Clase - Citas Latinoamericanas en Ciências Sociales y Humanidades. Universidad Nacional Autónoma da México

• Edubase - Faculdade de Educação, UNICAMP

• Bibliografia Brasileira de Educação - BBE CIBEC / INEP / MEC

• Latindex - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal

• Catálogo Coletivo Nacional - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT

• INDEX PSI - Periódicos - Conselho Federal de Psicologia

• DBFCC - Descrição Bibliográfica da Fundação Carlos Chagas

Maria Irene aperfeiçoou a qualidade dos artigos, para que esta revista conseguisse se qualificar para estas indexações. Lembro que foi um trabalho árduo, mas muito gratificante.

Implantamos, também, o Ciclo de palestras para estudos continuados, em outubro de 2002, que começou timidamente, com alguns poucos associados e simpatizantes, mas que aos poucos foi se consolidando. Eram reuniões que aconteciam na 3ª quinta-feira de cada mês, sempre apresentando um tema interessante. Não posso deixar de citar o empenho de Wylma Ferraz Lima, Cristina Qulici, Andréa Racy e Sandra Lia, o grande esforço de todas elas na divulgação deste evento e nas noites despendidas para acolher todas as pessoas que vinham para as palestras.

Em 2003, lançamos o primeiro boletim "Diálogos Psicopedagógicos", com o intuito, entre outros objetivos, de divulgar o trabalho da ABPp e de dar oportunidade para os profissionais que se iniciavam neste campo publicarem suas experiências. Foi uma grata surpresa ao ver a quantidade de e-mails buscando uma comunicação mais direta com a ABPp. O boletim, que também começou de uma forma tímida, sob a direção da Maria Irene, hoje está em sua 8ª edição, graças ao empenho e à dedicação da atual gestão de Maria Irene.

Iniciamos, também, o Projeto Pertencer, sob a coordenação de Silvia Amaral, que tinha por objetivo dar oportunidade a novos profissionais de exercerem uma prática clínica com supervisão e com instituições parceiras com atendimento à população menos favorecida.

Embora estivéssemos muito empenhadas na regulamentação da profissão, neste momento histórico, o governo foi mudado e, com ele, os Deputados Federais também e ficamos sem grandes apoios. O Projeto de Lei que, na gestão de Nívea, tinha saído da Comissão de Educação, foi para a Comissão de Constituição, Justiça e Redação e, infelizmente, não conseguimos tirá-lo de lá. Neste momento, agradeço o empenho e a dedicação da conselheira vitalícia Neide Noffs, que, com um grande esforço pessoal, buscou todas as alternativas possíveis para que nosso Projeto de Lei andasse mais alguns passos. Lembro das nossas inúmeras visitas ao Congresso Nacional, distribuindo as revistas aos ilustres Deputados, sempre com a promessa de nos auxiliarem nesta empreitada, mas nada foi feito. A você Neide, meu eterno reconhecimento pelo seu trabalho, sempre impecável, amigo e acolhedor, você foi quem me ensinou os tortuosos caminhos da política. Rimos e choramos muito, mas consolidamos uma grande amizade e cumplicidade.

Para finalizar esta recordação, tenho não só a necessidade ética, mas, principalmente, a consciência moral de externar meu profundo respeito e gratidão pelo apoio, laços de lealdade, solidariedade e união de todo este grupo de abnegadas amigas que se dispuseram a me auxiliar nesta difícil tarefa. Todas, sem exceção, fazem parte da minha história e sem elas confesso que não conseguiria fazer nada.

E agora minhas palavras finais... o que aprendi com todas vocês.

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos ou terminando capítulos, o importante é deixar na lembrança os momentos da vida que já se acabaram. Dando espaço para a renovação (re-nova-ação), ou seja, uma ação de continuidade, mas de uma forma peculiar que a faz nova pela sua especificidade de diferente.

Felizes aqueles que, como eu, ao cabo de uma jornada, podem olhar para trás e ver, no solo do caminho percorrido, as marcas do afeto, da solidariedade, do companheirismo e do amor ao próximo. Este fato me enche de alegria, reforça em mim a noção de responsabilidade e me torna para sempre grata pelo apoio recebido neste período que estive à frente desta Associação.

Aprendi muito com todas e com tudo. Aprendi, por exemplo, a ter mais clareza de pensamento, a tratar as coisas simples com a merecida importância e as coisas importantes com a devida simplicidade. Tenho a consciência que deleguei poder e não tarefas a esta equipe.

Aprendi, também, que não se deve confundir vocação com obrigação. Não somos obrigadas a nada. Mesmo quando realizamos algo significativo, se pensarmos nele como compromisso ou trabalho, sem o necessário gosto e motivação, alguma coisa está errada conosco. Por mais que concretizemos feitos importantes, por motivos sinceros, se sua realização não for feita com prazer, sentiremos mais esforço e imposição do que felicidade e conforto. Ninguém deve viver e trabalhar sem contentamento.

Aprendi que sou falível. E, por ser falível, só aceitamos mudar quando notamos nossa falta de habilidade em tratar a nós mesmas e aos outros; quando admitimos ter uma tendência a subestimar ou a superestimar tudo e todos; quando percebemos o quanto nossa consciência é fechada; e quando reconhecemos nossa impotência e falibilidade diante das nossas decisões.

Para promovermos mudanças não necessitamos procurar novas paragens, e sim possuir novos olhares.

Experiências felizes ou infelizes são passos valiosos em nossas vidas, desde que percebamos o quanto elas nos têm para ensinar e mostrar. E esse período de convivência me ensinou a ver o mundo com outros cenários e as pessoas com outras roupagens.

Na realidade, quem se permite mudar pode ficar, inicialmente, numa situação desconfortável, visto que poderá ficar exposto a algo com que não contava ou que não havia percebido. O que acontece é que, quando alteramos o nosso "status quo", modificamos nossa antiga maneira de interpretar, entender, expressar e dar sentido e importância às coisas.

A partir disso, nossas zonas de estabilidade ficam temporariamente ameaçadas; nosso jeito anterior de ser e ver não funcionam mais. Tudo isso acarreta em nós uma batalha interna que gera desconfiança, medo e insegurança, até que nos reestruturemos novamente.

A propensão à infalibilidade, o rigor contra as mudanças e as amarras da auto-suficiência obstrui a arte de pensar e discernir. Isso me faz pensar que, na escola da vida, somos eternos aprendizes.

A fraqueza, gerada pelo orgulho, em não confessar que erramos ou que não sabemos leva-nos a cometer muitos desatinos, tanto no campo profissional quanto nas relações humanas.

É imaturo e ingênuo aquele que pensa que nunca tenha nada a aprender com as experiências alheias.

Por tudo isso valeu a pena, sempre, lutar pelos princípios da ética e da dignidade, primeiro pela nossa própria conduta como humano e depois pela postura e atitude profissional.

Confesso que não consegui colocar em prática tudo o que desejava, tinha talvez em lugar muito alto os meus objetivos.

Hoje, mais madura, vejo que muito ainda poderia ter feito.

Espero que as Diretorias vindouras possam realizar tudo o que for planejado. Que a harmonia, o bom senso, a alegria e o espírito de equipe prevaleçam como foi o da nossa gestão.

Desejo muitas realizações, muita paz e muita alegria nas próximas gestões e que todas sintam a mesma felicidade que tive a oportunidade de viver nestes anos de trabalho na ABPp.

Agradeço a todas vocês por terem me proporcionado esta possibilidade de crescimento e reflexão.

 

 

Correspondência:
Rua Granja Viana - Cotia - SP
Tel: (11) 4702-2192
E-mail: mcgasparian@uol.com.br

Artigo recebido: 12/04/2007
Aprovado: 21/05/2007

 

 

Trabalho realizado no consultório da autora, Cotia, SP.

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